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APOSTILA A ARTE E SUAS LINGUAGENS

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Arte e Educação
Introdução
“...é necessário pegar o texto da mesma forma como se pega uma flauta, pra acordar artista que dorme em nós, ou como quem pega uma pipa, fazendo voar aos pensamentos. É sempre assim com a Arte e o brinquedo: o prazer só vem quando o corpo se põe a dançar”. 
 Rubens Alves
É assim que gostaríamos que você, professor, lesse este texto: deixando voar os pensamentos, completando com sua imaginação, conhecimento, experiência em sala de aula, amor aos alunos e à educação as lacunas que não conseguimos preencher... Acordando o artista que existe em você, este material se tornará muito mais rico com as significações que a ele você acrescentar...
Quando se fala em Arte e educação, a primeira questão que se levanta é aquela que diz respeito ao papel da Arte na educação formal. Afinal, todos sabem justificar o porquê da Matemática, da história ou da Língua portuguesa em nossos currículos; mas, Arte, para quê?
O mundo contemporâneo apresenta-se cada vez mais simbólico. Além das obras de arte- o que já não é pouco! -, bandeiras, outdoors, distintivos, logomarcas, jingles, propaganda, embalagens, filmes, ícones de computador, fotos vinhetas, videoclipes, cartazes, sinais, novelas, charges, anúncios luminosos, comerciais, grafites, intertextos, hipertextos, multimídias, a ficção e o virtual invadem o nosso cotidiano, disputando a atenção de quem nem sempre os compreende ou, então, a eles se submete. A leitura crítica de imagens, sons, gestos, corpos se faz cada vez mais urgente e necessária. A não apropriação dos códigos não verbais é também uma forma de exclusão, pois interfere na maneira de as pessoas se relacionarem com o real, com a vida.
Assim a Arte contribui, de forma inequívoca, na ampliação da leitura de mundo, na construção de um olhar mais sensível, crítico, questionador, de um ser que não se torna vítima da chamada “cultura de massa”, pois o que menos se pretende nas aulas de Arte, é a formação de indivíduos alienados, submissos e indiferentes.
O conhecimento da produção artística da humanidade, a reflexão sobre ela, suas possíveis leituras e a crítica fundamentada, mas a criação nos códigos não verbais são conteúdos indispensáveis na construção da cidadania.
Arte é Linguagem
Desde os tempos mais remotos o ser humano vem buscando formas de registrar e de transmitir a seu semelhante aquilo que lhe vai na mente e na alma. Mas como concretizar algo que é abstrato? Como tornar acessível ao outro aquilo que é idéia, pensamento, sentimento?
Nesse embate entre sentimento e forma, idéia e signo, o homem provavelmente começou a simbolizar quando sua mão, tornada instrumento, pela primeira vez registrou na parede da caverna algo que tinha significado, que transcendia o aqui agora, que deslocava do autor para dirigir-se ao outro, que transformava uma idéia em símbolo. Ou quem sabe, quando utilizou a voz e os sons, o corpo ou os gestos significativamente, para se comunicar. O homem construindo e lendo/atribuindo significados tornou-se um ser simbólico. Estava inaugurada uma nova era. Momento histórico tão grandioso- ou mais! Como aquele outro sinal deixado na Lua pelo primeiro astronauta que nela pisou.
Esse ser simbólico povoou o planeta criando os mais diversos sistemas de representação, inventando e interpretando signos, organizando seu mundo interior e exterior por meio de linguagens. Dentre todas aquelas que criou também estão presentes as linguagens da arte. Linguagens plenas de significados que poetizam, expressam, invadem, explicam, confundem,questionam seu mundo e inventam outros, na humana tentativa de responder à necessidade de dar sentido à própria vida...
Quando o ser humano organiza sons, silêncios, ritmos, cores, linhas, formas, luzes, sombras, movimentos, gestos etc., e, com alguma intenção lhes atribui significados, poetizando-os, transformando-os em música, desenho, pintura, escultura, dança, teatro etc., está se manifestando artisticamente.
Em todas as civilizações, em todas as épocas, povos, países e culturas, o ser humano produziu e vem produzindo obras de arte. A Arte é inerente ao homem, faz parte do ser e do sentir-se humano, é patrimônio cultural da humanidade. Assim, se Arte é linguagem, permite/obriga a leitura e a produção de textos: sonoros, visuais, gestuais, corporais, audiovisuais...
Para que alguém possa ler e produzir numa determinada linguagem verbal ou não verbal é necessário que entre em contato com suas diferentes produções, com seus diferentes códigos, que se aproprie desses seus códigos, que sabia operar com eles, atribuir-lhes significados, que conheça autores que produziram nesse sistema de representação. Com a Arte se dá o mesmo, e é na escola que essa educação artística e estética formal, institucionalizada, deverá acontecer. É direito de toda criança e jovem o acesso à leitura e à produção em Arte. É dever da escola garantir aos estudantes um ensino de Arte competente, que os habilite a operar, além dos signos verbais, também com signos não verbais.
Dessa forma, quanto mais conhecer da produção artística da humanidade, mais o aluno poderá se aproximar de uma compreensão melhor tanto do mundo das inúmeras culturas como daquilo que é próprio da sua, do que é comum a todo ser humano, assim como daquilo que os diferencia, do que é particular e do que é universal.
A arte permite ao homem saber-se um e sentir-se mil, encontra-se numa personagem e evadir-se no som, plasmar-se eternamente na forma e tornar-se incrivelmente efêmero num gesto... Por meio dela, “vejamos” a qualquer época, a qualquer lugar. A Arte não só nos permite interpretar o passado e o presente como também nos antecipa o futuro, é um vir a ser que intui, imagina, vislumbra e concretiza mundos sonhados, buscados... Inaugura um discurso outro que nos faz refletir e reagir sobre o quanto corremos o risco de nos automatizarmos, ou o quanto a vida, às vezes, se deixa banalizar...
O conhecimento arte
A Arte é uma área do conhecimento humano, com objetivos, conteúdos e saberes próprio.
