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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA NOTAS DE AULAS EAM 330 CARTOGRAFIA GERAL Viçosa EAM 330 – Cartografia Geral 2 CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 1.1) O que é Cartografia? Mesmo considerando todos os avanços científicos e tecnológicos produzidos pelo homem através dos tempos, é possível, nos dias de hoje, entender a condição de perplexidade de nossos ancestrais, no começo dos dias, diante da complexidade do mundo a sua volta. Podemos também intuir de que maneira surgiu no homem a necessidade de conhecer o mundo que ele habitava. O simples deslocamento de um ponto a outro na superfície de nosso planeta, já justifica a necessidade de se visualizar de alguma forma as características físicas do "mundo". É fácil imaginarmos alguns dos questionamentos que surgiram nas mentes de nossos ancestrais, por exemplo: como orientar nossos deslocamentos? Qual a forma do planeta? etc.. O conceito de Cartografia tem suas origens intimamente ligadas às inquietações que sempre se manifestaram no ser humano, no tocante a conhecer o mundo que ele habita. O vocábulo CARTOGRAFIA, etmologicamente - descrição de cartas, foi introduzido em 1839, pelo segundo Visconde de Santarém - Manoel Francisco de Barros e Souza de Mesquita de Macedo Leitão, (1791 - 1856). A despeito de seu significado etmológico, a sua concepção inicial continha a idéia do traçado de mapas. No primeiro estágio da evolução o vocábulo passou a significar a arte do traçado de mapas, para em seguida, conter a ciência, a técnica e a arte de representar a superfície terrestre. Em 1949 a Organização das Nações Unidas já reconhecia a importância da Cartografia através da seguinte assertiva, lavrada em Atas e Anais: "CARTOGRAFIA - no sentido lato da palavra não é apenas uma das ferramentas básicas do desenvolvimento econômico, mas é a primeira ferramenta a ser usada antes que outras ferramentas possam ser postas em trabalho." (1) (1) ONU, Departament of Social Affair. MODERN CARTOGRAPHY - BASE MAPS FOR WORLDS NEEDS. Lake Success. O conceito da Cartografia, hoje aceito sem maiores contestações, foi estabelecido em 1966 pela Associação Cartográfica Internacional (ACI), e posteriormente, ratificado pela UNESCO, no mesmo ano: "A Cartografia apresenta-se como o conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e artísticas que, tendo por base os resultados de observações diretas ou da análise de documentação, se voltam para a elaboração de mapas, cartas e outras formas de expressão ou representação de objetos, elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioeconômicos, bem como a sua utilização." O processo cartográfico, partindo da coleta de dados, envolve estudo, análise, composição e representação de observações, de fatos, fenômenos e dados pertinentes a diversos campos científicos associados a superfície terrestre. A Cartografia no Brasil A Cartografia, no Brasil, teve seu desenvolvimento a partir da Segunda Guerra Mundial em função dos interesses militares. Instituições como os atuais Instituto Cartográfico da Aeronáutica (ICA), Diretoria do Serviço Geográfico do Exército (DSG) e Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), foram as principais responsáveis pela execução da Cartografia Sistemática do País, objetivando mapear todo o território nacional, em escalas de 1:50.000 a 1:250.000. 1.2) Origem e evolução da cartografia no Brasil 1890 – 31 de maio – Foi criado o Serviço Geográfico Militar, anexo ao Observatório Astronômico, "para a execução dos trabalhos geodésicos e geográficos da República dos Estados Unidos do Brasil". 1896 – O Estado Maior do Exército foi incumbido da elaboração da Carta Geral da República. 1903 – Na cidade de Porto Alegre foi instalada a Comissão da Carta Geral do Brasil. Também, foi criado o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, sob a direção do geólogo norte-americano Orville A. Derby – Função: Produção da Carta Geológica. 1922 – Foi organizado o Serviço Geográfico do Exército e extinta a Comissão da Carta Geral, com as atribuições desta absorvidas por aquela. Este ano ainda marca o aparecimento da Carta do Brasil ao Milionésimo (primeiro "retrato cartográfico de corpo inteiro" do país), editada pelo Clube de Engenharia, em comemoração ao centenário da Independência. EAM 330 – Cartografia Geral 3 1935 – A Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) foi a primeira, dentre as organizações cartográficas brasileiras, a apresentar um plano cartográfico, o Plano Cartográfico Náutico. 1936 – Veio a ser instalado o Instituto Nacional de Estatística e Cartografia. 1937 – Surge a primeira empresa privada, no mercado brasileiro, dedicada à execução de levantamentos aerofotogramétricos, cujas preocupações básicas estavam voltadas para a prestação de serviços em Cartografia. 1938 – Instituto Nacional de Estatística e o Conselho Brasileiro de Geografia foram incorporados ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. O primeiro projeto do IBGE: "Determinação das Coordenadas das Cidades e Vilas". 1940 – Pela primeira vez na história da Estatística Brasileira os dados de coleta e tabulações do censo foram referenciados a uma base cartográfica sistematizada, pelo menos quanto às categorias administrativas: Municipais e Distritais – Cidades e Vilas. A partir de então estava assegurado o georreferenciamento das estatísticas brasileiras. 1945 – O Secretário Geral do Conselho Nacional de Geografia, Cristovão Leite de Castro, apresentou um Plano Cartográfico, de abrangência nacional e subdividido em programas distintos, cuja composição estava definida em termos do grau de evolução dos processos de ocupação territorial. 1946 – O Conselho de Segurança Nacional institui comissão para fixar "normas para a uniformização da cartografia brasileira" e procedimentos para a coordenação dos trabalhos cartográficos. Ainda, ao IBGE é atribuída a Coordenação da Cartografia Brasileira. Iniciam-se os trabalhos de mapeamento, na escala topográfica de 1:250.000, do vale do Rio São Francisco, em território da Bahia. 1961 – O Estado-Maior da Forças Armadas (EMFA) forma um grupo de trabalho com a finalidade de estabelecer as "Bases e Diretrizes de uma Política de Coordenação e Planejamento do Levantamento Cartográfico Brasileiro". 1962 – O IBGE passa a atuar nas escalas maiores de 1:250.000, ou seja, em paralelo aos trabalhos nas escalas ao milionésimo; 1:500.000 e 1:250.000. Passou a conduzir as atividades necessárias a produção dos documentos nas escalas de 1:50.000 e 1:100.000, antes restritos a atuação do Serviço Geográfico do Exército. 1964 – O IBGE estrutura e consolida a linha de instrumentos fotogramétricos e amplia a atuação de suas unidades de levantamentos geodésicos, de modo a atender ao apoio terrestre para as operações fotogramétricas. 1966/1967 – O Presidente Castelo Branco estabelece outro grupo de trabalho para definir as Diretrizes e Bases da Política Cartográfica Nacional. Mantém a atuação descentralizada das instituições cartográficas do governo federal e explicita a coordenação da Política Cartográfica Nacional como atribuição da Comissão de Cartografia (COCAR) inserida na estrutura do IBGE. A COCAR foi estruturada de modo a que todos os Ministérios que desenvolvessem ou demandassem serviços cartográficos lá estivessem representados, pois o objetivo principal do Decreto se resumia em Organizar o Sistema Cartográfico Nacional no que dizia respeito a União. O elenco de representantes era complementado por assentos atribuídos à iniciativa privada, através da atual Associação Nacional das Empresas de Levantamentos Aeroespaciais (ANEA), e ao IBGE, que constituíram exceção à representação ministerial. 1972 – Projeto RADAM– Radar da Amazônia, aplicação pioneira de sensores aerotransportados radargramétricos. Posteriormente o projeto foi estendido a todo território nacional – RADAMBRASIL. Em 1985 o projeto foi extinto. 1975 – Foi expedido um decreto que retirar a COCAR da estrutura da Fundação para posicioná-la na Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral da Presidência da República – SEPLAN. 1978 a 1981 – Foram intensificadas as atividades cartográficas sob a organização do Programa de Dinamização da Cartografia – PDC, enfatizando-se o mapeamento em escalas topográficas de vastas regiões da Amazônia Legal e o complemento das folhas das cartas nas escalas de 1:50.000 e 1:100.000 das regiões centro-sul e nordeste. 1975 a 1985 - Pode-se afirmar que foi o período de mais intensa produção cartográfica, fruto da modernização dos equipamentos e processos de produção. 1985 – Foi criado o Ministério da Ciência e Tecnologia ao qual ficou submetida a COCAR na condição de órgão autônomo. 1990 – Foi desativada a COCAR. Conseqüência de protestos da comunidade cartográfica interessada na manutenção da COCAR junto à SEPLAN. 1994 – O Governo Federal cria a Comissão Nacional de Cartografia (CONCAR) em moldes semelhantes àquela dos anos 60. Mantém a estrutura da representação ministerial com as mesmas exceções, IBGE, como provedor de apoio administrativo, e ANEA. E a subordinação retorna a área do planejamento, agora no Ministério do Planejamento e Orçamento. 