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Contrabando na região sul do Rio Grande do Sul: A posição do Estado frente a essa adversidade: O caso de Rio Grande. Autor(es): DUARTE, Tiaraju Salini; FARIAS, Rossele Hackbart Apresentador: Tiaraju Salini Duarte Orientador: Sidney Gonçalves Vieira Revisor 1: Paulo Roberto Quintana Revisor 2: Alcir Nei bach Instituição: Universidade Federal de Pelotas O CONTRABANDO NA REGIÃO SUL DO RIO GRANDE DO SUL: A POSIÇÃO DO ESTADO FRENTE A ESSA ADVERSIDADE: O CASO DE RIO GRANDE. ¹DUARTE, Tiaraju Salini; FARIAS, Rossele Hackbart. ¹Grupo de Estudos “Cidades do Prata”, do Laboratório de Estudos Urbanos — LEUR — ICH/UFPel. Rua Alberto Rosa, 154, Porto. Pelotas-RS. CEP: 96010-770 tiaraju_@hotmail.com 1. INTRODUÇÃO Este trabalho visa demonstrar a grande importância do contrabando para a região sul do Brasil, especificamente ao que trata das fronteiras do Rio Grande do Sul e Uruguai e demonstrar a influência do comércio ilícito na época de transição da Monarquia para a República, dando maior ênfase à última época referida e explanando a posição política tomada pela cidade de Rio Grande frente a esta situação. “O contrabando desenvolveu-se devido à própria posição do Rio Grande do Sul, com uma extensa região fronteiriça, e a uma constituição territorial intimamente ligada e de posse duvidosa com as zonas platinas de colonização”. (ALVES, 1995). O comércio interno e externo sempre foi de primordial importância para esta região, todavia, era quase impossível controlar o comércio interno, devido ao grande distanciamento das colônias em relação à metrópole. Controlar o comércio ilícito na região fronteiriça foi uma tarefa de grande dificuldade, de modo que se esse não ocorresse faltariam produtos para abastecer as colônias; retirando-se o fato de que os impostos cobrados pelos governos sempre foram elevados, o que acabava por “seduzir” a população em comercializar com outras regiões da América Latina a custos muito baixos. Outro fator de grande importância foi que: “Tanto no lado brasileiro quanto no lado uruguaio, o processo de concentração de propriedade de terra estabeleceu o latifúndio como base de exploração econômica, tendo, na pessoa do latifundiário o agente político dominante”.(CARDOSO, 1997). Este motivo, que permanece até hoje, fez com que a grande massa populacional não tivesse uma renda alta suficiente para sustentar os altos preços cobrados pelas mercadorias comercializadas pela metrópole, tornando o contrabando um grande atrativo e acarretando uma competição entre as cidades exportadoras - como era o caso de Rio Grande -, ocasionando grandes choques de interesses entre metrópoles, colônias e países - Aqui referidos Brasil e Uruguai -. 2. METODOLOGIA O trabalho elaborado sobre contrabando, foi feito com base em estudos realizados no grupo de estudos “Cidades do Prata” da Universidade Federal de Pelotas, no Laboratório de Estudos Urbanos e Regionais (LEUR), de maneira a dar um embasamento maior acerca do comércio ilícito realizado no Rio Grande do Sul. As referências bibliográficas utilizadas foram retiradas deste mesmo grupo e ainda da Biblioteca da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Instituto de Ciências Humanas (ICH). Além disso, o estudo tem como objetivo demonstrar como o contrabando contribuiu para à formação das cidades da metade sul do Rio Grande do Sul, de modo a se referir especificamente sobre o papel do Estado frente a essa adversidade. 