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O Método Cartesiano

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS 
CAMPUS ARAPIRACA 
 
 
 
 
 
 
 
Anderson Alex da Costa Dias 
Bruno da Silva Barbosa 
José Ronaldo Nunes da Silva 
Marcos Vinícius da Silva Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O método cartesiano 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Arapiraca 
2015
 
 
 
Anderson Alex da Costa Dias 
Bruno da Silva Barbosa 
José Ronaldo Nunes da Silva 
Marcos Vinícius da Silva Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O método cartesiano 
 
 
 
 
Trabalho acadêmico apresentado junto ao 
1º Período da Graduação da Universidade 
Federal de Alagoas – Campus Arapiraca 
como requisito parcial de aprovação na 
disciplina Produção do conhecimento: 
ciência e não ciência. 
 
Orientador: Prof. Dr. Israel Alexandria 
Costa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Arapiraca 
2015
 
 
 
Anderson Alex da Costa Dias 
Bruno da Silva Barbosa 
José Ronaldo Nunes da Silva 
Marcos Vinícius da Silva Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
O método cartesiano 
 
 
Trabalho acadêmico apresentado junto ao 
1º Período da Graduação da Universidade 
Federal de Alagoas – Campus Arapiraca 
como requisito parcial de aprovação na 
disciplina Produção do conhecimento: 
ciência e não ciência. 
 
 
 
 
 
 
Data de Aprovação 
14 de janeiro de 2015 
 
 
 
Examinador: 
 
 
Prof. Dr. Israel Alexandria Costa 
Universidade Federal de Alagoas – UFAL 
Campus Arapiraca 
Orientador/Examinador 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho – O método cartesiano – faz uma análise do Método Científico-
Filosófico desenvolvido e adotado pelo filósofo René Descartes, tendo por objetivo 
analisar as peculiaridades desta nova maneira de pensar e fazer ciência. Seu 
conteúdo textual divide-se em quatro seções classificadas em conformidade com os 
seguintes objetivos específicos: a apresentação de um breve esboço acerca do 
pensamento Cartesiano ressaltando, sobretudo, suas similaridades com o modelo 
Platônico, assim como da sua possível correlação com as correntes filosóficas 
anteriores; a identificação de algumas das razões que levaram René Descartes a 
propor tal método, como do método em si como meio de doutrinar a razão humana na 
busca da verdade indubitável; a apresentação do caráter questionador de René 
Descartes, e do argumento da dúvida como meio de encontrar o conhecimento 
verdadeiro encontrado apenas a partir da certeza; a apresentação de determinados 
argumentos utilizados pelo filósofo para explicar a existência de Deus, o qual estava 
atrelado à sua razão. O enfoque dessas questões está baseado, principalmente, no 
Discurso do Método e nas Meditações sobre Filosofia Primeira, uma vez que nesses 
textos são encontradas referências ao processo de criação deste novo método 
científico, como da importância e dimensão da dúvida metódica, sobretudo nas 
Meditações. 
Palavras-chave: Descartes. Dúvida. Método. Conhecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
The present work - The Cartesian method - does an analysis of Scientific and 
Philosophic Method developed and adopted by the philosopher René Descartes, in 
order to analyze the peculiarities of this new way of thinking and doing science. Their 
content is divided into four sections classified in accordance with the following specific 
objectives: the presentation of a brief outline about the Cartesian thoughts 
emphasizing, above all, their similarities with the Platonic model, as well as its possible 
correlation with the previous philosophies ; identifying some of the reasons that led 
René Descartes to proposing such a method, as the method itself as a means of 
indoctrinating the human reason in the pursuit of indubitable truth; the presentation of 
the questioner character of René Descartes, and the argument doubt of as a means 
to find the true knowledge found only from the certainty; the presentation of the 
production of certain arguments used by the philosopher to explain the existence of 
God, which was linked to his reason. The focus of these questions is based primarily 
on the Discourse of the Method and Meditations on First Philosophy, since these texts 
are found references to the creation process of this new scientific method, such as the 
importance and dimension of methodical doubt, especially in the Meditations. 
Keywords: Descartes. Doubt. Method. Knowledge. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 6 
2. O PENSAMENTO CARTESIANO ........................................................... 8 
2.1. Similaridades no pensamento Platônico .......................................... 8 
2.2. A evolução do pensamento: da contemplação ao método .......... 10 
3. A CONSTRUÇÃO DO MÉTODO: O CAMINHO PARA O 
CONHECIMENTO ........................................................................................ 12 
4. A DÚVIDA METÓDICA: A VERDADE SOB COMPROVAÇÃO ........... 16 
5. A PROVA DE DEUS ............................................................................. 20 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 21 
REFERÊNCIAS .................................................................................... 23 
 
6 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
Em uma época em que a força da razão tal qual a conhecemos estava apenas 
se iniciando e em que textos filosóficos eram escritos em latim, voltados apenas para 
os doutores, Descartes publicou Discurso do Método redigido em língua tratada como 
vulgar na época, isto é, o francês. Ele defendia o uso público da razão e escreveu o 
discurso pensando em uma audiência ampla. Queria que a razão, privilégio único dos 
seres humanos, fosse exatamente isso, um privilégio de todos homens dotados de 
senso comum. 
Ao terminar seus estudos, Descartes se vê tomado por dúvidas, tal qual 
descreve na sua Segunda Meditação: 
Mas, de onde sei que não há algo diverso de todas as coisas cujo 
censo acabo de fazer e a respeito de que não haveria a mais mínima 
ocasião de duvidar? Não há algum Deus, qualquer que seja o nome 
com que o chame, que tenha posto em mim esses mesmos 
pensamentos? Por que, na verdade, supô-lo, quando talvez eu mesmopossa ser o seu autor? Não sou, portanto, eu pelo menos, algo? Mas 
já me neguei a posse de todos os sentidos e de todo corpo. Hesito, 
entretanto, pois, que resulta disso? Acaso estou atado assim ao corpo 
e aos sentidos que, sem eles, não posso ser? Mas já me persuadi de 
que não há no mundo totalmente nada, nenhum céu, nenhuma terra, 
nenhuma mente e nenhum corpo. Portanto, não me persuadi de que 
eu, também, não era? [...] (DESCARTES, 2004, p. 24-25). 
Essas e outras questões faziam parte, nas primeiras décadas do século XVII, 
do cotidiano e do método investigativo de René Descartes. 
Com o exercício da subjetividade e a confiança na razão, Descartes 
revolucionou o pensamento filosófico e científico até então subordinado à autoridade 
da igreja, à escolástica e a líderes políticos, ditos escolhidos por Deus. 
Contra as disputas religiosas sangrentas que reinavam na Europa, Descartes 
ofereceu a razão. O seu subjetivismo que valorizava o sujeito científico indicava o 
caminho para a objetividade e para o rigor intelectual de forma igualitária, colocando 
ao alcance de todos as ferramentas para a descoberta da verdade. Sua tese mais 
importante foi propor que cada um pensasse por si mesmo, com isso a autoridade da 
filosofia passou a se fundar não mais das escrituras ou dos sábios, mas na mente do 
filósofo. Como afirmam Reale e Antiseri dizendo que “[...] O banco de provas do novo 
saber, filosófico e científico, portanto, é o sujeito humano, a consciência racional” 
(REALE, ANTISERI, 2004 p. 294). 
7 
 
