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1 FRONTEIRA, ESCRAVIDÃO E PECUÁRIA: RIO GRANDE DO SUL NO PERÍODO COLONIAL 2 ESCRAVOS CAMPEIROS 6 BIBLIOGRAFIA 12 2 FRONTEIRA, ESCRAVIDÃO E PECUÁRIA: RIO GRANDE DO SUL NO PERÍODO COLONIAL HELEN OSÓRIO* Em trabalho anterior (Osório, 1999) realizamos uma análise das principais características da estrutura agrária da capitania do Rio Grande do Sul no período de 1765-1825. Tal estudo esteve muito baseado nas sugestivas e originais hipóteses de trabalho e resultados da renovada historiografia argentina dos últimos anos (Garavaglia, 1999; Gelman, 1998; Mayo, 1995), especialmente para a campanha de Buenos Aires, que em boa medida tiveram vigência e foram verificadas em nosso trabalho. Entre as principais conclusões, que contrariam a visão tradicional de uma paisagem agrária conformada apenas por grandes latifúndios pecuários manejados por poucos e indômitos peões livres, indicamos uma presença majoritária de lavradores dentre os produtores rurais; a existência de uma variada gama de criadores de animais, que se iniciava com poucas dezenas de cabeças e alcançava rebanhos vacuns de algumas milhares de cabeças (ainda que 68% dos proprietários possuíssem até 500 animais); o fato de que mais da metade das “estâncias” (definidas por nós como as unidades produtivas com mais de cem cabeças vacuns), eram na verdade estabelecimentos mistos, dedicados simultaneamente à pecuária e à agricultura (especialmente do trigo e da mandioca); uma forte presença de mão-de-obra escrava, não só na agricultura mas também na pecuária e, finalmente, que grande parte dos denominados “lavradores” eram, também, pastores, criadores de pequenos rebanhos de gado. Naquele trabalho abordamos a capitania como um todo, a partir de uma amostra de 541 inventários, tomados de cinco em cinco anos. O presente texto aborda algumas características demográficas e ocupacionais da população escrava do Rio Grande Sul, que até o momento não têm sido objeto de estudo. O estabelecimento destas característica é uma condição necessária para que, posteriormente, se possa discutir se a escravidão em áreas de fronteira apresentava características pecualiares, como habitualmente lhe é atribuído (Cardoso, 1962; Maestri, 1984), devido a alta mobilidade da população e a prática da pecuária extensiva, bem como para a posterior realização de estudos comparativos, seja no âmbito da região platina ou do conjunto da América portuguesa. A análise dos censos de população é o primeiro passo para verificar a importância das relações escravistas em dada região. Mais significativo, no entanto, é o estudo do que a historiografia denomina de “estrutura” * Doutorado Departamento de História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul 3 ou “padrão da posse de escravos”. Este tipo de análise, baseada em inventários post-mortem ou listas nominativas, aponta para a disseminação da propriedade de cativos no conjunto da população livre, sendo um indicador importante sobre o predomínio de relações escravistas em determinada sociedade. As variáveis como taxa de masculinidade, taxa de africanidade e faixas etárias informam se a região era abastecida regularmente pelo tráfico atlântico, e a “nação” dos escravos permite estabelecer, de forma aproximativa, suas regiões de origem no continente africano, ou pelo menos os portos de embarque. A comparação destes dados com os de outras capitanias é fundamental para a compreensão da inserção do Rio Grande no comércio escravista e da dinâmica da composição de sua população escrava. A delimitação do período, 1765-1825, ocorreu em função das fontes utilizadas, essencialmente uma amostra de inventários elaborada para o trabalho já citado. Nestas seis décadas a capitania do Rio Grande de São Pedro passou pela consolidação de unidades produtivas dedicadas à pecuária e ao cultivo de trigo e da mandioca, pelo surgimento e expansão das charqueadas e por intensas disputas para delimitação dos territórios em relação ao império espanhol. O período foi, ainda, de plena vigência do tráfico atlântico de escravos (Florentino, 1995). Outra questão que o trabalho abordará, apesar da limitação de fontes, é a da utilização da mão-de-obra escrava na produção pecuária, atividade que tradicionalmente a historiografia brasileira julgou ser incompatível com a escravidão. Já a historiografia argentina tem avançado nesta discussão, com substanciais contribuições como as de Garavaglia, Gelman e Mayo, para o período colonial. Estes autores verificaram um peso insuspeitado da mão-de-obra escrava nas estâncias, inclusive na tarefa de capataz. Inicialmente, examinando o contingente da população escrava no Rio Grande em relação a outras capitanias da América portuguesa, percebe-se que sua importância é similar a de muitas consideradas predominantemente escravistas, como Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro (quadro 1). Entre 1780 e 1807, o percentual da população escrava oscilou entre 28 e 36%, como se observa no quadro 2, mantendo-se numa faixa comum às capitanias com maior população escrava. Nenhuma discrepância significativa, portanto, com o restante da América portuguesa. A análise de outras fontes também oferece formas de comparação interessantes. Na amostra de 541 inventários, tomados de 5 em 5 anos e para todos os distritos do Rio Grande1, para o período de 1765- 1825, temos que 87% dos inventariados eram proprietários de escravos. Como bem observou Garavaglia (1993: 125), os inventários são uma fontes socialmente determinada e sobrerrepresentam os setores mais ricos da sociedade, aqueles que tem algum bem a declarar. O uso de listas nominativas certamente 1 Os inventários post-mortem encontram-se depositados no Arquivo Público do Estadodo Rio Grande do Sul, Porto Alegre (APERGS) e a metodologia para a elaboração da amostra encontra-se em OSÓRIO, Helen. Estancieiros, lavradores..., op. cit. 4 revelaria um percentual mais baixo, mas infelizmente este tipo de fonte inexiste para o Rio Grande do Sul. João Fragoso (1992), utilizando-se também de uma amostra de inventários para o período de 1810 a 1830 para o Rio de Janeiro, importante área de plantation produtora de açúcar, encontrou que 90% dos inventariados eram proprietários de escravos, percentual muito semelhante ao do Rio Grande. Já Garavaglia (1993) para a campanhha de Buenos Aires, também utilizando-se de inventários (1750-1815) encontrou que 51% dos produtores rurais possuíam escravos. Através dos quadros 3 e 4, que estabelecem o tamanho dos plantéis e sua frequência, pode-se observar que a grande maioria dos proprietários de escravos do Rio Grande possuíam no máximo 9 escravos (79%). Se se analisar apenas o meio rural, apartando os inventários exclusivamente urbanos, o percentual baixa para 75%. Os pequenos plantéis estão mais presentes no meio urbano, como Schwartz (1988: 359) verificou para a Bahia. Pode-se observar que no meio rural, quase a metade dos proprietários tem até 4 escravos, e que os proprietários de até 9 escravos compõem 75% de todos os senhores, mas detém apenas 35% dos cativos. Estes proprietários são criadores de animais e lavradores de trigo e mandioca. Na Bahia, nos distritos dedicados ao cultivo da mandioca, o número médio de escravos por proprietário era de 4,5, sendo que os senhores de engenho tinham, em média, 66 escravos (Schwartz, 1988: 361). Os grandes proprietários de escravos do Rio Grande presentes na amostra são os charqueadores, que detém em média 40 escravos, variando suas posses entre 15 e 68 cativos. No Rio Grande, predominaram os plantéis de até 4 escravos (52%); na verdade 78% dos proprietáriosdetinham no máximo nove escravos, o que para o restante da América portuguesa os classificaria como pequenos proprietários de escravos. Para o meio rural do Rio de Janeiro, estudado por Fragoso, os plantéis de 1 a 4 escravos oscilaram, no período de 1790-1830, entre 10 e 20% dos proprietários, enquanto a faixa de 20 a 49 oscilou entre 14 e 27% das posses (Fragoso, 1992: 80). Schwartz conclui seu trabalho sobre a propriedade de escravos na Bahia afirmando: “a escravidão no Brasil distribuía-se largamente entre a população livre, constituindo-se na base econômica da sociedade como um todo e em uma forma de investimento extremamente comum e acessível”. Mais, que a aquisição de cativos por pessoas de poucos recursos indicam que a mão-de-obra escrava “era barata, relativamente abundante, fácil de obter e, mais importante, fácil de repor”. Por isso a “ubiquidade” da propriedade de escravos mesmo entre ex-escravos, os denominados “forros” (que receberam alforria, manumissão) ou “libertos” (Schwartz, 1988: 368-70). Dentre os 541 inventários da amostra, encontram-se 13 homens e mulheres forros, naturais da “Mina”, “Costa da Guiné”, “Congo”, ou “Benguela”, como declararam em seus testamentos. Destes 13 negros forros, 8 deles possuíam escravos, entre um e dois. Estes ex-escravos estão entre os inventariados mais 5 pobres, 7 eram agricultores e 8 desempenhavam ofícios urbanos. Na maior parte dos casos, o escravo que possuíam era seu bem mais valioso. A estrutura de posse de escravos nos demonstra um alto grau de dissseminação da propriedade escrava, o que significa que diversas camadas da população – inclusive libertos – se encontravam comprometidas com a escravidão, independentemente da extensão de suas posses (Florentino & Góes, 1997). Quanto à origem dos escravos, verificamos um equilíbrio entre crioulos e africanos na população do Rio Grande, com uma pequena superioridade dos primeiros sobre os segundos. Contrariamente, os africanos predominaram, e de forma marcante, no período 1810-1825 no Rio de Janeiro. Estas diferenças devem-se ao fato da capitania não estar diretamente