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O Bom Professor de Matemática segundo a Percepção de Alunos do Ensino Médio Rosiele Juvino de Oliveira1 Universidade Católica de Brasília RESUMO Esse artigo objetiva discutir aspectos relacionados às características de um “bom” professor de Matemática, destacando os resultados de uma pesquisa com 102 alunos de uma escola pública, na cidade de Ceilândia, no Distrito Federal, cuja finalidade foi verificar junto a estes suas percepções sobre a atuação dos docentes desta área. Para a pesquisa de campo, utilizou-se um questionário com 2 itens abertos e 31 fechados que abordaram as seguintes temáticas: atuação do professor em sala de aula, metodologias de ensino, relação professor-aluno e práticas avaliativas. Os dados indicam que o bom professor é paciente, atencioso, bem-humorado, que se relaciona positivamente com seus alunos e também com a sua área de conhecimento. Palavras-chave: Ensino-Aprendizagem. Metodologia de Ensino. Atuação Docente. 1. INTRODUÇÃO Ao se tratar de questões que dizem respeito ao estudo da Matemática, a primeira lembrança que nos vem à memória é a grande dificuldade experimentada pela maioria dos alunos. Essa dificuldade no processo ensino/aprendizagem da Matemática vem sendo um grande problema para o sistema educacional. A maioria das escolas adota metodologias de ensino ultrapassadas que já não acompanham a evolução do ensino. A forma utilizada pela maioria das escolas, principalmente as públicas, não leva o estudante a uma aprendizagem efetiva. Os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica - SAEB, indicam que apenas 6,99% dos estudantes brasileiros que cursavam a 3ª série do Ensino Médio em 2003 se encontravam no nível adequado de construção das competências matemáticas (INEP, 2004). Essa dificuldade pode estar relacionada a vários fatores, como a má formação do professor, metodologias de ensino inadequadas e insuficientes, dificuldades dos professores em motivar os alunos, divergência na relação professor-aluno, entre outros. Alguns estudos já foram realizados no sentido de propor formas e/ou modelos pedagógicos para superar as dificuldades encontradas. Um exemplo foi proposto pelo pesquisador estadunidense Joseph Renzulli (2001) que concebeu um modelo de aprendizagem. Para ele, diversos elementos estão relacionados com o processo de aprendizagem, tais como: estruturas organizacionais e administrativas das instituições de ensino, a composição das turmas, o envolvimento dos familiares, a distribuição dos dias e horários de aula, entre outros. Todavia, esses elementos, que são importantes, não afetam diretamente a aprendizagem. O autor diz que aprendizagem acontece quando os três principais componentes - professor, aluno e currículo - interagem um com o outro, produzindo uma espontânea combustão intelectual ou artística. Segundo este modelo, o professor deve dominar os conteúdos de sua disciplina, sendo capaz de utilizar várias técnicas instrucionais adequadas para transmitir esses conteúdos a ela 1 Artigo elaborado por Rosiele Juvino de Oliveira como trabalho de conclusão de curso de Matemática da Universidade Católica de Brasília – UCB sob a orientação do professor MSc. Cleyton Hercules Gontijo, no 1º semestre de 2007. 2 relacionados e ainda, ter a habilidade para desenvolver um romance com a disciplina que leciona. O aluno deve apresentar habilidades e conhecimentos em uma área particular do currículo, demonstrando interesse e envolvimento com esta área, buscando o aperfeiçoamento de suas habilidades bem como o desenvolvimento de novas competências, sabendo explorar seu estilo preferencial de aprendizagem. Quanto ao currículo, este deve ter sua estrutura examinada, observando os conteúdos e as metodologias apropriadas para desenvolvê-lo, bem como suas possibilidades de estimular a imaginação dos alunos para a área em questão (RENZULLI, 2001). Considerando este modelo, nos perguntamos acerca de quais elementos depende um bom ensino da Matemática? Seria de um bom professor ou de um bom aluno? Para compreender os problemas de ensino nesta área, não se pode atribuir a responsabilidade à apenas um dos envolvidos no processo, pois ambos estão inseridos nessa relação que se dá numa via de mão dupla. O papel do professor implica uma responsabilidade de um aperfeiçoamento constante para que se torne capaz de uma ação pedagógica efetiva, eficiente e eficaz. Este profissional deve ser ainda competente para formar cidadãos aptos para a vida social e profissional. Assim, vale ressaltar a importância de uma boa formação para o professor, pois esta se refletirá na sua prática pedagógica cotidiana (PERRENOUD, 2000). O professor não pode ser apenas aquele que deposita, que transfere conhecimentos para seus alunos, mas deve assumir uma nova postura, a de mediador do conhecimento. Por mais que se esforce e goste do aluno, o professor não pode realizar a tarefa de conhecer por ele. Entretanto, enquanto organizador do processo de ensino-aprendizagem, tem que ser o mediador da ação de conhecer, propiciando, provocando a atividade do aluno. Nesta postura, o professor deve compreender que não é ele que “deposita” o conhecimento na cabeça do educando, por outro lado, não é deixando o educando sozinho que o conhecimento “brotará” de forma espontânea. Quem constrói é o sujeito, mas a partir da relação social, mediada pela realidade (FREIRE, 1967). Por outro lado, a maioria