O conhecimento supõe atos de sentir, pensar, fazer, construir, compreender, relacionar, comparar, selecionar, transferir, simbolizar, conceituar, também presentes na Arte enquanto razão, emoção, percepção, construção, simbolização, representação de mundo, expressão... Conhecer Arte envolve, pois, o exercício conjunto do pensamento, da razão, da intuição, da sensibilidade e da imaginação.
Todo produto artístico é também um produto histórico, faz parte de um contexto social, político, filosófico, religioso, histórico, cultural. Portanto, já nasce impregnado do sentimento e do pensamento da época, da cultura em que surge. Expressa os conflitos, desejos, reflexões, paixões humanas como realmente foram/são vividos e interpretados à sua época, em seu ambiente. Essa dimensão sensível, cultural, genuína, nos é possibilitada pela Arte, que ressignifica a nossa maneira de nos sentirmos no mundo. Por isso mesmo dizemos que toda obra de arte é temporal, datada, tem a marca de quem a fez, de seu tempo/espaço. Mas ela também pode ser atemporal, não envelhecendo nunca, porque trata das questões humanas e, além disso, o olhar que a contempla é novo a cada dia, acrescentando e encontrando nela significações peculiares e talvez insuspeitadas quando de sua criação...
Conhecendo obras de arte dentro do contexto em que foram produzidas, temos acesso ao pensamento/sentimento de cada época, povo ou país e, dessa forma, à possibilidade de um olhar mais perceptivo, crítico e sensível tanto à pluralidade de pensamentos presentes nas manifestações artísticas e estéticas locais como às de toda a diversidade cultural existente no planeta.
A Arte nos possibilita também um outro tipo de conhecimento, que é aquele específicode cada uma de suas linguagens: música, dança, cinema, teatro, pintura, escultura, desenho, fotografia e tantas outras... Técnicas, materiais, instrumentos, modos de representar, sua estrutura formal, elementos que a compõe, gêneros, estilos, artistas, autores, profissões circulação, a apreciação/fruição, a leitura, a crítica... Conhecimentos relacionados tanto ao fazer/criar como ao interpretar/ler/fruir e contextualizar Arte.
Como produto da imaginação, do pensamento e do sentimento humano, a obra de arte é universal e particular. Universal porque presente em todos os recantos do planeta, produzida e interpretada por seres humanos. Particular também enquanto fruição e produção, pois é uma síntese de significações cujas representações/leituras partem de um ponto de vista único, de alguém, do autor ou fruidor de Arte. Proporciona tantas leituras e interpretações quantas forem as pessoas que dela fruírem, leituras também únicas, porque refletem a história de vida de quem as lê; nesse momento, o apreciador torna-se quase um co-autor porque, livre das amarras do certo e do errado, do possível e do utópico, empresta à obra tantos outros significados quanto sua imaginação e memória significativa permitirem.
O ensino de Arte pretende possibilitar ao aluno tanto a manifestação da sua singularidade como o sentir-se participante de um grupo social, de uma cultura, no sentido mais amplo de pertencimento.
À medida que produz/aprecia Arte, ele poderá refletir sobre seu eu, seu mundo, sua história de vida, expondo suas idéias e sentimentos, fazendo-se ouvir e ouvindo o outro. A Arte na escola contribui, assim-além de seu conhecimento específico-, para o desenvolvimento desse aluno nos níveis cognitivo e afetivo, colaborando na construção de valores éticos, estéticos e políticos, fundamentais à sua formação como cidadão.
Fazer e compreender Arte são processos de humanização. Processos que podem e devem estar presentes na escola e em cada sala de aula, onde se convive diariamente com a heterogeneidade, com diferentes histórias de vida, de alunos e professores que partilham momentos comuns em suas trajetórias.
É preciso dançar, atuar, pintar, desenhar e cantar a vida com vozes, cores e gestos diversos, mas com TODAS as vozes, cores e gestos, com as mais diferentes e infinitas formas e possibilidades sensíveis e subjetivas que compõe a humanidade e sua multiculturalidade, para que TODOS tenham voz e vez e sintam-se participantes ativos dessa aventura chamada viver.
Em cada criança, “como dentro de ‘cada antiga’ criança, existem imensas virtualidades sensoriais, aptidões emotivas, possibilidade de ‘felicidades sensíveis’. O educador que não faz tudo o que pode, agora (...) para exaltar e realizar essas virtualidades, que deixa passar o momento oportuno quer por indiferença, por cansaço ou pro negligência, contribui para manter a banalidade do mundo, a mediocridade do homem, a insignificância da vida. (...) Mas, então, por que pretender que somos educadores? Em nome de que futuro humano? Em nome de que adiamento? Em nome de que desvios das razões de existir?”
A organização do ensino de Arte
O objetivo de conhecimento da Arte é o seu próprio universo, mais especificamente, as suas linguagens. No Ensino Fundamental, de acordo com as propostas Curriculares para o ensino da disciplina de Arte da Seesp/Cenp e dos Parâmetros Curriculares Nacionais- MEC, o foco dos estudos artísticos e estéticos está centrado em algumas delas: a Música, o Teatro, a Dança e as Artes Visuais, vistas como “um tipo de conhecimento que envolve tanto a experiência de apropriação de produtos artísticos quanto o desenvolvimento da competência de configurar situações através da realização de formas artísticas. Ou seja, entendemos que aprender Artes envolve não apenas uma atividade de produção artística pelos alunos, mas também a conquista da significação do que fazem, através do desenvolvimento da percepção estética, alimentada pelo contato com o fenômeno artístico visto como objeto de cultura através da história e como conjunto organizado de relações formais. (PCN- Artes)
Assim, são três os eixos metodológicos articuladores do processo de ensino e aprendizagem em Arte:
Produção em Arte: o fazer artístico
É o próprio ato de criar.
Como diz o teórico italiano Luigi Pareyson, a Arte não é apenas um fazer, mas “um tal fazer que, enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer”.