 
Diante dessa demanda, o presente trabalho traz um apanhado a respeito do 
método científico elaborado por René Descartes, bem como dos meios utilizados por 
ele para validar suas respostas no tocante ao novo modelo filosófico que 
desenvolvera. 
Dessa forma, na primeira seção textual é apresentado um apanhado geral de 
singulares similaridades entre os pensamentos de Platão e Descartes, bem como Bem 
como um breve levantamento das correntes filosóficas anteriores ao método 
cartesiano; a segunda, procura externar a construção do Método Científico de René 
Descartes; a terceira, versa sobre a temática da dúvida no universo Cartesiano; e a 
quarta, trata de como René Descartes chegou a prova da existência de Deus por 
intermédio da razão. 
Seguramente este apanhado de informações é muito pouco diante do 
universo filosófico existente, porém o que se buscou evidenciar aqui são as 
peculiaridades e a importância do Método Científico-Filosófico de René Descartes. 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
2. O PENSAMENTO CARTESIANO 
Neste capítulo busca-se externar algumas similaridades encontradas no 
pensamento de Descartes relativas ao pensamento, sobretudo, de Platão, não 
procurando refutar o que muito se prega relativo à abolição de antigos métodos 
utilizados antes do cartesianismo, mas apenas com o intuito de informar que hão 
semelhanças, em alguns pontos, no processo de busca pelo conhecimento 
verdadeiro. Bem como um breve levantamento das correntes filosóficas anteriores ao 
método cartesiano. 
 
2.1. Similaridades no pensamento Platônico 
É comum a afirmação de que o modelo filosófico de Descartes constitua-se 
numa ruptura radical com o passado, inaugurando uma nova problemática filosófica. 
No entanto, como pontua David Gonçalves: 
[...] isto se trata de uma simplificação: o estilo literário utilizado pelo 
“pai da filosofia moderna” oculta seu débito para com autores da 
renascença, como Copérnico, Galileu e Kepler, e para com a tradição 
neoplatônica, em especial Agostinho – que não apenas comparava a 
alma humana a um ponto geométrico, mas cuja formulação “si fallor, 
sum“ se assemelha enormemente à usada por Descartes na 
exposição do cogito em Discurso do Método (“cogito, ergo sum”). 
(BORGES, 2009, p. 174). 
Vale salientar também, partindo desse pressuposto, que podemos observar 
certa congruência nos pensamentos de Platão e Descartes. Se tomarmos por base a 
apreciação dos sentidos para a formação do verdadeiro conhecimento, pode-se 
verificar esta proposta, ao passo que ambos concordam que não se deve confiar 
nestes, mas sim na razão, para formar seus conhecimentos realmente válidos. Dessa 
forma, afirma Descartes: “[...] notei que os sentidos às vezes enganam e é prudente 
nunca confiar completamente nos que, seja uma vez, nos enganaram” (DESCARTES, 
2004, p.18), assim como Platão ao relatar no Timeu que: 
[...] Na minha opinião, temos primeiro que distinguir o seguinte: o que 
é aquilo que é sempre e não devém, e o que é aquilo que devém, sem 
nunca ser? Um pode ser apreendido pelo pensamento com o auxílio 
da razão pois é imutável. Ao invés, o segundo é objecto da opinião 
acompanhada da irracionalidade dos sentidos e, porque devém e se 
corrompe, não pode ser nunca. Ora, tudo aquilo que devém é 
inevitável que devenha por alguma causa, pois é impossível que 
alguma coisa devenha sem o contributo duma causa. [...] (PLATÃO, 
2011, p. 93-94). 
9 
 
