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Revista do IHGB, v. 172, n. 452, p. 15-50, 2011

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Prévia do material em texto

R IHGB
a. 172
n. 452
jul./set.
2011
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO
DIRETORIA – (2010-2011)
Presidente: Arno Wehling
1º Vice-Presidente: Victorino Coutinho Chermont de Miranda
2º Vice-Presidente: Max Justo Guedes
3º Vice-Presidente: Affonso Arinos de Mello Franco
1ª Secretária: Cybelle Moreira de Ipanema
2ª Secretária: Maria de Lourdes Viana Lyra
Tesoureiro: Fernando Tasso Fragoso Pires
Orador: José Arthur Rios
DIRETORIAS ADJUNTAS
Arquivo: Jaime Antunes da Silva
Biblioteca: Claudio Aguiar
Museu: Vera Lucia Bottrel Tostes
Coordenadoria de Cursos: Antonio Celso Alves Pereira
Patrimônio: Guilherme de Andréa Frota
Projetos Especiais: Mary del Priore
Informática e Disseminação da Informação: Esther Caldas Bertoletti
Relações Externas: Maria da Conceição de Moraes Coutinho Beltrão
Relações Institucionais: João Maurício Ottoni Wanderley de Araújo Pinho
Iconografia: D. João de Orléans de Bragança e Pedro Karp Vasquez
Coordenação da CEPHAS: Maria de Lourdes Viana Lyra e Lucia Maria Paschoal 
Guimarães.
Editoria do Noticiário: Victorino Coutinho Chermont de Miranda
ADMISSÃO DE SÓCIOS:
José Arthur Rios, Alberto Ve-
nancio Filho, Carlos Wehrs, Al-
berto da Costa e Silva e Fernan-
do Tasso Fragoso Pires.
CIÊNCIAS SOCIAIS: 
Lêda Boechat Rodrigues, Maria 
da Conceição de Moraes Couti-
nho Beltrão, Helio Jaguaribe de 
Mattos, Cândido Antônio Men-
des de Almeida e Antônio Celso 
Alves Pereira.
ESTATUTO:
Affonso Arinos de Mello Fran-
co, Alberto Venancio Filho, 
Victorino Coutinho Chermont 
de Miranda, Célio Borja e João 
Maurício A. Pinto.
GEOGRAFIA:
Max Justo Guedes, Jonas de 
Morais Correia Neto, Ronaldo 
Rogério de Freitas Mourão e 
Miridan Britto Falci.
HISTÓRIA: 
João Hermes Pereira de Araújo, 
Maria de Lourdes Viana Lyra, 
Eduardo Silva e Guilherme de 
Andréa Frota.
PATRIMÔNIO: 
Affonso Celso Villela de Car-
valho, Claudio Moreira Bento, 
Victorino Coutinho Chermont 
de Miranda e Fernando Tasso 
Fragoso Pires.
COMISSÕES PERMANENTES
CONSELHO CONSULTIVO
Membros nomeados: Augusto Carlos da Silva Telles, Luiz de Castro Souza, 
Lêda Boechat Rodrigues, Evaristo de Moraes Filho, Hé-
lio Leoncio Martins, João Hermes Pereira de Araujo, José 
Pedro Pinto Esposel, Miridan Britto Falci e Vasco Mariz 
CONSELHO FISCAL
Membros efetivos: Antônio Gomes da Costa, Marilda Corrêa Ciribelli e Jo-
nas de Morais Correia Neto.
Membros suplentes: Pedro Carlos da Silva Telles e Marcos Guimarães Sanches.
REVISTA
DO
INSTITUTO HISTÓRICO
E
GEOGRÁFICO BRASILEIRO
Hoc facit, ut longos durent bene gesta per annos.
Et possint sera posteritate frui.
 
R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 172, n. 452, pp. 11-622, jul./set. 2011.
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ano 172, n. 452, 2011
Indexada por/Indexed by
Ulrich’s International Periodicals Directory – Handbook of Latin American Studies (HLAS) – 
Sumários Correntes Brasileiros
Correspondência:
Rev. IHGB – Av. Augusto Severo, 8-10º andar – Glória – CEP: 20021-040 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Fone/fax. (21) 2509-5107 / 2252-4430 / 2224-7338
e-mail: presidencia@ihgb.org.br home page: www.ihgb.org.br
© Copright by IHGB
Tiragem: 700 exemplares
Impresso no Brasil – Printed in Brazil
Revisora: Sandra Pássaro 
Secretária da Revista: Tupiara Machareth
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. - Tomo 1, n. 1 (1839) - . Rio de Janeiro: o 
Instituto, 1839-
v. : il. ; 23 cm 
Trimestral
ISSN 0101-4366
Ind.: T. 1 (1839) - n. 399 (1998) em ano 159, n. 400. – Ind.: n. 401 (1998) - 449 (2010) em n. 450 
(2011) 
N. 408: Anais do Simpósio Momentos Fundadores da Formação Nacional. – N. 427: Inventá-
rio analítico da documentação colonial portuguesa na África, Ásia e Oceania integrante do acervo 
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro / coord. Regina Maria Martins Pereira Wanderley 
– N. 432: Colóquio Luso-Brasileiro de História. O Rio de Janeiro Colonial. 22 a 26 de maio de 2006. 
– N. 436: Curso - 1808 - Transformação do Brasil: de Colônia a Reino e Império.
1. Brasil – História. 2. História. 3. Geografia. I. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Ficha catalográfica preparada pela bibliotecária Celia da Costa
CONSELHO EDITORIAL
Arno Wehling – UFRJ, UGF e UNIRIO – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Antonio Manuel Dias Farinha – U L – Lisboa – Portugal
Carlos Wehrs – IHGB – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Eduardo Silva – FCRB – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Humberto Carlos Baquero Moreno – UP, UPT, Porto, Portugal
João Hermes Pereira de Araújo – Ministério das Relações Exteriores e IHGB – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
José Murilo de Carvalho – UFRJ – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Vasco Mariz – Ministério das Relações Exteriores, CNC e IHGB – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
COMISSÃO DA REVISTA: EDITORES
Eduardo Silva – FCRB – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Esther Bertoletti – MinC – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Lucia Maria Paschoal Guimarães – UERJ – Rio de Janeiro – RJ – Brasil 
Maria de Lourdes Viana Lyra – UFRJ – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Mary Del Priore – UNIVERSO – Niterói – RJ– Brasil
CONSELHO CONSULTIVO
Amado Cervo – UnB – Brasília – DF – Brasil 
Aniello Angelo Avella – Universidade de Roma Tor Vergata – Roma – Itália
Antonio Manuel Botelho Hespanha – UNL – Lisboa – Portugal
Edivaldo Machado Boaventura – UFBA e UNIFACS – Salvador – BA
Fernando Camargo – UPF – Passo Fundo – RS – Brasil
Geraldo Mártires Coelho – UFPA – Belém – PA
José Octavio Arruda Mello – UFPB – João Pessoa – PB
José Marques – UP – Porto – Portugal
Junia Ferreira Furtado – UFMG – Belo Horizonte – MG – Brasil
Leslie Bethell – Universidade Oxford – Oxford – Inglaterra
Márcia Elisa de Campos Graf – UFPR– Curitiba – PR
Marcus Joaquim Maciel de Carvalho – UFPE – Recife – PE
Maria Beatriz Nizza da Silva – USP – São Paulo – SP
Maria Luiza Marcilio – USP – São Paulo – SP
Nestor Goulart Reis Filho – USP – São Paulo – SP – Brasil
Renato Pinto Venâncio – UFOP – Ouro Preto – MG – Brasil
Stuart Schwartz – Universidade de Yale – Inglaterra
Victor Tau Anzoategui – UBA e CONICET – Buenos Aires – Argentina
 SUMÁRIO
 SUMMARY
Carta ao Leitor 11
Lucia Maria PaschoaL GuiMarães
I ARTIGOS E ENSAIOS
 ARTICLES AND ESSAYS
Dossiê História do Direito –
Dossier on the History of Law
Apresentação 13
Presentation
saMueL rodriGues BarBosa
Pelo rei, com razão: comentários sobre as reformas 
pombalinas no campo jurídico 15
Pro King, with Good Reason: comments on the legal reforms 
undertaken by the Marquis of Pombal
ÁLvaro de araujo antunes
Súditos del-rei na América Portuguesa. Monarquia Corporativa, 
virtudes cristãs e ação judicial na Villa de Nossa Senhora 
da Luz dos Pinhais de Curitiba no século XVIII 51
The King’s subjects in Portuguese America: Corporate 
Monarchy, christian virtues and legal action in Vila de São José 
dos Pinhais, Curitiba, during the eighteenth century
Luís Fernando LoPes Pereira
As Prelecções de Ricardo Raymundo Nogueira (1746-1827): 
alguns aspectos do discurso pró-absolutista na literatura 
jurídica portuguesa do final do antigo regime 87
The lectures of Ricardo Raymundo Nogueira (1746-1827): 
some aspects of the pro absolute power writings in the Portuguese 
legal literature during the end of the ancient regime
airton cerqueira-Leite seeLaender
Nativismo por adoção: letras e percurso do doutor Marcelino 
Pereira Cleto (1778-1794) 115
Native by adoption: Dr. Marcelino Pereira Cleto’s (1778-1794) 
writings and route
Marco antonio siLveira
Justiça ordinária e justiça administrativa no Antigo Regime – 
O caso do brasileiro 177
Common justice and adminstrative justice in the Ancient 
Regime: Brazilian Case Study
arno WehLinG e Maria josé WehLinG
¡VIVA LA PEPA!: A história não contada da Constitución 
Española de 1812 em terras brasileiras 201
VIVA LA PEPA! The untoldhistory of the 1812 Spanish 
Constitution in Brazil
vicente de PauLo Barretto e vítor PiMenteL Pereira
A administração da justiça nas primeiras décadas do Império 
do Brasil: instituições, conflitos de jurisdições e ordem pública 
(c.1823-1850) 225
The administration of justice during the first decades 
of Brazilian Empire: institutions, conflicts over jurisdiction 
and public order(c. 1823-1850)
andréa sLeMian
Dos Statutes ao Código brasileiro de 1830: o levante 
de escravos como crime de insurreição 273
From the “Statutes” to the 1830 Brazilian Criminal Code: 
The uprising of slaves as crime of insurrection slave uprising as a
Monica duarte dantas
O Império da Moderação: agentes da recepção do pensamento 
político europeu e construção da hegemonia ideológica 
do liberalismo moderado no Brasil imperial 311
The Empire of Moderation: receiving agents of the European 
political thinking and the construction of ideological leadership 
of moderate liberalism in Imperial Brazil
christian edWard cyriL Lynch
Teixeira de Freitas: Um jurisconsulto “traidor” 
na modernização jurídica brasileira. 341
Teixeira de Freitas, a “treacherous” legal counselor in the 
juridical modernization of Brazil
ricardo MarceLo Fonseca
“Somos da América e queremos ser americanos”: Relações 
Brasil-Portugal e antilusitanismo na fundação da República 355
