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Instituições de Direito para Economistas

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AULA 01 – INSTITUIÇÕES DE DIREITO PARA ECONOMISTAS
1. DIREITO
CONCEITO DE DIREITO
Não há entre os autores consenso sobre o conceito do direito; impossível foi que se pusessem de acordo sobre uma fórmula única. Realmente, o direito tem escapado aos marcos de qualquer definição universal; dada a variedade de elementos e particularidades que apresenta, não é fácil discernir o mínimo necessário de notas sobre as quais se deve fundar seu conceito.
Isto é assim porque o termo “direito” não é unívoco (o que se aplica a uma só realidade), e nem tampouco equívoco (que designa duas ou mais realidades desconexas), mas análogo, pois designa realidades conexas ou relacionadas entre si. Deveras, esse vocábulo ora se aplica à “norma”, ora à “autorização” ou permissão” dada pela norma de ter ou fazer o que ela não proíbe, ora a “qualidade do justo” etc., exigindo tantos conceitos quantas forem as realidades a que se refere. De maneira que a tarefa de definir, ontologicamente, o direito resulta sempre frustrada ante a complexidade do fenômeno jurídico”, devido à impossibilidade de se conseguir um conceito universalmente aceito, que abranja de modo satisfatório toda a gama de elementos heterogêneos que compõem o direito.
Percebe-se assim que o direito só pode existir em função do homem. O homem é um ser gregário por natureza, é um ser eminentemente social, não só pelo instinto sociável, mas também por força de sua inteligência que lhe demonstra que é melhor viver em sociedade para atingir seus objetivos. O homem é “essencialmente coexistência”, pois não existe apenas, mas coexiste, isto é, vive necessariamente em companhia de outros homens. Com isso, espontânea e até inconscientemente é levado a formar grupos sociais: família, escola, associação esportiva, recreativa, cultural, religiosa, profissional, mercantil, etc.
Em razão disso é que Maria Helena Diniz define o direito como uma ordenação heterônoma das relações sócias, baseada numa integração normativa de fatos e valores.
Já para Miguel Real o direito é fato, valor e norma. Segundo o renomado doutrinador, o direito é a ordenação ética coercível, heterônoma e bilateral atributiva das relações sociais, na medida do bem comum. Sua definição, portanto, apresenta a soma das características gerais e distintivas das normas éticas.
Analisando-se os termos utilizados pelo autor na definição, verificamos, primeiro, que o direito é uma ordenação. A palavra ordenação pode ser entendida como o conjunto de normas que organizam alguma coisa. Por ser uma ordenação ética, essas normas organizam a esfera ética da cultura humana.
O direito, assim, é um conjunto de normas éticas (uma “ordenação ética”). Todas as normas éticas compartilham de determinadas características gerais, como dito acima: são imperativas (impõem uma conduta; regem-se pelo princípio da imputação – “dever ser”), violáveis (a conduta pode ser respeitada ou não) e contrafáticas (ainda que sejam desrespeitadas, as normas éticas não perdem seu valor).
Além disso, o direito possui todas as características distintivas das normas éticas, conforme especificado por Miguel Reale:
É coercível, ou seja, busca minimizar o índice de violabilidade mediante ameaças de recurso à força;
É heterônomo, pois as normas jurídicas são elaboradas pelo Estado e devem ser cumpridas independentemente da aceitação íntima do destinatário;
É axiologicamente bilateral pois busca concretizar valores que não estão reduzidos a uma das partes da relação fática, e sim valores que levam ao bem comum;
É atributivo pois atribui poderes garantidos aos destinatários das normas jurídicas.
Convém destacar, por fim, que tal definição congrega os três elementos da tridimensionalidade ética: fato, valor e norma. O direito busca valores ligados ao bem comum (bilateralidade axiológica) por meio da criação de normas éticas heterônomas que limitam os fatos de modo coercível e atributivo.
DIREITO PÚBLICO X DIREITO PRIVADO
O fundamento da divisão encontra-se no “interesse preponderante ou dominante”. Assim as normas de direito público seriam as que assegurariam diretamente o interesse da sociedade e indiretamente o interesse dos indivíduos e mediatamente o do poder público. 