dos alunos não gosta da Matemática ou tem alguma dificuldade para aprendê-la. Muitos não gostam porque não aprendem e/ou não aprendem porque não gostam. Seja qual for o motivo, os alunos quase sempre atribuem suas dificuldades a fatores externos e, muitas vezes, não têm consciência de que são co-responsáveis nesse processo. Dada à complexidade do tema, realizamos este trabalho investigando apenas um dos elementos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem: o professor. A pesquisa teve por objetivo conhecer as percepções de um grupo de estudantes acerca das características do professor de Matemática que colaboram na aprendizagem desta disciplina. Enquanto escolha metodológica, buscamos no método quantitativo os embasamentos necessários para a realização desta pesquisa. Foi elaborado um questionário para investigar junto aos alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma escola pública, da cidade Ceilândia, no Distrito Federal suas percepções em relação às características de um bom professor de Matemática. Foram escolhidos os alunos do 3º ano, pois estes estão na última etapa da educação básica, possuindo, portanto, uma visão clara a respeito da Matemática escolar. 3 2. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR O perfil do professor do novo milênio passa por uma mudança, tanto em suas habilidades e saberes, quanto em suas competências, isto para não deixar de cumprir o seu papel e de jamais parar de “aprender a aprender”. A idéia de que ensinar não é uma ciência, mas uma arte já, foi expressa por várias pessoas. Vários estudos já foram realizados para tentar desvendar os mistérios desta arte. Polya (1981) descreve que ensinar é um processo que tem inúmeros pequenos truques, destacando que este processo tem muita coisa em comum com a arte teatral. Por exemplo, quando um professor tem de apresentar à sua turma uma demonstração que conhece ao pormenor por já a ter apresentado diversas vezes em anos anteriores no mesmo curso. Na realidade, pode até nem estar mais tão entusiasmado com a demonstração, mas isso não deve ser mostrado à turma, pois se ele aparecer aborrecido, a turma inteira vai ficar aborrecida também. Dessa forma, é melhor fingir que está entusiasmado ao começar a demonstração, fingir ter idéias brilhantes no seu desenvolvimento. Fingir estar surpreendidoe exultante quando a demonstração terminar. O professor deve representar um pouco para bem dos seus alunos que, em alguns casos, poderão aprender mais através das suas atitudes do que através do conteúdo apresentado. Ensinar tem também algo em comum com a música. É fato que os professores não devem dizer uma coisa apenas uma ou duas vezes, mas três, quatro ou mais vezes. Porém, repetir a mesma frase várias vezes sem pausas ou alterações pode ser terrivelmente aborrecido e anular a própria intenção (Polya, 1981). Em alguns trabalhos realizados com/para professores, Polya elaborou algumas regras que visam orientar as atitudes de um professor. Ele condensou essas regras e as chamou de “Os Dez Mandamentos para Professores”, entre os quais destacamos: seja interessado na sua ciência; tente ler nas faces dos seus estudantes, tente ver as suas expectativas e dificuldades, ponha-se no lugar deles; dê-lhes não só a informação, mas também saber, formas de raciocínio, hábitos de trabalho com método; permita que aprendam por descoberta; permita que aprendam provando; não partilhe o seu segredo todo de uma vez só – permita que os alunos o adivinhem antes que o diga – deixe que descubram por si mesmos, tanto quanto for possível; sugira as coisas, não force os alunos a aceitar. 2.1. O Perfil de Um Bom Professor “O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho. Por isso os Educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos” (Rubem Alves). O professor exerce um papel de suma importância como agente de mudanças e formador de opiniões e caráter ao longo da vida do aluno. Ele poderá despertar simpatias e antipatias pela disciplina, causar traumas e dificuldades de aprendizagem ao longo da vida escolar, deixando marcas registradas no desenvolvimento futuro do aluno. Todavia, sua presença e atuação pode despertar o prazer de aprender. Nos parece que a imagem do “bom professor” há aproximadamente trinta anos, era daquele que dominava o conteúdo e o transmitia a alguém. Notamos que hoje não houve muitas 4 mudanças quanto a isto em algumas escolas, as ditas tradicionais, muitas vezes criticadas pelos alunos, que faz deles apenas sujeitos passivos, recebedores de informações. Mas o professor competente precisa ser formado para enfrentar os desafios da escola contemporânea, fazendo uso não só do método tradicional, mas das ferramentas oferecidas por uma sociedade que evolui. Pois, se a sociedade evolui, a educação deve acompanhar estes passos (AZANHA, 2004). Segundo a concepção de Comênio (apud AZANHA, 2004) o “bom professor” seria aquele capaz de dominar a “arte de ensinar tudo a todos”. O professor é o responsável pelo processo ensino/aprendizagem, ele deve ter o domínio do conteúdo, sabendo relacioná-lo com a vivência do aluno. Tem que ser dinâmico, atualizado e adaptável às mudanças sociais e tecnológicas. Ele deve estar num processo contínuo de formação. Para Cunha (1996), a característica que se destaca em um bom professor é a afetividade. Em sua pesquisa, questionou os alunos acerca das características de um bom professor, e o resultado