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José Wladimir Freitas da Fonseca MERCADO DE CAPITAIS 2009 © 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: IESDE Brasil S.A. IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. F676 Fonseca, José Wladimir Freitas da. / Mercado de Capitais. / José Wladimir Freitas da Fonseca. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. 212 p. ISBN: 978-85-387-0802-5 1. Mercado de capitais. 2. Política monetária. 3. Bolsa de valores. I.Título. CDD 332.6 Doutor em Ciências Econômicas pela Université de Toulouse. Mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Engenharia Econômica pela Universidade São Judas Tadeu (USTJ). Graduado em Ciências Econômicas pela Faculdade Católica de Administração e Economia (FAE). Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Federal do Paraná. Tem experiência na área de Economia, atuando principalmente nos seguintes temas: Technologie, Transfert. José Wladimir Freitas da Fonseca Sumário A atividade econômica para compreender o mercado de capitais ....13 Introdução ..................................................................................................................................................13 Os problemas econômicos básicos, a demanda e a oferta .......................................................13 Teoria elementar de funcionamento do mercado .......................................................................18 O equilíbrio do mercado ........................................................................................................................24 Renda nacional e equilíbrio ..................................................................................................................25 A renda nacional com o governo .......................................................................................................33 Considerações finais ................................................................................................................................36 Conceitos, funções e história da moeda .......................................................41 Introdução ..................................................................................................................................................41 Conceito e funções da moeda .............................................................................................................41 Demanda de moeda: a teoria keynesiana .......................................................................................44 Oferta de moeda ......................................................................................................................................49 Considerações finais ................................................................................................................................51 O Sistema Financeiro Nacional e a política monetária ............................55 Introdução ..................................................................................................................................................55 Breve histórico da formação do Sistema Financeiro Nacional .................................................55 A estrutura do Sistema Financeiro Nacional ..................................................................................56 Espécies de moedas usadas pelo público .......................................................................................64 Objetivo da política monetária e a demanda agregada ............................................................66 Considerações finais ................................................................................................................................70 A taxa de câmbio e o mercado cambial ........................................................75 Introdução ..................................................................................................................................................75 Determinação da taxa de câmbio – uma primeira abordagem ..............................................75 Demanda de exportação e importação ...........................................................................................79 O mercado de câmbio e suas especificidades ...............................................................................83 Considerações finais ................................................................................................................................89 Os mercados financeiros: monetário, crédito, capitais e cambial .......93 Introdução ..................................................................................................................................................93 O mercado monetário: generalidades ..............................................................................................93 O mercado de crédito ...........................................................................................................................102 O mercado de capitais ..........................................................................................................................104 O mercado cambial ...............................................................................................................................106 Considerações finais ..............................................................................................................................107 O mercado acionário e a bolsa de valores ................................................111 Introdução ................................................................................................................................................111 O mercado de títulos e o mercado de ações ................................................................................111 A bolsa de valores: histórico e generalidades ..............................................................................116 Os índices de bolsas de valores: o que são e quais os principais índices ...........................121 Considerações finais ..............................................................................................................................125 Avaliação de ações: uma análise fundamentalista ................................131 Introdução ................................................................................................................................................131 Critérios gerais de análise....................................................................................................................131 Análise fundamentalista: os principais índices ............................................................................132 O modelo básico de desconto ...........................................................................................................139 Considerações finais ..............................................................................................................................141 Fundamentos dos mercados futuros ..........................................................149 Introdução ................................................................................................................................................149 Mercado futuro: sua história e definições .....................................................................................150 O mercado futuro e seu funcionamento .......................................................................................153 Quem é quem no mercado futuro ...................................................................................................156O comportamento (posição) de cada integrante .......................................................................158 Considerações finais ..............................................................................................................................161 A Bolsa de Mercadoria & Futuros e os derivativos .................................165 Introdução ................................................................................................................................................165 História e conceitos da BM&F ............................................................................................................165 Principais jargões do mercado de opções: definições ..............................................................174 Considerações finais ..............................................................................................................................178 As operações na Bolsa de Mercadoria & Futuros: o funcionamento ..183 Introdução ................................................................................................................................................183 A estrutura dos sócios da BM&F ........................................................................................................183 Considerações finais ..............................................................................................................................193 Gabarito .................................................................................................................199 Referências ...........................................................................................................207 Apresentação Todos os dias nos deparamos com informações sobre índice das bolsas de valores de São Paulo, Nova York, Japão; projeções