“We are from America and wish to be americans”: 
Brazil-Portugal relations and anti-Portugal feelings in the 
foundation of the Brazilian Republic
josé sacchetta raMos Mendes
A “Questão Siderúrgica” e o papel do Estado na 
industrialização brasileira 373
The “Steel Industry Issue” and the role of the State 
in Brazilian industrialization
GiLBerto Bercovici
Interés argentino en la cultura jurídica brasileña a mediados 
del siglo XX. El caso de la revista La Ley durante 
el quinquenio 1941-1945 415
Argentine interest in Brazilian juridical culture in the 
mid-twentieth century: Case Study of the Journal 
“La Ley” during the five-year period, 1941-1945
ezequieL aBÁsoLo
II COMUNICAÇÕES
 NOTIFICATIONS
Pensamento jusfilosófico de Clóvis Beviláqua ao final 
do século XIX 429
The jus-phisosophical thought of Clovis Bevilaqua 
at the end of the nineteenth century
Maria arair Pinto Paiva
O Imperador da língua portuguesa 461
The Emperor of the Portuguese language
arnaLdo niskier
O padre Antônio Vieira, um diplomata desastrado 473
Father Antonio Vieira – A clumsy diplomat
vasco Mariz
VIEIRA, político 499
VIEIRA, the politician
josé arthur rios
Padre Antônio Vieira e a missão jesuítica 
da Serra de Ibiapaba (1655-1759) 507
Father Antonio Vieira and the Jesuit mission 
of Serra de Ibiapaba (1655-1759)
cLÁudio aGuiar
V DOCUMENTOS
 DOCUMENTS
Documentos sobre “Juízes Ordinários” nos territórios 
brasileiros no século XVIII 547
Documents on “Common Judges” in Brazilian territories 
in the seventeenth century
joaquiM roMero de MaGaLhães
IV RESENHAS
 REVIEW ESSAYS
Geografias Pátrias: Portugal e Brasil 615
Luciene carris cardoso
Normas de publicação 371• 
 Guide for authors 373
Carta ao Leitor
Nos últimos anos, os dossiês temáticos passaram a ocupar espaço 
cada vez maior na organização das revistas especializadas. Acompanhan-
do a tendência, mas sem perder a sua formatação original, este número 
da R. IHGB publica na seção “Artigos e Ensaios” o dossiê História do 
Direito. Preparado pelo Prof. Samuel Rodrigues Barbosa, da Universida-
de de São Paulo, reúne treze colaborações, assinadas por pesquisadores 
de diversas instituições de ensino superior, inclusive da Argentina, que 
foram convidados a se debruçar sobre temas e problemas relativos à cir-
culação das ideias e à prática do Direito, bem como a administração da 
justiça, em diferentes períodos da nossa história. As contribuições, por 
certo, constituem um momento de reflexão que irá potenciar o debate 
sobre o campo da História do Direito. 
Também no âmbito da História do Direito, porém no segmento des-
tinado às “Comunicações”, reservado à divulgação de trabalhos expostos 
nos encontros da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas (CEPHAS), 
há que se destacar a rigorosa análise da Profª Maria Arair Pinto Paiva, a 
respeito do pensamento jusfilosófico de Clóvis Bevilaqua. Na sequência, 
aparecem quatro intervenções apresentadas no Instituto, a propósito das 
comemorações do “Ano Vieirino”, em 2008, quando se celebrou a pas-
sagem do quarto centenário de nascimento do padre Antônio Vieira. São 
elas: “O Imperador da língua portuguesa”; “O padre Antônio Vieira, um 
diplomata desastrado”; “Vieira, o político” e “Padre Antônio Vieira e a 
missão jesuítica da Serra de Ibiapina (1655-1759)”. Redigidas, respec-
tivamente, pelos sócios Arnaldo Niskier, Vasco Mariz, José Arthur Rios 
e Cláudio Aguiar, as achegas iluminam aspectos da vida e da obra do 
notável religioso.
Mas a História do Direito volta se fazer presente. Desta feita, na 
seção “Documentos”, com a edição de um conjunto de manuscritos do 
Arquivo Histórico Ultramarino, que tratam da atuação dos “juízes ordi-
nários” nos terrítórios brasileiros no século XVIII. Vale salientar que a 
transcrição das fontes vem precedida de um alentado estudo de autoria do 
Prof. Joaqum Romero de Magalhães, da Universidade de Coimbra. 
Arremata este número a resenha de Luciene Pereira Carris Cardoso, 
sobre o livro Geografias Pátrias: Brasil e Portugal – 1875-1889, lançado 
recentemente por Cristina Pessanha Mary. Centrada no estudo da história 
da geografia no Brasil, a obra oferece também uma contribuição original 
ao campo das relações luso-brasileiras, à medida que explora a efêmera 
trajetória da Filial da Sociedade de Geografia de Lisboa, criada no Rio de 
Janeiro, em 1875. 
Boa leitura!
 Lucia Maria Paschoal Guimarães
 Diretora da Revista
R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 172 (452):13-14, jul./set. 2011 13
dossiê história do direito: aPresentação
I – ARTIGOS E ENSAIOS
 ARTICLES AND ESSAYS
DOSSIÊ HISTÓRIA DO DIREITO
APRESENTAÇÃO
PRESENTATION
saMueL rodriGues BarBosa 1
Gilberto Freyre, em 1942, escrevia sobre o primeiro professor de 
História do Direito Nacional da Faculdade de Direito de Recife, cadeira 
criada pela Reforma Benjamin Constant em 1891, “o esforço com que 
Martins Júnior contribuiu para o esclarecimento do problema cultural 
brasileiro através do estudo de um dos aspectos mais significativos da 
nossa formação – a história do direito nacional – esse nos interessa”. 
(“Martins Júnior, mestre esquecido”, Diário de Pernambuco, 30/8/1942). 
Havia uma pontada de polêmica no artigo, Martins Júnior pertencia a sua 
época, enquanto preocupado com o problema político, “no sentido mais 
estreito da expressão”, mas enquanto intérprete da cultura, era “um de nós 
desgarrado num tempo que não era ainda o seu”. No esforço de definir a 
atualidade de Isidoro Martins Júnior, Gilberto Freyre anuncia um tipo de 
historiografia do Direito que merecia ser escrita, ao passo que destacava 
a importância do objeto, “um dos aspectos mais significativos da nossa 
formação”.
A escrita da história do Direito, cultivada no espaço universitário, é, 
no Brasil, um fenômeno recente. Não ganhou uma cadeira independente, à 
diferença de Coimbra, na organização dos cursos jurídicos recém-criados 
pela primeira legislatura do Império. A Reforma Benjamin Constant teve 
um sucesso efêmero, entre 1891 e 1901. Tal circunstância não favoreceu 
1 – Doutor em Teoria do Direito pela Universidade de São Paulo. Professor da Faculdade 
de Direito da Universidade de São Paulo.
saMueL rodriGues BarBosa
R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 172 (452):13-14, jul./set. 201114
a formação de uma historiografia do Direito no âmbito das faculdades de 
Direito, não forneceu estímulo ao trabalho de erudição, cuja acumulação 
permite iniciativas interpretativas mais ambiciosas. Muitodesse trabalho 
foi desempenhado, fora da universidade, pelo IHGB e por historiadores 
políticos e das instituições, como documenta números anteriores desta 
revista. No século XX, os cursos universitários de História, por sua vez, 
privilegiaram desde o início, outros problemas, abordagens e objetos, 
parafraseando o título da coleção editada por Jacques Le Goff e Pierre 
Nora. 
Fenômeno recente, historiadores das faculdades de Direito e de His-
tória têm demonstrado expressivo interesse pelo Direito. Este número 
da revista do IHGB publica uma coleção de artigos inéditos de autores 
especialmente convidados para este fim. Os artigos foram organizados 
cronologicamente, seguindo a temporalidade dos recortes. Os problemas 
e abordagens foram deixados à discreção dos autores, o que permite olhar 
o conjunto e perceber algumas ênfases.
Uma primeira ênfase, de resto comum a outros campos da historio-
grafia, está colocada nos usos da linguagem e conceitos jurídico-políticos, 
com atenção para a transação entre vocabulários pré-modernos e moder-
nos e a recepção e circulação de “ideias” e modelos. Outro destaque, que 
dá continuidade a uma linhagem mais antiga, são os estudos dedicados 
à administração da justiça, entre 1750 e 1850, com atenção para as tra-
jetórias das autoridades, a tensão entre projetos institucionais oficiais e a 
dinâmica das práticas. Uma variedade de documentação de arquivos foi 
mobilizada, lançando luz ao universo dos letrados e juristas-políticos (do-
cumentação diplomática, cursos universitários coimbrãos) e ao mundo 
chão da prática judicial.
Se os artigos não seguem o programa mais restrito de Gilberto Freyre, 
dão por certo, no entanto, a importância da empresa. Este número da re-
vista, confrontado com os anteriores, põe em relevo alguns dos traços da 
fisionomia mais recente da área e, também, sua produtividade. 
R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 172 (452):15-50, jul./set. 2011 15
PeLo rei, coM razão: coMentÁrios soBre as reForMas PoMBaLinas no caMPo jurídico
Pelo ReI, com Razão: comentáRIos soBRe as 
REFORMAS POMBALINAS NO CAMPO jURíDICO
PRO KING, WITH GOOD REASON: COMMENTS ON THE LEGAL 
REFORMS UNDERTAKEN BY THE MARqUIS OF POMBAL
ÁLvaro de araujo antunes 1
A história do reinado de D. José I é indissociável da figura con-
troversa do seu primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, 
o Marquês de Pombal, título recebido em 1769. Historiadores atribuem 
ao Marquês uma série de mudanças que buscaram a modernização de 
Portugal e seus domínios. Era a época pombalina, conforme caracterizou 
Francisco José Calazans Falcon e com ele outros historiadores tendem a 
concordar.2 Porém, como quase tudo na história, o consenso é relativo e, 
por vezes, mais exceção do que norma. Não faltam aqueles que minimi-
zam o protagonismo do Marquês, ressaltando o papel do seu gabinete, de 
outros intelectuais e do próprio rei. Não faltam questionamentos sobre a 
importância e o alcance das reformas empreendidas durante o ministério 
pombalino. 