vinculada ao tráfico atlântico de escravos e ter uma economia basicamente de abastecimento interno à própria colônia, enquanto o Rio de Janeiro configurava-se como o principal porto do tráfico negreiro da América portuguesa. O suprimento de escravos do Rio Grande era realizado através do porto do Rio de Janeiro, responsável pelo envio de 55 a 96% dos cativos entrados na capitania entre 1802 e 1820 (Osório, 1999: 195). Na Bahia, Schwartz estima que entre 1600 até o final do período colonial os africanos tenham sido 70% do total de escravos. Já a proporção da população masculina, um pouco mais de dois terços, reflete uma característica básica do tráfico negreiro: ele é essencialmente masculino. No mercado do Valongo, no Rio de Janeiro, durante a primeira metade do século XIX, de cada quatro africanos comercializados, três eram homens (Florentino & Góes, 1997: 64). A taxa de masculinidade no meio rural do Rio de Janeiro variou, no período de 1790 a 1830, de 55% a 67% (Florentino & Góes, 1997: 61). A taxa de masculinidade entre os escravos africanos – 76% - é surpreendemente alta para o Rio Grande do Sul, já que com o mesmo tipo de fonte, inventários post-mortem, para o Rio de Janeiro (região de agro-exportação açucareira e porto principal do tráfico negreiro), encontrou-se taxas que oscilaram entre 57 e um máximo de 73% (Florentino & Góes, 1997: 66). No momento, não contando com outros tipos de fontes, não podemos adiantar nenhuma explicação para estes números. Como o Rio Grande era caudatário da tráfico de escravos do Rio de Janeiro, é também surpreendente a composição da população africana segundo sua origem naquele continente (quadro 7). O quadro com a “nação” dos escravos foi elaborado com base na obra de Mary Karash (2000); as denominações correntes e com as quais os escravos são identificados em inventários, processos-crime e registros notariais, referem-se mais ao porto de embarque na África do que à etnia dos homens escravizados. De qualquer forma, são um indicativo importante da origem africana da população escrava. O grupo da África Ocidental (mina, costa, calabar, guiné, São Tomé, Cabo Verde) é muito maior do que se poderia supor, representando 26% do contingente. A Bahia foi a grande receptora de escravos desta região do continente africano, enquanto o Rio de Janeiro recebia os cativos da área centro-oeste, Congo- 6 Angola2. A significativa presença dos escravos da África Ocidental indica a existência de rotas comerciais (contrabando?) importantes entre o Rio Grande do Sul e Bahia, até agora não conhecidas. Isto por que os dados oficiais de importação de escravos para o Rio Grande, no período de 1802 a 1820, dão conta que 82,5% dos escravos introduzidos provinham do Rio de Janeiro (Osório, 1999: 195). Retomemos o conjunto das características da população escrava do Rio Grande, analisadas através dos inventários. A proporção de inventariados que possuem escravos, 87%, é bastante superior a da campanha de Buenos Aires (51%), mas muito próxima a da área de plantation do Rio de Janeiro (90%). A disseminação da propriedade escrava é semelhante a uma das mais importantes regiões da América portuguesa. Diferem as duas regiões quanto ao tamanho dos plantéis: no Rio Grande, nas áreas rurais, a maior parte dos senhores (48%) possuía de 1 até 4 escravos, e 75% deles detinha até 9 escravos, posses consideradas pequenas para outras áreas. Já a maior parte dos escravos (62%) vivenciou o cativeiro em grupos de até 19 escravos. A população escrava dividia-se de forma bastante equilibrada entre nativos na América (52%) e na África (48%), situação bem diversa daquela das regiões de exportação ultramarina e portos de recepção de escravos (Rio de Janeiro e Bahia), nas quais predominavam os africanos. Quanto à distribuição entre os sexos, a realidade rio-grandense aproxima-se do padrão carioca para o conjunto da população (68% homens), para o contingente africano (76%) e difere, bastante, para os crioulos (66%), pois no Rio este grupo tendia ao equilíbrio entre os sexos3. Esta alta taxa de crioulos do sexo masculino provavelmente indique que sua maior presença no conjunto da população escrava não se deva à reprodução dos cativos no Rio Grande, mas à compra de escravos crioulos via tráfico interno à América portuguesa. ESCRAVOS CAMPEIROS As características da atividade pecuária no período colonial - extensiva, com pouca necessidade de mão- de-obra, produzindo para o mercado interno, com baixos rendimentos, pequena capacidade de acumulação e sempre vista como mera atividade subsidiária das atividades exportadoras – foram interpretadas como um óbice à utilização de mão-de-obra escrava. Fernando Henrique Cardoso, que compartilhou tal explicação4, surpreendeu-se com a grande proporção de escravos (29%) presente no censo de 1780 e elaborou uma explicação para esta importante presença5: 2 O número de navios negreiros provenientes da África Ocidental aportados no Rio de Janeiro representou apenas de 1,6 a 3,2% do total que chegava a este porto entre 1795 e 1830. (Florentino, 1995:263). 