3. RESULTADO E DISCUSSÃO A fronteira platina – chamando assim a região compreendida entre o estuário do Rio da Prata ao sul, o Rio Uruguai ao norte e também ao oeste e o Oceano atlântico a leste – é conseqüência da disputa e do processo de apropriação da terra pelo europeu, o que implicou em contrapartida a diminuição dos territórios indígenas. É a região onde se localizam hoje o Estado do Rio Grande do Sul e o Uruguai. (MARTINS, 2000). Durante muitos séculos a fronteira foi sede de conflitos e guerras pelo seu domínio. Somente a partir do século XIX foram definidos os limites dos territórios das nações colonizadoras, desse modo, o contrabando começou a ter uma maior importância para a economia do Rio Grande do Sul, não só para a maioria da população localizada na fronteira, mas também para os proprietários de terras que lucravam com esta forma de comércio ilícito. As raízes histórico-geográficas do contrabando no Rio Grande do Sul aprofundaram-se ao longo do tempo, de tal maneira que levaram a um quadro praticamente irreversível. Essas circunstâncias tornaram-se infrutíferas às medidas adotadas pelos governos – principalmente o imperial – para combater o comercio ilícito. (ALVES, 1995, p.155) A situação era tão difícil de contornar que o governo imperial quase aceitou o contrabando como um comércio “normal”, de maneira a manifestar um certo desânimo frente à situação, como confirma a citação: “Em face da situação da província e da própria política do Prata, o contrabando representava uma contingência inevitável que o governo imperial, quase aceitou como fato consumado”. (SILVA, 1979, p.67). Após ser instaurada a República, as tentativas de reprimir a prática do comércio ilícito começaram a ser realizadas de forma mais expressiva “o aparelho fiscal da União começou a renovar-se, criaram-se comissões disto e daquilo, para estudar o comportamento da receita”. (CÉSAR, 1978, p. 83). Não obstante, apesar da cobrança ter se tornado maior, as novas ações foram barradas devido aos conflitos e crises - como, por exemplo, a revolução federalista ocorrida no governo de Floriano Peixoto (1893-1895) - que marcaram a formação do Rio Grande do Sul na época referida. Muitas cidades sempre se posicionaram contra o contrabando, como é o caso de Rio Grande: “A imprensa rio grandina refletia a postura da própria cidade - período de transição da Monarquia para a República - os jornais atacaram fortemente o contrabando, qualificando-o por termos como ‘hidra”, “o mal”, ou “seiva mortal” que prejudicava o “comércio honesto” das “três principais praças do litoral” (Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre) e estaria levando o Rio Grande do Sul a crise econômica. (ALVES, 1995, p.158). Os jornais faziam críticas acentuadas às práticas do comércio ilegal, como por exemplo, O Diário do Rio Grande, na edição de 7 de fevereiro de 1988, no artigo intitulado “Cresce o mal”, acusou uma inversão nas relações comerciais entre o litoral e a campanha, afirmando: O contrabando pela fronteira vai tomando proporções verdadeiramente aterradoras (...). Os resultados desse abuso, desse escândalo inaudito, sem exemplo em país algum do mundo, é que a campanha que era consumidora passou a ser fornecedora das principais praças do litoral (...). (ALVES, 1995, p.159). Assim sendo, a cidade se voltava em uma posição totalmente contra o contrabando, devido à própria concorrência que esse fazia ao comércio “honesto”. O Uruguai dominava economicamente o Estado do Rio Grande do Sul. O porto de Montevidéu, por exemplo, achava-se mais bem aparelhado que o de Rio Grande para despachar e receber navios exportadores. Ficava mais barato remeter mercadorias diretamente ao porto da capital uruguaia, e daí recambiá-las a outras praças da América, ou da Europa, como atesta o jornal Echo do Sul: “A alfândega de Montevidéu (lograva) a custa do comércio rio-grandense” (...). “O fisco oriental ”engordava” com as contribuições do comércio da província, graças às anomalias do regime aduaneiro” (...). (Echo do sul) O grande problema era o porto de Rio Grande, mal equipado. Assim, começaram a aparecer idéias de reestruturação, para abrir ao comércio regular um porto mais amplo.Surgiu em 1906 à idéia de se construírem os moles da Barra, para facilitar a entrada de paquetas de longo curso, com a correspondente reconstrução do porto. Um plano ambicioso que fez levar tempo a tomar corpo. O contrato inicial foi celebrado, a 17 de setembro de 1906, com um engenheiro norte-americano, Corthel, que o transferiu por falta de recursos, à