foi que, um bom professor é aquele que mantém relações positivas com seus alunos, tendo um bom relacionamento afetivo. Definem ainda, como aquele que é amigo, compreensivo, gente como a gente, que se preocupa com os alunos, é disponível mesmo fora da sala de aula, coloca-se na posição do aluno, é honesto nas observações, é justo, etc. Muitas vezes a escola, por valorizar a inteligência, esquece que a afetividade interfere diretamente na aprendizagem. A autora ainda ressalta que as atitudes e valores dos professores que estabelecem relações afetivas com os alunos repetem-se e intrincam-se na forma como eles tratam o conteúdo e nas habilidades de ensino que desenvolvem. Cunha (1996) apresentou o seguinte depoimento de um aluno relativo ao que ele considera um bom professor: “O professor Pedro é o melhor porque ele transmite para a gente o gosto que ele tem pela Matemática. Ele nos mostra o prazer de aprender...” (CUNHA, 1996, p. 147). Está claro neste depoimento que a forma como o professor se relaciona com a Matemática e a sua percepção desta influenciarão na relação professor-aluno. Dessa forma, o professor deve demonstrar prazer e amor ao ensinar, pois isso despertará no aluno a vontade e o interesse em aprender (CUNHA, 1996). O processo ensino-aprendizagem é mais eficaz quando o aluno se sente motivado a aprender. O professor deve procurar saber aquilo que pode ou não motivar seu aluno em sala. Muito da motivação do aluno vai depender da própria motivação do professor em conhecer e ensinar ciências. A relação professor-aluno pode motivar o estudante profundamente, fazendo com que ele aprenda mais e melhor. Pois nada adianta – técnicas eficientes, boa apresentação do conteúdo, recursos caros, etc – se o estudante não tiver vontade de aprender e não se sentir à vontade em sala de aula. Carrijo (apud COELHO, s/d), procura traçar o perfil do “bom professor”, por meio de algumas características como: ter animação e senso de humor, demonstrar satisfação, fixar-se em discussão e não em informação, abrir espaço para o aluno participar, variar o tipo de aula com filmes, excursões e livros, não ficar repetindo o que o aluno já sabe, mostrar desenvolvimento no conteúdo ao estudante, fazer pesquisa e ter bom conhecimento de outras ciências. 5 Diferentemente do bom professor, o professor autoritário que exige memorização de conteúdos faz o estudante não gostar da aula e até criar aversão à matéria, devido a desmotivação. Dessa forma, faz-se necessário que professores adotem novos modelos educacionais, no qual deixem de ser os transmissores das informações e passem a atuar como facilitadores da aprendizagem, onde o importante está no “aprender a aprender” em detrimento da memorização dos fatos. Geralmente, não é o aluno que detesta Matemática. Ele até tem curiosidade, gosta dos problemas desafiadores. Muitas vezes, quem o desestimula é o próprio professor com aulas maçantes, monótonas e sem criatividade. Pois é da nossa natureza evitar tudo aquilo que nos desestimula (COELHO, s/d). Uma outra característica do bom professor é a sua metodologia de ensino. O professor interessado na aprendizagem e no nível de satisfação que esta proporciona aos seus alunos busca metodologias de ensino que estejam de acordo com esse interesse. De acordo com os alunos entrevistados por Cunha (1996), os melhores professores são aqueles que tornam as aulas mais atraentes, que estimula a participação do aluno, que sabe se expressar de forma que todos entendam, que induz à crítica, à curiosidade e à pesquisa, que procura formas inovadoras de desenvolver a aula, que faz o aluno participar do ensino, etc. Há de se enfatizar ainda que os alunos não apontam os chamados “bonzinhos” como os melhores professores, mas àqueles que cobram participação e tarefas, que mostram estar interessado no rendimento do aluno. Estes acreditam que o bom professor é aquele que domina o conteúdo, recorre a uma boa didática de ensino e principalmente, tem um bom relacionamento com a turma. (CUNHA, 1996). No processo ensino-aprendizagem o professor deve considerar que nem todos têm os mesmos interesses ou habilidades e nem aprendem da mesma maneira, o que exige uma atenção especial para que ele possa integrar todos no processo de aprender. Dessa forma, o professor reconhecendo as diferenças existentes entre os alunos e adotando procedimentos pedagógicos alternativos, saberá potencializar as capacidades individuais dos alunos, tanto as de ordem cognitiva,afetiva, física, ética e estética, quanto às de relação interpessoal e de inserção social (BRASIL, 1999). De acordo com Polya (1981), os professores devem ensinar os seus alunos a pensar: "Ensinar a pensar" significa que o professor de Matemática não deve simplesmente transmitir informação, mas também tentar desenvolver a capacidade dos estudantes para usarem a informação transmitida: deve enfatizar o saber-fazer, atitudes úteis, hábitos de pensamento desejáveis. O professor deve considerar os conhecimentos construídos pelos alunos fora da escola, anteriores à vida escolar e em construção concomitante a ela, identificando-os e integrando-os ao trabalho escolar, de forma que as aprendizagens realizadas em qualquer ambiente, tempo ou situação signifiquem ampliação do quadro de referência de cada aluno, articulando senso comum e conhecimento socialmente reconhecido e valorizado. Assim, o professor mostra e acrescenta aquilo que o aluno ainda não sabe, sem