 
Diante disso, David Gonçalves pontua que em ambos os sistemas, platônico 
e cartesiano, tem-se por objetivo abandonar as aparências, “ilusórias e enganadoras”, 
podendo, dessa forma alcançar a essência primordial sobre a qual todos os demais 
conhecimentos podem ser obtidos. 
Da mesma forma, no que concerne às matemáticas, tanto Platão quanto 
Descartes denotam grande importância no que concerne a esta matéria, a ser mais 
enfatizada por Platão, visto que esse aponta tudo como sendo fruto da matemática, 
desde a construção do corpo humano formado por inúmeros e minúsculos triângulos, 
até o próprio Deus (Demiurgo), ao qual atribui-lhe a forma esférica pelo fato de julgá-
la a forma mais perfeita. Com isso, no Timeu afirma-se que: 
A formação do mundo organizado a partir dos quatro elementos 
obedece inevitavelmente à proporção, isto é, à relação matemática. 
Como se tornará evidente, até o próprio demiurgo está atido às 
imposições da proporção matemática. (PLATÃO, 2011, p. 100). 
Descartes, de modo similar, também exalta as matemáticas como é 
exemplificado nesses trechos de suas Meditações ao relatar que: 
[...] Estou lembrado de que sempre, ainda no tempo em que me 
achava muito apegado aos objetos dos sentidos, sempre considerei 
as verdades mais certas de todas as que conhecia evidentemente 
sobre as figuras, os números e outras coisas pertencentes à Aritmética 
ou à Geometria ou, em geral, à Matemática pura e abstrata. 
(DESCARTES, 2004, p. 65). 
[...] 
E, assim, vejo plenamente que a certeza e a verdade de toda ciência 
dependem unicamente do conhecimento do verdadeiro Deus, de tal 
maneira que, antes de O conhecer, não pude saber perfeitamente 
nada sobre nenhuma outra coisa. Agora, em verdade, inúmeras coisas 
— quer sobre Deus ele mesmo e outras coisas intelectuais, mas 
também sobre toda essa natureza corporal que é objeto da 
matemática pura — podem ser por mim completamente conhecidas e 
certas. (DESCARTES, 2004, p. 71). 
Ao contrário do que se esperava, David Gonçalves expõe que o método 
filosófico, destacando-o como sendo também um método científico e matemático, qual 
é empregado por Descartes exige o uso de um raciocínio empregado na matemática, 
especialmente na geometria, dividindo-se em quatro etapas - evidência, análise, 
síntese e enumeração, que serão abordadas mais à frente - exatamente como o 
método empregado por Platão. Dessa forma David Gonçalves escreve que: 
[...] A análise e a síntese cartesianas em nada diferem das análises e 
sínteses empregadas pelos gregos. A verificação pelo critério da 
10 
 
 
evidência, de onde parte a dúvida, pode ser identificada com o 
diorismo – a determinação das condições necessárias para que uma 
proposição P seja considerada verdadeira é aquilo quepermite 
determinar se tal proposição deve ou não ser considerada verdadeira. 
As enumerações e a verificação ou controle dos raciocínios 
empregados se utilizam dos lemas – que são “conclusões 
intermediárias” em uma exposição lógica ou lógico-dialética. Este 
método é exatamente o mesmo empregado na álgebra e na geometria 
para a resolução de determinados problemas ou para a prova de 
teoremas; assim, os “alicerces” aos quais Descartes se refere são 
como os axiomas de um sistema matemático, e a construção do 
restante do “edifício” é como o processo de demonstração do teorema 
e/ou equação. Portanto, podemos seguramente afirmar que, se o 
método empregado por Descartes para a construção de sua filosofia 
e de sua ciência não é o mesmo empregado por Platão em seus 
diálogos, é, ao menos, extremamente similar – e isto se deve, em 
grande parte, a ambos os filósofos terem se utilizado de preceitos já 
estabelecidos na matemática, em especial na geometria. (BORGES, 
2009, p. 185-186). 
Com isso, verificamos, de certa forma algumas das semelhanças existentes 
entre as considerações desses célebres filósofos, onde cada um, a seu tempo, deu 
sua parcela de contribuição para o entendimento das coisas e do mundo, assim como 
nos demonstram o empenho vivaz pelo discernimento concreto e verdadeiro. 
 
2.2. A evolução do pensamento: da contemplação ao método 
Embora essas singulares semelhanças tratadas anteriormente existam sabe-
se, porém, que há tantas outras divergências referentes aos métodos empregados 
não apenas na busca de verdades, mas principalmente, na forma como essas 
verdades seriam “provadas” efetivamente. E é dessa necessidade de uma prova 
efetiva e comprovada para as teses elaboradas pelos filósofos que cai por terra o 
antigo modelo de filosofia, no qual os antigos pensadores viam a ciência como um 
aspecto prático, num sentido de engenharia, construção, por exemplo, contudo a 
ciência ganhava tons muito indutivos, porém não experimentais e, consequentemente, 
carente de verdades comprovadas. 
Um ponto importante de transformação e desprendimento dos saberes 
preestabelecidos foi a transição do geocentrismo para heliocentrismo, visto que no 
primeiro, toda a ciência derivava de ensinamentos gregos e fora adotada pela 
cristandade, a qual terminou por concordar com o modelo Aristotélico, o qual, segundo 
11 
 
 
Reale e Antiseri, era pautado nos métodos próprios da escolástica, que compreendia 
a leitura de textos, porém enriquecida com as novas influências humanas. 
Posteriormente, através do Renascimento, o homem passou a analisar e 
explicar a realidade pela razão humana e não mais pela revelação divina. Foi nesse 
período que os seres humanos retomam o prazer de pensar e de produzir o 
conhecimento através das ideias. 
Através dessas mudanças na maneira de pensar, surge o método cartesiano, 
criado por René Descartes, onde duvida-se de cada ideia que pode ser duvidada. Ao 
contrário dos gregos antigos e dos escolásticos, que acreditavam que as coisas 
haviam de existir simplesmente pelo fato de precisarem existir, ou porque assim 
haveria de ser. Essa ruptura é elencada por Reale e Atiseri ao expressar que: 
Não podia mais se sustentar a filosofia tradicional, muito estranha 
àquele conjunto de novas teorizações e descobertas, tornadas 
possíveis também por instrumentos técnicos que, potencializando ou 
corrigindo nossos sentidos, nos introduziam em reinos até então 
inexplorados. Era urgente uma filosofia que justificasse a confiança 
comum na razão. [...]Não se trata, portanto, de lançar à discussão este 
ou àquele ramo do saber, e sim o fundamento do próprio saber [...] 
(REALE, ANTISERI, 2004 p. 288). 
Em diversas passagens de seu Discurso do Método, Descartes faz uso de 
metáforas relativas à pratica da construção, sobretudo das bases, alicerces destas. 
Referente a tais tropos, Reale e Atiseri salientam que: 
É para o fundamento que Descartes chama a atenção, já que é do 
alicerce que dependem a amplitude e a solidez do edifício que é 
preciso construir para se contrapor ao edifício aristotélico, no qual se 
apóia toda a tradição. Descartes não separa a filosofia da ciência. 
(REALE, ANTISERI, 2004, p. 288). 
Portanto, o que pode-se evidenciar é que havia, naquela época, uma 
necessidade de obter-se novos princípios que, conforme afirmam Reale e Antiseri, 
permitam um novo tipo de conhecimento da totalidade do real, ao menos em sua 
essência. Aos quais, a posteriori, não importaria a direção que fossem explorados, 
mas que fornecessem bases firmes para essa nova construção filosófica pretendida 
ao passo que também desfizessem os princípios Aristotélicos, veementemente 
adotados. 
 