1.3) O caráter matemático científico da cartografia Cartografia é a arte e ciência de graficamente representar um área geográfica em uma superfície plana como em um mapa ou gráfico (normalmente no papel ou monitor). As representações de área podem incluir superimposições de diversas informações sobre a mesma área através de símbolos, cores, entre outros. Uma carta topográfica, por exemplo, explica, por via gráfica, isto é, de traços, pontos, figuras geométricas, cores, etc., a configuração duma parte da superfície terrestre, tal como ela é, e dentro duma precisão matemática, sempre compatível com a escala. EAM 330 – Cartografia Geral 4 Os dados que a cartografia utiliza para representação da realidade física e humana da crosta, conseguidos, seja por levantamentos tradicionais, seja por técnicas de sensoriamento remoto, são dispostos metodicamente no sentido da traduzir, com fidelidade, aqueles fatos e fenômenos tais como eles se apresentam no momento da coleta dos referidos dados. As migrações, outro exemplo, ocorridas em determinado período do tempo, num estado ou num município do Brasil, são um fenômeno que o geógrafo observa e interpreta, e cujos dados o cartógrafo distribui, metodicamente, num mapa, retratando, também, mediante simbologia própria, e com a assistência de regras matemáticas, aquele fenômeno ocorrido naquele espaço de tempo, naquela parte do território. Tanto no primeiro exemplo, quanto no segundo, ambos de intenção e forma distintas, não podem oferecer ao usuário dois tipos de leitura. O método gráfico de que a cartografia se vale é, dessa maneira, um método científico, só podendo ser interpretado, racionalmente, dum modo uniforme. 1.4) A Cartografia como sistema de aquisição de informações Aplicações e Tendências Futuras A Cartografia, cuja função essencial é representar a realidade através de informações espaciais de uma forma organizada e padronizada incluindo acuracidade, precisão, recursos matemáticos de projeções cartográficas, datum para a determinação de coordenadas e ainda recursos gráficos de símbolos e textos, têm tido suas aplicações estendidas à todas as atividades que de alguma forma necessitem conhecer parte da superfície terrestre. Assim, o mapa será sempre necessário, por exemplo, nos projetos de engenharia (Construções de Estradas, Usinas, Cidades, Parques) e no planejamento e monitoramento regional do meio ambiente (Recursos Naturais, Agricultura, Florestas, Hidrografia, etc. Atualmente, os conhecimentos de cartografia, necessários à tecnologia SIG, desfrutam de um grande desenvolvimento na habilidade de se construir mapas digitais que efetivamente comuniquem as idéias e questões geográficas de um mapa analógico. Para isto, softwares apropriados são desenvolvidos e objetivam ainda, viabilizar a utilização de produtos resultantes das novas tecnologias de captação e processamento da informação espacial, como é o caso das imagens de satélites, dos dados obtidos por levantamentos com GPS e das imagens retificadas de fotografias aéreas, ou seja, as ortofotos digitais. Graças às novas possibilidades oferecidas por estes produtos digitais, pode-se constatar significativas renovações aos métodos cartográficos conforme mostram os comentários a seguir: a) Utilização de Imagens de Satélite A tomada de imagens a partir de plataformas espaciais, com sensores montados a bordo de satélites artificiais, capazes de gravitar no entorno da Terra, tem gerado expectativas e experiências capazes de provocar novas revoluções no processo cartográfico. Embora as expectativas ainda não tenham sido atendidas (o que justifica-se no fato dos satélites artificiais de observação terrestre não terem sido projetados para aplicações cartográficas), os cartógrafos vêm se utilizando das imagens decorrentes das aplicações dos sistemas de sensores LANDSAT e SPOT. As imagens utilizadas para o desenvolvimento de técnicas de monitoramento de ações sobre a superfície terrestre, atualização cartográfica, produção de fotomapas e, no caso do SPOT, compilação estereofotogramétrica em mapeamentos topográficos em escalas pequenas. b) Utilização de GPS A tecnologia GPS começa a concretizar o sonho dos cartógrafos de se libertarem das injunções dos levantamentos terrestres, através de sistemas de mapeamento que, a partir de fotos aéreas, dispensam os custosos e demorados levantamentos de campo. A integração dos posicionadores GPS com as câmaras fotogramétricas em plataformas inerciais permite a determinação da posição do centro ótico da câmara, no instante de tomada da imagem, através da obtenção das coordenadas X, Y, Z e das atitudes da mesma, com precisão suficiente para satisfazer às especificações para todos os tipos de mapas em escalas médias e grandes. c) Utilização de Ortofotos Digitais A utilização de ortofotos pode ser valorosa em muitos aspectos da cartografia. Os mapas digitais estarão, nos próximos anos, substituindo rapidamente os mapas convencionais em papel (analógicos), utilizados por séculos. A evolução dos sistemas digitais de registro iconográfico, em substituição aos analógicos em base de filme, começa a apontar, em futuro próximo, à processos de compilação cartográfica que poderão se desenvolver inteiramente em ambiente computacional, eliminando as custosas instalações de laboratórios fotográficos. EAM 330 – Cartografia Geral 5 1.5) Como são executadas as cartas básicas sistemáticas A execução de cartas básicas sistemática é realizada após um detalhado estudo de todas as fases que a antecedem. É preciso que estejam bem definidos, entre outros aspectos, a finalidade do levantamento aéreo fotogramétricos, o tipo de produto final, escala e precisão necessária. Planejamento de Vôo e Apoio Terrestre: o planejamento de vôo consiste na obtenção de informações técnicas diversas, tais como: tipo de aeronave e instrumentos de que se dispõe, condições atmosféricas propícias, além de uma equipe de campo e pontos suficientes de apoio terrestre. Apoio Básico Terrestre: é conjunto de pontos de referência determinados no terreno, através de medições realizadas com equipamentos específicos e com o auxílio de cálculos matemáticos. Ao serem efetuadas quaisquer medições sobre a superfície terrestre, para qualquer finalidade, o ponto de partida é sempre um marco geodésico. Muitos desses pontosaparecem nas cartas planimétricas. Os pontos do apoio básico são materializados no terreno por meio de um pino de metal afixado sobre pilares de concreto, paredes, guias, sarjetas, pontes, viadutos, escadarias públicas, etc. Cada marco é identificado por um número estabelecendo a correspondência entre uma posição no terreno e no mapa. Para cada ponto é elaborada uma monografia, onde constam as coordenadas, o croqui de localização, o itinerário de acesso e uma foto do marco. O apoio básico também pode ser representado sobre uma carta. Os marcos devem ser preservados, não devendo ser removidos nem deslocados. Caso necessário, é preciso entrar em contato com o órgão que o implantou. O marco utilizado no levantamento aéreo no município de Presidente Prudente estava localizado em frente a Igreja Matriz São Sebastião, mas devido a falta de conscientização e fiscalização de órgãos responsáveis este foi retirado e em seu ponto de localização foi construída uma rampa de acesso a igreja. Apoio Básico Horizontal: chamam-se pontos planimétricos ou vértices aqueles cuja localização é estabelecida por processos geodésicos e topográficos através de suas coordenadas planas, sobre uma determinada projeção cartográfica. Apoio Básico Vertical: são pontos altimétricos, também denominados referência de nível (RN). Suas altitudes são determinadas tomando por base altitudes referenciadas ao nível médio dos mares. Vôo: a realização do vôo aerofotogramétrico é uma etapa de importância capital na execução de uma carta sistemática básica. Destina-se à obtenção das fotografias aéreas já mencionadas anteriormente. Deve ser planejado em detalhe, de forma a que toda a superfície do terreno seja coberta pelas fotografias. Restituição: por meio de restituidores todos os detalhes do terreno são transferidos para uma folha. Para tanto, são corrigidas as possíveis distorções, como variações do relevo, oscilações devido ao balanço do avião, projeção da fotografia, entre outras. O desenho do mapa é elaborado pelo operador do aparelho, seguindo exatamente os detalhes visíveis na fotografia. Reambulação: de modo a eliminar dúvidas, as fotografias aéreas são levadas ao campo para verificação e registro de detalhes, informações como denominação e tipo de acidentes geográficos, reconhecimento de vegetação e culturas, identificação de grandes edificações etc. Gravação: é a transposição, por meio de instrumentos apropriados, de todos os detalhes do mapa para folhas de plásticos indeformável. Esta fase é a que conclui os trabalhos de mapeamento e prepara o material para impressão ou outro tipo de acabamento gráfico. Revisão: entre uma fase e outra deve ser realizada uma revisão detalhada de tudo o que foi inserido na carta, para que esta seja realmente um documento de alto grau de confiabilidade. Produto Final: os originais das cartas pertencentes ao mapeamento básico são elaborados através de processamento fotográfico em base estável. Este material deve ser resistente, indeformável e permitir a reprodução de cópias heliográficas em papel ou poliéster copiativo. Atualização: considerando ser o mapeamento básico sistemático um investimento de grande vulto e tendo em vista o acelerado desenvolvimento urbano, torna-se necessária uma constante manutenção de sua atualização. EAM 330 – Cartografia Geral 6 CAPÍTULO 2: HISTÓRIA DOS MAPAS 2.1) Mapas como produtos culturais A confecção de mapas parece ser anterior à escrita e há muitos registros que comprovam que os mais variados povos nos legaram mapas, tais como: babilônios, egípcios, astecas, chineses, além de outros, cada qual refletindo aspectos culturais próprios de suas sociedade. “(...) a necessidade de estudar as condições políticas e econômicas da época em que as cartas foram traçadas e até o que se pode averiguar da biografia dos cartógrafos, deixa-nos aperceber o âmbito social que as condicionou. O homem nunca poderá fugir à paixão avassaladora e salutar de conhecer a sua própria história. Não conseguirá fazê-lo mais agradavelmente do que através do estudo, mesmo ligeiro, de seqüência de cartas antigas em que os antepassados registraram, com mais ou menos fantasia ou realidade, as suas concepções e conhecimentos geográficos.” Os mapas representam uma forma de saber, um produto cultural dos povos, e não um mero resultado de uma difusão tecnológica a partir de um foco europeu. Cada cultura exprime sua particularidade cartográfica, aos poucos, vem se tornando uma linguagem visual mais universal do que antes se pensava. Mesmo os produtos cartográficos mais modernos, baseados no uso de satélites e da informática, não deixam de ser construções sociais. É sempre conveniente chamar a atenção para a necessidade de se refletir sobre o fato de cada cultura possuir determinadas concepções do espaço e do tempo, as quais não podem ser menosprezadas e, muito menos, comparadas ou julgadas segundo modelos ocidentais europeus. 