precisar repetir e expor aquilo que já é 6 conhecido. Também deve-se considerar a visão de mundo do aprendente, direcionando o ensino para a realidade dele (CUNHA, 1996). Um dos últimos aspectos considerados pelos alunos entrevistados por Cunha é a importância que eles dão á satisfação em aprender, que está vinculado ao ambiente positivo na sala de aula. São apontados pelos alunos como aspectos fundamentais: o senso de humor do professor, o gosto de ensinar e o tornar a aula agradável e interessante. O aluno deve encontrar sentido e utilidade naquilo que aprende. Sendo necessário uma aprendizagem que atenda a suas reais necessidades e também que busque respostas para os problemas da realidade social, oferecendo oportunidades e condições concretas para a formação de um aluno criativo, competente e solidário. A aprendizagem acontece no aluno e não para o aluno, quando ele interage, ele participa trazendo consigo tudo que ele vê, vive, ouve, sofre e sonha. Dessa forma, as aulas devem ser atividades prazerosas trabalhando a auto-estima do aluno e criando condições para que ele possa modificar e desenvolver idéias, habilidades, atitudes e comportamentos. O papel do professor, então, é o de propor situações que levem o aluno a novas descobertas, novos conhecimentos, favorecendo um ambiente que ele tenha liberdade para falar, sem medo de errar, trocar experiências, discutir questões em grupo, ouvir histórias, sentir-se desafiado e principalmente encorajado a vencer desafios. Por fim, os professores possuem bagagens suficientes para tentar fazer suas aulas melhores. Basta que tenham interesse em pesquisar novas fontes, procurando se capacitar de tempo em tempo e principalmente parar para ouvir seus alunos, que também têm muito para ensinar. 3. MÉTODO O objetivo da pesquisa de campo foi analisar as percepções de alunos em relação ao bom ensino da Matemática. Para esta análise, optou-se por uma abordagem empírico-analítica (FIORENTINI; LORENZATO, 2006), empregando um questionário e tratando os dados obtidos estatisticamente. Esta opção reflete o caráter exploratório do estudo. 3.1. Participantes Participaram da pesquisa 102 alunos de três turmas do terceiro ano do ensino médio de uma escola pública do Distrito Federal, localizada na cidade de Ceilândia. Destes, 39 são do gênero masculino e 63 do gênero feminino. Quanto à faixa etária, 64,8% têm idade entre 16 e 17 anos, 30,4% entre 18 e 19 anos e 4,9% têm entre 20 e 21 anos. Dos participantes 38 já ficaram de recuperação em Matemática, 13 já reprovaram e 23,2 % exercem atividade remunerada. 3.2. Instrumento O estudo foi conduzido por meio da aplicação de um questionário com uma série de enunciados fechados, contendo cada um cinco possibilidades de respostas, baseado em uma escala do tipo Likert de 5-pontos. Para estes enunciados havia as seguintes possibilidades de respostas: (1) sempre; (2) muitas vezes; (3) às vezes; (4) poucas vezes e (5) nunca, representando o 1 o pólo mais positivo e o 5 o mais negativo. Nesse tipo de instrumento, 7 nenhuma proposição é considerada certa ou errada, pois apenas refletem as expressões dos sujeitos quanto ao sentimento que experimentam frente a cada um dos enunciados. Além destes enunciados, os alunos responderam também a duas questões abertas, nas quais expressavam suas opiniões de como seria uma boa aula de Matemática e citavam algumas características que achavam essenciais em um bom professor de Matemática. As proposições deste instrumento foram elaboradas tendo como referência alguns elementos indicados pelos autores pesquisados e nas propostas apresentadas pelos PCN’s (BRASIL, 1999), além de sugestões de alguns alunos que têm dificuldade em Matemática. 3.3. Procedimentos O questionário foi aplicado no turno matutino para três turmas distintas de uma mesma professora de Matemática. Ela cedeu um período da aula para a aplicação desse instrumento e à medida que os alunos terminavam de respondê-lo faziam sua devolução. Essa atividade foi realizada no primeiro semestre letivo de 2007. 3.4. Análise dos Dados O tratamento estatístico empregado constituiu-se de análise descritiva, apresentando os dados por meio de médias, desvios padrões e em freqüências relativas. Para a análise dos dados foi utilizado o pacote estatístico SPSS 8.0 (Statistical Package for Social Science). 4. RESULTADOS Os resultados serão mostrados por meio de tabelas que apresentam a freqüência relativa dos dados coletados, bem como a média e o desvio padrão relativos a esses dados. As tabelas foram organizadas a partir de uma categorização dos enunciados propostos para os participantes do estudo, de acordo com a aproximação temática dos itens em relação à suas especificidades, ou seja, os itens do questionário foram divididos de maneira que as proposições neles retratadas tivessem características comuns, por exemplo, os itens relacionados a metodologias de ensino e itens referentes à atuação do professor em sala. A tabela I apresenta os dados relativos às percepções dos alunos quanto à relação professor- aluno. Tabela I: Percepção dos alunos quanto à relação professor-aluno. Nº Proposição M éd ia D es v io Pa dr ão Se m pr e (% ) M u ita s V ez es (% ) Às V ez es (% ) Po u ca s V ez es (% ) N u n ca (% ) 01 O professor que transmite amor pela Matemática consegue despertar no aluno o prazer em aprendê-la. 1,96 1,10 41,2 37,3 10,8 5,9 4,9 02 Um professor que não se relaciona bem com os alunos faz com que eles gostem menos da aula. 2,01 1,25 47,0 26,0 15,0 3,0 9,0 03 Um professor atencioso e amigo favorece o aprendizado. 