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árdua, se não impossível. Aristóteles,18 seguindo a orientação de seu mestre, Platão,19 conceituava justiça como a máxima virtude do indivíduo e do Estado. Para ele existiam dois tipos de justiça, a geral e a particular. A justiça geral nada mais é que a virtude inata às pessoas, que faz com que pratiquem o bem e evitem o mal. A justiça particular, a seu turno, deve ser definida segundo duas espécies. A primeira, a distributiva, consiste na repartição proporcional das honras e bens entre os indivíduos, de acordo com o mérito de cada um. A segunda, a corretiva, procura equilibrar as relações entre os indivíduos, impondo condutas e sanções. A definição de justiça mais importante, até hoje formulada, foi a de Ulpiano, jurista romano, com base na concepção aristotélica. Logo abrindo as Instituições do Corpus Iuris Civilis, formula Ulpiano: Justiça é a vontade constante e perpétua de dar a cada um o seu direito.20 A definição de Ulpiano é formal, não indicando o conteúdo do seu de cada um. É que aquilo que deve ser atribuído a cada um varia no tempo e no espaço. Ora, o seu representa algo próprio de cada pessoa. Configura-se em várias hipóteses: receber o que se deu emprestado; pena proporcional ao crime; salário proporcional ao trabalho etc. A idéia de justiça não é apanágio do Direito, encontrando-se, também, na Moral, na Religião e, com menos freqüência, na Etiqueta. Justiça é algo absoluto ou relativo? Os defensores do caráter relativo da justiça dizem ser óbvio que a idéia de justo varie no tempo e no espaço. Já os defensores do caráter absoluto dizem que, de fato, o que varia é a idéia de justiça, mas não a justiça, que viria diretamente do Direito Natural, não variando, pois. Além disso, se partirmos do pressuposto de que a justiça é relativa, poderíamos, perigosamente, concluir, que não existem leis injustas. A verdade está longe de nossas vãs especulações. O que importa é estabelecer a ligação entre Direito e justiça. Seria ela objetivo do Direito? Segundo os jusnaturalistas, a resposta é óbvia. O sentimento de Justiça nos é inerente, e somente com base em tal sentimento deve ser criado o Direito. 18 ARISTOTLE. Nicomachean Ethics. Great Books ofthe Western World. Chicago: University of Chicago, 1952, p. 640 et seq. 19 PLATO. Laws. Great Books ofthe Western World. Chicago: University of Chicago, 1952, p. 640 et seq. 20 ULPIANUS, Domitius. Inst., Lib. I, TU. I, § 4. Tradução livre do original: "Iustitia est constans et perpetua voluntas ius suum cuique tribuendi". Os posi existência des do que conjui Elucubr a idéia de jusi intensamente seus parâmetr I orientarmos e. Os crité: |3.1 Critério a) Is Iser isto iníernn jual seja, < b) Pi oquet Rui Baríj igualdade não medida em desigualdaa.... vezes, é tratand 3.2 Critérios a) Mérito dar a cada um sé eve serpro: evolução y c) \ec< INTRODUÇÃO 11 Os positivistas, por outro lado, ao negar o Direito Natural, negam a existência desse sentimento de justiça intrínseco a nós. O Direito nada mais é do que conjunto de normas criadas por nós, segundo nossas conveniências. Elucubrações filosóficas de lado, pode-se afirmar que, indubitavelmente, a idéia de justiça é uma constante em nosso pensamento. O homem procura intensamente a justiça. Sem conseguir defini-la cientificamente, em todos os seus parâmetros, podemos, ao menos, formular alguns critérios, a fim de nos orientarmos em sua busca. Os critérios seriam formais e materiais. 3.1 Critérios formais a) Isonomia ou igualdade -Todos são iguais perante a Lei. Como deve ser isto interpretado? Logicamente que em conjunto com outro critério formal, qual seja, o da proporcionalidade. b) Proporcionalidade - É exatamente o critério que manda dar a cada um o que é seu, nas proporções de seus méritos ou deméritos. Rui Barbosa muito bem resumiu estes dois critérios: "A regra da igualdade não consiste senão em aquinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade".21 Muitas vezes, é tratando desigualmente os desiguais que os igualamos. 