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RESOMO DE TRI 2a PROVA A Sociedade Anárquica- Bull Capítulo 1 – O conceito de ordem na política mundial De que se trata a ordem na política mundial? A ORDEM NA VIDA SOCIAL Um conjunto de coisas que demonstra uma ordem é, no seu sentido mais simples e geral, afirmar que elas estão relacionadas entre si de acordo com certa estrutura; que a sua relação reciproca não é fruto puramente do acaso, mas contem algum principio discernível – fileira de livros em uma estante exibe ordem. A ordem que se procura na vida social não é qualquer ordem ou regularidade nas relações entre indivíduos ou grupos, mas uma estrutura de conduta que leve a um resultado particular, um arranjo da vida social que promove determinadas metas ou valores – livros exibem ordem quando estão organizados de acordo com o autor ou o assunto, servindo a um objetivo. Para Santo Agostinho, ordem é uma boa disposição de elementos discrepantes, cada um deles ocupando o lugar mais apropriado – ordem como uma estrutura determinada que põe ênfase nos seus diferentes objetivos ou valores. Além disso, para ele, só existe ordem com relação a determinados objetivos, elementares ou primários, já que seu atendimento é condição para determinado tipo de vida social e para a vida social em si mesmo. Quaisquer que sejam as suas metas, todas as sociedades reconhecem esses objetivos gerais e incorporam arranjos destinados a promovê-los para a ordem: • Todas as sociedades procuram garantir que a vida seja protegida de alguma forma contra a violência que leve os indivíduos à morte ou produza danos corporais; • Todas as sociedades procuram a garantia de que as promessas feitas sejam cumpridas e que os acordos ajustados sejam implementados; • Todas as sociedades perseguem a meta de garantir que a posse das coisas seja em certa medida estável, sem estar sujeita a desafios constantes e ilimitados. Portanto, na vida social a ordem é um padrão de atividade humana que sustenta os seus objetivos elementares, primários ou universais. Se essas metas não forem alcançadas, não terá a sociedade ou vida social. A ordem não é o único valor em relação ao qual a conduta dos homens pode ser modelada, nem devemos presumir que ela preceda outros valores – como em período de guerra, os homens recorrem à violência e deixam de cumprir acordos e violam as regras de propriedade na busca de outros valores. Algumas vezes a ordem social é definida em termos de obediência a determinadas normas de conduta ou às vezes é definida como obediência as regras da lei. De fato, a ordem na vida social esta associada muito de perto à conformidade da conduta humana com relação a regras de comportamento, senão necessariamente a regras legais. Para Bull, a ordem pode existir na vida social sem a necessidade de regras. A conduta sujeita a ordem é uma conduta previsível, que se ajusta a leis que podem ser aplicadas a outros casos no futuro, assim como no passado e no presente. Porém, tais padrões se tornam conhecidos e são formulados como leis abrangentes e proporcionam uma base para as expectativas a respeito da conduta futura. Os homens atribuem valor a ordem porque há a previsibilidade do comportamento individual, consequência da conformidade com os objetivos elementares ou primários da coexistência. O comportamento desordenado também pode ajustar-se a lei científica, proporcionando uma base para expectativas sobre o futuro: todos os estudos teóricos sobre conflitos, guerras e revoluções demonstram da possibilidade de encontrar nas condutas sociais marcadas pela desordem uma conformidade com as leis cientificas. A ORDEM INTERNACIONAL Por ordem internacional o autor refere-se a um padrão de atividades que sustenta os objetivos elementares ou primários da sociedade dos Estados, ou sociedade internacional. Estados são comunidades políticas independentes, cada uma das quais possui um governo e afirma a sua soberania com relação a uma parte da superfície terrestre e a um segmento da população humana. São soberanos internamente, ou seja, a supremacia sobre todas as demais autoridades dentro daquele território e com respeito a população e são soberanos externamente, que consiste na independência com respeito as autoridades externas – supremacia interna e independência externa. As comunidades políticas independentes – não são soberanas porque não são Estados - abrangem Estados cujos governos se baseiam no principio da legitimidade dinástica. Incluem Estados multinacionais e Estados de uma única nacionalidade, Estados de território dividido e aqueles cujo território representa uma única entidade geográfica. Se situam fora do domínio estrito das relações internacionais. Um sistema de Estados (relações verticais) se forma quando dois ou mais Estados tem suficiente contato entre si, com suficiente impacto recíproco nas suas decisões, de tal forma que se conduzam, pelo menos até certo ponto, como partes de um todo – por exemplo, a América do sul não fazia um sistema com a Europa antes do seu descobrimento. A interação dos Estados pode ser direta quando são vizinhos, parceiros ou competem pelo mesmo fim ou indireta em consequência do relacionamento de cada um com um terceiro ou simplesmente pelo impacto deles sobre o sistema (se influenciam mutuamente por meio da cadeia que vincula outros Estados, a que ambos estão presos). A interação dos Estados que define um sistema internacional pode ter a forma de cooperação, conflito, neutralidade ou indiferenças reciprocas com relação aos objetivos de cada um. Portanto, para formarem um sistema de Estados basta que mantenham regularmente relações entre si e que sejam todas capazes de estar implicadas em uma guerra generalizada. Martin Wight distinguiu o sistema internacional de Estados (Estados soberanos, mas em qualquer momento deve haver uma potencia dominante ou hegemônica – a hegemonia passa de uma potencia para outra, sendo objeto de constante disputa) do sistema de Estados suzeranos (um Estado afirma e mantém supremacia sobre os demais – a hegemonia é permanente e em termos práticos é indisputável). Para Wight, um sistema internacional de Estados é um sistema de Estados e quando é um sistema de Estados suzeranos só um Estado possui soberania, faltando a existência de dois ou mais Estados soberanos. Além disso, os sistemas primários são compostos por Estados e os sistemas secundários são formados por sistemas de Estados – muitas vezes suzeranos. Para Hereen, um sistema de Estados era a união de vários Estados contíguos, semelhantes entre si em seus costumes, na sua religião e no grau de aprimoramento social, cimentados conjuntamente por uma reciprocidade de interesses – sistema de Estados envolvendo interesses e valores comuns, baseados em uma cultura ou civilização comum. Sociedade de Estados (relações horizontais) existe quando um grupo de Estados, conscientes de certos valores e interesses comuns, formam uma sociedade, no sentido de se considerarem ligados, no seu relacionamento, por um conjunto de regras e participam de instituições comuns. Ao mesmo tempo, cooperam para o funcionamento de instituições tais como a forma dos procedimentos do direito internacional, a maquinaria diplomática e a organização internacional, assim como os costumes e as convenções da guerra. Uma sociedade pressupõe um sistema, mas pode haver um sistema que não seja uma sociedade por não ter consciência dos interesses e valores comuns. Na sociedade, todos estão sujeitos às mesmas normas e cooperam para o funcionamento de instituições comuns. Pode haver comunicação, acordos e troca de representantes sem que haja a percepção de interesses ou valores comuns, que confiram a essas trocas substancia e uma perspectiva de permanência, sem que se estabeleçam regras a respeito do modo como tal interação deva prosseguir, e sem a tentativa de cooperar em instituiçõesnas quais haja de fato um interesse comum. As sociedades internacionais históricas, como a Grécia clássica, se basearam em uma cultura ou civilização comum. Onde tais elementos existem eles contribuem para essa sociedade porque facilitam a comunicação e uma melhor compreensão reciproca dos Estados participantes, ajudando a viabilizar a definição de regras comuns e o desenvolvimento de instituições compartilhadas e podem reforçar o sentido dos interesses comuns que impelem os Estados a aceitar a comunidade de ideias, instituições e valores. Ordem internacional é um padrão ou disposição das atividades internacionais que sustentam os objetivos elementares, primários ou universais de uma sociedade de Estados. Esses objetivos são: • A preservação do próprio sistema e da sociedade de Estados. Os Estados modernos se unem na crença de que eles são os principais atores da politica mundial e os mais importantes sujeitos de direitos e deveres dessa sociedade. Os desafios da persistência dessa sociedade são: 1. Potencias tem condições de derrubar o sistema e a sociedade dos Estados, transformando-os em um império universal. 2. Outros desafios ameaçaram retirar dos Estados a sua posição de principais participantes da politica mundial. 3. Atores sub-estatais que participam da política mundial de dentro de um estado determinado ou atores trans-estatais que ultrapassam as fronteiras dos Estados. • Manter a independência ou a soberania externa dos Estados individuais, ou seja, o reconhecimento de sua independência com relação à autoridade externa e o reconhecimento da jurisdição suprema que tem sobre o seu território e população. A sociedade internacional tem tratado a preservação da independência dos Estados como um objetivo subordinado à preservação da própria sociedade internacional, o que reflete o papel desempenhado pelas potencias maiores na formação dessa sociedade. A sociedade internacional permite a extinção da independência de Estados individuais, como acontece nos processos de partição e absorção de pequenas potências pelas potências maiores, em nome de princípios de compensação e equilíbrio de poder, o que levou ao declínio contínuo do numero de Estados europeus. A sociedade internacional trata a questão da independência dos Estados como sujeita a preservação do sistema, tolerando e estimulando a limitação da soberania ou independência dos pequenos Estados mediante recursos como os acordos que definem esferas de influência ou criam Estados tampões ou neutralizados. • Manutenção da paz no sentido de que a ausência da guerra entre os Estados membros da sociedade internacional seja a situação normal do seu relacionamento, rompida apenas em circunstâncias especiais. A paz tem sido vista pela sociedade internacional como uma meta subordinada à preservação do sistema de Estados e por isso tem se sustentado amplamente que pode ser apropriado fazer a guerra, meta subordinada também a preservação da soberania ou independência de Estados individuais que tem insistido no direito a guerra de autodefesa e para proteção de outros direitos. Isso está refletido nas palavras de paz e segurança da ONU. O que os Estados entendem por segurança é a paz, independência e a persistência da própria sociedade de Estados que a independência requer e para alcançar esses objetivos os Estados estão prontos para recorrer à guerra. • Limitação da violência que resulte na morte ou em dano corporal, o cumprimento das promessas e a estabilidade da posse mediante a adoção de regras que regulem a propriedade. Os Estados cooperam entre si para manter seu monopólio da violência e negam a outros grupos o direito de exercê-la. Aceitam limitações ao seu próprio direito de usar a violência e aceitam que a guerra só seja praticada por uma causa justa ou uma causa cuja justiça pode ser defendida. Tem, também, proclamado constantemente a adesão a regras exigindo que haja certos limites para a condução da guerra. Assim como entre os indivíduos, os Estados só podem cooperar com base em acordos e só podem preencher sua função na vida social com base na presunção de que serão cumpridos. A sociedade internacional se ajusta as pressões em favor da mudança que preconizam o não cumprimento de certos tratados, procurando ao mesmo tempo salvar o principio geral. A meta da estabilidade se dá pelo mútuo reconhecimento da soberania, pelo qual os Estados aceitam a esfera de jurisdição de cada um deles. O autor estava preocupado em definir o que está envolvido na ideia da ordem internacional, não em traçar o modo como ela está incorporada em instituições históricas, sujeitas às mudanças. A ORDEM MUNDIAL A ordem mundial são os padrões ou disposições da atividade humana que sustentam os objetivos elementares ou primários da vida social na humanidade considerada em seu conjunto. A ordem internacional é uma ordem entre os Estados, mas estes são agrupamentos de indivíduos, e os indivíduos podem ser agrupados de maneira diferente, sem formar Estados – mesmo quando agrupados em Estados, formam também grupos de outra natureza. Implícitas em tais questões existem questões mais profundas, de importância mais duradoura sobre a função da ordem na grande sociedade humana. Antes da segunda metade do século XIX a ordem mundial era simplesmente a soma dos vários sistemas políticos que impunham ordem a diferentes partes do mundo – nunca houve um único sistema que abrangesse todo o mundo. O primeiro sistema político mundial assumiu a forma de um sistema de Estados de âmbito global devido a expansão do sistema de Estados europeu por todo o globo, e a sua transformação em sistema de Estados de dimensão global. Na primeira fase, os europeus se expandiram e incorporaram ou dominaram o resto do mundo. Na segunda fase, que em parte se sobrepôs a primeira, as régios do globo dominadas ou incorporadas se livraram do controle europeu e assumiram seu lugar como Estados membros da sociedade internacional – independência das colônias, com a participação de indivíduos. A expansão do sistema de Estados foi parte de um aumento mais amplo do intercambio social e econômico. A estrutura política criada por esses desenvolvimentos foi apenas a de um sistema global, com uma sociedade de Estados. Hoje, o sistema político mundial assume a forma de um sistema de Estados. A ordem mundial poderia ser alcançada por outras modalidades de organização politica universal. No passado houve outras formas de organização politica universal, em escala menos do que global – o sistema de Estados tem sido uma exceção, não a regra geral. No futuro possam ser criadas novas formas de organização política universal. A ordem mundial implica algo diferente da ordem mundial. A ordem no conjunto da humanidade é mais abrangente do que a ordem entre Estados – algo mais fundamental e primordial, e que moralmente a precede. A ordem mundial é mais ampla do que a ordem internacional porque precisa-se tratar da ordem entre Estados e da ordem em escala interna ou local, existente dentro de cada estado, assim como da ordem dentro do sistema politico mundial mais amplo, em que o sistema de Estados é apenas um componente. A ordem mundial é mais fundamental e primordial do que a ordem internacional porque as unidades primárias da grande sociedade formada pelo conjunto da humanidade não são os Estados, mas os seres humanos individuais – elemento permanente e indestrutível, diferentemente dos agrupamentos de qualquer tipo. A ordem mundial precede moralmente a ordem internacional – hierarquia dos valores humanos. Se há algum valor na ordem política mundial, é a ordem em toda a humanidade que precisamos considerar como tendo valor primário, não a ordem dentro da sociedade de Estados. Se a ordem internacional tem algum valor, isto só pode ocorrer porque ela é um instrumento orientado para atingir a metamaior, da ordem no conjunto da sociedade humana. _______________________________________________________________________________ Cap 2 - Bull - Há uma ordem na política mundial? Algum dia a ordem na política mundial poderá ter a forma da manutenção dos objetivos elementares da vida social em uma única sociedade mundial, ou uma grande sociedade reunindo toda a humanidade. Esse estudo tem como ponto de partida a proposição de que a ordem é registro histórico das relações internacionais; e particularmente que os Estados modernos formaram, e continuam a formar, não só um sistema de estados mas também uma sociedade internacional. A ideia de sociedade internacional Ao longo de toda a historia do moderno sistema de estados três tradições doutrinarias tem competido entre si: Hobbesiana/realista - política internacional como estado de guerra -, kantiana/universalista - preconiza a atuação de uma comunidade potencial - Grociana/internacionalista - política internacional ocorre dentro de uma sociedade de estados. Tradição Hobbesiana: - relações internacionais como um estado de guerra de todos contra todos - conflito entre os estados - jogo de soma zero: os interesses de cada estado excluem os interesses dos demais. - atividade internacional tipica é a guerra - a paz é um período de recuperação da ultima guerra e de preparação para a próxima. - O estado tem liberdade para perseguir suas metas com relação aos outros Estados, sem quaisquer restrições morais ou legais. - As únicas regras ou princípios que podem limitar ou circunscrever a conduta dos estados no seu inter- relacionamento são as regras de prudência e conveniência. Assim, os tratados só serão respeitados se forem convenientes. Tradição Kantiana - a natureza essencial da política internacional reside nos vínculos sociais transnacionais entre os seres humanos - o tema dominante das relações internacionais é a relação entre todos os homens, participantes da comunidade representada pela humanidade - dentro da comunidade humana, os interesses de todos os homens são os mesmos - jogo de soma maior que zero: exercício cooperativo - os conflitos de interesses entre os grupos dominantes dos Estados são superficiais e transitórios - a atividade típica da sociedade internacional é o conflito ideológico horizontal que ultrapassa as fronteiras dos estados e divide a sociedade humana em dois campos - os confiantes na imanente comunidade dos homens e os seus opositores. - Admite a existência de imperativos morais no campo das relações internacionais, que limitam a ação dos estados, mas esses imperativos não pregam a coexistência e a cooperação entre os estados, e sim a derrubada do sistema de estados e sua substituição por uma sociedade cosmopolita. Tradição Grociana - coloca-se entre a realista e a universalista - descreve a política internacional como uma sociedade de estados ou sociedade internacional. - sustenta que existem regras e instituições mantidas em comum que limitam os conflitos entre os estados. - os estados constituem a principal realidade da política internacional, os membros da sociedade internacional são os estados e não os indivíduos. - jogo parcialmente distributivo e em parte produtivo: a política internacional não expressa nem um completo conflito de interesses nem uma absoluta identidade desses. - a atividade internacional típica é o comércio - intercâmbio econômico e social entre os estados. - Os estados estão limitados pelas regras e instituições da sociedade que formam, devendo obedecer as regras de prudência, conveniência, moralidade e da lei. - esses imperativos pretendem a aceitação das exigências da coexistência e cooperação dentro de um sociedade de estados. A sociedade internacional cristã Nos séculos XV, XVI e XVII, quando a organização política universal da Cristandade Ocidental ainda se encontrava em processo de desintegração, foram formadas três visões que pretendiam descrever a nova política internacional e prescrever uma conduta para os estados: de um lado pensadores que viam os estados emergentes, em confronto, ocupando o vacuo social e moral deixado pelo recuo da cristandade; de outro autores papais e imperialistas que promoviam uma reação em defesa dos ideais de autoridade universal do papa e do imperador; e ainda um terceiro grupo que afirmava a possibilidade de que os príncipes que se afirmavam sobre os rivais locais, declarando-se independentes das autoridades externas, estavam, contudo, ligados por interesses e regras comuns. A sociedade internacional possuía os seguintes valores: 1. Os valores eram cristãos. Todos os autores atribuíam a ideia de um direito natural que determinasse os direitos e deveres de todos. Princípios seculares. As assinaturas de tratados eram acompanhadas por juramentos religiosos, e as sociedades cristãs tinham um forte sentimento de diferenciação com respeito às potências externas. 2. Os estudiosos não proporcionavam uma clara orientação que permitisse definir quais eram os membros da sociedade internacional; não havia qualquer princípio fundamental constitutivo ou critério de participação enunciados claramente. 3. Primazia do direito natural sobre o direito positivo internacional. 4. As regras de coexistência enunciadas continham as premissas de um sociedade universal. Insistiam que a guerra deveria ser feita apenas pelos que tivessem autoridade apropriada, por uma causa justa e usando meios justos. Não se tinha uma concepção clara da soberania como atributo dos estados membros da sociedade internacional. 