sobre o crescimento da renda nacional; política de câmbio, política monetária e política fiscal, sem nos darmos conta que são verdadeiros termômetros e ins- trumentos da atividade econômica de um país. Trazer esse conjunto de informações ao curso Técno- lógico é sem dúvida de grande importância e isso se deve a dois fatores. O primeiro deles é que as informações sobre o com- portamento das bolsas de valores, mercados futuros, po- líticas econômicas e tantas outras informações dessa dis- ciplina estão concentradas somente naqueles que atuam nas corretoras de valores e nas próprias bolsas, o que torna o conhecimento restrito a poucos. Trata-se de informações valiosas e que devem estar ao alcance de todas as pessoas e principalmente aos técnicos em administração, pois são esses profissionais que poderão auxiliar na tomada de de- cisão de suas empresas. O segundo fator está relacionado à própria relevân- cia do tema. Numa sociedade capitalista, onde os países não vivem isoladamente e o mundo está cada vez mais planificado, no sentido de estarem mais próximo uns dos outros, o mercado de capitais se posiciona de forma cen- tral no desenvolvimento da atividade econômica. Nesses termos, este livro foi escrito com a preocupa- ção de apresentar ao aluno o entendimento sobre o Mer- cado de Capitais, disciplina de extrema relevância para tomada de decisões das empresas, bem como para com- preender a economia de um país. Sendo assim, a fim de proporcionar maior flexibilida- de ao estudo da matéria, este livro está subdividido em dez capítulos que estão interligados com um objetivo comum: conhecer as diversas especificidades do mercado de capitais No primeiro capítulo, a maior preocupação foi pre- parar o terreno para o entendimento sobre o mercado de capitais. Para isso, entendemos que o ponto de partida foi apresentar os princípios básicos das ciências econômicas, tendo como foco central seu maior desafio que é o binô- mio necessidades ilimitadas versus recursos escassos, além de apresentar a formação da demanda e da oferta. Foi ne- cessário, também, conhecermos de perto de que maneira a renda nacional se forma, além de sua importância para a análise do crescimento econômico. No segundo capítulo, a preocupação maior foi levar ao leitor os principais conceitos e funções da moeda na medida em que as transações no mercado de capitais se fazem a partir do momento em que se estabelece uma re- lação entre aqueles que possuem reservas monetárias (os agentes superavitários) e aqueles que precisam dessas re- servas para financiar seus gastos (os agentes deficitários). O terceiro capítulo apresenta a estrutura do Sistema Financeiro Nacional e a política monetária. A relevância desse capítulo para o conjunto do livro está relacionada aos agentes do SFN que regulam e participam do mercado de capitais bem como estabelecem políticas econômicas. No quarto e quinto capítulos, entramos na estrutu- ra dos mercados financeiros onde se discute o mercado cambial e os demais mercados. Dar uma atenção maior ao mercado cambial no quarto capítulo se deve ao fato de que esse mercado está relacionado à política de relações internacionais, extremamente importante num mundo cada vez mais globalizado. A partir do sexto capítulo até o último, apresentamos as principais especificidades das bolsas de valores e de mercadorias de futuros, tendo como foco central seu fun- cionamento, bem como suas particularidades. Certamente, nenhum trabalho dessa natureza se torna exequível sem a existência de alguns colaborado- res. Assim, gostaria de expressar minha gratidão para com aqueles que, de uma forma ou de outra, contribuíram para que esse trabalho chegasse ao seu final. Em primeiro lugar a Deus e aos meus pais, cujos ensinamentos me possibili- taram alcançar meus objetivos de vida. Aos meus colegas e alunos da Universidade Federal do Paraná que foram fonte inesgotável de aprendizado e de conhecimento. A minha mãe Iris de Freitas da Fonseca. 13 A atividade econômica para compreender o mercado de capitais Introdução Por meio do conhecimento da economia é que se forma uma visão mais ampla e crítica de todo o funcionamento do mercado de capitais, permitindo que se responda às diversas questões que envolvem poupança, investimento, desenvolvimento, avalia- ção e riscos. O objetivo deste capítulo é conhecermos um pouco da economia sob dois aspec- tos: o primeiro deles está relacionado aos problemas básicos da economia e à formação de preços no mercado tendo como base inicial a formação da demanda e a formação da oferta (individual e total); o segundo aspecto está relacionado à renda nacional e ao equilíbrio, tendo como foco central o consumo, a poupança e o governo. Os problemas econômicos básicos, a demanda e a oferta A essência dos problemas econômicos está em equacionar o binômio: “necessida- des ilimitadas versus recursos escassos”. A partir dessa verdade, as sociedades enfrentam o problema de racionar os recur- sos, o que constitui na procura de melhor administrá-los. A melhor administração dos recursos implica na plena utilização e por suposto sua melhor combinação como, por exemplo, a questão do plástico como gerador de energia e não como material para reciclagem. Por outro lado, a utilização plena dos recursos quer dizer que não se pode justificar o desemprego ou subemprego de qualquer parcela da população mobilizável para fins produtivos ou ainda a existência de ociosidade na utili- zação dos equipamentos de produção e outros recursos patrimoniais. 14 A busca da melhor combinação quer dizer que as sociedades enfrentam o pro- blema de melhor combinar os fatores humanos e patrimoniais, bem como canalizar os fatores disponíveis para os setores que possam produzir exatamente aqueles bens e serviços que melhor atendam aos desejos da coletividade. Dessa forma, é com a eliminação da ociosidade e a incorporação dos contingen- tes desempregados nos fluxos de produção e a promoçãoda ótima combinação dos recursos disponíveis que as economias se tornam capazes de atender com maior efici- ência as necessidades e desejos da coletividade. O que significa, então, limite máximo da eficiência produtiva e as melhores alter- nativas para a canalização dos recursos limitados? Essa eficiência máxima implica a mobilização de todas as possibilidades de produção da economia enquanto as melho- res alternativas dependem de opções sociais e políticas do governo. Sejam quais forem as opções, sempre haverá um limite máximo: o aumento da produção de uma dada classe de bens implica a redução da produção de uma outra classe, a não ser que tenha ocorrido um aumento nos recursos acumulados. Por exemplo: suponha uma economia que disponha de certo volume de capital, certa quantidade de terra, trabalho, capacidade tecnológica e empresarial. No entanto, mesmo com um volume de produção diversificado, jamais poderá alcançar quanti- dades infinitas. Aceitando que, mesmo com o melhor treinamento da mão-de-obra, com a melhor tecnologia, as melhores terras férteis e com a capacidade de produção máxima, seu re- sultado será sempre limitado em função da escassez desses recursos. Supondo que uma determinada economia produza no limite máximo de sua capacidade dois produtos. Diante da constatação anterior, o emprego máximo de sua capacidade em um dos produtos revela a redução do outro – a possibilidade de produção. Na realidade, as cidades enfrentam a escassez dos recursos produtivos quando devem optar pela pavimentação de ruas, construção de novos edifícios públicos, ex- tensão das redes de água e iluminação, entre outros. O programa com certeza deve deixar de lado algum investimento importante devido à escassez de recursos, como vimos anteriormente. O caso notável da antiga URSS que optou pela tecnologia de ponta pelo custo do conforto das moradias, o pequeno desenvolvimento dos bens de consumo direto como os duráveis e não-duráveis. Vejamos mais claramente este exemplo com o grá- fico a seguir:M er ca do d e Ca pi ta is 15 A atividade econôm ica para com preender o m ercado de capitais Gráfico 1 – O caso notável da URSS: alimento versus armamento 0 10 20 30 40 50 60 70 80 A B C D 10 20 30 40 50 60 Canhões Manteiga O au to r. O gráfico acima mostra exatamente esse problema das opções. Ao decidir, por exemplo, produzir mais canhões (saindo do ponto B para o ponto C do gráfico), a eco- nomia de um país, neste caso a extinta URSS, diminui sua produção de manteiga (que representa os alimentos). A recíproca também é verdadeira. Ao aumentar a produção de manteiga (saindo do ponto C para o ponto B do gráfico), ela diminui a produção de canhões (armas), aumentando assim a produção de alimentos. Em função do binômio recursos escassos versus necessidades ilimitadas, chega- mos a constatação do primeiro e fundamental problema que as ciências econômicas tem que enfrentar. Dessa forma, a partir da plena utilização dos recursos produtivos e das opções, podemos, com o auxílio de um gráfico, entender melhor essa problemática. Tal gráfico chama-se Curva de Possibilidades de Produção. Como seu nome já declara, esse gráfico nos revela as possibilidades máximas de produção de um país num determinado período de tempo – funcionando, para simpli- ficar, sempre com dois produtos. Aproveitando o mesmo gráfico anterior, mas agora pensando em dois produtos quaisquer (X e Y), vejamos os pontos notáveis deste gráfico denominado curva de pos- sibilidade de produção. 