3 Florentino & Goes encontraram taxas de masculinidade entre os crioulos de 52,5%, 53,8% e 46,5% para o período 1790- 1830. (Florentino, 1995: 63). 4 Cardoso refere-se à “existência ocasional de negros nos currais” (Cardoso, 1962: 41) 7 o cultivo do trigo, inicialmente realizado com mão-de-obra familiar, expandiu-se, possibilitou exportações e a acumulação de capital necessária para a aquisição de escravos (Cardoso, 1962: 53). Concomitantemente, na década de80, o estabelecimento das charqueadas conformaria o “núcleo duro” do escravismo no sul. Esta interpretação foi superada pela simples consulta de outros tipos de fontes, que indicam importante presença de escravos desde os primórdios da ocupação lusitana do território. Kuhn analisou os róis de confessados de Viamão de 1751, quando a capela tinha apenas pouco mais de 700 habitantes e 136 fogos. Encontrou uma população escrava de origem africana que correspondia a 45% do total, além de 3,2% de índios administrados. Os campos de Viamão, quatorze anos após a fundação do presídio de Rio Grande (1737), possuíam uma proporção de escravos semelhante a das zonas mineradoras ou de plantation! Naquele momento estavam estabelecendo-se as primeiras estâncias de criação. Após a invasão espanhola de 1763, sua população será reforçada por parte dos habitantes de Rio Grande que aí se refugiaram. Em 1778, a população escrava diminuiu para 40,5% do total, estando presente em 65% dos fogos, ou unidades censais. (Kuhn, 2004: 50-55). A escravidão aparece, portanto, como uma característica estrutural da região, ainda no que poderíamos chamar de período formativo. A utilização de mão-de-obra escrava nas lides da pecuária tem sido objeto de discussão na bibliografia sobre o Rio Grande do Sul, mas tal discussão não avançou em função das fontes analisadas, pois continuou-se consultando quase que exclusivamente os relatos de viajantes, e dos mesmos viajantes. Ainda que em 1962 Cardoso em seu livro sugerisse a utilização de inventários e testamentos para dirimir a questão6, pouco foi feito. Acompanhando as assertivas de Décio Freitas7, Mário Maestri conclui que “para a pecuária, o escravo era um fator de produção fortuito” (Maestri, 1984: 53) Mais recentemente, Zarth8, baseado de uma amostra de inventários do séc. XIX demonstrou a forte presença escravidão para municípios de várias regiões do Rio Grande do Sul. Observou, corretamente, que nas estâncias não se praticava apenas a pecuária mas também a agricultura; no entanto, lança a hipótese que os escravos “roceiros” constituiriam a maior parte dos escravos das estâncias. Como ele não 5 Até este momento da argumentação do autor, ele detectava a existência de escravos apenas nos serviços domésticos e serviços urbanos. 6 “O levantamento sistemático dos inventários e testamentos dos estancieiros gaúchos poderia trazer muita luz para a compreensão da atividade e da organização das estâncias”.. (Cardoso, 1962: 64, nota 49). Da mesma forma, Maestri afirma: “Respostas definitivas sobre o papel do escravo nos pampas, principalmente nos últimos decênios do séc. XVIII, só serão alcançadas com a publicação e tratamento sistemático dos papéis desta época, principalmente os inventários” (Maestri, 1984: 45) 7 “...os escravos sempre foram pouco numerosos nas estâncias de gado, onde tiveram sua principal ocupação nos serviços domésticos e na produção de subsistência” (Freitas, 1980: 36) 8 A tese de doutorado de Paulo A. Zarth “Do arcaico ao moderno: as transformações no Rio Grande do Sul do século XIX”. foi defendida em 1994 na Universidade Federal Fluminense, e publicada com o mesmo título, Ed. Unijuí, em 2002. Ver capítulo “a escravidão nas estâncias”. 8 analisou individualmente as unidades produtivas, nem a quantidade de escravos “campeiros” e “roceiros” presentes em cada inventário, nada pôde concluir a respeito.9 Os estudos sobre a ampla e disseminada utilização da mão-de-obra escrava na região do Rio da Prata, em especial nas “estâncias”, acumularam-se nos últimos vinte anos10 . Uma de suas principais conclusões é a de que as estâncias possuíam um determinado número de escravos que provia, total ou parcialmente, e conforme as diferentes conjunturas e as estratégias dos proprietários, as necessidades permantes de mão- de-obra. Ao seu lado existia um número variável e razoávelmente elástico de trabalhadores livres, peões assalariados, que cumpriam tanto tarefas permanentes mas principalmente as sazonais. A decantada instabilidade dos peões livres estaria relacionada a outras alternativas produtivas e laborais. Infelizmente até o momento não encontramos fontes adequadas, como contas de estâncias, que nos possibilitem um estudo