5. a ideia de sociedade internacional dos primeiros internacionalistas era a de que ela não definia um conjunto de instituições derivadas da cooperação dos estados. Ao elaborar suas ideias sobre a sociedade internacional nenhum desses autores discutiu ou levou em consideração o equilíbrio de poder entre os estados. A sociedade internacional europeia Nos séculos XVIII e XIX, os vestígios da Cristandade Ocidental quase desapareceram da teoria e pratica da política internacional. A ideia de sociedade internacional assumiu uma forma distinta. À medida que o direito natural cedia lugar ao direito positivo internacional, as ideias dos teóricos políticos e legais convergia com as dos historiadores, que procuravam registrar as práticas do sistema de estados e dos estadistas que o operavam. Na cultura e nos valores, a sociedade internacional concebida pelos teóricos se identificava mais como europeia do que como cristã. A percepção do relacionamento recíproco entre as potências europeias estava sujeito a um condigo de conduta que não se aplicava a elas, ao tratar com outras sociedades menos importantes. A sociedade internacional é, então, uma sociedade de estado ou nações - membros imediatos dessa sociedade - mas os indivíduos são os seus membros finais. Do reconhecimento de que os membros da sociedade internacional são os Estados, surgem outras características básicas dessa sociedade: todos os membros tem os mesmos direitos fundamentais; as obrigações que eles assumem são recíprocas; as regras e instituições da sociedade internacional derivam do seu consentimento; as entidades políticas tais como as monarquias orientais, os emirados árabes ou reinos africanos deviam ser excluídos. Essa sociedade europeia era em sua maioria composta por monarquias hereditárias. Assim, o julgamento coletivo da sociedade internacional era de que o principio dinástico deveria determinar as questões da participação na família das nações, da transferência de soberania sobre o território e a população e de um governo para outro, e a sucessão nos Estados. Depois das Revoluções Francesa e Americana, passou-se a admitir que os problemas deveriam ser solucionados tomando como referência os direitos da nação ou povo, e não os direitos dosgovernantes. Assim, o casamento dinástico cedeu lugar ao plebiscito como meio para tornar internacionalmente respeitável a aquisição de um território; o principio patrimonial foi substituído pelo principio da auto- determinação nacional. Para formular as regras da coexistência dos estados, os estudiosos conseguiram se livrar das premissas universalista e solidariza herdadas da Id. Média, levando em conta as características singulares da sociedade anárquica. Do reconhecimento do fato de que, na guerra, dois beligerantes que se digladiam podem ambos ter causa justa, não foi difícil chegar a doutrina de que a guerra era simplesmente um conflito político, e que a questão da justiça da causa envolvida devia ser banida do direito internacional. Assim, as regras que limitavam a conduta dos beligerantes, asseguravam plena proteção a todos esses. A posição de neutralidade foi reconhecida, com a condição de imparcialidade em relação aos dois lados. Além disso, o pensamento teórico desse período reconhecia que os contratos concluidos por um governo obrigavam os seus sucessores, e que eram validos mesmo se impostos a um dos contratantes. Reconheceram também que a soberania era um atributo de todos os estados, e a troca do reconhecimento da soberania, uma regra fundamental para a coexistência dentro do sistema de estados. Considerava-se que a sociedade internacional se manifestava de forma visível em certas instituições que refletiam a cooperação dos seus estados membros. Reconhecia-se assim que o direito internacional era um corpo de regras especiais derivadas da cooperação dos estados modernos, que sugeriam uma disciplina e uma técnica distintas da utilizada pela filosofia ou teologia; e que diferia também do direito privado, por estender-se através das fronteiras nacionais - direito internacional público. A preservação do equilíbrio de poder foi elevada ao status de um objetivo perseguido de forma consciente pela sociedade internacional. Da mesma forma, o conceito de grande potência e dos seus direitos e deveres especiais veio expressas uma nova doutrina da hierarquia dos estados, expressa formalmente no Concerto Europeu nascido do acordo de Viena, mediante o sistema de congresso. A sociedade internacional mundial No século XX, a ideia de sociedade internacional manteve-se na defensiva. De um lado a interpretação realista ou hobbesiana da política internacional foi alimentada pelas duas guerras mundiais, assim como pela expansão da sociedade internacional para alem dos seus limites originalmente europeus. De outro lado, as interpretações universalistas ou kantianas foram alimentadas pelo esforço orientado para transcender o sistema de estados, pretendendo escapar da desordem e dos conflitos que o têm acompanhado e das revoluções da Rússia e da China que deram novo alento às doutrinas da solidariedade internacional. A sociedade internacional contemporânea tem uma base cultural chamada de modernidade - cultura das potências ocidentais dominantes. Hoje acredita-se que além do estado, titular de direitos e deveres legais e morais, participam da sociedade internacional as organizações internacionais, grupos não-estatais de vários tipos e também indivíduos (Declaração Universal dos Direitos Humanos e Tribunal de Nuremberg). Na análise política e legal das relações internacionais a ideia da sociedade internacional tem-se baseado menos na evidencia da cooperação demonstrada pelos estados no seu comportamento efetivo do que em princípios que pretendem indicar qual deve ser esse comportamento. Ao mesmo tempo, tem havido um ressurgimento das premissas universalistas no modo como são formuladas as regras de coexistência. A ideia de limitação dos meios empregados na guerra pelos estados tem sido qualificada pelo retorno da distinção entre as causas da guerra objetivamente justas e injustas, como na tentativa de proibir as guerras de agressão. A ideia de que os países neutros devem conduzir-se na imparcialidade frente aos estados beligerantes tem sido igualmente qualificada, como na doutrina da segurança coletiva - Pacto da SDN e da ONU. A SND, ONU e as outras organizações, passaram a ser tratadas como sendo as principais instituições da sociedade internacional, deixando de lado outras instituições cujo papel na manutenção da ordem internacional é central. Desenvolveu-se a rejeição wilsoniana ao equilíbrio de poder, a difamação da diplomacia e a tendência em substituí-la pela administração internacional, assim como um retorno à tendência de confundir o direito internacional com a moralidade ou o aprimoramento das relações internacionais. Os elementos da sociedade O sistema internacional moderno reflete todos os três elementos singularizados respectivamente pela tradição hobbesiana, kantiana e grociana: guerra e a disputa pelo poder entre os estados; conflito e solidariedade transnacionais, superando as fronteiras dos estados; cooperação e intercâmbio regulado entre os estados. Em diferentes contextos, um desses três elementos pode predominar sobre os outros. Em nenhuma das fases do seu desenvolvimento, a sociedade internacional deixou de haver uma certa influencia da concepção dos interesses comuns dos estados, e das normas e instituições comuns aceitas e utilizadas por eles. Na maior parte do tempo a maioria dos estados respeitava as regras básicas da coexistência na sociedade internacional, do respeito mutuo pela soberania, cumprimento dos tratados e da limitação do uso da violência. As grandes guerras prejudicam a credibilidade da sociedade internacional e fazem com que pensadores e estadistas se voltem para interpretações e soluções no espirito hobbesiano. Conflitos ideológicos que opõe os estados, e facções dentro deles, levam, as vezes, à negação da ideia de sociedade internacional. Mesmo no auge de uma grande guerra ou conflito ideológico, a ideia de sociedade internacional não desaparece, embora possa ser negada pelos estados conflitantes. A sociedade anárquica Sustenta-se em geral que a existência da sociedade internacional é desmentida em razão da anarquia. Devido a essa anarquia, considera-se que os estados não formariam na verdade um tipo de sociedade, o que só poderia acontecer se eles estivessem sujeitos a uma autoridade comum (analogia interna). Esse argumento de que os estados não formam uma sociedade por causa da anarquia internacional tem três pontos fracos: - O sistema internacional moderno não se parece com o estado de natureza hobbesiano (falta um poder comum, que tornaria possível a industria a agricultura, navegação, comercio e outros, pois sua força e capacidade é absorvida pelas imposições da segurança recíproca; não há regras legais ou morais; é um estado de guerra de todos contra todos); - Falsa premissa sobre as condições de ordem entre as entidades distintas do estado - indivíduos e grupos. (o temor de um governo supremo não é a única fonte de ordem do estado moderno - interesse mutuo, sentido de comunidade ou de vontade geral, habito, inércia). - Não leva em conta os limites da analogia com a situação interna dos estados, que afinal são muito diferentes dos indivíduos. (o estado não compromete da mesma forma suas energias na busca de segurança; alem disso, os estados não são vulneráveis a um ataque violento na mesma medida dos indivíduos; ou seja, os estados são diferentes dos indivíduos, e mais capazes de formar uma sociedade anárquica). As limitações da sociedade internacional É um erro interpretar os acontecimentos como se a sociedade internacional fosse o elemento exclusivo ou dominante, considerando o direito internacional no que tange à sua função de unir os estados, e não como um instrumento dos interesses estatais e um veiculo de ações transnacionais; como se as tentativas de manter um equilíbrio de poder devessem ser interpretadas exclusivamentecomo esforços para preservar o sistema dos estados, e não como manobras feitas por determinadas potências para ganhar uma posição de supremacia; como se as grandes potências devesse ser vistas só como grandes responsáveis ou indispensáveis, e não como grandes predadores; como se as guerras fossem sempre tentativas de violar a lei ou de defendê-la, e não simplesmente como manifestações dos interesses de determinados estados ou grupos transnacionais. Além disso, o fato de que a sociedade internacional fornece um certo elemento de ordem à política internacional não deve justificar uma atitude de complacência a seu respeito, ou sugerir que falta fundamento aos argumentos daqueles que estão insatisfeitos com a ordem da sociedade internacional. A ordem existente é precária e imperfeita. Demonstrar que a sociedade internacional moderna proporciona um certo grau de ordem não é o mesmo que demonstrar que estruturas de um tipo bem diferente não poderiam proporcionar uma ordem de forma eficaz. _______________________________________________________________________________ RESUMO WIGHT CAP 1, 9 E 10 CAPITULO 1- POTÊNCIAS A política do poder sugere as relações entre potências independentes. O termo implica duas condições: que existem unidades políticas independentes que não reconhecem superior político e que se consideram soberanas; que existem relações continuas e organizadas entre elas. Isso constitui o sistema de estados moderno. As unidades independentes são os estados, e o sistema de relações continuas altamente organizadas são as relações políticas e econômicas, diplomáticas e comerciais, ora a paz ora a guerra. A política do poder no sentido de política internacional surgiu com o estado moderno e soberano. No moderno sistema de estados, o sentimento de unidade passou a ser rarefeito pois formou-se um grande número de estados independentes uns dos outros, e o entendimento a respeito dos padrões morais tem sido enfraquecido pelas disputas doutrinarias na Europa e pela expansão do sistema de estados para além da Europa. Parece que a sociedade internacional não passa de uma etiqueta para os estados soberanos, e que o todo nada mais é alem da soma das partes. O poder que faz uma potência é composto de muitos elementos: tamanho da população, posição estratégica e extensão geográfica, recursos econômicos e produção industrial - eficiência administrativa e financeira, aprimoramento educacional e tecnológico, coesão moral. É o poder concreto que resolve as grandes questões internacionais. A coesão moral das potências é frequentemente discutida em termos de nacionalidade ou de nacionalismo . O principio da autodeterminação nacional afirma o direito de cada nacionalidade formar um 1 estado e transformar-se numa potência. A palavra nacionalismo descreve a auto-afirmação coletiva de uma nação. Uma potência é simplesmente uma coleção de seres humanos seguindo certas formas de ação tradicionais, e, caso um número suficiente deles resolva alterar seu comportamento coletivo, é possível que tenham sucesso. O termo política de poder significa não somente relações entre potências independentes, mas também Machtpolitik - política da força -, ou seja, condução de relações internacionais por intermédio da força ou da ameaça do uso da força. __________________ CAPÍTULO 9 - ANARQUIA INTERNACIONAL Até a criação da SDN, o direito internacional não tinha alternativa senão aceitar a guerra como um relacionamento legítimo entre os estados. A Liga renunciou à guerra como instrumento de política nacional. O cenário internacional pode ser corretamente definido como uma anarquia. A causa fundamental da guerra não é a existência de rivalidades históricas, nem de acordos de paz injustos, magoas nacionalistas, competição pelas armas, imperialismo, pobreza, corrida econômica, contradições do capitalismo e agressividade do fascismo ou comunismo; sua causa fundamental é a ausência de um governo internacional - anarquia dos estados soberanos. Diante de tal situação a desconfiança mútua é fundamental, e uma potência nunca pode ter a garantia de que uma outra potência não é malevolente. Em consequência, nenhuma potência pode entregar a outra qualquer parte de sua segurança e de sua liberdade - medo hobbesiano. A anarquia é a característica que distingue a política internacional da política ordinária. O estudo da política internacional pressupõe a ausência de um sistema de governo. Há um sistema de direito internacional e existem instituições internacionais para modificar ou complicar o funcionamento da política de poder. Mas em linhas gerais ocorre que, na política internacional a lei e as instituições são governadas e circunscritas pela luta pelo poder. Assim, a política internacional pode ser chamada de política do poder. Em um mundo constituído por potências soberanas e independentes, a guerra é o único meio pelo qual cada uma delas pode, em ultima instância, defender seus interesses vitais. Isso ´s igualmente verdadeiro caso um potência considere que seus interesses requerem pacificação ou agressão; de fato, a distinção é geralmente uma questão de séculos e não de moral, pois a potência insatisfeita muitas vezes procura retomar o que a potência satisfeita previamente tomou pelas forças; e a defesa, assim como o ataque, também constitui uma forma de guerra. ________________ CAPITULO 10 - A SOCIEDADE INTERNACIONAL Nos assuntos internacionais há tanto cooperação quanto conflito; existe um sistema diplomático e o direito internacional e instituições internacionais que complicam ou modificam o andamento da política do poder; e existem até regras para limitar as guerras, que não deixam de ter influência. A sociedade internacional possui quatro peculiaridades: 1. É única, composta das outras sociedades mais organizadas que chamamos de estados. Os estados são seus membros principais e imediatos, mesmo que haja um sentido no qual seus membros fundamentais são homens. 2. O número de seus membros é consequentemente sempre pequeno. Comportando apenas o numero de Estados existentes. 3. Os membros da sociedade internacional são mais heterogêneos do que indivíduos, e essa heterogeneidade é acentuada pelo seu pequeno número. 4. Os membros da sociedade internacional são, em conjunto, imortais. O desaparecimento de um Estado é difícil, a tendência é ele se perpetuar. A comprovação mais essencial da existência de uma sociedade internacional é a existência do direito internacional. nação é quase intercambiável com estado ou poder1 1. O objeto do direito internacional são os Estados. 2. O objetivo do direito internacional é definir os direitos e deveres de um estado que age em nome de seus cidadãos em relação a outros estados. 3. O direito internacional é um sistema de direito costumeiro - somatória dos direitos e obrigações estabelecidas entre os estados por tratados, convenção tácita e costumo, e até um tratado, em ultima instância, depende da regra costumeira para estabelecer que as duas partes comprometem-se a obedecer seus termos. 4. A maior parte do direito internacional é constituída por tratados. Esses últimos, contudo, são contratos entre aqueles que os assinaram. 5. O direito internacional não possui agentes para o seu cumprimento, excetuando-se os próprios estados. Carece de um executivo, o que significa que ajuda mútua cooperativa é o máximo de que disporá, para se tornar eficaz. 6. O direito internacional não possui judiciário como jurisdição compulsória. A ONU criou a Corte Internacional de Justiça, mas sua jurisdição somente abrange os casos cujas partes concordaram em se referirem a ela. O aspecto moral e ambicioso do direito internacional transparece melhor no direito da guerra. O pacto de Briand-Kellog de 1928, levava o direito da guerra a um plano elevado, em que a maioriadas potências renunciaram à guerra como um instrumento de política nacional; a guerra continuava a ser legítima como um ato de política internacional, como por exemplo uma ação coletiva. Permanecia legítima também como um ato de legitima defesa - grande meio de se legitimar a guerra. As instituições da sociedade internacional variam de acordo com sua natureza: diplomacia, alianças, garantias, guerra e neutralidade. A diplomacia é a instituição para negociar; as alianças para efetivar um interesse comum; o arbitramento para resolução de pequenas divergências entre os estados; guerra para decisão final a respeito das divergências. CAP 24 WIGHT Cap 24 - Wight - Além da política do poder No estudo da política internacional, somos perseguidos pelo problema de saber se as relações entre as potências são de fato algo mais do que política do poder, e se elas podem realmente vir a ser mais do que isso. A anarquia internacional é refreada por dois tipos opostos de interesse comum. O primeiro interesse é o da sua própria liberdade. O segundo é aquele representado por sucessivas potências dominantes, pois sua predominância terá em geral salvaguardado valores reais, e as vezes essas potências terão brandido uma ideologia internacional como sua arma mais poderosa Uma potência dominante capaz de dar a suas políticas o impulso adicional de um ideal internacional torna-se então uma força tremenda cujos limites somente são atingidos se provocarem o interesse contrário representado pela liberdade generalizada. A ideia do interesse comum não tem muita vitalidade se for separada da ideia da obrigação comum. Sempre existiu uma teoria de relações internacionais que afirma a primazia de conceitos comuns de justiça, direito e lei. Para essa teoria o homem é social e racional, sendo assim, existe sempre uma ordem moral no universo, que sua natureza racional o obriga a obedecer, que os verdadeiros interesses da sociedade humana não são conflitantes, e que esses últimos estão reunidos por obrigações de ordem moral e jurídica. Tal tradição foi a fonte de direito internacional. A moral em política internacional não é simplesmente uma questão de tradição civilizada, mas é igualmente o resultado da segurança. Uma vez destruída a segurança, todos os objetivos mais elevados da política são engolidos na luta pela autopreservação. Esse é o circulo vicioso da política: a moral é fruto da segurança, mas uma certa segurança duradoura entre varia potências depende da observância de um certo padrão comum de moralidade. A Liga das Nações transformou-o em um circulo virtuoso ao fazer da segurança coletiva uma obrigação, mas a solução pressupunha um certo grau de interesse próprio entre as grandes potências que não existia. A comunidade global é ainda uma anarquia e a política internacional é ainda a política do poder. Toda potência tem um interesse maior que o bem estar social; acredita que o bem estar social depende desse interesse e é em nome dele que, em ultima instancia, o bem estar é sacrificado, esse interesse é a própria manutenção do poder. _______________________________________________________________________________ Power and Interdependence Keohane e Nye PONTOS IMPORTANTES: • REALISMO E INTERDEPENDENCIA • PODER: SENSIBILIDADE E VULNERABILIDADE • REGIMES • INTERDEPENDENCIA COMPLEXA CAP 1 Vivemos numa era de interdependência. O mundo tem se tornado interdependente na economia, telecomunicação e aspirações humanas. A interdependência afeta a política mundial e o comportamento dos Estados; mas as ações governamentais também influenciam os padrões de independência. Criando ou aceitando procedimentos, regras ou certos tipos de atividades, os governos regulam e controlam as relações transacionais e interestatais. __ Durante a Guerra Fria, a retórica da segurança nacional justificava as estratégias criadas, a um custo considerável, para reforçar a estrutura econômica, militar e política do mundo livre. Isso também forneceu uma justificativa para a cooperação internacional e o apoio às nações unidas, assim como justificativa para alianças, ajuda externa, e envolvimentos militares extensos. A importância da segurança nacional foi aumentada pela analise realista, que afirmou que a segurança nacional é a meta primaria dos Estados, e que na política internacional a ameaça a segurança é permanente. Com o desempenho norte-americano no Vietnã, a menor hostilidade das relações entre EUA, China e URSS, e o uso impróprio do discurso de segurança national (economia) pelo presidente Nixon, enfraqueceram a visão de que a segurança nacional era dominada por preocupações apenas militares, assim como as relações de poder. Assim a retórica da interdependência se expandiu, sendo colocada como um necessidade natural, em que os conflitos de interesse seriam reduzidos pela interdependência, e que a cooperação era a solução para os problemas. As duas retóricas coexistem, e nenhuma delas proporciona diretrizes confiáveis para problemas de grande interdependência. __ Dependência significa um Estado sendo determinado ou significativamente afetado por forças externas. Interdependência significa mutua dependência, caracterizada por situações efeitos recíprocos sobre países ou atores nos diferentes países. Esses efeitos normalmente resultam de transações internacionais - fluxos de dinheiro, bens, pessoas e informação. Os efeitos das transações na interdependência vão depender das restrições, ou custos, associados à elas. Quando existe custos recíprocos nos efeitos das transações se da a interdependência. Quando a interação não tem custos significativos, as transações são apenas de interconectividade. As relações de interdependência sempre envolverá custos. Duas perspectivas diferentes podem ser adotadas para se abalizar os custos e benefícios de uma relação interdependente. A primeira foca nos ganhos conjuntos ou perdas conjuntas para as partes envolvidas. A outra sublinha ganhos relativos e questões de distribuição. É necessário que se tenha cautela sobre a perspectiva de que a crescente interdependência esta criando um novo mundo de cooperação pra substituir o mundo mau de conflito internacional. A diferença entre a política internacional tradicional, e a política para interdependência econômica e ecológica não é uma diferença entre um mundo de soma-zero e um mundo de soma-não-zero. A interdependência militar não tem que ser de soma-zero, uma vez que alianças militares buscam ativamente pela interdependência para aumentar a segurança de todos. Inversamente, a política econômica e