O que é criar/fazer um desenho? Uma música? Construir uma personagem? Ou uma dança, uma instalação, uma escultura, um filme?... Como fazê-lo? Com lápis, óleo, aquarela? Com qual instrumento? E a música? Piano ou violino? Sons graves ou agudos? Qual a cenografia, a coreografia, a iluminação? Como construir a personagem? Como simbolizar através de gestos, cores e sons, uma idéia?
O momento de criação é extremamente importante e necessário e deve ser garantido na sala de aula, pois as situações de embate entre intenção e signo, subjetivo e objetivo, abstrato e concreto produzem um fervilhar de idéias, de pensamentos, de relações cognitivas, de articulações de sentidos que são fundamentais no processo de ensinar/aprender Arte.
Quando se trabalha com construção de significados, caso específico das linguagens, o professor precisa investir em situações de aprendizagem que se tornem momentos fecundos de elaborações afetivas, perceptivas e cognitivas; de pesquisa e experimentação incessante por parte dos alunos, na busca da construção formal que será a síntese poética de seu pensamento.
Esse fazer é exclusivo de cada um; por isso mesmo cada produção artística tem a marca única de quem a fez, porque é a maneira particular de cada ser humano “processar” sua visão de mundo, sua forma de pensar e sentir a vida.
É fundamental, portanto, garantir que cada aluno seja o autor de seu texto.
Fruição: apreciação significativa da Arte e do universo a ela relacionado
Arte é linguagem. Cada produção artística é um campo de sentidos.
A apreciação estética é o próprio ato de perceber, ler, analisar, interpretar, criticar, refletir sobre um texto sonoro, visual, corporal. Supõe, mais que a decodificação, a interpretação dos signos das linguagens da Arte, o estudo de seus elementos, sua composição, técnica, organização formal, qualidades etc. É uma “conversa” entre o apreciador e a obra, uma apreensão intelectual, em que estão presentes a intuição, a imaginação e a percepção, ou seja, a cognição. Ler é atribuir sentido.
A leitura de imagens, sons, gestos pressupõe muito mais do que decodificar linhas retas ou cores primárias, sons graves ou agudos, gestos suaves ou movimentos sinuosos... Significa interpretar o discurso por trás da cor, a ideologia presente no gesto, o significado político de uma canção, a intenção de uma campanha publicitária. É assegurar ao aluno perceber-se enquanto cidadão que atribui e produz significados aos códigos não verbais; que não se torna presa fácil da chamada “cultura de massa”, que tem acesso à produção erudita e aos bens culturais produzidos pela humanidade e deles usufrui porque os compreende.
Para tanto, é fundamental a presença de um professor que amplie referências, que, de fato, apresente a obra como um imenso e profundo campo de sentidos, que proporcione a seus alunos a leitura das mais diversas obras de arte e produtos artísticos de diferentes épocas, povos, países, culturas, gêneros, estilos, movimentos, técnicas, autores, artistas, bem como a apreciação das produções dos alunos da classe envolvida.
O conhecimento da produção artística da humanidade é um campo fértil de aproximação de diferentes culturas, do reconhecimento, acolhimento e respeito às semelhanças e diferenças nas maneiras de se ver, pensar, relacionar-se e emocionar-se diante dos fatos da vida e da morte, presentes nas diversas formas de manifestações artísticas através da história.
3.Reflexão: a Arte é produto da história e da multiplicidade de culturas
Assim como o fazer e o apreciar Arte, é também de fundamental importânciaa contextualização da obra de arte: o panorama social, político, histórico cultural em que foi produzida; como foi o contexto de sua criação e como este momento se refletiu nela. Pensar a Arte como objeto de cultura, de conhecimento. É trazer para a sala de aula a história da produção artística. De que outra forma ter acesso a uma compreensão mais ampla, por exemplo, da Guernica de Picasso? Da Abertura 1812 de Tchaikovsky ? De Quando as maquinas param, de Plínio Marcos? De qualquer obra de arte ?
Além do conhecimento da história das artes- obras autores, artistas, intérpretes, dramaturgos, coreógrafos, movimentos artísticos, estilos, gêneros etc.- esta reflexão sobre a Arte inclui também o conhecimento específico de cada linguagem artística: elementos, regras de composição, estilos, técnicas, materiais, instrumentos...
Também é objeto de estudo o papel da mediação e a divulgação da produção artística: museus, galerias, teatros, apresentações musicais e coreográficas, a mídia, curadorias, monitorias, jornais, revistas, emissoras de rádio, TV etc., assim como as profissões relacionadas universo da arte.
A história das Artes também é história da humanidade...
A avaliação no ensino de Arte
A avaliação é sempre um processo contínuo, que deverá envolver alunos e professores, pois todos compartilham um período de suas vidas que é dedicado ao ensinar/aprender Arte.
Como em todo projeto pedagógico, a avaliação é sempre diagnóstica. Antes de se pensar uma situação de aprendizagem para determinado grupo de aprendizes, é fundamental ao professor conhecer seu repertório simbólico, o que seus alunos já conhecem (e como conhecem) sobre música, dança, pintura, escultura, teatro... Dessa forma, processos avaliativos estão presentes o tempo todo, sempre que o professor observa, ajuda, interfere, colabora, espera, instiga, se distancia, investiga, é cúmplice, ouve, questiona, desafia seus alunos...
Se o grande alvo dessa área de conhecimento é que os aprendizes sejam competentes na produção, leitura e conhecimento histórico de textos sonoros, visuais e gestuais/corporais, é evidente que a avaliação deverá caminhar nessa direção. Por isso, torna-se fundamental que tanto o professor como os alunos saibam em que ponto se encontram e onde pretendem chegar, que organizem portfólios contendo registros de seus percursos na construção desses saberes. Em Arte, tanto os registros nos códigos verbais como desenhos, pinturas, gravações (em áudio ou audiovisuais), fotografias etc são objetos fecundos para análise de quanto o aluno se apropriou da significação desses saberes, seus avanços e dificuldades, e ao mesmo tempo apontam pistas para o professor rever sua prática, mudar caminhos, organizar intervenções.