2.2) Mapas, cartas e plantas Mapas: representação gráfica, geralmente numa superfície plana e em determinada escala, das características naturais e artificiais, terrestres ou subterrâneas, ou, ainda, de outro planeta. Os acidentes são representados dentro da mais rigorosa localização possível, relacionados, em geral, a um sistema de referência de coordenadas. Igualmente, uma representação gráfica de uma parte ou total da esfera celeste. Carta: representação dos aspectos naturais e artificiais da Terra, destinada a fins práticos da atividade humana, permitindo avaliação precisa de distâncias, direções e a localização geográfica dos pontos, áreas e detalhes; representação plana, geralmente em média ou grande escala, duma superfície da Terra, subdividida em folhas, de forma sistemática, obedecendo a um plano nacional ou internacional. Nome tradicionalmente empregado na designação do documento cartográfico de âmbito naval. É empregado no Brasil também como sinônimo de mapa em muitos casos. Planta: representação cartográfica, geralmente em escala grande, destinada a fornecer informações muito detalhadas, visando, por exemplo, ao cadastro urbano, a certos fins econômicos-sociais, militares, etc. 2.3) Mapas e religiosidade Os mitos e preceitos também estiveram presentes, influenciando a Cartografia. O ponto central de alguns mapas antigos era ocupado por uma montanha (p.ex.: monte Sumeru dos budistas, monte Meru dos hinduístas) ou por cidades (p.ex.: Jerusalém dos cristãos, Meca dos muçulmanos). Além disso, a preocupação com a viagem espiritual nos céus levou muitos povos a terem mapas orientadores de tais viagens (p.ex.: no Egito antigo, os ataúdes eram decorados com mapas e citações do Livro dos Mortos). Há um mapa cristão, uma alegoria bíblica do século XV, que mostra cada continente até então conhecido (Ásia, Europa e África) como pertencentes aos filhos de Noé (a Ásia pertencia a Sem; a África a Cam e a Europa a Jafé). 2.4) Confecção de mapas pelos povos 2.4.1) Chineses e gregos A China pode ser citada como outra região em que a Cartografia oriental deixou marcas de grande valor histórico. Sabe-se que a cartografia chinesa já era bastante desenvolvida muito antes que na Europa começassem a se destacar as primeiros trabalhos neste campo de conhecimento humano. Em muitos lugares da China foram encontrados documentos bastante antigos que comprovam a preocupação dos governantes em mapear riquezas naturais daquele país. Na China antiga, muitos mapas tinham finalidades cadastrais, demarcatórias de fronteiras, como documentos burocráticos, planos para conservação das águas, meios para fixação de impostos, estratégia militar, reconstrução da Geografia, EAM 330 – Cartografia Geral 7 testemunhos de continuidade cultural comprovada pela presença de túmulos, instrumentosde adivinhação, predição astrológica de fenômenos celestes e até mesmo proteção contra forças sobrenaturais. Os gregos tiveram importância significativa no desenvolvimento da Cartografia ocidental, atribuindo-se a eles o estabelecimento das bases científicas da moderna Cartografia. Muitos estudiosos gregos desenvolveram trabalhos que marcaram o processo evolutivo das técnicas da cartografia. É o caso de Anaximandro de Mileto (611 a 547 a.C.), autor do famoso mapa que representava o mundo então conhecido - regiões da Europa e Mar Mediterrâneo, e de Hecateu, seu contemporâneo, que aperfeiçoou este mapa. Nesta época, mais ou menos no século IV a.C., haviam diversas especulações sobre a forma da Terra. Uma delas dizia que nosso planeta, como criação divina, deveria ser esférico, pois a esfera era a forma geométrica mais perfeita. Isto, obviamente, iria influenciar a confecção dos mapas. Foram firmadas também as definições das linhas da rede geográfica: equador, trópicos, círculos polares, meridianos. Outro nome importante é o de Eratóstenes de Cirene (276 a 196 a.C.), que chegou a dirigir a biblioteca do museu de Alexandrina. Através de seus conhecimentos de geometria, mediu a circunferência da Terra, obtendo um resultado próximo dos 46 mil quilômetros. 2.4.2) Franceses e portugueses A Cartografia francesa também registrou nomes famosos na história dos mapas, como é o caso da família Sanson, que teve um Nicolau Sanson (1600-1667) a sua máxima expressão. Pelos Sanson foram publicados muitos mapas e atlas, percebendo- se, entretanto, a influência da cartografia dos países baixos, especialmente de Mercator. A Cartografia portuguesa influenciou marcantemente o desenvolvimento dessa atividade no Brasil desde os primórdios de nossa história colonial. A expansão ultramarina e a navegação marcaram profundamente o caráter utilitário da cartografia de Portugal da época da política colonialista, sendo intensa a produção de mapas marítimos mostrando a configuração das costas e o delineamento de continentes e ilhas. Com a implantação da Imprensa Régia começam os trabalhos de edição de mapas nacionais, enquanto que o Real Arquivo Militar estaria responsável pela preservação de nosso acervo, com isso apoiando a impressão de novos mapas, como foi o caso da planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1812. 2.4.3) Maias e astecas Apesar de carecer ainda de estudos mais aprofundados, sabe-se que os povos maias e astecas, México, possuíam uma rica tradição cartográfica. Conta-se que Hernán Cortes, explorador espanhol, pelos idos de 1522, solicitou a Montezuma (Imperador asteca) informação sobre algum local em que seus navios pudessem aportar em segurança. No dia seguinte, chegou-lhe às mãos um mapa, desenhado num pano, mostrando todo o litoral com seus vários acidentes geográficos. A rapidez com que a informação foi dada a Cortés revela que os astecas mantinham seus manuscritos guardados de modo que pudessem vir a ser consultados e copiados com relativa facilidade. 2.4.4) Árabes Os árabes também se destacaram, no passado, principalmente como geógrafos, tendo grande importância muitos trabalhos dessa natureza, especialmente na Idade Média, quando o mundo ocidental de influência cristã foi tomado de um processo retrógrado de tratamento das ciências em geral. Percebendo o valor dos conhecimentos antigos, principalmente dos gregos e, de modo especial, das obras de Cláudio Ptolomeu, tendo ainda por objetivo integrá-los à cultura muçulmana, os árabes foram incentivados a elaborar traduções dos tesouros científicos da antigüidade, preservando esses conhecimentos e enriquecendo-se com seus próprios estudos. Há estudiosos que chegam a afirmar que Bagdá e Damasco se constituíram em verdadeiros pólos de saber durante o período compreendido entre os séculos VII e XII. EAM 330 – Cartografia Geral 8 Os árabes, que também estavam envoltos em conquistas territoriais, sentiram a necessidade de avaliar os recursos das novas terras, bem como implantar um sistema fiscal e tributário mais eficiente, o que veio favorecer o desenvolvimento não só da Cartografia, mas também da Matemática, Astronomia e Geografia. 