1 – Doutor em História pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Profes-
sor Adjunto do DEHIS/Universidade Federal de Ouro Preto.
2 – FALCON, Francisco José Calazans. A época pombalina: política econômica e mo-
narquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1982. 
Resumo:
O artigo analisa a constituição do campo jurídi-
co português, no reinado de D. José I, que teve 
como Secretário do Reino Sebastião José de 
Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal. Por um 
lado, investiga as mútuas implicações das forças 
reguladoras, expressas na reforma da Universi-
dade de Coimbra e na fixação de novas diretri-
zes legais pela Lei da Boa Razão. De outro lado, 
trata da prática dos agentes da administração da 
justiça, mais especificamente, os de Mariana e 
Vila Rica, importantes centros da Capitania de 
Minas Gerais.
Abstract:
This paper will analyze the establishment of the 
Portuguese legal system during the kingdom of 
D. Jose I, whose Secretary was Sebastiao Jose 
de Carvalho e Melo, Marquis of Pombal. On the 
one hand it will investigate mutual implications 
of regulatory forces, expressed by the reform of 
the University of Coimbra and on the fixation of 
new legal guidelines by the Law of Good Rea-
son. On the other hand, it deals with the prac-
tice of legal administration agents, more specifi-
cally, those of Mariana and Vila Rica, important 
centers of Colonial Minas Gerais.
Palavras-chave: Justiça, Reforma da Universi-
dade de Coimbra, Lei da Boa Razão.
Keywords: – Reform of the University of Coim-
bra – The Law of Good Reason.
ÁLvaro de araujo antunes
R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 172 (452):15-50, jul./set. 201116
Sob o risco de dizer mais do mesmo, não cabe aqui uma revisão da 
extensa historiografia que gira, invariavelmente, em torno do nome de 
Pombal. Não há como ignorá-lo. Mesmo entre as críticas que tendem 
a desmerecê-lo, ele está lá, como o centro dos ataques. Desse eixo de 
transmissão a mover polêmicas estampadas em livros e artigos sem fim, 
importa ao presente estudo destacar a centralidade de Sebastião José de 
Carvalho e Melo e de algumas das suas reformas no campo jurídico. 
Pombal serviu a D. José I, de quem recebeu títulos de nobreza e en-
cargos administrativos, atingindo o ápice da carreira como secretário do 
reino. A tragédia causada pelo terremoto de Lisboa demandou do gover-
no ações contundentes e estruturantes comandadas por Pombal. Pode-se 
argumentar que foram as contingências ou a mão do rei que trouxeram 
ao centro do palco político o então Conde de Oeiras. Contudo, esse argu-
mento estaria incompleto se não se considerasse a própria ação do indiví-
duo capaz de marcar uma época.
Pombal deve ser entendido como um referencial para as mudanças 
amplas que tiveram lugar no reinado de D. José I. Nos livros, sua “bio-
grafia” se confunde ao governo. Ao mesmo tempo, sua pessoa é reduzida, 
destituída de dúvidas, angústias e anseios... tudo encoberto por projeções 
de grandeza e de predestinação.3 Enredos heroicos são construídos em 
torno dessa unidade (o nome Pombal), esquecendo-se de que sua ação 
envolveu todo um gabinete, intelectuais e agentes, sem os quais seria im-
possível conceber e projetar políticas para as diversas realidades do Impé-
rio português. Nesses termos, as histórias do indivíduo e da administração 
portuguesa se mesclam dando forma ao pombalismo.
No ministério pombalino se verifica a criação das bases do Estado 
absolutista português. Externamente, Portugal buscava maior indepen-
dência da Inglaterra, fortalecendo parcela da sua burguesia e estimulando 
a manufatura, ao mesmo tempo em que adotava estratégias mercantis mo-
nopolistas. Dentro da política regalista, a nobreza passa a ser enquadrada, 
3 – Sobre a ilusão biográfica ver: BOURDIEU, Pierre. “A ilusão biográfica” In: FER-
REIRA, Marieta M.; AMADO, Janaina. Usos e Abusos da História Oral. Rio de Janeiro: 
Fundação Getúlio Vargas, 1996. 
R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 172 (452):15-50, jul./set. 2011 17
PeLo rei, coM razão: coMentÁrios soBre as reForMas PoMBaLinas no caMPo jurídico
cerceada, em especial depois do atentado ao rei, em 1758, que identificou 
como envolvidos o Duque de Aveiro, os marqueses de Távora e o Conde 
de Atouguia. A mesma nobreza teria, por meio do Alvará de 1761, os gas-
tos com a ostentação limitados e, em 1770, a constituição de morgados 
sujeitos à anuência régia. 
A luta contra os poderes concorrentes se estendeu aos setores da 
Igreja, fundamentalmente, a Companhia de Jesus, expulsos das terras 
portuguesas, entre outras razões, pela alegada participação no atentado 
contra D. José I. O banimento dos jesuítas trouxe graves consequências à 
educação, dada a participação da ordem nos ensinos menores, contingên-
cia que não foi ignorada pelo governo que formulou um plano de secula-
rização da educação. Nas Cartas sobre a Educação da Mocidade,Ribeiro 
Sanches concordava com a competência dos reis, e não dos bispos, em 
regulamentar o ensino. Para este autor, só o ensino secularizado poderia 
atender às finalidades da ordem civil.4 
No âmbito administrativo, buscou-se um maior controle do rei so-
bre seus funcionários. Com demonstrações de força, formulou-se uma 
reforma que envolvia a supressão de órgãos, uma maior normatização 
dos proventos, a valorização da lei positiva e a formação de um corpo de 
agentes afinados com a proposta pombalina de racionalização, ilustração 
e centralização do governo. 
No bojo dessas mudanças, a justiça, considerada a face mais visível 
do poder régio, não passaria incólume. A transformação no campo da 
Justiça se verificou, principalmente, na preocupação com a formação dos 
bacharéis em cânones e leis na Universidade de Coimbra e no enquadra-
mento legal dos advogados às novas diretrizes, do qual merece destaque 
a Lei da Boa Razão. O que este artigo pretende analisar é, justamente, a 
constituição do campo jurídico no período pombalino, isto é, “as relações 
objetivas entre os agentes e as instituições em concorrência pelo mono-
pólio do direito de dizer o direito”.5 Em boa medida, a história das mu-
4 – AVELAR, Hélio de Alcântara. História Administrativa do Brasil: administração 
pombalina. 2ª ed. Brasília: Fundação Centro de Formação do Servidor Público/ Editora 
UnB, 1983, p.166.
5 – BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Trad. Fernado Tomaz. 5ª ed. Rio de Janeiro: 
ÁLvaro de araujo antunes
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danças no campo jurídico promovidas durante o reinado de D. José I foi 
resultado da luta pela linguagem, pelo direito de estabelecer o direito. No 
caso específico desse artigo, importa as mútuas implicações das forças re-
guladoras (a instrução e a norma), expressas pelas ideias de inovação e de 
tradição, e a prática do “direito vivo”, as contingências e os agentes dos 
auditórios, mais especificamente, os de Mariana e Vila Rica, importantes 
centros administrativos da Capitania de Minas Gerais.
as luzes nas águas do mondego: considerações sobre a reforma 
pombalina da Universidade de coimbra e a Ilustração portuguesa
A difusão do Iluminismo fez parte da política pombalina de desen-
volvimento e modernização. Em Portugal, as Luzes foram propagadas, 
atingiram a Universidade de Coimbra, às margens do Mondego, serviram 
de inspiração à política econômica e às reformas jurídicas. Ao mesmo 
tempo, as ideias ilustradas se viram controladas pela ação da Real Mesa 
Censória, por exemplo. Este legado ambíguo imprimiu ao iluminismo 
português contornos peculiares. Para alguns, tratava-se de um despotis-
mo ilustrado, enquanto que para outros figurava mais uma espécie de 
ditadura. 
Para Hélio de Alcântara Avelar, “o chamado despotismo esclarecido 
pombalino foi um processo de restauração, de fortalecimento, de orga-
nização, de adequação à época [...]”.6 Este processo teria se confundido, 
impropriamente, pelos “mais perspicazes analistas de Sebastião José de 
Carvalho e Melo”, a uma ditadura. Em conformidade com Laerte Ra-
mos Carvalho, Avelar considerou o Iluminismo em Portugal como sendo, 
essencialmente, reformista e pedagógico, sem o espírito revolucionário, 
anti-histórico ou irreligioso que nutriria movimentos sociais e intelec-
tuais de outros países europeus. No campo da política, Kenneth Ma-
xwell considerou que havia algo de paradoxal em um regime absolutista 
e autoritário que procurava se associar às ideias iluministas.7 Observou 
Bertrand Brasil, 2002, p. 212.
6 – AVELAR, Hélio de Alcântara. História Administrativa do Brasil: administração 
pombalina, p. 89.
7 – MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal: paradoxo do Iluminismo.Trad. de An-
tônio de Pádua Danesi. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
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PeLo rei, coM razão: coMentÁrios soBre as reForMas PoMBaLinas no caMPo jurídico
Maxwell que o Iluminismo em Portugal deve ser entendido conforme 
suas particularidades e as expectativas traçadas por Pombal, que visava, 
sobretudo, à modernização da nação, ainda que não virasse as costas à 
tradição, acrescente-se. À imagem de um passado de glória associava-se 
um projeto de reforma, de aproximação às “nações polidas”. Para isso, 
o Estado deveria cuidar mais diretamente da circulação dos livros e do 
ensino, adequando-o às novas ideias que, desde o século XVII, embebiam 
algumas nações ilustradas da Europa.8
Do que foi apresentado acerca do Iluminismo, há de se fazer algu-
mas ressalvas. Primeiro, as ideias ilustradas potencialmente perigosas, 
como as difundidas pelo Abade Raynal, também circulariam entre os lei-
tores no Brasil, enquanto que Rousseau instigaria debates nas repúblicas 
estudantis de Coimbra.9 As barreiras impostas às Luzes pelos órgãos de 
polícia e censura português não eram intransponíveis.10 
A segunda consideração diz respeito ao estigma do atraso lusitano, 
cuja culpa era imputada aos eclesiásticos e escolásticos. O pensamento 
especulativo, aberto pelo probabilismo escolástico, bem como o interesse 
de alguns jesuítas em consumir novidades no campo das ideias, poderia 
8 – Segundo Laerte Ramos, “a pedagogia pombalina foi a expressão de uma época, ex-
pressão tanto mais significativa quanto ainda hoje sugere fecundas lições proporcionadas 
de perplexidades para uns e certezas para outros”. CARVALHO, Laerte Ramos. As refor-
mas pombalinas da instrução pública. São Paulo: Edusp/Saraiva, 1978, p. 191.