1,41 0,81 73,0 18,0 5,0 3,0 1,0 04 Professores entusiasmados com a disciplina me motivam a estudar mais. 1,75 0,99 53,9 25,5 12,7 6,9 1,0 05 Quando você não consegue aprender o conteúdo, você apenas o decora? 3,18 1,22 8,0 23,0 31,0 19,0 19,0 8 O próximo grupo de resultados foi organizado para apresentar os dados relativos aos itens que buscaram identificar a percepção dos estudantes quanto à atuação do professor de Matemática em sala de aula. Estes dados serão apresentados na tabela II a seguir. Tabela II: Percepção dos alunos quanto à atuação do professor em sala de aula. Nº Proposição M éd ia D es v io Pa dr ão Se m pr e (% ) M u ita s V ez es (% ) Às V ez es (% ) Po u ca s V ez es (% ) N u n ca(% ) 06 O professor explica como o conhecimento matemático foi desenvolvido ao longo da história? 3,38 1,40 15,0 12,0 21,0 24,0 28,0 07 O professor reproduz integralmente o que é ensinado no livro didático. 2,09 1,06 32,4 42,2 13,7 7,8 3,9 08 O professor ensina os conceitos matemáticos de acordo com a realidade do aluno, apresentando exemplos e problemas relacionados com o seu dia-a-dia. 3,10 1,27 14,7 15,7 30,4 23,5 15,7 09 O professor passa e corrige listas de exercícios a fim de fixar os conteúdos. 1,47 0,84 70,3 18,8 5,0 5,9 0,0 10 Vários exemplos e ilustrações são apresentados aos alunos para que possam entender melhor os conteúdos? 2,57 1,30 25,7 26,7 21,8 15,8 9,9 11 O professor consegue identificar suas dificuldades e perceber se você está realmente entendendo a matéria? 2,91 1,39 21,8 17,8 24,8 18,8 16,8 12 O professor estimula a participação dos alunos em sala. 2,17 1,16 37,3 27,5 20,6 10,8 3,9 13 Quando um aluno faz uma pergunta não relacionada com o conteúdo que está sendo ensinado, o professor não entra no mérito da questão e diz que este assunto só será estudado depois ou no ano que vem. 3,02 1,39 17,0 23,0 22,0 17,0 21,0 14 O professor de Matemática é paciente ao explicar tópicos que parecem difíceis de entender. 1,75 0,98 52,0 31,4 8,8 5,9 2,0 15 As opiniões dos alunos são valorizadas pelo professor. 2,44 1,09 21,6 33,3 28,4 12,7 3,9 16 Sei que posso contar com meu professor até fora da sala de aula. 2,87 1,36 21,6 18,6 26,5 17,6 15,7 A tabela III a seguir mostrará os resultados relativos às percepções dos alunos quanto às práticas avaliativas em Matemática. 9 Tabela III: Percepção dos alunos sobre as práticas avaliativas em Matemática Nº Proposição M éd ia D es v io Pa dr ão Se m pr e (% ) M u ita s V ez es (% ) Às V ez es (% ) Po u ca s V ez es (% ) N u n ca (% ) 17 A turma recebe orientações sobre como estudar de maneira mais eficiente. 2,49 1,26 29,4 21,6 27,5 13,7 7,8 18 O seu professor apenas te prepara para fazer a prova dele, ou está preocupado em prepará-lo para transformar sua vida, o meio em que vive e a enfrentar os problemas do mundo? 2,25 1,21 33,7 32,7 13,9 14,9 5,0 19 Os comentários do professor sobre o seu desempenho te ajudam a melhorar a maneira de estudar e aprender. 2,03 1,03 36,3 37,3 15,7 8,8 2,0 20 O professor tem o hábito de fazer uma prova mais difícil do que os exercícios feitos em aula. 2,05 1,16 46,1 18,6 22,5 9,8 2,9 21 O professor adota métodos alternativos de avaliação (trabalho individuais e grupais, relatórios, pesquisas, etc). 2,51 1,21 24,8 27,7 25,7 14,9 6,9 22 No final de cada bimestre, o professor abre um espaço de discussão no qual o aluno se auto-avalia e ao mesmo tempo faz uma avaliação do professor. 3,99 1,32 8,9 5,9 15,8 15,8 53,5 A seguir serão apresentadas, na tabela IV, as percepções dos alunos quanto às metodologias de ensino adotas pelo professor de Matemática. Tabela IV: Percepção dos alunos quanto às metodologias de ensino da Matemática. Nº Proposição M éd ia D es v io Pa dr ão Se m pr e (% ) M u ita s V ez es (% ) Às V ez es (% ) Po u ca s V ez es (% ) N u n ca (% ) 23 Os materiais didáticos indicados pelo professor (apostila, livros, cópias, sites, etc) nos ajudam a compreender a matéria. 2,00 0,92 35,3 36,3 21,6 6,9 0,0 24 A aula de Matemática fica mais interessante quando o professor utiliza outros recursos como vídeos, jogos, computador, etc, variando o estilo da aula. 2,31 1,41 41,6 20,8 13,9 12,9 10,9 25 É legal quando o professor ensina “macetes” para que o aluno lembre como usar as fórmulas matemáticas. 1,54 0,91 67,6 17,6 7,8 6,9 0,0 26 É importante verificar o que o aluno já conhece sobre determinado assunto para o professor não ficar repetindo demais um mesmo conteúdo. 2,49 1,28 32,7 11,9 39,6 5,9 9,9 27 A aula de Matemática fica mais interessante quando o professor consegue relacioná-la com outras disciplinas. 2,65 1,37 28,7 17,8 24,8 16,8 11,9 28 Incentivar o aluno a participar de campeonatos, olimpíadas, palestras ou feiras que envolvam o ensino da Matemática ajuda a despertar o interesse por esta matéria. 