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(perfeição, ordem e equilíbrio do Universo).38 Para os teólogos medievais, vinha de Deus.39 Para os racionalistas, o Direito Natural é produto da razão humana.40 Na atualidade, segundo Paulo Nader,41 o pensamento dominante é o de que o Direito Natural se fundamenta na natureza humana. Segundo esta última corrente, o raciocínio que nos conduz à idéia de Direito Natural parte do pressuposto de que todo ser é dotado de uma natureza e de um fim. A natureza, ou seja, as propriedades que compõem o ser, define o fim a que este tende. A natureza do martelo, por exemplo, dota-o de algumas propriedades, de algumas potencialidades, quais sejam, cabo e cabeça, que o conduzem a seu fim, o de bater pregos. Para que nossas potencialidades, propriedades inerentes à nossa natureza, se realizem na prática, conduzindo- nos a nosso fim, de maneira adequada, obedecemos a certas normas que seriam, em conjunto, o Direito Natural. Estas regras nasceriam de nossa própria natureza. A origem do Direito Natural, portanto, se localiza no próprio homem, em sua dimensão social, e o seu conhecimento se faz pela conjugação da experiência com a razão. É observando a natureza humana, verificando o que lhe é peculiar e essencial, que a razão nos induz aos princípios do Direito Natural. O Direito Natural tem íntima relação com o Direito Positivo. Há normas de Direito Natural que já são dotadas de sanção. Se deixar de comer, e a necessidade de comer é norma de Direito Natural, morrerei. Dessas normas não tem que se ocupar o Direito Positivo. Mas se desobedecer à necessidade de preservar a espécie e matar meu semelhante, desobedecendo norma de Direito Natural, não serei punido por sanção do próprio Direito Natural. Neste caso, e em vários outros, foi necessário que o homem, através do Direito Positivo, impusesse uma sanção. GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Cia. das Letras, 1996, p. 148. SANCTITHOMAE AQUINATIS. Summa, cit., 1-2, q. 96 a. 2 (p. 625-626). MARINHO, Inezil Penna. Brasília: Instituto de Direito Natural, 1979, passim. NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito, çit., p. 406. NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito, cit., p. 408. 20 DIREITO CIVIL O Direito Natural, por suas características, é universal por ser comum a todos os povos. Afinal, a natureza humana é uma só. É também perpétuo, pois vale em todas as épocas. É imutável e Írrenunciável. É indelével, uma vez que não pode ser apagado da natureza do homem. É igual e obrigatório para todos, sem distinção. Ninguém vive sem ele. Seus princípios são sempre válidos. Será mesmo que a natureza humana é uma só, imutável no tempo e no espaço? Esse é o grande enigma dos jusnaturalistas. 4.3 Divisões do Direito Positivo O Direito Positivo é, assim, o conjunto de normas elaboradas pelo homem em determinado tempo e lugar. É, vulgarmente, a Lei. Algumas normas positivas, como vimos, são normas de Direito Natural que, por não serem dotadas de sanção natural, tiveram que ser positivadas, ou seja, inseridas no ordenamento jurídico criado pelo homem. a) Direito Geral e Particular - Geral é o Direito que se aplica a todo um território. Particular, o que se aplica a parte dele. b) Direito Comum e Especial - Direito Comum é o aplicado a várias situações, indistintamente a todos os indivíduos de uma sociedade. Assim é com o Direito Penal, com o Direito Civil, o Constitucional etc. O Direito Especial não se aplica a todos, indistintamente, mas apenas àqueles que se encaixem em seus ditames. Tal ocorre com o Direito Comercial, destinado às relações de comércio apenas. c) Direito Regular e Singular - Regular é o Direito normal, que regula relações quotidianas, habituais. Singular ou extraordinário é o Direito que surge em situações atípicas, como guerras e outras catástrofes. d) Direito Público e Privado - Esta talvez seja a