9 – Segundo Fernando Novais: “grosso modo, a face reformista das Luzes que incidirá 
mais sobre a metrópole; na colônia, a face revolucionária. Esta a ambiguidade funda-
mental do pensar ilustrado, ao mesmo tempo reformista e revolucionário, dependendo da 
situação em que se processe a sua leitura”. Os universitários de Coimbra, por exemplo, 
leram e comentaram livros “anticatólicos”, entre os quais, Monstesquieu, Voltaire, Locke, 
Mirabeau e a obra O Emílio, de Rousseau, “vendo nele a confissão de Fé, na qual protesta 
o autor ser sectário da religião natural, como única, verdadeira e suficiente para a felici-
dade do homem”. NOVINSKY, Anita Waingort. Estudantes brasileiros ‘afrancesados’ da 
Universidade de Coimbra: a perseguição de Antônio Morais e Silva: 1779-1806. In: CO-
GGIOLA, Oswaldo (org.). A revolução francesa e seu impacto na América Latina. São 
Paulo: Edusp: Brasília: CNPq, 1990.” NOVAIS, Fernando Antonio. Portugal e Brasil na 
crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). 2ª ed. São Paulo: Editora Hucitec, 1983, 
p.158. 
10 – Sobre o assunto, ver: VILLALTA, Luiz Carlos. Reformismo ilustrado, censura e 
práticas de leitura: usos do livro na América Latina. São Paulo, 1999. Tese (Doutorado 
em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
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relativizar a imagem negativa projetada sobre a ordem de Santo Inácio. 
Esta questão será tratada mais adiante. 
Outrossim, o Iluminismo, entendido, com frequência, como um con-
junto harmonioso de ideias era muito mais plural do que, normalmente, 
se pressupõe.11 Hume era um conservador, enquanto Condorcet era um 
democrata; Holbach criticava a religião, enquanto Lessing tentou inven-
tar uma. O potencial inconveniente dessa perspectiva é o nominalismo, 
o estudo de uma espécie de Ilustração de cunho biográfico que não arti-
cularia posições comuns entre autores. Uma postura intermediária pode 
ser encontrada no “jogo de escalas” ou no estabelecimento de conjuntos 
menores de análises, nos quais se privilegiaria o estudo de gerações de 
intelectuais ou de unidades de geográficas. 12 Nesse sentido, em se tratan-
do de ideias estimuladas e abarcadas pelo Estado, é possível caracterizar, 
com alguma simplificação, o Iluminismo oficial português comosendo 
eclético, cristão e católico, mais próximo do modelo italiano do que do 
francês, considerado revolucionário, anti-histórico e irreligioso.13
Não se pode negar que as reformas promovidas na segunda metade 
do século XVIII trouxeram a Portugal a promessa da modernização sob 
os auspícios das Luzes. A ideia de modernidade que perpassava o projeto 
ilustrado português remetia às nações polidas a imitar, mas não de for-
ma indiscriminada. Em Portugal, a ideia de reforma explicitava tanto a 
ambição de modernidade quanto um resgate de tradições, em uma clara 
tentativa de adequação. Nos termos de Francisco Falcon, a prática ilustra-
da do pombalismo movia-se “sempre entre hesitações e compromissos, 
adotando em geral uma atitude eclética sempre que se defrontam o antigo 
 
11 – Para perspectivas distintas de interpretação do evento, ver: CARVALHO, Flávio Rey 
de. Um iluminismo português? A reforma da Universidade de Coimbra (1772). São Pau-
lo: Annablume, 2008. CASSIRER, Ernest. A filosofia do Iluminismo.Trad. Álvaro Cabral. 
2ª ed. Campinas: Editora Unicamp, 1994, pp.65-134, e HAZARD, Paul. La pensée euro-
péenne au XVIIIe siècle: de Montesquieu à Lessing. Paris: Fayard, 1993. pp.133-147.
12 – GAY, Peter. The Enlightenment: the rise of modern paganism. New York: W. W. 
Norton & Company, 1995. 
13 – CARVALHO. As reformas pombalinas da instrução pública, p. 27.
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e o moderno”.14 Tal tentativa de conciliação se evidencia em diversas di-
retrizes fixadas durante o reinado de D. José I.
“desejando eu não só reparar os mesmos estudos para que não acabas-
sem de cair na total ruína a que estavam próximos, mas ainda retribuir-
lhes aquele antecedente lustre que fez os portugueses tão conhecidos 
na república das letras antes dos ditos religiosos se intrometessem a 
ensiná-los com sinistros intentos e infelizes sucessos.” 15
O Iluminismo que influenciou esse governo por intermédio dos pro-
jetos maquinados no gabinete e por intelectuais ligados ao Marquês de 
Pombal, não deixaria de ser cristão e nem execraria a história de Portu-
gal, à exceção daquilo que o toque jesuítico fez “podre”, conforme era 
alegado.16
Remontando ao período medieval, o sistema de ensino estabelecido 
pelos inacianos, segundo Jacques Le Goff, constituía-se em uma forma de 
pensar com leis bem definidas. Nas leis da demonstração e do pensamen-
to, destacava-se a dialética, “conjunto de operações que fazem do objeto 
do saber um problema, que expõem e defendem contra os atacantes, que 
solucionam e convencem o ouvinte ou o leitor”.17 De orientação escolás-
tico-perípatética, a dialética silogística de Aristóteles transpassava quase 
todas as disciplinas. O silogismo aristotélico tinha o caráter de Organum, 
instrumento, tópica, método-disciplina, que partia de premissas necessá-
rias para chegar a “verdades” dadas de antemão.18 
Outra característica do pensamento escolástico era o valor deposi-
tado sobre a autoridade dos textos e seus autores, em especial da Bíblia, 
dos padres da Igreja, de Tomás de Aquino, Platão e de Aristóteles. Valo-
14 – FALCON. A época pombalina: política econômica e monarquia ilustrada, p. 445.
15 – Alvará por que V. Majestade há por bem reparar os estudos das línguas latina, grega 
e hebraica e da Arte da Retórica da Ruína a que estavam reduzidos. Instituto dos Arqui-
vos Nacionais da Torre do Tombo (ANTT) – Leis – Livro 9.
16 – CARVALHO. As reformas pombalinas da instrução pública, p. 27.
17 – LE GOFF, Jacques. Os intelectuais na Idade Média. São Paulo: Brasiliense, 1988, 
p.75.
18 – BLANCHÉ, Robert. História da lógica de Aristóteles a Bertrand Russel. São Paulo: 
Martins Fontes, 1985, p.150.
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rizavam também autores modernos, especialmente em casos de opinião 
“provável”.19 Esses textos e autores eram incorporados e decorados pelos 
alunos num processo continuado de “repetições” e memorizações, ele-
mento importante da pedagogia jesuítica, que poderiam levar à constitui-
ção de tópicas cristalizadas. A valorização da autoridade trazia consigo, 
quando não a redundância das repetições, o zelo para com a ortodoxia. 
Ângela Barreto Xavier observou que esse procedimento de análise permi-
tiu a cristalização de repertórios acerca dos mais diversos assuntos. Esse 
exercício dialético-analítico tenderia, portanto, a congelar verdades asse-
guradas pelo respeito humilde dos estudantes à opinião dos comentadores 
e dos intérpretes autorizados.20 
Ocorre que as opiniões dos comentadores e intérpretes autorizados 
não eram tão conformes, o que trazia instabilidade ao pensamento peri-
patético. Não fosse isso, não haveria combustível para as disputas, parte 
da didática escolástica, e nem para as divergências judiciais, comuns aos 
auditórios. Tudo seria uma monotonia de argumentos concordes às orto-
doxias e à autoridade. Diante da incerteza, as preposições tinham como 
resposta a solução mais provável (probabilismo), isto é, quando era incer-
ta a aplicação de regras morais e de autoridade, para não errar, optava-se 
por seguir uma “opinião provável, ainda que não fosse a mais recomen-
dável em termos de estrita doutrina”.21 Para Richard Morse, a estratégia 
probabilista expressava um “espírito pluralista e não concludente” em 
relação aos fenômenos observados ou experimentados.22 Tal abertura per-
19 – “A máxima era de que a opinião provável é a que tem a seu favor uma autoridade 
grave, ou autoridade de um homem hábil. A autoridade de um doutor, homem honrado e 
hábil, sobretudo se é moderna, faz provável uma opinião, ainda quando contra ela esteja 
a opinião de outros. COMPÊNDIO Histórico do Estado da Universidade de Coimbra 
(1771). Coimbra: Universidade de Coimbra, 1972, p.11. 
20 – VILLALTA, Luiz Carlos. El-rei, os vassalos e os impostos: concepção corporática de 
poder e método tópico num parecer do Códice Costa Matoso. Vária História: Belo Hori-
zonte: Editora UFMG, n. 28, 1999, p. 224.; VILLALTA. Reformismo ilustrado, censura 
e práticas de leitura: usos do livro na América Latina. p. 50. XAVIER, Ângela Barreto. 
El rei aonde póde & não aonde quer; razões da política no Portugal setecentista. Lisboa: 
Edição Colibri, 1998, p. 82.
21 – VILLALTA. Reformismo ilustrado, censura e práticas de leitura: usos do livro na 
América Latina, p. 53.
22 – MORSE. O espelho de Próspero: cultura e ideias nas Américas, pp. 35 e 53.
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PeLo rei, coM razão: coMentÁrios soBre as reForMas PoMBaLinas no caMPo jurídico
mitiria relativizar a associação da educação fomentada pelos jesuítas e do 
panorama intelectual português como sendo atrasados. 