ecológica envolve competição mesmo quando muitos benefícios são esperados da cooperação. São as assimetrias na dependência que têm maior probabilidade de fornecer fontes de influência para os atores nas suas relações com o outro. Atores menos dependente muitas vezes podem usar a relação de interdependência como uma fonte de poder nas negociações sobre um problema e talvez a afetar em outras questões. No outro extremo, a partir da simetria pura, é a dependência pura, que é muito rara. A maioria dos casos se encontram entre esses dois extremos. Que é onde o coração do processo de barganha política de interdependência reside. __ O poder pode se dar pela habilidade de um ator fazer com que outros façam algo que de outra forma não fariam, ou, o poder pode ser concebido em termos de controle de resultados. Para se entender o poder na interdependência, deve-se distinguir duas dimensões: sensibilidade e vulnerabilidade. A sensibilidade envolve graus de responsabilidade num quadro politico. É medida pelo volume de fluxos e pelos custos efetivos nas alterações nas transações sobre as sociedades e governos. Uma interdependência sensível é criada pelas interações de quadros politicos, que se assumem como imutáveis devido a dificuldade de seformular novas políticas em pouco tempo. Ex.: Modo como EUA, Japão e Europa foram afetados pelos preços do petróleo em 1971, 1973-1975. Pouca alternativa desse países em trocar sua fonte de energia, a curto prazo, devido as alternativas e os custos. A interdependência sensível pode ser social, política e econômica. A dimensão da interdependência vulnerável se da na disponibilidade relativa e custo elevado das alternativas que vários atores enfrentam. Vulnerabilidade pode ser definida como a responsabilidade de um ator sofrer os custos impostos por eventos externos, mesmo depois de as políticas serem alteradas. Como é difícil mudar as políticas rapidamente, os efeitos externos imediatos das mudanças externas normalmente reflete a dependência sensível. A dependência vulnerável pode ser medida apenas pelo custo elevado de realizar ajustes eficazes a um ambiente diferente, durante um período de tempo. Ex.: No regime monetário de Bretton Woods, nos anos 60, EUA e GB eram sensíveis às decisões de especulações externas e transferencias de ativos dos Bancos centrais em dólares ou Libras. Entretanto, os EUA eram menos vulneráveis que os britânicos pois possuíam a opção de mudar as regras do sistema de acordo com o que considerassem custos toleráveis. Essa capacidade reduziu a vulnerabilidade e fez com que a sensibilidade política dos EUA fossem menores. A vulnerabilidade é importante para entender a estrutura política das relações de interdependência; foca em quais atores ditam as regras. Ex.: de vulnerabilidade social e economica na pag 13. Para uma analise política util da interdependência internacional deve-se levar em consideração a assimetria das interdependências como fontes de poder sobre os atores. Isso pode ser aplicado sobre as relações entre os atores transnacionais e governos assim como entre as relações interestatais. Não espera-se que uma medida de poder potencial, como a interdependência assimétrica, prevêem o sucesso e o fracasso dos atores em influenciar os resultados. Apenas promove uma aproximação da barganha inicial de vantagens disponíveis em cada lado. “uma relação interdependente ocorre quando os atores dessa relação são mutuamente dependentes. Todavia não se pode esperar que os custos e benefícios desse relacionamento sejam simétricos. Pelo contrário, as relações internacionais são assimétricas, e é nesse contexto em que o poder pode ser projetado. Não se está falando aqui em hard power, mas sim na forma como os atores – estatais ou não – articulam os mais variados temas da agenda internacional com o propósito único de concretizar seus interesses. Em uma análise interdependentista da cena internacional, os custos e benefícios dos ajustes das políticas dos Estados frente às mudanças no cenário externo são sempre levadas em consideração. Assim, torna-se mais compreensível os graus de sensibilidade e vulnerabilidade dos atores na cena mundial. Neste contexto, a sensibilidade de um país seria medida em um cenário político ou econômico imutável. O fato do cenário se manter constante pode revelar a dificuldade de o país formular novas políticas em um curto espaço de tempo, ou pode refletir o comprometimento deste mesmo país com sua política interna ou regimes internacionais. Assim, efeitos imediatos decorrentes de fatores externos denunciam sensível dependência do cenário externo. No tocante à vulnerabilidade, Keohane e Nye apontam para a capacidade dos países em efetivamente formular novas políticas e encontrar alternativas em curto espaço de tempo, frente a uma situação adversa no contexto internacional (KEOHANE, NYE. p. 4-21).” __ Regimes são conjuntos de arranjos governamentais formais ou informais que afetam as relações de interdependência, por meio dos quais os governos regulam e controlam as relações transnacionais e interestatais. São resultado da criação ou aceitação de procedimentos, regras ou instituições para determinados tipos de atividades. A fraqueza das organizações internacionais e os problemas na aplicação da lei internacional fazem com que alguns considerem os regimes internacionais insignificantes, ou com que apenas os ignorem. Entretanto, regimes internacionais específicos muitas vezes tem efeitos importantes para as relações interdependentes. Regimes Internacionais podem ser incorporados nos acordos ou tratados internacionais, como foi com acordo monetário internacional desenvolvido por Bretton Woods em 1944, ou podem envolver propostas formais de acordos que nunca foram Implementados, como o GATT, que deu origem à OMC. Eles podem ser também meramente implícitos, como a relação entre EUA e Canadá no pós-guerra. Para se entender os regimes que afetam os padrões da interdependência, é necessário observar a estrutura e os processos do sistema internacional, e como afetam uns aos outros. A estrutura diz respeito a distribuição de capacidades entre unidades semelhantes. O processo se refere ao comportamento alocativo ou de barganha dentro de uma estrutura de poder. Regimes internacionais são fatores intermediários entre o poder estrutural do sistema internacional e a barganha política e econômica que ocorre com ele. CAP 2 Os autores criticam o realismo afirmando que essa teoria é inadequada para analisar a política da interdependência, e afirmar que essa teoria é um tipo ideal. Por isso, criam um outro tipo ideal em oposição ao realismo, a interdependência complexa. Para o realismo, a integração política entre os Estados serve os interesses nacionais dos estados mais poderosos. Assim como os atores transnacionais são considerados sem importância política, ou nem ao menos considerados existentes. Apenas o Exercício da força permite que os estados sobrevivam, realizando o equilíbrio de poder. A interdependência complexa possui três características principais. Canais Múltiplos: conectam sociedades, incluindo relações entre os Estados, elites não-governamentais e organizações transnacionais. Podem ser resumido como relações entre estados, transgovernamentais e transnacionais. Esses atores não tradicionais são importantes pois agem como transmissores, fazendo com que políticas governamentais de vários países se tornem mais sensíveis a outro. Resumo: as relações não são apenas entres estados como os realistas afirmavam, os atores transgovernamentais (burocracias do governo, e não o governo em si) e transnacionais também devem ser levados em conta, uma vez que esses afetam as políticas internas dos países, tornando esses muitas vezes mais sensível ao pais de origem desses atores, isso faz com que a política econômica domestica seja cada vez mais afetada pela externa. Ausência de Hierarquia nas agendas: as agendas das relações interestatais consistem um múltiplas questões que não estão organizadas em claras e consistentes hierarquias. A ausência de hierarquia entre as questões implica que a segurança militar não domine a agenda sempre. Os problemas de energia, recursos, meio-ambiente, população, uso do espaço e do mar, se classificam no mesmo patamar da segurança militar, ideologia, e rivalidades territoriais. As consultas desenvolvidas pela OCDE, GATT/OMC, FMI, e Comunidade Europeia, indicam como característica, a sobreposição da política domestica e externa nos países pluralistas. Quando existem varias questões na agenda, muitas dos quais ameaçam os interesses dos grupos domésticos, mas não ameaçam claramente a nação como um todo, os problemas da formulação de uma política externa coerente e consistente aumentam. Menor papel da Força Militar (instrumento de política): a força militar não é usada pelos governos contra outros nas regiões ou questões quando a interdependência complexa prevalece. A força militar pode ser irrelevante para resolver desacordos em questões econômicas entre os membros de uma aliança, mas por outro lado pode ser muito importante para aliançaspolíticas e militares contra um bloco rival. A força domina outros meios de poder; se não houver restrições sobre a própria escolha do instrumento, o estado com força militar superior irá prevalecer. Se o dilema de segurança para todos os estados for extremamente aguda, a força militar, apoiada por recursos econômicos e outros, seria claramente fonte dominante de poder. A sobrevivência é a principal meta do Estado, e em situações de perigo, a força é necessária. Entretanto, entre países industrializados e pluralistas, a margem de segurança percebida tem se ampliado, devido ao declínio de possibilidade de ataques no geral. Além disso, nem sempre a força militar é apropriada para se atingir outras metas - econômicas e ambientais - que estão sendo consideradas mais importantes. Na maioria das situações, os efeitos da força militar são caros e incertos. Custos: alem dos econômicos há o custo da quebra dos regimes. Resumo: O poder militar não seria um instrumento de política efetivo contra outros estados que façam parte da região de interdependência complexa, ou nas areas temáticas em que a interdependência complexa se faz presente. Isso acontece por que o uso da força impõe custos aos objetivos dos Estados além da segurança. Além disso, a capacidade destrutiva das armas nucleares torna qualquer ataque de uma potência nuclear arriscado. Outro ponto é o fato de que as guerras de descolonização da Africa e da Asia, bem como a guerra do Vietnã mostraram as limitações do uso convencional da força. Alem disso, o uso da força pode fazer com que relações dos estados em outras areas sejam rompidas, acarretando prejuízos aos Estados. A interdependência exige o não uso da força, caso seja usada a força o país estará querendo propositalmente o regime. O Estado usa a força quando se atinge o limite de sua vulnerabilidade. “A Interdependência Complexa foi desenvolvida por dois acadêmicos americanos, Robert Keohane e Joseph Nye, com o intuito de explicar essas mudanças. Segundo eles, diversas conexões transnacionais estavam surgindo, aumentando relações (principalmente as econômicas) entre países e sociedades e ampliando as oportunidade de cooperação entre nações. Para Keohane e Nye, existem três características que definem o mundo em que vivemos: 1. Existem vários canais que conectam sociedades, incluindo laços informais entre elites governamentais, bem como relações transnacionais. 2. Os temas das relações internacionais não podem ser rigidamente hierarquizados por importância. Tudo depende da situação. A agenda política mundial consiste de múltiplas questões que não estão organizadas em uma hierarquia clara ou consistente. 3. O uso de força militar vem diminuindo, devido à dependência mútua entre membros da comunidade internacional.” ___ Em um mundo de interdependência complexa, no entanto, espera-se que algumas autoridades, especialmente de níveis mais baixos, para enfatizar a variedade de objetivos estatais que devem ser perseguidos. Na ausência de uma hierarquia clara de questões, os objetivos variam de acordo com as questões, e podem não estar intimamente relacionados. Cada burocracia buscará os seus próprios interesses e, apesar de várias agências poderem chegar a compromissos em questões que afetam a todos, eles vão perceber que um padrão consistente de política é difícil de manter. Além disso, os atores transnacionais irão introduzir objetivos diferentes em vários grupos de questões. Os objetivos vão variar de acordo com as questões da interdependência complexa, assim como a distribuição de poder e o processo politico. Estados fortes econômica e militarmente irão dominar varias organizações e varias questões ligando suas próprias políticas em certas questões, às políticas dos outros estados. A utilidade da força diminuiu, e as questões se tornaram mais equivalentes em questão de importância, assim, a distribuição de poder em cada questão se tornam mais importante. Se as ligações se tornarem menos efetivas como um todo, os resultados da barganha política vão variar de acordo com a área temática. Essa diferenciação entre os temas na interdependência complexa significa que as ligações entre os temas se tornarão mais problemáticos e tenderão à reduzir a hierarquia internacional. As Agendas poderão influenciar fortemente a balança de poder. Como a complexidade dos atores e dos temas da política mundial aumentou, a utilidade da força declinou, e a linha entre política domestica e externa esta se misturando: as condições da interdependência complexa esta mais próxima, a formação da agenda política se tornou mais sutil e diferenciada. Uma vez que as agendas são afetadas pelos problemas domésticos que surgiram decorrentes do crescimento da economia, pode-se perceber que a sensibilidade da interdependência aumenta. Os múltiplos canais de contato entre as sociedades tem dificultado a distinção de políticas domesticas e externas. Algumas organizações ou grupos podem interagir diretamente com atores de outras sociedades ou com outros governos para aumentar seus benefícios nas interações. Alguns atores, entretanto, podem ser menos vulneráveis e sensíveis a mudanças nessas interações do que outros, o que afeta os padrões da ação política. Devido a influencia dos atores nas políticas domesticas, o processo de definição do interesse nacional torna-se mais complicado, e assim acaba sendo definido de acordo com os diferentes temas. As organizações internacionais ajudam a definir os temas da agenda internacional, e age como formadora de coalizões, arena para iniciativas políticas e ligação entre os estados mais fracos. Podem também ajudar a determinar prioridades governamentais e a natureza dos comitês interdependentes e outros arranjos dentro dos governos. Além disso permitem que os Estados menos desenvolvidos tenham uma representação conjunta, o que permite com que temas de solidariedade sejam mais discutidos. _______________________________________________________________________________ A ESTRUTURA DA DEPENDÊNCIA Theotonio dos Santos O QUE É A DEPENDÊNCIA? Por dependência nos referimos a uma situação na qual a economia de certos países é condicionada pelo desenvolvimento e pela expansão de outra economia à qual está subordinada. A relação de interdependência entre duas ou mais economias, e entre essas e o comercio internacional, assume a forma de dependência quando alguns países (dominantes) podem se expandir e ser auto-sustentáveis, enquanto outro (dependentes) só podem fazê-lo como um reflexo daquela expansão. Na tradição marxiana, a teoria do imperialismo foi desenvolvida como um estudo do processo de expansão dos centros imperialistas e de sua dominação mundial. Ao analisar o processo de constituição de uma economia global que integra as chamadas economias nacionais num mercado mundial de mercadorias, capital e, até mesmo, de força de trabalho, vemos que as relações produzidas por esse mercado são desiguais e cominadas. As relações comerciais baseiam-se no controle monopólico do mercado, que leva à transferencia do excedente gerado dos países dependentes para os países dominantes; as relações financeiras, do ponto de vista dos dominantes, baseiam-se em empréstimos e na exportação de capital, o que lhes permite receber juros e lucros, aumentando assim seu excedente domestico e fortalecendo se controle sobre as economias dos outros países. Para os países dependentes, essas relações apresentam uma exportação de lucros e juros que leva junto a parte do excedente gerado domesticamente e conduz a uma perda do controle sobre seus próprios recursos produtivos. Para permitir relações tão desvantajosas, os países dependentes têm de gerar grandes excedentes, não por meio da criação de tecnologias de nível mais elevado, mas pela superexploração da força de trabalho, o que resulta a limitação do desenvolvimentode seu mercado interno e de sua capacidade técnica e cultural, bem como da saúde moral e física da sua população. Isso se denomina desenvolvimento combinado pois é a combinação dessas desigualdades e a transferência de recursos dos setores mais atrasados e dependentes aos mais avançados e dominantes o que explica e aprofunda a desigualdade, e a transforma em um elemento necessário e estrutural da economia global. FORMAS HISTÓRICAS DE DEPENDÊNCIA As formas históricas de dependência são condicionadas pelas formas básicas dessa economia mundial que possui suas próprias leis de desenvolvimento; pelo tipo de relação econômica dominante nos centros capitalistas e pelos modos como estes se expandem; e pelos tipos de relações econômicas existentes nos países periféricos que são incorporados à situação de dependência no âmbito da rede de relações econômicas internacionais gerada pela expansão capitalista. Com isso, podemos distinguir a dependência colonial, a dependência financeiro- industrial, e a dependência tecnológico-industrial, baseada em corporações multinacionais. Essas formas de dependência condicionaram as relações internacionais desses países, assim como a orientação de sua produção, as formas de acumulação de capital, a reprodução da economia e sua estrutura social e política. AS ECONOMIAS DE EXPORTAÇÃO Nas duas primeiras formas de dependência supracitadas, a produção volta-se para os produtos destinados à exportação, isto é, a produção determinada pela demanda dos centros hegemônicos. A estrutura produtiva interna se caracteriza por uma rígida especialização e pela monocultura em regiões inteiras. Junto com esses setores de exportação, surgiram determinadas atividades econômicas complementares que eram dependentes, em geral, do setor de exportação ao qual vendiam seus produtos. Havia uma terceira economia, de subsistência, que fornecia força de trabalho para o setor da exportação sob condições favoráveis e para a qual a população excedente se transferia em períodos desfavoráveis ao comercio internacional. A NOVA DEPENDÊNCIA A nova forma de dependência esta em processo de desenvolvimento, e é condicionada pelas exigências dos mercados internacionais de produtos capitais. A possibilidade de gerar novos investimentos depende da existência de recursos financeiros em moeda estrangeira para a aquisição de maquinário e matérias-primas processadas não produzidas domesticamente. Tais aquisições estão limitadas pelos recursos gerados pelo setor exportador e pelo monopólio de patentes que levam as empresas monopolistas a preferir transferir seus maquinários na forma de capital do que como mercadorias para a venda. O desenvolvimento industrial depende de um setor de exportação para obter moeda estrangeira para adquirir insumos utilizados pelo setor industrial. A primeira consequência dessa dependência é a necessidade de preservar o setor exportador tradicional, o que limita economicamente o desenvolvimento do mercado interno ao conservar relações retrogradas de produção, o que significa a manutenção do poder nas mãos das oligarquias decadentes tradicionais. Nos países em que esses setores são controlados pelo capital estrangeiro, isso significa a remessa de altos lucros para o estrangeiro e a dependência política de tais interesses. Em respostas a essas limitações, os países dependentes nas décadas de 1930 e 1940 desenvolveram uma política de restrições cambiais e taxação do setor exportador nacional e estrangeiro; hoje, tendem a gradual nacionalização da produção e à imposição de algumas tímidas restrições ao controle estrangeiro da comercialização de produtos exportados. Procuram também obter melhores condições para a venda de seus produtos. Em décadas recentes criaram mecanismos para acordos internacionais de preços, e hoje a UNCTAD e a CEPAL pressionam para obter condições tarifarias mais favoráveis para esses produtos por parte dos centros hegemônicos. O desenvolvimento industrial, é, portanto, fortemente condicionado por flutuações na balança de pagamentos. Isso conduz a um deficit devido às próprias relações de dependência. As causas do deficit são: 1) as relações comerciais ocorrem em um mercado internacional altamente monopolizado, o que tende a reduzir o preço das matérias-primas e a elevar o preço de produtos industriais. Além disso, há uma tendência, na tecnologia moderna, a substituir diversos produtos primários por matérias-primas sintéticas. 2) O capital estrangeiro mantém o controle dos setores mais dinâmicos da economia e repatria um grande volume dos lucros, assim, os fluxos de capitais são altamente desfavoráveis para os países dependentes. Há assim um importante déficit na balança de pagamentos total, limitando assim a possibilidade de importação de insumos para a industrialização. 