16 Gráfico 2 – Curva de possibilidades de produção o P Q R Produto X Produto Y o a ut or . Os pontos notáveis da curva de possibilidades Ponto O: pleno desemprego – no ponto O, a economia estaria operando em pleno desemprego, o que significa a não-utilização dos recursos disponíveis – produção igual a zero. No entanto essa situação somente se apresenta ao nível teórico ou em casos extremos, como: guerras, grandes catástrofes etc. Ponto P: capacidade ociosa – no ponto P, a economia estaria operando numa situação prática muito comum que é com certa capacidade ociosa. Nesse ponto estaria a economia com máquinas paradas, subutilização, parcela da população desempregada etc. Ponto Q: pleno emprego – no ponto Q, a economia estaria numa situação ideal, mas dificilmente alcançável. Embora represente um dos objetivos da po- lítica econômica do governo, essa situação é mais teórica. Ponto R: nível impossível de produção – o ponto R evidencia um ponto fora da curva de possibilidade, dessa forma um ponto impossível de ser atingido. No entanto, esse ponto poderá ser alcançado em períodos futu- ros, desde que ocorram deslocamentos positivos da curva de possibilidades preestabelecida. M er ca do d e Ca pi ta is 17 A atividade econôm ica para com preender o m ercado de capitais Deslocamentos das curvas de possibilidades de produção As curvas de possibilidade de produção movimentam-se ao longo do tempo, so- bretudo em épocas em que surgem novas técnicas, novos recursos, novas possibilida- des de produção que não se conhecia. Um exemplo clássico é a Revolução Industrial. É possível ocorrer dois tipos de deslocamento das curvas: os deslocamentos po- sitivos e os negativos. Enquanto o deslocamento positivo ocorre em função da expansão ou melhoria dos recursos disponíveis (o que resulta de situações normais), o deslocamento nega- tivo ocorre em função da diminuição ou desqualificação dos recursos disponíveis que resulta de situações anormais. Vejamos abaixo os dois tipos de deslocamentos: o positivo e o negativo Deslocamento positivo – a revolução da microeletrônica na metade dos anos 1970 que possibilitou o aumento do emprego dos recursos e uma maior inser- ção da mão-de-obra técnica em todo o sistema produtivo. Gráfico 3 – Deslocamento positivo da curva de possibilidades de produção 0 Produto X Produto Y O a ut or . Deslocamento negativo – a guerra iniciada também nos anos 1970 em Mo- çambique (na África) onde a destruição foi quase que total, fazendo com que os recursos disponíveis chegassem quase a zero. 18 Gráfico 4 – Deslocamento negativo da curva de possibilidades de produção 0 Produto X Produto Y O a ut or . Teoria elementar de funcionamento do mercado Teoria elementar da demanda – a demanda do indivíduo por uma mercadoria – bem ou serviço A quantidade de uma mercadoria que um indivíduo pretende comprar durante um determinado período de tempo é função ou depende do preço da mercadoria em questão; da sua renda monetária; do preço das outras mercadorias e do gosto e prefe- rência. Assim podemos escrever a demanda da seguinte forma: Qdx = f (Px; R; Py; G) Onde: Px = preço do bem em questão. R = renda do consumidor (seu salário). Py = preço dos outros bens (substitutos ou complementares). G = gosto ou preferência do consumidor, assim como seus hábitos de consumo. M er ca do d e Ca pi ta is 19 A atividade econôm ica para com preender o m ercado de capitais Pela variação do preço da mercadoria, sob a consideração de que mantemos constante a renda desse indivíduo, os seus hábitos e o preço de outras mercadorias (supondo a condição ceteris paribus)1, chegamos à função de demanda do indivíduo pela mercadoria. Equação2: Qdx = a – b Px Suponha que a função demanda para um indivíduo referente à mercadoria x é Qdx = 8 – Px, ceteris paribus. Substituindo os vários preços da mercadoria x na função demanda, nós obtemos os valores da demanda individual mostrados na tabela abaixo. Tabela 1 Preço (Px) 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Quantidade (Qdx) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 A função de demanda do indivíduo (dx) pela mercadoria x mostra asquantidades alternativas dessa mercadoria x que ele está propondo comprar para as várias alterna- tivas de preço dessa mercadoria, quando se mantêm todos os demais fatores constan- tes. Vejamos graficamente como isso pode ficar: Gráfico 5 – Demanda de um indivíduo para uma mercadoria O a ut or . 0 Qdx Px 7 8 1 2 3 4 5 6 7 81 2 3 4 5 6 Dx 1 Ceteris Paribus: Trata-se de uma expressão que considera cada efeito, cada variável (PX, PY, Y e G/P), separadamente, fazendo a hipótese de que tudo o mais permaneça constante. Exemplo: se estamos variando o PX, então ceteris paribus para todas as demais, ou seja, PY, Y e G/P não variam, não alteram. 2 A equação da demanda possui o formato de uma reta, trata-se portanto da equação da reta. Nesse sentido temos : “a” representando o intercepto da equação e “b” representando o coeficiente angular ou a declividade da reta. Como se trata de demanda, este (–b) mostra sua declividade negativa. 20 A curva de demanda nos mostra que, num determinado tempo, se o preço de x é $7, o indivíduo se propõe a comprar uma unidade de x num período especificado (esse período pode ser uma semana, um mês, um ano ou qualquer outro período de tempo relevante). Se o preço de x é de $6, o indivíduo se propõe à compra de 2 unidades de x no período de tempo especificado, e assim por diante. Desse modo, os pontos da curva da demanda representam alternativas que se apresentam ao indivíduo em determina- dos pontos do período de tempo que se considera. A lei da demanda decrescente No quadro e no gráfico anterior da demanda, observamos que quanto mais baixo o preço de x maior a quantidade de x procurada pelo indivíduo. Esse relacionamento inverso entre preço e quantidade procurada se reflete na inclinação negativa da curva de demanda, como verificamos no gráfico anterior – a isso nos referimos usualmente como lei de demanda decrescente. A demanda do mercado por uma mercadoria A demanda do mercado ou a demanda agregada por uma mercadoria nos mostra as quantidades alternativas nas quais essa mercadoria é procurada num período de tempo, em vários preços alternativos, por todos os indivíduos que compõem o mercado. A demanda do mercado por uma mercadoria depende, assim, de todos os fatores que determinam a demanda individual e, ainda, do número de compradores dessa mercadoria existentes no mercado. Geometricamente, a curva da demanda do mercado por uma mercadoria é obtida pelo somatório horizontal de todas as curvas de demanda individuais por essa mercadoria. Ex: se existem dois indivíduos idênticos no mercado, um deles com a demanda pelo bem x dado por Qdx = 8 – Px, a demanda do mercado Qdx é obtida como se segue: Tabela 2 Px $ Qd1 Qd2 Qdx 8 0 0 0 4 4 4 8 0 8 8 16 M er ca do d e Ca pi ta is 21 A atividade econôm ica para com preender o m ercado de capitais 0 4 8 4 8 Qd1 0 4 8 4 8 Qd2 Px 0 4 8 4 8 Qdx d2d1 + Px Px = 12 16 Dx=d1+d2 Demandas individuais Demanda do mercado O a ut or . Figura 1 – Soma das demandas . Podemos observar que a demanda do mercado é a soma das demandas individuais. Teoria elementar da oferta A oferta de uma mercadoria por produtor individual A quantidade de uma mercadoria que um único produtor se propõe a vender num determinado período de tempo é função ou depende do preço da mercadoria e do custo de produção dos produtores em geral. Para se obter a função de oferta de um produtor e a curva de oferta de uma mercadoria, alguns fatores que influenciam o custo de produção devem ser mantidos constantes (a condição ceteris paribus). Essas condições são as seguintes: a tecnologia, o suprimento dos insumos neces- sários para a produção da mercadoria e, para mercadorias agrícolas, as condições climáticas. Qsx = f (Px; custo de produção; tecnologia; condições climáticas). Obs.: O custo de produção é dado por mão-de-obra, matéria-prima, materiais secundários, energia elétrica consumida na produção. Mantendo-se assim, todos esses fatores e variando apenas o preço da mercado- ria, chegaremos à função oferta e à curva de oferta de um produtor individual para a mercadoria. Supondo que um produtor individual tenha como função de oferta para a mer- cadoria x: Qsx = –40 + 20 Px, ceteris paribus. 22 Onde : Qsx = Quantidade de oferta do produto x Px = Preço do produto x Pela substituição dos preços correntes de x na função de oferta, chegamos ao quadro de oferta do produtor mostrado na tabela a seguir: Tabela 3 Px Qsx 6 80 5 60 4 40 3 20 2 0 Transpondo para o gráfico cada par ordenado de valores, chegamos à curva de oferta do produtor. Como no caso da demanda, os pontos da curva de oferta representam alter- nativas que se apresentam para o produtor em um determinado período de tempo. Gráfico 6 – Curva de oferta do produtor O a ut or . 0 Qsx Px 1 2 3 4 5 6 8020 40 60 Sx A forma da curva de oferta Na tabela e no gráfico da oferta, vemos que quanto mais baixo o preço de x, menos a quantidade de x será ofertada pelo produtor. O inverso, naturalmente, também é verdadeiro. Essa relação direta entre preço e quantidade ofertada reflete uma curva M er ca do d e Ca pi ta is 23 A atividade econôm ica para com preender o m ercado de capitais de oferta crescente. No entanto, embora a curva de oferta seja geralmente crescente, a sua inclinação poderá ser muitas vezes zero, infinita ou mesmo negativa, não sendo prudente fazermos uma generalização. A oferta de mercado para uma mercadoria A oferta de mercado ou oferta agregada de uma mercadoria nos dá as quanti- dades alternativas da mercadoria ofertada num período de tempo, aos vários preços alternativos, por todos os produtores dessa mercadoria que operam no mercado. A oferta de mercado da mercadoria depende de todos os fatores que determinam a oferta dos produtores individuais e do número de produtores dessa mercadoria que operam no mercado. Vejamos um exemplo: Se existem 100 produtores idênticos no mercado, cada um dos quais com uma função de oferta da mercadoria x dada por Qsx = – 40 + 20Px ceteris paribus, a oferta de mercado Qsx é obtida da seguinte forma: Qsx = – 40 + 20Px cet. par. sx = do produtor individual Qsx = 100 (Qsx) cet. par. sx = de mercado Qsx = (– 40 . 