De fato, havia espaço para um pensamento especulativo, aberto pelo 
probabilismo ou pelo próprio interesse dos jesuítas na revolução científica 
que se operava, ainda que mantivessem este saber restrito ao seu uso pri-
vado. Em meados do século XVIII, o jesuíta Inácio Monteiro descreveu 
seu pensamento como “ora peripatético, ora atomista, cartesiano e newto-
niano”. Antônio Cordeiro, autor do Cursus Philosophicus Conimbricen-
sis, publicado em 1713-1714, buscou uma releitura do atomismo, teoria 
objurgada pelos jesuítas.23 Havia tentativas de conjugar a emergência da 
razão técnico-experimental com os pressupostos da segunda escolástica 
dos jesuítas que, em alguns casos, chegaram a condescender, quando não 
repreendiam duramente as “ideias dos atomistas”.24 
Apesar das disposições contrárias à moderna ciência, alguns jesuí-
tas foram tocados por essas novas ideias. Mas era uma postura acanhada 
perto de padres oratorianos como Luiz Antônio Verney, cujas proposi-
ções serviram de estímulo para as reformas do ensino público no reino 
português,para se “formar homens que sejam úteis para a República e 
religião”.25
“Se, de fato, não foi encarregado de se apropriar “das luzes do século” 
foi ele próprio que tomou o encargo de as chamar a si sagrando-se 
apóstolo delas e oferecendo a vida à tarefa de iluminar os portugueses. 
Falamos de ‘luzes’ e de ‘iluminar’ utilizando exatamente os termos 
que o século XVIII escolheu para dar vivacidade às suas expressões 
sempre que pretendia caracterizar a posição racionalista do homem 
23 – CARVALHO, Rômulo de. História do ensino em Portugal: desde a fundação da 
nacionalidade até o fim do regime de Salazar-Caetano. Lisboa: Fundação Calouste Gul-
benkian, [s.d.], p. 392. GOUVEIA, Antônio Camões. Estratégias de interiorização da 
disciplina. In: MATTOSO, José (org.). História de Portugal: o Antigo Regime. Lisboa: 
Editorial Estampa, 1993, p. 426.
24 – Em seu livro, Rômulo Carvalho registra a lenta inserção das ideias e métodos da cha-
mada ciência moderna entre os inacianos. CARVALHO. História do ensino em Portugal: 
desde a fundação da nacionalidade até o fim do regime de Salazar-Caetano, p. 389.
25 – VERNEY, Luís Antônio. Verdadeiro método de estudar. 3ª ed. Porto: Domingos Bar-
reira, s/d., p. 57.
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novo que as grandes descobertas científicas do século anterior fizeram 
nascer. Verney pertenceu a este tipo de combatentes, os iluministas 
[... ].” 26
As reformas do ensino promovidas na segunda metade do século 
XVIII trouxeram a marca dessas Luzes que, em terras lusas e na mão de 
intelectuais como Verney, ganharam cores peculiares. 
Assim como são controversas as opiniões sobre o pombalismo e o 
caráter da Ilustração portuguesa, também o é o tema das reformas pomba-
linas na universidade coimbrã. No horizonte de possibilidades de interpre-
tações, alguns estudos consideram que a reforma não alterou os alicerces 
do sistema de ensino que a precedeu.27 O argumento é de que a reforma 
não foi profunda, não fez o que se convinha fazer e que, por conseguinte, 
a estrutura da “nova” Universidade continuou velha e fradesca. Outros 
consideram que as reformas instituíram, de fato, um marco na história do 
ensino português, que separaria a tradição jesuítica da reformada.28 
Ambos os argumentos, da ruptura e da persistência, consideraram 
a importância das reformas pombalinas, seja para afirmar seu sucesso e 
eficiência, seja para negá-los. Invariavelmente, tais opiniões, que tendem 
aos extremos, lidam com o argumento polar estabelecido pela linha da 
continuidade ou ruptura. Ocorre que muitas das providências tomadas 
durante o reinado de D. José I teriam efetiva repercussão apenas no sécu-
lo seguinte, em parte, devido ao peso de práticas tradicionais que não se 
dissolveram com facilidade. O que a análise da prática de governo pode 
revelar é que, juntamente com a ruptura promovida por uma ação legal 
26 – CARVALHO. História do ensino em Portugal, p. 407.
27 – TEÓFILO, Roque. Síntese Histórica Evolutiva do ensino no Brasil. Atualidades pe-
dagógicas, ano 5, n. 28, jul./ago., 1954.; VALADARES, Virginia Maria Trindade de. Eli-
tes Setecentistas mineiras: conjugação de dois mundos (1700-1800). Lisboa, 2002. Tese. 
(Doutorado em História dos Descobrimentos e da Expansão portuguesa) – Universidade 
de Lisboa.
28 – Entre eles pode-se citar: AVELAR, Hélio de Alcântara. História Administrativa do 
Brasil: administração pombalina, p. 161.; CARRATO, José Ferreira. Igrejas Iluministas 
e escolas mineiras coloniais. São Paulo: Editora Nacional, 1968, p.131. SILVA, Maria 
Beatriz Nizza. A Cultura Luso-Brasileira da reforma da Universidade à independência 
do Brasil. Lisboa: Editorial Estampa, 1999, p. 22.
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PeLo rei, coM razão: coMentÁrios soBre as reForMas PoMBaLinas no caMPo jurídico
ou pela reforma estrutural, havia a resistência, a distensão, o lento afrou-
xamento das tradições assentadas. 
No que tange à secularização do ensino, por exemplo, deve-se consi-
derar que não era uma proposta tão distante da realidade da Universidade 
de Coimbra. Criada por Dom Diniz no século XIII, a referida universida-
de sempre foi uma instituição mais temporal do que espiritual.29 Ambos 
os poderes, em graus distintos e variáveis na forma, sempre estiveram 
à frente da instituição coimbrã e do sistema educativo como um todo. 
Eram consortes num casamento de altos e baixos, às vezes em harmo-
nia, às vezes não, ao sabor das vagas da maré política. A instabilidade 
dessa sociedade era evidente e não deixa de ficar explícita na política 
de secularização do ensino promovida por Sebastião José de Carvalho e 
Melo. Contudo, para além da secularização, o projeto de fortalecimento 
do poder régio abrangia uma revalorização do jusnaturalismo e da razão, 
impondo mudanças culturais mais profundas no sistema de ensino, como 
forma de cimentar novos paradigmas científicos e jurídicos.30
Isso não implicava que a reforma do ensino de 1772 tivesse exilado 
das margens do Mondego toda tradição escolástica do ensino jurídico, 
fundamentada no direito canônico e romano, como era proposto por Ri-
beiro Sanches.31 Até a reforma de 1772, o direito romano consistia na 
essência da formação do bacharel em leis. Nas oito cadeiras da faculdade 
de leis estudavam-se, basicamente, o Digesto e o Código de Justiniano.32 
Essas obras eram dissecadas com o auxílio dos comentários e glosas de 
29 – CARNEIRO, Paulo E. de Berredo. L´Université de Coimbra et le Brésil. Arquivos do 
Centro Cultural Português. Paris, v. 4, 1972, p. 319.
30 – GOUVEIA, Antônio Camões. Estratégias de interiorização da disciplina, p. 432.
31 – Observador perspicaz e partidário da secularização do ensino, Ribeiro Sanches con-
siderava que, com a expulsão dos jesuítas que dirigiam a Universidade de Coimbra (1759) 
e com o rompimento das relações com a autoridade romana (1760), era “um absurdo ensi-
nar nas Universidades as Leis de soberano alheio”, no caso, o papa. SANCHES, Ribeiro. 
Dificuldades de um reino velho para remendar-se e outros textos. 2ª ed.[S.l:]: Livros Ho-
rizonte, 1980, p. 68 e CARNEIRO. L´Université de Coimbra et le Brésil, p. 319. 
32 – Segundo o Compêndio, essa profusão de cadeiras destinadas o ensino das Leis de 
justiniano abria espaço para um ensino vagaroso e cansativo destinado a ensinar pela 
“Instituta todo o direito civil”. COMPÊNDIO Histórico do estado da Universidade de 
Coimbra (1771), p. 257. 
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inúmeras autoridades, dentre as quais se destacavam as figuras de Acúr-
cio e de Bártolo. No Estatuto da Universidade de Coimbra de 1598, ra-
tificado na reforma de 1653, ficava clara a influência dos glosadores no 
ensino do direito civil, em especial a de Bártolo. Tais autores eram indi-
cados também pelo Regimento do Tribunal da Relação do Rio de Janeiro, 
de 1751, e pelo Repertório das Ordenações, que estipulava, para casos 
omissos nas leis do reino ou nos cânones sagrados, o recurso às glosas e 
à opinião comum dos doutores. 
De “Bártolos” poderiam ser chamados os estudantes e futuros intér-
pretes do direito romano que se inspirariam nas obras do famoso glosa-
dor.33 Desde sua contribuição ao direito na Idade Média, as ideias de Bár-
tolo se expandiram impulsionadas pelas instituições de ensino da Europa 
e por uma legião de doutores comentadores.34 Segundo Francisco Lemos, 
a doutrina de Bártolo e Acúrcio era uma “constante de todos os livros e 
tratados, apostilas, conclusões e mais papéis jurídicos que se escreveram 
pelos nossos jurisconsultos ou teóricos ou práticos”.35 De fato, Francisco 
Lemos considerava que nas escolas jurídicas não foi ensinada outra juris-
prudência que não a de Bártolo.
Em Portugal, a influência de Bártolo estava presente nos trabalhosde praxistas, comentarias e causuístas. Foram representantes desses gru-
pos: Manoel Barbosa, comentador das ordenações e pai de Agostinho 
Barbosa; Melquior Febo, casuísta; Manoel Lopes Ferreira, bacharel pela 
Universidade de Coimbra, autor de Prática criminal na forma da praxe; 
Manoel Mendes de Castro, professor da Universidade de Coimbra no sé-
culo XVI e autor de Prática lusitana; Antônio Mendes Arouca, reputado 
como de “juízo profundo e coração reto”, que foi autor de livros jurídicos 
33 – A arte de furtar evidencia essa denominação ao se referir aos juízes leigos que de 
ignorante, “não sabem qual é a sua mão direita, mais para embolsarem com ela espórtulas 
e ordenados com se foram Bártolos e Cova-Rubias,” apud. SCHWARTZ, Stuart. B. Bu-
rocracia e sociedade no Brasil colonial: a suprema corte e seus juízes: 1609-1751. São 
Paulo: Perspectiva, 1979, p.62. 
34 – SKINER, quentin. Liberdade antes do Liberalismo. São Paulo: Editora da Unesp, 
1990, pp. 31-33.
35 – LEMOS, Francisco. Relação geral do estado da Universidade (1777). Atlântida Edi-
tora, Coimbra, 1980, p. 41.
