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das leis perfeitas é a invalidade do ato praticado, tratando-se de leis menos-que-perfeitas, a sanção é mais suave. As leis menos-que-perfeitas determinam comando, que se descumprido, importará punição direta, mas não a ponto de invalidar-se o próprio ato praticado. Para que pessoa viúva se case novamente, é necessário esperar até que se resolva a partilha dos bens do defunto entre os filhos do casal. Se o novo casamento se der antes disso, a pena imposta é a da separação obrigatória de bens. O casamento será, todavia, válido.3 c) Leis imperfeitas - leges imperfectae - Nas leis imperfeitas, não há penalidade direta para o descumprimento da norma. A sanção é indireta, e, por vezes, o comando nem será percebido num exame desatento. Na Lei do Inquilinato, por exemplo, encontra-se implícito o comando de ser o contrato de locação residencial celebrado por escrito e por período de, no mínimo, trinta meses. Mas por que implícito? Porque, em verdade, o contrato poderá ser celebrado verbalmente, ou por período inferior a trinta meses. Nestes casos, porém, haverá sanção. O locador somente poderá despejar o inquilino, sem motivo justo, após cinco anos de locação. Como se pode concluir, a sanção é indireta, e o comando só pode ser percebido por causa dela.4 Examinados, o mais detalhadamente possível, os meandros da norma jurídica, podemos dar início ao estudo da Lei de Introdução ao Código Civil. Seu objetivo não é, meramente, fixar normas para a legislação civil. Ao tratar da eficácia, do conflito e da interpretação das leis, acaba por estender suas regras a toda e qualquer lei, seja ela de Direito Privado ou Público.5 De fato, tais disposições fazem antes parte do Direito Constitucional do que, propriamente, do Direito Civil. Aliás, várias das disposições contidas em seus 19 artigos foram, posteriormente, confirmadas e, em alguns casos, revogadas pela Constituição Federal. Nos seis primeiros artigos, a Lei de Introdução cuida da eficácia, da interpretação e do conflito de leis no tempo. A seguir e, até o final, trata do conflito de leis no espaço, delineando a maneira como os juizes devem agir PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições, cit., v. I, p. 72. SERPA LOPES, Miguel Maria de. Curso, cit., v. 1, p. 41. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições, cit., v. I, p. 72. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições, cit., v. I, p. 72. SERPA LOPES, Miguel Maria de. Curso, cit. v. 1, p. 41. DINIZ, Maria Helena. Lei de introdução ao Código Civil brasileiro interpretada. 2. ed., São Paulo: Saraiva, 1996, p. 4 et seq. para resolver controvérsias internacionais de Direito Privado, como, por exemplo, julgar caso oriundo de contrato entre brasileiro e francês, ou seja, que Lei aplicar, a brasileira ou a francesa. Mas vejamos suas normas com mais detalhes. 2. Eficácia das leis 2.1 Início de vigência das leis Ponto de partida para a vigência de uma lei é sua publicação pela Imprensa Oficial. A fixação do início de vigência de uma lei deve ser buscada nela mesma. É ela que determinará a partir de quando entrará em vigor. Às vezes, entra em vigor na data de sua publicação; às vezes, trinta dias ou um ano após sua publicação. A fixação do início de vigência de uma lei dependerá de seu objetivo específico. Caso a lei não traga em seu texto nenhuma norma que fixe data em que entrará em vigor, a Lei de Introdução ao Código Civil estabelece prazo de 45 dias no Brasil e três meses no exterior. Em outras palavras, essa lei será publicada e somente 45 dias depois começará a vigorar. A esse prazo, entre a publicação da lei e o início de sua vigência, chamamos de vacatio legis. Em outros termos, a lei existe, mas ainda não está vigorando, ainda não tem força obrigatória, vigendo a lei antiga para todos os fatos jurídicos ocorridos nesse período de vacatio legis. A vacatio legis terá sua duração determinada