 
 
12 
 
 
3. A CONSTRUÇÃO DO MÉTODO: O CAMINHO PARA O CONHECIMENTO 
 
Descartes sempre foi um bom aluno, mas os seus estudos no colégio jesuíta 
não lhe permitiram encontrar a verdade que procurava, como relatou no Discurso do 
método. Dessa forma, critica tudo aquilo que aprendeu na escola, pois isso não 
repousava em fundamentos ou princípios sólidos, pelo contrário, limitava-se a propor 
conhecimentos apenas verossímeis, ou seja, só aparentemente verdadeiros e, desse 
modo, não fornecia nenhuma certeza. Segundo Japiassu, Descartes acreditava que 
para se fundar na certeza, o conhecimento deve começar pela busca de princípios 
absolutamente seguros. 
Posteriormente ao término de seus estudos no colégio jesuíta de La Flèch, 
Descartes recebe em 1616 o seu diploma de Direito da Universidade de Poitiers; ao 
final de 1620 parte para uma viagem que dura aproximadamente nove anos; só após 
esse período o filósofo começa a escrever a sua filosofia. Questionador nato, sempre 
procurava a verdade das coisas e rejeitava tudo aquilo que não fosse evidentemente 
certo. Neste sentido, Descartes afirma: “E prosseguirei até conhecer algo certo ou, na 
falta de outra coisa, que pelo menos reconheça como certo que nada há que seja 
certo (DESCARTES, 2004, p.24). 
Após meditar e chegar a algumas certezas através do autoconhecimento, 
Descartes decide construir um sistema filosófico totalmente novo, onde fosse possível 
o desenvolvimento de seu conhecimento de forma gradual, visto que: 
[...] Em uma época em que se haviam afirmado e se desenvolviam 
com vigor novas perspectivas cientificas e se abriam novos horizontes 
filosóficos, Descartes percebia a falta de um método que ordenasse o 
pensamento e, ao mesmo tempo, fosse instrumento heurístico e de 
fundamentação verdadeiramente eficaz (REALE, ANTISERI, 2004 p. 
287). 
Então, saiu numa busca ambiciosa por um novo sistema de conhecimento, 
um método único que mensurasse todas as realidades observáveis no mundo físico, 
celeste ou terrestre. Sendo que tal método, quando usado corretamente, fosse o 
instrumento mais coerente para levar o homem à descoberta da verdade, de forma a 
salientar que: 
[...] Não quis de modo algum começar rejeitando inteiramente qualquer 
das opiniões que porventura se insinuaram outrora em minha 
confiança, sem que aí fossem introduzidas pela razão, antes de 
despender bastante tempo em elaborar o projeto da obra que ia 
13 
 
 
empreender, e em procurar o verdadeiro método para chegar ao 
conhecimento de todas as coisas de que meu espírito fosse capaz 
(DESCARTES, 1979, p. 12). 
 No entanto, Descartes não pretendia ensinar um método para que as 
pessoas pudessem seguir e alcançar a verdade, pura e simplesmente, o que ele 
pretendia era descrever como ele conduziria a sua razão para chegar ao seu objetivo 
que era, exatamente, a descoberta da verdade. 
Partindo desse pressuposto o filósofo salienta claramente que a base a ser 
utilizada para distinguir o verdadeiro do falso é a razão ou bom senso; é o critério da 
razãoque Descartes acredita ser o fundamento para se chegar a algo de conclusivo, 
sendo esta igual e presente em todos os homens, possibilitando-nos buscar o 
conhecimento e, por consequência, tornando-nos capazes de fazer tal distinção. Mas 
apesar da universalidade e da razão estar presente em cada um de nós, as nossas 
percepções muitas vezes divergem, isso ocorre devido as nossas diferentes 
experiências ou até mesmo pela precisão, mais elevada ou não, da nossa imaginação. 
Descartes considerava as verdades da matemática, da lógica, da álgebra e 
da geometria, saberes de grande relevância. Resolve então utilizá-los na aplicação do 
seu método, visto que, segundo ele, tudo que se torna objeto do conhecimento 
verdadeiro, pode vir a ser objeto do conhecimento matemático. As verdades 
matemáticas foram as primeiras que Descartes julgou como certas e verdadeiras, 
certamente, por causa de sua certeza, seu rigor e clareza, pré-requisitos essenciais 
para construir uma filosofia sob um fundamento sólido e universal. 
Neste sentido, Hilton Japiassu salienta que: 
Descartes pretende estabelecer um método universal, inspirado no 
rigor da matemática e no encadeamento racional. Para ele, o método 
é sempre matemático, na medida em que procura o ideal matemático, 
quer dizer, converter-se numa matheis universalis: conhecimento 
completo e inteiramente dominado pela razão [...] (JAPIASSU, 1992, 
p. 105). 
Desse modo, o filósofo propõe um conjunto de regras que servem para 
organizar o pensamento. Elas derivam de partes mais simples, originárias da intuição, 
alcançando, por sua vez, as mais complexas, originárias da dedução. De acordo com 
Hilton Japiassu, Descartes caracteriza a intuição como sendo um conhecimento direto 
e imediato, permitindo-nos aceitar uma coisa como verdadeira, funcionando como 
uma visão da evidência. E definindo que uma ideia evidente é aquela que é clara e 
14 
 
