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Material de Apoio Direito Penal Crimes em Espécie Material Extra

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ALGUNS CRIMES EM ESPÉCIE 
01) HOMICÍDIO
I) CONCEITO
O homicídio consiste na eliminação da vida humana extrauterina provocada por 
outra pessoa. A eliminação da vida intrauterina (feto) caracteriza o delito de aborto. 
II) MEIOS DE EXECUÇÃO
O crime de homicídio por ser praticado por ação ou omissão, como, por exemplo, 
no caso da mãe que deixa de alimentar o filho, causando-lhe a morte. 
Todavia, se o meio de execução é absolutamente ineficaz para produzir o resultado, 
caracteriza a hipótese de crime impossível, previsto no artigo 17 do Código Penal. 
Ex: o agente buscar ceifar a vida da vítima com simulacro de arma de fogo (arma 
de brinquedo); se a perícia constatar que a arma era totalmente inapta a desferir disparos por algum defeito; 
arma descarregada, sem que haja munição para carregá-la ao alcance do agente. 
De outro lado, se o revólver estava carregado com balas velhas ou que falham, que 
podem ou não disparar, o meio utilizado é relativamente ineficaz para produzir o resultado, podendo, nesse 
caso, caracterizar a tentativa de homicídio. 
III) HOMICÍDIO PRIVILEGIADO – Art. 121, § 1º
O art. 121, § 1º, do CP, descreve o homicídio privilegiado como o fato de o sujeito 
cometer o delito impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, 
logo em seguida a injusta provocação da vítima. Neste caso, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3. 
a) Motivo de relevante valor social
Ocorre quando a causa do delito diz respeito a um interesse coletivo. A conduta, 
então, é ditada em face de um interesse que diz respeito a todos os cidadãos de uma coletividade. 
Ex: pai desesperado pelo vício que impregna seu filho e vários outros alunos, mata 
um traficante que distribui drogas num colégio, sem qualquer ação eficaz da polícia para contê-lo. 
b) Motivo de relevante valor moral
Diz respeito a um interesse particular, interesse de ordem pessoal. 
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Será motivo de relevante valor moral aquele que, em si mesmo, é aprovado pela 
ordem moral, pela moral prática, como, por exemplo, a compaixão ou piedade ante o irremediável sofrimento 
da vítima. 
c) Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima
A última figura típica privilegiada descreve o homicídio cometido pelo sujeito sob o 
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação do ofendido. 
Além da violência emocional, é fundamental que a provocação tenha partido da 
própria vítima e seja injusta, o que não significa, necessariamente, antijurídica, mas quer dizer não justificada, 
não permitida, não autorizada por lei, ou, em outros termos, ilícita. 
Ex: Decidiram-se jurados e tribunais pela ocorrência de homicídio privilegiado na 
conduta de réu cuja filha menor fora seduzida e corrompida por seu ex-empregador; do que fora provocado 
e mesmo agredido momentos antes pela vítima. 
O texto legal exige, ainda, que o impulso emocional e o ato dele resultante sigam-
se imediatamente à provocação da vítima, ou seja, tem de haver a imediatidade entre a provocação injusta e 
a conduta do sujeito. 
IV) HOMICÍDIO PRIVILEGIADO-QUALIFICADO
Em regra, PODE-SE ACEITAR A EXISTÊNCIA CONCOMITANTE DE QUALIFICADORAS 
OBJETIVAS COM AS CIRCUNSTÂNCIAS LEGAIS DO PRIVILÉGIO, QUE SÃO DE ORDEM SUBJETIVA (motivo de 
relevante valor e domínio de violenta emoção). 
V) HOMICÍDIO QUALIFICADO – Art. 121, § 2º
A) MEDIANTE PAGA OU PROMESSA DE RECOMPENSA, OU POR OUTRO MOTIVO TORPE
B) MOTIVO FÚTIL
C) COM EMPREGO DE VENENO, FOGO, EXPLOSIVO, ASFIXIA, TORTURA OU OUTRO MEIO
INSIDIOSO OU CRUEL, OU DE QUE POSSA RESULTAR PERIGO COMUM
D) À TRAIÇÃO, DE EMBOSCADA, OU MEDIANTE DISSIMULAÇÃO OU OUTRO RECURSO QUE
DIFICULTE OU TORNE IMPOSSÍVEL A DEFESA DO OFENDIDO;
Cuida-se de qualificadora objetiva, pois diz respeito ao modo de execução do crime. 
Neste inciso temos recursos obstativos à defesa do sujeito passivo, que comprometem total ou parcialmente 
o seu potencial defensivo.
E) PARA ASSEGURAR A EXECUÇÃO, A OCULTAÇÃO, A IMPUNIDADE OU VANTAGEM DE OUTRO
CRIME:
Constituem qualificadoras subjetivas, na medida em que dizem respeito aos motivos 
determinantes do crime. 
69
VI) FEMINICÍDIO (INCLUÍDO PELA LEI Nº 13.104, DE 2015)
A partir da edição da Lei nº 13.104/2015, o crime de homicídio passou a ser 
qualificado também se praticado: 
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: 
(Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) 
(...) 
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime
envolve:
I - violência doméstica e familiar 
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime
for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; 
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com 
deficiência 
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. 
VII) HOMICÍDIO CULPOSO – Art. 121, § 3º
A) Conceito
É um tipo penal aberto, que depende, pois, da interpretação do juiz para poder ser 
aplicado. A culpa, conforme o artigo 18, II, do CP, é constituída de “imprudência, negligência ou imperícia”. 
Portanto, matar alguém por imprudência, negligência ou imperícia concretiza o tipo penal incriminador do 
homicídio culposo. 
a) Imprudência
A imprudência é a prática de um fato perigoso. Consiste na violação das regras de 
conduta ensinadas pela experiência. É o atuar sem precaução, precipitado, imponderado. Há sempre um 
comportamento positivo. 
Ex: Ao manejar arma carregada para limpá-la, o agente aciona, imprudentemente, 
o gatilho e mata uma pessoa que está ao seu lado.
b) Negligência
A negligência é a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado. 
É a culpa na sua forma omissiva. O negligente deixa de tomar, antes de agir, as cautelas que deveria. 
70
Ex. deixar criança de tenra idade no interior de um veículo, que, algum tempo 
depois, morre asfixiada. 
c) Imperícia 
Imperícia é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. A imperícia 
pressupõe que o fato tenha sido cometido no exercício da arte ou profissão. 
Ex: Engenheiro que constrói um prédio cujo material é de baixa qualidade, vindo 
este a desabar e a provocar a morte dos moradores. 
d) Perdão Judicial – art. 121, § 5º 
É a clemência do Estado, que deixa de aplicar a pena prevista para determinados 
delitos, em hipóteses expressamente previstas em lei. 
Somente ao autor do homicídio culposo pode-se aplicar a clemência, desde que ele 
tenha sofrido com o crime praticado uma consequência tão séria e grave que a sanção penal se torne 
desnecessária. 
Ex. o pai que provoca a morte do próprio filho, num acidente fruto de sua 
imprudência, já teve punição mais do que severa. A dor por ele experimentada é mais forte do que qualquer 
pena que se lhe pudesse aplicar. Por isso, surge a hipótese do perdão. O crime existiu, mas a punibilidade é 
afastada. 
 
 
02) INDUZIMENTO AO SUICÍDIO – ART. 122 
I) CONCEITO DE SUICÍDIO 
É a morte voluntária, que resulta, direta ou indiretamente, de um ato positivo ou 
negativo, realizado pela própria vítima, a qual sabia dever produzir este resultado. 
SE O ATO DE DESTRUIÇÃO É PRATICADO PELO PRÓPRIO AGENTE, RESPONDE 
PELO DELITO DE HOMICÍDIO. 
Para que haja o delito de participação em suicídio é necessário que a vítima tenha 
capacidade de resistência. TRATANDO-SE DE ALIENADO MENTAL E CRIANÇA, A AUSÊNCIA DE VONTADE 
VÁLIDA FAZ COM QUE O DELITO SEJA DE HOMICÍDIO. 
II) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
O crime de participação de induzimento ao suicídio atinge a consumação com a 
morte da vítima (02 a 06 anos) ou lesões corporais de natureza grave (01 a 03 anos). 
71
Embora, em tese, fosse possível, por se tratar de crime material, NÃO EXISTE 
TENTATIVADE PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO. 
Trata-se de hipótese em que o legislador condiciona a imposição da pena à produção 
do resultado, que no caso pode ser morte ou a lesão corporal de natureza grave. Ou a vítima morre ou sofre 
lesão grave e o crime se consuma, ou não morre ou não sofre lesão grave e o fato é atípico. 
SE NÃO HÁ OCORRÊNCIA DE MORTE OU DE LESÃO CORPORAL DE NATUREZA LEVE, 
O FATO É ATÍPICO. 
III) FIGURAS TÍPICAS QUALIFICADAS – ART. 122, PARÁGRAFO ÚNICO 
a) Se o crime é praticado por motivo egoístico 
Motivo egoístico é o excessivo apego a si mesmo, o que evidencia o desprezo pela 
vida alheia, desde que algum benefício concreto advenha ao agente. Logicamente, merece maior punição. 
Ex: É o caso, por exemplo, de o sujeito induzir a vítima a suicidar-se para ficar com 
a herança. 
b) Se a vítima é menor 
Em segundo lugar, a pena é agravada quando a vítima é menor. Qual a idade para 
efeito da qualificadora? 
 
 
c) Tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência 
A terceira qualificadora prevê a hipótese de a vítima ter diminuída, por qualquer 
causa, a capacidade de resistência, como enfermidade física ou mental, idade avançada. 
Ex. induzir ao suicídio vítima embriagada. 
 