3.2 Critérios materiais a) Mérito — É valor individual, intrínseco a cada pessoa. A Justiça deve dar a cada um segundo os seus méritos ou deméritos. b) Capacidade — É o mesmo que produtividade. O que cada um recebe deve ser proporcional ao que cada um produz. Aliás, é como dizia o lema da Revolução Russa: "a cada um por seu trabalho". c) Necessidade - Cada um tem suas próprias necessidades. Justo é satisfazê- las tendo em vista os demais critérios. Ainda no auxílio à busca pelo justo, tentam os filósofos classificar a Justiça, ora sob uma ótica, ora sob outra. De um ponto de vista, a justiça pode ser convencional ou substancial. 21 RUI BARBOSA. Oração aos moços. São Paulo: Leia, 1959, p. 46. 12 DIREITO CIVIL Convencional é aquela que decorre da simples aplicação da Lei. Ocorre quando a Lei é subministrada de acordo com sua finalidade. Se a Lei é boa ou ruim, não interessa, em princípio. É nesse sentido que se fala em Tribunal de Justiça, Justiça Estadual ou Federal etc. Em outras palavras, são órgãos que aplicam a Lei ao caso concreto. A justiça substancial, ao revés, preocupa-se em dar a cada um o que é seu, tornando a Lei essencialmente boa, para que a justiça convencional seja feita com "justiça". De um segundo ponto de vista, a justiça será distributiva ou comutativa. Distributiva é a Justiça do Estado, que deve bem repartir as tarefas, bens e favores entre seus membros. Comutativa, ou como queria Aristóteles,22 corretiva, é a justiça das relações entre particulares, que reza deverem ser proporcionais as prestações devidas a um pelo outro. Neste ponto, cabe citar Hobbes. Por seu juízo, a proporção das prestações não deve ser nem aritmética, atribuindo o mesmo valor para coisas iguais, nem geométrica, conferindo os mesmos benefícios para pessoas de mérito igual. A proporção das prestações será determinada pelo apetite das partes. Portanto, o valor justo é aquele que elas acham conveniente oferecer.23 Por fim, será ainda a justiça geral ou social. Justiça geral é a que consiste na contribuição dos membros da comunidade para o bem comum, pagando impostos, servindo o exército etc. Justiça social, a seu turno, espécie da distributiva, consiste na proteção ao mais pobre, mediante a adoção de critérios que permitam melhor distribuição da riqueza. Outra idéia que vem ocupando o pensamento humano ao longo da história e ao lado da justiça é a idéia de eqüidade. Ora com mais, ora com menos sucesso, não existe jurista que não haja, pelo menos enpassant, tentado entender o que seja eqüidade. Sem maiores delongas, eqüidade é a justiça do caso particular. É a justiça que se faz sentir na aplicação das normas jurídicas aos casos concretos. No Direito Brasileiro, a orientação é a de que o aplicador da Lei deve se ater aos critérios da justiça convencional. Apenas quando faltarem subsídios para tal, ou por ser a lei incompleta, ou mesmo por faltar lei para o caso concreto, é que será aplicada a eqüidade. Assim diz o art. 8º da Consolidação das Leis do Trabalho. Assim diz o Código de Processo Civil. O Código Civil é, porém, omisso. Outra questão de suma relevância é a das leis injustas. 22 ARISTOTLE. Nicomachean ethics, cit., p. 378 (113 Ia). 23 HOBBES. Leviatã. Os pensadores. 3. ed., São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 89-90. ín\ outr;: nornuu Le 4. AC 26 N/ 11 KF NV. 128 INTRODUÇÃO 13 Leis injustas são aquelas que negam ao homem o que lhe é devido, ou conferem o que não lhe é devido. Há leis que já nascem injustas. São chamadas injustas por destinação. O objetivo do legislador é em suas raízes injusto. Mas há momentos em