2.5) A decadência da cartografia na Idade Média A partir de Ptolomeu, temos um período de decadência, marcado pela Idade Média, no qual inclusive, sua grande obra foi proibida no mundo ocidental de influência da igreja católica romana, pois representava uma espécie de enciclopédia científica que em muitos aspectos não se enquadrava nos pensamentos dessa religião. A Cartografia cristã da Baixa Idade Média foi considera uma das mais pobres da história, tendo-se um bom exemplo na obra denominada “Topografia Cristãs”, de autoria do frade Cosmas Indicopleustes, editada pelos idos do ano 535, em que este nega a existência de antípodas (lugar que seria diametralmente oposto a outro no globo terrestre) e a idéia da esfericidade dos céus e da Terra. Outro exemplo de retrocesso cartográfico está nos mapas que tinham por estilo a simplicidade e a simetria da distribuição das terras, o que também interessava à igreja romana, especialmente quando a terra santa era colocada no centro das representações. EAM 330 – Cartografia Geral 9 CAPÍTULO 3: LEVANTAMENTOS Compreende-se por levantamento o conjunto de operações destinado à execução de medições para a determinação da forma e dimensões do planeta. Dentre os diversos levantamentos necessários à descrição da superfície terrestre em suas múltiplas características, podemos destacar: 3.1 - LEVANTAMENTOS GEODÉSICOS GEODÉSIA - "Ciência aplicada que estuda a forma, as dimensões e o campo de gravidade da Terra". FINALIDADES - Embora a finalidade primordial da Geodésia seja científica, ela é empregada como estrutura básica do mapeamento e trabalhos topográficos, constituindo estes fins práticos razão de seu desenvolvimento e realização, na maioria dos países. Os levantamentos geodésicos compreendem o conjunto de atividades dirigidas para as medições e observações que se destinam à determinação da forma e dimensões do nosso planeta (Geóide e Elipsóide). É a base para o estabelecimento do referencial físico e geométrico necessário ao posicionamento dos elementos que compõem a paisagem territorial. Os levantamentos geodésicos classificam-se em três grandes grupos: a) Levantamentos Geodésicos de Alta Precisão (Âmbito Nacional) - Científico: Dirigido ao atendimento de programas internacionais de cunho científico e a Sistemas Geodésicos Nacionais. - Fundamental (1ª Ordem): Pontos básicos para amarração e controle de trabalhos geodésicos e cartográficos, desenvolvido segundo especificações internacionais, constituindo o sistema único de referência. b) Levantamentos Geodésicos de Precisão (Âmbito Nacional) - Para áreas mais desenvolvidas (2ª ordem): Insere-se diretamente no grau de desenvolvimento socioeconômico regional. É uma densificação dos Sistemas Geodésicos Nacionais a partir da decomposição de Figuras de 1ª ordem. - Para áreas menos desenvolvidas (3ª ordem): Dirigido às áreas remotas ou aquelas em que não se justifiquem investimentos imediatos. c) Levantamentos Geodésicos para fins Topográficos (Local) Têm características locais. Dirigem-se ao atendimento dos levantamentos no horizonte topográfico. Têm a finalidade de fornecer o apoio básico indispensável às operações topográficas de levantamento, para fins de mapeamento com base em fotogrametria. Os levantamentos irão permitir o controle horizontal e vertical através da determinação de coordenadas geodésicas e altimétricas. 3.1.1 - MÉTODOS DE LEVANTAMENTOS 3.1.1.1 - LEVANTAMENTO PLANIMÉTRICO Dentre os levantamentos planimétricos clássicos,merecem destaque: - Triangulação: Obtenção de Figuras geométricas a partir de triângulos formados através da medição dos ângulos subtendidos por cada vértice. Os pontos de triangulação são denominados vértices de triangulação (VVTT). É o mais antigo e utilizado processo de levantamento planimétrico. - Trilateração: Método semelhante à triangulação e, como aquele, baseia-se em propriedades geométricas a partir de triângulos superpostos, sendo que o levantamento será efetuado através da medição dos lados. EAM 330 – Cartografia Geral 10 - Poligonação: É um encadeamento de distâncias e ângulos medidos entre pontos adjacentes formando linhas poligonais ou polígonos. Partindo de uma linha formada por dois pontos conhecidos, determinam-se novos pontos, até chegar a uma linha de pontos conhecidos. 3.1.1.2 - LEVANTAMENTO ALTIMÉTRICO Desenvolveu-se na forma de circuitos, servindo por ramais às cidades, vilas e povoados às margens das mesmas e distantes até 20 km. Os demais levantamentos estarão referenciados ao de alta precisão. - Nivelamento Geométrico: É o método usado nos levantamentos altimétricos de alta precisão que se desenvolvem ao longo de rodovias e ferrovias. No SGB, os pontos cujas altitudes foram determinadas a partir de nivelamento geométrico são denominados referências de nível (RN). Neste nivelamento, as diferenças de nível são determinadas com emprego de instrumentos que fornecem retas do plano horizontal. - Nivelamento Trigonométrico: A diferença de nível é determinada por meio de resoluções de triângulos situados em planos verticais passando pelos pontos cuja a diferença de nível se deseja. Desta forma o nivelamento trigonométrico baseia-se no valor da tangente do ângulo (α) de inclinação do terreno, representando a diferença de nível em metros (dn) por metro de distância horizontal (dh). EAM 330 – Cartografia Geral 11 - Nivelamento Barométrico: Baseia-se na relação inversamente proporcional entre pressão atmosférica e altitude. A diferença de nível é determinada em função da variação da pressão atmosférica entre pontos de diferentes altitudes. A variação de 1mm na coluna barométrica representa uma variação de 10,518 m na altitude. Este nivelamento é o de mais baixa precisão, usado em regiões onde é impossível utilizar-se os métodos acima ou quando se queira maior rapidez. 3.1.1.3 - LEVANTAMENTO GRAVIMÉTRICO A gravimetria tem por finalidade o estudo do campo gravitacional terrestre, possibilitando, a partir dos seus resultados, aplicações na área da Geociência como por exemplo, a determinação da Figura e dimensões da Terra, a investigação da crosta terrestre e a prospecção de recursos minerais. As especificações e normas gerais abordam as técnicas de medições gravimétricas vinculadas às determinações relativas com uso de gravímetros estáticos. À semelhança dos levantamentos planimétricos e altimétricos, os gravimétricos são desdobrados em: Alta precisão, precisão e para fins de detalhamento. Matematicamente, esses levantamentos são bastante similares ao nivelamento geométrico, medindo-se diferenças de aceleração da gravidade entre pontos sucessivos. 3.2 - LEVANTAMENTOS TOPOGRÁFICOS São operações através das quais se realizam medições, com a finalidade de se determinar a posição relativa de pontos da superfície da Terra no horizonte topográfico (correspondente a um círculo de raio 25 km). EAM 330 – Cartografia Geral 12 Maior parte da rede nacional de triangulação executada pelo IBGE Rede de nivelamento geodésico executado pelo IBGE 3.3 - POSICIONAMENTO TRIDIMENSIONAL POR GPS Na coleta de dados de campo, as técnicas geodésicas e topográficas para determinações de ângulos e distâncias utilizadas para a obtenção de coordenadas bi e/ou tridimensionais sobre a superfície terrestre, através de instrumentos ópticos e mecânicos tornaram-se obsoletos, sendo mais utilizada na locação de obras de engenharia civil e de instalações industriais. Posteriormente, sistemas eletrônicos de determinações de distâncias por mira "laser" ou infravermelhas determinaram uma grande evolução. A geodésia por satélites baseados em Radar, em frequência de rádio muito altas (bandas de microondas) foi desenvolvido pela Marinha dos Estados Unidos com a finalidade básica da navegação e posicionamento das belonaves americanas sobre superfície, em meados dos anos 60. Surgiu através de pesquisas sobre distanciômetros durante a 2ª Grande Guerra e foi amplamente utilizado até o início de 1993. Atualmente, o Sistema de Posicionamento Global (GPS) com a constelação NAVSTAR ("Navigation System With Timing And Ranging"), totalmente completa e operacional, ocupa o primeiro lugar entre os sistemas e métodos utilizados pela topografia, geodésia, aerofotogrametria, navegação aérea e marítima e quase todas as aplicações em geoprocessamento que envolvam dados de campo. O Sistema GPS subdivide-se em três segmentos: espacial, de controle e do usuário. • Segmento Espacial (A Constelação GPS) O segmento espacial do GPS prevê cobertura mundial de tal forma que em qualquer parte do globo, incluindo os pólos, existam pelo menos 4 satélites visíveis em relação ao horizonte, 24 horas ao dia. Em algumas regiões da Terra é possível a obtenção de 8 ou mais satélites visíveis ao mesmo tempo. A constelação de satélites GPS, é composta por 24 satélites ativos que circulam a Terra em órbitas elípticas (quase circulares). A vida útil esperada de cada satélite é de cerca de 6 anos, mas existem satélites em órbita com mais de 10 anos e ainda em perfeito funcionamento. Constelação de Satélites; Recepção do sinal GPS. EAM 330 – Cartografia Geral 13 • Segmento de Controle (Sistemas de Controle) Compreende o Sistema de Controle Operacional, o qual consiste de uma estação de controle mestra, estações de monitoramento mundial e estações de controle de campo. - Estação mestra: Localiza-se na base FALCON da USAF em Colorado Springs - Colorado. Esta estação, além de monitorar os satélites que passam pelos EUA, reúne os dados das estações de monitoramento e de campo, processando-os e gerando os dados que efetivamente serão transmitidos aos satélites. - Estações de monitoramento: Rastreiam continuamente todos os satélites da constelação NAVSTAR, calculando suas posições a cada 1,5 segundo. Através de dados meteorológicos, modelam os erros de refração e calculam suas correções, transmitidas aos satélites e através destes, para os receptores de todo o mundo. - Estações de campo: Estas estações são formadas por uma rede de antenas de rastreamento dos satélites NAVSTAR. Tem a finalidade de ajustar os tempos de passagem dos satélites, sincronizando-os com o tempo da estação mestra. Estação de Controle e Monitoramento. • Segmento do Usuário O segmento dos usuários está associado às aplicações do sistema. Refere-se a tudo que se relaciona com a comunidade usuária, os diversos tipos de receptores e os métodos de posicionamento por eles utilizados. EAM 330 – Cartografia Geral 14 3.4 – AEROLEVANTAMENTOS Baseados na utilização de equipamentos aero ou espacialmente transportados (câmaras fotográficas e métricas, sensores), prestam-se à descrição geométrica da superfície topográfica, em relação a uma determinada superfície de referência. A legislação brasileira amplia o campo das atividades de aerolevantamento à interpretação ou tradução, sob qualquer forma, dos dados e observações efetuadas. Aerolevantamento é definido como sendo o conjunto de operações aéreas e/ou espaciais de medição, computação e registro de dados do terreno, com o empregode sensores e/ou equipamentos adequados, bem como a interpretação dos dados levantados ou sua tradução sob qualquer forma. O aerolevantamento engloba as atividades de aerofotogrametria, aerogeofísica e sensoriamento remoto, constituindo-se das fases e operações seguintes: 1ª fase: Aquisição dos dados, constituída de operações de cobertura aérea e/ou espacial. 