A avaliação reflete a maneira de o educador pensar a educação, seus critérios de valores, seu posicionamento em face da função social e política da escola e do papel da Arte na educação. É preciso, também, considerar que os seus alunos são aprendizes, pessoas que têm idéias, sonhos, projetos de vida...
Artes visuais
Nossa vida é plena de imagens visuais. Elas fazem parte de nossa existência desde o momento em que nascemos e (felizmente!) nunca mais nos abandonam. Imagens do mundo natural e cultural... Imagens do cotidiano, do real e da ficção, do concreto e do virtual...
O mundo contemporâneo cada vez mais nos oferece (ou no impõe) imagens que se sucedem numa velocidade e quantidade de informações alucinantes. Luzes, sombras, cores, formas, cartazes, outdoors, esculturas, filmes, anúncios, propagandas, placas de sinalização, cinema, televisão, audiovisuais, ícones de computadores, videoclipes, logotipos, logomarcas, símbolos, distintivos, revistas, fotografias, grafites, tatuagens e tantas outras. Mesmo de olhos fechados ou sonhando, as imagens estão presentes.
Imagens: é possível viver sem elas? É possível ao homem pensar, se expressar, se comunicar sem imagens?
O ser humano é um produtor/decodificador/intérprete de imagens. Utiliza-se de signos para tornar concreto algo que é totalmente abstrato: seus sentimentos e pensamentos.
Quando o primeiro homem conseguiu gravar na parede da caverna um sinal, uma marca, e a ela atribuir um significado, que fazia a ponte entre pensamento e símbolo, entre as dimensões subjetiva e objetiva, inaugurou uma nova era, estabeleceu um marco na história da humanidade. Tornou-se um ser simbólico.
A partir desse momento, todo ser humano vem se comunicando através de sistemas simbólicos, sistemas de representação criados por ele para melhor organizar sua vida e também para manifestar o que lhe vai na mente e na alma. Um desses sistemas simbólicos é exatamente o das Artes Visuais.
O desenho, a pintura, a escultura, a história em quadrinhos, a fotografia, o cinema, a tapeçaria, a gravura, a arquitetura, o desenho animado, o objeto, a instalação, a computação gráfica, o design, entre tantas outras manifestações artísticas, fazem parte do que hoje se convencionou chamar Artes Visuais.
As Artes Visuais na Escola
O ensino de Arte nas escolas, e notadamente o de desenho e pintura, desde a Educação Infantil ao Ensino Médio, vem sofrendo, há décadas, de uma falta de compreensão do real significado desses saberes na educação. Usadas como lazer, terapia, “descanso das aula mais sérias”, as Artes Visuais têm aparecido nas escolas como decoração de salas e corredores, execução de cartazes: da primavera, da semana da Pátria; bandeirinhas de festas juninas, a pintura do coelho da Páscoa e da árvore de Natal, sem falar das centenas de desenhos mimeografados, dos presentinhos para o Dia das Mães e das dobraduras. Tudo em nome da “Arte”!
O que se pretende hoje é um ensino de Arte visto como área de conhecimento, com objetivos e conteúdos próprios, isto é, artísticos e estéticos. Num mundo onde a presença da imagem é tão onipotente, a escola tem como dever formar produtores e leitores competentes nos códigos visuais. Esse mar de visualidade a que hoje somos submetidos torna ainda mais urgente uma educação do olhar, um olhar sensível, consciente, pensante, que seleciona, reconhece qualidades estéticas, critica e se comunica com e por meio de imagens.
Para tanto, é de fundamental importância que o aluno aprenda a operar com os códigos da linguagem visual, a conhecer suas modalidades, manipular técnicas e recursos, conhecer seus elementos e regras de composição. A não “alfabetização” nesses códigos é também uma forma de exclusão.
Pontos, linhas, cores, formas, luzes, sombras, planos, volumes, fazem parte do universo de elementos das artes visuais. Estão e sempre estiveram à disposição de uma mente criativa, imaginativa, perceptiva, sensível e inteligente, que os organize poeticamente e lhes atribua significados.
Além de desenhar, pintar, esculpir, ou seja, além da produção/criação, é de fundamental importância, na sala de aula, a reflexão sobre as Artes Visuais enquanto produto de uma época, de uma cultura, de um povo. As relações de uma obra de arte com a história, a política, a religião, a filosofia, a cultura e a sociedade que a produziu fazem com que alunos de hoje tenham acesso ao sentimento e ao pensamento de toda a humanidade, estimulando-os, através das imagens do passado e da produção contemporânea, a um olhar sensível, a desvendar seus mistérios, a construir significados, a aprender com elas.
A apreciação estética rompe fronteiras de tempo e espaço, ampliando possibilidades de leituras, aprofundando conhecimentos, contribuindo com significações que enriquecem, tanto a visão de si próprio, como individuo, quanto a percepção da diversidade cultural, o respeito ao outro, a outra cultura, ao universal.
A produção e a leitura crítica de imagens possibilitam ao aluno, além do conhecimento da produção artística da humanidade, uma ampliação de sua leitura de mundo, sua inserção no universo simbólico e a não submissão à chamada “cultura de massa”.
Inserir-se no mundo da contemporaneidade exige, mais do que nunca, inserir-se no mundo da imagem.Dança
Dança é a área de conhecimento, um modo cognitivo de se relacionar com o mundo, de entendê-lo, pensá-lo. O corpo que dança deve ser entendido como uma relação física, emocional e intelectual, que capta e transmite informações em um processo de comunicação constante com o ambiente, com o próprio corpo, com outros corpos. Mente e corpo não se dissociam: a experiência do corpo que dança não é separada de pensamentos, idéias. A experiência corporal é a base primeira do que podemos dizer, pensar, comunicar, por isso é importante que meninas e meninos dancem.
A presença da Dança na sala de aula, entendida como área de conhecimento e linguagem, é recente e há muito desejada.
Dança pensada como Arte, como cultura, presente em todas as épocas e países, de todos os povos que já habitaram este planeta, e que, por isso mesmo, é patrimônio cultural da humanidade, objeto de estudo, criação e fruição nas escolas da atualidade.