Por fim, é de ressaltar que o suicida com RESISTÊNCIA NULA, pelos abalos ou 
situações supramencionadas, incluindo-se a idade inferior a 14 anos, é vítima de HOMICÍDIO, e não de 
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio. 
 seria alterada? (valor: 0,60) 
 
03) INFANTICÍDIO – Art. 123 
I) CONCEITO 
72
Trata-se de homicídio cometido pela mãe contra seu filho, nascente ou recém-
nascido, sob a influência do estado puerperal. 
O infanticídio ocorre quando a ação é praticada durante o parto ou logo após. 
Antes de iniciado o parto existe o aborto e não infanticídio. 
Não incidem as agravantes previstas no art. 61, II, “e” e “h”, do CP (crime cometido 
contra descendente e contra criança), vez que integram a descrição do delito de infanticídio. Caso incidissem, 
haverá bis in idem. 
II) ELEMENTOS DO TIPO OBJETIVO 
A ação nuclear é o verbo matar, assim como no delito de homicídio, que significa 
destruir a vida alheia, no caso, a eliminação da vida do próprio filho pela mãe. 
A ação física, todavia, deve ocorrer durante ou logo após o parto, não obstante a 
superveniência da morte em período posterior. 
Admite-se a forma omissiva, visto que a mãe tem o dever legal de proteção, cuidado 
e vigilância em relação ao filho. 
Ex: Mãe, sob influência do estado puerperal, percebe que o filho está morrendo 
sufocado com o leite materno e nada faz para impedir o resultado morte. Incide, no caso, o disposto no artigo 
13, § 2º, do CP. 
 
Estado puerperal é o estado que envolve a mulher durante o parto. Há profundas 
alterações psíquicas e físicas, que chegam a transtornar a mãe, deixando-a sem plenas condições de entender 
o que está fazendo. 
Portanto, o estado puerperal é o conjunto das perturbações psicológicas e físicas 
sofridas pela mulher em face do fenômeno do parto. 
É possível que autora possua doença mental ou desenvolvimento mental incompleto 
ou retardado, como situação preexistente ao parto e que, dada a presença do estado puerperal, seja ela 
considerada incapaz de compreender o caráter ilícito da sua conduta ou de se determinar conforme esse 
entendimento. No caso, incido o disposto no artigo 26 do Código Penal, podendo ser inimputável ou semi-
imputável, conforme o caso. 
O infanticídio pressupõe que a conduta seja praticada “durante o parto ou logo 
após”. 
Não há na literatura médica ou jurídica regra absoluta quanto à duração do estado 
puerperal. Há quem adote o parâmetro máximo de sete dias. Todavia, para maioria da doutrina, a melhor 
73
solução é deixar a conceituação da elementar “logo após” para a análise do caso concreto, entendendo-se 
que há delito enquanto perdurar a influência do estado puerperal. 
III) SUJEITOS DO DELITO 
a) Sujeito ativo 
A autora do infanticídio SÓ PODE SER A MÃE. Cuida-se de CRIME PRÓPRIO, uma 
vez que não pode ser cometido por qualquer autor. 
O tipo penal exige qualidade especial do sujeito ativo. Entretanto, isso não impede 
que terceiro responda por infanticídio diante do concurso de agentes. 
b) Sujeito passivo 
Sujeito passivo é o neonato ou nascente, de acordo com a ocasião da prática do 
fato: durante o parto ou logo após. 
Antes do parto, o sujeito passivo será o feto, caracterizando, portanto, o delito de 
aborto. 
c) A participação de terceiros no ato 
Segundo boa parte da doutrina, estando a mulher sob influência do estado 
puerperal, responde ela por infanticídio, delito que também será atribuído aos eventuais concorrentes do fato, 
uma vez que se trata de circunstância de caráter pessoal que constitui elementar do crime. Logo, comunica-
se aos coautores ou partícipes, nos termos do art. 30 do CP. 
IV) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
O infanticídio atinge a consumação com a morte do nascente ou neonato. 
Trata-se de crime material. Diante disso, admite-se a tentativa, desde que a morte 
não ocorra por circunstâncias alheias à vontade da autora. 
Ex: a genitora, ao tentar sufocar a criança com um travesseiro, tem a sua conduta 
impedida por terceiros. 
 
04) ABORTO 
I) ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTO – Art. 124 
O sujeito ativo é a gestante, enquanto o passivo é o feto. 
Trata-se de crime de mão própria, pois somente a gestante pode realizá-lo, contudo 
isso não afasta a possibilidade de participação no crime em questão. 
1ª figura: Aborto provocado pela própria gestante (autoaborto): 
74
É a própria mulher quem executa a ação material do crime, ou seja, ela própria 
emprega os meios ou manobras abortivas em si mesma. 
Se um terceiro executar ato de provocação do aborto, não será partícipe do crime 
do art. 124 do CP, mas sim autor do fato descrito no art. 126 (provocação do aborto com consentimento da 
gestante). 
2ª figura – Aborto consentido 
A mulher apenas consente na prática abortiva, mas a execução material do crime é 
realizada por terceira pessoa. 
Em tese, a gestante e o terceiro deveriam responder pelo delito do art. 124. Contudo, 
o CP prevê uma modalidade especial de crime para aquele que provoca o aborto com o consentimento da 
gestante (art. 126). 
Assim, há a previsão separada de dois crimes: um para a gestante que consente na 
prática abortiva (art. 124); e outro para o terceiro que executou materialmente a ação provocadora do aborto 
(art. 126). Há aqui, perceba-se, mais uma exceção à teoria monista adota pelo CP em seu art. 29. 
II) ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO – Art. 125 
Trata-se de forma mais gravosa do delito de aborto. 
Ao contrário da figura típica do art. 126, não há o consentimento da gestante no 
emprego dos meios ou manobras abortivas por terceiro. Aliás, a ausência de consentimento constitui 
elementar do tipo penal. 
As formas de dissentimento estão retratadas no art. 126, parágrafo único: 
a) DISSENTIMENTO PRESUMIDO 
É necessário que a gestante tenha capacidade para consentir, não se tratando de 
capacidade civil. 
Para o CP, quando a vítima não é maior de 14 anos ou é alienada mental, não possui 
consentimento válido, levando à consideração de que o aborto deu-se contra a sua vontade. 
b) DISSENTIMENTO REAL 
Quando o agente emprega violência, grave ameaça ou mesmo fraude, é natural 
supor que extraiu o consentimento da vítima à força, de modo que o aborto necessita encaixar-se na figura 
do art. 125. 
III) ABORTO CONSENSUAL – Art. 126 
Para que se caracterize a figura do aborto consentido (art. 126), é necessário que o 
consentimento da gestante seja válido, isto é, que ela tenha capacidade para consentir. Ausente essa 
capacidade, o delito poderá ser outro (art. 125). 
75
Trata-se de uma exceção à teoriamonista (todos os coautores e partícipes 
respondem pelo mesmo crime quando contribuírem para o mesmo resultado típico). Se existisse somente a 
figura do art. 124, o terceiro que colaborasse com a gestante para a prática do aborto incidiria naquele tipo 
penal. 
Entretanto, o legislador para punir mais severamente o terceiro que provoca o 
aborto, criou o art. 126, aplicando a teoria dualista (ou pluralista) do concurso de pessoas. 
IV) ABORTO LEGAL – Art. 128 
a) ABORTO NECESSÁRIO OU TERAPÊUTICO 
É a interrupção da gravidez realizada pelo médico quando a gestante estiver 
correndo perigo de vida e inexistir outro meio para salvá-lo. 
A excludente da ilicitude em estudo do crime de aborto somente abrange a conduta 
do médico. Não obstante isso, a enfermeira, ou parteira, não responderá pelo delito em questão se praticar o 
aborto por força do art. 24 do CP (estado de necessidade, no caso, de terceiro). 
b) ABORTO HUMANITÁRIO, SENTIMENTAL OU PIEDOSO 
O aborto humanitário, também denominado ético ou sentimental, é autorizado 
quando a gravidez é consequência do crime de estupro e a gestante consente na sua realização. 
Para se autorizar o aborto humanitário são necessários os seguintes requisitos: 
a) gravidez resultante de estupro; 
b) prévio consentimento da gestante ou, sendo incapaz, de seu representante legal. 
A lei não exige autorização judicial, processo judicial ou sentença condenatória 
contra o autor do crime de estupro para a prática do aborto sentimental, ficando a intervenção a critério do 
médico. Basta prova idônea do atentado sexual. 
 
05) LESÃO CORPORAL 
I) LESÃO CORPORAL LEVE OU SIMPLES – Art. 129, “caput” 
A definição de lesão corporal leve é formulada por exclusão, ou seja, configura-se 
quando não ocorre nenhum dos resultados previstos nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 129. 
II) LESÕES CORPORAIS GRAVES Art. 129, § 1º 
A lesão corporal de natureza grave (ou mesmo a gravíssima) é uma ofensa à 
integridade física ou à saúde da pessoa humana, considerada muito mais séria e importante do que a lesão 
simples ou leve. 
a) INCAPACIDADE PARA AS OCUPAÇÕES HABITUAIS, POR MAIS DE TRINTA DIAS 
76
Deve-se compreender como tal toda e qualquer atividade regularmente 
desempenhada pela vítima, e não apenas a sua ocupação laborativa, enquadrando-se, inclusive, as atividades 
de lazer. 
b) PERIGO DE VIDA 
É a concreta possibilidade de a vítima morrer em face das lesões sofridas. 
A doutrina e a jurisprudência majoritária consideram que, neste caso, somente pode 
haver dolo na conduta antecedente (lesão corporal) e culpa no tocante ao resultado mais grave (perigo de 
vida), pois, havendo dolo em ambas as fases, haverá tentativa de homicídio. 
Portanto, o tipo só admite o preterdolo, uma vez que, se houver dolo quanto ao 
perigo de vida, o agente responderá por tentativa de homicídio. 
c) DEBILIDADE PERMANENTE DE MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO; 
Não se exige que seja uma debilidade perpétua, bastando que tenha longa duração. 
Ex. perda de um dos dedos (membro); perder a visão num dos olhos (sentido); 
perda de um dos rins é debilidade permanente e não perda de função, pois se trata de órgão duplo. 
d) ACELERAÇÃO DE PARTO: 
Significa antecipar o nascimento da criança antes do prazo normal previsto pela 
medicina. Nesse caso, é indispensável o conhecimento da gravidez pelo agente. 
Se, em virtude da lesão corporal praticada contra a mãe, a criança nascer morta, 
terá havido lesão corporal gravíssima (art. 129, § 2º, V). 
 
III) LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA – Art. 129, § 2º 
Todas as circunstâncias qualificadoras elencadas neste parágrafo são tanto dolosas 
quanto preterdolosas, com exceção da circunstância contida no inciso V (aborto), que é necessariamente 
preterdolosa. 
a) INCAPACIDADE PERMANENTE PARA O TRABALHO 
Trata-se de inaptidão duradoura para exercer qualquer atividade laborativa lícita. A 
permanência não significa perpetuidade, 
Nesse contexto, diferentemente da incapacidade para as ocupações habituais, exige-
se atividade remunerada, que implique em sustento, portanto, acarrete prejuízo financeiro para o ofendido. 
b) ENFERMIDADE INCURÁVEL 
É a doença irremediável, de acordo com os recursos da medicina na época do 
resultado, causada na vítima. 
77
c) PERDA OU INUTILIZAÇÃO DO MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO 
Perda implica em destruição ou privação de algum membro (ex. corte de um braço), 
sentido (ex: aniquilamento dos olhos) ou função (ablação da bolsa escrotal, impedindo a função reprodutora). 
No tocante a órgãos duplos, ter-se-á a perda quando houver a supressão de ambos, 
por exemplo, cegueira ou surdez total. Nessa hipótese há a perda total da visão ou audição. Quando se der a 
supressão de apenas um órgão, estaremos diante da hipótese de debilidade (§1º, III), pois a função não foi 
totalmente abolida, por exemplo, surdez em apenas um dos ouvidos. 
d) DEFORMIDADE PERMANENTE 
Deformidade é o dano estético de certa monta. Permanente é a deformidade 
indelével, irreparável. Entende-se por irreparável a deformidade que não é passível de ser corrigida pelo 
transcurso do tempo. 
Ex. perda de orelhas, mutilação grave do nariz, entre outros. 
e) ABORTO: 
Nesta hipótese, o agente, ao lesionar a vítima, não quer nem mesmo assume o risco 
do advento do resultado agravador aborto. 
Portanto, para que possa caracterizar-se a qualificadora da lesão corporal 
gravíssima, não pode ter sido objeto de dolo do agente, pois, nesse caso, terá de responder pelos dois crimes, 
lesão corporal e aborto, em concurso formal impróprio, ou, ainda, por aborto qualificado, se a lesão em si 
mesma for grave. 
IV) LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE – Art. 129, § 3º 
O evento morte não deve ser querido nem eventualmente, ou seja, não deve ser 
compreendido pelo dolo do agente, senão será de homicídio. 
A morte é imputada ao agente a título de culpa, pois não previu o que era 
plenamente previsível ou decorrente de caso fortuito, responderá o agente tão-só pelas lesões corporais. 
A tentativa é inadmissível, pois o crime preterdoloso envolve a forma culposa e esta 
é totalmente incompatível com a figura da tentativa. 
06) CALÚNIA – Art. 138 
 
I) CONCEITO E OBJETIVIDADE JURÍDICA 
Calúnia é o fato de atribuir a outrem, falsamente, a prática de fato definido como 
crime. O CP tutela a honra objetiva (reputação). 
78
A lei exige expressamente que o fato atribuído seja definido como crime. O fato 
criminoso deve ser determinado, ou seja, um caso concreto, não sendo necessário, contudo, descrevê-lo de 
forma pormenorizada, detalhada, como, por exemplo, apontar dia, hora, local. 
É fundamental, para a existência de calúnia, que a imputação de fato definido como 
crime seja falsa. Se o fato for verdadeiro, não há que se falar em crime de calúnia. 
O momento consumativo da calúnia ocorre no instante em que a imputação chega 
ao CONHECIMENTO DE UM TERCEIRO que não a vítima. 
A calúnia verbal não admite a figura da tentativa. Ou o sujeito diz a imputação, e o 
fato está consumado, ou não diz, e não há conduta relevante para o Direito Penal. 
Já a calúnia escrita admite a tentativa. Ex. o sujeito remete uma carta caluniosa e 
ela se extravia. O crime não atinge a consumação, por intermédio do conhecimento do destinatário, por 
circunstâncias alheias à vontade do sujeito. 
 
07) DIFAMAÇÃO – Art. 139 
Difamar significa desacreditar publicamente uma pessoa, maculando-lhe a 
reputação. 
O legislador protege a honra objetiva (reputação). A exemplo do crime de calúnia, 
o bem jurídico protegido é a honra, isto é, a reputação do indivíduo, a sua boa fama, o conceito que a 
sociedade lhe atribui. 
Dizer que uma pessoa é caloteira configura uma injúria, ao passo que espalhar o 
fato de que ela não pagou aos credores “A”, “B” e “C”, quando as dívidas X, Y e Z venceram configura adifamação. 
A difamação atinge o momento consumativo quando UM TERCEIRO, que não o 
ofendido, toma conhecimento da imputação ofensiva à reputação. 
Quanto à tentativa, é inadmissível, quando se trata de fato cometido por intermédio 
da palavra oral. Tratando-se, entretanto, de difamação praticada por meio escrito, é admissível. 
 
08) INJÚRIA – Art. 140 
Injúria é a ofensa à dignidade ou ao decoro de outrem. 
Ao contrário dos delitos de calúnia e difamação, que tutelam a honra objetiva, o 
bem protegido por essa norma penal é a honra subjetiva, que é constituída pelo sentimento próprio de cada 
79
pessoa acerca de seus atributos morais (chamados de honra-dignidade), intelectuais e físicos (chamados de 
honra-decoro). 
Trata-se de crime formal. O crime se consuma quando o sujeito passivo toma ciência 
da imputação ofensiva, independentemente de o ofendido sentir-se ou não atingido em sua honra subjetiva, 
sendo suficiente, tão-só, que o ato seja revestido de idoneidade ofensiva. 
A injúria, quando cometida por escrito, admite a tentativa; quando por meio verbal, 
não. 
I) INJÚRIA RACIAL – Art. 140, § 3º 
Aquele que se dirige a uma pessoa de determinada raça, insultando-a com 
argumentos ou palavras de conteúdo pejorativo, responderá por injúria racial, não podendo alegar que houve 
uma injúria simples, nem tampouco uma mera exposição do pensamento (como dizer que todo “judeu é 
corrupto” ou que “negros são desonestos”), uma vez que não há limite para tal liberdade. 
Assim, quem simplesmente dirigir a terceiro palavras referentes a “raça”, “cor”, 
“etnia”, “religião” ou “origem”, com o intuito de ofender, responderá por injúria racial. 
9) ASPECTOS PONTUAIS DOS CRIMES CONTRA A HONRA 
I) CAUSAS ESPECIAIS DE EXCLUSÃO DA ANTIJURIDICIDADE – Art. 142 
a) IMUNIDADE JUDICIÁRIA 
Exige-se que haja uma relação processual instaurada, pois é esse o significado da 
expressão “irrogada em juízo”, além do que o autor da ofensa precisa situar-se em local próprio para o debate 
processual. 
b) IMUNIDADE LITERÁRIA, ARTÍSTICA E CIENTÍFICA 
Esta causa de exclusão diz respeito à liberdade de expressão nos campos literário, 
artístico e científico, permitindo que haja crítica acerca de livros, obras de arte ou produções científicas de 
toda ordem, ainda que sejam pareceres ou conceitos negativos. 
c) IMUNIDADE FUNCIONAL 
O funcionário público, cumprindo dever inerente ao seu ofício, pode emitir um 
parecer desfavorável, expondo opinião negativa a respeito de alguém, passível de macular a reputação da 
vítima ou ferir a sua dignidade ou seu decoro, embora não se possa falar em ato ilícito, pois o interesse da 
Administração Pública deve ficar acima dos interesses individuais. 
II) AÇÃO PENAL – Art. 145 
a) Regra 
80
Nos crimes contra a honra, a regra é a de que ação penal privada da vítima ou do 
seu representante legal. 
b) Exceções 
b.1) Resultando na vítima lesão física (injúria real com lesão corporal), apura-se o crime mediante ação penal 
pública incondicionada. No entanto, com o advento da Lei 9.099/95, alguns autores entendem que se trata de 
ação penal pública condicionada a representação, já que é a prevista para os crimes de lesão corporal leve. 
b.2) Será penal pública condicionada à representação no caso de o delito ser cometido contra funcionário 
público, no exercício das funções (art. 141, II) e condicionada à requisição do Ministro da Justiça no caso do 
nº I do art. 141 (contra o Presidente da República ou Chefe de Governo Estrangeiro). 
Convém ressaltar a Súmula 714 do STF: 
“É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, 
condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em 
razão do exercício de suas funções”. 
 
10) FURTO – Art. 155 
 
I) CONCEITO 
O crime de furto consubstancia-se no verbo subtrair, que significa tirar, retirar de 
outrem bem móvel, sem a sua permissão, com o fim de assenhoramento definitivo. A subtração implica sempre 
a retirada do bem sem o consentimento do possuidor ou proprietário. 
Exige-se o dolo, consistente na vontade do agente de subtrair coisa alheia móvel. 
É indispensável que o agente tenha a intenção de possuir a coisa alheia móvel, 
submetendo-a ao seu poder, isto é, de não devolver o bem, de forma alguma. Assim, se ele o subtrai apenas 
para uso transitório e depois o devolve no mesmo estado, não haverá a configuração do tipo penal. Cuida-se 
na hipótese de mero furto de uso, que não constitui crime, pela ausência do ânimo de assenhoramento 
definitivo do bem. 
Se o sujeito restituir o objeto subtraído até o recebimento da denúncia, pode incidir 
o instituto do arrependimento posterior, previsto no artigo 16 do Código Penal, que constitui causa de 
diminuição da pena. Em outras palavras, o agente será processado pelo delito, mas, se condenado, poderá 
ter a pena reduzida de 1/3 a 2/3. 
Não existe na modalidade culposa. 
II) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
81
Para Damásio e Capez, o furto atinge a consumação no momento em que o objeto 
material é retirado da esfera de posse e disponibilidade do sujeito passivo, ingressando na livre disponibilidade 
do autor, ainda que este não obtenha a posse tranquila. A subtração se opera no exato instante em que o 
possuidor perde o poder e o controle sobre a coisa, tendo de retomá-la porque já não está mais consigo. 
A tentativa é admissível. Ocorre sempre que o sujeito ativo não consegue, por 
circunstâncias alheias à sua vontade, retirar o objeto material da esfera de proteção e vigilância da vítima, 
submetendo-a à sua própria disponibilidade. 
 