3) se torna necessário o financiamento estrangeiro para cobrir o deficit existente e também para financiar o desenvolvimento por meio de empréstimos para o estimulo de investimentos e para suprir um excedente económico interno que foi em grande medida descapitalizado pela remessa, como lucro, de parte do excedente gerado domesticamente. Desse modo, o capital estrangeiro e o auxilio estrangeiro preenchem as lacunas que eles próprios criaram. O desenvolvimento industrial é fortemente condicionado pelo monopólio tecnológico exercido pelos centros imperialistas. Os países subdesenvolvidos dependem da importação de maquinário e de matérias-primas para o desenvolvimento de suas industrias. Contudo, esses bens são patenteados, e usualmente pertencem às grandes companhias. Essas exigem pagamento de royalties para essa utilização, ou a maioria dos casos, convertem tais bens em capital, introduzindo-os sob a formas de seus próprios investimentos – afiliadas. Os países dependentes não tem moeda estrangeira suficiente, os empresários locais enfrentam dificuldades de financiamento e têm de pagar pela utilização de determinadas tecnologias patenteadas. Esses fatores obrigam os governos burgueses nacionais a facilitar a entrada de capital estrangeiro para suprir o mercado nacional restrito, que é fortemente protegido por altas tarifas com o objetivo de promover a industrialização. EFEITOS SOBRE A ESTRUTURA PRODUTIVA O sistema produtivo nos países subdesenvolvidos é essencialmente dominado por essas relações internacionais. Primeiro, a necessidade de conservar estrutura agraria ou de exportação de minérios gera uma combinação entre centros econômicos mais avançados que extraem valor excedente dos setores mais atrasados, e também entre centros internos metropolitanos e centros internos coloniais interdependentes. Em segundo lugar, a estrutura industrial e tecnológica responde mais diretamente aos interesses das corporações multinacionais que às necessidades internas de desenvolvimento. Em terceiro lugar, a mesma concentração tecnológica e econômico-financeira das economias hegemônicas é transferida sem uma alteração substancial a diferentes economias e sociedades, dando origem a uma estrutura produtiva altamente desigual, uma alta concentração de renda, o subaproveitamento da capacidade instaladas, intensa exploração dos mercados existentes… A acumulação de capital caracteriza-se por profundas diferenças entre os níveis salariais domésticos, no contexto de um mercado de trabalho local de baixo custo, combinado com uma tecnologia de capital intensivo. O resultado disso é o alto grau de exploração da força de trabalho. Essa exploração é ainda mais agravada pelos altos preços dos produtos industrializados, impostos pelo protecionismo, pelas isenções e pelos subsídios concedidos pelos governos nacionais, e pelo auxilio fornecido pelos centros hegemônicos. Além disso, a acumulação dependente é profundamente condicionada pelo caráter desigual e combinado das relações econômicas capitalistas internacionais.A sobrevivência das relações tradicionais na região rural é uma seria limitação ao tamanho do mercado, uma vez que a industrialização não oferece perspectivas promissoras. A estrutura produtiva criada pela industrialização dependente limita o crescimento do mercado interno. Essa estrutura submete a força de trabalho a relações altamente exploratórias que restringem seu poder aquisitivo; adotam uma tecnologia de uso intensivo do capital, criando poucos empregos em comparação com o crescimento da população e limitando a geração de novas fontes de renda. Essas limitações afetam o crescimento do mercado de bens de consumo. Além disso, a remessa de lucros ao estrangeiro levam embora parte do excedente gerado no país. Assim, vemos que o suposta atraso dessas economias deve-se a integração com o capitalismo, que gera poderosos obstáculos ao seu pleno desenvolvimento devido a maneira como estão inseridas nesse sistema internacional e das leis de desenvolvimento desse sistema CONCLUSÕES: REPRODUÇÃO DEPENDENTE O sistema de reprodução dependente deve ser entendido como parte de um sistema de relações econômicas globais baseado no controle monopolista do capital de grande escala, no controle de determinados centros econômicos e financeiros sobre outros, no monopólio de uma tecnologia complexa que conduz a um desenvolvimento desigual e combinado nos níveis nacional e internacional. Os países subdesenvolvidos se desenvolvem dentro do esquema de um processo de produção e reprodução dependente. Ao reproduzir esse sistema produtivo e essas relações internacionais, o desenvolvimento do capitalismo dependente reproduz os fatores que o impedem de alcançar uma situação vantajosa nacional e internacionalmente, e, assim, reproduz o atraso, a miséria e a marginalização social em seu território. A única maneira de o pais subdesenvolvido se desenvolver é pela industrialização, e os países rompem com o sistema por meio da exportação. _______________________________________________________________________________ DEPENDENCIA E DESENVOLVIMENTO NA AMÉRICA LATINA - FHC No período de 1929-1955 se passava, tanto na pratica quanto na teoria, de uma fase em que a industrialização se concebia como um recurso complementar no processo de desenvolvimento - baseado na exportação de produtos primários -, e ainda como uma espécie de alternativa para os períodos de contração do mercado internacional, a uma formulação teoria e a um conjunto de expectativas apoiadas na convicção de que o a industrialização sucederia para a expansão das exportações, complementando assim um ciclo de crescimento e uma fase de desenvolvimento autossuficiente. Esse deveria se basear no estímulos do mercado interno e na diferenciação do sistema produtivo industrial, o que conduziria a criação de uma indústria própria de bens de capital. No inicio da década de 1950, do ponto de vista econômico pressupunha-se que toda política de desenvolvimento deveria concentrar-se em: absorção de uma tecnologia capaz de promover a diversificação da estrutura produtiva e aumenta a produtividade; e definição de um política de investimentos que, através do estado, criasse infraestrutura requerida por essas diversificações. Uma alternativa complementar era a redefinição dos termos da cooperação internacional; seja através de programas diretos de financiamento exterior ao setor público, ou seja através de uma política de sustentação de preços; tais soluções não chegaram a se concretar em forma satisfatória para o desenvolvimento. Analise tipológica: Sociedades tradicionais e modernas Essa analise propõe a formulação de modelos ou tipos de formação social. Se sustenta que as sociedades latino-americanas pertenceriam a um tipo estrutural denominado sociedade tradicional e que está indo em direção ao tipo de sociedade chamada moderna. A mudança de estrutura social implica fundamentalmente em um processo de relação entre grupos, forças e classes sociais através do qual alguns tentam se impor, dominando os demais da maneira que acharem melhor. A relação entre desenvolvimento e modernização não se verifica necessariamente se supõe- se que a dominação nas sociedades mais desenvolvidas exclui os grupos tradicionais. Por outro lado, também pode se considerar o caso de que uma sociedade se moderniza em suas pautas de consumo, educação e etc, sem que se forme um desenvolvimento efetivo, mas que se torne menos dependente e haja um deslocamento do sistema econômico da periferia para o centro. A concepção de troca social O processo de desenvolvimento consistia em levar a cabo e reproduzir as diversas etapas que caracterizam as transformações sociais dos países desenvolvidos. Assim, as variações históricas, singularidade de cada situação de subdesenvolvimento, possuem pouco valor interpretativo para esse tipo de sociologia. No plano de analise econômico, o efeito da demonstração supões que a modernização da economia se efetua através do consumo e que sua ultima instancia introduz um elemento de alteração do sistema produtivo que pode provocar um desvio no que diz respeito as etapas da industrialização características dos países adiantados. Se supõe também que os mesmos fatores que favorecem esse processo pressionam para que os países insuficientemente desenvolvidos alterem outros aspectos do comportamento humano antes que se verifique a diferenciação completa do sistema produtivo. O mais adequado, é analisar a questão da America Latina por um procedimento metodológico que acentue suas condições especificas e o tipo de integrando social das classe e grupos como condicionantes principais do processo de desenvolvimento. Nessa perspectiva, o efeito de demonstração se incorporaria na analise como elemento explicativo subordinado, pois o fundamental seria caracterizar o modo de relançar entre os grupos sociais no plano nacional e as tensões entre as classes e grupos sociais que podem produzir consequências dinâmicas na sociedade subdesenvolvida. Assim, nos importa realçar as características histórico-estruturais em que se gera um processo de natureza semelhante e que revelam o mesmo sentido em que pode ter como modernização. Estrutura e processo: determinações reciprocas Se considera o desenvolvimento como resultado da interação de grupos e classes sociais que tem um modo de relação que lhes é próprio e portanto interesses e valores distintos, cuja oposição, conciliação e superação da vida ao sistema socioeconômico. A estrutura social e política vão se modificando na medida em que essas distintas classe e grupos sociais possam impor seus interesses, sua força e sua dominação ao conjunto da sociedade. Pode-se dizer que o problema do controle social da produção e do consumo constitui uma analise sociologia do desenvolvimento. Essa interpretação sociológica dos processos de transformação econômica requerem analises das situações em que as tensões entre os grupos e classes sociais criam as bases de sustentação da estrutura econômica e política. A problemática sociológica do desenvolvimento implica no estudo das estruturas de dominação e das formas de estratificação social que condicionam os mecanismos e os tipos de controle e decisão do sistema econômico em cada situação social particular. Subdesenvolvimento, periferia e dependencia Entre as economias desenvolvidas e subdesenvolvidas não existia uma simples diferença de etapa ou de estado do sistema produtivo, mas também, de função ou posição dentro de uma mesma estrutura econômica internacional de produção e distribuição. Supõe-se por outro lado, uma estrutura definida de relações de dominação. Reconhece-se que no plano politico-social existe algum tipo de dependência nas situações de subdesenvolvimento, e que essa dependência começou historicamente com a expansão das economias dos países capitalistas originários.A dependência da situação de subdesenvolvimento implica socialmente em uma forma de dominação que se manifesta por uma serie de características no modo de atuação e orientação dos grupos que aparecem no sistema econômico como produtores ou como consumidores. A noção de dependência faz alusão direta às condições de existência e funcionamento do sistema econômico e politico, mostrando os vínculos entre ambos, tanto no que se refere ao plano interno quanto ao plano externo. A noção de subdesenvolvimento caracteriza um grau de diferenciação do sistema produtivo sem acentuar as pautas de controle das decisões de produção e consumo. As noções de centro e periferia, por sua vez, sublinham as funções que cumprem as economias subdesenvolvidas no mercado mundial, sem destacar os fatores políticos-sociais implicados na situação de dependência. Ao se considerar a situação de dependência na analise do desenvolvimento da América Latina, considerando a integração das economias nacionais ao mercado internacional, supõe formas definidas e distintas de interrelação dos grupos sociais de cada pais, entre si em com os grupos externos. Quando se aceita a perspectiva de que as influencias de mercado, por si só, não são suficientes para explicar as trocas nem para garantir sua continuidade e sua direção, a atuação das forças, grupos e instituições sociais passam a ser decisivas para a analise do desenvolvimento. O subdesenvolvimento nacional A situação do subdesenvolvimento nacional supõe um modo de ser que as vezes depende de vínculos e subordinações ao exterior e da reorientação do comportamento social, político e econômico em função dos interesses nacionais. O processo capitalista supôs desde seu começo uma relação das economias centrais entre elas e outra com as periféricas; muitas economias subdesenvolvidas se incorporam ao sistema capitalista desde o começo da formação das colônias e ao longo dos estados nacionais, e nele permanecem ao longo de todo seu processo histórico, mas como economias periféricas. Os tipos de vinculo das economias nacionais ao mercado Em cada um dos tipos de vinculo possível as dimensões essenciais que caracterizam a dependência se refletiram sobre as condições de integração do sistema econômico e do sistema político. A presença das massas nos últimos anos, tem constituído, a causa da pressão por incorporar- se ao sistema politico, em um dos elementos que provocaram o dinamismo da forma econômica vigente. O enfrentamento, que resulta das pressões a favor da modernização, se produz entre as classes populares - que tentam impor sua participação, frequentemente com alianças com os novos grupos economicamente dominantes - e o sistema de alianças vigente entre as classes predominantes na situação anterior. Perspectivas para uma analise integrada do desenvolvimento As duas dimensões dos sistema econômico em processo de desenvolvimento, a interna e a externa, se expressam no plano social, donde adotam uma estrutura que se organiza e funciona para conexão dupla: segundo as pressões e vínculos externos e segundo o condicionamento dos fatores internos que incidem sobre a estratificação social. A complexidade da situação de desenvolvimento da lugar a orientações valorativa que coexistem. As transformações sociais e econômicas que alteram o equilíbrio interno e externo das sociedades subdesenvolvidas e dependentes são processos politicos que supõem tensões que nem sempre contêm em si mesmas soluções favoráveis ao desenvolvimento nacional. _______________________________________________________________________________ A ESTRUTURA ENTRE ESTADOS DO SISTEMA MUNDIAL MODERNO - WALLERSTEIN O sistema-mundo moderno O sistema-mundo moderno (economia-mundo e política-mundo) foi o primeiro a ser organizado e capaz de se consolidar como uma economia capitalista mundial. A economia mundial capitalista é um sistema socialmente estruturado por uma divisão do trabalho axial integrada, cujo principio é a acumulação de capital. O mecanismo chave para se realizar esse principio tem sido a construção de um extensiva cadeia de produção de commodities que cruzam varias fronteiras políticas. Essas cadeias constituem uma serie de operações - nós - que podem conter múltiplos produtores em múltiplos países. Outros nós tem sido relativamente monopolizados por poucos produtores. Já em alguns nós a força de trabalho tem sido recrutada principalmente mediante pagamento de salários. Em outros, os empregadores tem utilizado uma variável mais coercitiva e menos onerosa de controle do trabalho. O lucro normalmente é atingido em todos os nós ao longo da cadeia, mas o maior é consequência do alto grau de monopólio de um nó particular. As atividades dos nós mais lucrativos tendem a ser geograficamente concentrados em poucas, e pequenas areas do mundo econômico, que podem ser chamadas coletivamente de zonas centrais. Os nós menos lucrativos tendem a ter suas unidades de atividade econômica mais dispersas geograficamente, e muitas dessas unidades são localizadas em areas bem maiores que podem ser chamadas de zona periférica. A relação centro-periferia é a relação entre os setores de produção mais monopolizados e os mais competitivos/ atividades de produção mais lucrativa e menos lucrativa/ relação entre capital mundial e trabalho mundial/ entre capitalistas fortes e fracos. A maior consequência da integração desses dois tipos de atividade é a transferencia da mais-valia do setor periférico para o setor central. A centralidade e a periferia possuem dois tipos de atividade que devem coexistir em uma mesma cadeia. As atividades realizadas podem ser transformacional (agricultura, industrial) ou de serviços (merchandising, informacional, de transporte ou financeira). Essas atividades podem ser realizadas pelo centro ou pela periferia, podem ser mais ou menos lucrativas. O que importa é o grau com que cada atividade está sendo monopolizada em um dado período. O capitalista bem sucedido está preocupado com a acumulação de capital, e não com o produto, o lugar, o país ou o tipo de atividade econômica. O mercado capitalista nunca será um mercado totalmente aberto e nem totalmente fechado, ele será um MERCADO PARCIALMENTE ABERTO. Esse tipo de mercado é construído por um lado como resultado de esforços de alguns atores economicamente fortes para atingir um monopólio relativo combinando eficiência produtiva e influencia política; e por outro lado esforços contrários de outros atores para quebrarem ou diluírem esses monopólios pela combinação de uma outra alternativa de eficiência produtiva e de influencia política. Apenas o sistema-mundo moderno envolveu uma estrutura política composta de Estados que exercem sua soberania em areas geográficas delimitadas, em cuja coletividade está unida em um sistema inter-estatal. Essa estrutura política é o único tipo de estrutura que pode garantir a persistência do mercado parcialmente aberto, chave do sistema baseado em uma incessante acumulação de capital. Capitalismo e o sistema-de-estado moderno são ambos parte de um conjunto harmonioso. Não é imaginável um sem o outro. Uma interface mundial da estrutura econômica capitalista mundial e dos Estados é a moldagem perpétua de uma força de trabalho mundial, que está disponível, é realocável e não muito cara. A visão da força de trabalho mundial nessas matérias estão em direto conflito como os pontos de vistas dos controladores das estruturas econômicas, assim como com as visões dos lideres politicos e burocratas. Na realidade, os trabalhadores sempre devem ser induzidos a fazerem o trabalho requerido pelos empresários capitalistas - por uma combinação de “carrot (capital), stick (violência) and ideology” especialmente quando querem que eles trabalhem por um período de tempo especifico, num lugar especifico, numa atividadeespecifica por uma remuneração especifica. O uso de sticks a favor dos empresários pelos estados é óbvia e tem-se traduzido na criação de múltiplas formas de trabalho forçado, principalmente na zona periférica. A intervenção do Estado também assumiu a forma de proibir ou dificultar a organização de classe dos trabalhadores. Os sticks possuem custos. As famílias são organizadas em termos de sobrevivência econômica no mundo- econômico capitalista. A renda salarial é um dos 5 tipos de renda que as famílias podem adquirir, e pra maioria dessas, a renda salarial constitui menos da metade da renda total. Os outros quatro tipos de renda conseguidos pelos membros das famílias são a renda do pequeno mercado, produção própria(subsistência), alugueis, e transferencia de pagamentos. A estrutura de renda das famílias determina a disponibilidade, a realocabilidade e o preço de trabalho que as famílias irão direcionar ao salário direto. A situação ideal do ponto de vista daqueles que contratam o trabalho assalariado é obter seus trabalhadores assalariados das famílias que não estão em posição de devotar a maior parte de seu esforço de trabalho no trabalho assalariado. Essas famílias são consideradas semi-proletariado. Os trabalhadores assalariados das famílias semi-proletárias tipicamente recebem salários que estão abaixo do retorno das horas trabalhadas necessário para a reprodução da família. Esse sistema garante que o trabalhador assalariado continuará recebendo um nível baixo de salário, que faz com que seja possível que os empregadores das atividades periféricas consigam lucrar mesmo com a alta competitividade. Para se assegurar que as famílias permaneçam nessa situação é necessário não só a atividade dentro do estado em que se encontra inserida, mas também o sistema interestatal como um todo. O fato de que a grande maioria da população dos estados estão localizadas nas famílias semi- proletárias sustenta o tipo de estrutura política que faz com que essa seja extremamente difícil para os estados do sistema mundo. O fato de que nos outros estados a maior parte das famílias são parte do proletariado sustenta o tipo de estrutura estatal que permite que esses estados estabeleçam seu poder no sistema-mundo. Estados semi-periféricos são aqueles que combinam uma significante mistura de atividades econômicas centrais e periféricas. Pela extensão da intervenção governamental, eles são geralmente capazes de manter uma mistura de mudança nos padrões de produção das atividades que tendem a redefinir a semiperiferia interna em direção à periferia. Os estados semiperiféricos lutam para mantes esse posto, e puma medida para isso é expandir a porcentagem de famílias proletárias na estrutura estatal, o que tem sido chamado de socialismo ou desenvolvimento econômico. A proletarização limita o excesso disponível da renda não salarial, e fazem com que seja essencial salários mais altos por hora de trabalho para que a família possa sobreviver. Além disso, as famílias proletárias urbanas tem uma propensão maior de criar organizações sindicais, e assim participarem de movimentos anti-sistêmicos. Por três séculos os valores dominantes da economia mundial capitalista estavam em parcial conflito com a economia dominante e com as forças políticas do sistema-mundo moderno, o que explodiu na Revolução Francesa. Com essa, dois conceitos ganharam apoio popular, a normalidade da mudança política e a soberania popular. Essas duas ideias representam um serio perigo para a sobrevivência da economia mundial capitalista: o perigo da democratização. Em resposta a esse perigo foram instituídos três domínios: a invenção da ideologia, o triunfo do cientificismo e a domesticação dos movimentos anti- sistêmicos. Assim, foi construída uma geocultura em torno da antítese: Universalismo e Racismo-Sexismo CONSERVADORISMO, LIBERALISMO E REPUBLICANISMO Os liberais tiveram a estratégia de se um consenso politico baseado numa coerente dosagem de reformas, trazendo os conservadores e os democratas/socialistas para mais perto do liberalismo. Essa estratégia se tornou um pilar da geocultura sistema-mundo. O segundo pilar foi a reconstrução do sistema de conhecimento, as universidades foram restabelecidas para promoverem um base institucional para o florescimento do cientificismo, que foi ancorado pela criação de disciplinas em cursos específicos nas universidades. O terceiro pilar da geocultura liberal foi a incorporação das classes perigosas (movimentos sociais, movimentos nacionalistas.) Essa incorporação foi feita pelo sufrágio, pelo estado do bem-estar social, e pelo patriotismo cidadão. Esses três pilares serviram para obscurecer a antítese simbólica e simbiótica do consenso liberal: Universalismo, racismo e sexismo. No século 19 o universalismo passou a ser o valor central da economia mundial capitalista. O livre mercado presumido foi o garantidor da eficiência produtiva relevante para a troca de mercadorias produzidas na divisão do trabalho. O livre mercado na teoria é igualmente acessível para o comprador e pelo vendedor, assim a universalidade é valida. Os resultados desses princípios universais manifestaram uma desigualdade em termos de justiça distributiva. A incessante acumulação de capital que requere os mercados monopolizados, atribuem uma desigualdade na divisão do trabalho, e uma razoável estabilidade política. Os valores universais eliminaram as justificativas previas para um sistema politico hierarquizado. Mas o problema é manter/restaurar a hierarquia sem renunciar o universalismo. A resposta é a institucionalização do racismo e do sexismo. O sistema interestatal A estrutura interestatal é governada por um longo e cíclico processo - ciclo hegemônico. A acumulação de capital é maximizada no sistema-mundo moderno quando opera com um mercado parcialmente aberto e com a tensão entre o universalismo e o racismo/sexismo. A situação ideal para a acumulação de capital é a existência de um poder hegemônico, forte o bastante para definir as regras e verificar quem as está seguindo. Quando a rivalidade é substituída por uma condição sistêmica de hegemonia isso não quer dizer que a força hegemônica pode fazer qualquer coisa, e sim que ela pode evitar que os outros façam algo que altere significantemente as regras. A procura por hegemonia no sistema interestatal é análogo à busca pelo monopólio no sistema de produção mundial. Para um Estado se tornar hegemônico, o primeiro requisito não é a força militar, apesar de essa ser crucial para a conclusão do processo. O requisito principal é a primazia da eficiência produtiva. A eficiência produtiva, fez com que, historicamente, fosse possível a eficiência comercial, que gerou a eficiência financeira. O uso da força do estado é necessário para criar vantagens não criadas pelo Mercado. Em todos os casos, a fase final para se atingir a hegemonia envolve uma supremacia militar. A imposição de restrições institucionais requerem uma combinação do uso da força, do suborno e da persuasão ideológica. A força deve ser suficiente para que não seja necessário usá-la, a simples ameaça deve ser suficiente. O suborno envolve a compensação aos aliados contra sua contribuição para o uso efetivo da força e sua política de suporte. A persuasão ideológica é o elemento chave para persuadir as populações do poder hegemônico para pagar o preço da supremacia militar, persuadir a população dos aliados para considerarem a aliança vantajosa, e até mesmo para criarem duvidas sobre as vitimas, para a aceitação de sua morte. A força tem um custo muito alto, pois deslegitima quem a usou, mesmo que esse tenha sido bem sucedido. O estreitamento de alianças tem permitido que as alianças se tornem mais fortes que a força hegemônica sozinha. Por essas razoes, a liderança não é mais automática. A força hegemônica mesmo quandodeclina, ainda é claramente o poder mais forte. O funcionamento do sistema-mundo moderno é dependente de três fenômenos internacionais: a relativa estabilidade do sistema interestatal, cujo sistema de ciclos hegemônicos é o motor; um sistema mundial de produção altamente lucrativo, cujos ciclos de monopólios é o motor; e a coesão social dos estados soberanos, especialmente aqueles que se encontram na zona central. Esses aspectos são a geocultura, fundada na ilusão do desenvolvimento universal e a expectativa geral da prosperidade e da igual democracia para todos. Existem 7 tendências, que, combinadas fazem com que seja implausível que essa teia interconectadada de estruturas continue sendo viável. 