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Instituições de Direito p3

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AULA 03 – INSTITUIÇÕES DE DIREITO
1. Dos direitos e garantias fundamentais
As constituições escritas, em sua maioria, surgiram após a Revolução Francesa com o intuito de estabelecer limites ao poder dos governantes, prevendo, inclusive, os direitos mínimos subjetivos (vida, liberdade e propriedade) considerados direitos fundamentais.
Os direitos e garantias fundamentais correspondem ás normas que possibilitam as condições mínimas para a convivência em sociedade, estabelecendo direitos e limitações aos particulares e ao Estado, e normalmente estão expressamente previstos nas Constituições dos Estados contemporâneos.
Os direitos e garantias fundamentais se dividem em quatro blocos: a) Direitos individuais e Coletivos (art. 5º); b) Direitos Sociais (Art. 6º ao 11º; c) Nacionalidade (arts. 12 e 13); d) Direitos políticos e partidários (Arts. 14 a 17).
Os direitos fundamentais de 1ª geração são os direitos e garantias individuais e políticos clássicos (liberdadedes públicas; direito à vida, á liberdade, à expressão e à locomoção).
Os direitos fundamentais de 2ª geração são os direitos sociais, econômicos e culturais surgidos no início do século XX (direito ao trabalho, ao seguro social, à subsistência, amparo à doença, à velhice, entre outros).
Os direitos fundamentais de 3ª geração, também chamados de solidariedade ou fraternidade, englobam um meio ambiente ecologicamente equilibrado, a paz, uma qualidade de vida saudável, a autodeterminação dos povos, além de outros direitos.
Os direitos fundamentais de 4ª geração, também chamados de direito dos povos, são provenientes da última fase da estruturação do Estado Social (globalização do Estado neoliberal), englobam o direito à democracia, informação, pluralismo, patrimônio genético, entre outros.
2. Diferença entre direitos e garantias
Direitos são disposições declaratórias de poder sobre determinados bens e pessoas. Representam por si só certos bens. São principais e visam a realização das pessoas. Direito é o poder para realizar algo, pois o ordenamento jurídico possibilita.
Garantias, em sentido estrito, são os mecanismos de proteção e de defesa dos direitos. Traduzem-se na garantia dos cidadãos exigirem dos Poderes Públicos a proteção dos seus direitos, bem como o reconhecimento de meios processuais adequados a essa finalidade. Por exemplo: “habeas corpus” e mandado de segurança, são acessórios, estando vinculados aos direitos das pessoas.
3. Rol de Direitos
O rol de direitos elencados no artigo 5º e seus 78 incisos é exemplificativo, e não exaustivo, o que se deduz do §2º do art 5º que dispõe:
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
4. Direito a vida
É o primeiro e mais importante dos direitos fundamentais. O Estado deve proteger a vida de maneira global, inclusive a vida uterina, além de viabilizar a subsistência dos necessitados.
O direito à vida engloba a não interrupção do processo vital senão pela morte espontânea e inevitável. Exceção: Pena de morte em caso de guerra declarada (art.5, XLVII, “a” da CF/88).
5. Direito à igualdade
As Constituições reconhecem a igualdade no sentido jurídico-formal, qual seja, a igualdade perante a lei. Neste sentido, encontra-se o “caput” do art. 5º, onde se lê que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.
Além disso, há também a igualdade material de influência socialista, desenvolvida a partir da segunda metade do século XIX. A igualdade material se volta a diminuir as desigualdades sociais, traduzindo o aforismo tratar desigualmente os desiguais na medida da sua desigualdade.
6. Direito à liberdade
A liberdade consiste em fazer tudo o que não prejudique o próximo. Genericamente, podem-se elencar em nossa Constituição Federal vigente os seguintes direitos, cujo objeto é a liberdade:
I – de locomoção (Art. 5º, LXVIII);
II – de pensamento (Art. 5º, IV, VI, VII, VIII e IX);
III – de associação (Art. 5º, XVII a XXI)
IV – de profissão (Art. 5º, XIII)
V – direito de greve (Art. 9º)
7. Direito à propriedade
O artigo 1.228 do Código Civil assegura ao proprietário o direito de usar, gozar, dispor de seus bens e o direito de reavê-los do poder de quem quer que injustamente os possua ou detenha.
A propriedade, bem como os demais direitos fundamentais, deve sujeitar-se ás limitações exigidas pelo bem comum, podendo ser perdida em favor do Estado, quando o interesse público a reclamar. (Neste sentido lembrar da função social da propriedade e da possibilidade de desapropriação).
