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Material para Módulo 5 Leitura CURSO DE ESTOMATOLOGIA PARA CIRURGIÕES-DENTISTAS DA REDE PÚBLICA DE ATENÇÃO À SAÚDE LESÕES erosivas LESÕES EROSIVAS Material para Leitura LESÕES EROSIVAS 2 INTRODUÇÃO Como fora visto anteriormente no primeiro módulo (tópico de lesões fundamentais) erosão é definida como perda parcial do tecido epitelial sem resultar na exposição do tecido conjuntivo (figura 1). A erosão, portanto, leva a uma diminuição da espessura epitelial gerando um aspecto clínico avermelhado devido a maior visualização do componente vascular presente no tecido conjuntivo subjacente. Além disso, os pacientes portadores de lesões erosivas podem relatar desconforto no local, em especial sensação de ardência, que ocorre devido à diminuição da espessura epitelial e, consequentemente, maior estímulo das terminações nervosas presentes no tecido conjuntivo. Algumas lesões erosivas podem ser observadas frequentemente na rotina clínica do cirurgião dentista. Essas lesões podem ter agentes etiológicos distintos (trauma, infecções, autoimunes, distúrbios sistêmicos), portanto o estabelecimento do diagnóstico correto se torna fundamental para que as mesmas possam ser tratadas adequadamente. Neste módulo, vamos desenvolver o raciocínio diagnóstico abordando itens importantes do exame clínico, principais exames complementares a serem realizados para cada doença, bem como, a melhor forma de tratamento. Para facilitar o raciocínio diagnóstico, optamos por apresentar as principais lesões erosivas de acordo com o sítio envolvido. Te ci do Ep ite lia l Te ci do C on ju nt iv o EROSÃO Figura 1. Desenho esquemático ilustrando alteração tecidual observada em lesões erosivas, onde parte do tecido epitelial foi perdida. Material para Leitura LESÕES EROSIVAS 3 Tabela 1. Principais lesões erosivas de acordo com o sítio de acometimento. Língua • Língua geográfica • Glossite atrófica • Glossite romboidal mediana • Candidíase eritematosa • Eritroplasia/eritroleucoplasia Gengiva • Líquen plano erosivo • Pênfigo vulgar • Penfigóide benigno de mucosa Palato • Candidíase atrófica crônica • Trauma por sexo oral • Estomatite de contato Assoalho • Eritroplasia/ eritroleucoplasia • Líquen plano erosivo Mucosa Jugal • Líquen plano erosivo • Reações medicamentosas • Estomatite de contato Lábio • Queilite angular • Queilite actínica • Queilite exfoliativa LESÕES EROSIVAS EM PALATO CANDIDÍASE ATRÓFICA CRÔNICA Clinicamente se caracteriza por área eritematosa difusa, pontilhada ou granulosa na mucosa de revestimento do palato duro, associados às áreas chapeáveis1 das próteses. 1 Área de mucosa sobre a qual as próteses parciais removíveis (chamadas PPRs) ou próteses totais (populamente chamadas de dentaturas) se apoiam. FIGURA 2. Candidíase atrófica crônica com aspecto de eritema pontilhado (pétequias) (A). Lesão avermelhada difusa por toda a área chapeável da mucosa do palato duro e rebordo alveolar (B). A B Material para Leitura LESÕES EROSIVAS 4 Trata-se de uma infecção fúngica oportunista superficial, frequente em boca, causada por alguma espécie de Cândida (mais comumente a C. albicans). As diferentes espécies de Cândida fazem parte da composição normal da microbiota da boca. Em alguns casos, fatores locais ou sistêmicos podem favorecer a proliferação destes fungos e, consequentemente, instalação da doença. Dentre estes fatores, o uso de próteses removíveis ou totais mal higienizadas ou que gerem trauma na mucosa são os mais frequentes. Diabetes mellitus é uma condição sistêmica muito relacionada com quadros de candidíase bucal. O diagnóstico é baseado nos aspectos clínicos. Não se faz necessária a realização de exames complementares. O tratamento consiste na orientação quanto à higienização das próteses, sua remoção no período noturno para desinfecção e o tratamento medicamentoso. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Considerações gerais: Iniciar com Nistatina suspensão oral 100.000 UI/ml, principalmente em casos de lesões múltiplas ou amplas sobre próteses totais/PPRs. Substituir por gel de miconazol oral em casos não responsivos. Em casos raros, o fato de não haver resposta ao tratamento pode ser atribuído a reações alérgicas. Em lesões localizadas, o miconazol pode ser a primeira alternativa. Em casos de candidíase sobre dentadura, regiões ásperas da prótese podem gerar micro trauma, portanto devem ser removidas. Reavaliar o paciente em 30 dias. Caso não haja remissão do quadro, pode-se fazer uso de antifúngicos sistêmicos como fluconazol. Cuidado com as próteses removíveis – PPRs e próteses totais desadaptadas, mal higienizadas, antigas ou que não são removidas à noite. Orientar para que as próteses sejam removidas à noite e colocadas em copo com solução desinfetante. Avaliar necessidade de ajuste, reembasamento ou confecção de novas próteses. No verso da prescrição, optar por uma das alternativas para higienização da prótese: - Colocar a prótese de molho em um copo de água com uma colher das de sopa de hipoclorito de sódio (QBoa), enquanto o paciente dorme à noite. Ao acordar na manhã seguinte, lavar a prótese com bastante água da torneira antes de usar. - Colocar a prótese de molho em um copo com solução de digluconato de clorexidina 0,2% enquanto o paciente dorme à noite. Ao acordar na manhã seguinte, lavar a prótese com bastante água da torneira antes de usar. Obs.: A segunda opção (digluconato de clorexidina) é recomendada especialmente em casos de próteses que apresentam base de metal, que pode oxidar se for utilizada a solução de hipoclorito de sódio. A solução de digluconato de clorexidina (0,2%) utilizada para igienização da prótese é mais concentrada do que a utilizada para controle químico de biofilme (0,12%), pois a Cândida penetra no acrílico. Em função disso é necessário que esta solução seja manipulada. Material para Leitura LESÕES EROSIVAS 5 Tratamento tópico Medicamentos de Uso Externo - Via tópica Nistatina 100.000UI/ml suspensão oral ________________ 14 frascos (60mL) Após a remoção da prótese, bochechar 10ml (medida de 1 colher de sopa cheia) 4 vezes ao dia, durante 3 minutos, e cuspir depois. Não comer e beber ou lavar a boca por 30 minutos. Fazer o tratamento por 14 dias. Obs.: Lembrar ao paciente que, mais importante do que “bochechar” a solução é deixá-la em contato com a região da lesão por bastante tempo, pois isso potencializa o efeito da medicação. Obs: Caso a candidíase se estenda para orofaringe, o paciente deve engolir a nistatina. O medicamento não tem absorção, porém, por sua composição ter açúcar, é contraindicada a deglutição em pacientes diabéticos. Miconazol 20 mg/g - gel oral__________________ 1 bisnaga Sobre próteses – lesões amplas Aplicar uma camada fina na face interna da prótese antes de colocá-la em boca. Repetir a aplicação 4 vezes por dia, durante 30 dias. Tratamento sistêmico Medicamentos de Uso Interno - Via Oral Fluconazol 150mg ____________________________ 4 comprimidos Tomar 1 comprimido por semana, por 2 a 4 semanas Obs.: Indicado para casos de suspeita de imunossupressão, a qual deve ser investigada mediante solicitação de exames laboratoriais (hemograma completo, glicemia em jejum, contagem de plaquetas, VSG, ferro sérico, ácido fólico, vitamina B12 e anti-HIV - em alguns casos). ESTOMATITE DE CONTATO A estomatite de contato é uma reação inflamatória ou reação de hipersensibilidade associada a algum tipo de material. Essas lesões podem aparecer em vários sítios da boca e, quando no palato, estão mais associadas ao acrílico de aparelhos/próteses totais e removíveis. Tem sido relatado que isso acontece quando o acrilíco não foi devidamente preparado, permanecendo um alto conteúdo de monômero de metil metacrilato residual. Clinicamente, se