805 pág.

Pré-visualização | Página 12 de 50
diz que � sera´ feito ta˜o pequeno quanto quisermos, • veremos logo abaixo que o δ depende do �, da natureza da f e tambe´m, em geral, de cada ponto x. • a cla´usula 0 < |x− x| existe para que possamos ter func¸o˜es com f(x) 6= L = limx→x f(x). Um pouco mais sobre o u´ltimo item: suponha que temos uma f com f(x) bem diferente dos valores f(x), para x pro´ximos de x pore´m diferentes de x. Por exemplo suponha que |f(x) − L| ≥ 1 , embora |f(x) − L| < � e´ pequeno se x 6= x, mas x pro´ximo de x. Enta˜o |x−x| = 0 < δ, ∀δ > 0 e no entanto |f(x)−L| ≥ 1. Por isso na Definic¸a˜o 2.1 estamos interessados apenas em controlar os valores f(x) para x 6= x. Vejamos agora que essa nova Definic¸a˜o 2.1 tem o mesmo conteu´do da Definic¸a˜o 0.1 do Cap´ıtulo 4, mesmo que a princ´ıpio na˜o parec¸am o mesmo. Afirmac¸a˜o 2.1. A Definic¸a˜o 2.1 e´ equivalente a` Definic¸a˜o 0.1 do Cap´ıtulo 4. Demonstrac¸a˜o. (da Afirmac¸a˜o 2.1) Provar a equivaleˆncia de duas definic¸o˜es e´ mostrar que uma implica a outra e vice-versa. Suponha por um momento a Definic¸a˜o 0.1 e por absurdo negue a Definic¸a˜o 2.1. Enta˜o existe um �0 > 0 especial tal que ∀δ > 0 existe um xδ com 0 < |xδ − x| < δ, mas |f(xδ)− L| ≥ �0. 2. A DEFINIC¸A˜O USUAL COM � E δ 60 Ja´ que vale para todo δ > tomo-os da forma δ(n) := 1 n . Enta˜o concluo que os xδ(n) formam uma sequeˆncia de I \ {x} que tende a x, pois 0 < |xδ(n) − x| < 1 n e ja´ sabemos que os 1 n ficam ta˜o pequenos quanto quisermos. Com essa sequeˆncia (xδ(n))n no domı´nio da f , formo outra sequeˆncia f(xδ(n)) na imagem da f , que na˜o tende a L ja´ que |f(xδ(n))− L| ≥ �0, ∀n, ou seja, na˜o se aproxima do nu´mero L mais que �0. Isso contradiz a Definic¸a˜o 0.1. Agora suponha Definic¸a˜o 2.1 e vamos obter a informac¸a˜o dada pela Definic¸a˜o 0.1. Considere qualquer sequeˆncia xn de I \ {x} que tenda a x: queremos saber enta˜o se e´ verdade que f(xn) tende a L. Ou seja, se dado � > 0 existe n� ∈ N tal que ∀n ≥ n� temos |f(xn)− L| < �. O que sei pela Definic¸a˜o 2.1 e´ que existe um δ > 0 tal que: 0 < |x− x| < δ ⇒ |f(x)− L| < �. Enta˜o tomo esse δ > 0 e, para ele, tomo um nδ ∈ N tal que: ∀n ≥ nδ ⇒ 0 < |xn − x| < δ (o que funciona pois xn tende a x). Logo |f(xn)−L| < � pois os xn entraram na regia˜o adequada em torno de x, que e´ (−δ + x, x+ δ). A Figura ilustra: x L L−ε ε+L δ−x x + δ x_n f (x_n) Lembrando que o δ = δ(�), pois depende de �, obtivemos o que quer´ıamos, ja´ que |f(xn)− L| < � a partir de um certo tempo nδ(�). � Exemplos: CAPI´TULO 5. LIMITES DE FUNC¸O˜ES DEFINIDAS EM INTERVALOS 61 1)- f(x) = ax+ b, polinoˆmio de grau ≤ 1, tem limx→x f(x) = ax+ b. De fato, se a = 0 e´ claro que a f ≡ b constante tende a b. Caso a 6= 0, quando for dado � > 0 tome por exemplo δ(�) := �|a| . Enta˜o se |x− x| < �|a| temos: |f(x)− L| = |ax+ b− (ax+ b)| = |a||x− x| < |a| · �|a| = �, como quer´ıamos. 2)- No exemplo 1) o δ so´ dependeu do �. Agora dou um exemplo em que o δ depende tambe´m do x, ficando cada vez menor a` medida que o x vai sendo escolhido mais perto de um extremo do domı´nio da f . Seja f : R>0 → R, f(x) = 1 x . Veremos na pro´xima Sec¸a˜o que limx→x f(x) = 1x . Mas a Figura a seguir ilustra como vai ficando mais dif´ıcl encontrar o δ adequado a` medida que x > 0 se aproxima do 0. 