8. Direito à Segurança
É considerado um conjunto de garantias e direitos composto por situações, proibições, limitações e procedimentos destinados a assegurar o exercício e o gozo de algum direito individual fundamental. Por exemplo:
a) segurança do domicílio (art. 5º, XI)
b) segurança de comunicações pessoais (Art. 5º, XII).
c) a segurança em matéria penal (Art. 5º, XXXVII a XLVII).
d) a segurança em matéria tributária (Art. 150).
9. Princípios Constitucionais
a) Princípio da legalidade – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (Art. 5, II)
b) Princípio do acesso ao judiciário – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (Art. 5º, XXXV).
c) Princípio do juiz natural – não haverá juízo ou tribunal de exceção; e ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente (Art. 5, XXXVII e LIII)
d) Princípio do devido processo legal – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal (art. 5, LIV)
e) Princípio do contraditório e da ampla defesa – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (Art. 5º, LV)
10. Remédios Constitucionais
Os remédios constitucionais são os meios postos à disposição dos indivíduos e dos cidadãos para provocar a intervenção das autoridades competentes, visando corrigir ilegalidade ou abuso de poder em prejuízo de direitos e interesses individuais. São também chamados de garantias individuais.
a) Direito de petição
Surgiu na Inglaterra
O artigo 5º, XXXIV da CF estabelece o direito de petição aos Poderes Públicos, assegurando-o a todos, independentemente do pagamento de taxas, em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder.
A finalidade do direito de petição é dar noticia de fato ilegal ou abusivo ao Poder Público, para que este providencie as medidas adequadas. A materialização do direito de petição pode ser por documento escrito, denúncia oral, que será reduzida a termo, entre outros.
b) Habeas Corpus
LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
Origem: Surgiu da Magna Carta de João sem Terra em 1215, quando o instituto foi incluído por pressão do clero e da nobreza.
De modo efetivo surgiu no Reinado de Carlos II em 1679 – destinado a soltar pessoa ilegalmente presa ou detida.
Brasil – Previsto pela primeira vez no Código de Processo Penal de 1832 e na Constituição em 1891
Natureza Jurídica – é uma ação penal de natureza constitucional
Finalidade – Prevenir ou sanar a ocorrência de violência ou coação na liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso de poder.
Sujeito ativo – qualquer pessoa
Paciente (vítima) – qualquer pessoa física, brasileiro ou estrangeiro, maior ou menor.
Sujeito passivo – autoridade ou agente público
Espécies – a) Preventivo – evitar a ocorrência de uma violação à liberdade.
b) Liberatório ou repressivo – objetiva a cessação da efetiva coação ao direito de ir e vir.
c) Habeas Data
LXXII - conceder-se-á "habeas-data":
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
 
Conceito: É um remédio constitucional que tem por finalidade proteger a esfera íntima dos indivíduos (pessoas físicas ou jurídicas), possibilitando a obtenção e a retificação de dados e informações constantes de entidades governamentais ou de caráter público. Por exemplo, dados sobre a origem racial, ideológica, religiosa, política, filiação partidária ou sindical, orientação sexual, regularidade fiscal, entre outros.
Natureza jurídica: é uma ação constitucional; portanto, é um pedido de tutela jurisdicional, devendo preencher as condições e os pressupostos processuais.
Finalidade: Assegurar o direito de acesso e o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante e o direito de retificação desses dados.
Pólo Passivo: Devem figurar sempre as entidades governamentais ou de caráter público. (incluindo as entidades privadas que prestam serviço público por meio de concessão, permissão ou licença).
d) Mandado de injunção
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;
Origem: remonta aos fins do século XIV, na Inglaterra, onde existia sob a forma de ordem de um Tribunal para que alguém fizesse ou se abstivesse de fazer algum ato, sob pena de desobediência à corte.
Fundamento: existe uma norma constitucional de eficácia limitada ainda não regulamentada impedindo o exercício de um direito em caso concreto.
Finalidade: O tribunal deve determinar ao poder competente que edite a norma geral dentro de certo prazo, sob pena de, decorrido este prazo, ser devolvida ao Tribunal a faculdade de edição da norma.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, física ou jurídica, interessada na questão.
Sujeito passivo: em face de órgão ou poder incumbido de elaborar a norma.
e) Mandado de segurança
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;
Direito líquido e certo é o que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercido no momento da impetração. Desse modo, o direito deve vir expresso em norma legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação ao impetrante. Via de regra, se comprova documentalmente.