Assim, o ensino de Dança que se pretende contempla os alunos- meninos e meninas- como seres sociais, corpos/mentes em movimento, inseridos em um contexto multicultural que exige, na contemporaneidade, cada vez mais, um vocabulário corporal mais amplo e flexível.
A consciência e a autonomia corporais constituem fatores indispensáveis na produção de novas formas de expressão, de novas possibilidades de construção de sentidos e que nem sempre se mostram viáveis por meio da hegemonia do código verbal.
A produção e a leitura desses textos corporais, gestuais, coreográficos representam uma possibilidade a mais de ampliação de valores artísticos e estéticos, de leitura de mundo, contribuindo assim para o reconhecimento de diferentes culturas, etnias, de solidificação de identidades, de dialogar consigo mesmo, com outro, com a sociedade...
Desse modo, uma das funções da Dança na escola é a de formar construtores e leitores de códigos da dança para a compreensão e a apreciação das inúmeras e variadas manifestações de movimento do corpo e do ambiente no qual ele se insere. No processo de construção de conhecimento dos alunos, percebe-se o quanto o ensino da dança possibilita um trabalho criativo com o corpo, a discussão sobre valores éticos e estéticos, o desenvolvimento do pensamento crítico, da ampliação da visão de mundo e da formação da cidadania.
Esta proposta muda a abordagem das questões do corpo que dança e dos discursos sobre o corpo, retirando-os do domínio exclusivo de uma Educação de Arte tratada apenas como entretenimento, lazer, relaxamento das tensões cotidianas, para inscrevê-los numa Educação de Arte que é ação, conhecimento e análise.
Em tal concepção, Dança não se restringe somente a um aprendizado de passos, ou a uma cópia de paradigmas e estereótipos, que não educa os alunos para serem pessoas criativas, produtoras e apreciadoras dos signos corporais, capazes de lidar com situações diversas no seu processo de vida.
A proposta, também, não pretende criar dançarinos profissionais, e sim permitir a todos os alunos a vivência das possibilidades infinitas do universo do movimento, estimulando a experiência do sistema corporal em um amplo sentido.
O pensamento de Dança desta proposta não traz as idéias de virtuosidade e muito menos de competição, sem a ingenuidade de querer ignorar a existência de ambos os conceitos.
Nessa perspectiva, a Dança na escola precisa partir de uma experiência corpórea familiar ao aluno, ou seja, é necessário respeitar seu repertório de movimentos. Movimentos que o singularizam dentro da convivência em um grupo, assim como o identificam com o mesmo. Dança é socialização, envolve os jovens, suas experiências, e seu conjunto de informações.
É importante, então, uma avaliação diagnóstica para conhecer o que o aluno traz de conhecimento sobre Dança, o que gosta de dançar.
Retome professor, as anotações registradas em seu portfólio em relação ao projeto movimentos expressivos, à ocupação do espaço, dos níveis, a suas possibilidades de movimentação.
A partir disso podemos introduzir novos códigos, ampliando as experiências do fazer, do apreciar e do contextualizar dança, mostrando ao aluno que seu corpo é um fluxo de diferentes signos, sempre em processo, que pode se organizar em forma de dança.
Reconhecimento que o ensino e a aprendizagem de Dança como área de conhecimento nas escolas é muito recente, tanto no Brasil como em outros países, nossa proposta é oferecer um instrumental para conhecer, fazer e apreciar Dança num sentido amplo, abrangedor. Uma dança possível, uma dança que todos possam dançar, uma dança inteligente, expressiva e participativa.
A Dança na Escola
Compreendemos que dançar é para todos; isto significa que todos podem dançar. Dança não é privilégio de alguns que têm agilidade, corpos esbeltos. Nesse sentido, tomamos côo referencial a teoria de Rudolf Laban (1879-1958), um pensador da movimentação humana que deixou um legado precioso: a “Arte do Movimento”, expressão por ele criada para designar as mais variadas manifestações do movimento no ensino, no trabalho, na arte, na terapia etc.
Em seus estudos sobre o movimento humano, Laban observou que o corpo humano executa três funções básicas: dobrar, esticar, e torcer. Além disso, destacou quatro fatores abrangentes que compõe o movimento, em maior ou menor grau de manifestação: fluência, que trata da contenção e continuação do movimento; espaço, que trata de formas, volumes, linhas, caminhos, direções; peso, que trata de energia, força; tempo, que trata de duração, pulsação, métrica, ritmo.
A cada um desses fatores Laban atribuiu ainda outras qualidades: à fluência- qualidades com gradações de livre a controlada; ao espaço- qualidades com gradações, de direto (um único foco) a flexível (multifocado); ao peso- qualidades com gradações, de leve a firme; ao tempo- qualidades com gradações, de súbito (rápido) a sustentado (lento).
Esses conceitos ajudam a conhecer princípios mais gerais sobre movimento, pois eles compõem danças e fornecem, para as aulas, um instrumental para proporcionar aos estudantes uma movimentação menos restrita, mais criativa a expressiva em dança.
A teoria de Laban constitui uma chave de leitura para movimentos realizados em dança. Os movimentos usados no break, por exemplo, são bastante diretos (fator espaço), firmes (fator peso) e rápidos (fator tempo). Têm uma fluência mais para controlada; por mais rápido que seja, o dançarino executa, bem definidamente, um movimento após o outro. Essa modalidade de dança emprega várias partes do corpo: ombros, cabeça, joelhos, pés. Usa-se muito o nível (relação de altura) baixo, bem perto do chão ou no chão e, também, o nível médio. Esse jeito de dançar expressa idéias e contextos sociais. Os movimentos firmes e rápidos (características marcantes do break) ajudam, neste caso, a tornar visíveis significados de denúncia e contestação, assim como o pertencimento a um grupo, por exemplo.
