805 pág.

Pré-visualização | Página 10 de 50
que leˆ-se assim: zero e´ o limite da sequeˆncia 1/n ou a sequeˆncia tende a zero Veremos adiante que ha´ sequeˆncias que tendem de diversas maneiras diferentes a pontos, algumas va˜o decrescendo em valores como a (xn)n = 1/n, outras va˜o crescendo como−1/n, outras va˜o oscilando e assim por diante, mas o que e´ importante e´ que: • elas entram em qualquer cerca estabelecida em torno de seu limite, desde que se espere o tempo n� suficiente e • depois de la´ entrarem na˜o mais saem. Veremos tambe´m que podemos combinar sequeˆncias simples (cujo limite podemos intuir facilmente) para criar sequeˆncias complicadas, das quais na˜o e´ poss´ıvel ter uma intuic¸a˜o de seu limite (exceto algue´m com poderes para-normais ...). Mesmo assim poderemos matematicamente determinar esses limites. 2. Limites de sequeˆncias O conceito de limite e´ o conceito fundamental do Ca´lculo, de onde surgem out- ras noc¸o˜es importantes como continuidade, derivada e integral. Por isso este e´ um Cap´ıtulo um pouco mais extenso. CAPI´TULO 4. SEQUEˆNCIAS E SEUS LIMITES 49 Imagine uma ma´quina, um sistema ou um processo tal que para um certo input x da´ um certo output f(x). Agora imagine que para um input parecido x + h (com h pequeno) da´ um output parecido: f(x+ h) = f(x) + δ, com δ pequeno. Apesar de ser uma situac¸a˜o plaus´ıvel, da qual temos muitos exemplos no dia a dia, tambe´m sabemos que ha´ exemplos da situac¸a˜o oposta, em que, apesar de x + h ∼ x temos f(x + h) muito diferente de f(x). Essas duas possibilidades sa˜o t´ıpicas de processos cont´ınuos e descont´ınuos, respectivamente. O objetivo deste cap´ıtulo e´ definir essas noc¸o˜es precisamente, pois nelas se apoiam os dois conceitos centrais do Curso: Derivada e Integral. 3. Definic¸a˜o e Propriedades fundamentais Vamos comec¸ar com a Definic¸a˜o 3.1, que e´ mais precisa e importante do que parece. Nela destaco que ha´: • uma enorme exigeˆncia: onde dizemos ∀� >, e • uma imposic¸a˜o: a de que a partir de um certo n� a sequeˆncia na˜o mais saia de uma regia˜o onde entrou. Definic¸a˜o 3.1. Um sequeˆncia (xn)n tende a um ponto L se ∀� existe n� ∈ N tal que se n ≥ n� enta˜o xn ∈ (−�+ L, L+ �). Ha´ diferentes formas pelas quais uma sequeˆncia pode tender a um limite; em particular, com diferentes velocidades. Por exemplo, Afirmo que xn = 1 n2 tende a 0 mais rapidamente do que zn = 1 n o faz. Ou seja, Afirmo que o tempo n�(zn) de espera para ter zn < � e´ menor que o tempo n�(xn) que tenho de esperar para ter xn < �. De fato, 1: n�(zn) = d √ 1 � e, n�(xn) = d1 � e, e e´ claro que √ 1 � ≤ 1 � para � pequeno. Nos argumentos discutidos abaixo teremos a`s vezes que esperar o tempo n su- ficiente para que duas ou mais sequeˆncias se aproximem de onde queremos. Como podem ser diferentes, por precauc¸a˜o tomamos o maior dentre eles, para que as duas ou mais sequeˆncias estejam onde queremos. Teorema 3.1. (Propriedades fundamentais de sequeˆncias) Sejam (xn)n e (zn)n duas sequeˆncias, com lim n→+∞ xn = L1 e lim n→+∞ zn = L2. Enta˜o: 1) A sequeˆncia soma (xn + zn)n tem lim n→+∞ (xn + zn) = L1 + L2. 1onde d4e significa o primeiro nu´mero Natural maior ou igual que 4 ∈ R. 3. DEFINIC¸A˜O E PROPRIEDADES FUNDAMENTAIS 50 2) A sequeˆncia diferenc¸a (xn − zn)n tem lim n→+∞ (xn − zn) = L1 − L2. 3) Se C ∈ R e´ uma constante, enta˜o a sequeˆncia (C · xn) tem lim n→+∞ (C · xn) = C · L1. 4) Seja (qn)n uma sequeˆncia qualquer tal que ∀n, |qn| ≤ K, para algum K. Se L1 = 0 enta˜o limn→+∞(qn · xn) = 0 5) A sequeˆncia produto (xn · zn)n tem lim n→+∞ (xn · zn) = L1 · L2. 6) Se L2 6= 0, enta˜o: • i) a partir de um certo n, zn 6= 0 e • ii) limn→+∞ xnzn = L1L2 . 