2ª fase: Operação relativa à interpretação ou tradução dos dados obtidos em operação aérea e/ou espacial. Operações: a) Processamento fotográfico de filme aéreo ou espacial e respectiva obtenção de diafilme, diapositivo, fotografia, fotoíndice e mosaico não controlado. b) Confecção de mosaico controlado e fotocarta. c) Confecção de ortofotografia, ortofotomosaico e ortofotocarta. d) Interpretação e tradução cartográfica, mediante restituição estereofotogramétrica ou de imagem obtida com outro sensor remoto. e) Processamento digital de imagem. f) Preparo para impressão de original de restituição estereofotogramétrica ou elaborado a partir de imagem obtida com outro sensor remoto. g) Reprodução e impressão de cartas e mapas. EAM 330 – Cartografia Geral 15 CAPÍTULO 4: PROCESSO CARTOGRÁFICO Mapeamento: Entende-se por mapeamento a aplicação do processo cartográfico sobre uma coleção de dados ou informações, com vistas à obtenção de uma representação gráfica da realidade perceptível, comunicada a partir da associação de símbolos e outros recursos gráficos que caracterizam a linguagem cartográfica. O planejamento de qualquer atividade que de alguma forma se relaciona com o espaço físico que habitamos requer, inicialmente, o conhecimento deste espaço. Neste contexto, passa a ser necessária alguma forma de visualização da região da superfície física do planeta, onde desejamos desenvolver nossa atividade. Para alcançar este objetivo, lançamos mão do processo cartográfico. Partindo-se do conceito estabelecido pela Associação Cartográfica Internacional, pode-se distinguir, no processo cartográfico, três fases distintas: a concepção, a produção e a interpretação ou utilização. As três fases admitem uma só origem, os levantamentos dos dados necessários à descrição de uma realidade a ser comunicada através da representação cartográfica. 4.1 - CONCEPÇÃO Quando se chega à decisão pela elaboração de um documento cartográfico, seja uma carta, um mapa ou um atlas, é porque a obra ainda não existe, ou existe e se encontra esgotada ou desatualizada. Para se elaborar um documento dessa natureza, é imprescindível uma análise meticulosa de todas as características que definirão a materialização do projeto. 4.1.1 - FINALIDADE A identificação do tipo de usuário que irá utilizar um determinado documento cartográfico a ser elaborado, ou que tipo de documento deverá ser produzido para atender a determinado uso é que vai determinar se este será geral, especial ou temático, assim como a definição do sistema de projeção e da escala adequada. 4.1.2 - PLANEJAMENTO CARTOGRÁFICO É o conjunto de operações voltadas à definição de procedimentos, materiais e equipamentos, simbologia e cores a serem empregados na fase de elaboração, seja convencional ou digital, de cartas e mapas gerais, temáticos ou especiais. O planejamento cartográfico pressupõe, além da definição dos procedimentos, materiais, equipamentos e convenções cartográficas, o inventário de documentos informativos e cartográficos que possam vir a facilitar a elaboração dos originais cartográficos definitivos. Após a decisão da necessidade da elaboração de um mapa, deve-se inventariar a melhor documentação existente, sobre a área a ser cartografada. No caso de carta básica, recorre-se à coleta de dados em campo (reambulação), principalmente para levantar a denominação (toponímia) dos acidentes visando a complementação dos trabalhos executados no campo. No caso do mapa compilado a documentação coletada terá vital importância na atualização da base cartográfica compilada. 4.2 - PRODUÇÃO Aí estão incluídas todas as fases que compõem os diferentes métodos de produção. A elaboração da carta ou mapa planejado terá início com a execução das mesmas. 4.2.1 - MÉTODOS 4.2.1.1 – AEROFOTOGRAMETRIA A fotogrametria é a ciência que permite executar medições precisas utilizando de fotografias métricas. Embora apresente uma série de aplicações nos mais diferentes campos e ramos da ciência, como na topografia, astronomia, medicina, meteorologia e tantos outros, tem sua maior aplicação no mapeamento topográfico. EAM 330 – Cartografia Geral 16 Tem por finalidade determinar a forma, dimensões e posição dos objetos contidos numa fotografia, através de medidas efetuadas sobre a mesma. Inicialmente a fotografia tinha a única finalidade de determinar a posição dos objetos, pelo método das interseções, sem observar ou medir o relevo, muito embora desde 1732 se conhecessem os princípios da estereoscopia; o emprego desta tornou possível apenas observar (sem medir), o relevo do solo contido nas fotografias analisadas estereoscopicamente. Em 1901, o alemão Pulfrich, apoiando-se em princípios estabelecidos por Stolze, introduziu na Fotogrametria o chamado índice móvel ou marca estereoscópica. Então, não só foi possível observar o relevo, como medir as variações de nível do terreno. Pulfrich construiu um primeiro aparelho que denominou "estereocomparador", e com ele iniciou os trabalhos dos primeiros levantamentos com base na observação estereoscópica de pares de fotografias utilizados em fotogrametria terrestre. A partir de então uma série de outros aparelhos foram construídos e novos princípios foram estabelecidos, porém, para tomada de fotografias era necessário que os pontos de estação que referenciavam o terreno continuassem no solo, com todos os seus inconvenientes. Ocorreu elevar ao máximo o ponto de estação, sendo utilizados balões, balões cativos e até "papagaios". Durante a guerra de 1914 - 1918 tornou-se imperioso um maior aproveitamento da fotogrametria, usando-se, para tomada de fotografias, pontos de estação sempre mais altos. Com o advento da aviação desenvolveram-se câmaras especiais para a fotografia aérea, substituindo quase que inteiramente a fotogrametria terrestre, a qual ficou restrita apenas a algumas regiões. Quando são utilizadas fotografias aéreas, tem-se a aerofotogrametria. Assim, aerofotogrametria é definida como a ciência da elaboração de cartas mediante fotografias aéreas tomadas com câmara aero-transportadas (eixo ótico posicionado na vertical), utilizando-se aparelhos e métodos estereoscópicos. Uma carta topográfica é um desenho do terreno, em que os acidentes e detalhes são representados por símbolos convencionais. Uma fotografia aérea é um retrato da superfície da terra, em que esses acidentes e detalhes aparecem como são vistos da aeronave. As duas maneiras, embora diferentes, representam a mesma coisa. As fotografias aéreas têm como aplicação principal, em cartografia, o mapeamento através da restituição fotogramétrica, sendo utilizadas também em fotointerpretação. Fotointerpretação: É a técnica de analisar imagens fotográficas com a finalidade de identificar e classificar os elementos naturais e artificiais e determinar o seu significado. 4.2.1.2 - COMPILAÇÃO É o processo de elaboração de um novo e atualizado original cartográfico, tendo por base a análise de documentação existente, e segundo a qual um ou vários mapas e cartas, fotografias aéreas, levantamentos, etc., são adaptados e compilados, em base com material estável, e para escala e projeção únicas. 4.2.1.2.1 - PLANEJAMENTO É a operação voltada ao inventário de documentação, planificação do preparo de base e elaboração da pasta de informações cartográficas(PIC), formando um conjunto de documentos cartográficos, informações básicas e complementares, destinadas à confecção de cartas e mapas através da compilação. 4.2.1.2.1.1 - INVENTÁRIO DA DOCUMENTAÇÃO Os dados cartográficos são analisados conforme as características das informações apresentadas. a) Documentação Básica - É utilizada diretamente na elaboração da base cartográfica: - Cartas Topográficas - Recobrimento Topográfico Local - Recobrimento Aerofotogramétrico - Cartas Náuticas e Aeronáuticas - Arquivo Gráfico Municipal (AGM) EAM 330 – Cartografia Geral 17 - Arquivo Gráfico de Áreas Especiais (AGAE) - Cartas Planimétricas RADAMBRASIL - Mapas Municipais - Imagens Orbitais b) Documentação Informativa - É utilizada com a finalidade de identificar, complementar e atualizar a documentação básica. - Mapas Rodoviários (DNER/DER) - Guias Rodoviários (Quatro Rodas) - Guia de Ferrovias - Atlas Físico - Cadastro de Cidades e Vilas - Cadastro de Faróis, Minas, Aeródromos e Portos 4.2.1.2.1.2 - PLANIFICAÇÃO DO PREPARO DE BASE Após análise e seleção do conjunto de dados disponíveis, inicia-se uma seqüência de procedimentos na qual destacam-se as seguintes etapas: a) Classificação da Documentação - É a análise de toda a documentação cartográfica encontrada, separando-se a básica da informativa. b) Definição do Método de Compilação - Classificados os documentos cartográficos, define-se o método de compilação a ser utilizado na elaboração da base: • Método de Compilação Direta • Método de Compilação com Redução Fotográfica 4.2.1.2.1.3 - PASTA DE INFORMAÇÕES CARTOGRÁFICAS (PIC) Reúne toda a documentação relativa ao planejamento e elaboração da carta ou mapa. São informações referentes às