divisão mais importante do Direito Positivo. Se não a mais importante, pelo menos, é a que mais polêmicas gerou. Várias teorias surgiram, ora negando, ora adotando explicação especial para a dicotomia do Direito Positivo em público e privado. Teoria monista de Kelsen — Kelsen nega a existência do Direito Privado. Para ele, todo o Direito é público, por ter no Estado sua origem.42 KELSEN, Hans. Reine Rechtslehre, cit., p. 378 et seq. INTRODUÇÃO 21 Teorias dualistas — Os defensores da dicotomia do Direito Positivo, por seu turno, estão longe do consenso. Cada um adota um referencial para fazer a distinção entre Direito Público e Privado. As principais teorias dualistas se dividem em dois grupos: teorias substancialistas e teorias formalistas. Teorias substancialistas 1ª) Teoria dos interesses em jogo - Se o interesse tutelado pela norma for público, a norma será de Direito Público; se for privado, a norma será de Direito Privado. Assim já se posicionavam os romanos: Publicum ius est quod ad statum rei romanae spectat; privatum, quod ad singulorum utilitatem pertinet. A fórmula é atribuída a Ulpiano43 e significa: "Direito Público é o que diz respeito ao Estado Romano; privado, o que é pertinente à utilidade dos particulares". 2ª) Teoria do fim - Adotada por Savigny, jurista alemão, afirma que se o objetivo da norma for o Estado, o Direito será Público; caso seja ; o particular, o Direito será Privado.44 Teorias formalistas 1ª) Teoria do titular da ação - Defendida por Thon, diz essa teoria que o direito só é concretizado por meio de uma ação. Ação esta realizada por alguém. Se, pela natureza do Direito, a iniciativa da ação couber ao Estado, o Direito será público; ao revés, se couber ao particular, o Direito será privado.45 2ª) Teoria das normas distributivas e adaptativas — O objetivo precípuo do Direito é regular a utilização dos bens pelo homem. Neste sentido, as normas jurídicas podem ser distributivas, quando visam a distribuir os bens entre os indivíduos, ou adaptativas, quando se tratar de bens de impossível distribuição, como rios, ruas etc. Cabe ao Direito, então, adaptar o uso desses bens. Se a norma for distributiva, como as normas do Direito Civil, o Direito será privado. Se for, ao contrário, adaptativa, como as normas de Direito Constitucional, o Direito será público. Essa a tese de Korkunoff.46 3ª) Teoria das relações jurídicas — Entendemos ser esta a melhor doutrina, apesar de suas falhas. O que faz é dividir o Direito em público e privado, segundo a classe de relações jurídicas tuteladas. 43 ULPIANUS, Domitius. Inst., cit., Lib. I, Tit. I, § 4. 44 SAVIGNY, Friedrich Karl von. Sistema dei derecho romano actual. 2. ed., Madrid: Centro Editorial de Góngora, 1847, t. I, p. 58 et seq. 45 ApudNADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito, cit., p. 450. 46 Apud^HADEK, Paulo. Introdução ao estudo do direito, cit., p. 450. 22 DIREITO CIVIL Dessa forma, Direito Público seria aquele que traça o perfil do Estado e de seu funcionamento e cuida das relações entre as pessoas jurídicas de Direito Público e das relações entre estas e os particulares. Já o Direito Privado regula as relações entre os particulares. É lógico que esta subdivisão não é muito rígida. As normas de Direito Público e as de Direito Privado a todo momento se intercomunicam. Há instantes em que vemos normas e princípios de Direito Público interferirem no Direito Privado e vice-versa. O Direito Público e o Privado, também, se subdividem em ramos. Assim, temos: Direito Público Direito Privado Constitucional Civil Administrativo Comercial ou Empresarial Tributário Trabalhista Econômico Internacional Privado Previdenciário Processual Internacional Público : Penal e outros Por que é tão importante qualificarmos um ramo do Direito de público ou privado? Por uma razão muito simples: os princípios que regem o Direito Público são diferentes dos que regem o Direito