adequado e circunstanciado da produção e trabalho nas estâncias. Tivemos de recorrer, novamente, aos inventários, que nos dão a conhecer, parcialmente, os trabalhadores cativos das unidades produtivas, mas não fazem praticamente nenhuma referência aos trabalhadores livres11 . Em trabalho anterior realizamos uma primeira abordagem do tema (Osório, 1999). Lamentavelmente a maior parte dos inventários não individualiza os escravos por ocupação ou por unidade produtiva (no caso do inventariado possuir mais de uma estância, chácara, ou propriedade urbana). Como alguns inventários possuem mais de uma estância, e seus animais e escravos não estão discriminados por unidade produtiva, ou, ainda, nenhum escravo aparece com ocupação declarada (esta é a situação da maior parte dos inventários de estancieiros), seria abusivo procedermos uma análise e conclusões a partir da fonte, com estas características. Optamos então por selecionar alguns casos onde os dados fossem inequívocos, ou seja, houvesse discriminação do número de animais e escravos pertencentes a cada estância (afastando assim os escravos por ventura domésticos), e nos quais a maior parte dos escravos do sexo masculino adultos tivesse a ocupação declarada. As estâncias selecionadas em função dos dados acima referidos apresentam-se bastante homogêneas, conformando um padrão, como se pode observar no quadro 8. Todas possuem mais de duas mil cabeças de gado, desenvolvem atividades agrícolas (verificável não apenas pela presença de escravos “roceiros”, “da roça”, ou “lavradores”, mas de instrumentos como arados, foices de trigo, atafonas, etc.) e criam mulas. Portanto, são unidades produtivas com produção diversificada. O número de escravos de cada uma delas ultrapassa bastante, em geral, a média de 21 escravos por inventário (e não por unidade produtiva, 9 Ver capítulo “a escravidão nas estâncias”. 10 Sem pretender ser exaustiva na citação da bibliografia, além dos autores já mencionados ao longo do trabalho, AMARAL, 1987; DJENDEREDJIAN, 2003; PERRI, 1998 e 1999, mimeo. 11 Eventualmente estão registradas dívidas passivas do inventariado para com peões e capatazes, mas sem menção do tempo trabalhado. 9 como aqui), dos proprietários de mais de mil cabeças da amostra. Dos seis casos, em apenas dois o número de escravos nominalmente roceiros é superior ao de campeiros. Os escravos campeiros eram suficientes para as tarefas permanentes da pecuária em cada uma das estâncias? Gelman (1998: 187) ao estudar uma estância da região de Colônia constatou que eram necessários entre 3 e 4 trabalhadores (um capataz e dois ou três peões) para cuidarem de um rebanho de 2.000 cabeças (cerca de 660 reses por peão). Mas que contabilizando a mão-de-obra necessária por posto ou rodeio, o mesmo contingente poderia manejar até 5.000 cabeças. De forma semelhante, uma informação de um juiz de sesmarias do ano de 1804, diz que para cuidar de um rebanho de 5.000 reses eram necessários 6 homens. No mesmo documento, um pouco mais adiante, afirma que para costear um rebanho de 4.000 reses são necessários 6 “pastores”. Esta última estimativa coaduna-se com o cálculo de Gelman (660 reses) e de Djenderedjian.12 O quadro 8 indica-nos que, dos seis casos selecionados, apenas em uma estância, a do Pavão, os escravos campeirosnão eram suficientes para, sozinhos, cuidarem do rebanho existente. Nas demais, não só eram suficientes, como ultrapassavam as necessidades de mão-de-obra permanente. “Ultrapassavam”, se estivermos considerando, insistimos, apenas as tarefas de “costear”, de guardar e realizar os rodeios com o gado vacum. Mas se considerarmos a doma de potros (eram necessários, no mínimo, cem cavalos para guardar um rebanho de quatro mil reses13) e a cria de mulas “uma das atividades mais delicadas da estância colonial”(Mayo, 1995: 49), entenderemos este avultado número de escravos campeiros. Os casos expostos do Rio da Prata mostraram que as necessidades de mão-de-obra em grandes estâncias, de produção diversificada, era muito superior ao que as fontes tradicionais afirmavam. Esta primeira aproximação está a indicar, portanto, que nas grandes estâncias, os escravos campeiros, especializados, supriam as necessidades de mão-de-obra permanentes da atividade pecuária. Retomemos agora o conjunto de escravos da amostra que são inventariados com designação de ocupação. Apenas 425 escravos (12%) dos 3422 de nossa amostra possuem sua ocupação declarada no inventário. Se eliminarmos os inventários exclusivamente urbanos, reduzimos o número total de escravos para 3.018. Destes, somente 409 (13,6%) têm sua ocupação referida. Os campeiros (alguma vezes também designados de “peões de campo”) são 140, e os domadores, 14, representam 37,7% dos escravos rurais com ocupação declarada. 14. 74% dos estancieiros proprietários de escravos com alguma ocupação declarada possuíam escravos denominados como campeiros. 