2 ε 2 ε 2 ε Figura: Para um mesmo �, preciso cada vez menores valores de δ 3. Limites quando x tende ao infinito Quando um cientista quer entender um fenoˆmeno, ele pode querer entender na˜o apenas o comportamento agora, mas sim a longo prazo. Por exemplo, pode se per- guntar se a longo prazo a Lua permanecera´ girando em torno da Terra. Na linguagem do Ca´lculo isso se expressa numa pergunta assim: a que tende o fenoˆmeno quando o tempo x fica arbitrariamente grande ? O que se po˜e em s´ımbolos: lim x→+∞ f(x) = L ∈ R, ou lim x→−∞ f(x) = L ∈ R. Ambos s´ımbolos admitem dois tipos de definic¸o˜es (equivalentes) Definic¸a˜o 3.1. Dizemos que lim x→+∞ f(x) = L ∈ R se ∀� > 0 existe K > 0 tal que |f(x)− L| < �, se x > K. Ou 3. LIMITES QUANDO X TENDE AO INFINITO 62 Definic¸a˜o 3.2. Dizemos que lim x→+∞ f(x) = L ∈ R se ∀(xn)n contida no domı´nio de f com limn→+∞ xn = +∞ temos limn→+∞ f(xn) = L. (onde limn→+∞ xn = +∞ foi apresentado na Definic¸a˜o 3.2). Deixo para o leitor verificar a equivaleˆncia dessas duas Definic¸o˜es 3.1 e 3.2. Analogamente se define limx→−∞ f(x) = L ∈ R. Geometricamente, as Definic¸o˜es 3.1 ou 3.2 se ilustram na Figura a seguir, em que o gra´fico se aproxima da altura L cada vez mais: 0,98 0,96 0,94 0,92 x 30025020015010050 Figura: Quando x aumenta o gra´fico se aproxima de uma altura definida. As propriedades ba´sicas dessas noc¸o˜es sa˜o ana´logas a`quelas do Teorema 1.1: Teorema 3.1. Sejam f e g func¸o˜es definidas em um intervalo ilimitado a` direita.1 Suponha2 lim x→+∞ f(x) = L1 ∈ R e lim x→+∞ g(x) = L2 ∈ R. Enta˜o: 1) A func¸a˜o soma f + g tem lim x→+∞ (f + g)(x) = L1 + L2. 2) A func¸a˜o diferenc¸a f − g tem lim x→+∞ (f − g)(x) = L1 − L2. 3) Se C ∈ R e´ uma constante, enta˜o a func¸a˜o (C · f)(x) := C · f(x) tem lim x→+∞ (C · f)(x) = C · L1 4 ) Suponha uma func¸a˜o q(x) com o mesmo domı´nio da f(x) tal que |q(x)| ≤ K, ∀x. Suponha adicionalmente que L1 = 0. Enta˜o lim x→+∞ ( f(x) · q(x) ) = 0. 1Enuncio apenas para x→ +∞, pois e´ ana´logo se x→ −∞ 2Atenc¸a˜o que L1, L2 teˆm que ser nu´meros, na˜o podem ser substitu´ıdos pelos s´ımbolos +∞ ou −∞ CAPI´TULO 5. LIMITES DE FUNC¸O˜ES DEFINIDAS EM INTERVALOS 63 5) A func¸a˜o produto (f · g)(x) tem lim x→+∞ (f · g)(x) = L1 · L2. 6) Se L2 6= 0, enta˜o: i) se x e´ suficientemente grande enta˜o g(x) 6= 0 e ii) limx→+∞ f(x) g(x) = L1 L2 . 7) Suponha uma outra func¸a˜o q(x) definida no mesmo domı´nio e que adicional- mente f(x) ≤ q(x) ≤ L1. Enta˜o lim x→+∞ q(x) = lim x→+∞ f(x) = L1. Demonstrac¸a˜o. Prova do item 1): Quero saber se a sequeˆncia soma f(xn)+g(xn) tende a L1+L2, se a sequeˆncia xn tem limn→+∞ xn = +∞. Mas por hipo´tese f(xn) tende a L1 e g(xn) tende a L2. Logo pelo item 1) do Teorema 3.1 aplicado a`s sequeˆncias f(xn) e g(xn) obtemos que f(xn) + g(xn) tende a L1 + L2. Os outros itens se demonstram da mesma maneira. � Exemplos: 1) Obviamente a func¸a˜o constante f ≡ C tem limx→+∞ C = C. 2) A func¸a˜o f : R<0 ∪ R>0 → R, f(x) = 1 x tem lim x→+∞ 1 x = lim x→−∞ 1 x = 0. De fato, | 1 x | < � se |x| > K := 1 � , o que esta´ de acordo com a Definic¸a˜o 3.1. 3) lim x→+∞ C x = C · lim x→+∞ 1 x = C · 0 = 0 usando o Teorema 3.1. 4) Tambe´m lim x→+∞ 1 x2 = lim x→+∞ ( 1 x · 1 x ) = 0 · 0, pelo Teorema 3.1. 5) lim x→+∞ (C + 1 x ) = C + lim x→+∞ 1 x = C + 0 = C usando o Teorema 3.1. 3. LIMITES QUANDO X TENDE AO INFINITO 64 6) lim x→+∞ C1 x C2 x+ C3 = C1 C2 , onde C1, C2, C3 sa˜o constantes na˜o nulas. De fato, primeiro observe que se x se faz ta˜o grande quanto quisermos, em particular x > 0. Logo posso escrever: lim x→+∞ C1 x C2 x+ C3 = lim x→+∞ xC1 x (C2 + C3 x ) = lim x→+∞ C1 (C2 + C3 x ) e agora uso o Teorema 3.1 e os Exemplos anteriores , concluindo que lim x→+∞ C1 (C2 + C3 x ) = C1 C2 . 7) O mesmo tipo de argumento do Exemplo 6) da´ que: lim x→+∞ an x n + an−1xn−1 + . . .+ a0 bn xn + bn−1xn−1 + . . .+ b0 = an bn , onde ai, bi sa˜o constantes, an 6= 0, bn 6= 0. De fato, como posso supor x > 0: lim x→+∞ an x n + an−1xn−1 + . . .+ a0 bn xn + bn−1xn−1 + . . .+ b0 = = lim x→+∞ xn · (an + an−1x + . . .+ a0xn ) xn · (bn + bn−1x + . . .+ b0xn ) = = lim x→+∞ (an + an−1 x + . . .+ a0 xn ) (bn + bn−1 x + . . .+ b0 xn ) = an bn