 
distinta; clara quando se impõe a nós em sua verdade imediata sem que possamos 
dela duvidar; e distinta quando não podemos confundi-la com nenhuma outra. 
Além da intuição, precisamos, contudo, da dedução, ou seja, de uma 
demonstração capaz de chegar a uma conclusão certa a partir de um conjunto de 
proposições que se encadeiam necessariamente umas às outras obedecendo a uma 
ordem, onde cada proposição deve estar ligada àquela que a procede e àquela que a 
ela se segue. Com isso, Descartes considerara que para chegar ao conhecimento da 
verdade, seu método deveria ser dotado de quatro regras, sendo que: 
O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que 
eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar 
cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em 
meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a 
meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida 
(DESCARTES, 1979, p. 13). 
 Depois de eleger a evidência, Descartes sugerira dividir em partes tantas 
quantas fossem necessárias para análise e, então, colocar os conhecimentos numa 
certa ordem, dos mais simples aos mais complexos, era a ordenação ou síntese e, o 
último, fazer sempre enumerações (revisões) completas e revisões gerais para nada 
omitir. 
Diante de tal concisão, na construção das bases de seu método, o próprio 
Descartes explica esta singular opção pela simplicidade dizendo que: “[...] como a 
multidão de leis fornece amiúde escusas aos vícios, de modo que um Estado é bem 
melhor dirigido quando, tendo embora muito poucas, são estritamente cumpridas [...]” 
(DESCARTES, 1979, p. 13). Afirmando, dessa forma, ser bem mais interessante ter 
regras simples e seguidas em sua essência, do que um emaranhado e confuso 
amontoado de dizeres sem utilidade e inviável de ser referenciado como modelo. 
Como pode-se notar, o método científico de Descartes tenta dar a máxima 
segurança e confiabilidade aos dados levantados durante o processo de análise, tanto 
é que sempre se finda com uma revisão. 
No entanto, enquanto não concluía seu empreendimento, julgou necessário a 
formulação de uma moral provisória a qual deveria ser substituída por uma definitiva 
assim que possível. Pensando assim, ele elabora regras de uma moral provisória 
utilizando-se delas enquanto reforma seu juízo e o ajusta ao nível da razão através do 
método elaborado por ele. 
15 
 
 
Esta moral provisória é constituída de quatro máximas, sendo a primeira “[...] 
obedecer às leis e aos costumes de meu país, retendo constantemente a religião em 
que Deus me concedeu a graça de ser instruído desde a infância [...]” (DESCARTES, 
1979, p. 17). A segunda dizia respeito à firmeza nas ações, seguindo as opiniões mais 
prováveis quando não for possível discernir as mais verdadeiras e, na medida em que 
decidir-se por uma opinião, passar a não considerá-la duvidosa, pois foi a razão que 
permitiu tal escolha. Deste modo, era também possível desvencilhar-se de remorsos 
e arrependimentos quanto a ação praticada. A terceira nos diz para aceitarmos 
apenas as coisas que estão ao nosso alcance, aceitando o que nos foi dado e não 
querendo mudar a ordem do mundo. Na quarta máxima ele aconselha que seja feito 
um balanço geral sobre as ocupações dos homens, afim de que se escolha a melhor, 
e a que melhor se encaixa ao ser. 
Diante de tais regras, Hilton Japiassu pontua que Descartes: 
[...] Não elabora regras de conduta universais. Não pretende ser um 
reformador. Aliás, nessa matéria, é bastante conservador. Está mais 
preocupado com o aperfeiçoamento individual capaz de levar os 
indivíduos a fazerem uma justa apreciação dos bens. Nessa hierarquia 
dos bens, o lugar supremo deve ser conferido à liberdade, não ao 
saber. "Não basta julgar bem para agir bem", diz ele, porque a moral 
não deriva apenas do conhecimento. (JAPIASSU, 1992, p. 109). 
Assim, o que Descartes propôs em seu método, como pode-se observar, é 
que se faça uma coisa de cada vez, minuciosa e claramente, pontuando, inclusive, 
que apenas “[...] os que só andam muito lentamente podem avançar muito mais, se 
seguirem sempre o caminho reto, do que aqueles que correm e dele se distanciam” 
(DESCARTES, 1979, p. 3), de forma que se possa alcançar a solução dos mais 
variados problemas através das regras que foram, previamente, expostas e adotadas 
por ele. Tal método possibilitou ao homem usar seu conhecimento em benefício 
próprio e, dessa forma, transformou o modo de pensar do homem moderno. O homem 
agora passa a ver as coisas de outra forma, não mais através do pensamento 
religioso, que o influenciou por séculos, mas sim por um pensamento moderno que 
utiliza a razão como fonte primeira, que conduz o homem ao conhecimento da 
verdade. 
 
 
16 
 
 
4. A DÚVIDA METÓDICA: A VERDADE SOB COMPROVAÇÃO 
 
Quando se fala o nome de Descartes, logo, este é associado a um novo modo 
de “conhecimento”. Tal que, Descartes queria descobrir uma forma de comprovação 
a tudo o que conhecia; essa forma deveria ser algo tão forte que nada pudesse lhe 
abalar. Descartes dava grande importância a Matemática, pois, para ele existem duas 
características fundamentais que a diferenciam das outras ciências; tais 
características não seriam apenas da matemática, mas de extrema importância para 
todo o pensamento. São elas: a ordem e a medida. Por esta razão, Descartes inspira 
seu método na Matemática, para assim encontrar sua certeza, que seria justamente 
a ordem e a medida, aplicando-as num conceito geral. 
Destarte, buscava explicar o mundo através da mecânica elementar das 
partículas, usando os princípios da figura, do tamanho, da posição e do movimento 
das partículas da matéria, dessa forma, o referente filósofo pontua em sua Terceira 
Meditação que: 
[...]às idéias das coisas corporais, nada ocorre nelas que não pareça 
poder provir de mim mesmo. Pois, se as inspeciono mais de perto e 
as examino em separado [...], noto que muito poucas são as coisas 
que nelas percebo clara e distintamente, a saber: a grandeza ou a 
extensão em comprimento, largura e profundidade; a figura, que surge 
da terminação dessa extensão; a situação obtida das coisas 
diversamente figuradas; o movimento ou mudança dessa situação, ao 
que podem ser acrescentados a substância, a duração e o número 
(DESCARTES, 2004, p. 43). 
O filósofo tinha como meta usar suas regras para alcançar um conteúdo de 
representação, separando as coisas materiais e psicológicas que poderiam atuar no 
ato de pensar de cada indivíduo, para, então, ir atrás de representar o pensamento 
puro. Descartes entendia que sendo respeitado tudo o que mostra seu método, não 
haveria dúvida sobre a representação, e a certeza viraria verdade. 
Como já foi citado, a dúvida em Descartes está relacionada diretamente com 
o método, desse modo, o conhecimento verdadeiro citado por ele é imposto pelas 
características do método, então, deve-se duvidar de tudo que não for identificado tais 
características. Portanto, metodicamente deve-se duvidar de tudo. Neste ponto, 
percebe-se que Descartes busca duvidar de tudo o que for sensível ao passo que 
afirma que não há nada em que se possa confiar, exceto na própria dúvida, dizendo 
que: 
17 
 