Vamos refletir um pouco sobre o frevo. Há um passo nessa dança que se chama tesoura, em que as pernas se cruzam em direção lateral, usando um caminho no espaço bem direto, enquanto o tronco do intérprete, os braços e as mãos, segurando a sombrinha, são mais flexíveis. Seu uso da qualidade de tempo é bem súbito (rápido). É leve enquanto cruza as pernas, mas ao abri-las, há uma acentuação um pouco menos leve (não chega a ser firme) do calcanhar no chão (ou controlada). A qualidade de fluência do passo tesoura varia entre livre e mais contida (ou controlada). Livre enquanto cruza as pernas e contida quando há a batidinha do calcanhar. A execução do frevo, e de qualquer dança, não é separada de sentimentos e idéias que se queria expressar. Assim, da rapidez e leveza das pernas e da flexibilidade do tronco no frevo podem emergir “flexibilidade” de pensamento e alegria, por exemplo.
É importante possibilitar ao aluno oportunidades de vivenciar, analisar diferentes tipos de dança, pesquisar danças locais, regionais- frevo, break, valsa, bumba-meu-boi, swing, pavana, jongo, entre tantasoutras- para o conhecimento de seus códigos, ampliação de repertório e maiores possibilidades de criação. E também é importante saber que podemos criar danças.
Criar danças é buscar uma singularidade, algo que é próprio a cada pessoa. O sistema Laban ajuda a criar danças. É justamente a isso que se propõe o Projeto DIÁLOGOS DO CORPO. Ele apresenta exemplos de o que e como dançar, por meio de uma série de atividades que você, professor, pode utilizar, recriar, refletir, criticar.
Música
A Música na Escola
Segundo alguns pesquisadores, mesmo antes de nascer já estamos imersos em um mundo de sons... Sons e silêncios são a matéria-prima da linguagem musical, presente em todas as culturas existentes no planeta e de maneira absoluta na contemporaneidade.
Aprender uma linguagem significa conhecer seus códigos, saber operar com eles, apropriar-se de seus sentidos, ampliar referências pesquisando suas produções nos mais diversos espaços geográficos e em diferentes eras da humanidade... Existe, portanto, um conhecimento que é de cada linguagem – verbal ou não. No que diz respeito à Linguagem Musical, sua especificidade consiste, na sala de aula, na criação/produção de “textos sonoros”, na sua fruição e no exame dos contextos de produção de música na história da humanidade.
A vida contemporânea, especialmente nos grandes centros urbanos, é intensamente permeada pelos mais diversos, incríveis e variados tipos de sons, de ruídos: apitos, alarmes, sirenes, motores, freadas, pregões, propagandas, músicas vindo de rádio, TVs, CDs, DVDs, microfones, audiovisuais, aparelho de som, videoclipes, videogames, cinema, jingles... Sonoridades presentes também, cada vez mais, no hipertexto da internet...
Nesse sentido, as aulas de Arte, quando têm a linguagem musical como objeto de estudo, são campos fecundos de aprendizagens, buscando colaborar na construção de um cidadão ético, consciente de sua identidade e da multiculturalidade em que vive, do respeito às mais diferentes produções musicais presente em sua vida e da possibilidade de tornar-se apenas consumidor, mas também produtor de músicas...
Esta proposta não pretende criar músicos profissionais, mas permite, a todos os alunos, a vivência de possibilidades de experimentação e de criação dentro do universo sonoro, opondo-se à idéia de que música só pode ser feita por quem foi agraciado por Deus com um talento, um “dom” fora do comum.
Sem ignorar que facilidade e habilidade diferenciadas caracterizam os indivíduos (alguns, extraordinariamente talentosos em diferentes áreas) e sem desprezar as aquisições advindas do treinamento – muitos são necessários e mesmo indispensáveis para a realização de trabalhos não só artísticos cotidianos -, cabe lembrar que a freqüentação e a convivência com a linguagem musical são as únicas maneiras de estimular, desenvolver e formar um pensamento e uma sensibilidade capazes de lidar com as especificidades que a área exige.
Nesta concepção, o ensaio da música na escola, com finalidades estéticas, não pode se resumir apenas em melhorar o comportamento e a concentração dos alunos, em ser instrumento para o desenvolvimento de outras áreas no currículo ou em animar festividades do calendário escolar.
Do ponto de vista cognitivo, o aprendizado musical propicia o desenvolvimento, como as demais áreas do conhecimento, das habilidades da fala e da linguagem; estimula as consciências temporais, corporal, espacial e o domínio da lateralidade; incrementa a operacionalização da memória, das capacidades de descriminação em vários níveis perceptivos, do pensamento reversível, e das habilidades operativo-matemática tais como comparação, seriação, agrupamento e seqüenciação, base do pensamento simbólico e abstrato.
O mesmo ocorre com a emoção afetiva – tomada aqui em sua expressão visíveis e externas, ou seja, a relação do aluno com o meio social mais imediato acessível ao professor, que é a convivência escolar. A música, assim como as demais disciplinas curriculares, contribui para o estabelecimento da dinâmica interativas que incluem o exercício do compartilhar e do congregar, do ceder e do exigir, do liderar e do obedecer, do esperar e do interferir, do avançar e do retroceder, do arriscar e do planejar, do recolher e do expor-se, do angustiar e do regozijar-se, enfim, de uma infinidade de situações reais e simbólicas pelas quais o ser humano experimenta e expressa sua afetividade e sua imaginação.
Processos criativos, em música, também dependem de uma familiaridade com as especificidades da linguagem musical e só podem ser engendrados a partir do desenvolvimento de uma convivência estimulante e plena de qualidade. Para que um ambiente e um espírito criativos se instaurem, alguns conteúdos e atributos afetivos, cognitivos e sociais, entre outros, são, ao mesmo tempo, solicitados e estimulados. Coragem, segurança e espontaneidade, por exemplo, são requisitos para que a autoestima e autoconfiança cresçam e se expressem. Imaginação, intuição, perspicácia, memória, capacidade de construção/desorganização favorecem uma vivência positiva do caos e o desenvolvimento do potencial de análise e de síntese. Curiosidade, persistência, paciência, inconformismo, estados de alerta, observação e busca, quando orientados, resultam na tão necessária disposição para a transformação, para o que ainda não foi pensado.