100) + (20Px . 100) ou Qsx = (– 40 + 20Px) . 100 Qsx = – 4 000 + 2 000Px Construindo a tabela: Para Px = 6 Qsx = – 4 000 + 2 000 . 6 Qsx = 8 000 Para Px = 5 Qsx = – 4 000 + 2 000 . 5 Qsx = 6 000 Para Px = 4 Qsx = – 4 000 + 2 000 . 4 Qsx = 4 000 Para Px = 3 Qsx = – 4 000 + 2 000 . 3 Qsx = 2 000 Para Px = 2 Qsx = – 4 000 + 2 000 . 2 Qsx = 0 Tabela Px Qsx 6 8 000 5 6 000 4 4 000 3 2 000 2 0 24 Gráfico 7 – Curva de oferta de mercado para uma mercadoria O a ut or . 0 Qsx Px$ 1 2 3 4 5 6 8 0002 000 4 000 6 000 Sx O equilíbrio do mercado O equilíbrio se refere às condições do mercado, as quais, uma vez atingidas, tendem a persistir. Em economia isso ocorre quando a quantidade demandada de um bem no mercado, na unidade de tempo, iguala a quantidade ofertada do bem ao mercado nessa mesma unidade de tempo. Geometricamente, o equilíbrio ocorre na intercessão das curvas de demanda e oferta do mercado. O preço e a quantidade para os quais existe esse equilíbrio são conhecidos, respectivamente como preço e quanti- dade de equilíbrio. Se utilizarmos os exemplos anteriores, ou seja, da demanda do mercado e da oferta do mercado, podemos determinar o preço de equilíbrio e a quantidade de equilíbrio para a mercadoria x como se segue: Px Demanda (Qdx) Oferta (Qsx) 6 2 000 8 000 5 3 000 6 000 4 4 000 4 000 Equilíbrio3 5 000 2 000 2 6 000 0 M er ca do d e Ca pi ta is 25 A atividade econôm ica para com preender o m ercado de capitais Gráfico 8 – Equilíbrio do mercado – oferta X demanda O a ut or . 0 Qx Px 1 2 3 4 5 6 8 0002 000 4 000 6 000 Sx Dx e No ponto “e”, de equilíbrio, não existe nem excesso nem escassez da mercadoria e o mercado é normal. Ceteris paribus, o preço e a quantidade de equilíbrio tendem a persistir ao longo do tempo. Acima desse ponto temos excesso de oferta. Por outro lado, abaixo desse ponto temos excesso de demanda. A outra forma de conhecermos o equilíbrio é a forma matemática Qdx = Qsx. Renda nacional e equilíbrio Em função das necessidades ilimitadas e dos recursos serem escassos, a econo- mia dos países registram, em determinados momentos, elevados níveis de produção, investimento e consumo. Por outro lado, em alguns momentos, observa-se um baixo volume de produção, desemprego elevado, baixo consumo e desestímulo ao investi- mento: é a situação de crise econômica. Esse hiato que se estabelece entre a produção obtida com o uso de fatores em desemprego, e aquela que potencialmente se poderia obter com o pleno emprego dos fatores de produção disponíveis, representa um custo social que deveria ser evitado. Dessa forma, o objeto da macroeconomia é estudar os elementos que determi- nam o nível de produção, de emprego e o de preços, numa situação de curto prazo. 26 Renda e dispêndio Para compreendermos o conceito de renda nacional de equilíbrio, é preciso saber a distinção entre renda e dispêndio. Enquanto a renda mede o fluxo de pagamentos dos fatores de produção, o dispêndio mede o fluxo dos gastos em bens e serviços de consumo e investimentos da economia. No entanto, os dispêndios tornam-se pagamentos que remuneram os fatores que produzem os bens e serviços, demonstrando dessa forma que renda e dispêndio re- presentam medidas diferentes, mas de um mesmo fluxo. Com isso a renda nacional de equilíbrio é aquela em que a remuneração dos fatores de produção coincide com os gastos em bens e serviços de consumo e investimentos. É possível ampliar um pouco mais os conceitos acima, esclarecendo, ainda, que o dispêndio corresponde à demanda agregada, ao passo que a produção corresponde à oferta agregada. A oferta agregada e demanda agregada Através do aumento da produção física, aumento dos preços, ou a combinação de ambos, as empresas respondem aos acréscimos de demanda do sistema econômico. Assim, enquanto a oferta agregada representa a oferta total de bens e serviços, a de- manda agregada representa a procura total por tais bens e serviços. Passaremos ao estudo do equilíbrio do fluxo econômico, partindo-se inicialmente sem governo e sem a comunicação com o resto do mundo para, num momento se- guinte, incluirmos o governo e as relações externas. O equilíbrio sem o governo e sem relações externas A oferta total baseia-se na expectativa dos empresários quanto às possibilidades de vendas. As firmas responderão a qualquer estímulo da procura e, quando a oferta se igualar à procura, o ponto de equilíbrio terá sido determinado. Isso pode ser expresso da seguinte forma: M er ca do d e Ca pi ta is 27 A atividade econôm ica para com preender o m ercado de capitais Y = C + I Onde: Y = produção ou oferta C = consumo I = investimento Y é a produção dos empresários ou a oferta. C + I é o total da procura (lembrando da hipótese inicial onde não há governo, nem comércio internacional), visto que os bens e serviços são procurados ou para serem con- sumidos pelos indivíduos ou procurados pelas próprias firmas para serem investidos. A quantia a ser investida ou a procura de investimentos também é uma decisão feita pelos empresários autonomamente. A decisão de consumir ou poupar, no entan- to, será feita pelos consumidores individuais. Quanto ao consumo, este é determinado pela renda do indivíduo, que quanto maior, maior será seu gasto. No entanto, qual parcela será gasta em consumo e qual parcela será poupada? Embora dependa exclusivamente da vontade do indivíduo, essa parcela destinada ao consumo chamamos de propensão marginal a consumir, ao passo que a parcela destinada à poupança chamamos de propensão marginal a poupar. Tanto a parcela destinada ao consumo como a parcela destinada à poupança podem ser expressas, numa única função, denominada função consumo. A função consumo representa a soma do consumo dos indivíduos de uma comu- nidade, dado certos níveis de renda possíveis. Gráfico 9 – A função consumo O a ut or . (Y) C 100 200 300 400 500 600 500200 300 400 C=CO+b(Y) 100 600 28 C = nível de consumo Y = nível de renda C0 = consumo mínimo de coletividade b = propensão marginal a consumir Representando na abscissa (Y) os níveis de renda, e na ordenada (C) os níveis de consumo é possível determinar a função consumo. A função consumo é uma função linear que demonstra que mesmo para uma renda igual a zero, haverá um consumo mínimo da coletividade (C0) para a sua sobre- vivência. Outra maneira de verificar esse consumo mínimo é conceber a hipótese de que este se origina de poupanças anteriores – ou seja, sempre haverá esse mínimo de consumo – que representa uma constante na função consumo. Ainda há a propensão marginal a consumir (b), que demonstra a relação entre um acréscimo no consumo desejado em decorrência de um acréscimo na renda da coleti- vidade: representando o coeficiente angular da reta (função consumo): b = C Y Assim, a função consumo será a soma daquela constante com a propensão mar- ginal a consumir da renda: C = C0 + b(Y) Análise do exemplo: A constante C para o caso acima apresentado pode ser verificada diretamente no gráfico onde para um nível de renda igual a zero C será igual a 100 unidades monetá- rias. Vejamos: Nível de renda Consumo Y C 0 100 100 150 200 200 a partir desse ponto, sempre haverá uma poupança positiva 300 250 400 300M er ca do d e Ca pi ta is 29 A atividade econôm ica para com preender o m ercado de capitais Nível de renda Consumo 500 350 600 400 Quanto à propensão marginal a consumir, expressa por b, esta pode ser definida a partir dos diversos níveis de renda e consumo diante dos seus respectivos acréscimos, se não vejamos: b = C Y logo temos que b = C2 – C1 Y2 – Y1 b = 150 – 100 100 – 0 b = 50 100 = 0,5 Disso podemos expressar nossa função consumo para o exemplo apresentado: C = 100 + 0,5 (Y) Observemos com atenção o ponto onde o consumo se iguala à renda. Este denota que toda a renda, para esse nível, será despendida em consumo. No entanto, a partir daí, haverá uma poupança, que pode ser demonstrada no gráfico a seguir. Através de uma reta de inclinação de 45º diante da origem, que transforma dis- tâncias horizontais (renda) iguais a distâncias verticais (consumo e poupança), pode- mos vislumbrar a parte que cabe à poupança. Vejamos: Gráfico 10 – Poupança (Y) C 100 200 300 400 500 600 500200 300 400 C=CO+b(Y) 100 600 Y=C poupança=150 consumo=350 0 O a ut or . 