12 Djenderedjian (2003) encontra esta proporção para uma estância do sul entrerriano, mas, para outra próxima e de um irmão do primeiro proprietário, a proporção foi de 1.100 cabeças. 13 “Uma fazenda de quatro mil cabeças precisa de um cento de cavalos, pelo menos, para se costear, posto que os pastores sejam somente seis”. “Descrição corográfica, política,....” de Domingos José Marques Fernandes, doc. cit., p. 43. 14 As ocupações mais frequentes, depois de “campeiro” é a de roceiro ou lavrador, com 86 casos, sapateiro, com 32, carpinteiro, 16 e alfaiate, 13. 10 Estamos aqui trabalhando com números mínimos. A não declaração da ocupação dos escravos pode significar uma omissão do inventariante, do avaliador ou do escrivão, ou, como sugeriu Farinatti, que o mesmo escravo fosse empregado em um amplo leque de funções (Farinatti, 2004: 12). Tomemos alguns exemplos. Antônio Ferreira Leitão possui 50 escravos, nenhum com declaração de ocupação; tem 5.044 reses, cria muares, planta trigo, feijão e mandioca. Um produtor com uma produção agrícola e pecuária diversificada, da qual parte de seus 50 escravos deveria participar cuidando do gado. Outro, José Faustino Correia, possuía 47 escravos onde apenas 3 tinham ocupação declarada: marinheiros. Ele possuía 5500 reses de criar, 900 ovelhas, 130 bois mansos e uma atafona 15. Algumas vezes a multiplicidade de funções está declarada: em um plantel de 3 escravos, 2 angolas são designados como “campeiro e lavrador”; em outro de 4 escravos, apenas um, Caetano, angola, 28 anos tem ocupação informada de “campeiro e lavrador”; mais díspar é a condição de “campeiro e sapateiro”, com uma referência, ou a de “domador e falquejador”16 . Entre as ocupações semelhantes, há alguns registros de “campeiro e domador” conjuntamente. Dentre os escravos campeiros, os crioulos representam 58% dos casos com “nação” informada (60). Entre os africanos (43) temos angolas, benguelas, cabinda, cassange, costa, mina, congo e moçambique. As tarefas de peão de campo eram exercidas, portanto, por escravos de todas as origens, e os africanos jovens adaptavam-se, tanto quanto os crioulos, às tarefas pecuárias. Mas, se se considera o universo dos escravos do sexo masculino sem idade declarada ou com mais de 10 anos (que foi a idade mínima encontrada para escravos campeiros), que fazem parte da amostra de inventários, verifica-se que os crioulos constituem apenas 36% do total, contra 64% dos africanos. Os cativos nascidos no Brasil eram, pois, sobre- representados entre campeiros. Seriam eles preferidos, na compra, por seus senhores, ou seria sua maior presença seria consequência da constituição de famílias escravas nas estâncias mais antigas? No momento não temos como responder a esta pergunta, apenas utilizando como fonte os inventários. Quanto à idade, os campeiros tinham em média 24 anos, jovens, portanto, se compararmos à média dos outros escravos homens com ocupação, que era de 34 anos. Dividindo-se suas idades por faixas etárias, temos 42 casos entre 10 e 19 anos, 67 casos entre 20 e 29 anos e 32 ocorrências com escravos de mais de 30 anos. Predominavam os escravos na faixa dos 20 anos. Concretamente, encontramos como idades extremas o caso de José, escravo da costa, com 10 anos, e o mais velho Bento, crioulo, com 53 anos. Os campeiros encontravam-se mais frequentemente em grandes plantéis, naqueles que possuíam de 20 a 49 escravos (13 ocorrências) e em seguida naqueles de 10 a 19 (10 casos). Mas, surgem de forma designada a partir de plantéis de 3 ou 4 escravos, como nos casos antes mencionados. 15 Respectivamente, 1810, 2° CC POA e 1826, 1°CCRG, APERGS. 16 Respectivamente, 1771, 1773, 1818, 1° ORP e 1825, 1°OP. 11 Destaque-se que 97% dos proprietários de mais de 100 cabeças de gado possuíam escravos (os que denoninamos estancieiros), e que entre os agricultores pastores (detentores de menos de 100 animais vacuns), 85% . Entre os primeiros, a média é de 11 escravos, e entre os segundos, 3,3. A posse de escravos estava amplamente disseminada entre os produtores rurais. Dentre os produtores detentores de menos de 100 cabeças de gado vacum há apenas uma ocorrência de escravo designado como campeiro, de um plantel de 4. Os escravos campeiros tinham condições de mobilidade privilegiadas para executar fugas. No entanto, de 2930 escravos de proprietários de gado, da mostra de inventários, apenas 31 (1,1%) foram registrados como fugidos e não avaliados. Para 5 deles há a especificação de que fugiram para “domínios de Espanha”. Destes 31 fugidos, 3 eram escravos com especialização: um domador, um sapateiro e um carpinteiro. Certamente inventários post-mortem não são a fonte adequada para aferir a frequência de fugas. Os jornais do século XIX são recheados de anúncios de senhores anunciando fugas de escravos. Apenas quisemos assinalar o seu escasso