atividades e procedimentos adotados durante todas as fases do trabalho, tais como: relatórios, formulários, quadros demonstrativos, notas, etc. 4.2.1.2.2 - CRITÉRIOS PARA ELABORAÇÃO DA BASE CARTOGRÁFICA 4.2.1.2.2.1 - SELEÇÃO CARTOGRÁFICA É a simplificação dos elementos topográficos extraídos da documentação básica visando a escala final do trabalho. A seleção deve ser equilibrada e a densidade dos elementos topográficos a serem representados devem refletir as características básicas da região, mantendo as feições do terreno. A representação deve incluir todos os elementos significativos para a escala final do trabalho, sem comprometer a legibilidade da carta. a) Hidrografia - Inclui todos os detalhes naturais e/ou artificiais, tendo a água como principal componente. b) Planimetria - A seleção dos elementos planimétricos deve ser criteriosa, considerando-se: - Localidades: É obrigatória a representação de todas as cidades e vilas no campo da folha. Conforme a região geográfica, podem ser selecionados os povoados, lugarejos, núcleos e propriedades rurais. - Sistema Viário: As rodovias e ferrovias são selecionadas considerando-se a interligação das localidades selecionadas OBS: Nesta fase de seleção são incluídos os pontos cotados que serão selecionados, visando a representação da malha de pontos que representarão a variação de altitude. c) Altimetria - Representa o relevo através de convenções cartográficas na forma de curvas de nível, escarpas, etc. - Generalização: É a simplificação da forma geométrica dos acidentes, sem descaracterizá-los, possibilitando sua representação numa escala menor ao do documento origem. - Interpolação: É a inserção de curvas de nível de cota definida e diferente da eqüidistância das curvas da documentação básica, visando a composição do modelo terrestre. EAM 330 – Cartografia Geral 18 d) Vegetação - É feita separadamente a partir da documentação topográfica básica em base de poliéster, considerando-se como elementos de seleção as matas, florestas, reflorestamentos, culturas temporárias e permanentes, campos e mangues. 4.2.1.2.3 - ATUALIZAÇÃO CARTOGRÁFICA A carência de mapeamento no Brasil, principalmente em escalas grandes, é agravada pelo fato de grande parte encontrar-se desatualizado, fazendo com que a sua utilização não alcance os objetivos para os quais foram elaborados. Os métodos para produção de mapas, assim como para atualização cartográfica evoluíram gradativamente com o advento de novos processos tecnológicos, principalmente na área da informática com o mapeamento digital, a utilização de Sistemas de Posicionamento Global (GPS), tratamento digital de imagens e Sistemas de Informação Geográfica (SIGs). É indiscutível a importância do sensoriamento remoto para a cartografia. A agilidade e a redução de custos obtidos através da utilização de imagens orbitais para atualização cartográfica vêm acompanhadas de uma qualidade cada vez maior no que diz respeito à resolução espacial e multiespectral de alta tecnologia, atendendo aos requisitos de precisão planimétricas exigidos para as escalas do mapeamento sistemático. Deve-se ressaltar o menor custo aquisição de imagens se comparado a realização de novo recobrimento aéreo. 4.2.1.2.3.1 - ALGUNS MÉTODOS PARA ATUALIZAÇÃO CARTOGRÁFICA Os principais métodos de atualização de cartas utilizam documentação cartográfica existente como: fotografias aéreas e imagens orbitais, sendo que o trabalho de campo continua sendo necessário tanto para identificação de elementos nas áreas acrescidas (reambulação) como para solução de problemas de interpretação. Outro método é por meio de determinações GPS (utilizado pelo México na atualização da base territorial e agora pelo IBGE, no Censo 2000) 4.2.1.2.3.1.1 - ATRAVÉS DE FOTOGRAFIAS AÉREAS a) Através de instrumentos como "aerosketchmaster" e interpretoscópio, por exemplo, pode-se atualizar pequenas áreas onde o volume de novos dados é pequeno em relação ao volume de informações contidas no mapa a ser atualizado. O primeiro possibilita a transferência de detalhes da foto atual para o mapa. O segundo pode ser utilizado para o caso da foto atual estar em escala diferente da foto ou carta a atualizar. b) Os restituidores são utilizados principalmente na atualização onde o fator precisão é requerido e onde grandes áreas são envolvidas. c) Em função de seus recursos de ampliação e redução, a ortofoto é um meio utilizado na atualização planimétrica, pois podem ser produzidas na mesma escala do mapa a ser atualizado. d) Os recursos da informática estão presentes atualmente em todas as etapas da cartografia. Na atualização digital, num dos procedimentos, a foto atual e o mapa a ser atualizado são transformados em arquivos digitais e superpondo-se as imagens, pode-se detectar as modificações ocorridas e as alterações a serem efetuadas. 4.2.1.2.3.1.2 - ATRAVÉS DE DOCUMENTAÇÃO CARTOGRÁFICA O método utilizado para atualização a partir de documentação cartográfica existente e denominado compilação visa essencialmente analisar os documentos cartográficos já existentes em outros órgãos que trabalham na produção de cartas e mapas. Os métodos que envolvem a atualização cartográfica através de documentação já existente, vão desde os chamados métodos convencionais até os modernos que se utilizam da cartografia digital. a) Se a escala da carta se aproxima do produto final, basta selecionar os elementos cartográficos, reduzir e gerar uma folha original para orientar o preparo para impressão, o qual vai utilizar os fotoplásticos já existentes. b) Se a escala for muito grande (semicadastro), deve ser levada primeiramente para uma escala intermediária. Ex: Escala de 1:10.000 para 1:250.000, a escala intermediária será de 1:100.000. 4.2.1.2.3.1.3 - ATRAVÉS DE IMAGENS ORBITAIS E RADARMÉTRICAS EAM 330 – Cartografia Geral 19 a) IMAGENS ANALÓGICAS Pouco depois do lançamento do primeiro satélite LANDSAT já se buscavaavaliar a possibilidade de atualização de cartas e mapas através de imagens pelo sensor MSS (pixel/resolução espacial de 80m). Estudos na década de 80, levaram a constatação da viabilidade do uso de Imagem MSS para mapeamento na escala 1:250.000. Por ocasião do surgimento do sensor TM a bordo do satélite LANDSAT-5, com pixel/resolução espacial de 30m, realizaram- se diversas avaliações de suas imagens, mostrando que são viáveis para mapeamento nas escalas 1:100.000 ou menores. b) IMAGEM DIGITAL As metodologias para atualização cartográfica no formato digital encontram-se em constante desenvolvimento compreendendo as seguintes fases básicas: - Correção geométrica e georreferenciamento. - Ajuste de contraste das imagens que compõem uma carta e mosaicagem. - Recorte segundo o contorno da carta. - Atualização dos elementos cartográficos da carta digital com base na interpretação da imagem resultante da etapa anterior, através de superposição com a carta. 4.2.1.2.3.2 - COMPILAÇÃO DA BASE A linha de obtenção de bases cartográficas por compilação é única, embora, em função da apresentação final do trabalho, exista uma orientação diferenciada na sua elaboração. Principais segmentos de representação de bases cartográficas: a) Bases Para Impressão Off-set - São elaboradas considerando-se a separação dos elementos topográficos em suas cores características, representando-os conforme a impressão. A compilação da base será executada sobre uma prancha plotada com a projeção UTM, em material estável, ajustando-se no verso as reduções ou elementos básicos na escala. b) Bases para Conversão para Ambiente Digital (Digitalização Automatizada) - São obtidas pelos mesmos procedimentos necessários à elaboração de bases para impressão, ou seja, seleção e redução fotográfica das cartas topográficas em escala maior e compilação dos elementos topográficos. As bases são elaboradas em computador, a partir de mapas e cartas digitalizadas (mapas convertidos através de sistema CAD gerando arquivos magnéticos) e compiladas utilizando-se aplicativos apoiados por computador. Os originais de compilação devem ser preparados separando-se os grupos de representação em categorias de informação, armazenadas por níveis, quando do processo de digitalização. - Nível 1: hidrografia - Nível 2: planimetria - Nível 3: vias - Nível 4: altimetria - Nível 5: vegetação c) Bases Para Desenho Final - São bases planimétricas compiladas em material estável utilizando-se somente a cor preta. Os procedimentos necessários à elaboração destas bases são os mesmos que para impressão, ou seja, seleção e redução fotogramétrica das cartas topográficas em escala maior. 