Dessa forma pertenceriam ao direito público: a) Direito Constitucional – que visa regulamentar a estrutura básica do Estado, disciplinando sua organização ao tratar da divisão dos poderes, das funções e limites de seus órgãos e das relações entre governantes e governados; b) Direito Administrativo – que é o conjunto de normas que regem a atividade estatal, exceto no que se refere aos atos jurisdicionais e legislativos, visando à consecução de fins sociais e políticos ao regulamentar a atuação governamental, a administração dos bens públicos; c) Direito tributário – disciplinando impostos, taxas e contribuições; d) Direito Processual – que disciplina a atividade do Poder Judiciário e dos que a ele requerem ou perante ele litigam, correspondendo, portanto, à função estatal de distribuir a justiça; e) Direito Penal – que é o complexo de normas que definem crimes e estabelecem penas, com as quais o Estado mantém a integridade da ordem jurídica, mediante sua função preventiva e repressiva; f) Direito Previdenciário – que diz respeito à contribuição para o seguro social e aos seus benefícios oriundos (pensão, auxílios, aposentadoria); g) Direito Internacional – que regula as relações entre Estados (países).
Pertencem ao direito privado: a) direito civil – que regulamenta os direitos e deveres de todas as pessoas, enquanto tais, contendo normas sobre o estado, capacidade e as relações atinentes à família, às coisas, às obrigações e sucessões; b) direito empresarial – que disciplina a atividade econômica de produção e circulação de bens e serviços do empresário e da sociedade empresária; c) o direito do trabalho que rege as relações entre empregador e empregado, compreendendo normas sobre a organização do trabalho e da produção; d) o direito do consumidor, conjunto de normas que regem as relações de consumo existentes entre consumidor e fornecedor.
Há, nos dias atuais, uma tendência à publicização do direito privado, em virtude da interferência do direito público nas relações jurídicas privadas, como ocorre com o direito de família.
FONTES DO DIREITO
O termo “fonte do direito” é empregado metaforicamente, pois em sentido próprio – fonte – é a nascente de onde brota uma corrente de água. Justamente por ser uma expressão figurativa tem mais de um sentido. Para o presente estudo, fonte significa tudo aquilo que origina, que produz algo.
Nesta acepção, “fonte jurídica” seria a origem primária do direito. A expressão, no Direito, indica as formas pelas quais se manifesta.
As fontes do direito asseguram à sociedade que o juiz, ao decidir os casos concretos que lhe são postos, não decida pautado em critérios subjetivos, centrado em critérios pessoais
São quatro as fontes formais clássicas do Direito:
a) Lei
b) O costume
c) Jurisprudência
d) Doutrina
a) LEI
A lei é mais importante fonte formal do Direito. Entende-se por lei a norma jurídica escrita emanada de poder competente. A lei está presente na legislação, que é o conjunto de leis vigentes em u país.
Em sentido técnico, a lei é a norma jurídica ordinária elaborada pelo Poder Legislativo. Distingue-se, nesse sentido, dos decretos, regulamentos e portarias expedidos pela Administração Pública (Poder Executivo).
b) O costume
 O costume é a norma jurídica que não faz parte da legislação. É criado espontaneamente pela sociedade, sendo o resultado de uma prática geral obrigatória, constante e prolongada.
Nas comunidades primitivas o costume era a principal fonte do Direito. Não existiam leis escritas; as normas se fixavam pelo uso repetido de uma regra, que se transmitia oralmente, de geração a geração.
Nos dias atuais, com exceção de poucos países, o costume deixou de ser a principal fonte do Direito. Entretanto, ainda mantém seu valor como fonte alternativa ou supletiva, nos casos em que a lei foromissa, isto é, na falta da lei. O costume também é utilizado quando a própria lei expressamente o autoriza.
Devemos salientar, ainda, que o costume jamais poderá ser aplicado se for contrário a uma determinação legal. Do ponto de vista legal, somente uma nova lei pode revogar a lei antiga. Mas, na prática, sabemos que em nosso país existem certas legais que não são efetivamente aplicadas, por serem contrárias aos hábitos tradicionais da comunidade.
A aplicação do costume varia conforme o ramo do direito. Em direito comercial o costume tem considerável importância. Por outro lado, no direito penal, o costume, com força de lei, é radicalmente proibido. Segundo o Código Penal, não há crime sem lei anterior que o defina.