1. O processo do desenvolvimento capitalista é um processo polarizador. A diferença entre aqueles Estados que são beneficiários e aqueles que não apresentaram um crescimento significativo tem aumentado. Além disso, a diferença social e econômica tem sido reforçada, particularmente nos últimos 50 anos,por uma diferença demográfica, o que torna a polarização mais visível. Outra consequência foi a criação de uma enorme pressão migratória do Sul para o Norte. Esses aspectos proporcionam serias consequências políticas para o funcionamento de um sistema mundo. 2. Um elemento crucial para o funcionamento do sistema tem sido a criação da estrutura da renda familiar semi-proletária, que representaram assim o chamado diferencial histórico transnacional dos salários, necessário para níveis elevados de lucro. Entretanto, a necessidade periódica da economia- mundo para uma demanda efetiva adicional somada às pressões dos trabalhadores, levaram a uma desruralização constante da força de trabalho que está em processo de privar o sistema-mundo de sua força de trabalho de reserva. A força de trabalho reserva tem sido um elemento chave para manter a coesão social dos Estados, os novos trabalhadores incorporados à sociedade tendem a ser um pilar do patriotismo nacional. A força de trabalho desmoralizada, empregada insuficientemente, se torna uma população marginalizada nas cidades do sistema-mundo. 3. A ilusão do desenvolvimento liberal foi jogada fora. Seu última e maior florescimento foi no auge da hegemonia dos Estados Unidos, no período de 1945-870, quando todos em todos os lugares pareciam ter certeza de que, de uma forma ou de outra, por um método econômico ou político ou outro, seu estado iria desenvolver-se eventualmente. A única lição clara dos últimos 25 anos é que os estados que tiveram um significativo avanço no período de 1945-70 perderam relativamente o que tinha ganhado. Isso é igualmente verdadeiro para ganhos aparentes gerados da redução das desigualdades intra-estaduais, que têm sido drasticamente ressurgentes no período pós-1970. O resultado ideológico tem sido uma virada contra o geocultura liberal, e sua visão do estado beneficente, que era em si um fator importante para a coesão social dos Estados. 4. O colapso do desenvolvimento liberal, da ideologia desenvolvida na Revolução Francesa e dos movimentos antissistêmicos clássicos (socialismo e libertação nacional) removeram um dos principais fundamentos do sistema liberal dos Estados e uma das principais forças de restrição dos impulsos políticos das classes perigosas do mundo. 5. Apesar de o liberalismo ter protagonizado a melhores intenções quanto a reestruturação democrática e o estado de bem estar social, as demandas populares por educação e saúde estão longe de diminuírem, apesar de que esses setores nunca estiveram tão bem. Isso trouxe uma crise fiscal para os Estados, uma vez que os estados ricos acham que não estão em posição de atender essas demandas. Desse modo, as crises fiscais dos estados passam a ser crises políticas. Isso torna a ação do poder hegemônico em manter a ordem na arena interestatal mais difícil. A situação é agravada pelas migrações, e refletem a crescente desordem interna. Isso está levando a um colapso da cidadania como uma categoria que abrange a esmagadora maioria das pessoas residentes em um Estado, assim, estamos voltando à um sistema com uma política formalmente estratificada, o que reforça as tensões internas. 6. 500 anos de produção ampliada resultou em um agudo problema ambiental, que pode apenas ser parcialmente resolvido por um enorme gasto de dinheiro e uma considerável quantidade de deslocamento social. Mas quem pagaria por isso? Se fossem as empresas isso viciaria a acumulação incessante de capital, e se fosse a sociedade por meio da diminuição do bem-estar isso abalaria a coesão social dos Estados. 7. O pilar mais profundo da Geocultura tem sido a fé na ciência, difícil de ser construída, e baseada na habilidade dos cientistas em contribuir para mudanças tecnológicas que sustentam a expansão do sistema de produção mundial. O sistema interestatal é parte de um sistema-mundo singular, a economia-mundo capitalista, construída inicialmente na Europa no final do século XV. Esse sistema obteve sucesso em se expandir geograficamente, atingindo o mundo todo. O sistema-mundo moderno está em processo de chegada ao seu fim. Isso não é bom ou ruim por si só; tudo depende do que vai ser construído em seu lugar. É, no entanto, pouco provável que o sistema sucessor terá um sistema interestatal do tipo que agora conhecemos, e é bastante improvável que a estrutura de Estados soberanos sobreviva. Uma vez que estamos em um estágio inicial nesse processo de transição, e seu curso não é predeterminado, nossas entradas individuais e coletivas importam significativamente. Estamos de fato sendo chamados a construir nossas utopias, e não apenas para sonhar com elas. Alguma coisa vai ser construída. Se não participarmos na construção, outros a determinarão por nós. CAPITAL É PODER. ASSIMETRIA: O CAPITALISTA TEM ESCOLHA POR DETER O MEIO DE PRODUÇÃO, O PROLETARIADO NÃO TEM ESCOLHA, SÓ DETÊM SUA FORÇA DE TRABALHO. NO CAPITALISMO A MÃO DE OBRA É MERCADORIA _______________________________________________________________________________ WALTZ CAPÍTULO 4 As teorias reducionistas explicam as resultantes internacionais através de elementos e combinações de elementos localizados a nível nacional ou subnacional. A estrutura de um sistema atua como uma força constrangedora e disciplinadora, e porque o faz as teorias sistêmicas explicam e predizem continuidade dentro de um sistema. Uma teoria sistêmica mostra por que motivo mudanças ao nível das unidades produzem menos mudanças nas resultantes do que as que esperaríamos na ausência de constrangimentos sistêmicos. Uma teoria sistêmica de relações internacionais lida com as forças que estão em jogo a nível internacional, e não a nível nacional. CAPÍTULO 5 - ESTRUTURAS POLÍTICAS Um sistema é composto por uma estrutura e por unidades em interação. A estrutura é a componente alargada do sistema que torna possível pensar o sistema como um todo. As definições de estrutura devem deixar de lado, ou pelo menos abstrair-se das características, das unidades, do seu comportamento, e das duas interações. abstrair-se das unidades significa deixar de lado questões sobre os tipos de lideres politicos, instituições econômicas e sociais, e compromisso ideológicos, que os estados possam ter. Abstrair-se das relações significa deixar de lado questões sobre as interações culturais, econômicas, políticas e militares dos estados. A omissão desses não quer dizer que não são importantes; são omitidos porque queremos descobrir os efeitos esperados da estrutura no processo e do processo na estrutura. Definir uma estrutura requer concentrar a atenção na sua posição umas em relação às outras. As estruturas podem durar enquanto a personalidade, o comportamento, e as interações variam largamente. A estrutura é fundamentalmente distinta das ações e das interações. Uma definição de estruturaaplica-se a domínios de substancia bastante diferente desde que a disposição das partes integrantes seja similar. As teorias desenvolvidas para um dado domínio podem, com algumas modificações, ser aplicadas também a outros domínios. Uma estrutura é definida pela disposição de suas partes, e apenas as mudanças de disposição são mudanças estruturais. _____ O conceito de estrutura baseia-se no fato das unidades justapostas e combinadas de forma diferente produzirem diferentes resultantes. A estrutura define a disposição, ou o ordenamento das parte de um sistema, não é uma coleção de instituições políticas, mas da forma como estão dispostas. O posicionamento das unidades umas em relação às outras não é completamente definido por um principio sistêmico ordenador e pela diferenciação formal das suas partes. A posição das unidades também muda com mudanças nas suas capacidades relativas e varia com elas. Mesmo quando funções especificas permanecem imutáveis, as unidades acham por posicionar-se diferentemente umas em relação às outras através das mudanças na capacidade relativa de cada uma. Uma estrutura política interna é assim definida, primeiro, de acordo com o principio pelo qual é ordenada, segundo, pela especificação das funções de unidades formalmente diferenciadas, e, terceiro, pela noção altamente abstrata. As estruturas políticas (poderes legislativo, executivo e judiciário) moldam os processos políticos. A estrutura política produz uma similaridade no processo e na atuação desde que a estrutura dure. Dentro de um país podemos identificar os efeitos da estrutura notando as diferenças de comportamento em partes diferentemente estruturadas do sistema político. De um país para outro, podemos identificar os efeitos da estrutura notando as similaridades de comportamento em sistemas politicos de estrutura similar. Apesar das diferenças culturais e outras, estruturas produzem efeitos similares. _____ PRINCÍPIOS ORDENADORES As partes dos sistemas políticos internos têm relações de superioridade e subordinação. Os sistemas internos são centralizados e hierárquicos. As partes dos sistemas político-internacionais têm relações de cooperação. Os sistemas internacionais são descentralizados e anárquicos. Os princípios ordenadores das duas estruturas são claramente diferentes, contrario uns dos outros. As estruturas políticas internas têm instituições governamentais e os cargos como as suas contrapartidas concretas. A política internacional tem sido chamada de política na ausência de governo. As Organizações Internacionais realmente existem, e em número crescente, mas só tem capacidade de agir de forma significativa com o apoio ou aquiescência dos principais Estados envolvido nesses assuntos. A autoridade se reduz a uma expressão de capacidade; na ausência de agentes com autoridade sistêmica global, relações formais de superioridade e subordinação não se desenvolvem. A estrutura é um conceito organizacional. No entanto, a característica proeminente das Relações Internacionais parece ser a falta de ordem e organização. Como imaginar uma ordem sem um ordenador e efeitos organizacionais onde a organização formal está em falta? Os mercados são o segundo maior conceito inventado pelos teóricos da microeconomia. O mercado de uma economia descentralizada é originalmente individualista, gerado espontaneamente e involuntário. O mercado nasce das atividades das unidades independentes - pessoas e firmas - cujos objetivos e esforços estão direcionados, não para a criação de uma ordem, mas antes para o preenchimento dos seus próprios interesses interiormente definidos por quaisquer meios que passam reunir. Uma vez formado, um mercado torna-se uma força em si mesmo, uma força que as unidades constitutivas atuando sozinhas ou em pequeno numero não podem controlar. O maior feito de Adam Smith foi mostrar como as ações egoístas, levadas pela avareza, podem produzir resultados sociais bons se, pelo menos, as condições políticas e econômicas permitirem a livre-concorrência. O conceito de um mercado é trazido a tona; cada unidade procura seu próprio bem; o resultado de varias unidades a faze-lo simultaneamente transcende os motivos e os objetivos das unidades independentes. Um mercado constrange as unidades que o compõem de tomarem certas atitudes e dispõe-nas a tomarem outras atitudes. O mercado, criado por unidades econômicas que interagem autonomamente, seleciona comportamentos de acordo com as suas consequências. A teoria microeconômica explica como uma economia opera e por que motivo certos efeitos devem ser esperados. Os sistemas politicos internacionais, como os mercados econômicos, são formados pela cooperação de unidades egoístas. As estruturas internacionais são definidas em termos das unidades políticas primarias de uma dada era, sejam elas cidades-estado, impérios, ou nações. As estruturas emergem da coexistência dos Estados. No sistema econômico e no internacional, as estruturas são formadas pela cooperação de suas unidades. As relações internacionais são estruturalmente similares a uma economia de mercado desde que seja permitido ao principio da auto-ajuda operar no mundo. A sobrevivência é um pré-requisito para alcançar qualquer objetivo que os estados possam ter, excluindo a promoção do seu próprio desaparecimento como entidades políticas. O motivo da sobrevivência é visto como a base de ação num mundo onde a segurança dos estados não é garantida e não como uma descrição realista do impulso que está por detrás de qualquer ato do estado. Os atores podem perceber a estrutura que os constrange e entender como ela serve para recompensar alguns tipos de comportamento e penalizar outros. Dizer que a estrutura seleciona significa simplesmente que aqueles que se ajustas às práticas mais aceitas e mais bem sucedidas sobem mais frequentemente ao topo e são os que mais provavelmente aí se manterão. Internacionalmente, o ambiente da açao dos estados, ou a estrutura do seu sistema, é definido pelo fato de que alguns estados preferem a sobrevivência a quaisquer outros fins que possam ser obtidos a curto prazo e agem com relativa eficiência para alcançar aquele fim. Os estados podem alterar o seu comportamento devido à estrutura que ele formam através da interação como outros estados. O CARÁTER DAS UNIDADES O segundo termo na definição de estrutura política interna especifica as funções desempenhadas por unidades diferenciadas. A hierarquia impõe relações de superioridade e de subordinação entre as partes de um sistema, e isso implica na sua diferenciação. Por que motivo os estados devem ser tomados como as unidades do sistema? Dada uma vasta variedade de estados, como podemos chamar-lhes unidades semelhantes? Os estados não são e nunca foram os únicos atores internacionais. Mas de qualquer forma, as estruturas são definidas não por todos os atores que florescem dentro delas mas pelos mais importantes. Para os sistemas político-internacionais, como para qualquer sistema, temos de, primeiro, decidir que unidades tomar como sendo as partes do sistema. Fazendo novamente uma analogia econômica, a estrutura de um mercado é definida pelo numero de firmas em competição; se muitas firmas praticamente iguais competem, uma condição de concorrência perfeita é aproximada; se algumas firmas dominam o mercado, a competição diz-se ser oligopolista mesmo que muitas firmas mais pequenas possam também estar em campo. A importância dos atores não-estatais e a extensão das atividades transnacionais são obvias. Mas Waltz define as estruturas político-internacionais em termos de estados. Os estados usam meios econômicos para fins militares e políticos; e meios militares e políticos para alcançar interesses econômicos. Enquanto os estados mais importantes forem os atores mais importantes, a estrutura das relações internacionais édefinida em função deles. Os estados definem o cenário no qual eles, com atores que não são estados, representam os seus dramas ou continuam com seus assuntos mais monótonos. O estudo dos movimentos transnacionais lida com questões factuais importantes, que as teorias podem ajudar-nos a enfrentar. Mas a ajuda não será ganha se se pensar que os atores não estatais questionam a visão do mundo centrada no estado. Os estados sao as unidades cujas interações formam a estrutura dos sistemas das relações internacionais. Chamar os estados de unidades semelhantes é dizer que os estados são soberanos - decide por si mesmo como irá enfrentar os seus problemas internos e externos, incluindo se que ou não procurar a assistência de outros e ao fazê-lo limitar a sua liberdade chegando a compromissos com eles. Os estados variam muito em tamanho, riqueza, poder e forma; e no entanto, as variações nestes e noutros aspectos são variações ente unidades semelhantes. Os estados são parecido nas tarefas que enfrentam, apesar de não o serem nas suas capacidades para as desempenharem. As diferenças são de capacidade, e não de função. Os fins que aspiram são similares. O aumento das atividades dos estados - dando atenção aos assuntos de regulamentação econômica, da educação, saúde, alojamento, cultura… - é uma tendência internacional forte e marcadamente uniforme. As funções dos estados são similares e as distinções entre eles surgem principalmente das suas capacidades variadas. A política nacional consiste em unidades diferenciadas desempenhando funções especificas. As relações internacionais consistem em unidades semelhantes duplicando as atividades umas das outras. A DISTRIBUIÇÃO DAS CAPACIDADES As partes de um sistema hierárquico estão relacionadas umas com as outras de formas que são determinadas pela sua diferenciação funcional e pela amplitude das suas capacidades. As unidades de um sistema anárquico são funcionalmente indiferenciadas. As unidades de tal ordem são então distinguidas primariamente pelas suas maiores ou menores capacidades para desempenhar tarefas similares. As grandes potências de uma era foram sempre demarcadas das outras indistintamente por teóricos e estadistas. A estrutura de um sistema muda com as mudanças na distribuição de capacidades entre as varias unidades do sistema. E mudanças na estrutura alteram as expectativas sobre a maneira como as unidades do sistema irão comportar e sobre as resultante que as usas iterações irão produzir. Internamente as partes diferenciadas de um sistema podem desemprenhar tarefas similares. Internacionalmente, unidades semelhantes algumas vezes desempenham tarefas diferentes. Os estados são colocados diferentemente segundo o seu poder. E, no entanto, podemos nos perguntar por que motivo apenas a capacidade é incluída, e não características como ideologia, forma de governo, paz, belicosidade, etc… A resposta é: o poder é estimado pela comparação das capacidade de um certo numero de unidades. A variação da estrutura é introduzida, não através das distinges entre elas, mas de acordo com as suas capacidades. O segundo problema é que apesar das relações definidas em termos de interações terem de ser excluídas das definições estruturais, as relações definidas em termos de agrupamentos de estados parecem dizer-nos alguma coisa sobre a forma como os estados são colocados no sistema. Tanto interna como internacionalmente, as definições estruturais lidam com a relação de agentes e agências em termos de organização dos espaços e não em termos dos acordos e conflitos que podem ocorrer dentro delas ou os agrupamento que podem formar de vez em quando. As partes de um governo podem estar jutas ou separar-se, podem opor-se umas às outras ou cooperar em maior ou menos grau. Ao definir estruturas das relações internacionais pegamos nos estados, quaisquer que seja as tradições, hábitos, objetivos, desejos, e forma de governo que possam ter. Abstraímo-nos de quaisquer qualidades particulares dos estados e de todas as suas relações concretas; o que emerge é um quadro posicional, uma descrição geral de ordem internacional definida em termos do posicionamento das unidades e não em termos das suas qualidades. ____ Apesar de a estrutura como um conceito organizacional ser opaca, o seu significado pode ser explicado de forma simples. Enquanto os estados retém a sua autonomia, cada um tem uma relação determinável como os outros. Formam uma espécie de ordem. Os estados se constrangem e limitam uns aos outros, as relações internacionais podem ser vistas