4.2.1.2.4 - ORGANIZAÇÃO DA BASE E APRESENTAÇÃO FINAL 4.2.1.2.4.1 - ORGANIZAÇÃO DA BASE COMPILADA Consiste do conjunto de folhas onde constarão as informações que serão utilizadas na fase de separação de cores e toponímia visando a impressão off-set. - Folha de nomenclatura - Folha de classificação de vias - Folha de vegetação e massa d’água - Lista de Nomenclatura EAM 330 – Cartografia Geral 20 4.2.1.2.4.2 – DESENHO Com a finalidade de atender a projetos especiais, onde são assentados temas específicos sobre as bases cartográficas elaboradas por processos de compilação, elabora-se o original de desenho dando um tratamento diferenciado, tanto pelo material utilizado (normógrafo, plástico UC4, tinta, etc.), como a forma de apresentação e identificação dos elementos. EAM 330 – Cartografia Geral 21 CAPÍTULO 5 - LEITURA E ENTENDIMENTO DOS ELEMENTOS CONTIDOS NUMA CARTA TOPOGRÁFICA 5.1) Introdução Através do entendimento dos elementos contidos numa carta topográfica, o usuário estará sendo educado para uma visão cartográfica de forma a poder utilizá-la de maneira mais adequada, possibilitando, assim, uma difusão maior da Cartografia. Quando observamos uma fotografia, uma caneta ou qualquer outro objeto, procuramos reconhecer e identificar os elementos contidos neles. No mapeamento sistemático, cuja classificação se insere a carta topográfica, procederemos de maneira análoga. Cabe ao usuário, portanto, o reconhecimento e identificação dos elementos, efetuando assim, a tradução dos símbolos contidos na carta. A incorporação destes elementos estará relacionada ao domínio cognitivo do leitor. Finalmente, para a concretização da leitura de um produto cartográfico, o usuário deve ser capaz de interpretar os elementos contidos neles. A interpretação, no entanto, depende do conhecimento e habilidades do usuário em poder correlacionar aspectos físicos e humanos, para a compreensão dos fatos representados. Apoiados em autores que desenvolveram trabalhos através de esquemas e modelos de comunicação cartográfica, podemos fortalecer estas considerações. Como exemplo, citamos o trabalho de Board (1977) apud Queiroz (1994) - Os Processos da Comunicação Cartográfica - no qual apresenta a fase da leitura de mapas composta nas seguintes etapas: decodificação, verbalização, visualização e interpretação. Portanto, a leitura de um produto cartográfico consiste na concretização das etapas pertinentes a esta fase que, por sua vez, irão permitir a obtenção de informações através de elementos contidos na carta. A necessidade da utilização de um produto cartográfico nas atividades profissionais ou de lazer levará o usuário a praticar a fase de leitura. Segundo Teixeira Neto (1984), em particular, ao geógrafo, isto favorecerá a observação, descrição, correlação e explicação dos fatos geográficos. 5.2) Leitura interna e externa Quando consideramos os elementos contidos na legenda, efetuaremos a leitura interna da carta. A legenda facilita a identificação dos elementos e permite agrupá-los conforme suas características. Ao considerarmos os elementos periféricos - título, escala, coordenadas geográficas, sistema de projeção, dentre outros - efetuaremos a leitura externa da carta. 5.2.1) Elementos de identificação interna e externa de uma carta topográfica O estudo do lay-out, ou seja, como as informações serão distribuídas espacialmente na carta topográfica estão de acordo com a folha modelo publicada pelo DSG (Diretoria de Serviço Geográfico). Entretanto, existem instituições que prestam serviços e/ou elaboram produtos cartográficos sem a preocupação de seguir o disposto no Decreto-Lei no 243/67, causando com tal atitude um descompasso com a leitura. Atualmente, o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) está procurando adaptar os seus produtos às normas vigentes e, para tanto, mantém contato com a DSG. Não obstante, tomaremos a carta produzida pelo IBGE como modelo para exemplificarmos a disposição das informações (Figura abaixo). Então, temos: 1. Órgão responsável Estabelece o órgão responsável pelo produto cartográfico, não implicando que este esteja envolvido em todas as fases para construção do mesmo. Além disso, são mencionados na primeira, segunda e terceira linhas o órgão de subordinação ("a quem é vinculado"), nome da organização ("quem realiza"), região geográfica da área mapeada e a escala correspondente, respectivamente. 2. Título O título da folha é determinado pela característica topográfica mais relevante da área representada. Pode ser a localidade de maior população, curso d’água mais importante ou algum outro aspecto relevante. Por outro lado, deveria ser posicionado ao lado esquerdo do título o emblema da organização, entretanto, na maioria das cartas tal fato não é observado. EAM 330 – Cartografia Geral 22 1 4 5 6 2 7 8 9 3 EAM 330 – Cartografia Geral 23 3. Índice de nomenclatura Segundo o IBGE (1993) as especificações da Carta Internacional doMundo ao Milionésimo - CIM foram adotadas na Conferência Técnica das Nações Unidas, realizada em Bonn (Alemanha, 1962), que tem por finalidade: a) Fornecer, por meio de uma carta de uso geral, um documento que permita uma visão de conjunto do mundo para os estudos preliminares de investimentos e o planejamento do desenvolvimento econômico e, também, para satisfazer às diversas necessidades dos especialistas de variadas ciências; b) Oferecer uma carta básica que permita preparar séries de cartas temáticas (população, solo, geologia, vegetação, recursos diversos, limites administrativos, etc.). Essas cartas constituem elementos fundamentais para a eficaz execução de estudos e análises. Destinam-se estas novas especificações a permitir que todas as nações participem do esforço comum, em virtude da flexibilidade e da simplicidade das regras técnicas fixadas para a publicação da carta. Séries cartográficas Séries cartográficas são divisões feitas em folhas de formato uniforme na mesma escala de uma área geográfica, mediante a impossibilidade de reprodução cartográfica dessa área em uma única folha impressa em tal escala. 4. Localidades, limites, vias de circulação, pontos de controle e altitude Estes elementos constituem parte da legenda na qual fornecem informações para a leitura interna. Devem ser apresentados no canto inferior esquerdo da carta. A legenda, segundo Santos & Le Sann (1985), compreende a tradução dos símbolos utilizados na representação das informações. Para tanto, é necessário que a mesma esteja organizada. Entende-se por organização da legenda a apresentação segundo os componentes seletivo, ordenado e quantitativo. No caso da carta apresentar elementos com características diferentes (ex.: localidades e vias de circulação) a legenda deve ser organizada de modo a agrupá-los conforme suas peculiaridades. Dessa forma, devemos criar uma classificação da legenda de acordo com os componentes citados anteriormente. Logo, isto permitirá uma leitura mais rápida e eficaz da mesma, facilitando, assim, a compreensão de um produto cartográfico. 5. Articulação e localização da folha A articulação da folha nos mostra a disposição entre a área mapeada e as que circunvizinham, indicando as referências daquelas que são contíguas, além da localização desta no Estado-Membro. 6. Sistema de projeção e informações adicionais Quanto ao sistema de projeção, a natureza da superfície de representação é cilíndrica; a forma de contato entre as superfícies de representação e referência é secante e a posição relativa entre as superfícies de referência e de projeção é transversa. Quanto às propriedades (deformações), é apresentado na projeção conforme - conservação dos ângulos - e quanto ao método de construção o sistema de projeção é analítico. Estas informações acentuam a projeção Universal Transversa de Mercator. As escalas gráfica e numérica são representadas para permitir ao usuário efetuar avaliações de áreas, distâncias e outras pertinentes ao interesse do mesmo. A primeira nos possibilita, com a utilização de instrumentos, efetuar medidas diretamente sobre a carta, enquanto a segunda se vale da relação de proporcionalidade para a determinação das mesmas. O processo mais empregado na representação das formas do terreno é o das curvas de nível (SBC, 1996). Estas são apresentadas segundo uma eqüidistância previamente determinada a partir da escala da carta. Para a representação da superfície terrestre no plano, é necessária a definição da forma e dimensão da Terra, bem como o datum horizontal e vertical. Como datum entende-se o ponto origem, isto é, datum horizontal pode ser considerado como a origem das coordenadas geodésicas. Antigamente, este datum localizava-se em CÓRREGO ALEGRE e, portanto, levava esta denominação; atualmente é o CHUÁ, localizado no Triângulo Mineiro. O datum vertical, por sua vez, determina a origem das altitudes, ou seja, o nível de referência ao qual as altitudes são referidas em geral. A este denominamos de IMBITUBA. Ainda com relação aos elementos externos são apresentadas as fases principais de execução da carta: obtenção das fotografias aéreas (onde se faz necessário um planejamento de vôo); apoio de campo (fundamental para a construção do produto cartográfico); reambulação (trabalho de campo em que consiste esclarecer detalhes não identificados nas fotografias aéreas, tais como: nome de rios, estradas, etc., além da demarcação dos limites de área, seja esta municipal, estadual ou internacional); aerotriangulação (uma técnica fotogramétrica para obtenção de pontos, que se vale do apoio de campo e da EAM 330 – Cartografia Geral 24 reambulação, além de instrumentos e processamentos de dados); restituição (produção "preliminar" da carta, que se dá através de instrumentos restituidores) e impressão do produto. 7. Hidrografia e vegetação Fazem parte da legenda e como os demais elementos são divididos em classes, de modo a facilitar a identificação e interpretação dos mesmos. 8. Divisão administrativa A divisão político-administrativa será representada através dos limites internacionais e/ou estaduais e/ou municipais contidos na área mapeada, permitindo ao usuário a localização de elementos como também de problemas estruturados na região. 