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PeLo rei, coM razão: coMentÁrios soBre as reForMas PoMBaLinas no caMPo jurídico
e religiosos, tendo escrito Adnotationes praticae ad librum fere primum 
pandectarum juris civilis e Desejos piedosos e suspiros da alma, obra que 
legou aos jesuítas do Colégio de Ponta Delgada.36 Tais autores estariam 
presentes em diversas bibliotecas de advogados em Minas Gerais e figu-
rariam nas ações judiciais analisadas na segunda metade do século XVIII, 
mesmo depois de condenados os usos de Bártolo e Acúrcio pela Lei de 18 
de agosto de 1769.37 
O ataque à autoridade dos glosadores, em especial Bártolo, não foi, 
propriamente, uma novidade das reformas jurídicas e educacionais do rei-
nado de Dom José I. Precedentes podem ser encontrados em pleno século 
XVI, na escola jurídica francesa fundada por Cujácio, discípulo de Antô-
nio de Gouveia, árduo crítico dos glosadores. Enquanto João das Regras, 
em Portugal, valorizava o trabalho dos comentadores, Gouveia conside-
rava o recurso aos textos dos glosadores como uma prática ociosa diante 
do recurso direito às fontes históricas e a sua interpretação pelo uso da 
lógica. Este espírito crítico, contudo, só parece ter atingido a Universida-
de de Coimbra, séculos depois, mas não sem um referencial precedente.
As críticas ao ensino da Universidade de Coimbra identificavam na 
adoção dos glosadores a “manha e a confusão” dos jesuítas, protagonistas 
dos infaustos da educação portuguesa. Várias leis e publicações expressa-
vam a aversão do governo ao método jesuítico e às diretrizes contidas nos 
Estatutos da Universidade de Coimbra, de 1653. Os jesuítas eram acu-
sados de “vomitar [...] todo seu veneno com a maquinação e publicação 
[...] do abominável Código dos Estatutos”.38 O “estrago” da Universidade 
teria sido causado pelos “sinistros e façanhosos” jesuítas e seu método, 
que só serviria para introduzir e excitar novas questões. Os jesuítas foram 
ainda responsabilizados por tornar a jurisprudência “versátil, confusa, 
36 – ALBUQUERQUE, Rui; ALBUQUERQUE, Martim. História do direito Português. 
Lisboa: Faculdade de Direito, 1983, vol. 2, pp. 112-113; MACHADO, Diogo Barbosa. 
Bibliotheca lusitana. Lisboa: Biblioteca Nacional, 1998. CD-ROM, v.1, p. 327.
37 – ANTUNES, Álvaro de Araújo. Fiat Justitia: os advogados e a prática da justiça em 
Minas Gerais (1750-1808).Campinas, SP: Pós-graduação do Departamento de História da 
Unicamp, 2005 (Tese, Doutorado em História).
38 – COMPÊNDIO Histórico do Estado da Universidade de Coimbra( 1771), p. 55.
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incerta, e toda dependente do arbítrio dos doutores”.39 Segundo o Com-
pendio, as faculdades de cânones e leis estavam entregues ao exame das 
“sutilezas para sustentarem à força de sofismas as opiniões dos doutores”. 
Em decorrência disso, as faculdades teriam formado advogados de uma 
inteligência quimérica, baseada no direito romano, dados aos sofismas e 
às dilapidações de qualquer “senhor e possuidor de bens”.40 
As causas da falência do ensino de direito envolviam mais do que o 
uso dos glosadores e comentadores. Os jesuítas eram criticados inclusive 
pela formação de base dada aos estudantes, isto é, a instrução do latim, do 
grego, da retórica etc. Não por menos, a reforma do ensino de línguas e da 
retórica antecedeu à própria reformulação dos Estatutos da Universidade 
de Coimbra. As críticas sobre a formação básica dos estudantes aponta-
vam ainda o desconhecimento das utilidades da história, “tocha luminosa 
para a boa inteligência das leis”.41 Outrossim, lamentava-se a ignorância 
ou desleixo com o direito natural, considerado a base das leis positivas e 
das leis pátrias.42 
Com as reformas, o direito natural ganhou destaque, ainda que lade-
ado por uma série de cadeiras dedicadas ao direito romano. No primeiro 
ano letivo, por exemplo, ensinava-se: o “direito natural e das gentes”, 
com o auxílio de um compêndio escrito por Martini, professor da Uni-
versidade de Viena; o “direito romano e direito português”, lecionado 
pelo Dr. Francisco Xavier de Vasconcelos Coutinho; e as “Instituições 
de Justiniano”. No segundo ano, as disciplinas previstas para os alunos 
de cânones e leis eram as seguintes: “direito canônico, comum e pátrio” 
e a “história da Igreja universal e portuguesa”, para qual se utilizava as 
Instituições de Fleury.43 Pelo método sintético, estudava-se o pensamento 
 
39 – LEMOS. Relação Geral do estado da Universidade, pp. 13 e 42.
40 – COMPÊNDIO Histórico do Estado da Universidade de Coimbra (1771), pp. 94 e 206.
41 – COMPÊNDIO Histórico do Estado da Universidade de Coimbra (1771), p. 146.
42 – CARVALHO. As Reformas pombalinas da Instrução pública, p. 176.
43 – CARVALHO. História do ensino em Portugal: desde a fundação da nacionalidade 
até o fim do regime de Salazar-Caetano, p. 473. LEMOS. Relação geral do estado da 
Universidade: 1777, pp. 56-57.
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PeLo rei, coM razão: coMentÁrios soBre as reForMas PoMBaLinas no caMPo jurídico
de Justiniano, pois nele se acha os “princípios unidos em um corpo mais 
completo e sistemático”.44 
Importante observar que, não obstante a permanência da instrução 
do direito comum e canônico, a forma como eles eram ensinados deveria 
ser drasticamente alterada. Passou-se a valorizar a “interpretação justa 
dos textos jurídicos”, evitando-se as falsas interpretações dos glosadores, 
conforme o usus modernus pandectarum que pregava o uso do direito 
romano “naquilo que tivesse de essencial à luz do direito natural”.45 De 
acordo com Antonio Resende de Oliveira, o período pombalino foi um 
marco no direito português, justamente pela tentativa de modernização 
conjugada à valorização do jusnaturalismo.46 
Desde a antiguidade grega e romana o direito natural era conhecido, 
estando vinculado ao ius gentium, isto é, às regras que decorrem da pró-
pria natureza das coisas. O termo, em uma perspectiva cristã, reaparece 
em Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Por sua vez, Ulpianus, em 
seu comentário ao Digesto, define do direito natural como “aquele que a 
natureza ensinou aos animais”.47 Tratava-se de algo que não era próprio 
do humano, embora lhe dissesse respeito, quando da procriação, da união 
dos gêneros etc. Com o tempo, o direito natural teve suas competências 
dilatadas. Indicativo dessa mudança, o Compêndio histórico do estado da 
Universidade de Coimbra divide a história da escola do direito natural 
em antes e depois de Hugo Grotius, autor que, no século XVII, escreveu 
De iure belli ac pacis. Antes dele, o direito natural não seria reconhecido 
como a “origem da justiça”, porém, a partir de Grotius, formou-se umaescola de pensadores dedicados a estudar os princípios da justiça base-
ados na natureza humana.48 Outro grande expoente do jusnaturalismo, 
44 – COMPÊNDIO Histórico do Estado da Universidade de Coimbra (1771), p. 379.
45 – ALBUQUERQUE e ALBUQUERQUE. História do direito Português, vol. II, p. 
128.
46 – OLIVEIRA, Antonio Resende de. Poder e Sociedade. A legislação pombalina e a 
antiga sociedade portuguesa. Revista de História das Ideias. Tomo I, volume IV, p. 51.
47 – GILISSEN, John. Introdução à História do Direito. 3 ed.. Trad. Antonio Manuel Hes-
panha e L.M. Macaísta Malheiros. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p.97.
48 – Entre eles, o Compêndio destacava Samuel Pufendorf, que reuniu uma série de estu-
dos referentes ao direito natural e das gentes. O Instituto de Pufendorf teria sido abraçado, 
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Pufendorf entendia a lei natural como aquela que era fundamentada nas 
máximas da reta razão, no entendimento humano que “tem a faculdade 
de descobrir clara e distintamente” uma ordem quando se debruça sobre 
a natureza e a constituição dos homens.49 Neste sentido, o direito natural 
passou a ser entendido como um conjunto de diretrizes morais e racionais 
que se fundam na natureza do homem e são descortinadas pela razão. 
A contribuição do direito natural à prática da justiça residia no reco-
nhecimento dos princípios sobre os quais se assentavam as leis positivas 
e a própria ordem social. Nas palavras de Lemos, “os princípios do direito 
civil se deduzem das fontes da razão natural e da constituição fundamental 
das sociedades, do gênio, índole, caráter, costumes e usos dos povos”.50 
Para os autores do referido Compêndio, o direito natural era a “disciplina 
mais útil e mais necessária, com que os juristas devem dispor”, pois ela se 
servia da razão, permitia a boa interpretação das leis positivas e era capaz 
de promover a felicidade dos povos.51 
A intenção de promover a felicidade dos povos não estava desasso-
ciada de uma dimensão ética, moral, divina e cristã. Isso pode ser eviden-
ciado na Lei de 18 de agosto de 1769, onde a “boa razão” era definida 
como:
“os primitivos princípios, que contém verdades essenciais, intrínsecas 
e inalteráveis, que a ética dos mesmos romanos havia estabelecido, e 
que os direitos Divino e natural formalizaram para servirem de regras 
morais e civis entre o cristianismo: ou aquela boa razão que se esta-
belece nas leis políticas, econômicas, mercantis e marítimas que as 
mesmas nações cristãs tem promulgado com manifestas utilidades, do 
sossego público, do estabelecimento da reputação [...].”
posteriormente, por autores como Cristiano Tomásio, Wolfio e João Barbeirac, autores 
cujas obras circulariam pelo mundo português impulsionadas pela reforma. COMPÊN-
DIO Histórico do Estado da Universidade de Coimbra (1771), pp. 219-220.
49 – GILISSEN. Introdução a História do direito, p. 373.
50 – LEMOS. Relação geral do estado da Universidade: 1777, p. 48.
51 – COMPÊNDIO Histórico do Estado da Universidade de Coimbra (1771), p. 205.