em termos organizacionais rudimentares. Estrutura é o conceito que torna possível dizer quais são os efeitos organizacionais esperados e como as estruturas e as unidades interagem e se afetam umas às outras. - As estruturas são definidas de acordo com o principio pelo qual um sistema é ordenado. Os sistemas são transformados se um principio ordenador substituir outro. Passar de um domínio anárquico para um hierárquico é passar de um sistema para outro. - As estruturas são definidas pela especificação das funções de unidades diferenciadas. Os sistemas hierárquicos mudam se as funções forem diferentemente definidas e distribuídas. Para os sistemas anárquicos, o critério da mudança sistêmica é derivado da segunda parte da definição desaparece uma vez que o sistema é composto por unidades semelhantes. - As estruturas são definidas pela distribuição das capacidades pelas várias unidades. Mudanças nesta distribuição são mudanças de sistema quer o sistema seja anárquico ou hierárquico. CAPÍTULO 6 - ORDENS ANÁRQUICAS E BALANÇAS DE PODER VIOLÊNCIA INTERNA E EXTERNA Diz-se que o estado entre estados conduz os seus assuntos envolto na sombra da violência. Entre estados, o estado de natureza é um estado de guerra. A ameaça de violência e o uso recorrente da força distinguem os assuntos internacionais dos nacionais. As lutas para alcançar e manter o poder, para estabelecer a ordem e para conseguir uma forma de justiça dentro dos estados pode ser mais sangrentas do que as guerras entre eles. Se a anarquia é identificada com o caos, a destruição e a morte, então a distinção entre anarquia e governo não nos diz muito. A distinção entre os domínios da política nacional e internacional não se encontra no uso ou não uso da força, mas nas suas diferentes estruturas. Um sistema político interno não é um sistema de auto-ajuda. O sistema internacional é. INTERDEPENDÊNCIA E INTEGRAÇÃO O significado político de interdependência varia dependendo se um domínio é organizado, com relações de autoridade especificas e estabelecidas, ou se permanece formalmente desorganizado. Desde que um domínio seja formalmente organizado, as suas unidades são livres para se especializarem, para perseguirem os seus próprios interesses sem se preocuparem em desenvolver os meios de manutenção da sua identidade e preservação da sua segurança perante os outros. São livres para se especializarem porque não tem razão para termer a crescente interdependência que vem com a especialização. Se aqueles que se especializam mais, beneficiam mais, então competir pela especialização prossegue. O custo de quebrar de quebrar a relação de interdependência seria alto. As pessoas e as instituições dependem muito umas das outras devido às diferentes tarefas que desempenham e aos diferentes bens que produzem e trocam. As partes de uma sociedades fundem-se pelas suas diferenças. As diferenças entre as estruturas nacionais e internacionais refletem-se na forma como as unidades de cada sistema definem os seus fins e desenvolvem os meios para alcança-los. Num ambiente anárquico, as unidades semelhantes cooperam; em meios hierarquizados, unidades diferentes interagem. Num ambiente anárquico, as unidades são funcionalmente similares e tendem a manter-se assim; as unidades semelhantes trabalhampara manter uma certa interdependência e podem até lutar pela autarcia. Num meio hierarquizado, as unidades são diferenciadas, e tendem a aumentar a extensão da sua especialização; As unidades diferenciadas tornam-se estreitamente interdependentes, mais estreitamente ainda à medida que a sua especialização prossegue. Integração - condição dentro das nações. Interdependência - condição entre as nações. Apesar de os estados serem unidades funcionalmente semelhantes, eles diferem muito nas suas capacidades. A integração aproxima as partes de uma nação. A interdependência entre as nações deixa-as vagamente ligadas. A estrutura das relações internacionais limita a cooperação dos estados em duas formas. Num sistema de auto-ajuda cada uma das unidades gasta uma porção do seu esforço,não a perseguir o seu próprio bem, mas a arranjar os meios de se proteger dos outros. Quando confrontados com a possibilidade de cooperarem para ganho mútuo, os estados que se sentem inseguros devem querer saber como o ganho será dividido. Se um ganho esperado é para ser dividido, digamos, na razão de 2 pra 1, um estado pode usar o seu ganho desproporcional para implementar uma política virada para prejudicar ou destruir o outro. Mesmo a perspectiva de grandes ganhos absolutos para ambas as partes não invalida a sua cooperação desde que cada um tema a forma como o outro irá usar suas crescentes capacidades. A condição de insegurança / incerteza trabalha contra a sua cooperação. Em qualquer sistema de auto-ajuda, as unidades preocupam-se com a sua sobrevivência, e a preocupação condiciona o seu comportamento. Um estado preocupa-se sempre com uma divisão de ganhos possíveis que pode favorecer outros mais do que a si mesmo. Essa é a primeira forma pela qual a estrutura das relações internacionais limita a cooperação dos estados. Um estado também se preocupa para que não se torne dependente de outros através de esforços cooperativos e trocas de bens e serviços. Essa é a segunda forma pela qual a estrutura das relações internacionais limita a cooperação dos estados. Quanto maior a quantidade de importações e exportações de um estado, mais ele depende dos outros. o bem estar mundial seria maior se uma cada vez mais elaborada divisão do trabalho fosse desenvolvida, mas os estados iriam assim colocar-se em situações de cada vez mais estreita interdependência. Os estados que podem resistir a tornar-se cada vez mais enredados com outros, normalmente fazem-no das seguintes formas: 1) O estados que são muito dependentes, ou estreitamente interdependente, preocupam-se em assegurar aquilo de que dependem. Uma maior interdependência dos estados significa que os estados em questão, experimentam, ou estão sujeitos, à vulnerabilidade esperada associada à maior interdependência; 2) Como as organizações, os estados procuram controlar aquilo de que dependem ou diminuir a amplitude de sua dependência, o que explica impulsos imperialista (luta pela autonomia para uma maior auto-suficiência). As estruturas encorajam certos comportamentos e penalizam os que não respondem ao encorajamento. Num ambiente formalmente organizado estimula-se a capacidade de cada unidade em especializar-se de forma a aumentar o seu valor em relação às outras num sistema de divisão do trabalho. O imperativo interno é especializar. Internacionalmente, muitos lamentam os recursos que os estados gastam, improdutivamente, para a sua própria defesa e as oportunidades que perdem de realçar o bem-estar de seus povos através da cooperação como os outros estados. Num ambiente desorganizado o incentivo de cada unidade é por-se numa posição de ser capaz de tomar conta de si mesma, uma vez que não pode contar com mais ninguém para fazê-lo Em vez de mais bem-estar, a sua recompensa está na manutenção da sua autonomia. Os estados competem, mas não para contribuírem com os seus esforços individuais para a produção conjunta de bens para o seu benefício mútuo. ESTRUTURAS E ESTRATÉGIAS As estruturas fazem com que as ações tenham consequências que não se tencionava que tivessem. A busca do interesse próprio produz resultados coletivos que ninguém quer, contudo os indivíduos ao comportarem-se diferentemente irão prejudicar-se sem alterarem as resultantes. As estruturas podem ser mudadas mudando a distribuição das capacidades entra as unidades. Podem ser mudadas também, impondo requisitos ande anteriormente as pessoas tinham de decidir por si mesmas. Os constrangimentos estruturais não podem ser afastados. Em todas as épocas e lugares, às unidades dos sistemas de auto-ajuda - nações, corporações… - é dito que o maior bem, a par com o seu próprio, requer que elas ajam pelo bem do sistema e não pela sua vantagem estreitamente definida. O interesse internacional deve ser servido; e se isso significa alguma coisa, significa que os interesse nacionais lhe são subordinados. Um forte sentido de risco e aniquilação pode levar a uma clara definição dos fins que têm de ser alcançados. Grandes tarefas podem ser realizadas apenas por agentes de grande capacidade. é por isso que os estados, e em especial, os grandes estados, são chamados para fazer o que é necessário para a sobrevivência do mundo. Mas os estados tem de fazer o que quer que considerem necessário para sua própria preservação, uma vez que que não podem confiar em ninguém para fazer isso por eles. Uma macroteoria de relações internacionais iria mostrar como o sistema internacional é mudado por grandes agregados do sistema - valor do PNB mundial, valor de importações e exportações mundiais, numero de mortos na guerra, valor dos gastos globais em defesa, e migrações por exemplo. Os estados que enfrentam problemas globais são como consumidores individuais encurralados pela tirania das pequenas decisões. Os estados, tal como os consumidores, só podem sair da armadilha de mudarem a estrutura do seu campo de atividade. O único remédio para um efeito estrutural forte é uma mudança estrutural. AS VIRTUDE DA ANARQUIA Para alcançar os seus objetivos e manter a sua segurança, as unidades numa condição de anarquia devem confiar nos meios que podem gerar e nos acordos que podem fazer para elas próprias. Auto-ajuda é, necessariamente, o principio de ação numa ordem anarquia. Uma situação de auto-ajuda é uma situação de alto risco - falência, domínio econômico e guerra. Também é uma situação na qual os custos organizacionais são baixos. As organizações têm, pelo menos, dois objetivos: realizar algo e manter-se como organização. A par com as vantagens das ordens hierárquicas vêm os custos. Além disso, em ordens hierárquicas os meios de controle tornam-se com esforços para influenciar ou controlar os controladores. A ordenação hierárquica de políticas é mais um dos já inúmeros objetos de luta. Numa sociedade de estados com pouca coerência, as tentativas de um governo mundial seriam fundadas na incapacidade de uma autoridade central emergente, de mobilizar recursos necessários para criar e manter a união do sistema regulando e administrando suas partes. Os estados não podem confiar poderes administrativos a uma agencia central a não ser que essa seja capaz de proteger os seus estados clientes. Quanto mais poderosos forem os clientes e quanto mais o poder de cada um deles aparecer como uma ameaça aos outros, maior tem de ser o poder alojado no centro. Quanto maior o poder do centro, mais forte o incentivo para os estados se envolverem numa luta pelo se controle. As Organizações que estabelecem relações de autoridade e controle podem aumentar a segurança à medida que diminuem a liberdade. Quanto mais influente for a agencia, mais forte se torna o desejo de a controlar. Em contraste, as unidades numa ordem anarquia atuam pelo seu próprio bem e não pelo bem da preservação de uma organização e do favorecimento da sua sorte dentro dela. A força é usada parao interesse próprio de cada um. Na ausência de organização, as pessoas ou estados são livres para deixarem os outros em paz. Desprovido de qualquer possibilidade em direção à hegemonia mundial, o uso privado da força não ameaça o sistema das relações internacionais, apenas alguns dos seus membros. A guerra opõe uns estados a outros numa luta entre entidades similarmente constituídas. O poder do forte pode impedir o fraco de conseguir as suas reclamações, não porque o fraco reconheça uma espécie de legitimidade de governo da parte do forte, mas simplesmente porque não é sensato envolver-se com ele. Inversamente, o fraco pode gozar de uma considerável liberdade de ação se lhe forem retiradas as suas capacidades pelo forte de forma a que o forte não se importe com as suas ações ou se preocupe com aumentos insignificantes das suas capacidades. Na dicotomia vertical-horizontal, as estruturas internacionais assumem a posição mais propicia. Os ajustamentos são feitos internacionalmente, mas são feitos sem um acusados formal ou autoritário. Os ajustamentos e as acomodações procedem da adaptação mútua. As partes se preenchem umas as outras, e definem uma situação simultaneamente com o seu desenvolvimento. A maneira e a intensidade da competição é determinada pelos desejos e as capacidades das partes que estão, ao mesmo tempo, separadas e interagindo. Quer seja ou não pela força, cada estado segue o caminho que pensa servir melhor os seus interesses. A possibilidade da força ser usada por uma ou outra das partes parece sempre como uma ameaça de fundo. Limitar a força a ser ultima ratio da política implica a submissão previa da força aos métodos da razão. A possibilidade constante de que a força será usada, limita as manipulações, modera as exigências, e serve como um incentivo para a resolução das disputas. ANARQUIA E HIERARQUIA As relações internacionais são descritas como tendo partículas de governos mescladas por elementos de comunidades - organizações supranacionais quer sejam universais ou regionais, alianças, corporações multinacionais, redes de comércio… Assim, pensa-se nos sistemas político-internacionais como sendo, mais ou menos, anárquicos. As anarquias são ordenadas por justaposição de unidades similares. Alguma especialização por função desenvolve-se entre elas. As hierarquias são ordenadas pela divisão social do trabalho entre unidades que se especializam em diferentes tarefas, mas a semelhava das unidades não se desvanece. Todas as sociedades são organizadas segmentadas ou hierarquicamente em maior ou menor grau. Nem os Estados que povoam um mundo anárquico acham impossível trabalhar uns com os outros, fazer acordos que limitem o seu armamento, e cooperar no estabelecimento de organizações. Os elementos hierárquicos dentro das estruturas internacionais limitam e restringem o exercício da soberania mas apenas de formas fortemente condicionadas pela anarquia do maior sistema. A anarquia dessa ordem afeta fortemente a possibilidade de cooperação, a extensão de acordos sobre armamento, e a jurisdição das organizações internacionais. _______________ Como pode ser construída uma teoria das relações internacionais? Temos que imaginar as relações internacionais como um domínio específico; depois temos que descobrir algumas regularidades dentro dela; desenvolver uma forma de explicar as regularidade observadas. Onde quer que os agentes e as agencias se juntem pela força e pela competição e não pela autoridade e pela lei esperamos encontrar comportamentos e resultados com padrões repetidos e duradouros; e estão intimamente identificados a a abordagem da Realpolitik. Os elementos da Realpolitik são: interesse do governante, e, depois, do estado, proporciona a génese da ação; as necessidades da política resultam da competição desregulada dos estados; o calculo baseado nessas necessidades pode identificar as políticas que melhor servirão os interesse de um estado; o sucesso é o teste ultimo da política, e o sucesso é definido como preservador e fortalecedor do estado. A Realpolitik indica os métodos pelos quais a política externa é conduzida e fornece um fundamento lógico para eles. Os constrangimentos estruturais explicam por que motivo os métodos são repetidamente usados apesar das diferenças nas pessoas e nos estados que os usam. A teoria da balança de poder tenta explicar o resultado que tais métodos produzem. Uma teoria contem uma assunção teórica, que não é factual; as teorias devem ser avaliadas em termos do que afirmam explicar; além disso, a teoria, como um sistema explanatório geral, não pode explicitar particularidades. Num sistema de dois poderes a política de balança mantém-se, mas a forma de compensar um desequilíbrio externo incipiente, é, primariamente, intensificar os esforços internos. Às assunções da teoria acrescentamos então a condição para a sua operação: que dois ou mais estados coexistam num sistema de auto-ajuda, um sistema se nenhuma agente superior para vir em auxilio dos estados que podem estar a enfraquecer ou para negar qualquer um deles o uso de quaisquer instrumentos que pensem que servirão os seus propósitos. A teoria é, então, construída a partir das motivações assumidas dos estados e das ações que a elas correspondem. Descreve os constrangimento que resultam do sistema que essas ações produzem, e indica o resultado esperado: formação de balanças do poder. Um sistema de auto-ajuda - baseado no interesse próprio - é um sistema no qual aqueles que não se ajudam a si mesmos, ou os que o fazem menos eficazmente do que outros, não conseguirão prosperar e expor-se-ão ao perigo. O medo dessas consequências estimula os estados a comportarem-se de formas que tendem para a criação de balanças de poder. Qualquer teoria cobre alguns assuntos e deixa outros de fora. A teoria da balança do poder é uma teoria sobre os resultados produzidos pelas ações desordenadas dos estados. A teoria faz assunções sobre os interesses e os motivos dos estados, em vez de os explicar. O que explica são os constrangimentos que confinam todos os estados. A percepção clara dos constrangimentos fornece muitas pistas para as reações esperadas dos estados, mas por si mesmo a teoria não pode explicar essas reações. Dependem não só dos constrangimentos internacionais mas também das características dos Estados. ____________ Se uma teoria descreve um domínio, e mostra a sua organização e as conexões entre as suas partes, então podemos comparar características do domínio observado com a imagem que a teoria retratou. Podemos perguntar se os comportamentos e os resultados esperados são repetidamente encontrados onde aparecem as condições contempladas pela teoria. Além do mais, as teorias estruturais ganham plausibilidade se as similaridades de comportamento forem observadas através de domínios que são diferentes na substância mas similares na estrutura, e se as diferenças de comportamento forem observadas onde os domínios são similares na substancia mas diferentes na estrutura. Dada a dificuldade em testar qualquer teoria, e a dificuldade acrescida de testar teorias em campos não experimentais como as relações internacionais, devíamos explorar todas as formas de testar - tentar falsificar, engendrar testes confirmatórios difíceis, comparar características do mundo real e do mundo teórico, comparar comportamentos em domínios de estruturas similar ou diferente. Na anarquia, a segurança é o fim mais importante. Apenas se a sobrevivência for assegurada é que os estados podem com segurança procurar outros objetivos como a tranquilidade, o lucro e o poder. Porque o poder é um meio e não um fim, os estados preferem juntar-se à mais fraca de duas coligações. Não podem deixar o poder, um meio possivelmente util, tornar-se o fim que perseguem. O objetivo que o sistema encoraja a perseguir é a segurança. O aumentodo poder pode ou não servir a esse fim. Se os estados desejassem maximizar o poder, juntar-se-iam ao lado mais forte, e veríamos não a formação de balanças mas a forja de uma hegemonia mundial. A primeira preocupação dos estados não é maximizar o poder mas manter as suas posições no sistema. A teoria descreve as relações internacionais como um domínio competitivo. Os efeitos da competição não estão confinado ao domínio militar. A justaposição próxima dos estados promove a sua parecença através das desvantagens que surgem do fracasso de se conformarem às praticas bem sucedidas. É essa parecença, um efeito do sistema , que é, tantas vezes atribuída à aceitação das chamadas regras de comportamento estadual. Da teoria, prevemos que os estados irão envolver-se em comportamentos equilibrados, que seja ou não a balança de poder o objetivo dos seus atos. Prevemos também uma forte tendência em direção ao equilíbrio do sistema. Uma vez que a teoria descreve as relações internacionais como um sistema competitivo, prevemos mais especificamente que os estados exibirão características comuns aos competidores: que se imitando uns aos outros e se tornarão socializados no seu sistema. CAPITULO 8 - CAUSAS ESTRUTURAIS E EFEITOS MILITARES Para se estabelecer as virtudes de um sistema bipartidário é necessário comparar sistemas de diferentes números. Sistemas anárquicos são transformados apenas por mudanças na organização dos princípios e pela consequente mudança no numero de suas principais partes. Falar que o sistema político- internacional é estável significa: que ele permanece anárquico e que não houve nenhuma variação consequente no numero de partes principais que constituem o sistema. Variações consequentes no número são mudanças no numero que levam a diferentes expectativas sobre os efeitos da estrutura nas unidades. A estabilidade do sistema, contanto que permaneça anárquico, está intimamente ligada com o os principais membros. Essa ligação é estabelecida pela relação das mudanças no número de grandes potências para transformação do sistema. O numero de grandes potências tende a permanecer o mesmo ou variar muito pouco, consequentemente, quando uma potência começa a declinar ela é substituída por outras. A ligação entre a sobrevivência de grandes potências em particular e a estabilidade dos sistemas é enfraquecida pelo fato de que nem todas as mudanças de numero são mudanças do sistema. O sistema bipolar e o multipolar são distinções aceitas, e sua diferença é a Balança de poder. Quando duas potências prevalecem, alterações na balança podem ser ajustadas apenas por esforços internos. Com mais de duas potências, mudanças de alinhamento necessitam de ajustes, adicionando flexibilidade no sistema. A transição de um sistema para outro é marcado porque a oportunidade oferecida para a balança de poder pela combinação de poderes de varias formas mudam os resultados esperados. Sabemos que quanto mais o numero de potências aumenta maior o numero de complicações devido a dificuldade de todos agirem pelos mesmos costumes e por causa do grande numero de coalizões que podem se formar. __________ Com apenas duas potências, a balança de poder do sistema é instável; quatro poderes são necessários para seu funcionamento adequado. Cinco potências, servindo ao equilíbrio, adicionam um refinamento ao sistema. A noção da balança é mais uma generalização histórica do que um conceito teórico, desenhada pelo papel dos britânicos nos séculos XVIII e XIX. Não há razão para se acreditar que a parte impar será capaz e estará disposto a servir como balanceador. Com mais de dois estados, a política do poder por sua vez, sobre a diplomacia pela qual as alianças são feitas, é mantida e interrompida. Na questão da segurança, alianças devem ser feitas; uma vez feitas devem ser gerenciadas. Alianças são