 
Suponho, portanto, falsas todas as coisas que vejo: creio que nunca 
existiu nada do que a memória mendaz representa; não tenho nenhum 
dos sentidos todos; corpo, figura, extensão, movimento e lugar são 
quimeras. Que será, então, verdadeiro? talvez isto somente: nada é 
certo. (DESCARTES, 2004, p. 24). 
Por conseguinte, segundo Descartes, a primeira razão de duvidar do nosso 
conhecimento, será argumentada pelo aspecto fraudulento dos dados apreendidos 
por intermédio dos sentidos. Ele escreve que tudo o que anteriormente admitiu como 
certo e verdadeiro o fez pelos sentidos. Ora por intermédio deles, ora apreendido por 
eles. Todavia, estes se mostraram enganadores em sua experiência cotidiana e como 
já fora fixada uma postura radical de que uma vez posto algo em dúvida este seria 
falso, não serão portanto admitidos os sentidos como fonte de conhecimento, como 
relata no fragmento a seguir. 
Com efeito, tudo o que admiti até agora como o que há de mais 
verdadeiro, eu o recebi dos sentidos ou pelos sentidos. Ora, notei que 
os sentidos às vezes enganam e é prudente nunca confiar 
completamente nos que, seja uma vez, nos enganaram. 
(DESCARTES, 2004, p.18) 
Dando prosseguimento, será apresentada a segunda razão de duvidar do 
nosso conhecimento com uma reflexão elaborada acerca dos nossos sonhos, ao 
passo que Descartes questiona se o momento dado como real for vivido enquanto se 
dorme e dele nunca se possa acordar: 
[...] Em verdade, com que freqüência o sono noturno não me persuadiu 
dessas coisas usuais, isto é, que estava aqui, vestindo esta roupa, 
sentado junto ao fogo, quando estava, porém, nu, deitado entre as 
cobertas! Agora, no entanto, estou certamente de olhos despertos e 
vejo este papel, e esta cabeça que movimento não está dormindo, e é 
de propósito, ciente disso, que estendo e sinto esta mão, coisas que 
não ocorreriam de modo tão distinto a quem dormisse. Mas, pensando 
nisto cuidadosamente, como não recordar que fui iludido nos sonos 
por pensamentos semelhantes, em outras ocasiões! E, quando penso 
mais atentamente, vejo do modo mais manifesto que a vigília nunca 
pode ser distinguida do sono por indícios certos, fico estupefato e esse 
mesmo estupor quase me confirma na opinião de que estou dormindo. 
(DESCARTES, 2004, p. 19). 
A partir daí, Descartes começa a não apenas duvidar das representações 
pouco óbvias, como também daquelas que aparecem no mais claro tom, pois poderia 
ser apenas um sonho e a verdade que poderia pensar que fosse, era apenas mera 
ilusão. Contudo, como nos sonhos aparecem elementos muitos gerais, como a figura, 
o número e a grandeza, os elementos do sensível não podem ser colocados em 
dúvida. 
18 
 
 
E, então, é dada a terceira e última razão de duvidar do nosso conhecimento 
virá através da admissão de um deus enganador. Descartes admite a existência de 
tal Deus, à medida que considera a capacidade que possui de errar e cometer 
equívocos refere-se a uma imperfeição sua derivada de uma possível perfeição. Uma 
vez sendo uma substância imperfeita, existiria um Deus que é perfeito cuja tarefa é 
justamente não se enganar o que faz com que existam verdades indubitáveis. Desse 
modo, um Deus enganador seria desmascarado, pois sua própria imperfeição poderia 
levá-lo a cometer muitos erros ou até mesmo poderia levá-lo a enganar-se sempre. 
Contudo, o filósofo faz uma escolha; ele opta pela suspensão do juízo em relação a 
suas antigas opiniões ao dizer que: 
Suporei, portanto, que há não um Deus ótimo, fonte soberana da 
verdade, mas algum gênio maligno e, ao mesmo tempo, sumamente 
poderoso e manhoso, que põe toda a sua indústria em que me engane: 
pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas 
as coisas externas nada mais são do que ludíbrios dos sonhos, ciladas 
que ele estende à minha credulidade. Pensarei que sou eu mesmo 
desprovido de mãos, de olhos, de carne, de sangue, de sentido algum, 
mas tenho a falsa opinião de que possuo tudo isso. Manter-me-ei 
obstinadamente firme nesta meditação, de maneira que, se não estiver 
em meu poder conhecer algo verdadeiro, estará em mim pelo menos 
negar meu assentimento aos erros, às coisas falsas. Eis por que 
tomarei cuidado para não receber em minha crença nenhuma 
falsidade, a fim de que esse enganador, por mais poderoso e por mais 
astuto que ele seja, nada possa me impor. (DESCARTES, 2004, p. 22-
23). 
Concomitantemente, segundo afirma Carlos Medeiros (2008), na Primeira 
Meditação Descartes inclui a extensão e a intensificação progressiva da dúvida. 
[...] É de fato neste processo que Descartes desenvolve a dúvida tanto 
em seu aspecto natural como metafísico. Com efeito, em seu prisma 
natural, o filósofo relaciona a dúvida com a recusa do fundamento 
sensível do conhecimento, ou seja, rejeita o que é adquirido através 
da percepção, pois esta não pode garantir qualquer conhecimento. [...] 
(MEDEIROS, 2008). 
Neste sentido, Franklin Leopoldo cita que “[...] a geração da certeza a partir 
da dúvida é que dá a dúvida seu caráter metódico” (SILVA, 1993, p. 36, apud 
MEDEIROS, 2008). Carlos Medeiros explica essa citação de maneira que: 
[...] Se assim é, pode-se concluir que existe uma estreita relação entre 
método de aquisição da certeza e a dúvida como condição inicial da 
reconstrução do saber em Descartes. Quando se começa a exercer a 
dúvida, já deve o espírito estar em posse do método que lhe permitirá 
substituir as opiniões rejeitadas por verdades indubitáveis. Por isso, a 
elaboração do método é anterior ao exercício da dúvida. [...] 
(MEDEIROS, 2008). 
19 
 