2,30 1,36 41,0 20,0 15,0 16,0 8,0 10 Tabela IV: Percepção dos alunos quanto às metodologias de ensino da Matemática (continuação) Nº Proposição M éd ia D es v io Pa dr ão Se m pr e (% ) M u ita s V ez es (% ) Às V ez es (% ) Po u ca s V ez es (% ) N u n ca (% ) 29 O interesse do aluno pela Matemática é estimulado quando o professor desenvolve atividades fora da sala de aula, como por exemplo, laboratórios, quadras esportivas, visita a outros lugares, etc. 2,53 1,40 33,0 22,0 15,0 19,0 11,0 30 Muito do que aprendo parece não ter significado no meu dia-a-dia 2,98 1,22 12,9 23,8 28,7 21,8 12,9 31 Quando eu posso participar ativamente da aula, perguntando e dando exemplos, gosto mais da aula. 2,10 1,17 41,0 26,0 19,0 10,0 4,0 A seguir serão apresentados os resultados dos itens abertos do questionário. Estes itens constituíam-se de duas perguntas, a primeira buscou levantar as opiniões dos estudantes a respeito de como seria uma boa aula de Matemática. A segunda pergunta foi elaborada com o intuito de verificar, sob o ponto de vista dos alunos, quais seriam as características essenciais em um bom professor de Matemática. As respostas mais freqüentes para a primeira pergunta, na percepção dos alunos, foram as seguintes: aulas mais dinâmicas com outros recursos além do livro (relatado por 21 alunos); professor que saiba explicar de forma simples e clara (17 alunos); aulas com jogos, brincadeiras, outras formas divertidas e criativas (16 alunos); mostrar na prática a utilidade da Matemática e relacioná-la com a realidade (13 alunos); aulas com professor alegre, bem humorado e brincalhão (5 alunos); aulas com professor paciente, compreensivo e amigo (4 alunos); aula com alunos participando e esforçando-se para aprender, sem bagunças e brincadeiras fora de hora (10 alunos); aulas com trabalhos em grupos (4 alunos); aulas com mais exercícios para fixar o conteúdo e mais trabalhos extra-classe (5 alunos); interatividade com outras matérias (3 alunos) e interação entre professor e aluno (3 alunos). Quinze alunos não responderam esta pergunta. Para a segunda pergunta, as características essenciais em um bom professor de Matemática, na percepção dos alunos, são as seguintes: o professor deve ser paciente, compreensivo e calmo (relatado por 42 alunos); atencioso (17 alunos); bem-humorado, divertido e alegre (28 alunos); amigo, amável, humilde e que mantém boas relações com os alunos (17 alunos); que explica bem, passo-a-passo e mais de uma vez (15 alunos); legal, carismático (12 alunos); que domina o conteúdo (13 alunos); que gosta do que faz, que tem amor pela Matemática (20 alunos); que percebe e ajuda nas dificuldades dos alunos até fora da sala de aula (08 alunos);inteligente, criativo, original, diversificado, dinâmico e interativo (18 alunos). Dezoito alunos não responderam a esta pergunta. 5. DISCUSSÃO As respostas obtidas indicam, segundo a percepção dos alunos, que muito do que aprendem não tem significado no seu dia-a-dia. Essa percepção não nos dá uma exata clareza desse significado, pois as respostas estão bastante divididas, uma parte considerável dos alunos 11 responde de forma afirmativa e outra parte de forma negativa. Essas respostas têm uma relação direta com a seguinte proposição: o professor ensina os conceitos de acordo com a realidade do aluno, apresentando exemplos e problemas relacionados com o seu dia-a-dia, nesta proposição, a percepção dos alunos também ficou bem dividida. Isso nos leva a pensar que o professor consegue atender às necessidades de um grupo de alunos, mas não de todos. Aranha (2002) destaca que, adaptar o método de ensino às necessidades de cada aluno é, na realidade, um procedimento fundamental na atuação profissional de todo educador, já que o ensino não ocorrerá, de fato, se o professor não atender ao jeito que cada um tem para aprender. Faz parte da tarefa de ensinar o procurar as estratégias que melhor respondam às características e às necessidades peculiares a cada aluno. A maioria dos alunos acreditam que os materiais didáticos indicados pelo professor, tais como o livro, apostilas, cópias, sites e etc, os ajudam a compreender a matéria. Porém, uma maioria também acredita que o professor reproduz integralmente o que é ensinado no livro didático. Isso nos leva a pensar que os alunos se habituaram a uma metodologia de ensino mecanizada, ou seja, aquela em que o professor apenas reproduz o conteúdo. Apesar das limitações que essa metodologia oferece, no que diz respeito ao senso-crítico-reflexivo, ainda assim, na percepção dos alunos, essa metodologia os ajudam a compreender o que é ensinado. A parcialidade no ensino se agrava à medida que o professor utiliza o livro didático de forma mecânica e acrítica, sem ser analisado por ele e pelos alunos. Com isso, o que ocorre é a reprodução automática de informações com respostas (direcionadas) convergindo sempre com a do professor e pré-estabelecidas pelo livro-texto. Conseqüentemente, a criatividade e a criticidade dos alunos é sempre bloqueada fortalecendo o pensamento convergente e o consenso, a partir de verdades absolutas e imutáveis (CAPORALINI, 1996). Portanto, o professor não deve considerar o livro como único instrumento que gera todos os outros componentes do processo de ensino: o conteúdo, o programa, os procedimentos, as atividades, enfim, a ação do professor e a ação do aluno. Ainda nesse contexto, 62,4% dos participantes relatam que a aula de Matemática ficaria mais interessante se o professor utilizasse outros recursos como vídeos, jogos, computador, entre outros, variando o estilo da aula. Nesse sentido, se o professor utilizar novos recursos didáticos poderá contribuir para que os alunos tenham uma melhor compreensão dos conteúdos ensinados e com a possibilidade de despertar nestes o senso-crítico-criativo. Caporalini (1996) ainda ressalta que é necessário que nos esforcemos em comprovar e redescobrir os processos de conhecimento ao invés de simplesmente