feitas por estados que possuem alguns, mas não todos, interesse em comum. Esse interesse comum é normalmente o medo dos outros estados. Se blocos em competição parecerem balanceados, e se a competição se tornar uma questão importante, então tentar derrubar o outro lado é um risco de destruição própria. Em momentos de crise a parte mais fraca ou mais aventureira é suscetível de determinar a política de seu próprio lado. A proximidade de equidade de aliados fazem com que sejam intimamente interdependentes. A interdependência desses, somada a aguda competição entre os dois blocos, significa que enquanto qualquer país puder comprometer seus associados, nenhum país, de qualquer um dos lados poderá exercer o controle. Num sistema multipolar existem muitos poderes para permitir que qualquer um deles desenhe linhas claras e fixas entre aliados e adversários, e muito poucos para manter baixo os efeitos da deserção. Com três ou mais poderes, a flexibilidade das alianças mantêm as relações e amizade e inimizade fluidas e faz estimativa das relações das forças externas, presentes e futuras, de todos. No mundo bipolar, a interdependência militar declina mais acentuadamente do que a interdependência econômica. As forças se contrabalanceiam mais por meios internos do que externos, confiando em sua própria capacidade ao invés da capacidade dos aliados. O balanceamento interno é mais confiável e preciso do que o externo. No mundo bipolar, as incertezas diminuem e os cálculos são mais fáceis de serem feitos. No mundo multipolar, os lideres dos blocos devem estar preocupados com: a administração da aliança, uma vez que a deserção de qualquer aliado pode ser fatal para seus parceiros, e com os objetivos e capacidades do bloco opositor. Nas alianças entre iguais, a deserção de uma das partes ameaça a segurança das outras. Em alianças entre diferentes, as contribuições dos membros inferiores são ao mesmo tempo requeridas e de importância relativamente pequena. Onde as contribuições de parte dos membros são muito importante aos demais, estes têm maiores incentivos para persuadir os outros para adotarem suas visões estratégicas e táticas e para fazer concessões quando essas persuasões falham. Num mundo bipolar, assim como no multipolar, os lideres das alianças devem tentar extrair o máximo de contribuições de seus associados. As contribuições são úteis mesmo num mundo bipolar, mas não são indispensáveis. A interdependência militar é menor num mundo bipolar e maior num multipolar. As grandes potências no mundo multipolar dependem dependem umas das outras para suporte político e militar nas crises e guerras. No novo estilo de balança de poder político, a rigidez de alinhamento num mundo de duas potências contribui para a flexibilidade da estratégia e do alargamento da liberdade de decisão. Num mundo multipolar, os estados normalmente reúnem seus recursos para servirem aos seus interesses. Partes iguais engajadas em esforços cooperativos devem procurar um denominador comum das suas políticas. Já no mundo bipolar, os lideres das alianças fazem suas estratégias de acordo com seus próprios cálculos de interesses. As estratégias podem ser designadas mais para cooperar com o adversário e menos para satisfazer seus aliados. Os lideres das alianças não estão livres de constrangimentos. Os maiores constrangimentos, no entanto, surgem do principal adversão e não a partir de seus próprios aliados. __________ Nas políticas das grandes potências do mundo multipolar, quem é o perigo para o outro, e de quem é esperado lidar com as ameaças e problemas, é relativamente incerto. Já no mundo bipolar, quem é o perigo para o outro nunca é uma duvida. Grande diferença entre as políticas de poder dos dois sistemas. A guerra, ou a ameaça de guerra é uma preocupação para as duas superpotências se isso significar ganhos ou perdas para qualquer uma delas. Numa competição entre duas potências a perda para uma parece ser um ganho para a outra. Num mundo multipolaros perigos estão difusos, as responsabilidade são incertas, e as definições dos interesses vitais são facilmente obscurecidas. Quando um numero de estados estão em balança, a política externa de um poder externo é feita para ganhar vantagem sobre um estado sem antagonizar ou ameaçar os outros, para que eles não se unam numa ação conjunta. Crises são produzidas pela determinação de um estado para resistir sobre as mudanças que outro está tentando criar. Num mundo bipolar não existem periferias, pois apenas dois poderes são capazes de agir em escala mundial, qualquer coisa que aconteça em qualquer lugar é uma potência preocupação para ambos. Como as alianças não são muito relevantes para as superpotências, elas se concentram em seus próprios dispositivos. Num mundo multipolar, quem é o perigo para quem é normalmente incerto; o incentivo a considerar todas as mudanças desequilibradoras com preocupação e responder a elas com o esforço necessário, é consequentemente fraco. No mundo bipolar, mudanças afetam os dois poderes diferentemente, isso significa que as mudanças no mundo ou no âmbito nacional passam a ser consideradas muitas vezes como irrelevantes. Quanto mais estendida, mais a competição se torna abrangente. A auto-dependência das partes, clareza dos perigos, e certeza sobre quem está contra quem são características das políticas das grandes potências no mundo bipolar. Num mundo em que dois estados estão unidos em seu antagonismo mutuo, os incentivos para se calcular as responsabilidades ficam mais claras, e as sanções contra comportamentos irresponsáveis atingem sua maior força. No sistema bipolar a tenção é grande, porque um pode fazer muito por ele e para o outro; mas porque nenhum apelo pode ser feito a um terceiro, a pressão para se moderar o comportamento é grande. A barganha entre mais de duas partes é difícil. No mundo multipolar, cada estado se preocupa com o modo com que sua posição será afetada pela combinação de sua decisão com a dos outros e o que isso vai causar. A simplicidade da relação no mundo bipolar a a forte pressão gerada faz com que as duas potências sejam conservadoras. Para se explicar os resultados deve-se reparar na capacidades, nas ações e nas interações entre os estados, assim como a estrutura desses sistemas. Os estados armados nuclearmente tem incentivos mais fortes para não entrarem numa guerra. Entre as partes de um sistema de auto-ajuda, as regras de reciprocidade e perigo prevalecem. Suas preocupações com a paz e estabilidade fazem com q se unam, e assim são chamados de parceiros adversários. _________ As grande potências são fortes não só pelo fato de possuírem armas nucleares mas também porque seus imensos recursos as permitem gerar e manter diversos tipos de poder, militar e outros, em termos de estratégia e níveis táticos. A barreira para se tornar uma superpotência nunca foi tão grande e numerosa. _________ Estados poderosos usam sua força com menos frequência do que seus vizinhos mais fracos, pois sua força pode proteger seus interesses com mais frequência, ou permitir que trabalhem seus desejos por outros meios - persuasão, sedução, barganha econômica ou suborno, e ameaça. A presença diária da força marca as relações entre os estados. O uso da força militar intencional é um meio de estabelecer controle sobre um território, e não exercer controle nele. Usar poder é aplicar capacidade em uma tentativa de mudar o comportamento de outro estado em determinadas maneiras. Para ser politicamente pertinente, o poder tem que ser definido em termos de distribuição de capacidades. _________ As grandes potências de um mundo bipolar são mais auto-suficientes, assim, a interdependência entre elas diminui. Duas grandes potências podem conviver melhor do que mais potências. _______________________________________________________________________________ RESUMO DO TEXTO “AFTER HEGEMONY” - KEOHANE CAPITULO 4 - Cooperação e Regimes Internacionais A liderança hegemônica pode ajudar a se criar um padrão de ordem. Cooperação não é a antítese da hegemonia; ao contrário, a hegemonia depende de certa forma da cooperação assimétrica; que sucessivos hegemons apoiam e mantêm. A tensão crucial entre a economia e a política é: coordenação internacional da política parece ser benéfica numa interdependência do mundo econômico; mas a cooperação no mundo politico é particularmente difícil. Uma maneira de se diminuir essa tensão pode ser a recusa da premissa de que uma coordenação da economia política internacional é valiosa assumindo que os mercados internacionais vão automaticamente render melhores resultados. Na ausência de cooperação, os governos irão interferir nos mercados unilateralmente em busca do que consideram seus próprios interesses. Irão interferir nos mercados cambiais, impor varias restrições à importações, subsidiar as industrias domésticas, e fixar preços de commodities, como o petróleo. Regimes devem ser mantidos, e devem continuar promovendo a cooperação, mesmo sobre condições que podem não ser suficientemente favoráveis trazer sua criação. A cooperação pode ser possível depois da hegemonia não apenas pelo fato de que seus interesses em comum podem conduzir a criação de um regime, mas também porque as condições para se manter um regime internacional já existente são menos demandadas do que a criação deles. Harmonia, Cooperação, e Discórdia Harmonia se refere a situação em que os atores políticos - perseguindo seus próprios interesses - automaticamente facilitam a realização dos objetivos dos outros. Onde a harmonia reina, a cooperação é desnecessária. A cooperação requere que as ações dos indivíduos separados ou das organizações estejam em conformidade como um processo de negociação - coordenação política. A cooperação ocorre quando os atores ajustam seu comportamento às preferências reais ou esperadas dos outros, através de um processo de coordenação política. A Cooperação Intergovernamental ocorre quando as políticas seguidas por um governo são considerados por seus parceiros como facilitadora da realização dos seus próprios objetivos, como o resultado de um processo de coordenação política. Discórdia muitas vezes leva a esforços para induzir os outros a mudar suas políticas; quando essas tentativas encontram resistência, resulta em conflitos políticos. A coordenação política que conduz à cooperação não precisa envolver barganha ou negociação, algumas vezes. Mas, frequentemente, a negociação e a barganha acontecem, as vezes acompanhada por outras ações que forem designadas para induzir os outros a ajustarem suas políticas. Cada governo persegue o que percebe como seu interesse próprio, mas procura por barganhas que podem beneficiar todas as partes para o acordo, embora não necessariamente de forma igual. Harmonia á apolítica; nenhuma comunicação é necessária, e nenhuma influencia tem que ser exercida. A cooperação, em contraste, é altamente política: as vezes, padrões de comportamento devem ser alterados. Essa mudança pode ser realizada por meio de incentivos negativos ou positivos. Estudos de crises internacionais mostram que sob varias condições as estratégias que envolvem ameaças e punições, assim como promessas de recompensas são mais efetivas em termos de cooperação do que aquelas que dependem inteiramente da persuasão e da força do bom exemplo. A cooperação é criada apenas quando os atores percebem que suas políticas estão potencialmente e conflito, e não quando há harmonia. Assim, a cooperação deve ser vista como uma reação ao potencial conflito. Mesmo quando o poder ou motivações de posição não estiverem presentes, e se todos os participantes poderão se beneficiar de um agregado do comercio liberal, as discordâncias tendem a ser predominantes sobre a harmonia como resultado inicial da ação ação governamental independente.Isso ocorre mesmo sob outras formas de condições benéficas por que alguns grupos ou industrias são forçados a incorrer em custos de ajuste como mudanças na vantagem comparativa. Os governos muitas vezes respondem às demandas que se seguiram para a tentativa de proteção, mais ou menos de forma eficaz, para amortecer os encargos do ajustamento para grupos e indústrias que são politicamente influentes. Os governos entram nas negociações internacionais para reduzir os conflitos. Mesmo o potencial de benefícios comuns não criam harmonia quando o poder estatal pode ser exercido a favor de certos interesse e contra outros. Regimes Internacionais e a Cooperação Precisamos analizar a cooperação no contexto das instituições internacionais nos termos das praticas e das expectativas. Qualquer ato de cooperação ou discórdia afetam as crenças, regras e práticas que formam o contexto das ações futuras. Cada ato deve, portanto, ser interpretado como incorporado dentro de uma cadeia de tais atos e seus sucessivos resíduos cognitivos e institucionais. Qualquer ato de cooperação ou cooperação aparente deve ser interpretado no contexto das ações relacionadas, e das expectativas prevalecentes e crenças compartilhadas, antes de seu significado poder ser devidamente compreendido. Fragmentos do comportamento politico se tornam compreensíveis quando vistos como parte de um grande mosaico. O conceito de regime internacional nos permite descrever os padrões da cooperação e também da discórdia. Definindo e Identificando Regimes Regimes internacionais podem ser conjuntos de princípios implícitos ou explícitos, normas, regras e procedimentos de tomada de decisão que giram em torno das expectativas convergentes dos atores numa determinada area de relações internacionais. Princípios são crenças, nexo de causalidade e retidão; no geral, definem os propósitos que seus membros pretendem perseguir. Normas são padrões de comportamento definidos em termos de direitos e obrigações. Regras são prescrições específicas ou proscrições da ação. Procedimento de tomada de decisão são praticas prevalecentes para se fazer e implementar escolhas coletivas. O conceito de regime internacional é complexo porque é definido em quatro componentes distintos - os citados acima. Princípios, normas, regras e procedimentos contêm injunções sobre o comportamento. As injunções podem ser, em seus extremos, mais ou menos especificas, ou ser ainda meramente técnicas. Mas, são as injunções intermediárias - politicamente consequentes, mas específicas o suficiente para que as violações e as mudanças possam ser identificadas - que são a essência dos regimes internacionais. Consideramos o alcance dos regimes internacionais como correspondente, em geral, aos limites das areas temáticas, desde que os governos estabeleçam regimes para lidar com os problemas que consideram tão estreitamente ligados que devem ser tratados em conjunto. Auto-ajuda e Regimes Internacionais As injunções dos regimes internacionais raramente afetam as transações econômicas: instituições estatais, e não organizações internacionais, impõem tarifas e cotas, intervêm nos mercados cambiais e manipulam os preços do petróleo por meio de impostos e subsídios. Os regimes internacionais devem ser distinguidos dos acordos específicos que afetam o exercício do controle nacional; a principal função dos regimes é facilitar a criação de acordos de cooperação específicos entre os governos. A soberania e a auto-ajuda significam que os princípios e regras dos regimes internacionais serão necessariamente mais fracos na sociedade domestica. Mesmo que os princípios da soberania e auto-ajuda limitem o grau de confiança nos acordos internacionais, eles não tornam a cooperação impossível. Não há razões lógicas ou empíricas para que interesses mútuos no mundo da política devam ser limitados pelos interesses em combinar forças contra adversários. Os regimes internacionais devem ser entendidos principalmente como arranjos motivados por interesses próprios: como componentes do sistema em que a soberania ainda é um principio constitutivo. Os realistas enfatizam que os regimens serão formados principalmente pelos membros mais poderosos, defendendo seus interesses. Mas os regimes pode também afetar os interesses dos estados, para a noção de que os próprios interesses são elásticos e muito subjetivos. A percepção dos interesses próprios depende tanto das expectativas do atores sobre as consequências de ações particulares quanto dos seus valores fundamentais. Os regimes podem certamente afetar as expectativas e os valores. Os regimes podem facilitar a operação de descentralização do sistema politico internacional e, portanto, realizar uma importante função para os Estados. Em uma economia política mundial caracterizada pela crescente interdependência, os regimes podem se tornar cada vez mais úteis para os governantes que desejam resolver problemas em comum e buscar propostas complementares sem se subordinar ao sistema hierárquico de controle. Conclusões A cooperação internacional foi definida como um processo através do qual as políticas seguidas pelos governos de fato vêm a ser consideradas pelos seus parceiros como facilitadoras da realização dos seus próprios objetivos, como resultado de coordenação política. A cooperação envolve ajusto mutuo e pode surgir apenas de um conflito ou de um potencial conflito. Uma vez que os regimes internacionais refletem padrões de cooperação e discórdia ao longo do tempo, focar nesses nos leva a examinar os padrões de comportamento a longo prazo, em vez de tratar os atos de cooperação como eventos isolados. Regimes consistem em injunções em vários níveis de generalidade, que vão desde princípios e normas à regras muito específicas e procedimentos de tomada de decisão. Os regimes podem ser vistos, por um lado, como fatores intermediários entre características fundamentais do mundo politico, como a distribuição internacional de poder, e por outro o comportamento dos estados e atores não estatais. As normas e regras de regimes podem exercer um efeito sobre o comportamento, mesmo se eles não incorporam ideais comuns, mas são usados por estados e corporações com interesses próprios envolvidos em um processo de ajuste mútuo. _________________ CAPITULO 5 - Escolha racional e explicações funcionais A discórdia é natural, senão inevitável, resultado das características dos atores e suas posições relativas. Keohane adota o modelo realista do egoísmo racional. Pretende demonstrar que as assunções realistas sobre o mundo politico são consistentes com a formação de arranjos institucionais, contendo regras e princípios que promovem a cooperação. Dilema do Prisioneiro e o problema da ação coletiva O Dilema do Prisioneiro mostra que sob certas condições racionais, os atores possuem certos graus de interesse semelhantes entre eles. Do calculo desse dilema, somos levados a concluir que dois indivíduos racionais e egoístas, irão ambos confessar e receber a sentença menor por cooperarem entre si. Entretanto, não cooperar parece ser a estratégia dominante entre eles. Recompensa: 4>3>2>1 Se A e B cooperarem a recompensa será (3,3) Se A Cooperar e B não cooperar a recompensa será (1,4) Se A não cooperar e B cooperar a recompensa será (4,1) Se A nem B cooperarem a recompensa será (2,2) Quando a contribuição de cada membro para o custo do bem é pequeno em proporção do seu custo total, os indivíduos com interesses próprios são susceptíveis de calcular que eles estão em melhor situação por não contribuir, uma vez que a sua contribuição é cara para eles, mas tem um efeito imperceptível sobre a produção do bem. Assim, a estratégia dominante para um individualista egoísta é a não cooperar, não contribuindo para a produção do bem. O dilema do prisioneiroe a lógica da ação coletiva sugerem a explicação na qual atribui causalidade à natureza do sistema internacional ao invés da natureza dos estados. O dilema do prisioneiro e a lógica da ação coletiva focam suas atenções nas questões de execução, compromisso e interação estratégica, os quais são importantes para a política mundial. Focam ainda na maneira com que as barreiras à informação e comunicação no mundo politico podem impedir a cooperação e criar a discórdia mesmo quando existem interesses em comum. Limitações do modelo da escolha racional: escolha, anomia e ética. O Dilema do Prisioneiro é tomado como um paradigma que mostra porque a discórdia prevalece sobre a cooperação. O autor deseja, entretanto, mostrar que se usarmos a escolha racional propriamente teórica, podemos esperar a cooperação nas relações internacionais dos países com uma avançada economia de mercado, e a teoria da escolha racional e dos bens coletivos ajudam a mostrar porque as instituições são significantes no mundo politico, e cruciais para o sucesso da cooperação. Existem três importantes distorções dos modelos de escolha racional: 1) assumir que as decisões dos estados são de alguma forma voluntárias, ignorando as desigualdades de poder entre os atores; 2) igualar a premissa do egoísmo como uma assunção sobre o a sociedade individual como um todo; 3) racionalidade ser confundida com egoísmo. Escolha e constrangimento Usar a teoria da escolha racional para o estudo da cooperação internacional implica que as decisões relevantes dos governantes, e outros atores, sobre como cooperar pode ser tratada como sendo voluntárias. Mas a noção de ação voluntária, num mundo em que os instrumentos militares e econômicos de coerção estão disponíveis, parece ser problemática. Para solucionar esse problema deve-se analisar a cooperação no sistema internacional de forma a distinguir dois aspectos do processo pelo qual os regimes internacionais agem: imposição de constrangimentos e a tomada de decisões. Qualquer acordo que resulte de barganha será afetado pelo diferente custo de oportunidade das alternativas apresentadas aos vários atores. A relançar de poder e dependência no mundo politico é importante para determinar as características dos regimes internacionais. Assim, na aplicação da teoria da escolha racional para a formação e manutenção dos regimes internacionais, temos que se continuamente sensíveis ao contexto estrutural em que os acordos foram feitos. A escolha voluntária não implica igualdade de situação; no que diz respeito aos resultados, os constrangimentos devem ser mais importantes que o processo de escolha propriamente dito. Numa analise da escolha racional voluntária, assume-se que cada ator calculou que ser membro de um regime é melhor que estar fora dele - levando em consideração a estrutura dos constrangimentos. Entretanto, a importância dos constrangimentos prévios, e das desigualdades de poder que estão por trás, nos lembram que os resultados da barganha voluntária não serão inteiramente benignos. Não há garantia que a formação do regime internacional terá benefícios gerais de bem-estar. Egoísmo e anomia É um erro assumir que o egoísmo racional pode ser igualado com a