III) FURTO NOTURNO – Art. 155, § 1º 
A causa de aumento de pena do repouso noturno só é aplicável ao furto simples, 
previsto no caput do artigo 155, tendo em vista a sua posição sistemática na construção do tipo penal. Não 
se aplica, portanto, ao furto qualificado do § 4º. 
IV) FURTO PRIVILEGIADO – Art. 155, § 2º 
A corrente majoritária sustenta ser de pequeno valor a coisa que não ultrapassa 
quantia equivalente a um salário mínimo vigente à época do fato. 
V) FURTO QUALIFICADO – Art. 155, § 4º 
a) COM DESTRUIÇÃO OU ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO À SUBTRAÇÃO DA COISA; 
É necessário que o sujeito pratique violência contra “obstáculo” à subtração do 
objeto material. A violência contra a coisa subtraída não qualifica o furto. 
 
b) com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza 
* abuso de confiança 
É a confiança que decorre de certas relações (que pode ser a empregatícia, a 
decorrente de amizade ou parentesco) estabelecidas entre o agente e o proprietário do objeto. O agente, 
dessa forma, aproveita-se da confiança nele depositada para praticar o furto, pois há menor vigilância do 
proprietário sobre os seus bens. 
* Mediante fraude 
É o ardil, artifício, meio enganoso empregado pelo agente para diminuir, iludir a 
vigilância da vítima e realizar a subtração. São exemplos de fraude: agente que se disfarça de empregado de 
empresa telefônica e logra entrar em residência alheia para furtar, ou agente que, a pretexto de realizar 
compras em uma loja, distrai a vendedora, de modo a lograr apoderar-se dos objetos. 
* Mediante escalada 
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Escalada, que em direito penal tem sentido próprio, é a penetração no local do furto 
por meio anormal, artificial ou impróprio, que demanda esforço incomum. Escalada não implica, 
necessariamente, subida, pois tanto é escalada galgar alturas quanto saltar fossos, rampas ou mesmo 
subterrâneos, desde que o faça para vencer obstáculos. 
* Mediante destreza 
Consiste na habilidade física ou manual do agente que lhe permite o apoderamento 
do bem sem que a vítima perceba. É a chamada punga. Tal ocorre com a subtração de objetos que se 
encontrem junto à vítima, por exemplo, carteira, dinheiro no bolso ouna bolsa, colar, etc., que são retirados 
sem que ela note. 
Importa dizer que se a vítima perceber a subtração no momento em que ela se 
realiza, considera-se o furto tentado na forma simples, pois não há que se falar no caso em destreza do agente 
(ex: a vítima sente a mão do agente em seu bolso). 
 
c) com emprego de chave falsa 
Chave falsa é qualquer instrumento de que se sirva o agente para abrir fechaduras, 
tendo ou não formato de chave. 
Ex: grampo, alfinete, prego, fenda, gazua, etc. 
d) mediante concurso de duas ou mais pessoas. 
e) FURTO DE VEÍCULO AUTOMOTOR – Art. 155, 5º 
Esta qualificadora diz respeito, especificamente, à subtração de veículo automotor. 
Consideram-se com tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves, lanchas, Jet-skies. 
11) ROUBO (Art. 157) 
 
I) AÇÃO NUCLEAR 
A ação nuclear do tipo, identicamente ao furto, consubstancia-se no verbo subtrair, 
que significa tirar, retirar, de outrem, no caso bem móvel. Agora, contudo, estamos diante de um crime mais 
grave que o furto, na medida em que a subtração é realizada mediante o emprego de grave ameaça ou 
violência contra a pessoa, ou por qualquer outro meio que reduza a capacidade de resistência da 
vítima. 
São os seguintes os meios executórios do crime de roubo: 
a) Violência física (vis corporalis) 
83
Violência física à pessoa consiste no emprego de força contra o corpo da vítima. 
Para caracterizar essa violência do tipo básico de roubo é suficiente que ocorra lesão corporal leve ou simples 
vias de fato, na medida em que a lesão grave ou morte qualifica o crime. 
 
b) Grave ameaça 
Ameaça grave (violência moral) é aquela capaz de atemorizar a vítima, viciando sua 
vontade e impossibilitando sua capacidade de resistência. A grave ameaça objetiva criar na vítima o fundado 
receio de iminente e grave mal, físico ou moral, tanto a si quanto as pessoas que lhes são caras. É irrelevante 
a justiça ou injustiça do mal ameaçado, na medida em que, utilizada para a prática de crime, torna-se 
antijurídica. 
 
c) Qualquer outro meio que reduza à impossibilidade de resistência; 
Cuida-se da violência imprópria, consistente em outro meio que não constitua 
violência física ou grave ameaça, como, por exemplo, fazer a vítima ingerir bebida alcoólica, narcóticos, 
soníferos ou hipnotizá-la. 
II) ESPÉCIES DE ROUBO: PRÓPRIO E IMPRÓPRIO 
a) Roubo próprio 
No roubo próprio a violência ou grave ameaça (ou a redução da impossibilidade de 
defesa) são praticados contra a pessoa para a subtração da coisa. Os meios violentos são empregados antes 
ou durante a execução da subtração. 
b) Roubo impróprio 
 
ROUBO IMPRÓPRIO ocorre quando o sujeito, logo depois de subtraída a coisa, 
emprega violência contra a pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção 
da coisa para ele ou para terceiro (§ 1º). 
São exemplos típicos de roubo impróprio aquele em que o sujeito ativo, já se 
retirando do portão com a res furtiva, alcançando pela vítima, abate-a (assegurando a detenção), ou, então, 
já na rua, constata que deixou um documento no local, que o identificará, e, retornando para apanhá-lo, 
agride o morador que o estava apanhando (garantindo a impunidade). 
Em outros termos, “logo depois” de subtraída a coisa não admite decurso de tempo 
entre a subtração e o emprego da violência, ou seja, o modus violento somente é caracterizador do roubo se 
for utilizado até a consumação do furto que o agente pretendia praticar (posse tranquila da res, sem a 
vigilância). Superado esse momento, o crime está consumado e, consequentemente, não pode sofrer qualquer 
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alteração; portanto, eventual violência empregada constituirá crime autônomo (lesão corporal, por exemplo), 
em concurso com furto consumado. 
III) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
 Nos termos da Súmula 582 do STJ, ““Consuma-se o crime de roubo com a 
inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve 
tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo 
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada." 
IV) CAUSAS ESPECIAIS DE AUMENTO DE PENA - ROUBO MAJORADO (CIRCUNSTANCIADO) (Art. 
157, § 2º) 
A) SE A VIOLÊNCIA OU AMEAÇA É EXERCIDA COM EMPREGO DE ARMA 
Cuida-se das chamadas armas próprias, ou seja, dos instrumentos especificamente 
criados para o ataque ou defesa (arma de fogo, estilete, explosivos: bombas) e impróprias, isto é, os 
instrumentos que não foram criados especificamente para aquela finalidade, mas são capazes de ofender a 
integridade física (facão, faca de cozinha, canivete, machado, barra de ferro). 
A arma de brinquedo não serve para majorar a pena, uma vez que não causa à 
vítima maior potencialidade lesiva. Pode, no entanto, gerar grave ameaça e, justamente por isso, servir para 
configurar o tipo penal do roubo, na figura simples. 
B) SE HÁ O CONCURSO DE DUAS OU MAIS PESSOAS; 
Pode haver concurso material entre roubo majorado e quadrilha armada, pois os 
bens jurídicos são diversos. Enquanto o tipo penal de roubo protege o patrimônio, o tipo da quadrilha ou 
bando guarnece a paz pública. 
C) SE A VÍTIMA ESTÁ EM SERVIÇO DE TRANSPORTE DE VALORES E O AGENTE CONHECE TAL 
CIRCUNSTÂNCIA. 
A pena é agravada se a vítima, regra geral por dever de ofício (caixeiro viajante, 
empresa de segurança especialmente contratada para o transporte de valores), realiza serviço de transporte 
de valores (dinheiro, joia, etc). 
D) SE A SUBTRAÇÃO FOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR QUE VENHA A SER TRANSPORTADO PARA 
OUTRO ESTADO OU PARA O EXTERIOR 
Assim como no furto, esta majorante diz respeito, especificamente, à subtração de 
veículo automotor. Consideram-se com tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves, 
lanchas, Jet-skies. 
E) SE O AGENTE MANTÉM A VÍTIMA EM SEU PODER, RESTRINGINDO SUA LIBERDADE. 
85
Ocorre quando o agente segura a vítima por tempo superior ao necessário ou 
valendo-se de forma anormal para garantir a subtração planejada. 
Ex. subjugando a vítima, o agente, pretendendo levar-lhe o veículo, manda que 
entre no porta-malas, rodando algum tempo pela cidade, até permitir que seja libertada ou o carro seja 
abandonado. 
V) ROUBO QUALIFICADO PELO RESULTADO (Art. 157, § 3º) 
Comparando o texto legal com outras previsões semelhantes do CP – “se da violência 
resulta lesão corporal grave” ou “se resulta morte” -, constata-se que, pela técnica legislativa empregada, 
pretendeu o legislador criar duas figuras de crimes qualificados pelo resultado, para alguns, crimes 
preterdolosos. 
Contudo, na hipótese em apreço, a extrema gravidade das sanções cominadas uniu 
o entendimento doutrinário, que passou a admitir a possibilidade, indistintamente, de o resultado agravador 
poder decorrer tanto de culpa quanto de dolo, direto ou eventual. 
A) CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO LESÕES GRAVES 
É uma das hipóteses de delito qualificado pelo resultado, que se configura pela 
presença de dolo na conduta antecedente (roubo) e dolo ou culpa na conduta subsequente (lesões corporais 
graves). 
O roubo qualificado pelas lesões corporais de natureza grave não se inclui no rol dos 
crimes hediondos, ao contrário do crime de latrocínio. 
HIPÓTESES QUANTO AO RESULTADO MAIS GRAVE: 
Lesão grave consumada + roubo consumado = roubo qualificado pelo resultado 
lesão grave. 
Lesão grave consumada + tentativa de roubo = roubo qualificado pelo resultado 
lesão grave, dando-se a mesma solução para o latrocínio. 
B) CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO MORTE: LATROCÍNIO 
O crime de latrocínio ocorre quando, do emprego da violência física contra a pessoa 
com o fim de subtrair o bem, ou para assegurar a sua posse ou a impunidade do crime, decorre a morte da 
vítima. 
Tratando-se de crime qualificado pelo resultado, a morte da vítima ou de terceirotanto pode resultar de dolo (o assaltante atira na cabeça da vítima e a mata) quanto de culpa (o agente 
desfere um golpe contra o rosto do ofendido para feri-lo, vindo, no entanto, a matá-lo). 
É considerado crime hediondo. 
86
Súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, 
ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima”. 
 