30 Ao longo da reta Y = C, sempre teremos um consumo igual à renda. Comparando-se essa reta com a função consumo, podemos determinar a poupança e o consumo. Por exemplo, com uma renda de 500, o consumo será de 350 ( C = 100 + 0,5 (500) = 350). A poupança é dada pela diferença entre a função consumo e a reta de 45º ( nesse caso a poupança será igual à renda menos o consumo, isto é, 500 – 350 = 150). A hipótese é de que a propensão marginal a consumir (b) sempre será menor que 1 (um), de modo que haverá sempre uma propensãomarginal a poupar maior que zero. O equilíbrio Voltando ao equilíbrio, este será determinado quando a oferta for igual à procura ou quando a poupança for igual aos investimentos: Y = C + I (1) C = C0 +b(Y) (2) Substituindo 2 em 1 temos: Y = C0 +b(Y) + I Y - b(Y) = C0 + I Y (1 – b) = C0 + I Y= (C0 + I) (1 – b) logo Y= (C0 + I) (1 – b) Onde: C0 = consumo mínimo de coletividade b = propensão marginal a consumir I = investimento Exemplo: digamos que o nível de investimento planejado é igual a 30 (determi- nado exogenamente, ou seja, determinado autonomamente pelos empresários) e a função consumo é a mesma do exemplo anterior [C = 100 + 0,5 (Y)]), a renda de equi- líbrio será:M er ca do d e Ca pi ta is 31 A atividade econôm ica para com preender o m ercado de capitais Y= (C0 + I) (1 – b) Onde: C0 = 100 I = 30 b = 0,5 Substituindo: Y= (100 + 30) (1 – 0,5) Y = 260 Graficamente podemos obter o nível de renda de equilíbrio quando a oferta total for igual à procura total. Para obtermos a procura total, somamos os investimentos à função consumo. Gráfico 11 – Nível de renda de equilíbrio O a ut or . (Y) C+I 100 200 300 400 500 600 500200 300 400 C=100+0,5(Y) 100 600 Y=C+1 C + I 0 260 260 130 C, I, P 130 Assim, teremos a reta C + I, que representa a procura total, onde no ponto em que ela corta a reta de 45º, teremos o ponto de equilíbrio, onde Y, na abscissa, é igual a C + I na ordenada e, consequentemente, a oferta total será igual à procura total. Com uma renda de 260, o consumo será de: C = 100 + 0,5 (260) = 230 e a poupança será de 260 – 230 = 30. O investimento planejado também é de 30; então P = I e a economia está em equilíbrio. 32 Voltando à renda nacional de equilíbrio, estamos prontos para definir a função poupança. Pudemos vislumbrar anteriormente que a poupança é na verdade a parcela da renda nacional não gasta em bens e serviços de consumo. Dessa forma a função poupança pode ser obtida da seguinte forma: Y = C + S; mas C = C0 + bY, então Y = C0 + bY + S ; fazendo a poupança igual à renda menos o consumo: S = – (C0 + bY) + Y S = – C0 – bY + Y logo: S = – C0 + Y(1 – b) Onde : S = poupança C0 = consumo mínimo de coletividade Y = nível de renda b – 1 = Propensão marginal a poupar É importante notar, antes de mais nada, que a diferença (1–b) é a propensão mar- ginal a poupar, onde a poupança é uma função crescente do nível de renda, porque a propensão marginal a poupar é positiva. Notemos, ainda, que a função poupança é a imagem espelhada da função consumo, ou seja: a baixos níveis de renda, a poupança é negativa, refletindo assim o fato de que o consumo excede a renda; inversamente, a níveis suficientemente altos de renda, a poupança torna-se positiva e assim reflete o fato de que nem toda a renda é gasta em consumo. Vimos anteriormente que, na função consumo, a propensão a consumir era repre- sentada pelo próprio coeficiente b e este sempre será menor que 1 (um). A PMS (propensão marginal a poupar), corresponde ao coeficiente da variação absoluta na poupança pela variação absoluta na renda da coletividade. Dessa forma, considerando a PMC (propensão marginal a consumir) e a PMS, sua soma sempre será igual a 1 (PMC + PMS = 1). Vejamos graficamente essa nova função em nosso exemplo: M er ca do d e Ca pi ta is 33 A atividade econôm ica para com preender o m ercado de capitais Gráfico 12 – A renda nacional com a função poupança O a ut or . (Y) C 100 200 300 400 500 600 500200 300 400 C=CO+b(Y) 100 600 Y=C 0 -100 S= –CO+(1–b)Y poupança=150 consumo=350 A renda nacional com o governo Estudamos até o presente momento as variáveis fundamentais para a renda de equi- líbrio, mas não incluímos participação do governo nesse processo. Dessa forma, o objetivo agora é introduzirmos a variável governo para a determinação da renda de equilíbrio. O governo pode afetar a renda de equilíbrio de duas formas: em primeiro lugar, pode ocorrer através das compras governamentais de bens e serviços, que represen- tam um componente da demanda agregada; em segundo lugar, os impostos e transfe- rências que afetam a relação entre produto e renda. Vejamos então como ficam as equações apresentadas com a entrada do governo: Considerando o lado esquerdo da identidade contábil abaixo como sendo a des- pesa da relação e o lado direito a alocação da renda: 34 C + I Y C + S C + I + G Y C + S + (IR – T) Onde: O sinal significa identidade e não simplesmente igualdade3 C = consumo I = investimento Y= equilíbrio S = poupança IR = impostos T = transferências Para que não haja confusão com o I de investimentos, vamos fazer com que os impostos sejam representados por IR e as transferências por T. Note que as compras do governo G representam as despesas, enquanto os im- postos IR, menos as transferências T, representam a alocação da renda. Daqui para frente o consumo não mais depende da renda simplesmente, mas sim da renda disponível Yd, que é a renda líquida disponível para a despesa das famílias depois de pago os impostos e recebidos os pagamentos de transferências do gover- no. Dessa forma, a função consumo do indivíduo será a renda recebida (por exemplo seu salário) mais as transferências que o governo faz menos os impostos pagos (nesse caso o imposto de renda). Consiste pois na renda menos os impostos, mais transferên- cias, Y + T – IR. A função consumo fica: C = C0 + bY logo C = C0 + bYd . Como a renda disponível é Y + T – IR temos: C = C0 + b(Y + T – IR) Onde: C = consumo C0 = consumo mínimo de coletividade b = propensão marginal a consumir Y = nível de renda T = transferências IR = impostos 3 Em matemática o sinal igual significa que um valor é o mesmo que o outro. Por outro lado o sinal identidade significa que um termo da equação é a imagem idêntica a outros dois termos. Diferente da igualdade. Nas equações que exprimem a demanda agregada, a renda nacional e o produto nacional normalmente nos referimos a identidade ou seja, pode-se dizer que, ao mesmo tempo, Y é idêntico a C+I+G e a C+S + (IR –T). M er ca do d e Ca pi ta is 35 A atividade econôm ica para com preender o m ercado de capitais No entanto, como os impostos representam uma parcela da renda, podemos dizer que os impostos IR são na verdade (iY), com isso podemos substituir na equação anterior. Vejamos: C = C0 + b(Y + T – IR) logo C = C0 + b(Y + T – iY) Simplificando a expressão temos: C = C0 + bT + bY – biY C = (C0 + bT) + b(1 – i)Y Podemos observar, a partir dessa equação, que a presença do governo sob a forma de transferências T eleva a despesa de consumo autônoma pela propensão marginal a consumir, da renda disponível b, vezes o montante das transferências. A presença do imposto de renda, ao contrário, reduz a despesa de consumo a cada nível de renda. A redução surge porque o consumo de uma família está mais relacionado à renda dispo- nível do que à renda propriamente dita e o imposto de renda reduz a renda disponível relativa àquele nível de renda. Enquanto a propensão marginal a consumir da renda disponível permanece sendo b, a propensão a consumir da renda agora é b(1 – i) Onde: 1 – i = parcela da renda que resta depois de pagos os impostos Renda de equilíbrio Após todas essas considerações estamos prontos para determinar o equilíbrio: sendo a Y = C + I + G temos: Y = (C0 + bT) + b(1 – i)Y + I + G 36 logo Y = (C0 + bT + I + G) + b(1 – i)Y Onde: Y = nível de renda C0 = consumo mínimo de coletividade bT = gastos induzidos pelastransferências líquidas I = investimentos G = compras do governo b (1 – i)= propensão a consumir da renda disponível Y = nível de renda Ao observarmos a equação acima, percebemos que o governo faz muita diferen- ça. Eleva os gastos autônomos do montante das compras do governo, G, e dos gastos induzidos pelas transferências líquidas, bT. Ao mesmo tempo, o imposto de renda di- minui o multiplicador. Podemos substituir o primeiro termo da equação por A, que representa os gastos autônomos, então teremos: A = C + I + G + bT Y = A + b(1 – i)Y resolvendo a equação em Y teremos: A = – b(1 – i)Y + Y A = – bY + biY + Y logo temos que A = Y( 1– b(1 – i) ) Y= A [1 – b(1 – i)] Considerações finais Três pontos merecem ser destacados: o primeiro refere-se aos problemas bási- cos da economia. Dado que os recursos são efetivamente escassos e as necessidades são ilimitadas, esse é de fato o maior desafio dos países. O segundo ponto refere-se à formação dos preços no mercado, que ocorre quando a oferta e a demanda se inter- ceptam estabelecendo um nível de preços que pode perdurar por algum tempo ou M er ca do d e Ca pi ta is 37 A atividade econôm ica para com preender o m ercado de capitais podem mudar face o comportamento do consumidor ou dos ofertantes. O terceiro ponto refere-se à formação da demanda agregada e seu equilíbrio. Percebemos que para uma economia obter uma expansão na sua demanda agregada, não depende unicamente do governo, mas de todos os agentes envolvidos no sistema econômico; são eles: as famílias (indivíduos) que vão gastar suas rendas para adquirir bens e servi- ços e pouparem; as empresas que vão investir para ofertarem produtos e serviços e fi- nalmente o governo, que desempenha o papel de demandante de produtos e serviços e, portando, realiza gastos e ofertante de produtos e serviços gerando renda. Texto Complementar Keynes e a economia de Pleno Emprego (KEYNES, 1988) Keynes foi quem usou primeiro esse tipo de análise de curto prazo em 1936, che- gando a uma importante conclusão quanto ao funcionamento de uma economia. Lembrando da competição perfeita onde havendo desemprego, os preços dos fatores caíriam, o que faria com que os empresários