registro nos inventários. Os escravos campeiros e domadores, na grande maioria dos casos, eram os escravos de maior valor em seus respectivos plantéis. Este seu custo mais alto deveria implicar em estratégias por parte de seus senhores para mantê-los nas estâncias. Não encontramos referências na documentação, como as de Mayo e Perri, da prática de recebimento de gratificações monetárias. Esta hipótese, no entanto, devia ocorrer, bem como a de terem algumas cabeças de gado e cavalos próprios. Desta última situação temos um exemplo de um testamento, em que o senhor declara que tanto seu escravo Francisco como sua escrava Joana “tem algumas reses marcadas com a sua marca”, de cujas reses “ambos poderão dispor após a sua morte”17 Ainda, basta lembrar a existência de negros e pardos “forros”, em cujos inventários constam algumas vezes a propriedade da terra, a posse de escravos, e a de pequenos rebanhos, de uma ou duas dezenas de cabeças de gado, que poderiam ter sido adquiridos durante o cativeiro. Dos 13 negros forros que possuem inventário em nossa mostra, 8 deles possuíam escravos, e três, pequenos rebanhos. Recordemos que boa parte das alforrias eramonerosas, o que indica que os escravos, ou melhor, alguns deles, tinham condições de acumular um pecúlio para comprar sua liberdade. Outra possível estratégia de fixação, detectada por Gelman para a área de Colônia, foi propiciar, facilitar os casamentos, o que corrobora a tese de Florentino e Góes de que o casamento é um dos elementos que estabelece a “paz nas senzalas” . O percentual de homens escravos casados na amostra é de 5,6% e entre os campeiros e domadores é de 6,6%. A diferença não é relevante e descarta esta hipótese. Dentre os outros escravos com ocupação declarada, o percentual é bem mais alto: 12%. Temos, pois, que os campeiros não tinham um acesso privilegiado ao casamento, antes pelo contrário. 17 Inventário de Manuel Antônio de Souza da Câmara, 2° CC Porto Alegre, 1805. 12 Promessas de alforria, ou outros benefícios deveria fazer parte das estratégias de dominação dos senhores. Encontramos em um testamento um mandato de alforria para o “mulato Domingos, e que leve 20 vacas, 20 éguas e 10 cavalos e quelhe de nos campos um canto” e “que ele fique servindo de capataz a sua senhora enquanto ela for viva, ganhando ½ dobla por mês”18 . Desconhecemos, no entanto, a possível frequência deste tipo de estratégia. A reiteração das relações escravistas na pecuária, e da existência dos escravos campeiros, entrado o século XIX, em ambos lados da fronteira, que novos e excelentes trabalhos vêm constatando – como o de Borucki, Chagas e Stalla para o Uruguai entre 1835-1855 e o de Farinatti para o município fronteiriço de Alegrete, 1830-50 – é a maior demonstração do enraizamento estrutural de tais relações, de sua lógica, de sua funcionalidade e de seus lucros. A constatação desta permanência secular desafia-nos a compreender estas relações escravistas, certamente muito mais complexas do que supunhamos há uma ou duas décadas. BIBLIOGRAFIA AMARAL, Samuel. Rural production and Labour in Late Colonial Buenos Aires. Journal of Latin American Studies. vol. 19 (2), 235-278, nov. 1987; BORUCKI, CHAGAS e STALLA. Esclavitud y trabajo. Un estudio sobre los afrodescendientes en la frontera uruguaya 1835-1855. Montevideo: Pulmón Ediciones, 2004 CARDOSO, F.H. Capitalismo e escravidão no Brasil meridional. São Paulo: Difel, 1962. DJENDEREDJIAN, Julio “¿Peones libres o esclavos? Producción rural, tasas de ganancias y alternativas de utilización de mano de obra en dos grandes estancias del sur del litoral a fines de la colonia” en Terceras Jornadas de Historia Económica, Montevideo, julho 2003 FARINATTI, Luiz Augusto. “Escravidão e pecuária na fronteira sul do Brasil: primeiras notas de pesquisa – Alegrete, 1831-1850. Em II Encontro de Pós-Graduação em História Econômica, Niterói, 2004. CD-ROM. FERNANDES, Domingos José Marques. Descrição corográfica, política, civil e militar da Capitania do Rio Grande de São Pedro do Sul. Publicado sob o título de “A primeira história gaúcha”, In. Pesquisas, nº 15, Porto Alegre, 1961. [1804] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras: uma história do tráfico atlântico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro (séculos XVIII e XIX). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1995. 18 Inventário de Manoel Amaro da Silveira, Vara de Órfãos, Jaguarão, 1824. 