Sujeito ativo: somente o próprio titular do direito violado tem legitimidade para impetrar o mandado de segurança individual.
Sujeito passivo: Autoridades públicas: compreende todos os agentes públicos, ou seja, todas as pessoas físicas que exercem alguma função estatal, como os agentes políticos e os agentes administrativos. Além disso, também agentes de pessoas jurídicas com atribuições de poder público.
Cumpre destacar que o mandado de segurança não deve ser proposto contra a pessoa jurídica de direito público, mas contra a autoridade coatora. A autoridade coatora será a pessoa física que concretiza a lesão a direito individual como decorrência de sua vontade (podendo ser ou não a que executa a ordem).
Não cabe mandado de segurança contra ato de particular.
Procedimento: Não há dilação de prova. Além disso, pode ser concedida medida liminar.
Prazo decadencial: 120 dias a contar da data em que o interessado tiver conhecimento oficial do ato a ser impugnado. Tal prazo não se suspende nem se interrompe.
f) Ação Popular
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;
Finalidade: invalidar atos ou contratos administrativos ilegais e lesivos ao patrimônio federal, estadual ou municipal, ou de entes jurídicos subvencionados com o dinheiro público (mais de 50% do patrimônio).
Sujeito ativo: cidadão brasileiro (eleitor)
Sujeito passivo: o administrador da entidade lesada e os beneficiários.
Formas: 1) Preventiva: ajuizada antes da consumação dos efeitos do ato podendo ser deferida a suspensão liminar do ato impugnado.
2) Repressivo: visa corrigir os atos danosos consumados.
3) Supridora da omissão: obriga a administração omissa a atuar.
Cabimento: no caso de violação ao patrimônio público ou demais situações descritas no artigo 5º, inciso LXXIII da CF.
O Ministério Público deve funcionar como fiscal da lei e substituir o autor, caso venha a desistir da ação. Na sentença, normalmente, o juiz deverá determinar a invalidade do ato e a condenação ao ressarcimento das perdas e danos por parte dos responsáveis. A sentença de improcedência da ação, por falta de fundamento da pretensão, faz coisa julgada; porém, se a improcedência foi por insuficiência de provas não faz coisa julgada, podendo ser proposta novamente.
g) Ação Civil Pública
Dispõe o artigo 129, III da Constituição:
“São funções institucionais do Ministério Público:
III – Promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”.
Origem e finalidade: Foi introduzido no Brasil em 1985 e visa a proteção dos direitos do consumidor, o meio ambiente, os bens e direitos de valor artístico, estético, histórico e paisagístico, a ordem econômica e urbanística.
Competência: Absoluta do lugar do dano (Art. 2º da Lei 7.347/85).
Sujeito ativo: Ministério Público e outros (VIDE Art. 5 da Lei 7.347/85)
Sujeito passivo: em face da administração pública ou de particular
Ministério Público – intervém obrigatoriamente em todas as ações civis públicas, seja como parte ou como fiscal da lei. Em caso de desistência infundada ou abandono da ação, o Ministério Público assumirá sua titularidade. O inquérito civil é dispensável se há houver provas suficientes para a ação.
Termo de Ajuste de Conduta: é possível a transação mediante compromisso de ajustamento de conduta celebrado pelos órgãos públicos (art 5º, §6º da Lei 7.347). Trata-se de um acordo extrajudicial, não se exigindo homologação judicial.
Condenação e Execução: A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. O Ministério Público deverá promover a execução se o titular da ação não o fizer em 30 dias. O juiz poderá determinar multa diária em razão do não cumprimento da sentença, que reverterá para um fundo destinado à restituição dos bens lesados. Tal fundo também receberá os valores provenientes de condenação em dinheiro.
Interesses difusos: os titulares não são pessoas determinadas ou determináveis, encontram-se ligados por uma situação de fato, possuindo interesses individuais. Por exemplo, viver em um meio ambiente sadio, o respeito aos direitos humanos, entre outros.
Interesses coletivos: os titulares são pessoas determináveis, encontram-se ligados por um vínculo jurídico, possuindo interesses indivisíveis. Por exemplo, reajuste de mensalidade de uma entidade particular de ensino.
Interesses individuais homogêneos: os titulares são pessoas determinadas, encontram-se ligados por uma situação de fato, possuindo interesses divisíveis. Por exemplo, compradores de veículos com o mesmo defeito, entre outros.

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