 
Contudo seu grande problema era de como ter certeza da realidade. Então 
percebeu que para ter certeza de alguma coisa, primeiro era preciso duvidar da 
mesma. Assim, o filósofo começa a duvidar de tudo que conhece, chegando até a 
duvidar de seus próprios sentidos. Descartes institui a dúvida afirmando que só se 
pode dizer que existe aquilo que possa ser provado. Para tanto, na busca da premissa 
da evidência, Descartes propunha o exercício da dúvida metódica, radical, hiperbólica 
como método até o nível do absurdo, quando a própria dúvida forneceria então a 
verdade indubitável. 
Dessa forma, em sua premissa mais famosa, a evidência número um, que 
fundamenta todo o pensamento Cartesiano, Descartes exercitaa dúvida até atingir 
seu ápice, narrando que: 
[...] Mas, logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim 
pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que 
pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade: eu penso, 
logo existo, era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes 
suposições dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que 
podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia 
que procurava. (DESCARTES, 1979, p. 23). 
Descartes então conclui que é uma substância cuja natureza consiste apenas 
no pensar e, que para ser, não necessita de lugar algum e nem precisa de nada 
material. Segundo Carlos Medeiros (2008), Descartes acreditava que quando se 
duvida de algo, instantaneamente, se pensa sobre o mesmo, de tal forma que o modo 
correto de sua frase seria: duvido, logo penso. Penso, logo sou. 
No que concerne a esta temática Carlos Medeiros afirma que: 
[...] o vazio que se segue à destruição sistemática de todas as certezas 
por via da recusa dos procedimentos pelos quais essas certezas foram 
adquiridas. Por isso a dúvida de Descartes, embora metódica e 
provisória, não é fingida. É preciso descrer radicalmente do 
conhecimento adquirido sem método para aceitar inteiramente o novo 
processo metódico de construção da ciência. [...] (ALQUIÉ, 1980, p. 
44, apud MEDEIROS, 2008). 
 Como foi tratado aqui, a dúvida em Descartes é onde reside a solução dos 
principais problemas enfrentados pela ciência, pois Descartes procura um 
determinado ser que o passe segurança, visto que, para ele a verdade seria um tipo 
de ideia que sobreviveu a todas as formas de dúvida. Contudo, Descartes não entra 
a fundo na questão da dúvida no Discurso, e sim, como apresentado anteriormente, 
20 
 
 
nas Meditações, pois são nestas que Descartes frisa sobre as questões do mundo 
exterior, se questionando sobretudo a temáticas concernentes à natureza das coisas. 
5. A PROVA DE DEUS 
 
Depois de refletir que duvidava de tudo, e que o conhecimento é mais perfeito 
do que o duvidar, chegou à conclusão que não era um ser totalmente perfeito, e decide 
então descobrir de onde vinha o pensamento em um ser perfeito. Para ele, o 
conhecimento acerca de um ser perfeito só poderia provir de uma natureza realmente 
perfeita, pois a ideia de algo perfeito não poderia surgir do nada, mas haveria de ter 
sido colocado nele por algo que fosse, de fato, perfeito. De maneira que para ele 
restava apenas um ser perfeito: “[...] isto é, para explicar-me numa palavra, que, que 
fosse Deus.” (DESCARTES, 1979, p. 24-25). 
No Discurso, ele continua com algumas considerações acerca da existência 
de Deus, e conclui dizendo que: “[...] é pelo menos tão certo que Deus, que é esse 
Ser perfeito, é ou existe, quanto sê-lo-ia qualquer demonstração de Geometria.” 
(DESCARTES, 1979, p. 26), ou seja, a regra de que todas as coisas se apresentam 
claramente só pode ser de fato algo seguro tendo a certeza da existência de Deus, o 
ser perfeito que coloca em nós tudo o quanto podemos imaginar. 
Ao longo de suas Meditações Descartes nos fornece alguns argumentos que 
auxiliam a colocar-nos como intermédio entre as certezas e incertezas do mundo, 
restando apenas ao eu que é puro pensamento alcançar uma Ciência. Isso se torna 
perfeitamente viável ao passo que Descartes prova na Terceira Meditação a 
existência de Deus por uma regressão ao absurdo. Ele coloca que o fato de podermos 
pensar que Deus existe, uma vez que o homem, que é finito e, perante a ideia de 
Deus, não é nada; e se o homem, por ser finito, consegue ter a ideia de um ser infinito, 
dotado de perfeição, isso levaria a crer, segundo Descartes, a existência desse ser, 
chegando ao ponto de dizer que se é possível pensar que tal coisa existe, então, deve 
existir algo além do homem para que seja possível imaginar a ideia de um ser infinito, 
como pontua no trecho que se segue: 
[...]embora meu conhecimento aumente sempre mais e mais, entendo 
que nunca será infinito em ato, pois, nunca chegará a um ponto em 
que não seja capaz de um incremento maior do que o alcançado. Mas, 
Deus, julgo eu, é infinito em ato, de maneira que nada poderia ser 
acrescentado à sua perfeição. 
21 
 