A educação musical tem grandes apologistas desde a Grécia Antiga. Dependendo da forma como a música foi considerada nos diferentes períodos históricos e sociedades, sua defesa adquiriu perfis diversos. Plantão, em A República Livro III e Aristóteles, na Política Livro VIII, são explícitos em suas considerações a respeito da música como fator crucial na formação do cidadão e do homem liberal, respectivamente. A comunidade cristã, da Idade Média até o período Barroco, encontrou na música a possibilidade de comunicar-se mais eficazmente com o divino e, no século XVIII, pensadores laicos apoiaram-se na ciência- em especial na física e na matemática- para explicar por que a música não podia ser tomada como mero divertimento. Para os românticos do século XIX, a música era uma forma de compreender o mundo e , por meio de suas alianças com a filosofia, os mistérios da alma e do universo podiam ser perscrutados.
Nos séculos XX e XXI, inúmeros ramos das ciências humanas e exatas têm estudado com afinco as relações entre música, sociedade e individuo e as mediações que a música opera entre os mundos interno e externo.
Assim, se quisermos proporcionar aos alunos um verdadeiro encontro afetivo, cognitivo, estético e sensível com a música, precisaremos pensar e cuidar, também, de nosso próprio desenvolvimento perceptivo, de nosso convívio fundamentado com um amplo repertório que nos faça sentido e que- assumamos- nos agrade e nos faça felizes. Se só cultivarmos estereótipos lançados pela mídia ou nos fixarmos exclusivamente em uma determinada fase da MPB (a bossa nova, por exemplo), será difícil estabelecer um diálogo com outros repertórios, com outras histórias, com outras possibilidade de fruição. Não se ensina a usufruir, por exemplo, se não cultivarmos nossos momentos de fruição estética. Como querer mostrar a importância histórica de uma obra se ela é uma desconhecida para nossa sensibilidade? Como fazer o aluno acreditar que a ampliação de seu repertorio resulta em uma abertura de seus referenciais culturais e pessoais se nós mesmo nos mantemos rígidos e impermeáveis a outros repertórios?
Erudito (clássico) ou popular, internacional ou brasileiro, urbano ou rural, tradicional ou experimental, instrumental ou vocal, quaisquer que sejam os gêneros e estilos, cada fatia de repertório encerra um universo que deve ser desvendado, estudado e usufruído, aumentando as chances de diálogo e de interação que podemos ter com o mundo.
Escutar, portanto, tentar perceber o que o outro que nos dizer, é dialogar. Diálogo que requer investimentos tais como o exercício do respeito e da valorização do que é diferente, da tolerância, da paciência, da confiança,da curiosidade, do interesse, e, sobretudo, da crença de que o diálogo seja a real possibilidade de encontro com uma cultura, com um pensamento, com uma outra temporalidade, com um outro que não sou eu. Por isso, obras de arte atravessam séculos e milênios propondo e mantendo diálogos sempre novos e inusitados com as mais diferentes sensibilidades.
Sejamos, pois, freqüentadores assíduos dessas sessões de diálogo. Sua prática e o desejo de enriquecê-las nos levarão em busca de um aprofundamento dos conteúdos específicos de linguagem musical e, assim, concluiremos que ampliar horizontes artísticos e estéticos é ampliar horizontes existenciais. Nós, professores de Arte, somos privilegiados por encontrarmos, no cotidiano, essa possibilidade e esse convite. 
Teatro
O projeto que ora se inicia focaliza mais uma das linguagens artísticas: o Teatro.
Como todas as outras linguagens da Arte, esta também é área de conhecimento e, portanto, o ensinar/aprender teatro na sala de aula deve garantir aos alunos momentos de produção cênica, de conhecimento histórico da dramaturgia e de apreciação estética da obra teatral.
O Teatro na escola possibilita aos educandos, além do conhecimento específico dessa linguagem, um verdadeiro trabalho em grupo e, com isso, melhor capacidade de socialização, de entender o outro, de compartilhar idéias, tempo e espaço, de dialogar, argumentar, negociar, tolerar, respeitar, observar regras, solidarizar-se, comprometer-se, conviver com semelhanças e diferenças.
Interpretando os mais diversos personagens, o aluno poderá ver a vida sob múltiplos pontos de vista, colocar-se na situação do outro, viver situações reais e fictícias, correr riscos, expor-se, buscar soluções, pensar a própria existência e a de tantos outros seres humanos que viveram ou sonharam, para si ou para humanidade, diferentes histórias de vida.
Conhecendo e interpretando obras da dramaturgia universal, as adolescentes terão acesso ao pensamento e ao sentimento de diferentes povos, países, culturas, épocas retratados na obras cênicas, assim como aos textos dramáticos e seus autores. Comparando-os, confrontando-os, pensando sobre eles, poderão reconhecer-se como seres ao mesmo tempo únicos e universais, parte integrante de uma multiculturalidade e, por isso mesmo, respeitadores de diferenças, penetrando em novos mundos de cultura e de possibilidades estéticas.
Construindo personagens, histórias e cenários, o aluno poderá transpor fronteiras de tempo e espaço, compreendendo que há diferentes modos de viver, sentir, pensar, emocionar-se e relacionar-se com a vida e o mundo. É um bom momento para refletir sobre valores, atitudes e toda a diversidade cultural da qual é composta a humanidade. Incentivado pelo professor, ele poderá estabelecer relações entre a sua e outras culturas, ampliando conceitos de ética, identidade, cidadania e solidariedade humana.
Enquanto produtor, decodificador e intérprete de signos gestuais/ corporais, o aluno poderá aprofundar suas possibilidades de atribuir e construir significados, de entender-se enquanto um ser/corpo simbólico que propõe e lê gestualidades.