pela própria lei nova ou, como vimos, se esta for omissa, pela Lei de Introdução ao Código Civil, ou seja, 45 dias corridos depois de sua publicação. Pode ser que a lei, ao ser publicada, contenha erros que passaram despercebidos, mas que careçam de correção. Quando isso ocorrer, os artigos da lei que estiverem errados serão corrigidos e a lei será republicada. Neste caso, diz a Lei de Introdução que a vacatio legis começa a correr de novo. Mas e se o erro for percebido após o início da vigência da lei? Sendo assim, o erro será emendado e publicado em nova lei. Por exemplo, suponhamos uma Lei 10, cujo objeto seja regular relações de consumo. Suponhamos ainda que, entrando esta lei em vigor, descubra-se que contém erro grave em seu art. 30. Descoberto o erro, será ele corrigido, e se publicará nova Lei 11, cujo objeto será o de corrigir o art. 30 da Lei 10. Seu texto bem poderia ser o seguinte: ,.; "Art. 1º Fica assim redigido o art. 30 da Lei 10: 'Art. 30. [...]' Art. 2º Revogam-se todas as disposições contrárias. Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação." LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL - EFICÁCIA, CONFLITO E INTERPRETAÇÃO... 77 Orientando a aplicação das normas sobre eficácia das leis, há dois princípios. São chamados princípios informadores da eficácia das leis, exatamente por informarem o jurista sobre o que deve ser feito, sempre que deparar com alguma dúvida. São eles o princípio da obrigatoriedade e o princípio da continuidade das leis. O princípio da obrigatoriedade das leis dispõe que, uma vez em vigor, a lei é obrigatória para todos os seus destinatários, sem qualquer distinção, ainda que a desconheçam. Aliás, não vale a escusa de se não conhecer a lei. Na verdade, quando o legislador impôs a regra de que não se pode descumprir lei sob a alegação de desconhecê-la, não quis com isso dizer que, com a promulgação, a lei se torna conhecida de todos. É lógico que não somos obrigados a conhecer toda a legislação vigente. Isso seria humanamente impossível. A questão é que, se nos fosse dado alegar que desconhecemos a lei, para justificar o fato de a termos descumprido, a sociedade se transformaria em verdadeira balbúrdia, em barafunda, em que ninguém respeitaria os direitos de ninguém. Assim, o princípio da obrigatoriedade das leis veio pôr ordem nas relações sociais. É princípio de segurança jurídica. O princípio da continuidade das leis tem outro objetivo. Segundo ele, toda lei, a partir do início de sua vigência, tem eficácia contínua, até que seja revogada por outra lei. O desuso, portanto, não faz com que a lei perca sua eficácia formal. Em outras palavras, formalmente, a lei existe e vige, apesar de na realidade não ser observada por ninguém. Podemos dizer, pois, que tal lei tem eficácia formal, mas não eficácia real ou material. De qualquer modo, ela estará em vigor, até que outra lei seja promulgada com o fito de revogá- la. Pelo princípio da continuidade das leis, vimos que uma lei só perde sua eficácia em razão de força contrária à sua vigência. A esta força dá-se o nome de revogação. A revogação pode ser total ou parcial. Será total quando toda a lei antiga for revogada pela nova. Chama-se também ab-rogação. Por outro lado, a revogação parcial, como o próprio nome está a indicar, ocorrerá quando a lei nova revogar apenas algumas das disposições da lei antiga, continuando o resto em vigor. A este tipo de revogação dá-se o nome de derrogação. Pode a revogação ser ainda expressa ou tácita. Será expressa quando no texto da lei nova houver norma expressa, revogando a lei antiga. Por exemplo, "fica revogada a Lei 10 de 1968", ou "fica revogado o art. 2º da Lei 20 de 1989". Será, entretanto, tácita quando a lei nova nada disser a respeito de que disposições legais estão sendo por ela revogadas. Neste caso, a Lei de Introdução resolve o caso, dizendo que a lei posterior revoga a anterior, quando seja com ela incompatível,