7) Suponha adicionalmente que a partir de um certo n, xn ≤ L1 e que, para uma sequeˆncia qualquer qn, a partir de um certo n temos xn ≤ qn ≤ L1. Enta˜o lim n→+∞ qn = lim n→+∞ xn = L1. Demonstrac¸a˜o. (de alguns itens do Teorema 3.1) Prova de 1) Nesse primeiro item, o ponto a lembrar e´ que xn e zn se aproximam cada uma de um nu´mero a princ´ıpio distinto e que cada uma delas o faz possivelmente com velocidade diferente. O que queremos provar? Queremos saber se, esperando um tempo n� suficiente, conseguimos que: xn + zn ∈ (−�+ L1 + L2, L1 + L2 + �), ou seja, como ja´ explicamos, se |xn+ yn− (L1+L2)| < �. Vamos traduzir esta u´ltima condic¸a˜o de outro modo, que leva em conta as duas hipo´teses sobre xn e zn 2: |xn + yn − (L1 + L2)| = |xn − L1 + yn − L2| ≤ ≤ |xn − L1|+ |yn − L2|. Agora fazemos o seguinte: esperamos tempo suficiente n� para que tenhamos ∀n ≥ n�, |xn − L1| < � 2 e |zn − L2| < � 2 . 2No u´ltimo passo uso uma desigualdade (chamada desigualdade triangular, ver Exerc´ıcio 6.3) que vale para quaisquer nu´meros Reais � e 4: |�+4| ≤ |�|+ |4| , no nosso caso aplicadoa para � = xn − L1 e 4 = yn − L2 CAPI´TULO 4. SEQUEˆNCIAS E SEUS LIMITES 51 Enta˜o obtemos de acima: |xn + yn − (L1 + L2)| ≤ |xn − L1|+ |yn − L2| < � 2 + � 2 = �, exatamente o que quer´ıamos provar. Prova de 2): Ana´loga a` do 1), apenas fazendo agora: |(xn − yn)− (L1 − L2)| = |xn − L1 + L2 − zn| ≤ |xn − L1|+ |L2 − zn|. Prova de 3): agora queremos que a partir de um certo n�: |C · xn − C · L1 | < �. E´ claro que posso supor C 6= 0, sena˜o tudo e´ o´bvio. Ora enta˜o o que queremos e´ provar que: |C · (xn − L1) | < �, ou seja3 queremos que |C| · |xn − L1| < �. Noto agora que, se espero tempo n� suficiente, tenho: |xn − L1| < � C , onde C 6= 0 pois xn se aproxima tanto quanto quisermos de L1. Enta˜o juntando as informac¸o˜es: |C · xn − C · L1| = |C| · |xn − L1| < C · � C = �, exatamente o que quer´ıamos. Prova de 4): Aqui o que fazemos e´ esperar o tempo n� suficiente para que |xn| < �K (estou supondo que K 6= 0, pois se K = 0, enta˜o a h´ıpo´tese |qn| ≤ 0 diz que qn = 0 ∀n e tudo e´ o´bvio, pois a sequeˆncia 0 · xn e´ a sequeˆncia constante, igual a 0). Enta˜o para n ≥ n� : |qn · xn| = |qn| · |xn| < K · � K = �, como quer´ıamos. Prova de 5): Queremos fazer | xn · zn − L1 · L2 | < �. dese que n cresc¸a o suficiente. Mas posso escrever: | xn · zn − L1 · L2 | = = | xn · zn−xn · L2 + xn · L2︸ ︷︷ ︸ 0 −L1 · L2 | = = | xn · (zn − L2) + L2 · (xn − L1) | ≤ ≤ | xn · (zn − L2) |+ |L2 · (xn − L1) | = = | xn| · | (zn − L2) |+ |L2 | · | (xn − L1) | 3Para quaiquer nu´meros Reais � e 4 sempre vale: |� · 4| = |�| · |4|; no nosso caso, uso para � = C e 4 = xn − L1 3. DEFINIC¸A˜O E PROPRIEDADES FUNDAMENTAIS 52 E agora noto que |xn| ≤ K para alguma K , pois xn tende ao L1 ∈ R. E tanto | (xn−L1) | quanto | (zn−L2) | se faz ta˜o pequeno quanto quisermos, pois zn tende a L2 e xn tende a L1. Logo | xn · zn − L1 · L2 | fica ta˜o pequeno quanto quisermos. Prova de 6): Primeiro afirmo que a partir de um certo n temos |L2 2 | < |zn|. Se L2 > 0, a partir de um certo n temos 0 < L2 2 < zn pois L2 2 < L2 = lim zn. E se L2 < 0, a partir de um certo n zn < L2 2 < 0 pois lim zn = L2 < L2 2 . Ou seja, a partir de um certo n: |L2 2 | < |zn| e em particular a partir desse n, temos zn 6= 0. No que segue ja´ suponho que tomei esse n para que a partir dele: |L2 2 | < |zn|. Enta˜o ale´m de podermos dividir pelos zn, podemos afirmar que |L2|2 2 < |zn| · |L2| e portanto 1 |zn · L2| < 2 |L2|2 . Portanto | 1 zn − 1 L2 | = |L2 − zn zn · L2 | = = | 1 zn · L2 | · |L2 − zn| ≤ ≤ 2|L2|2 · |L2 − zn|. Mas |L2−zn| se faz ta˜o pequeno quanto quisermos, desde que esperemos possivelmente um tempo n ainda maior, ja´ que lim zn = L2. Por exemplo, podemos esperar um n a partir do qual valha |L2 2 | < |zn| e tambe´m |L2 − zn| < � · L 2 2 2 , CAPI´TULO 4. SEQUEˆNCIAS E SEUS LIMITES 53 o que da´ | 1 zn − 1 L2 | < 2|L2|2 · � · L22 2