contratassem o excedente, le- vando a economia automaticamente ao nível de pleno emprego. Keynes sugeriu que a economia poderia, perfeitamente, estabilizar-se num ponto aquém do nível de pleno emprego, visto que os preços, principalmente da mão-de-obra, são inflexíveis para baixo. Em outras palavras, mesmo havendo de- semprego, os operários não se ofereceriam para trabalhar por menos do que o sa- lário estabelecido. Keynes chamou a atenção de todos para o fato de que, para a economia chegar ao nível de pleno emprego, é necessário que a procura agregada aumente. Atividades O maior desafio das Ciências Econômicas é resolver o problema do binômio 1. escassez de produtos e necessidades ilimitadas. Nesse sentido, a curva de possibilidades de produção é um bom exemplo do quanto esse binômio é di- fícil de se resolver. Imaginado um país que produza apenas trigo e educação, 38 é possível afirmar que a produção de trigo será satisfeita na mesma medida em que a construção de novas escolas? Considerando que o preço de equilíbrio de um produto, por exemplo o kg de 2. arroz, ocorre quando a curva de oferta de um produtor intercepta a curva de demanda de um indivíduo, como ocorre o preço de equilíbrio se pensarmos em todo o mercado de arroz? M er ca do d e Ca pi ta is 39 A atividade econôm ica para com preender o m ercado de capitais A função consumo é uma função linear que demonstra que mesmo para uma 3. renda igual a zero, haverá um consumo mínimo da coletividade. Nesse caso, se uma comunidade onde não há renda alguma podemos pensar que essa função consumo também terá um consumo mínimo? 41 Conceitos, funções e história da moeda Introdução Através do controle da moeda, a autoridade monetária administra a liquidez na economia de um país controlando a taxa de juros. Ao mesmo tempo, a autoridade monetária deve assegurar que o volume de moeda seja suficiente para possibilitar as transações na economia (mercado de bens e serviços), de maneira que o potencial econômico do país seja atingido. As autoridades monetárias são divididas em dois grupos. Aquela que exerce a função de fixar as diretrizes das políticas monetárias, creditícia e cambial do país (nesse caso encontramos o Conselho Monetário Nacional (CMN) que acaba transformando-se num conselho de política monetária. E aquela que atua como órgão executivo central do sistema financeiro, cabendo-lhe a responsabilidade de cumprir e fazer cumprir as disposições que regulam o funcionamento do sistema e as normas expedidas pelo CMN. Nesse caso trata-se do Banco Central. Ainda existem as autoridades de apoio, quais sejam: Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Banco do Brasil (BB), Banco Nacio- nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Caixa Econômica Federal (CEF) e o Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN). Nesse sentido, o objetivo deste capítulo é conhecer num primeiro momento as funções e os tipos de moeda para num segundo momento compreender como ocorre a demanda e a oferta de moeda através da teoria Keynesiana. Conceito e funções da moeda A moeda pode ser definida como um instrumento ou objeto que por ser aceito pela população em troca de bens e serviços, passa a ser usado como meio de troca. As funções da moeda são: um instrumento de troca; reserva de valor; 42 unidade de conta ou denominador comum; padrão para pagamentos diferidos. Como um instrumento de troca, a moeda possibilita a aquisição dos bens e servi- ços, os quais o sistema produz. Do contrário, seria necessário utilizarmos a troca direta, escambo, troca de bens por bens. Quanto a reserva de valor, a moeda não precisa ser gasta imediatamente, poden- do ser guardada para uso posterior, pois ela é aceita por todos. No entanto isso serve para o indivíduo e não para toda a sociedade, na medida em que a reserva de valor da sociedade é sua produção de bens e serviços. A moeda serve também para comparar o valor de diversas mercadorias, ou seja, ela possui o poder de equivalência. É possível somar um automóvel e um parafuso e outro bem qualquer e acharmos a sua equivalência em valor. Dessa forma, a moeda pode ser usada para fins contábeis. A quarta função da moeda é o padrão para pagamentos diferidos, ou seja, a moeda serve para um pagamento a ser realizado no futuro. Na verdade essa função é a mesma da anterior, com a diferença que, enquanto aquela função ocorre no presente, o padrão diferido é em épocas diferentes. As espécies de moeda ao longo da história Moeda metálica Substituindo originalmente a troca direta, a moeda metálica era feita de ferro, bronze e cobre para mais tarde ser cunhada em ouro e prata. A princípio o ouro e a prata circulavam em lingotes, para mais tarde serem cunhadas pelo poder público. Moeda de papel A moeda de papel apareceu originalmente para tornar mais seguro o trans- porte de moeda em grandes quantidades. Na verdade, enquanto a moeda metálica permanecia nos cofres dos bancos, o seu titular portava o recibo de depósito que poderia ser transferido a outro e assim por diante. No entanto, mais tarde, a moeda de papel libertou-se do encaixe metálico, assumindo duas formas: a moeda-papel e o papel-moeda. M er ca do d e Ca pi ta is 43 Conceitos, funções e história da m oeda Papel-moeda A moeda-papel, ou bilhete de banco conversível, era emitida por bancos privados ou do estado, que podia ser convertida em ouro e prata. A moeda-papel não é mais usada. O papel-moeda, ou moeda de papel inconversível,denota a impossibilidade de conversão em ouro e prata. Essa moeda recebeu o curso forçado, ou seja, uma moeda conversível que se tornou inconversível e que não pode ser recusada como meio de pa- gamento – é o dinheiro utilizado na atualidade, conhecido também por dinheiro-papel. O papel-moeda não tem base metálica, por isso somente é aceita dentro do país. A sua conversibilidade em dinheiro estrangeiro, ou para pagamentos internacionais, é realizado através do câmbio. Moeda escritural A moeda escritural é a moeda mais utilizada atualmente pelas economias adian- tadas. Conhecida também por moeda de banco, ela funciona mediante lançamentos de débito e crédito, na contabilidade bancária. Através dela é possível transferir impor- tâncias do depósito ou conta do devedor para o credor, correspondendo apenas aos depósitos bancários à vista: haveres bancários, ou créditos bancários. Os haveres bancários originam-se de um depósito de dinheiro anteriormente feito pelo emitente do cheque ou da ordem de pagamento; ou se originam de uma conta credora que o banco abriu em favor do emitente do cheque ou daquele que deu a ordem, ao conceder-lhe um empréstimo, um financiamento, um crédito. Na verdade uma pequena parte dos cheques ou das ordens de pagamento são convertidos em moeda de papel em todo o sistema bancário. Moeda fiduciária, moeda manual e moeda divisionária Recebem o nome de moeda fiduciária aquelas que não têm um valor intrínseco, cujo material o qual são feitas não representa nenhum material de valor como ouro e prata... Dessa forma, somente são aceitas porque seu valor de troca e liberatório re- pousa na confiança do seu emitente. São elas: moeda-papel, papel-moeda e a moeda escritural. A moeda manual, por sua vez, é a que pode ser portada, são elas: a moeda metá- lica, a moeda-papel, o papel-moeda, a moeda divisionária. A moeda divisionária é aquela de pequeno valor, que serve para fazer o troco, feita de metais pobres (níquel, cobre, alumínio), ou mesmo de papel vegetal. 44 Quase-dinheiro Além do dinheiro, há, no mundo econômico, outras coisas que funcionam quase como se fossem dinheiro: o quase-dinheiro. O quase-dinheiro realiza as mesmas funções do dinheiro, mas não é dinheiro, pois não tem o mesmo grau de liquidez deste, e muitas vezes exige um prazo para ser conver- tido em dinheiro, além de uma despesa para sua conversão. São exemplos: os depósitos bancários a prazo e os títulos do mercado monetário como as letras do tesouro, os títulos de crédito emitidos pelas instituições financeiras, como suas letras de câmbio etc. Demanda de moeda: a teoria keynesiana Umas das razões pela qual as pessoas demandam moeda é que esta é necessária em qualquer economia em que pessoas e empresas vendem bens e serviços no mer- cado em troca de moeda, e a empregam, por sua vez, para comprar bens e serviços oferecidos por outros. Esta é a essência da teoria clássica para a demanda de moeda, onde ela representa um meio de troca. No entanto, na teoria keynesiana, a moeda torna-se muito mais que um simples meio de trocas, uma vez que as pessoas também procuram a moeda para fins especulativos e como uma segurança contra necessidades imprevistas das reservas de caixa. O desdo- bramento da demanda de moeda em demanda para transações, demanda para precau- ção e demanda para especulação desempenha um papel vital na teoria apresentada por Keynes para explicar a taxa de juro. Vejamos, então, cada uma dessas especificidades. Demanda para transações Todo o indivíduo precisa ter algum dinheiro para realizar as transações do dia a dia. A quantia que cada indivíduo ou empresa determinar ser necessária, dependerá de fatores tais como sua receita e despesas. Se uma pessoa recebe $100 a cada semana, e uma outra $200 a cada duas semanas. A primeira terá necessidade de um saldo médio de caixa, para fins de suas transações, menor do que a segunda, presumindo-se que ambas gastem suas rendas totais igualmente, no decorrer do tempo. Vejamos outro exemplo: tomemos duas empresas onde a primeira tem suas vendas concentradas