Súmula 603 do STF: “A competência para o processo e julgamento de latrocínio é 
do juiz singular e não do Tribunal do Júri.” 
 
 
12) EXTORSÃO – Art. 158 
A) AÇÃO NUCLEAR 
Extorsão é o fato de o sujeito constranger alguém, mediante violência ou grave 
ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que 
se faça ou deixar de fazer alguma coisa. 
A diferença em relação ao roubo concentra-se no fato de a extorsão exigir a 
participação ativa da vítima fazendo alguma coisa, tolerando que se faça ou deixando de fazer algo em virtude 
da ameaça ou da violência sofrida. 
A ação nuclear do tipo consubstancia-se no verbo constranger, que significa coagir, 
compelir, forçar, obrigar alguém a fazer (p. ex: quitar uma dívida não paga), tolerar que se faça (ex: permitir 
que o rasgue um contrato) ou deixar de fazer alguma coisa (ex: obrigar a vítima a não propor ação judicial 
contra o agente). 
O constrangimento pode ser exercido mediante o emprego de violência ou grave 
ameaça, os quais podem atingir tanto o titular do patrimônio quanto pessoa ligada a ele (filhos, pai, mãe, 
etc.). 
B) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
A extorsão atinge a consumação com a conduta típica imediatamente anterior à 
produção do resultado visado pelo sujeito. 
Para a consumação, portanto, o agente deve atingir o segundo estágio, isto é, a 
consumação ocorre quando a vítima cede ao constrangimento imposto e faz ou deixa de fazer algo. Esse é o 
entendimento que prevalece na doutrina. Nesse sentido a Súmula 96 do STJ: “O crime de extorsão consuma-
se independentemente da obtenção da vantagem indevida”. 
A tentativa é admissível. Ocorre quando o sujeito passivo, não obstante constrangido 
pelo autor por intermédio da violência física ou moral, não realiza a conduta positiva ou negativa pretendida, 
por circunstâncias alheias à sua vontade. 
C) EXTORSÃO QUALIFICADA – Art. 158, §§ 2º e 3º 
87
As duas hipóteses (lesão corporal grave ou morte) elencadas, como no roubo, 
caracterizam condições de exasperação da punibilidade em razão da maior gravidade do resultado. 
A extorsão qualificada pela morte da vítima também é crime hediondo e, assim, 
como o latrocínio, é da competência do juiz singular, e não do Tribunal do Júri. 
 
D) EXTORSÃO QUALIFICADA PELA PRIVAÇÃO DA LIBERDADE – ART. 158, § 3º 
Conforme leciona Damásio, na hipótese em que o ladrão constrange a vítima a 
entregar-lhe o cartão magnético e a fornecer-lhe a senha, acompanhando-a até caixas eletrônicos de bancos 
para sacar dinheiro, ocorre o crime de extorsão qualificada, uma vez que é imprescindível a atuação do sujeito 
passivo do ataque patrimonial para a obtenção da vantagem indevida por parte do autor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13) EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO – Art. 159 
 
 
 
 
 
I) CONCEITO E OBJETIVIDADE JURÍDICA 
O fato é definido como “sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para 
outrem, qualquer vantagem como condição ou preço de resgate”. 
EXTORSÃO 
MEDIANTE 
SEQUESTRO 
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de 
obter, para si ou para outrem, qualquer 
vantagem, como condição ou preço do 
resgate: 
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. 
 
CRIME 
FORMAL 
SÚMULA 
96 STJ 
EXTORSÃO 
QUALIFICADA 
O crime de extorsão consuma-se 
independentemente da obtenção 
da vantagem indevida. 
EXTORSÃO 
ART. 158, §2º: se resultar lesão 
corporal grave ou morte 
Independe do resultado, isto é, 
da obtenção da vantagem 
indevida 
ART. 158, §3º: Quando a 
restrição à liberdade da vítima 
for imprescindível para obtenção 
da vantagem indevida 
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É crime hediondo. 
Consubstancia-se no verbo sequestrar, que significa privar a vítima de sua liberdade 
de locomoção, ainda que por breve espaço de tempo. 
II) CONSUMAÇÃO
A consumação ocorre com a privação de liberdade de locomoção da vítima, exigindo-
se tempo juridicamente relevante. 
Trata-se de crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo. Assim, 
enquanto a vítima estiver submetida à privação de sua liberdade de locomoção o crime estará em fase de 
consumação. 
Tratando-se de crime formal, pune-se a mera atividade de sequestrar pessoa, tendo 
a finalidade de obter vantagem. Assim, embora o agente não consiga a vantagem almejada, o delito está 
consumado quando a liberdade da vítima é cerceada. 
III) FORMAS QUALIFICADAS – Art. 159, § 1º
a) Sequestro por mais de 24 horas
b) Sequestro de menor de 18 ou maior de 60 anos
c) Sequestro praticado por bando ou quadrilha
É possível responsabilizar-se o agente pelo crime autônomo de associação criminosa 
(art. 288) em concurso material com a forma qualificada em estudo. Não há falar em bis in idem, uma vez 
que os momentos consumativos e a objetividade jurídica entre tais crimes são totalmente diversos, além do 
que a figura prevista no art. 288 do CP existe independentemente de algum crime vir a ser praticado pela 
quadrilha ou bando. 
IV) EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO QUALIFICADA PELO RESULTADO: LESÃO GRAVE OU
MORTE – Art. 159, §§ 2º e 3º
A regra, repetindo, é que, nesses crimes, o resultado agravador seja sempre produto 
de culpa. Contudo, na hipótese em apreço, a extrema gravidade das sanções cominadas uniu o entendimento 
doutrinário que passou a admitir a possibilidade, indistintamente, de o resultado agravador poder decorrer 
tanto de culpa quanto de dolo, direto ou eventual. 
a) Se resulta lesão corporal grave
b) se resulta morte
V) DELAÇÃO PREMIADA – Art. 159, § 4º
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A Lei 8.072/90, que instituiu os crimes hediondos, houve por bem criar, no Brasil, a 
delação premiada, que significa a possibilidade de se reduzir a pena do criminoso que entregar o(s) 
comparsa(s) a qualquer autoridade capaz de levar o caso à solução almejada, causando a liberação da vítima 
(delegado, juiz, promotor, entre outros). 
14) DANO – Art. 163 
 
 
 
 
I) AÇÃO NUCLEAR 
Destruir quer dizer arruinar, extinguir ou eliminar. Inutilizar significa tornar inútil ou 
imprestável alguma coisa aos fins para os quais se destina. Deteriorar é a conduta de quem estraga ou 
corrompe alguma coisa parcialmente. 
É o dolo. Não há a forma culposa, nem se exige qualquer elemento subjetivo do tipo 
específico (dolo específico). 
Basta a vontade de destruir, não sendo exigível o fim especial de causar prejuízo ao 
ofendido, pois a figura penal não faz referência expressa a nenhum elemento subjetivo do tipo. 
 
II) DANO QUALIFICADO – Art. 163, parágrafo único 
I) VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA A PESSOA 
II) COM EMPREGO DE SUBSTÂNCIA INFLAMÁVEL OU EXPLOSIVA, SE O FATO NÃO CONSTITUI CRIME MAIS 
GRAVE 
III) PATRIMÔNIO PÚBLICO 
IV) MOTIVO EGOÍSTICO E PREJUÍZO CONSIDERÁVEL 
III) AÇÃO PENAL – Art. 167 
De acordo com o art. 167, a ação penal privada é cabível no crime de dano simples 
(caput) e qualificado (somente na hipótese do inciso IV do parágrafo único). 
A ação penal pública incondicionada é cabível nas demais hipóteses. 
15) APROPRIAÇÃO INDÉBITA – Art. 168 
I) CONCEITO E OBJETIVIDADE JURÍDICA 
DANO 
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou 
deteriorar coisa alheia: 
Pena - detenção, de um a seis meses, 
ou multa. 
 