Dessa maneira, ninguém pode ser criminalmente condenado por ter desrespeitado apenas um costume, isto é, uma conduta não prevista em lei.
c) Jurisprudência
Chamamos de jurisprudência o conjunto de decisões judiciais uniformes e reiteradas (repetidas) sobre determinados assuntos. A jurisprudência vai se formando a partir das soluções adotadas pelos órgãos judiciais ao julgar casos ou questões jurídicas semelhantes.
d) Doutrina
A doutrina é o conjunto sistemático de teorias sobre o Direito elaborado pelos grandes juristas. A doutrina é produto da reflexão e do estudo que os juristas desenvolvem sobre o Direito.
VALIDADE, VIGÊNCIA E EFICÂCIA DA LEI
A Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB) é aplicável a toda ordenação jurídica, já que tem as funções de: regular a vigência e a eficácia das normas jurídicas (arts. 1º e 2º), apresentando soluções ao conflito de normas no tempo (art. 6º) e no espaço (arts. 7º a 19º); fornecer critérios de hermenêutica (art. 5º), dentre outra funções importantes.
O primeiro passo na busca pela aplicação das normas jurídicas é entender os seus diversos mecanismos de interpretação. As funções da interpretação são: a) conferir a aplicabilidade da norma jurídica às relações sociais que lhe deram origem; b) estender o sentido da norma à relações novas, inéditas ao tempo de sua criação; e c) temperar o alcance do preceito normativo, para fazê-lo corresponder às necessidades reais e atuais de caráter social, ou seja, aos seus fins sociais e aos valores que pretende garantir.
Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica. Devido a ambigüidade do texto, imperfeição e falta de terminologia técnica, má redação, o aplicador do direito, a todo instante, está interpretando a norma, pesquisando seu verdadeiro significado. Interpretar é, portanto, explicar esclarecer.
Para orientar a tarefa interpretativa do aplicador várias técnicas existem: a) a gramatical, a lógica, a sistemática, a histórica e a sociológica.
Pela interpretação gramatical, que se funda em regras da lingüística, examina o aplicador cada termo do texto normativo, isolada ou sintaticamente, atendendo à pontuação, colocação dos vocábulos, origem etimológica. Assim, deve-se priorizar o sentido técnico da palavra (caso exista um sentido técnico e um comum), além de se analisar o termo (palavra) em conexão com os demais.
Na interpretação lógica, o que se pretende é desvendar o sentido e o alcance da norma, mediante seu estudo, por meio de raciocínios lógicos, analisando os períodos da lei e combinando-os entre si, com o escopo de atingir perfeita compatibilidade.
A interpretação sistemática é a que considera o sistema em que se insere a norma, relacionando-a com outras concernentes ao mesmo objeto, pois por uma norma pode-se desvendar o sentido de outra.
A interpretação histórica, oriundo de obras de Savigny, baseia-se na averiguação dos antecedentes da norma. Refere-se ao histórico do processo legislativo, desde o projeto de lei, sua justificativa, circunstâncias fáticas que a precederam e que lhe deram origem, etc.
A interpretação sociológica, pretende adaptar o sentido ou finalidade da norma às novas exigências sociais, adaptação esta prevista pelo art. 5º da Lei de Introdução, que assim reza: “na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. Os fins sociais e o bem comum são, portanto, sínteses éticas da vida em comunidade, por pressuporem uma unidade de objetivos do comportamento humano social.
Na realidade, não são cinco espécies de interpretação, mas operações distintas que devem sempre atuar conjuntamente, pois todas trazem sua contribuição para a descoberta do sentido e alcance da norma de direito.
Por outro giro, pode ocorrer que não exista nenhuma lei sobre o tema, surgindo o que se denomina lacuna. O direito é lacunoso, sob o prisma dinâmico, já que se encontra em constante mutação, pois vive com a sociedade, sofre com ela, recebendo a cada momento o influxo de novos fatos; não há possibilidade lógica de conter, em si, prescrições normativas para todos os casos.
Admitida a existência de lacuna jurídica, surge o problema de sua constatação e preenchimento, que só pode ser resolvido com o emprego dos meios indicados nos arts. 4º da LINDB e 126 e 335 do Código de Processo Civil, ou seja, analogia, costumes, princípios gerais do direito e equidade
Para integrar a lacuna o juiz recorre, preliminarmente, à analogia, que consiste em aplicar a um caso não previsto de modo direto ou específico por uma norma jurídica uma norma prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não contemplado.