comunicá-los para os alunos reproduzir, sem buscar esclarecer o contexto como o auxílio do texto e não somente com o texto. Além disso, tentar interpretar o conteúdo de maneira participativa, crítica , questionando a idéia do texto e comparando com a realidade que o aluno conhece e significa. O que resulta na apreensão de outros valores, idéias e possibilidades. A grande maioria dos participantes afirma que o professor passa e corrige listas de exercícios a fim de fixar os conteúdos. Mas, em contrapartida, um número significante de alunos relata que o professor apenas os prepara para fazer a prova. Isso nos faz pensar em um ensino voltado apenas para a reprodução ou memorização de exercícios, com o intuito exclusivo de 12 aprovação na disciplina; sem compromisso com o verdadeiro aprendizado e pensamento crítico. De acordo com a pesquisa de Dal Vesco (2002), a técnica pelos professores é o método expositivo-explicativo, ou seja, cópia-quadro, cópia-livro, exercícios e explicações do professor. Nesse contexto o aluno tem de ter capacidades para acumular as informações transmitidas pelo professor. A preocupação deste é explicar para que o aluno memorize e depois reproduza através das provas e dos trabalhos dados. A aprendizagem fica, assim, reduzida à cópia mecânica dos exercícios matemáticos e às explicações. Contudo, com essa metodologia de ensino o aluno não compreende o conteúdo matemático e, conseqüentemente, este aprendizado torna-se sem significado para ele. É muito mais fácil para o professor trabalhar com uma série de exercícios padronizados do que estimular comportamentos e atitudes positivas no aluno. O uso de métodos e técnicas de ensino que fazem com que o aluno descubra os conceitos matemáticos exige do professor melhor preparo e maior tempo. O uso de atividades repetitivas e estanques torna o aluno dependente do professor, dependência que vai se acentuando durante toda a vida acadêmica do sujeito, o que não possibilita o agir, o resolver, o transformar (GUILHERME, apud DAL VESCO, 2002, p. 94-95). Podemos verificar também pelos resultados que mais da metade dos estudantes revela que o professor não abre um espaço de discussão no qual o aluno se auto-avalia e também avalia o seu professor. O que pode está contribuindo para desencadear fatores que emperre o processo ensino-aprendizagem. O professor deveria se colocar mais aberto às crítica e sugestões dos alunos. E a partir de uma reflexão, promover transformações e mudanças significativas de atitudes. Os dados coletados indicaram, pela percepção dos participantes, que se o professor não tiver boa relação com seus alunos, isto fará com que eles gostem menos da aula. Dessa forma, percebemos a importância de se manter relações positivas com os alunos. Além disso, os alunos foram quase unânimes, 91% deles acreditam que um professor atencioso e amigo favorece a aprendizagem. Essa percepção dos alunos aparece nas observações de Cunha (1996), que diz que “virtudes e valores do professor que consegue estabelecer laços afetivos com seus alunos repetem-se e intrincam-se na forma como ele trata o conteúdo e nas habilidades de ensino que desenvolve” (CUNHA, 1996, p. 146). Ainda nesse contexto Cunha enfatiza que parece conseqüência natural o professor que tem uma boa relação com os alunos preocupar-se com os métodos de aprendizagem e procurar formas dialógicas de interação. Um outro aspecto a ser destacado são alguns fatores relacionados à motivação. Mais de 70% dos alunos afirmam que professores entusiasmados e que demonstram amor pela Matemática motivam e despertam no aluno o interesse em aprender. Nesse sentido, percebemos que a forma como o professor se relaciona com a Matemática e a percepção que ele tem desta disciplina pode refletir diretamente no aluno e despertar-lhe o desejo e o interesse por essa matéria. 13 Santos (apud COELHO s/d) nos coloca que “as posturas dos professores são definidoras das atitudes dos estudantes. O professor através de sua ação pode formar simpatias ou antipatias em relação a determinados conteúdos e isso depende, em grande medida, da sua própria relação com o conteúdo que ensina”. (SANTOS, apud COELHO, 1997, P. 254). Ou seja, o comportamento do professor é bastante determinante da postura que os estudantes terão para com o conteúdo. Carrijo (apud COELHO,1995) enfatiza que “o bom professor de ciência” demonstra satisfação com o conteúdo e com a aula, faz pesquisa e conhece outras ciências. Com isso, muito da motivação do alunovai depender da própria motivação do professor em conhecer e ensinar ciências. Um professor que aparente desinteresse pela descoberta da ciência e pela tarefa de fazer os estudantes descobrirem-na dificilmente obterá sucesso ao tentar motivar seus alunos. Os dados indicam que 67% dos alunos gostam mais da aula quando eles podem participar ativamente, perguntando e dando exemplos. Então dar ênfase á discussão e ao diálogo parece ser uma boa técnica para motivação. Além disso, podemos perceber claramente que outras formas de motivar os alunos a aprender Matemática é incentivando-os a participar de campeonatos, olimpíadas, palestras ou feiras que envolvam o ensino dessa disciplina. Isso foi relatado por 61% dos alunos. Ainda neste sentido, 55% dos participantes acreditam que outra forma de motivar os alunos é quando o professor desenvolve atividades fora da sala de aula, como por exemplo, laboratórios, quadras esportivas, visitas a outros