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O pressuposto do crime de apropriação indébita é a anterior posse lícita da coisa 
alheia, da qual o agente se apropria indevidamente. A posse, que deve preexistir ao crime, deve ser exercida 
pelo agente em nomealheio, isto é, em nome de outrem. 
O núcleo do tipo é o verbo “apropriar-se”, que significa fazer sua a coisa alheia. 
Tendo o sujeito a posse ou a detenção do objeto material, em dado momento faz mudar o título da posse ou 
da detenção, comportando-se como se dono fosse. 
A apropriação pode ser classificada em: 
1º) APROPRIAÇÃO INDÉBITA PROPRIAMENTE DITA: Ocorre quando o sujeito realiza 
ato demonstrativo de que inverteu o título da posse, como a venda, doação, consumo, penhor, ocultação, etc. 
2º) NEGATIVA DE RESTITUIÇÃO: Neste caso, o sujeito afirma claramente ao 
ofendido que não irá devolver o objeto material. 
I) CAUSAS DE AUMENTO DE PENA – Art. 168, § 1º 
a) EM DEPÓSITO NECESSÁRIO; 
O depósito necessário, disciplinado no inciso I do § 1º do art. 168, é apenas aquele 
conhecido como miserável, ou seja, levado pela necessidade de salvar a coisa da iminência de uma calamidade, 
ou, como define o próprio CC, “o que se efetua por ocasião de alguma calamidade, como o incêndio, a 
inundação, o naufrágio ou o saque” (art. 647). Está excluído, por conseguinte, o depósito legal. 
b) NA QUALIDADE DE TUTOR, CURADOR, SÍNDICO, LIQUIDATÁRIO, INVENTARIANTE, 
TESTAMENTEIRO OU DEPOSITÁRIO JUDICIAL; 
c) EM RAZÃO DE OFÍCIO, EMPREGO OU PROFISSÃO. 
Para que se configure a agravante especial em exame é necessário que o sujeito 
tenha recebido a posse ou detenção do objeto material em razão do emprego, ou seja, deve existir um nexo 
de causalidade entre a relação de trabalho e o recebimento. 
 
16) ESTELIONATO – Art. 171 
I) AÇÃO NUCLEAR 
Consiste em induzir ou manter alguém em erro, mediante o emprego de artifício, 
ardil, ou qualquer meio fraudulento, a fim de obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita em prejuízo 
alheio. 
A característica primordial do estelionato é a fraude: engodo empregado pelo sujeito 
para induzir ou manter a vítima em erro, com o fim de obter um indevido proveito patrimonial. 
91
O meio de execução deve ser apto a enganar a vítima. Tratando-se de meio 
grotesco, que facilmente demonstra a intenção fraudulenta, não há nem tentativa, por atipicidade do fato. 
II) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
Trata-se de crime material. Consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita 
indevida, em prejuízo alheio, ou seja, quando o agente aufere o proveito econômico, causando dano à vítima. 
Via de regra, esses resultados ocorrem simultaneamente. Há, assim, ao mesmo tempo, a obtenção de proveito 
pelo estelionatário e o prejuízo da vítima. 
III) FRAUDE NO PAGAMENTO POR MEIO DE CHEQUE – Art. 171, § 2º, VI 
Se o indivíduo emite um cheque na certeza de que tem fundos disponíveis para o 
devido pagamento pelo banco, quando na realidade não há qualquer numerário depositado na agência 
bancária, não se pode falar em ilícito criminal, ante a ausência de má-fé. 
O que a lei penal pune é o pagamento fraudulento. Nesse sentido é o teor da 
Súmula 246 do STF: “comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque 
sem fundos”. 
Emitir cheque significa pôr em circulação o título de crédito; frustrar o pagamento 
quer dizer iludir ou enganar o credor, evitando a sua remuneração. 
a) Emitir cheque sem provisão de fundos 
O agente preenche, assina e coloca o cheque em circulação sem ter numerário 
suficiente na instituição bancária (banco sacado) para cobrir o valor quando da apresentação do título pelo 
tomador. No momento da emissão do cheque – que não significa simplesmente o seu preenchimento, mas a 
entrega a terceiro – é preciso que o estabelecimento bancário, encarregado da compensação, já não possua 
fundo suficiente para cobrir o pagamento. 
b) Frustrar o pagamento de cheque 
Neste caso, o agente possui fundos suficientes na instituição bancária quando da 
emissão do cheque, contudo, antes de o beneficiário apresentar o título ao banco, aquele retira todo o 
numerário depositado ou apresenta uma contraordem de pagamento. 
C) Consumação 
Segundo o art. 4º, § 1º, da Lei 7.357/85, a existência de fundos disponíveis é 
verificada no momento da apresentação do cheque para pagamento. Destarte, o crime se consuma no 
momento e no local em que o banco sacado recusa o pagamento, pois só nesse momento ocorre o prejuízo 
(trata-se de crime material). 
Esse é o teor da Súmula 521 do STF: “O foro competente para o processo e 
julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, 
é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado”. 
92
Arrependendo-se o agente antes da apresentação do título pelo beneficiário no 
banco sacado, e depositando o numerário necessário para cobrir a quantia constante do cheque, haverá 
arrependimento eficaz, não respondendo ele por crime algum. 
Se, por outro lado, o agente arrepender-se somente após a consumação do crime, 
ou seja, após a recusa do pagamento pelo banco sacado, incidirá a Súmula 554 do STF: “ O pagamento de 
cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da 
ação penal”. 
Assim, o pagamento do cheque antes do recebimento da denúncia extingue a 
punibilidade do agente. 
 
17) RECEPTAÇÃO – Art. 180 
I) CONCEITO 
Nos termos do artigo 180, “caput”, do CP, a receptação é o fato de adquirir, receber, 
transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio coisa que sabe ser produto de crime, ou influir 
para que terceiro, de boa fé, a adquira, receba ou oculte. 
É pressuposto do crime de receptação a existência de crime anterior. Trata-se de 
delito acessório, em que o objeto material deve ser produto de crime antecedente, chamado de delito 
pressuposto. 
A receptação dolosa pode ser: 
A) PRÓPRIA : Constitui receptação dolosa própria o fato de o sujeito adquirir, 
receber, ocultar etc, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime (art. 180, “caput”, 1ª 
parte). 
B) IMPRÓPRIA : A receptação dolosa imprópria se encontra descrita no art. 180, 
“caput”, 2ª parte. Constitui o fato de o sujeito influir para que terceiro, de boa fé, adquira, receba ou oculte 
coisa produto de crime. 
A receptação culposa constitui o fato de o sujeito adquirir ou receber coisa que, por 
sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve 
presumir-se obtida por meio criminoso (art. 180, § 3º). 
II) RECEPTAÇÃO QUALIFICADA – Art. 180, § 1º 
Forma qualificada - § 1º: Tem como elemento subjetivo o dolo, seja direto ou 
eventual. 
III) RECEPTAÇÃO CULPOSA – Art. 180, §3º 
93
Forma culposa - § 3º: O código refere coisa que, “pela sua natureza, deve presumir-
se obtida por meio criminoso”. A expressão “deve presumir-se” é indicativo de culpa na modalidade 
imprudência. 
IV) RECEPTAÇÃO PUNÍVEL AUTONOMAMENTE – Art. 180, § 4º 
Receptação punível autonomamente - § 4º: Para a concretização do crime de 
receptação não importa se houve a anterior condenação do autor do crime anterior. Porém, é necessário 
evidenciar-se a existência do crime anterior. 
V) PERDÃO JUDICIAL – Art. 180, § 5º 
Nos termos do artigo 180, § 5º, 1ª parte, do CP, na hipótese da receptação culposa, 
se o criminoso é primário, deve o juiz, tendo em consideração determinadas circunstâncias, deixar de aplicar 
a pena. No caso, fixaram a doutrina e a jurisprudência, que, além da primariedade, deve-se exigir o seguinte: 
a) diminuto valor da coisa objeto da receptação; b) bons antecedentes; c) ter o agente atuado com culpa 
levíssima. 
VI) TIPO QUALIFICADO – Art. 180, § 6º 
Outra forma qualificada: Quando o produto de crime pertencer à União, Estado, 
Município, empresa de serviços públicos ou sociedade de economia mista. Exige-se que o agente tenha 
conhecimento disso. 
18) ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS 
 
I) IMUNIDADE ABSOLUTA – Art. 181 
Trata-se da chamada imunidade penal absoluta, também conhecida comoescusa 
absolutória, incidente sobre os crimes contra o patrimônio, nas seguintes hipóteses: 
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; 
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil 
ou natural. 
II) IMUNIDADE RELATIVA – Art. 182 
Consubstancia-se em imunidade penal relativa ou processual, a qual não extingue a 
punibilidade, mas tão-somente impõe uma condição objetiva de procedibilidade. 
Neste caso, ao contrário da imunidade absoluta, o autor do crime não é isento de 
pena, mas os crimes de ação penal pública incondicionada passam a ser condicionados à representação do 
ofendido. 
III) EXCLUSÃO DE IMUNIDADE OU PRIVILÉGIO – Art. 183 
94
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de 
grave ameaça ou violência à pessoa; 
II - ao estranho que participa do crime. 
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 
(sessenta) anos. 
19) ESTUPRO – art. 213 
 
 
 
 
 
I) CONCEITO E ELEMENTOS DO TIPO 
A Lei n. 12.015, de 07 de agosto de 2009 proporcionou uma unificação das figuras 
anteriormente caracterizadoras do estupro e do atentado violento ao pudor. Aliás, está revogado o artigo 214 
do Código Penal que, anteriormente, previa o atentado violento ao pudor. 
Constranger significa tolher a liberdade, forçar ou coagir. Nesse caso, o cerceamento 
destina-se a obter a conjunção carnal. Ato libidinoso é aquele destinado a satisfazer a lascívia, o apetite sexual 
do agente. Considerando que a conjunção carnal é a cópula vagínica, todos os demais atos que servem à 
satisfação do prazer sexual são considerados libidinosos, tais como o sexo oral ou anal, o toque em partes 
íntimas, a masturbação, o beijo lascivo, a introdução dos dedos na vagina. 
II) SUJEITO ATIVO E PASSIVO 
Com a lei nova, outra inovação substancial diz respeito ao sujeito passivo. 
Anteriormente à reforma, o sujeito passivo do crime de estupro era apenas a mulher. Atualmente, o estupro 
poderá ter como sujeito passivo homens ou mulheres, quando constrangidos à prática de atos libidinosos de 
qualquer natureza. 
Atinente ao sujeito ativo, por sua vez, pode ser homem ou mulher, 
indistintamente. 
III) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
O delito consuma-se com a prática do ato de libidinagem (gênero que abrange 
conjunção carnal e vasta enumeração de atos libidinosos ofensivos à dignidade sexual da vítima), sendo 
perfeitamente possível a tentativa, quando, iniciada a execução, o ato sexual visado não se consuma por 
circunstâncias alheias à vontade do agente. 
ESTUPRO 
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência 
ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a 
praticar ou permitir que com ele se pratique 
outro ato libidinoso: 
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. 
95
Antes da Lei nova, se ocorresse conjunção carnal e atos libidinosos substanciais 
contra a mesma mulher, tínhamos estupro e atentado violento ao pudor. Discutia-se, apenas, se deveria incidir 
a continuidade delitiva ou se se tratava de concurso material de crimes. 
Agora, tendo o legislador unificado os tipos penais do estupro e do atentado violento 
ao pudor, passando a existir apenas o estupro e o estupro contra vulnerável, haverá crime único, se praticado 
no mesmo contexto fático. 
 