É a analogia um procedimento quase lógico, que envolve dois procedimentos: a constatação (empírica), por comparação, de que há uma semelhança entre fatos-tipos diferentes, e um juízo de valor que mostra a relevância das semelhanças sobre as diferenças, tendo em vista a decisão jurídica procurada.
Requer a aplicação analógica que:
1) o caso sub judice não esteja previsto em norma jurídica;
2) o caso não contemplado tenha com o previsto, pelo menos, uma relação de semelhança;
3) o elemento de identidade entre eles não seja qualquer um, mas sim essencial, ou seja, deve haver verdadeira semelhança e a mesma razão entre ambos.
O costume é outra fonte supletiva. Ele é formado por dois elementos necessários: o uso e a convicção jurídica, sendo portanto, a norma jurídica que deriva da longa prática uniforme, constante, pública e geral de determinado ato com a convicção de sua necessidade jurídica.
São condições para a vigência do costume sua continuidade, sua uniformidade, sua diuturnidade, sua moralidade e sua obrigatoriedade.
Em relação à lei, três são as espécies de costume:
a) Secundum legem – previsto na lei, que reconhece sua eficácia obrigatória. Ex: Arts. 1.297, §1º, 569, II, 596, 597, 615 do Código Civil.
b) Praeter Legem – quando se reveste de caráter supletivo, suprindo a lei nos casos omissos. É o que está contido no art. 4º da Lei de Introdução às normas de direito brasileiro. Esse costume é invocado, quando malsucedida a argumentação analógica. Por exemplo, a função natural do cheque é ser um meio de pagamento à vista. Se emitido sem fundos, responderá o sujeito pelas sanções penais (estelionato). Contudo, o cheque vem corriqueiramente sendo emitido de forma pós-datada (como pagamento futuro), e isso vem sendo aceito pelos tribunais, declarando-se a inexistência de crime.
c) Costume contra legem – que se forma em sentido contrário ao da lei. A grande maioria dos autores rejeita o costume contra legem por entendê-lo incompatível com a tarefa do Estado e com o princípio de que as leis só se revogam por outras. Exemplo de costume contra legem - venda de gado em Barretos (prova testemunhal x artigo 227 do CC).
Quando a analogia e o costume falham no preenchimento da lacuna, o magistrado supre a deficiência da ordem jurídica, adotando princípios gerais de direito, que são cânones que não foram ditados, explicitamente, pelo elaborador da norma, mas que estão contidos de forma imanente no ordenamento jurídico. Segue alguns princípios gerais:
moralidade; b) ig
ualdade de direitos e deveres; c) proibição de locupletamento ilícito; d) função social da propriedade; 5) boa-fé sepresume e má-fé deve ser provada; 6) ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.
Finalmente a equidade deve ser utilizada como última tentativa de integração da norma. Ela seria o princípio universal da ordem normativa, a razão prática extensível a toda conduta humana – religiosa, moral, social jurídica, configurando-a como uma suprema regra de justiça a que os homens devem obedecer.
Se o ordenamento jurídico permite a existência de lacunas, em outros casos, também convive com antinomias (conflito entre duas normas, dois princípios, ou de uma norma e um princípio geral do direito).
A antinomia poderá ser aparente (quando haverá solução para o conflito dentro da ordem jurídica) ou real (quando não houver na ordem jurídica qualquer critério normativo para solucioná-la, sendo, então, imprescindível à sua eliminação a edição de uma nova norma).
A ordem jurídica prevê uma série de critérios para a solução de antinomias aparentes no direito interno, que são:
a) hierárquico (Lex superior derogat legi inferiori), baseado na superioridade de uma fonte de produção jurídica sobre a outra; a ordem hierárquica entre as fontes servirá para solucionar conflitos de normas em diferentes níveis, embora, às vezes, possa haver incerteza para decidir qual das duas normas antinômicas é a superior.
b) cronológico (Lex posterior derogat legi priori), que remonta ao tempo e que as normas começaram a ter vigência, restringindo-se somente ao conflito de normas pertencentes ao mesmo escalão.
c) especialidade (Lex specialis derogat legi generali), que visa a consideração da matéria normada, com o recurso aos meios interpretativos. Para Bobbio, a superioridade da norma especial sobre a geral constitui expressão da exigência de um caminho da justiça, da legalidade à igualdade, por refletir, de modo claro, a regra da justiça.