9. Declinação Magnética e convergência meridiana Segundo Ernesto (1983) e Leinz & Amaral (1985), a causa e a sede do magnetismo terrestre são discutidas. As teorias mais modernas sugerem um campo elétrico formado pela defasagem, ocasionada pela rotação da Terra, entre a parte interna líquida (Ni e Fe) e o manto inferior sólido. A Terra, de acordo com SBC (1996), se comporta como um imã, possuindo um campo magnético e dois pólos magnéticos de polaridades opostas. Os pólos magnéticos se localizam relativamente próximos (mas não coincidem) aos pólos geográficos (extremidades do eixo de rotação da Terra). A não coincidência entre os pólos geográficos e magnéticos se deve à desigual distribuição do material magnético da Terra, havendo, portanto, um ângulo formado entre eles cujo valor é 11° 30’. Na prática, segundo Ernesto (1983), isto significa que a agulha da bússola desvia do norte geográfico para leste ou oeste segundo um ângulo, que dependerá do local onde se encontra o observador. Portanto, de acordo com Leinz & Amaral (1985), a agulha é submetida a duas forças: a vertical, que determina a inclinação, e a horizontal, que orienta a agulha rumo ao pólo magnético. Dá-se o nome de declinação magnética a esse desvio que a agulha magnética sofre em relação à linha NS "verdadeira". A convergência meridiana é a diferença angular entre as linhas do quadriculado, sistema de coordenadas plano- retangulares usando medidas de distâncias sobre uma projeção escolhida, e dos meridianos, que convergem para os pólos geográficos (Maling, 1980). EAM 330 – Cartografia Geral 25 CAPÍTULO 6: ESCALAS 6.1) O que é escala Escala => relação ou proporção existente entre a distância linear entre dois pontos existentes em um mapa e a correspondente distância na superfície da Terra. A escala é traduzida, em geral, por uma fração, significa que essa fração representa a relação entre as distâncias lineares da carta e as mesmas distâncias da natureza, ou melhor: é uma fração em que o numerador (sempre a unidade) representa uma distância no mapa, e o denominador a distância correspondente no terreno, tantas vezes maior, na realidade, quanto indica o valor representado no denominador. Se, por exemplo, a escala é:1:50.000, determinamos que qualquer medida linear na carta é, no terreno, 50.000 vezes maior. Se, na mesma carta, tomarmos uma distância de dois centímetros, esta corresponderá, no terreno, a 100.000 centímetros, que são iguais a 1000 metros,ou seja, 1 km. 6.2) Classificação das escalas 6.2.1) Escala numérica As escalas podem ser classificadas em numéricas e gráficas. As numéricas vem representada pelo enunciado da própria fração onde o numerador é a unidade designado à distância medida no mapa, e o denominador representa a distância correspondente no terreno. A forma de representação no Brasil e na maioria dos países é, por exemplo, 1:100.000. Uma escala numérica tem a grande vantagem de informar imediatamente o número de reduções que a superfície real sofreu. Por sua vez, é imprópria para reproduções de mapas através de processos fotocopiadores, quando há um ampliação ou uma redução do original. 6.2.2) Escala gráfica A escala gráfica é representada por um segmento de reta graduado contendo subdivisões denominadas talhões. Usando-se a escala gráfica, poderemos medir diretamente no mapa quaisquer distâncias no terreno, na medida representada. Cada talhão apresenta a relação de seu comprimento com o valor correspondente no terreno, indicado sob forma numérica na parte inferior da régua. O talhão preferencialmente deve ser um valor inteiro. A escala numérica possui duas porções: a) do zero para a direita ⇒ porção principal b) do zero para a esquerda ⇒ porção fracionária (objetivo de realizar aproximações) 500 100 150 200 m50 m0 50 100 150km50 Km 0 20 40 60 m20 m 0 100 500 m100 m 300 Como experiência: no mapa mural do Brasil, mais comum, que é o de escala 1:5.000.000, e que dispõe igualmente, da escala gráfica, poderemos descobrir a distância em linha reta, por exemplo, entre Brasília e São Paulo. Com uma simples tira de papel, marcamos com um lápis esse alinhamento. Com essa tira, iremos marcar, sobre a escala gráfica, a distância em quilômetros. Obteremos 875 km. 6.3) Escala maior ou escala menor? Escalas diferentes indicam maior ou menor redução. Em razão disso, são usadas as expressões Escala Maior e Escala Menor para se fazer comparações entre várias escalas. Uma escala será maior quando indica menor redução. Por sua vez, uma escala será menor quando indica mais redução. EAM 330 – Cartografia Geral 26 Na relação de escalas a seguir, a maior será 1:5.000 e a menor será 1:5.000.000: 1:5.000 (maior) 1:50.000 1:500.000 1:5.000.000 (menor) 6.4) Utilização Prática Na utilização de mapas, surgem, alguns problemas; em geral eles se referem a três elementos: a medida do terreno (D), a medida no mapa (d) e o denominador da escala (N). com as seguintes relações: a) conhecidas a distância no terreno e a escala (o denominador da fração), determinar a distância no mapa, d = D / N; b) conhecidas a distância no mapa e a escala, determinar a distância no terreno, D = N * d ; c) conhecidas a distância no terreno e a distância no mapa, determinar a escala, N = D / d . 6.5) Escolha da Escala Para elaboração de um mapa, é necessário definir cinco etapas: Planejamento, Levantamento dos dados, Análise dos dados, Execução e Impressão. A escala possui um papel fundamental na definição destas etapas, pois determina o nível de detalhes, as convenções a serem utilizadas, a generalização das informações, o tamanho do papel a ser impresso, os equipamentos empregados na confecção do mapa e o erro gráfico permitido. A escolha da escala depende de: a) Finalidade do mapa - vai depender da necessidade ou não de precisão e detalhamentos do trabalho a ser efetuado; - Grande variação de escalas, sendo para cada caso particular um valor de escala mais adequado para a representação e precisão desejada: Escala grandes ⇒ ex.: 1:500 (alto nível de detalhes) Escala média ⇒ ex.: 1:100.000 ou 1:250.000 (detalhamento topográfico) Escala pequena ⇒ ex.: 1:50.000.000 (baixo nível de detalhes) b) Disponibilidade de recursos para impressão - A escala ideal para representar o objeto, ou superfície, dentro das limitações do papel (tamanho) ou equipamento; - Utilizar escala inteiras para impressão; 6.6) Ampliação e Redução Uma operação bastante comum em cartografia é a mudança de escala para reduzir ou ampliar os mapas. As possibilidades para alteração da escala são: a) Método do quadriculado - mais simples e menos preciso; - consiste em traçar um quadriculado sobre o mapa original (ex.: 1:100.000) e um quadriculado menor (ex.: 1:200.000) sobre o mapa final; EAM 330 – Cartografia Geral 27 Mapa reduzido (1:200.000) Mapa original (1:100.000) b) Método dos triângulos semelhantes - apropriado para detalhes de forma alongada e estreita (ex.: rios, estradas); E A C O D B F AB = estrada original CD = estrada reduzida EF = estrada ampliada c) Método do pantógrafo - utiliza-se o aparelho pantógrafo especialmente para redução, pois qualquer movimento irregular da mão aparecerá ampliado na reprodução; - Pantógrafo é um aparelho articulado (um dos pólos é um ponteiro e outro polo é um lápis); Obs.: era o método mais utilizado pelos cartógrafos antes da adoção do método fotográfico. A2 A1 P L A3 T 3 articulações (A1, A2, A3) P é fixo L é um lápis T ponteiro L A3 = A1 A2 L A1 = A2 A3 PLT - formam uma reta TEOREMA DE TALES = PT A2 T PL A2 A3 d) Método fotográfico - mais utilizado atualmente; - operação precisa e rápida; - este método emprega uma câmara fotocartográfica de alta precisão. (equipamento que permite regulagens para ampliação e redução); EAM 330 – Cartografia Geral 28 B A O B’ A’ P’ OA AB P’ = OU g = OA’ A’B’ P g = coeficiente de redução P’ = distância da imagem ao centro óptico da objetiva P = distância do objeto ao centro óptico da objetiva P ATENÇÃO A operação de ampliação é muito mais susceptível de erros do que a redução. Neste caso, somente o processo fotográfico deve ser utilizado (mesmo assim haverá um decréscimo na precisão). A própria perfeição da reprodução fotográfica seria uma desvantagem, porque não há possibilidades de conservar os mesmo detalhes quando a escala de uma carta é reduzida constantemente. Por exemplo: dois traços paralelos (estrada, rios, etc.) apresentam-se distintos quando separados por espaço em branco com um mínimo de dois décimos de milímetro. Mas, depois de se reduzir fotograficamente à metade, o intervalo de um décimo de milímetro não basta para evitar o atropelamento dos traços, que ficarão confundindo-se. Outro exemplo são os detalhes de um rio que depois de reduzida as dimensões lineares sem modificações dos ângulos, devem obrigatoriamente resultar em um traçado confuso. 6.6.1) Comportamento da área em relação as alterações lineares decorrentes dos processo de redução ou ampliação A redução ou ampliação da área é original ao quadrado do número de vezes que a dimensão linear foi reduzida ou ampliada. Redução da área = (número de vezes da redução linear)2 Ampliação da área = (número de vezes da ampliação linear)2 6.7) Generalização Cartográfica No domínio convencional da Cartografia generalização cartográfica é um processo dependente da escala que inclui seleção, simplificação e síntese dos objetos que devem compor um certo mapa. Generalização pode ser entendida como o processo de universalização do conteúdo de uma base de dados espaciais com uma certa finalidade. Um de seus objetivos deve ser a redução da complexidade, quer seja para fins de visualização, quer seja para armazenar na base de dados apenas aquilo que é necessário. A redução da complexidade deve levar em conta uma certa lógica que não comprometa a exatidão de posicionamento e a exatidão de atributos dos dados (D’Alge, 2004). EAM 330
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