nos meses de dezembro e janeiro, mas sua produção está distribuída du- rante todo o ano, ao passo que a segunda empresa tem suas vendas realizadas sincro- nizadamente com sua produção durante todo o ano. Certamente a primeira empresa precisará de um saldo médio de caixa maior (reserva de dinheiro), para fins de transa- ções, do que a segunda. Dessa forma, a demanda por transações de todas as pessoas e empresas pode ser dita como dependente do volume monetário das transações.M er ca do d e Ca pi ta is 45 Conceitos, funções e história da m oeda A demanda para transações como uma função da renda Dado que o volume monetário de transações para qualquer período inclui todas as espécies de transações com produtos intermediários e também todas as transações financeiras, ele excede o Produto Nacional Bruto (PNB) ou a renda nacional. No entanto, fazendo a suposição de que a proporção da renda nacional para o volume monetário de todas as transações é razoavelmente estável, podemos dizer que, numa primeira abordagem, a demanda para transações depende diretamente do nível de renda – po- demos dizer ainda, para simplificar, que esta relação é linear. Por exemplo: se as pessoas precisam de $1 para cuidar das transações represen- tadas por $4 de renda, isso significa que os saldos de transações requeridos serão de $100 bilhões quando a renda estiver a nível de $400 bilhões (Lt = KtY logo Lt = ¼ x 400 = $100), e serão iguais a $125 bilhões quando a renda alcançar o nível de $500 bilhões (Lt = KtY logo Lt = ¼ x500 = $125). Isso pode ser expresso sob a forma de uma equação: Lt = KtY Onde: Lt = é o total dos saldos para transações que depende do nível de renda Kt = é a relação entre o volume de dinheiro para transação e o nível de renda individual nesse caso igual a 1/4. (1 = volume de dinheiro necessário visto acima e 4 = nível de renda logo será 1/4 Y = renda total nacional Isso pode ser representado no gráfico a seguir: Gráfico 1 – Demanda de moeda para transação em função do nível de renda O a ut or . Y Lt 20 40 60 80 100 120 500200 300 4001000 125 140 KtY Kt`Y 46 Se as condições institucionais e estruturais da economia fossem diferentes, $1 de saldos para transações representadas por $5 de renda, isso reduziria Kt para 1/5 e pro- duziria a linha Kt’Y. Para a renda de $400 e $500, os saldos para as transações seriam de apenas $80 e $100. A demanda para transações e a moeda ociosa no período Vimos anteriormente que a demanda de moeda para fins de transação varia dire- tamente com o nível de renda. Agora veremos que a demanda de moeda para fins de transação varia inversamente com a taxa de juro. Considerando um indivíduo que recebe $1.000 por mês e gasta sua renda unifor- memente no decorrer daquele período. Para simplificar vamos admitir que cada mês tenha somente quatro semanas iguais. Primeiro, é importante notar que para este caso sua poupança é igual a zero. Podemos verificar também que a demanda por moeda no meio da primeira semana será de $875 enquanto, por exemplo, no meio da última semana será de $125. Sua demanda média mensal de moeda para transações é de $500. Se ele gasta uniformemente sua renda de $1.000 nas quatro semanas (1.000/4 = 250) temos o que segue. No final da primeira semana será (1.000 – 250 = 750); no final da segunda semana (750 – 250 = 500); no final da terceira semana será (500 – 250 = 250) ; no final da quarta semana será (250 – 250 = 0). A média mensal ocorre no meio do mês que é o saldo de 500; ou se preferir será (1.000 do início + 0 do final/2 = 500) Se não dividirmos o mês em mais que quatro semanas, o indivíduo em questão retém, para fins de transação em geral, $750 de moeda inteiramenteociosa durante a primei- ra semana, $500 durante a segunda e $250 durante a terceira. Neste caso, a moeda ociosa, ao cabo de cada período, será atraída por uma taxa de juros em que o indivíduo estará disposto a aplicar no mercado financeiro. Demanda de precaução A demanda por precaução surge, fundamentalmente, por força da incerteza de receitas e despesas futuras. Os saldos de precaução permitem que as pessoas façam frente a aumentos imprevisíveis de seus gastos ou atrasos inesperados na entrada das receitas. Esse tipo de demanda de moeda varia de acordo com a renda que se tenha. Os in- divíduos precisam de mais dinheiro e estão dispostos a poupar uma maior parte desse dinheiro, quanto maiores forem os níveis de renda. Por outro lado a demanda por precaução também varia inversamente com a taxa de juro. A uma taxa de juro relativamente alta, o indivíduo pode ser tentado a assumir M er ca do d e Ca pi ta is 47 Conceitos, funções e história da m oeda o risco de um saldo para precaução menor em troca da alta taxa de juro que pode ser auferida ao converter-se parte daquele saldo para precaução em haveres geradores de juros. Embora a demanda por precaução possa ser formalmente distinguida da deman- da para transação, o montante geral de moeda retida para fazer face a ambas as de- mandas é visto, fundamentalmente, como uma função do nível de renda, e até certo ponto da taxa de juro também. Demanda para especulação Preço dos títulos e as taxas de juro Para podermos compreender a demanda por especulação faz-se necessário exa- minarmos a relação entre a taxa de juro e o preço do mercado de um certo título1. Tomemos, por exemplo, uma obrigação negociável do governo dos EUA, o qual não corre qualquer risco de crédito – isto é, nenhum risco quanto aos juros e o principal não sejam pagos conforme o que foi compromissado, quer dizer, que nessa operação o valor do principal e o juros serão pagos. Embora não haja risco de crédito, existe ainda o risco de mercado, que é o risco de que a taxa de juro possa mudar. Se i representa a taxa de retorno do título e com um vencimento especificado, R1, R2, ...Rn representa o número de unidades monetárias a ser pago sobre tais ações nos anos 1 até n, e S representa o montante do principal a ser pago no vencimento, no ano n; então o valor P corrente do mercado de tais títulos pode ser encontrado a partir da equação: P = R1 (1 + i) + R2 (1 + i)2 + R3 (1 + i)3 + Rn (1 + i)n P = S (1 + i)n Notemos que quanto mais alta for a taxa de juros, menor será o valor de mercado do título, e vice-versa. Assim, uma vez dado o fluxo de pagamentos de juros e o mon- tante do principal (expresso na expressão acima) a ser pago no vencimento, o valor presente desse título somente poderá ser alterado por uma única razão: uma variação na taxa de juro – existe a razão do risco do crédito, a qual não consideraremos. 1 Um título é um documento que certifica a propriedade de um bem ou de um valor. O termo se aplica genericamente a todos os valores mobiliários. 48 Vejamos um exemplo: vamos imaginar que S = 1.000; n = 10 meses i = 10% ao mês. Então P = 1.000 (1 + 0,1)10 = 385,54 Imagine agora que houve uma alteração na taxa de juros e ela tenha caído para 5% ao mês. Temos então P = 1.000 (1 + 0,5)10 = 613,91 Dessa forma, combinando-se taxa de juro, vencimento e valor de mercado, vemos que o valor de mercado de um título de dívida está inversamente relaciona- do à taxa de juro, e que qualquer variação dada na taxa de juros exerceria um efeito maior sobre aquele valor de mercado quanto mais distante a obrigação estivesse de seu vencimento. Vejamos agora outro exemplo onde apenas variamos a distância da obrigação, ou seja, a variação de n. Considerando os mesmos valores e somente alterando o n temos: no primeiro caso P = 385,54 se considerarmos 10 meses. Mas se considerarmos 20 meses temos: P = 1.000 (1 + 0,1)20 = 148,64 Expectativas e a taxa de juros Quem quer que compre um título está, até certo ponto, inevitavelmente especu- lando com as futuras variações nas taxas de juros e enfrentando a possibilidade de um ganho ou uma perda financeira decorrente de tais variações. As pessoas que mudam de fundos de caixa para títulos ou ações esperam que a taxa de juro baixe e o valor daqueles papéis suba; elas encaram a presente taxa de juros alta, e o preço dos papéis como baixos – os que fazem a troca em sentido contrário têm expectativas opostas. O que ocorre é que os possuidores de riquezas desenvolvem um conceito do que é uma taxa de juros normal e consideram a taxa de juros corrente algumas vezes alta e outras baixa, dependendo do conceito de normalidade – com isso é que temos muitas vezes esses sentidos opostos nas transações com títulos. Assim é possível estabelecer que quanto mais alta for a taxa de juro, menor o montante que os proprietários de acervos decidem manter sob a forma de moeda. M er ca do d e Ca pi ta is 49 Conceitos, funções e história da m oeda Combinando a demanda para transações, precaução e especulação para determinar a demanda total de moeda Pudemos observar que as duas primeiras demandas (transação e precaução) de- pendem diretamente do nível de renda. É de se esperar que, quanto maior a renda (seja das pessoas, seja da renda nacional), maior a necessidade de moeda para transa- ção e por precaução. Considerando que a taxa de juros, para quem possui moeda, representa um ren- dimento, isto é, quanto se ganha com aplicações financeiras, há uma relação inversa entre demanda de moeda por especulação e taxa de juros. Quanto maior o rendimen- to dos títulos (a taxa de juros), menor a quantidade de moeda que o aplicador retém em sua carteira, já que é melhor utilizá-la na compra de ativos rentáveis. O motivo especulação (e, portanto, a influência da taxa de juros sobre a demanda de moeda) foi a contribuição de Keynes para