Se com a aplicação desses critérios a antinomia for solucionada, a mesma será aparente. Caso não seja possível a remoção do conflito normativo, ante a impossibilidade de se verificar qual é a norma mais forte, surgirá a antinomia real ou lacuna de colisão, que será solucionada por meio dos princípios gerais do preenchimento de lacunas (LINDB, arts. 4º e 5º).
Poderá surgir ainda, situações em que haverá antinomias entre os próprios critérios, quando a um conflito de normas seriam aplicáveis dois critérios, que, contudo, não poderiam ser ao mesmo tempo utilizados na solução da antinomia, pois a aplicação de um levaria à preferência de uma das normas, e a de outro resultaria na escolha da outra norma. Por exemplo, num conflito entre uma norma constitucional anterior e uma norma ordinária posterior, pelo critério hierárquico haverá preferência pela primeira e pelo cronológico, pela segunda.
Nestes casos, teremos o que se denomina, antinomia de segundo grau (conflito entre os critérios), que podem ocorrer entre:
a) critério hierárquico e cronológico, hipótese em que sendo uma norma anterior superior antinômica a uma posterior-inferior, pelo critério hierárquico deve-se optar pela primeira e pelo cronológico, pela segunda;
b) critério da especialidade e cronológico, se houver uma norma anterior-especial conflitante a uma posterior-geral, em que prevalece a primeira aplicando-se o critério hierárquico e a segunda, utilizando-se o da especialidade;
c) critério hierárquico e de especialidade, no caso de uma norma superior-geral ser antinômica a uma inferior-especial, em que prevalece a primeira aplicando-se o critério hierárquico e a segunda, utilizando-se o da especialidade.
Surgem assim, os metacritérios, para solução das antinomias de segundo grau:
a) Na hipótese de haver conflito entre o critério hierárquico e o cronológico, o critério cronológico não seria aplicável quando a lei nova for inferior à que lhe veio antes. Prevalecerá, portanto, o critério hierárquico, por ser mais forte que o cronológico, visto que a competência se apresenta mais sólida do que a sucessão no tempo.
b) Em caso de antinomia entre o critério de especialidade e o cronológico, deverá ser analisado cada caso. Assim, não há regra definida, pois, conforme o caso, haverá ora supremacia de um, ora de outro critério.
c) No conflito entre o critério hierárquico e o de especialidade, havendo uma norma superior-geral e outra inferior-especial, não será possível estabelecer uma regra geral, devendo ser analisado caso em particular. Todavia, segundo Bobbio, dever-se-á, optar, teoricamente, pelo hierárquico, uma lei constitucional geral deverá prevalecer sobre uma lei ordinária especial, pois, se se admitisse o princípio de que uma lei ordinária especial pudesse derrogar normas constitucionais, os princípios fundamentais do ordenamento jurídico estariam destinados a esvaziar-se, rapidamente, de seu conteúdo.
Em caso extremo de falta de um critério que possa resolver a antinomia de segundo grau, o critério dos critérios para solucionar o conflito normativo seria o do princípio supremo da justiça: entre duas normas incompatíveis dever-se-á escolher a mais justa.
 1.4.1 A vigência da norma de direito no tempo e no espaço
As normas jurídicas têm vida própria, pois nascem, existem e morrem. Esses momentos dizem respeito à determinação do início de sua vigência, à continuidade de sua vigência e à cessação da sua vigência.
As normas nascem com a promulgação, mas só começam a vigorar com sua publicação no Diário Oficial. De forma que a promulgação atesta a sua existência, e a publicação, sua obrigatoriedade, visto que ninguém pode furtar-se a sua observância, alegando que não a conhece (LINDB, art. 3º). É obrigatória para todos, mesmo para os que a ignoram, porque assim o exige o interesse público.
A obrigatoriedade da norma de direito não se inicia no dia da publicação, salvo se ela assim o determinar. Faltando disposição especial sobre o assunto, vigora o princípio que reconhece a necessidade de decurso de um lapso de tempo entre a data da publicação e o termo inicial da obrigatoriedade. O intervalo entre a data da sua publicação e sua entrada em vigor chama-se vacatio legis.