 
Percebo, finalmente, que o ser objetivo de uma idéia não pode ser 
produzido por um ser que é somente potencial, o qual, falando 
propriamente, nada é, mas unicamente por um ser atual ou formal. 
(DESCARTES, 2004, p. 47) 
Portanto, Deus para Descartes, representava a ponte entre o mundo subjetivo 
do pensamento e o mundo objetivo da verdade científica, onde a mente e a matéria 
são criações de Deus, um ser perfeito e legitimador das evidências verdadeiras da 
razão. Quando a razão atinge a ideia clara e distinta, esta fala por Deus, seu real 
autor. Para tanto, segundo Hilton Japiassu: 
A segunda verdade descoberta por Descartes é a existência de Deus. 
A primeira verdade dizia: eu penso. Mas eu não sou só. O exame de 
minhas idéias leva-me a afirmar a existência de Deus. É Deus quem 
garante as verdades matemáticas, permitindo-nos, por suas 
aplicações práticas, agir sobre o mundo: fica assegurada, também, a 
existência do mundo, campo da atividade do homem. Descartes prova 
a existência de Deus com um argumento ontológico (do grego to on, 
ontos: ser): por definição, o ser perfeito é aquele que possui todas as 
perfeições; ora, a existência é uma perfeição; logo o ser perfeito existe. 
(JAPIASSU, 1992, p. 107). 
 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O racionalismo cartesiano coloca a razão no centro da analise sem qualquer 
senso comum para alcançar a verdade absoluta. Descartes analisa todos os princípios 
do saber não aceitando uma verdade sem antes que ela seja duvidada e explicada 
pela razão, então, na realidade, o racionalismo de Descartes tenta achar o indubitável 
duvidando, onde, a partir do momento de que determinado fato já não conseguisse 
fomentar dúvidas, consistiria em um conhecimento puro. Sendo este, o suporte de seu 
método. Método este, que é a base da nossa estrutura pedagógica, ao passo que, 
nas instituições de ensino, aprendemos, a priori as coisas mais simples e, depois, as 
mais complexas. Descartes faz da dúvida um ponto de partida para o conhecimento 
da verdade, a dúvida conduz a existência da verdade e separa o verdadeiro do falso, 
mostrando que não há conhecimento se as coisas não forem explicadas através da 
razão. 
Descartes coloca em prova tudo que existia. Levou aos filósofos um novo 
propósito, o de observar se há alguma coisa que consiga sobreviver a dúvida, ao 
22 
 
 
passo que se algo sobreviver a ela, servirá como construção do conhecimento puro. 
A dúvida nada mais é do que a investigação da verdade. Descartes via a ciência da 
sua época como uma grande confusão, sem fundamentos claros, a qual prejudicava 
o conhecimento cientifico. Na sua época uma base normal de pesquisa científica era 
a epistemologia do empirismo, e a proposta de Descartes de afastar o sentido de 
qualquer base epistemológica, faria com que os cientistas tivessem que requerer uma 
nova epistemologia e, consequentemente, traria uma nova ciência como resultado, e 
isso era o que pretendia Descartes. 
Seu método utilizado até hoje, mostrou que não só a filosofia mas muitas outras 
ciências podem ser definidas como antes de Descartes e depois de Descartes. 
Atualmente não se consegue filosofar sem antes utilizar a proposta do método deste 
filósofo. Ele pretendia alcançar o desenvolvimento de uma ciência universal e 
integrada, tal qual fosse uma árvore, onde haveria de existir o tronco, com sua 
principal ciência, e os galhos os quais seriam suas ramificações, havendo assim, uma 
integração de todas as ciências em uma só.A partir do trajeto exposto acima, pudemos observar que o projeto cartesiano 
pretende, mais do que duvidar de todas as coisas do mundo, pretende encontrar uma 
certeza neste. Com isso, verificamos a grande importância de Descartes, visto que 
questiona as tradições, desfazendo-se delas, utilizando-se de meios objetivos dentro 
da subjetividade, primando pela exigência da certeza e a isenção da dúvida para o 
êxito da investigação científica, inaugurando, dessa forma, um novo estágio no 
pensamento filosófico, motivo pelo qual é considerado o pai da filosofia moderna. 
 
23 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BORGES, David Gonçalves. A Influência Platônica sobre a Modernidade: 
Semelhanças entre o Pensamento de Platão e o Sistema de René Descartes. 
Polymatheia: revista de filosofia, Fortaleza, vol. V, n. 8, 2009, p. 173-189. 
Disponível em: < 
http://www.seer.uece.br/?journal=PRF&page=article&op=view&path[]=504>. Acesso 
em: 30 dez. 2014. 
DESCARTES, René. Discurso do Método; para bem conduzir a própria razão e 
procurar a verdade nas ciências. Tradução J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. 2. ed. 
São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Coleção Os Pensadores) 
______. Meditações Sobre Filosofia Primeira. Tradução Fausto Castilho. 
Campinas: Unicamp, 2004. (Coleção Multilíngue de Filosofia Unicamp – Série A – 
Cartesiana I) 
 JAPIASSU, Hilton. O Racionalismo Cartesiano. In REZENDE, Antonio (Org.). 
Curso de Filosofia; para professores e alunos dos cursos de segundo grau e de 
graduação. 5. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor / SEAF, 1992. p. 85-97. 
(Coleção Cultura Contemporânea). 
MEDEIROS, Carlos Henrique Pereira de. A dúvida cartesiana: um “método” para a 
ciência moderna. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XI, n. 55, jul 2008. Disponível 
em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=3044>. 
Acesso em: 15 dez. 2014. 
PLATÃO. Timeu. In: ______. Timeu-Crítias. Tradução Rodolfo Lopes. Coimbra: 
ECH, 2011. p. 212-246. Coleção Autores gregos e latinos. ISBN 978-989-8281-83-8. 
REALE, Giovanni, ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do humanismo a 
descartes. Tradução Ivo Storniolo. v. 3. São Paulo: Paulus, 2003.

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