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(erudito) complementasse o Direito próprio, sem eliminá-lo, por estar muito enraizado. Foram os comentadores que criaram as expressões Ius Commune e Ius Proprium. Segundo eles, o Ius Commune, ou Direito erudito, podia fornecer um método de estudo para o Direito Próprio. A terceira escola foi denominada humanista ou Escola Culta. Durou todo o século XVI, já na Idade Moderna. Seu fundador foi Andréa Alciato, falecido em 1550. Era italiano, mas lecionou em Bourges, que se tornou o centro da escola, continuada por Jacques Cujas, falecido em 1590. Daí a razão de serem os franceses seus maiores representantes, o que deu à escola o nome de mos gallicus, ou escola francesa. Foram os humanistas que cunharam duas expressões importantes: Idade Média e Corpus Iuris Civilis. 62 DIREITO CIVIL 5. Idade moderna (1453 a 1789) A Idade Moderna iniciou-se com a queda de Constantinopla nas mãos dos turcos islâmicos (otomanos). Fechado o Bósforo, que era a passagem terrestre entre a Europa e o Oriente, tiveram início as grandes navegações e os descobrimentos. Começou o mercantilismo. Fortaleceu-se o Estado Nacional absolutista. No Direito, abriu-se a Escola Humanista ou Escola Culta, em substituição aos comentadores. A Escola Humanista nasceu dentro do contexto do Renascimento (séculos XV e XVI). Caracterizava-se pela utilização do método histórico, sociológico e lingüístico para a interpretação dos textos romanos. Com esses métodos, muitos erros cometidos pelos glosadores e pelos comentadores foram retificados. Os humanistas viam o Corpus Iuris Civilis como fenômeno histórico, próprio de seu tempo e lugar. Não era um presente perfeito, caído dos céus. Os comentadores haviam adaptado o Direito Romano, muitas vezes através de interpolações, que modificavam os textos originais. Os humanistas rejeitaram tais adaptações, reduzindo o Direito Romano a relíquia acadêmica. Procuraram restaurar os textos interpolados. A verdade é que, na Idade Moderna, o Direito nacional já se achava bastante forte e desenvolvido, não mais necessitando, como antes, do Direito Romano original. Esta a razão de o terem reduzido os humanistas a relíquia acadêmica. Apesar disso tudo, os profissionais do Direito continuavam a aplicar o Direito Romano na tradição dos comentadores, o que só foi superado pela introdução dos Códigos Nacionais. Mesmo estes tiveram muita influência da Escola dos Comentadores. A Escola Humanista ou Escola Culta, pode dizer-se, sobrevive academicamente até nossos dias. Nenhum país europeu escapou completamente à influência do Direito Romano estudado nas universidades (Direito Comum). Em muitos países, esse Direito Comum foi introduzido e adotado como nacional, tendo substituído grande parte do Direito próprio. Os Estados alemães são exemplo desse fenômeno. Neles surge, já no século XIX, uma nova versão do Direito Comum, conhecida por Usus Modernus Pandectarum, ou Escola dos Pandectistas. Seu último representante foi Windscheid, falecido em 1892. Na Inglaterra, o processo foi um pouco diferente. No século XII, os tribunais régios criaram um Direito consuetudinário inglês, inspirado no Direito feudal e no Direito próprio saxão. Desta fusão surge o Direito Comum inglês, denominado Common Law. Esta Common Law não tinha elementos romanos. Os ingleses chamavam o Direito Comum continental de Civil Law ou Continental Law. O DIREITO CIVIL NO SISTEMA JURÍDICO ROMANO-GERMÂNICO 63 Hoje, a expressão Common Law se contrapõe a Statutary Law (Direito escrito), ou então a Civil Law, dada sua sistemática. Na Alta Idade Média, ao contrário dos tempos atuais, não era claro que o Direito podia ser manipulado. Era visto como realidade fixa e eterna, que podia ser interpretada, mas não modificada substancialmente. Essa a razão para poucas leis escritas, além da impotência dos governos centrais. Na Baixa Idade