a teoria macroeconômica. Nesse sentido, quando somamos a demanda de moeda para transação, precau- ção e especulação, de todos os agentes econômicos, temos a demanda total de moeda para toda a economia e, bem entendido, para cada um deles. Oferta de moeda Independentemente da demanda de moeda, o montante real de moeda que as pessoas e as empresas retêm, a qualquer tempo, evidentemente não pode exceder a oferta de moeda no sistema todo, naquele mesmo período de tempo – também não pode ser menor que a oferta de moeda do sistema. Dessa forma, o equilíbrio no mercado requer que a oferta seja igual à demanda de moeda. Sendo M a oferta de moeda e L a demanda, o equilíbrio requer: M = L (não esquecendo que L é a soma de Lt (demanda de moeda para transação e precaução) e Ls (demanda de moeda para especulação)). A oferta de moeda varia com o tempo de acordo com as decisões de orientação do Banco Central (Bacen) que a controla – na verdade o Bacen pode aumentar ou dimi- nuir a oferta de moeda por meio da política monetária. Por enquanto, vamos fazer a suposição de que a oferta de moeda é fixa indepen- dente do nível de renda e independente da taxa de juros. Assim vejamos o gráfico a seguir: 50 Gráfico 2 – Equilíbrio da oferta e da demanda de moeda O a ut or . L, M i 2 4 6 8 10 120105 110 115 equilíbrio 100 desequilíbrio 0 125 130 135 desequilíbrio L M Dados a oferta de moeda e o nível de renda, há uma determinada taxa de juros à qual a soma das demandas de moeda para transação e para especulação será exata- mente igual à oferta real de moeda – a taxa de juro que iguala a oferta e a demanda de moeda é a taxa de juro de equilíbrio. Para o nosso exemplo, quando a oferta de moeda é fixada em 110, somente a uma taxa de juro de4% (por exemplo), será o montante de moeda demandada igual ao montante ofertado. A uma taxa, por exemplo, de 6%, ocorre o desequilíbrio, onde a moeda demanda- da é da ordem de 105 e a moeda ofertada ainda continua sendo 110. Dado que a oferta total de moeda deve ser retirada por alguém, o público verifica que em tal situação suas posses reais de moeda excedem o montante desejado. Depois de fazer as alocações dos 100 requeridos para transações, as pessoas acham que os 10 remanescentes são mais do que elas haviam decidido reter como saldo ocioso a uma taxa de juro tão alta. As pessoas se lançarão, por conseguinte, no mercado, com a finalidade de com- prar títulos com a moeda em excesso. A demanda aumentada de títulos fará com que seus preços se elevem e seus rendimentos se reduzam. Isso continuará até que os preços daqueles títulos tenham sido forçados para cima até o determinado montante que é necessário para reduzir o seu retorno para 4%, aos quais as pessoas se sentirão satisfeitas por reter os 10 de saldos para especulação que realmente retêm. Em contrapartida, em qualquer taxa abaixo, as pessoas manteriam uma quantia menor de títulos e uma outra maior em dinheiro – isso ocorre quando elas vendem os títulos para obter dinheiro. Um excesso de títulos no mercado faz baixar os preços e aumentar seus rendimentos. M er ca do d e Ca pi ta is 51 Conceitos, funções e história da m oeda Considerações finais Procuramos neste capítulo compreender as funções da moeda, seus tipos e como ela é demandada no sistema. Tais questões mostraram a importância da moeda no crescimento da economia na medida em que a moeda é, antes de tudo, um facilitador de trocas de bens e serviços, sendo um meio de pagamento legalmente utilizado para realizar transações e quitar obrigações. Tudo aquilo que é geralmente aceito pelo pú- blico em pagamento de bens, serviços e ativos de valor e no reembolso de dívidas é convencionalmente conhecido como moeda. Texto Complementar O cartão de crédito e a moeda (MANKIW, 1999, p. 601) Poderia parecer natural incluir os cartões de crédito como parte do estoque de moeda da economia. Afinal, as pessoas usam os cartões de crédito em muitas de suas compras. Portanto, os cartões de crédito não são um meio de troca? Embora à primeira vista o argumento seja persuasivo, os cartões estão exclu- ídos de todos os conceitos de moeda. A razão é que os cartões de crédito não são uma forma de pagamento, mas uma forma de deferir pagamentos. Quando você paga uma refeição com o cartão de crédito, o banco que emitiu o cartão paga ao res- taurante o que lhe é devido. Mais tarde, você terá de reembolsar o banco (talvez, até, pagando um juro). Quando chega o vencimento de sua conta, você provavelmente a paga mediante um cheque a ser descontado de sua conta corrente. O saldo dessa conta é parte do estoque de moeda da economia. Observe que os cartões de crédito são muito diferentes dos cartões de débito, que retiram automaticamente fundos de uma conta bancária para pagar compras. Em lugar de permitir a seu usuário adiar o pagamento de uma conta, o cartão de débito dá acesso imediato aos depósitos da conta bancária. Desse modo, o cartão de débito se assemelha mais a um cheque do que a um cartão de crédito. Os saldos das contas que estão por trás dos cartões de débito estão incluídos em alguma medida de quantidade de moeda. Mesmo que os cartões de crédito não sejam uma forma de moeda, eles são im- portantes na análise do sistema monetário. Pessoas que possuem cartões de crédito 52 podem pagar muitas de suas contas de uma vez, no fim do mês, em vez de pagá-las esparsamente à medida que as compras são feitas. Em consequência, as pessoas que têm cartão de crédito mantêm, em média, menos dinheiro em mãos do que as pessoas que não têm cartão de crédito. Portanto, a introdução e a disseminação dos cartões de crédito podem reduzir a quantidade de dinheiro que as pessoas mantêm em mãos. Atividades Como um instrumento de troca, a moeda possibilita a aquisição dos bens e 1. serviços, as quais o sistema produz. Do contrário, seria necessário utilizarmos a troca direta, escambo, troca de bens por bens. Nesse sentido a moeda assume a função de instrumento de troca. Por outro lado a moeda assume também a função de pagamentos diferidos. O que significa essa outra função? M er ca do d e Ca pi ta is 53 Conceitos, funções e história da m oeda Na teoria keynesiana, a moeda torna-se muito mais que um simples meio de 2. trocas (transação). Uma vez que as pessoas também procuram a moeda para fins especulativos e para precaução. Enquanto a moeda para fins especulativos mostra que a uma certa taxa de juros (taxa elevada por exemplo) as pessoas não reterão qualquer quantia de moeda em saldos para transação, o que pode- mos dizer sobre a moeda como precaução? Se a taxa de juros é elevada, as pessoas se lançam no mercado, com a finalidade 3. de comprar títulos com a moeda em excesso. Em contrapartida, o que acontece com a taxa baixa de juros? 55 O Sistema Financeiro Nacional e a política monetária Introdução Para o estudo do Sistema Financeiro Nacional faz-se necessária uma abordagem fundamentada nos princípios das instituições que o formam, particularmente aquelas representadas pelos bancos, uma vez que todo o processo de intermediação financeira é baseado nas suas origens. Nesse sentido, o objetivo deste capítulo é compreender a formação do Sistema Financeiro Nacional e a política monetária. Para tanto este capítulo está dividido em quatro partes: na primeira discutiremos as origens do Sistema Financeiro Nacional a partir de um breve histórico; na segunda parte apresentamos a estrutura do sistema nacional e sua importância na economia; na terceira discutimos os tipos de moeda em poder do público e, por fim, na quarta parte, discutiremos a política monetária. Breve histórico da formação do Sistema Financeiro Nacional Ao chegar ao Brasil, o Príncipe Regente D. João foi aconselhado pelo então minis- tro da Guerra e dos Negócios Estrangeiros, D. Rodrigo (conde de Linhares), a instalar um “banco de troco” que tinha por finalidade fazer chegar aos cofres da Coroa o ouro disponível em poder do público. Em 12 de outubro de 1808 foi criado o primeiro Banco do Brasil, definido como banco de depósitos, descontos e emissão. Além dessas atividades, havia outras ligadas à comercialização de pedras preciosas. As operações financeiras do governo já sedi- mentavam seu escopo na incipiente instituição financeira. 56 O primeiro Banco do Brasil sofreu em sua estrutura os abalos provocados pela falta de austeridade da Coroa, no que concerne a sua política de gastos. A luta pela independência e o movimento de consolidação política contribuíram para a debela- ção gradativa do Banco, e por decreto da Assembleia Legislativa, foi liquidado em 23 de setembro de 1829. Essa liquidação se traduziu num ônus socioeconômico, pois o banco estava intimamente ligado às rotinas da população. Mais tarde, em 1836, surgiram novas instituições, inclusive um novo Banco do Brasil, como também os primeiros bancos estrangeiros. A partir do século XX e pelo decreto 14.728 de 16 de março de 1921, foi instituída a Inspetoria Geral dos Bancos, subordinada ao Ministério da Fazenda, que tinha como propósito fiscalizar os bancos, além de normatizar as questões ligadas a exportações e operações cambiais. Em 2 de fevereiro de 1945, foi criada a Superintendência da Moeda e do Crédito com a missão de controlar o mercado monetário e de iniciar a organização do Banco Central (conhecido hoje como Bacen). O período pós-guerra foi marcado pelo crescimento industrial nos estados do sul, iniciando-se um processo de substituição de importações de bens de consumo durá- veis.
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