IV) FORMAS QUALIFICADAS – art. 213, §§1º e 2º 
Duas são as hipóteses: 1ª) ocorrência de lesões graves (que abrangem as lesões 
gravíssimas) decorrentes da conduta do agente. 2ª) vítima maior de 14 anos e menor de 18 anos na data do 
fato. 
Quanto às lesões graves (ou gravíssimas), devem ocorrer da conduta. Com isso, 
deixou claro o legislador que tais resultados devem decorrer da conduta, portanto da violência ou grave 
ameaça empregadas contra a vítima. 
O parágrafo 2º do artigo 213, por sua vez, prevê o resultado qualificador morte, 
também decorrente da conduta. Neste particular, houve redução da pena máxima, que anteriormente era de 
25 anos, passando para 20 anos de reclusão. 
Em ambos os casos, consoante já se tinha definido por ocasião do revogado artigo 
223 do Código Penal, os resultados lesões graves (ou gravíssimas) e morte devem ocorrer a título de culpa do 
agente. 
 
20) ESTUPRO DE VULNERÁVEL – Art. 217-A 
Antes da Lei 12.015/2009, o ato sexual com pessoa vulnerável configurava, a 
depender do caso, estupro ou atentado violento ao pudor, mesmo que praticado sem violência física ou moral, 
pois presumida no art. 224 do CP. Este dispositivo agora está expressamente revogado, subsumindo-se a 
conduta ao disposto no art. 217-A do CP. 
I) SUJEITOS DO CRIME 
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. 
A vítima, por sua vez, só pode ser pessoa com menos de 14 anos (caput) ou 
portadora de enfermidade ou deficiência mental ou incapaz de discernimento para a prática do ato, ou que, 
por qualquer outra causa, sem condições de oferecer resistência (§ 1º). 
 
96
II) TIPO SUBJETIVO 
O crime é punido a título de dolo, devendo o agente ter ciência de que age em face 
de pessoa vulnerável. 
III) FORMAS QUALIFICADAS – ART. 217-A, §§ 3º E 4º 
Os parágrafos 3º e 4º qualificam o delito de estupro contra vulnerável se da conduta 
ocorrer resultado lesão grave (por consequência, gravíssima também) ou morte da vítima. 
 
21) AÇÃO PENAL – Art. 225 
Relevantes inovações foram produzidas quanto à ação penal. 
Primeira delas foi a eliminação da ação penal privada em delitos dessa natureza, que 
antes era a regra. 
Com a reforma, a regra é a ação penal pública condicionada à representação. 
Veja-se que o estupro com resultado lesões graves (gravíssimas) ou morte passou 
a ser delito de ação penal pública condicionada à representação. Ora, total impropriedade cometeu o 
legislador. Imagine-se aludido delito com resultado morte da vítima. 
Evidentemente, pode-se ter a representação por aquelas pessoas elencadas no 
artigo 24, parágrafo 1º, do CPP. De qualquer sorte, parte da doutrina considera ainda aplicável a Súmula 608 
do STF, em vigor, determina que o estupro com violência real é delito de ação penal pública incondicionada. 
Certamente, deverá prevalecer ante a redação do Código, consoante já ocorria anteriormente quando a ação 
era, de regra, privada. 
 
22) PECULATO – Art. 312 
 
 
I) CONCEITO 
O peculato próprio, na realidade, constitui uma apropriação indébita, só que 
praticada por funcionário público com violação do dever funcional. Antes de ser uma ação lesiva aos interesses 
patrimoniais da Administração Pública, é principalmente uma ação que fere a moralidade administrativa, em 
virtude de quebra do dever funcional. 
 
A) PECULATO-APROPRIAÇÃO: 
É o denominado peculato próprio. 
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de 
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público 
ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, 
ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: 
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. 
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A ação nuclear típica consubstancia-se no verbo apropriar. Assim como no crime de 
apropriação indébita, o agente tem a posse (ou detenção) lícita do bem móvel, público ou particular, e inverte 
esse título, pois passa a comportar-se como se dono fosse, isto é, consome-o, aliena-o. 
 
B) PECULATO-DESVIO: 
É o denominado peculato próprio. Está previsto na segunda parte do caput do art. 
312: “ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio”. 
O agente tem a posse da coisa e lhe dá destinação diversa da exigida por lei, agindo 
em proveito próprio ou de terceiro. 
Por exemplo, o funcionário empresta o dinheiro público para perceber os juros. 
II) SUJEITOS DO DELITO 
Trata-se de crime próprio. Somente o funcionário público (art. 327, caput) e as 
pessoas a ele equiparadas legalmente (art. 327, §§1º e 2º) podem praticar o delito de peculato.A condição especial funcionário público, como elementar do crime de peculato, 
comunica-se ao particular que eventualmente concorra, na condição de coautor ou partícipe, para a prática 
do crime, nos termos da previsão do art. 30 do CP. Portanto, é perfeitamente possível o concurso de pessoas, 
dada a comunicabilidade da elementar do crime (art. 30). 
III) PECULATO-FURTO – Art. 312, § 1º: 
É o denominado peculato impróprio. 
Estamos agora diante de um crime de furto, só que praticado por funcionário público, 
o qual se vale dessa qualidade para cometê-lo. Aqui o agente não tem a posse ou detenção do bem como no 
peculato-apropriação ou desvio, mas se vale da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário 
público para realizar a subtração. 
IV) PECULATO CULPOSO – Art. 312, § 2º 
Pune-se aqui o funcionário público que por negligência, imprudência ou imperícia 
concorre para a prática de crime de outrem. 
O funcionário para ser punido insere-se na figura do garante, prevista no art. 13, § 
2º. Assim, tem ele o dever de agir, impedindo o resultado de ação delituosa de outrem. Não o fazendo, 
responde por peculato culposo. 
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Ex. se um vigia de prédio público desvia-se de sua função de guarda, por 
negligência, permitindo, pois, que terceiros invadam o lugar e de lá subtraiam bens, responde por peculato 
culposo. 
V) EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NO PECULATO CULPOSO – Art. 312, § 3º 
A reparação do dano, para dar causa à extinção da punibilidade, deve ser anterior 
ao trânsito em julgado da sentença criminal. 
Deve ser completa e não exclui eventual sanção administrativa contra o funcionário. 
A extinção da punibilidade somente aproveita o funcionário, autor do peculato culposo. 
Consoante a segunda parte do § 3º, no crime culposo, se a reparação do dano é 
posterior à sentença irrecorrível, isto é, transitada em julgado, haverá a redução de metade da pena imposta. 
23) CONCUSSÃO – Art. 316 
I) AÇÃO NUCLEAR 
A ação nuclear consubstancia-se no verbo exigir, isto é, ordenar, reivindicar, impor 
como obrigação. 
A vítima cede às exigências formuladas pelo agente ante o temor de represálias 
relacionadas ao exercício da função pública por ele exercida. 
Assim, não é necessária a promessa da causação de um mal determinado; basta o 
temor que autoridade inspira. 
Ex. carcereiro que exige dinheiro dos presos sob sua custódia. Na hipótese, o 
simples fato de os presos encontrarem-se sob a guarda daquele gera neles o temor de eventuais represálias. 
Contudo, não pratica esse delito, mas o de extorsão ou roubo, por exemplo, o policial 
militar que exige vantagem indevida da vítima utilizando-se de violência, ou ameaçando-a gravemente de 
sequestrar seu filho. 
II) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
Trata-se de crime formal. A consumação ocorre com a mera exigência da vantagem 
indevida, independentemente de sua efetiva obtenção. Se esta sobrevém, há mero exaurimento do crime. 
E possível a tentativa, na hipótese em que o crime é plurissubsistente. 
 
24) EXCESSO DE EXAÇÃO – Art. 316, § 1º e 2º 
I) MODALIDADES 
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São duas as modalidades previstas: 
* EXIGÊNCIA INDEVIDA: 
Aqui a exigência do tributo ou contribuição social é indevida (elemento normativo 
do tipo), isto é, não há autorização legal para sua cobrança, ou seu valor já foi quitado pela vítima, ou então 
se refere a quantia excedente à fixada por lei. 
* COBRANÇA VEXATÓRIA OU GRAVOSA NÃO AUTORIZADA EM LEI (EXCESSO NO MODO DE 
EXAÇÃO OU EXAÇÃO FISCAL VEXATÓRIA). 
Ao contrário da modalidade criminosa precedente, aqui a exigência de tributo ou 
contribuição social é devida, mas a cobrança se faz com o emprego de meio gravoso ou vexatório para o 
devedor, o qual não é autorizado por lei. 
 
II) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
A) EXIGÊNCIA INDEVIDA: Aqui o delito se consuma no momento em que é feita a exigência do tributo ou 
contribuição social. 
Trata-se de crime formal, portanto a consumação independe do efetivo pagamento 
do tributo ou contribuição social pela vítima. 
A tentativa é possível. Ex. carta contendo a exigência de vantagem, a qual é 
interceptada antes de chegar ao conhecimento da vítima. 
B) COBRANÇA VEXATÓRIA OU GRAVOSA: Consuma-se com o emprego do meio vexatório ou gravoso na 
cobrança do tributo ou contribuição social, independentemente de seu efetivo recebimento. 
A tentativa é possível. 
Ex. Com o devido aparato já se acha na casa ou estabelecimento do ofendido, mas 
é obstado antes que inicie a cobrança. 
 