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PeLo rei, coM razão: coMentÁrios soBre as reForMas PoMBaLinas no caMPo jurídico
A Lei de 18 de agosto de 1769 serviu ao projeto regalista na me-
dida em que contribuiu para o processo de reforma jurídica, que previa 
regulação do uso direito civil e costumeiro e a valorização da moral, da 
razão, do jusnaturalismo e das leis positivas, a exemplo das nações poli-
das e cristãs. Entretanto, a proposta modernizadora da lei, fomentada em 
discussões dos ministros do Conselho e do Desembargo do Paço, possuía 
limites intrínsecos e/ou próprios do jogo de forças do campo jurídico, 
conforme revelaram alguns dos seus comentadores.
Pelo rei a Boa Razão: comentários de José Homem correia telles 
Pelo conjunto das suas proposições, a Lei da Boa Razão foi respon-
sabilizada pelas alterações profundas no campo jurídico português. En-
trementes, tal lei não foi a primeira e nem seria a última a enfrentar os 
entraves diagnosticados na condução da justiça. Antes dela, para citar um 
exemplo, D. Manuel I estipulava restrições ao uso do direito civil, con-
forme estabelecido no livro 5, título 58 das Ordenações, publicadas em 
1602. Os limites impostos ao direito romano, condenados pela Lei de 18 
de agosto de 1769, também foram objetos da Lei de 3 de novembro do 
mesmo ano. O direito consuetudinário, regulamentado pela Lei da Boa 
Razão, teve seu uso restrito no âmbito da justiça e da fazenda pela Lei de 
23 de novembro de 1770.
Por um lado, a frequência dessas leis pode indicar a inobservância 
das normas fixadas pela Lei de 18 de agosto. De outro lado, sugere um 
reconhecimento de parâmetros por ela estabelecidos e que deveriam ser 
resguardados ou esclarecidos pela legislação subsequente. A situação, 
portanto, pode levar a questionamentos quanto à eficácia da referida lei, 
total ou parcialmente, como será apresentado mais adiante. Mas há de se 
considerar, em contrapartida, que a referência às determinações da Lei da 
Boa Razão, direta ou indiretamente, pode ser entendida como o reconhe-
cimento da sua autoridade, em grande medida por aquilo que ela propõe 
de condizente com o espírito dos novos tempos. 
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Como foi apresentado, a indicação do direito natural como princípio 
da regulamentação da sociedade não era uma inovação da Lei da Boa Ra-
zão. A novidade consistia em tornar a boa razão como o fiel da balança, 
no lugar das autoridades dos glosadores e do direito romano.
“Na jurisprudência (cujo o caráter formam a verdade e a simplicidade) 
as quase inumeráveis questões metafísicas, com que depois daquela 
Escola Bartholina se tem ilaqueado e confundido os direitos e domí-
nios dos litigantes intoleravelmente: mando que as glosas e opiniões 
dos sobreditos Acúrcio e Bártolo não possam mais serem alegadas em 
Juízo e nem seguidas nas práticas dos julgadores; e que antes muito 
pelo contrário em um e outro caso sejam sempre as boas razões acima 
declaradas se não as autoridades daqueles e ou de outros semelhantes 
doutores de mesma Escola.” 52
Como foi visto, a expressa vontade de simplificar a jurisprudência 
sempre foi alvo das reformas judiciárias. Na Lei de 18 de agosto de 1769, 
a culpa pela confusão nos pleitos foi atribuída às questões metafísicas 
instigadas pelas glosas de Bártolo e Acúrcio. Não obstante as mudanças, 
manteve-se a autoridade subsidiária do direito romano, mas apenas quan-
do estivesse conforme à “boa razão”, isto é, aos “primeiros princípios, 
que contém as verdades essenciais”.53 Para Francisco Falcon, as mudan-
ças no campo jurídico tomaram a forma de uma reorientação da doutri-
na.54 Passou-se do sistema “do romanismo justinianeu” para o sistema de 
“direito natural e do individualismo crítico”. Com isso, a razão passou a 
ser valorizada, em detrimento das glosas, tal qual estabelecido pela Lei 
da Boa Razão.55 
52 – ORDENAÇÕES Filipinas, livro terceiro. v. 2. p. 730.
53 – ORDENAÇÕES Filipinas, livro terceiro, v. 2, p. 728. GILISSEN. Introdução histó-
rica ao direito, p. 373. 
54 – FALCON. A época pombalina: política econômica e monarquia ilustrada.
55 – Como já foi apresentado, o direito natural desenvolve sua vertente racional nos sécu-
los XVII e XVIII. Mas, foi com a reforma pombalina da legislação que o direito natural 
passou a servir como um argumento sólido e conforme a nova doutrina. GILISSEN. Intro-
dução Histórica ao Direito, p. 364 e HESPANHA, Antonio Manuel. Panorama histórico 
da cultura jurídica europeia. Portugal: Publicações Europa-América, 1997, p. 150.
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PeLo rei, coM razão: coMentÁrios soBre as reForMas PoMBaLinas no caMPo jurídicoO direito canônico, por sua vez, tem o uso limitado ao tribunal ecle-
siástico, demarcando as áreas de competências do poderes.
“deixando-se os referidos textos de direito canônico para os Ministros 
e Consistórios Eclesiásticos os observarem (nos seus devidos e com-
petentes termos) nas decisões da sua inspeção e seguindo somente 
meus tribunais e magistrados seculares nas matérias temporais da sua 
competência as leis pátrias e subsidiárias [...].” 56
Quanto ao costume – direito não escrito e reconhecido pelo uso do 
povo –, para ser considerado válido, deveria ter mais de cem anos e não 
contrariar as leis positivas. Carla Anastasia acreditou que a Lei da Boa 
Razão serviu de empecilho aos usos circunstanciais e as interpretações 
extravagantes das leis portuguesas e dos costumes57 Em resumo, a lei de 
18 de agosto de 1769 buscou rever os sistemas de fontes do direito portu-
guês proscrevendo as autoridades dos glosadores, subordinando o direito 
romano, delimitando a área de competência do direito canônico.58 
Pela Lei da Boa Razão procurava-se assegurar a coerência do exercí-
cio jurídico ao projeto pombalino de fortalecimento da figura do rei, ori-
gem da lei e “justiça viva”. Em seu primeiro parágrafo ficava definido que 
nenhuma decisão judicial deveria ferir o direito expresso, as ordenações 
do reino. Vetava-se as interpretações abusivas que ofendiam a majestade 
da legislação. Como é sabido, um dos princípios que norteava a confec-
ção das leis em geral era a clareza. A interpretação de uma lei, portanto, 
seria desnecessária e mais serviria a confusão, do que ao seu entendi-
mento.59 Ademais, seria punido o advogado que, em suas interpretações, 
56 – ORDENAÇÕES Filipinas. Coimbra: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985, v. 2, 
p.730.
57 – Para Carla Junho Anastasia, com a lei de 18 de agosto de 1769, houve uma restrição 
significativa do uso do costume, com possíveis repercussões no repertório de ações cole-
tivas, “fundado na força dos costumes e na excepcionalidade dos costumes”. Tal hipótese, 
contudo, tem como condição a confirmação de que a lei foi, de fato, eficaz. ANASTASIA, 
Carla Maria Junho. A Lei da Boa Razão e o novo repertório da ação coletiva nas Minas 
setecentista. Vária História, Belo Horizonte: Editora UFMG, n. 28, 2002.
58 – ALBUQUERQUE e ALBUQUERQUE. História do direito Português, p.57.
59 – ALMEIDA, Candido Mendes de. Auxiliar jurídico: apêndice às Ordenações Filipi-
nas. Rio de Janeiro, 1870. Edição fac-similada de Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 
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enredasse raciocínios frívolos e “ordenados mais a implicar com sofismas 
as verdadeiras disposições da lei”.60 A interpretação de eventuais dúvidas 
deveria ficar a cargo dos magistrados capacitados da Casa de Suplicação 
que fixariam suas resoluções por meio de Assentos que teriam o valor de 
lei. Os Estilos – a forma de praticar o que era estipulado por lei – também 
deveriam ser determinados pela Casa de Suplicação. 
Para Arno Wehling, o caráter despótico e inovador da legislação pom-
balina explicitava-se na primazia, defendida pela Lei da Boa Razão, das 
decisões da Casa de Suplicação e das Ordenações.61 Este direito positivo 
era, em última análise, o resultado do discernimento e da vontade régios, 
condição que colocava D. José I em uma posição central no jogo de forças 
do campo jurídico. Tais determinações buscavam confirmar, portanto, o 
“monopólio do direito a favor da lei do soberano”.62 Um monopólio que 
teria limitações bem palpáveis, conforme evidenciaram alguns autores 
que analisaram a dita lei.
Arno Wehling fez um bom arrazoado de alguns pontos debatidos 
pelos comentadores da Lei de 18 de agosto de 1769. Para o autor, no que 
tange às intenções de Pombal, Coelho da Rocha considerou que houve, 
de fato, uma nova dignificação das leis portuguesas; Paulo Merea desta-
cou a influência do pensamento estrangeiro; Cabral Moncada privilegiou 
o ataque contra o direito português escolástico. Outros historiadores do 
direito, como Martins Junior, Waldemar Ferreira e Bezerra Câmara, Nuno 
Espinosa Gomes da Silva e Antonio Manuel Hespanha, destacaram o ca-
ráter antiaristocrático e antiteocrático da lei. No geral, tais autores tendem 
a considerar a lei como responsável por uma modernização no direito 
português.63 
1985,v. 2, p. 446.
60 – ALMEIDA, Auxiliar Jurídico: apêndice às Ordenações Filipinas, p. 451.
61 – WEHLING, Arno. Cultura jurídica e julgados do Tribunal da Relação do Rio de 
Janeiro: a invocação da Boa Razão e o uso da Doutrina: uma amostragem. In: SILVA, 
Maria Beatriz Nizza. Cultura portuguesa na Terra de Santa Cruz. Lisboa: Estampa, 1995, 
p. 237.
62 – HESPANHA. Panorama histórico da cultura jurídica europeia, p.166.
63 – WEHLING, Arno e WEHLING, Maria José. Direito e Justiça no Brasil colonial: o 
Tribunal da Relação do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 448.
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PeLo rei, coM razão: coMentÁrios soBre as reForMas PoMBaLinas no caMPo jurídico
Para além desta concordância, o que se questiona são aspectos mais 
pontuais. Embora grande parte dos autores que tratam da Lei da Boa Ra-
zão concorde com seu caráter antirromanista, Paulo Merêa relativiza o 
poder da dita lei em desterrar o direito romano, que continuaria impe-
rando até, pelo menos, o Alvará de 16 de janeiro de 1805. De fato, como 
observou Martins Júnior, proscrever Acúrcio e Bártolo não era o mesmo 
que vetar o direito romano.64 Manoel Borges Carneiro, tratando do direito 
civil português, em obra publicada em 1828, considerava que a Lei da 
Boa Razão não buscava revogar as leis romanas, mas sim restringir e fixar 
sua inteligência.65
Outra questão que suscita controvérsia é sobre a efetiva aplicação da 
Lei de 18 de agosto de 1769. Um dos primeiros críticos da sua eficiência 
e, segundo tudo indica, o responsável por nomeá-la de Lei da Boa Razão, 
foi José Homem Correia Telles. Telles conhecia bem os trâmites legais. 