Assim como todas as linguagens da Arte, também o Teatro permite a reflexão sobre os conflitos, medos e angustias da vida contemporânea. É possível, por meio das artes cênicas, não apenas mostrar como também refletir sobre o problema das drogas, da gravidez precoce, da globalização, do desemprego... Denunciar a corrupção, o autoritarismo, o preconceito, o trabalho infantil e tantos assuntos que já fazem, infelizmente, parte da vida dos adolescentes.
É fundamental, também, possibilitar momentos de magia e encantamento, nos quais se vive o sonho, a fantasia, o amor, o romance, a ficção... Dar asas à imaginação, buscar o utópico, o inatingível...
Vivendo no palco uma realidade fictícia, o aluno terá a chance de, além de pensar a vida como ela é, propor soluções, prever alternativas, imaginá-la e apresentá-la como poderia ser, se assim não fosse... 
Que a alegria e a busca da felicidade estejam sempre presentes no trabalho desses alunos/ atores, que ensaiam, no palco, exercícios de vida, da ética e de cidadania, pautados pela procura e respeito ao outro, no melhor e mais difícil dos encontros: cada um consigo mesmo!
O Teatro na Escola
O Teatro na educação não tem como objetivos a formação de atores, a apresentação de espetáculos, e muito menos o “teatrinho” a serviço da compreensão de outros componentes curriculares, assim como apresentações vazias de significado em comemorações de datas cívicas ou festinhas escolares. Trata-se de um letramento, de uma alfabetização artística e estética na linguagem cênica, cujos focos são a produção e a leitura dos signos gestuais, acompanhados da história da dramaturgia. Teatro visto como área de conhecimento e linguagem.
Para tanto, alunos e professores devem sentir-se “cúmplices” no trabalho. Além da necessidade de grande envolvimento e afetividade, é fundamental que as atividades cênicas só tenham início quando o professor perceber que seu grupo tem um relacionamento razoável, pois, como nenhuma outra linguagem, o teatro expõe as pessoas que dele participam.
Portanto, recomenda-se que as artes dramáticas não aconteçam logo no início do ano letivo, quando os alunos ainda não se conhecem ou não estabeleceram vínculos afetivos mais fortes entre si. A presença na sala de pessoas estranhas ao grupo também poderá inibir alguns deles.
Uma outra recomendação é que, inicialmente, nenhum aluno seja forçado a representar. Para algumas pessoas, expor-se publicamente pode ser um ato de violência. Aos poucos, por meio dos jogos, exercícios, improvisações e muito incentivo do professor, cada um, dentro de suas possibilidades, acabará por tomar partes nas atividades. Alunos que inicialmente se sentirem desconfortáveis na apresentação cênica poderão criar cenários, trilhas sonoras, coreografias, sonoplastia, iluminação, figurinos, maquiagem... Além de, é óbvio, recebem do professor incumbências no que diz respeito à apreciação.
Para que o teatro aconteça é necessário um espaço, que será dividido- ainda que imaginariamente- em palco e platéia. Isso pode ocorrer na própria sala de aula: alunos e professores combinarão onde ficarão os alunos/ atores – o palco – e os alunos/ apreciadores – a platéia. Se a escola tiver um local apropriado, melhor, mas até a quadra de esportes, quando estiver desocupada, poderá servir para as atividades cênicas.
É preciso lembrar, também, que todas as aulas deverão iniciar-se com jogos de aquecimento e concentração, além de uma fala do professor que deverá explicar ao grupo os objetivos das atividades. Isso facilitará a avaliação conjunta do dia e o trabalho dos alunos que, dessa forma, terá mais significado, pois saberão o porquê de cada exercício.
A aula terminará sempre com uma conversa na qual serão discutidos o que cada um aprendeu, a construção, das personagens, o desempenho do grupo, a utilização de recursos cênicos, a exploração de possibilidades estéticas, o papel de cada um enquanto ator ou fruidor etc. É importante, ainda, debater o assunto da peça ou da improvisação criada, lembrando que nas Artes forma e conteúdos não se dissociam.
Como o teatro é efêmero, fugaz, se o professor puder filmar alguns exercícios ou improvisações, será ótimo. Ao ver-se atuando, o aluno poderá fazer uma melhor avaliação de seu desempenho, assim como o próprio professor de seu trabalho.
As atividades propostas terão sempre um encaminhamento voltado para a resolução de problemas, a procura de alternativas, de soluções criativas e estéticas.
Reforçando mais uma vez, a Arte na escola não busca “talentos”. As atividades cênicas deverão ser vivenciadas por TODA a classe.
Portanto, se, ao final do projeto, os alunos quiserem ampliar seu público e mostrar sua peça a toda a escola, pais, professores, funcionários, comunidade, será ótimo. Mas ficando claro que “espetáculo” foi conseqüência e não o objetivo do trabalho. Uma obra artística só se completaquando apresentada ao outro. No caso do teatro, a reposta do público é fundamental ao trabalho do aluno/ ator que se realimenta, avalia seu desempenho, cresce em conhecimento e autoestima.
É de fundamental importância, também, que a escola possibilite que os alunos assistem a uma ou mais peças de teatro, de preferência profissional, para que conheçam um pouco do universo cênico. É provável que muitos dos alunos nunca tenham ido ao teatro! 
Se os alunos puderem conversar com dramaturgos, diretores, cenógrafos, atores, encenadores, iluminadores, maquiadores, figurinistas, músicos responsáveis pela trilha sonora e sonoplastia, carpinteiros, arquitetos, enfim, com todas as dezenas de pessoas que permitem que o fascinante mundo do faz-de-conta aflore no palco, seria extremamente enriquecedor.
Além de ampliarem seus horizontes, os adolescentes poderão comprovar que teatro é trabalho, profissão.
Referências Bibliográficas
LOPES, Joana. Pega Teatro. Campinas: Papirus, 1989.
TOMÁS, L. Música e filosofia- estética musical. São Paulo: Vitale, 2004.
________, Dança educativa moderna. São Paulo: Ícone, 1990.
ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. Trad. Ivone Terezinha de Faria, São Paulo: Pioneira, 1980.
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da Arte, São Paulo: Perspectiva, 1994.

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