Média, a situação começou a mudar, com o fortalecimento paulatino do Estado Nacional. Na Idade Moderna, a atividade legislativa se intensificou. São exemplos as grandes Ordenanças de Luís XIV e de Luís XV De Luís XIV temos a Ordenança Civil para a Reforma da Justiça, a Ordenança sobre o Comércio Terrestre e a Ordenança sobre o Comércio Marítimo. De Luís XV a Ordenança sobre Doações, a Ordenança sobre Testamentos e a Ordenança sobre as Substituições Fideicomissárias. Por fim, com o Estado Nacional, tanto o processo quanto a Justiça começaram a se centralizar. Surgiram os tribunais centrais e regionais. Reintroduziu-se o princípio do duplo grau de jurisdição. Aos poucos, os juizes foram se profissionalizando. Já na Baixa Idade Média, a partir do século XII, o sistema das ordálias foi, progressivamente, substituído por um sistema baseado em meios racionais de prova. 6. IDADE CONTEMPORÂNEA (DE 1789 A NOSSOS DIAS) O marco histórico que divide a Idade Moderna da Contemporânea é a Revolução Francesa. No entanto, a Idade Contemporânea começa, de fato, com o movimento iluminista do século XVII e principalmente do século XVIII. No Direito, o Iluminismo foi responsável por uma verdadeira reviravolta, que culminou na Escola do Direito Natural e nas grandes codificações. Assim, foram características desse "iluminismo jurídico" a destruição das velhas tradições jurídicas ao Ancien Regime, o triunfo do Direito Natural e a crença nos códigos. Este período de jusnaturalismo foi breve. Terminou no início do século XIX, sendo ofuscado pela Escola Histórica e pelo Positivismo. A fé nos códigos persistiu, porém. A crítica ao sistema jurídico do Ancien Regime deve ser vista, assim, pelo prisma do Iluminismo. O movimento iluminista, que começou já no século XVII, fruto do Renascimento, do capitalismo mercantil e da criação do Estado Nacional central, concentrou sua crítica ao Ancien Regime nos seguintes tópicos: - desigualdade diante das leis; - limitação à livre iniciativa e à propriedade; - intervenções arbitrárias da Coroa na esfera privada; 64 DIREITO CIVIL ;i; _ exclusão da participação popular em assuntos políticos; - poder excessivo da Igreja e intolerância religiosa. Em relação ao Direito, entendiam os iluministas que deveria haver uma redução na inflação legislativa. O Direito deveria ter como fonte normas sistematizadas em códigos. Deveria ser abolida a autoridade absoluta dos valores tradicionais, principalmente dos dogmas, centrados no Direito Romano. Deveria também ser abolida a autoridade dogmática dos juizes e dos juristas eruditos. Por fim, o novo Direito deveria ser concebido livremente pelo homem moderno, com base na razão. Deveria ser claro para o povo ao qual servia. Deveria ser criado um novo sistema, baseado em um novo corpo de fontes, ou seja, os códigos inspirados no Direito Natural. O Direito Natural era entendido, nessa época, de modo bem diferente de antes. Se para os romanos identificava-se com as leis da natureza, e para os medievos, com a lei divina, para os modernos, o Direito Natural era um conjunto de princípios básicos, do qual derivaria o Direito Positivo. A fonte desses princípios era a própria natureza humana. Deveriam ser descobertos por meio da observação racional. São nomes do movimento jusnaturalista, dentre outros, Hugo Grotius, falecido em 1645; Samuel Pufendorf, falecido em 1694; ChristianThomasius, falecido em 1728, e Christian Wollf, falecido em 1754. A intenção dos jusnaturalistas não era a de rejeitar todas as normas tradicionais. Desejavam reformar as leis e o método jurídico, libertando a jurisprudência dos antigos dogmas. A concretização desse novo pensamento jurídico (jusnaturalismo) foram os grandes códigos iluministas dos séculos XVIII e XIX. Foram obra dos déspotas esclarecidos e da Revolução Francesa. Os códigos deveriam ser perfeitos, completos, sem lacunas. Vários reis, dentre