Formou-se em cânones pela Universidade de Coimbra, foi Juiz de Fora 
da Figueira e deputado nas Cortes Constituintes de 1821. Além disso, es-
creveu diversas obras de direito, entre elas: Theoria da interpretação das 
leis e ensaio sobre a natureza do senso consignativo, de 1815; Doutrina 
das ações acomodada ao foro de Portugal, de 1819; no mesmo ano o 
Manual do tabelião, ou Ensaio de jurisprudência hermenêutica; Digesto 
português ou Tratado dos direitos e obrigações civis acomodado às leis e 
costumes da nação portuguesa, de 1835 entre outras obras. Seu currículo, 
portanto, abaliza suas considerações apresentadas no Comentário crítico 
à lei de 18 de agosto de 1769, publicado em 1824.
Os originais manuscritos do Comentário podem ser encontrados no 
Arquivo da Torre do Tombo, no fundo da Real Mesa Censória. Tais ma-
nuscritos revelam um pouco do trâmite e ajustes que o autor fez antes da 
sua publicação. No manuscrito, lê-se:
64 – WEHLING e WEHLING. Direito e Justiça no Brasil colonial: o tribunal da relação 
do Rio de Janeiro, p. 449.
65 – AVELAR. História Administrativa do Brasil: administração pombalina, p.130.
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“Este escrito teria sido estampado em 1821, se os produtos efêmeros 
da assembleia constituinte (a que chamaram de Corte) não tivessem 
empecido a sua publicação. Agora que os governos legítimos estão 
felizmente mais seguros e os espíritos menos agitados, a lição dele 
ainda pode ser útil, ao menos para convencer quanto é necessária a re-
forma da legislação civil. Desta reforma, a meu entender, pende mais 
a segurança da honra e da propriedade, do que da melhor constituição 
política.”
Não se sabe, ao certo, se as relatadas considerações sobre o ambiente 
político são de autoria de Correia Tellesou se do responsável pela ava-
liação da obra. De qualquer maneira, estamos diante de um panorama da 
época em que a obra foi escrita. Um ambiente de expectativas depositadas 
sobre a reestruturação portuguesa depois das invasões napoleônicas, e 
sobre as potencialidades do liberalismo e da crítica racional. 
Esse espírito crítico perpassava a obra de Telles. Na introdução do 
Comentário, a Lei de 18 de agosto de 1769 foi descrita como uma das 
mais “notáveis do feliz reinado do Senhor D. José”. Escreveu Telles: “De-
nomino-a Lei da Boa Razão, porque refugou as leis romanas, que em boa 
razão não forem fundadas.”66 Algo muito positivo à execução da justiça, 
segundo julgava o autor. Mas todo o elogio não o exime de pronunciar 
suas censuras à Lei da Boa Razão, parte delas voltadas à prática adminis-
trativa da justiça. 
Com relação às dúvidas legais, Telles considerava que o “método da 
interpretação autêntica que instaurou a nossa lei ainda não é o melhor”.67 
Isto porque os desembargadores e o soberano, senhor da lei, não teriam 
tempo necessário para desfazer todas as dúvidas dos advogados espalha-
dos pelos auditórios de primeira e segunda instâncias, ficando a dúvida, 
no mais das vezes, resolvida pelo arbítrio do juiz ordinário. A solução 
para o problema seria a constituição de um tribunal encarregado somente 
da interpretação autêntica das leis, ponderou Telles. 
66 – ALMEIDA, Auxiliar Jurídico: apêndice às ordenações Filipinas, v. 2, p. 444. 
67 – TELLES, José Homem Correia. “Comentário Crítico à Lei da Boa Razão”. In: ALMEI-
DA, Candido Mendes de. Auxiliar jurídico: apêndice às Ordenações Filipinas. Rio de Janeiro, 
1870. Edição fac-similada de Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985, v. 2, p. 449.
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Os estilos também deveriam ser confirmados por Assentos da Casa 
da Suplicação para ter valor de lei. Ocorre que diversos estilos conhe-
cidos e difundidos nas obras de praxistas não eram confirmados, sendo, 
portanto, “barbaridade condenar alguém pela inobservância deles, porque 
pena sem lei é efeito sem causa”.68 
Outro limite diretamente associado à atuação da Casa de Suplicação 
foi apresentado por Telles quando tratava dos 58 Assentos que foram fir-
mados entre os anos de 1768 e 1800. Para o autor, o restrito número de 
Assentos foi indicativo da pouca observância da Lei de 18 de agosto de 
1768. Uma solução para este problema seria “estender a providência dela 
[Lei da Boa Razão], concedendo a todos os julgadores o poderem reque-
rer Assentos”.69
As disposições da Lei da Boa Razão que subordinavam as leis ro-
manas ao direito natural também foram analisadas por Telles. Depois de 
elencar diversos casos nos quais o direito romano contrariava o direito 
natural, o autor ponderou sobre os limites do usus modernus pandecta-
rum. Considerando o papel dos professores de Direito em esclarecer sobre 
os erros e averiguar sobre a inteligência das Novellas, Digesto e Código, 
concluiu o autor que, por mais que se busque limitar as divergências de 
interpretação por meio da razão, o uso moderno da legislação romana é 
variado, “seguindo umas nações as decisões das Novellas e outras a do 
Código e do Digesto”.70 Além disso,
“confrontando a nossa lei com os Estatutos [...], parece não ter sido 
o mesmo legislador. A nossa lei exige precisamente que as leis roma-
nas subsidiárias das pátrias sejam fundadas naquelas boas razões, que 
declarou: os Estatutos não exigem tanto, satisfazem-se que as leis ro-
manas não tenham oposição ou repugnância às leis naturais, divinas, 
direito das gentes etc.”71
68 – TELLES, José Homem Correia. “Comentário Crítico à Lei da Boa Razão”, p. 450.
69 – Considerando o assunto, Arno Wehling pondera que o número de Assentos indicado 
por Telles não era tão inferior ao do reinado de D. João V, com 63 ocorrências. WHELING 
e WEHLING. Direito e Justiça no Brasil colonial: o tribunal da relação do Rio de Janei-
ro, p. 454.
70 – TELLES, José Homem Correia. “Comentário Crítico à Lei da Boa Razão”, p. 462.
71 – TELLES, José Homem Correia. “Comentário Crítico à Lei da Boa Razão”, p. 461.
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Destarte, para Telles, o proposto na Lei da Boa Razão não era ob-
servado nos Estatutos da Universidade de Coimbra ou, o que poderia ser 
mais aberrante, haveria um equívoco de interpretação da lei, ainda que o 
suposto redator de ambos os documentos fosse a mesma pessoa! Outras 
considerações são tecidas sobre a vacuidade da definição do que pode 
ser entendido como “leis políticas e econômicas” ou até mesmo como 
“nações polidas”, que, segundo o autor, bem poderia ser qualquer nação 
cristã da Europa. 
No somatório dos erros, apesar de considerar a Lei da Boa Razão 
como uma das mais “notáveis do feliz reinado do Senhor D. José”, Telles 
apresentava uma série de limitações internas e estruturais à lei. Nesse 
sentido, o autor apontou para algumas contradições entre os mecanismos 
da reforma jurídica e considerou alguns empecilhos práticos à execução 
das determinações legais fixadas em 18 de agosto de 1769. 
as práticas e os agentes no campo jurídico: os usos da lei da Boa 
Razão.
Avizinhar-se do “direito vivo” é uma tarefa que demanda uma extra-
polação da dimensão restrita da lei em direção à prática dos auditórios. É 
possível encontrar vestígios dessa prática em alguns dos escritos jurídicos 
enviados aos órgãos de censura portugueses pleiteando a concessões para 
publicação. A Lei da Boa Razão, por exemplo, foi referenciada em obras 
como as Alegações de João Henrique Martins, escrita em fins do século 
XVIII, na qual é possível ler a seguinte nota:
“Não será necessário vestir o feio caráter de declamador, para notar o 
quão pouca atenção deve merecer aos sábios Magistrados um número 
infinito de causas, que inutilmente os fatigam, umas vezes por culpa 
dos litigantes, outras por erro, ou por fraude dos patronos: Este é um 
vício que grassava em toda a Europa, e a que quase todas as nações 
iluminadas hoje se opõem. [...] Não é só a razão, quem faz evidente 
a certeza e a maligna influência desses abusos: eis aqui os expressos 
preceitos, com que indispensavelmente nos devemos conformar. Por-
quanto (Lei de 18 de agosto de 1769), depois de muitos anos, tem sido 
um dos mais importantes objetos da atenção e cuidado de todas as 
R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 172 (452):15-50, jul./set. 2011 39
PeLo rei, coM razão: coMentÁrios soBre as reForMas PoMBaLinas no caMPo jurídico
nações polidas da Europa o de precaverem com sábias providências as 
interpretações abusivas, que ofendem a majestade das leis [...].” 72
No diagnóstico negativo da justiça, o autor das Alegações não se li-
mitava a apontar os benefícios das disposições da Lei da Boa Razão, mas 
também professava a conformidade da sua postura profissional à dita lei:
“Estas razões me fizeram olhar com horror para o estilo ordinário, en-
tre nós, até aqui, praticado: eu me apartei do uso comum e segui nova 
trilha. Tendo-me em primeiro lugar persuadido da intrínseca justiça da 
causa que defendo procurei depois fazê-la evidente com razões sóli-
das. E para que fique manifesta, uma vez por todas, a causa de seguir 
o estranho método, que me propus, eis aqui os importantes preceitos, 
dos quais nunca me apartei [...].” 73
Os princípios aos quais se refere foram os mesmos apresentados pela 
Lei da Boa Razão, citada pelo autor praticamente na íntegra. Se sua de-
claração é digna de crédito, é possível, então, considerar que a Lei da 
Boa Razão encontrou espaço nos tribunais de justiça, servindo de norte à 
conduta dos advogados e juízes. 
Em outro manuscrito, localizado no Fundo da Real Mesa Censória, é 
possível discernir a Lei da Boa Razão servindo

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