companhia ”Porth of Rio Grande” e esta, em 1908 à Cie. Francaise du port de Rio Grande do Sul. No entanto, por taxas abusivas, demora no andamento e outras causas, o porto foi redirecionado ao Estado para que acabasse a obra. A inauguração do porto do Rio Grande não logrou, de imediato, a alterar o curso desse comércio indireto e tampouco do contrabando da fronteira. (CÉSAR, 1978, p. 95-96). Na região da fronteira muitas cidades comercializavam mercadorias com o Uruguai, como o exemplo da cidade de Jaguarão, que teve em uma de suas bases o comércio ilícito. Essa cidade, além de se localizar longe da metrópole, é uma região fronteiriça, o que acabava por incentivar o intercâmbio de mercadorias com as cidades mais próximas do lado uruguaio. Num mercado mal abastecido e com produtos de comércio legal a preços excessivamente elevados, o comércio ilegal encontrou a segura cumplicidade dos particulares e, muitas vezes, a conivência de algumas autoridades, fosse para evitar crises locais ou mesmo por interesses pessoais. O contrabando foi uma válvula de escape para uma população local isolada. (MARTINS, 2000). Muitas cidades necessitavam – e necessitam - do contrabando para poder se desenvolver, mesmo prejudicando a arrecadação do Estado. O Rio Grande do Sul, fortemente prejudicado pelo contrabando, buscou e busca soluções para exterminar essa prática, todavia, “nossos economistas, nossos técnicos, além de diagnosticarem um tanto fantasiosamente suas causas, quase nunca acertaram com as medidas mais adequadas para reprimi-lo. Já não digo para acabar com ele, porque isto seria utópico”. (CÉSAR, 1978). 4. CONCLUSÃO Tendo em vista o contrabando como forma de comércio, esse se desenvolveu de maneira significante no Rio Grande do Sul, por seus aspectos geográficos. Contudo, foi um obstáculo para o Estado por ter desviado recursos financeiros, durante um longo tempo, mudando a trajetória das mercadorias que deveriam ser exportadas pelo porto de Rio Grande. O comércio ilícito foi muito utilizado pelas cidades deslocadas geograficamente das regiões principais do Estado, como foi exposto no caso de Jaguarão. Para muitas cidades, o comércio ilegal é uma forma de sobreviver às altas taxas cobradas pelo governo por mercadorias utilizadas no dia a dia, como no caso de alimentos. Quem não podia pagar por preços absurdos, procura no contrabando uma forma de sobreviver, comprando as mesmas mercadorias por preços acessíveis. As cidades exportadoras sempre terão uma posição contrária ao contrabando, como no caso de Rio Grande, pois são prejudicadas financeiramente por essa forma de comércio. A imprensa rio grandina teve um papel preponderante nas acusações contra o contrabando, de modo que “atacou” essa forma de comércio sempre que possível, caracterizando a posição da cidade e do Estado. O contrabando sempre existiu no Rio Grande do Sul, a forma como ele se desenvolveu pode ter prejudicado o Estado, todavia se esse não tivesse ocorrido muitas cidades não teriam se desenvolvido, parando literalmente no tempo. Assim sendo, o contrabando no sul do Estado do Rio Grande do Sul, pode-se dizer, foi um mal necessário para muitas cidades. 5.BIBLIOGRAFIA ALVES, Francisco das neves e Luiz Henrique Torres (orgs); A cidade de Rio Grande: estudos históricos. Universidade Federal de Rio Grande / Secretaria Municipal De educação e cultura, 1995. 204 p. CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão no Brasil Meridional. 4ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. CÉSAR, Guilhermino. Contrabando no sul do Brasil. UCS; Porto Alegre, EST São Lourenço de Brindes, 1978. 119 p. Rio Grande, echo do sul; 9/2/1888. MARTINS, Roberto Duarte. A construção do espaço no sul do Brasil. De fronteira ao MERCOSUL: o caso de Jaguarão. Brasília: Scripta Nova, 2000. SILVA, E. M; Ligações externas da economia gaúcha (1736-1890) In: DACANAL, J.H & GONZAGAS, S (orgs) RS: economia & política. Porto alegre: Mercado Aberto, 1979.
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