A duração da vacatio legis possui como regra o disposto no artigo 1º da LINDB ( 45 dias após sua publicação). Pode, contudo, a Lei estabelecer prazo maior ou menor como ocorreu com o Código Civil que estabeleceu vacatio legis de 1 ano.
No que concerne a obrigatoriedade da norma brasileira no exterior, faltando estipulação legal do prazo de entrada em vigor, tal prazo é de 3 meses depois de oficialmente publicada (embaixadores, ministros, cônsules).
Qual a data da cessação da validade da norma?
Duas são as hipóteses:
a) A norma jurídica pode ter vigência temporária, pelo simples fato de que o seu elaborador já fixou o tempo de sua duração. Tais normas desaparecem do cenário jurídico com o decurso do prazo preestabelecido.
b) A norma de direito pode ter vigência para o futuro sem prazo determinado, durante até que seja modificada ou revogada por outra. Trata-se do princípio de continuidade, que assim se enuncia: não se destinando a vigência temporária, a norma estará em vigor enquanto não surgir outra que a altere ou revogue (LINDB, art. 2º).
A revogação é o gênero, que contém duas espécies: a ab-rogação e a derrogação. A ab-rogação é a supressão total da norma anterior, e a derrogação torna sem efeito uma parte da norma.
A revogação pode ser ainda, expressa ou tácita. Será expressa quando o elaborador da norma declarar a lei velha extinta em todos os seus dispositivos ou apontar os artigos que pretende retirar. Será tácita quando houver incompatibilidade entre a lei nova e a antiga, pelo fato de que a nova passa a regular inteiramente a matéria tratada pela anterior.
Quando o legislador derroga ou ab-roga lei que revogou a anterior, surge a questão de saber se a lei que fora revogada fica restabelecida, recuperando sua vigência, independentemente de declaração expressa.
Pelo artigo 2º, §3º da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro, a lei revogadora de outra lei revogadora não tem efeito repristinatório sobre avelha lei abolida, senão quando houver pronunciamento expresso do legislador a esse respeito.
Quando a lei nova vem modificar ou regular, de forma diferente, a matéria versada pela norma anterior, podem surgir conflitos entre as novas disposições e as relações jurídicas já definidas sob a vigência da velha norma. A nova norma só tem vigor para o futuro ou regula relações anteriormente constituídas?
Para solucionar tal questão surge o seguinte critério:
a) princípios da retroatividade e da irretroatividade das normas, construções doutrinárias para solucionar conflitos na ausência de normação transitória. É retroativa a norma que atinge os efeitos de atos jurídicos praticados sob o império da norma revogada. E irretroativa a que não se aplica a qualquer situação jurídica constituída anteriormente. Não se pode aceitar a retroatividade e a irretroatividade como princípios absolutos. O ideal seria que a lei nova retroagisse em alguns casos e em outros não. Foi exatamente isso que fez a LINDB em seu artigo 6º ao prescrever que a nova norma em vigor tem efeito imediato e geral, respeitado sempre o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
O ato jurídico perfeito é o que já se consumou segundo a norma vigente ao tempo em que se efetuou; o direito adquirido é o que já se incorporou definitivamente ao patrimônio e à personalidade de seu titular; e a coisa julgada é a decisão judiciária de que já não caiba mais recurso. A alteração da maioridade para 18 anos alcançará os que já tiverem completado essa idade, se se aumentar para 25 anos, respeitará a maioridade dos que já haviam completado 18 anos. A norma que instaurou o divórcio admite como dissolúveis todos os casamentos celebrados antes dela.
 Finalmente em razão da soberania estatal, a norma aplica-se no espaço delimitado pelas fronteiras do Estado (princípio da territorialidade). Todavia esse princípio da territorialidade não pode ser aplicado de modo absoluto, ante o fato de a comunidade humana alargar-se no espaço, relacionando-se com pessoas de outros Estados.
Por essa razão, o Brasil admite o princípio da extraterritorialidade (pelo qual os Estados permitem que em seu território se apliquem, em certas hipóteses, normas estrangeiras). Regem-se por esse princípio as questões relativas ao começo e fim da personalidade, ao nome, à capacidade das pessoas, ao direito de família e sucessões.

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