13 FLORENTINO & GÓES, J. R. A paz das senzalas. Famílias escravas e tráfico atlântico, RJ, c. 1790- 1850. Rio De Janeiro, Paz e Terra, 1997 FREITAS, Décio. O capitalismo pastoril. Porto Alegre, Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1980. GARAVAGLIA, J.C. Pastores y labradores de Buenos Aires. Una historia agraria de la campaña bonaerense 1700-1830. Buenos Aires, Ediciones de la Flor, 1999. GARAVAGLIA, J.C., GELMAN, J. “Mucha tierra y poca gente: un nuevo balance historiográfico de la historia rural platense (1750-1850)” In: Historia Agraria, 15, Murcia, enero-junio 1998. GARAVAGLIA, Juan Carlos. “Las “estancias” en la campaña de Buenos Aires. Los medios de producción (1750-1815).” In: FRA DKIN, Raúl O. (org.) La historia agraria del Río de la Plata colonial. Los establecimientos productivos (II). Buenos Aires: Centro Editor de América Latina, 1993 GELMAN, J. Campesinos y estancieros. Una región del Rio de la Plata a fines de la época colonial. Buenos Aires, Libros del Riel, 1998. KARASH, Mary. A vida dos escravos no Rio de Janeiro 1808-1850. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. KUNH, Fábio. “Gente da fronteira: sociedade e família no sul da América portuguesa – século XVIII”. In: GRIJÓ, KUHN, GUAZZELLI e NEUMANN (org.). Capítulos de história do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Editora da UFRGS, 2004. p. 47-74. MAESTRI, Mario. O escravo no Rio Grande do Sul. A charqueada e a gênese do escravismo gaúcho. Porto Alegre: EST, 1984. MAYO, Carlos. Estancia y sociedad en la pampa 1740-1820. Buenos Aires, Biblos, 1995. OSÓRIO, Helen. 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Unijuí, 2002. 14 Quadro 1 População do Brasil, 1819 capitanias livres Escravos total % escravos Pernambuco 270.832 97.633 368.465 26,5 Bahia 330.649 147.263 477.912 30,8 Rio de Janeiro e Corte 363.940 146.060 510.000 28,6 Minas Gerais 463.342 168.543 631.885 26,7 São Paulo 160.656 77.667 238.323 32,6 Rio Grande Sul 63.927 28.253 92.180 30,6 Brasil 2.488.743 1.107.389 3.596.132 30,8 Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas Históricas, Rio de Janeiro, IBGE, 1986 Quadro 2 % da população escrava sobre a população total do Rio Grande do Sul, 1780-1807 ano % população escrava 1780 28,5 1791 28,0 1798 35,9 1802 35,3 1805 33,7 1807 30,4 Fonte: Mapas de população, Documentos manuscritos avulsos do Rio Grande do Sul, Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Lisboa. Quadro 3 Distribuição dos proprietários e escravos, por faixas de tamanho do plantel, área urbana e rural, (1765-1825) faixa de tamanho do plantel n° de proprietários % do total de proprietários n° de escravos % do total de escravos 1 a 4 243 52 573 17 5 a 9 124 26,5 798 23 10 a 19 69 15 932 27 20 a 49 25 5 703 21 50 ou mais 7 1,5 416 12 total 468 100 3422 100 Quadro 4 Distribuição dos proprietários e escravos, por faixa de tamanho do plantel meio rural, (1765-1825) faixa de tamanho do plantel n° de proprietários % do total de proprietários n° de escravos % do total de escravos 15 1 a 4 176 48 430 14 5 a 9 99 27 640 21 10 a 19 60 16 821 27 20 a 49 25 7 703 23 50 ou mais 7 2 416 14 total 367 100 3010 100 Fonte: 541 inventários post-mortem, 1765-1825, Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul Quadro 4 Origem dos escravos, meio rural, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul Rio de Janeiro Rio Grande do Sul 1790-1807 1810-1825 1790-1805 1810-1825 Africanos 51% 61% 47% 48% Crioulos 49% 39% 53% 52% Fontes: Rio de Janeiro, FLORENTINO & GÓES, J. R. Apaz das senzalas. Famílias escravas e tráfico atlântico, RJ, c. 1790-1850. Rio De Janeiro, Paz e Terra, 1997, p. 63; Rio Grande do Sul, 366 inventários post-mortem, APERGS Quadro 5 Distribuição da população escrava por sexo, Rio Grande do Sul, 1765-1825 % Homens 68 Mulheres 32 Quadro 6 Taxa de masculinidade, por origem dos escravos Geral 68% Crioulos 66% Africanos 76% Quadro 7 Origens africanas dos escravos do Rio Grande, 1765-1825 África Ocidental 26% Denominações: Mina Costa Calabar Guiné São Tomé Cabo Verde 16 África Oriental 3% Moçambique África Centro-Oeste 71% Congo Norte 21% Cabinda Congo Monjolo Angola Norte 24% Angola Camundá Cassange Rebolo Quiçamá Baca Angola Sul 26% Benguela Ganguela Quadro 8 Número de escravos campeiros e roceiros e tamanho do rebanho de estâncias selecionadas, 1793- 1825 inven- tários nome da estância ano nº escravos campeiros nº escravos roceiros nº total de escravos nº de reses criação mulas agricultur a 1 sesmaria 1793 11 12 37 7.294 Sim sim 2 Pavão 1796 20 10 49 30.000 Sim sim 3 Estreito 1805 10 26 46 5.900 Sim sim 4 campo 1812 10 1 29 2.666 Sim sim 5 Caçapava 1815 6 0 17 2.655 Sim sim 6 São João 1825 21 10 39 6.000 Sim sim Fontes: inventários, APERGS: 1- Francisco Correia Pinto, nº 33, m. 2, 1º Cartório Órfãos e Provedoria de RG 2- Rafael Pinto Bandeira, nº 211, m. 13, 1º Cartório Órfãos e Ausentes POA 3- Luís da Silva Ferreira, nº 6, m. 1, 1º Cartório de Órfãos e Ausentes de São José do Norte 4- Domingos Gomes Ribeiro, nº 454, m. 21, 1º Cartório Órfãos e Ausentes POA 5- José dos Santos Menezes, nº 65, m. 3, 1º Cartório Cível e Crime POA 6- Manoel Moreira de Figueiredo, nº 94, m.5, 1º Cartório Cível e Crime POA Escravos campeiros BIBLIOGRAFIA Quadro 6
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