C) EXCESSO DE EXAÇÃO – FORMA QUALIFICADA – Art. 316, § 2º 
Nessa modalidade mais gravosa do crime de excesso de exação, pune-se o 
funcionário público que, em vez de recolher o tributo ou contribuição social, indevidamente exigido (§1º), para 
os cofres públicos, desvia-o em proveito próprio ou alheio. 
 
25) CORRUPÇÃO PASSIVA – Art. 317 
 
I) AÇÃO NUCLEAR 
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Trata-se de crime de ação múltipla. Três são as condutas típicas previstas: 
a) SOLICITAR: pedir, manifestar que deseja algo. Não há o emprego de qualquer ameaça explícita ou 
implícita. O funcionário solicita vantagem, e a vítima cede por deliberada vontade. 
 
b) RECEBER: aceitar, entrar na posse. Significa obter, direta ou indiretamente, para si ou para outrem, 
vantagem indevida. 
Aqui a proposta parte de terceiros e a ela adere o funcionário, ou seja, o agente não 
só aceita a proposta como recebe a vantagem indevida. 
Ao contrário da primeira modalidade, é condição essencial para sua existência que 
haja a anterior configuração do crime de corrupção ativa, isto é, o oferecimento de vantagem indevida (art. 
333). Sem essa oferta pelo particular, não há como falar em recebimento de vantagem. 
c) ACEITAR A PROMESSA DE RECEBÊ-LA: Nessa modalidade típica basta que o funcionário concorde com 
o recebimento da vantagem. Não há o efetivo recebimento dela. Deve haver necessariamente uma proposta 
formulada por terceiros, à qual adere o funcionário, mediante a aceitação de receber a vantagem. 
II) CLASSIFICAÇÃO 
a) CORRUPÇÃO PASSIVA PRÓPRIA 
Na corrupção passiva o funcionário, em troca de alguma vantagem, pratica ou deixa 
de praticar ato de ofício para beneficiar alguém. O ato a ser praticado pode ser ilegítimo, ilícito ou injusto. É 
a chamada corrupção própria. 
Ex. o funcionário do cartório criminal solicita indevida vantagem econômica para 
suprimir documentos do processo judicial. 
 
b) CORRUPÇAO PASSIVA IMPRÓPRIA 
Também configura o crime a prática de ato legítimo, lícito, justo. É a chamada 
corrupção passiva imprópria. 
Ex. oficial de justiça solicita vantagem econômica ao advogado, a fim de dar 
prioridade ao cumprimento do mandado judicial expedido em processo em que aquele atua. 
 
III) SUJEITOS DO DELITO 
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Trata-se de crime próprio . Portanto, o delito só pode ser cometido por funcionário 
público em razão da função (ainda que esteja fora dela ou antes de assumi-la) 
Nada impede, contudo, a participação do particular, ou de outro funcionário, 
mediante induzimento, instigação ou auxílio. O particular que oferece ou promete vantagem indevida ao 
funcionário público responde pelo delito de corrupção ativa (art. 333) e não pela participação no crime em 
estudo. Trata-se de exceção á regra prevista no artigo 29 do CP. 
IV) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
Trata-se de crime formal . Portanto, a consumação ocorre com o ato de solicitar, 
receber ou aceitar a promessa de vantagem indevida. 
A corrupção passiva consuma-se instantaneamente, isto é, com a simples solicitação 
da vantagem indevida, recebimento desta ou com a aceitação da mera promessa daquela. 
O tipo penal não exige que o funcionário pratique ou se abstenha da prática do ato 
funcional. Se isso suceder, haverá mero exaurimento do crime, o qual constitui condição de maior punibilidade 
(causa de aumento de pena prevista no § 1º do art. 317).A tentativa é de difícil ocorrência, mas não é impossível. Basta que haja um iter 
criminis a ser cindido. Ex. solicitação feita por carta, a qual é interceptada pelo chefe de repartição. 
V) CAUSA DE AUMENTO DE PENA – Art. 317, § 1º 
Eleva-se em 1/3 a pena do agente que, em razão da vantagem recebida ou 
prometida, efetivamente retarda (atrasa ou procrastina) ou deixa de praticar (não leva a efeito) ato de ofício 
que lhe competia desempenhar ou termina praticando o ato, mas desrespeitando o dever funcional. É o que 
a doutrina classifica de corrupção exaurida. 
VI) FIGURA PRIVILEGIADA – Art. 317, § 2º 
Trata-se de conduta de menor gravidade, na medida em que o agente pratica, deixa 
de praticar ou retarda o ato de ofício, não em virtude do recebimento de vantagem indevida, mas cedendo a 
pedido ou influência de outrem, isto é, para satisfazer interesse de terceiros ou para agradar ou bajular pessoas 
influentes. 
 
 
 
 
 
Art. 317, CP 
CORRUPÇÃO 
PASSIVA 
SOLICITAR 
RECEBER 
ACEITAR PROMESSA 
CRIME 
FORMAL 
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26) PREVARICAÇÃO – Art. 319 
 
I) ELEMENTOS DO TIPO. AÇÃO NUCLEAR. OBJETO MATERIAL. 
 
A) RETARDAR: É atrasar, adiar, protelar, procrastinar, não praticar o ato de ofício dentro do prazo 
estabelecido (crime omissivo). 
Ex. atendente de cartório judicial que, devendo expedir alvará de soltura, por não 
simpatizar com o advogado, deixa de fazê-lo com a brevidade que a medida exige. 
 
B) DEIXAR DE PRATICAR: trata-se de mais uma modalidade omissiva do crime em estudo. Aqui, no 
entanto, ao contrário da conduta precedente, há o ânimo definitivo de não praticar o ato de ofício. 
 
C) PRATICAR (contra disposição expressa de lei): cuida-se aqui de conduta comissiva, em que o agente 
efetivamente executa o ato, só que de forma contrária à lei. 
O interesse pessoal é qualquer proveito, vantagem, podendo ser patrimonial ou 
moral. 
Quanto ao interesse patrimonial, importa distinguir algumas situações: 
 
A) se o ato praticado, retardado ou omitido tiver sido objeto de acordo anterior entre 
o funcionário e o particular, visando aquele indevida vantagem, o crime passará a ser outro: corrupção passiva; 
B) se houver, anteriormente à prática ou omissão do ato, a exigência de vantagem 
indevida pelo funcionário público, haverá o crime de concussão. 
* sentimento pessoal: 
Sentimento pessoal reflete um estado afetivo ou emocional do próprio agente, que 
pode manifestar-se em suas mais variadas formas, tais como amor, paixão, emoção, ódio. 
 
27) CORRUPÇÃO ATIVA – Art. 333 
 
I) AÇÃO NUCLEAR 
As ações nucleares do tipo estão consubstanciadas nos verbos: 
OFERECER vantagem indevida, ou seja, propor ou apresentar para que seja aceita; 
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PROMETER vantagem indevida, isto é, comprometer-se, fazer promessa, garantir 
a entrega de algo ao funcionário. 
Por não se tratar de crime bilateral, prescinde-se da aceitação da vantagem pelo 
funcionário público. Caso aceite, o funcionário deverá responder pelo delito de corrupção passiva. 
II) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
Trata-se de crime formal, uma vez que a consumação se dá com a simples oferta 
ou promessa de vantagem indevida por parte do agente ao funcionário público, isto é, independentemente de 
ele aceitá-la ou recusá-la. Também não é necessário que o funcionário pratique, retarde ou omita o ato de 
ofício de sua competência. 
A tentativa é possível. 
Ex. suponha-se a hipótese em que a correspondência contendo a oferta de dinheiro 
não chega às mãos do funcionário destinatário por ter sido apreendida pela polícia. 
III) CAUSA DE AUMENTO DE PENA – Art. 333, parágrafo único 
Eleva-se a pena em 1/3 quando, em razão da promessa ou da vantagem, o 
funcionário público efetivamente atrasa ou não faz o que deveria, ou mesmo pratica o ato, infringindo dever 
funcional. Nessa hipótese, o crime é material, isto é, exige resultado naturalístico. 
28) DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA – Art. 339 
I) AÇÃO NUCLEAR 
O elemento do tipo “alguém” indica, nitidamente, tratar-se de pessoa certa, não se 
podendo cometer o delito ao indicar para a autoridade policial apenas a materialidade do crime e as várias 
possibilidades de suspeitos. 
Via de regra, a denunciação caluniosa é praticada de forma direta, isto é, o próprio 
agente leva o fato ao conhecimento da autoridade, dando causa à investigação, mas nada impede que 
ela ocorra na forma indireta. 
A imputação deve ser falsa . Assim, temos: 
a) o fato criminoso é verdadeiro, porém a pessoa a quem se atribui a autoria ou 
participação não o praticou. 
b) o fato criminoso é inexistente. Atribui-se ao imputado a prática de crime que 
não ocorreu. 
c) o fato criminoso existiu, porém se atribui ao imputado a prática de crime mais 
grave. Ex. afirmar que Fulano roubou, quando na realidade ele furtou. 
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II) CONSUMAÇÃO 
Trata-se de crime formal , ou seja, delito que não exige, para sua consumação, 
resultado naturalístico, consistente no efetivo prejuízo para a administração da justiça. 
Consuma-se, portanto, com a instauração de investigação policial, de processo 
judicial, de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém. 
Não se exige que a autoridade policial formalmente instaure o inquérito policial para 
que se consume o crime. Basta que inicie investigação policial no sentido de coletar dados que apure a 
veracidade da denúncia. 
 
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	Material de Apoio - Direito Penal.pdf
	Capa - Material de Apoio
	Direito Penal - Nidal Ahmad
	ANEXAR NIDAL.pdf

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