assunção de que os atores são indivíduos anêmicos, fora da sociedade humana. Os indivíduos egoístas estão ligados por uma sociedade em comum, com expectativas de interação, e possuem princípios éticos semelhantes. Racionalidade e ética A escolha racional não implica necessariamente em o indivíduo seja egoísta. Mas para se usar a lógica da escolha racional deve-se fazer assunções sobre os valores e interesses dos atores, pois a a lógica sozinha é empiricamente vazia. Pode-se considerar que os atores possuem valores transmitidos pela sociedade, ou seguem princípios de justiça, uma vez que são puros individualistas possessivos. Dilema do Prisioneiro e ação coletiva em pequenos grupos Se o jogo for jogado repetidamente pelos mesmos jogadores - Dilema do Prisioneiro - é acordado que os jogadores irão racionalmente cooperar. Para a cooperação prevalecer, as recompensas futuras devem ser valorizadas; caso contrario, eles preferirão não cooperar para adquirem resultados melhores no presente. Os incentivos para cooperação dependem também da boa vontade de um dos oponentes para retaliar a não cooperação. Entre os países industrialmente avançados, as negociações raramente dependerão de mais dos poucos e cruciais participantes. Mesmo sem a existência de um hegemôn, um pequeno numero de atores serão capazes de realizar essa tarefa juntos. Cooperação egoista e a criação de regimes internacionais Um hegemôn pode ajudar a criar interesses comuns, criando recompensas para a cooperação e punições para a não cooperação; mas onde não existe um hegemôn, recompensas e punições semelhantes podem ser providenciadas se as condições forem favoráveis. Os resultados devem ser determinados por um numero relativamente pequeno de atores que podem monitorar o cumprimento de cada um com as regras e práticas e que seguem estratégias que fazem o bem-estar de outros governos dependentes de sua contínua conformidade com os acordos e entendimentos. A habilidade de criar a cooperação quando isso é desejado pelo governos dependerá também dos padrões dos regimes já existentes. A criação de um novo regime internacional deve ser facilitada pela confiança mutua. Incentivos para fõmãçnao de regimes internacionais dependem fundamentalmente da existência de interesses em comum. Esses interesses devem refletir os ganhos a serem obtidos pela exploração mais efetiva dos outros - criando e dividindo rendas. Devem ser baseados também no desejo mutuo de aumento da eficiência das trocas que se comprometem. Explicações funcionais e a teoria da falha de mercado Os custos de oportunidade são determinados pelo ambiente de natureza assim com as características dos atores. Instituições, interpretadas pela escolha racional, afetam o contexto da escolha, e assim da oportunidade de custos de alternativa. A ação coletiva, o Dilema do Prisioneiro e a falha de mercado sugerem a plausibilidade da explicação funcional para o desenvolvimento das instituições. As instituições são formadas para superarem as deficiências que fazem impossível a consumação de acordos mutualmente benéficos. Antecipam os efeitos e explicam suas causas. Conclusões O modelo do egoísmo racional não prevê que, necessariamente, a discórdia irá prevalecer entre os atores independentes numa situação de anarquia. Ao contrário, mostra que se os egoístas puderem monitorar o comportamento uns dos outros e se isso for suficiente eles estarão dispostos a cooperar na condição de que o outro também coopere, devendo ser capazes de ajustar seus comportamentos para reduzirem a discórdia. Devem criar e manter princípios, normas, regras e procedimentos - instituições referidas como regimes. Esses regimes facilitam ajustes não negociados fornecendo diretrizes para o comportamento dos estados: os regimes podem providenciar regras gerais para os atores trabalharem sob constrangimentos da racionalidade limitada. Instituições criadas propriamente pode ajudar os egoístas a cooperarem mesmo sem um poder hegemônico. Ou seja, para que os atores egoístas cooperem é necessário aumentar a previsibilidade de seus comportamentos, por meio de regras claras. _________________ CAPITULO 6 - A teoria funcional dos regimes internacionais Falha de mercado politica e o Teorema de Coase O mundo politico é caracterizado por deficiências institucionais que inibem a cooperação para vantagens mutuas. Sob certas condições, declarou Coase, a barganha entre os atores podem chegar a soluções que que são ótimo de Paretto independentemente das regras da responsabilidade legal. O teorema de Coase é frequentementeusado para mostrar a eficácia da barganha sem uma autoridade central, e aplicada especifica e ocasionalmente nas relações internacionais. O principio da soberania estabelece regras de responsabilidade que colocam o fardo de externalidades sobre aqueles que sofrem com elas. Esse teorema pode prever problemas da ação coletiva que podem facilmente ser superados na política internacional pela barganha e ajustes mútuos - pela cooperação. Coase especificou três condições cruciais. Um quadro jurídico que estabelece responsabilidades pelas ações, presumidamente suportadas pelas autoridades governamentais; informações perfeitas; e custo de transação zero. Entretanto essas condições não são encontradas no mundo politico. Outra critica ao Coase é que num mundo de custo de transação zero, a instabilidade inerente das coalizões podem resultar no fim do contrato entre as firmas. Então, Coase e seus críticos sugerem que se existir um claro quadro jurídico que estabelece direitos de propriedade e informações de baixo custo disponíveis, de forma aproximadamente igual, a todas as partes, as soluções em cooperação serão facilitadas. Os regimes internacionais preenchem a função de estabelecer padrões de responsabilidade legal, provendo informações relativamente simétricas, e organizando os custos de barganha para que os acordos específicos possam ser feitos mais facilmente. Os regimes são desenvolvidos em parte porque os atores acreditam que com esses arranjos eles serão capazes de fazer acordos mutuamente benéficos que de outra forma seriam impossíveis de ser atingidos. Responsabilidade Legal O significado principal dos regimes internacionais não reside no seu status legal formal, desde que nenhum padrão da responsabilidade legal e dos direitos de propriedade estabelecidos no mundo politico são sujeitos a ser derrubados pelas ações de Estados soberanos. Os regimes são designados não para implementar esforços centralizados de acordos, mas para estabelecer expectativas mutuas estáveis sobre o comportamento do parceiro e para desenvolver um relação que permite que as partes se adaptem suas praticas à nova situação. Custos de Transação Os regimes internacionais alteram os custos de transação. Os regimes internacionais reduzem os custos de transação das barganhas legitimadas e aumentam os custos para as ilegítimas. É mais conveniente fazer um acordo sob um regime do que fora dele. Uma vez que um regime é estabelecido, o custo marginal de lidar com cada questão adicional será menor do que seria sem esse regime. Assim, conclui-se que os regimes internacionais afetam os regimes de transação. O valor de um acordo potencial para suas partes dependerá de quão consistente seus princípios de legitimidade são incorporados nos regimes internacionais. Transações que violem esses princípios serão custosas. Os regimes afetam também os custos burocráticos das transações; pois os regimes de sucesso organizam suas areas de interesse para que ligações produtivas sejam facilitadas, enquanto ligações destrutivas e barganhas inconsistentes com os princípios do regime são desencorajadas. Incerteza e informação Pela perspectiva da teoria da falha de mercado, as funções informacionais dos regimes são as mais importantes. Como vimos nas discussões sobre ação coletiva e Dilema do Prisioneiro, muitas situações, são caracterizadas port conflitos de interesses assim como interesses comuns. Nessa situação, os atores devem se preocupar com enganações e traições. A literatura da falha de mercado elabora que na falta de instituições apropriadas, certas barganhas mutuamente vantajosas não serão feitas por causa da incerteza: informações assimétricas, risco moral e irresponsabilidade. informações assimétricas Alguns atores podem saber mais sobre alguma situação do que outros. Esperando-se que o resultado da barganha será injusto, os que estão por fora serão relutantes em fazer acordos com os que estiverem por dentro. A informação necessária para se entrar em um regime internacional não é meramente informacional sobre os recursos dos outros governos e posições de negociação formais, mas também incluem o conhecimento de suas posições futuras. A reputação de um governo também se torna importante persuadir os outros a entrarem em acordo. Os regimes internacionais ajudam os governos a avaliar a reputação dos demais provendo normas de comportamento, e linkando essas normas a questões especificas, e provendo fóruns, normalmente por organizações internacionais, nos quais essa valoração pode ser feita. Reduzindo as assimetrias informacionais por um processo de aumento do nível geral de disponibilidade de informação, os regimes reduzem a incerteza. risco moral Acordos podem alterar os incentivos, de tal forma a incentivar comportamentos menos cooperativos. O seguro de propriedade enfrenta esse problema de risco moral, por exemplo, faz com que as pessoas se preocupem menos com sua propriedade, e assim aumentam o riso de perda. irresponsabilidade Alguns atores podem ser irresponsáveis, assumindo compromissos que não conseguirão cumprir. Governos ou firmas deve entrar em acordos que tiverem a intenção de cumprir, assumindo que o ambiente permanecerá benigno; se alguma adversidade vier a tona, eles podem não conseguir mais manter seus compromissos. Um parceiro irresponsável é um problema de incerteza. Regimes e falha de mercado Como os princípios e regras de um regime reduzem o alcance do comportamento esperado, a incerteza declina, e como a informação se trona mais disponível, a assimetria de sua distribuição se torna menor. Arranjos no interior dos regimes que monitoram o comportamento dos estados mitigam os problemas de risco moral. os regimes internacionais podem facilitar a cooperação reduzindo a incerteza. Os regimes facilitam acordos por aumentarem antecipadamente os custos da violação do direito de propriedade dos outros, alterarem os custos de transação pelo agrupamento de questões, e por prover informações confiáveis aos seus membros. Regimes são instituições relativamente eficientes, uma vez que possuem princípios, regras e instituições que criam ligações entre as questões que dão incentivos aos atores a firmarem acordos de benefícios mútuos. Complacencia com os Regimes Internacionais Os regimes internacionais são instituições descentralizadas - qualquer sanção pela violação dos princípios ou regas do regime devem ser promulgadas pelos membros individuais. O regime provê procedimentos e regras pelas quais essas sanções possam ser coordenadas. O quebra-cabeça da complacência é como os governos, procurando satisfazer seus próprios interesses, obedecerão as regras dos regimes quando eles veem essas regras como em conflito com seus “auto-interesses míopes”. Esses auto-interesses míopes se referem às percepções dos governos sobre os custos e benefícios relativos das alternativas de ações que consideram uma questão particular, quando essa questão for considerada isolada das outras. Os governos normalmente obedecem as regras que estão em conflito com seus interesses míopes. A complacência requere um exame de como os regimes internacionais afetam o calculo dos interesses próprios em que os governos racionais e egoístas estão engajados. A explicação enfatiza a dificuldade de se estabelecer um regime internacional; por causa dessa dificuldade, é racional obedecer suas regras se a alternativa é seu colapso, uma vez que mesmo um regime imperfeito é superior a qualquer política de substituição possível. O valor dos regimes existentes A importância dos custos de transação e da incerteza significa que é mais fácil manter regimes do que criá-los. Interesses complementares são necessários, mas não são condições suficientes para a criação dos regimes. As relações transgovernamentais podeaumentar a cooperação no mundo politico por proverem informações de alta qualidade aos policymakers sobre o que seus parceiros estão fazendo. Essas relações são beneficiadas pelos regimes. Os princípios, regras, instituições e procedimentos dos regimes internacionais, e seus padrões informais de interação que desenvolvem conjunções, se tornam úteis aos arranjos governamentais permitindo a comunicação, e assim reduzindo os custos de transação e facilitando as trocas de informação. Assim, o valor das funções que exercem aumenta. Assim, mesmo se o poder se tornar mais difuso entre os membros, fazendo o problema da ação coletiva mais severo, essa desvantagem pode ser compensada pelos efeitos das facilidade de acordo devido as informações providas pelo regime. O alto custo de construção de um regime ajuda na persistência da existência desse. Redes de questões e regimes Governos egoístas obedecem as regras porque se não o fizerem, os outros governos irão observar seu comportamento, e valorar negativamente, e talvez retaliá-lo. As vezes a retaliação é especifica e autorizada pelas regras de um regime. Na falta de uma retaliação específica, os governos podem continuar tendo incentivos para obedecerem as regras e princípios dos regimes se estiverem preocupados com os precedentes ou crenças de que sua reputação está ameaçada. Os governos se preocupam com os estabelecimento de maus precedentes porque temem que suas próprias violações da regra promovam a violação da regra pelos outros. Essa quebra das regras gera um mal coletivo. O dilema da ação coletiva é parcialmente resolvido pelo dispositivo da reputação. Ter uma boa reputação é valorável mesmo para os egoístas com pouca atividade coletiva. A importância da reputação é o incentivo para a conformidade com os padrões de comportamento do mundo politico. Como os regimes internacionais, essas regras ajudam a limitar os conflitos de interesse por diminuírem sua ambiguidade - provendo informações sobre quais tipos de comportamento são legítimos. A sanção principal por violar as normas e regras sociais é o custo da reputação. Sempre que parece haver um incentivo para violar o regime, os atores podem calcular o beneficio e os custos, levando em conta os efeitos de sua reputação, assim como a probabilidade de retaliação e os efeitos da violação da regra no sistema como um todo. Normalmente, pelo custo- beneficio, os atores optam por obedecer as regras. Conclusão Os governos obedecem as regras do regime mesmo se não atenderem seus auto-interesses míopes. Os regimes internacionais formam os valores funcionais da redução dos custos das transações legitimadas; enquanto aumentam os custos das ilegítimas. A função mais importante dos regimes é facilitar as negociações permitindo acordos de benefícios mútuos entre os governos. Os regimes afetam também os incentivos para a complacência, ligando as questões e os próprios governos. _______________________________________________________________________________ RESUMO TEXTO BALDWIN - NEOLIBERALISMO, NEOREALISMO E POLÍTICA MUNDIAL Neoliberalismo e Neorealismo: termos do debate contemporâneo A natureza e consequências da Anarquia Apesar de ninguém negar que o sistema internacional é anárquico, descordam no seu significado e importância. Arthur Stein distingue a tomada de decisão independente (anarquia) da tomada de decisão conjunta nos regimes internacionais e sugere que são os interesses próprios e os estados autônomos do estado de anarquia que permitem a criação dos regimes internacionais. Keohane enfatiza a importância de a anarquia ser definida como ausência de governo. Joseph Grieco afirma que os institucionalista neoliberais subestimam a importância das preocupações sobre a sobrevivência como motivações para o comportamento dos estados; o que ele vê como consequência necessária da anarquia. obs.: A anarquia é um obstáculo para a formação dos regimes Para os neorrealistas a natureza é o constrangimento Cooperação Internacional Apesar de ambos os lados concordarem que a cooperação internacional é possível, eles diferem quanto a facilidade e probabilidade de ocorrência dessa. De acordo com Grieco, os neorrealistas vêem que a cooperação internacional é mais difícil de ser atingida, mais difícil de ser mantida, e mais dependente do poder do estado do que os neoliberalistas enxergam. Ganhos relativos versus absolutos Os neoliberais destacaram os ganhos absolutos da cooperação internacional, enquanto que os neorrealistas enfatizaram os ganhos relativos - quando defrontado com a possibilidade de cooperação para ganho mutuo, os estados se sentem inseguros sobre como os ganhos serão divididos; assim a questão é: quem ganhará mais? - . Stein descreve a visão liberal dos interesses próprios como aquela em que os atores com interesses em comum tentam maximizar seu ganho absoluto. Atores que tentam maximizar seus ganhos relativos não possuem interesses em comum. Lipson sugere que as considerações dos ganhos relativos parecem ser mais importante em questões de segurança do que econômicas. Grieco afirma que o institucionalismo neoliberal tem estado preocupado com o atual ou potencial ganho absoluto da cooperação internacional e assim tem negligenciado a importância dos ganhos relativos. Snidal afirma que o problema dos ganhos relativos podem ser expressos em termos de compensação entre os ganhos absolutos de longo e de curto prazo. Mastanduno defende os dois lados do debate. Para Keohane, o importante é se especificar as condições; nota que o comportamento dos estados de possuir ganhos relativos é muito similar ao comportamento de possuir ganhos absolutos. Os caracterização dos ganhos são percebidos de acordo com a importância dada por um estado ao ganho do outro. Prioridades dos objetivos dos Estados Neoliberais e neorrealistas concordam quanto a importância da segurança nacional e do bem-estar econômico; mas diferem na ênfase relativa a esses objetivos. Lipson argumenta que a cooperação internacional é mais favorável nas areas de interesse econômico do que nas de segurança militar. Grieco defende que a anarquia faz com que o estado se preocupe com o poder relativo, segurança e sobrevivência. Powel construi um modelo em que se assume que os estados tentam maximizar seu bem-estar econômico num mundo em que a força militar é uma possibilidade. Intenções versus Capacidades Os neorrealistas contemporâneos enfatizam mais as capacidades do que as intenções, ao contrário do Morgenthau. Krasner critica os neoliberais por enfatizar demais as intenções, interesses e informação, e enfatizar pouco a distribuição de capacidades. Keohane argumenta que que a sensibilidade dos estados pelos ganhos relativos dos outros estados é significantemente influenciada pelas percepções das intenções desses estados, assim, os estados se preocupam mais com os ganhos relativos dos inimigos do que os dos aliados. Na análise de Stein, as capacidades contam apenas se essas afetarem as preferencias e intenções dos estados. Instituições e Regimes Tanto os neorrealistas quanto os neoliberais reconhecem a infinidade de regimes internacionais e instituições que nasceram desde 1945. Eles diferem, entretanto, no que diz respeito ao significado desses arranjos. De acordo com Keohane, os regimes internacionais e instituições de forma mais ampla, se tornaram significativas na política mundial. Os neorrealistas concordam que essa é uma importante ponto de controvérsia; acreditam que os neoliberais exageram na extensão de como as instituições são capazes de mitigar os efeitos dos constrangimentos da anarquia nas relações de cooperação. Anarquia e Ordem social A assunção de que a anarquia desempenha um importante papel é relevante tanto para os neoliberais quanto para os neorrealistas.Ambos concordam também que o mundo politico possui alguma order - mesmo que discordem quanto a natureza, extensão e causas dessa ordem. A maioria dos teóricos assumem a anarquia como ausência de governo. Capacidades e cooperação Para Waltz, apesar de o poder ser um conceito chave para a teoria realista, sua própria definição apresenta contradições. Gilpin sugere que o numero de variedades de definições pode ser constrangedor para os cientistas politicos. Escopo e Domínio Quando os neorrealistas e os neoliberais debatem o significado dos ganhos relativos nas políticas internacionais, eles as vezes neglicenciam a especificação precisa de que tipos de ganhos eles tem em mente. A conceito de poder mais comum na ciência social trata as relações de poder como um tipo casual de relação em que o poder afeta o comportamento, as atitudes, crenças e propensão de agir como outro ator. Waltz rejeita a noção casual de poder e propõe a noção de que o agente é poderoso na medida em que ele afeta mais os outros do que os outros o afetam. Qualquer consideração sobre as capacidades de um estado são baseadas na previsão sobre quais outros atores podem ser afetados e de que modo. Waltz sugere que as capacidades dos estados podem ser classificadas de acordo com “como eles se classificam nos quesitos de: tamanho da população e território, riqueza de recursos, capacidade econômica, força militar, estabilidade política, e competência”. Os estados devem usar suas capacidades para servirem aos seus interesses. O problema da soma-zero A ideia de que o poder é um jogo de soma zero - na ideia de que mais para um ator significa menos para outro - é comum na literatura das relações internacionais. Schelling apresenta a ideia de que “vencer” em um conflito significa ganho relativo para seu próprio sistema de valor, e não para o outro. Fungibilidade Fungibilidade se refere a facilidade com que cada capacidade de uma area de interesse pode ser usada em outra. A assunção de que os recursos de poder são muito fungíveis pode ser encontrada em trabalhos neorrealistas e neoliberais. Waltz concebe que a capacidade política não pode ser expressa por unidades que possuem significados claros e podem ser aplicados em diferentes instrumentos e fins. Direções Futuras Um ponto tradicional de controvérsia entre liberais e realistas é o que diz respeito a utilidade da força militar. Em qualquer caso, a utilidade relativa das varias técnicas usadas pelos estados para promover a cooperação é uma potencial recompensa. O estadismo militar, econômico, propaganda e diplomacia podem se usados para promover a cooperação. Os neorrealistas e neoliberais devem ir além das suposições a priori sobre a utilidade destas técnicas.