lugares, entre outros. Somado a esse aspecto motivador, 73,6% dos participantes expõe que os comentários feitos pelo professor sobre o desempenho dos alunos ajuda a melhorar a maneira de estudar e aprender. Os resultados indicam que a maioria dos alunos concorda que é importante verificar o seu conhecimento prévio de um determinado assunto para que o professor não seja repetitivo demais. Isso comprova que o aluno não é uma caixa vazia na qual o professor apenas deposita os conteúdos, mas possui uma bagagem que não pode ser desprezada e ignorada. Pelo contrário, o professor pode aprimorar esse conhecimento acrescentando novos saberes ainda não conhecidos pelos alunos. Dessa forma, o ensino não se chocaria com as concepções dos aprendizes. Na perspectiva da didática escolar crítica, de acordo com Rays (apud DAL VESCO, 2002): “[...] a aula é um momento de encontro e de ruptura entre o cotidiano do aluno e o contexto social concreto, entre tudo aquilo que o aluno já conhece e tudo aquilo que ele ainda não conhece e que pode provocar seu crescimento e seu entendimento do mundo em que vive. É, por assim dizer, a busca de caminhos novos para a superação dos caminhos vigentes [...]”. Podemos verificar pelos dados que 52% dos participantes dizem que o professor não explica como o conhecimento matemático foi desenvolvido ao longo da história. Isso nos mostra que muitos professores não conseguem atender o que os Parâmetros Curriculares Nacionais sugerem quanto ao uso da história da matemática. E de acordo com estes Parâmetros (BRASIL,1999): “A História da Matemática pode oferecer uma importante contribuição ao processo de ensino e aprendizagem dessa área do conhecimento. Ao revelar a Matemática 14 como uma criação humana, ao mostrar necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, ao estabelecer comparações entre os conceitos e processos matemáticos do passado e do presente, o professor cria condições para que o aluno desenvolva atitudes e valores mais favoráveis diante desse conhecimento” (p. 42). Dessa forma, em muitas situações, o recorrer à História da Matemática pode esclarecer várias idéias matemáticas que estão sendo construídas pelo aluno, especialmente dando respostas a alguns “porquês” e, desse modo, contribuir também para o desenvolvimento do senso crítico (BRASIL, 1999). Ainda neste contexto, percebemos que uma parte significativa dos alunos que responderam ao questionário relatam que a aula de Matemática fica bem mais interessante quando o professor consegue relacioná-la com outras disciplinas. 6. CONCLUSÕES De posse dos resultados dessa pesquisa é possível observar que uma série de fatores está vinculada ao bom ensino da Matemática. Ao analisar a percepção dos estudantes quanto a essa questão nota-se que alguns desses fatores são mais recorrentes, tais como comportamentos e atitudes do professor que se mostram como evidentes expectativas dos alunos. Esse estudo revela de forma clara o vínculo estabelecido entre uma boa aula de Matemática e a figura do bom professor. A partir da interpretação dos dados constatou-se, na percepção dos alunos pesquisados, que um bom professor de Matemática tem as seguintes características: Do ponto de vista do conhecimento – tem domínio de sua área de formação e também conhecimentos de outras áreas, que valoriza o conhecimento prévio do aluno, que relaciona sua matéria a outras disciplinas, que transmite as informações de maneira clara, objetiva, criativa, original e de fácil entendimento para os alunos; Do ponto de vista das relações – paciente, atencioso, tolerante, educado, amigo, extrovertido, carismático, compreensivo, divertido, tranqüilo e que se relaciona bem com os alunos, que percebe e avalia as dificuldades dos alunos e tenta ajudar de todas as formas; Do ponto de vista metodológico – diversificado, simples, aberto ao diálogo, com maneiras fáceis de ensinar, que explique passo-a-passo e mais de uma vez, que usa vários macetes para facilitar a compreensão, que não enrola com um assunto só, que relaciona os conteúdos ao dia-a-dia , que adota aulas mais dinâmicas, com outros recursos além do livro; Do ponto de vista avaliativo – exigente, rígido, pontual, que adota novos métodos de avaliação, que passa mais trabalhos do que prova, entre outros. Dentre essas características, a mais recorrente foi a figura do professor como uma pessoa paciente, atenciosa, bem-humorada e que seja apaixonada pela profissão. Foi possível verificar a partir das sugestões dos alunos, que uma boa aula de Matemática, além de estar vinculada ao perfil do bom professor, seria aquela em que há a participação dos alunos, a interatividade com outras matérias, a aplicação de jogos, brincadeiras e outras formas divertidas; uma aula de acordo com a realidade dos alunos, uma aula dinâmica com a utilização de outros recursos além do livro (vídeos, filmes, laboratórios, aulas ao ar livre), que haja interação entre aluno e professor. 15 Diante destes resultados, percebemos uma relação direta das questões abertas com as fechadas, em que as primeiras confirmam a questões abordadas nos itens do questionário, bem como sustentam os argumentos apresentados no referencial teórico. Pelos resultados desse estudo evidencia-se que as sugestões dos estudantes coincidem com as orientações contidas nos PCN’s (BRASIL, 1999) para a organização do trabalho pedagógico com a Matemática, tais como o uso da resolução de problemas, contextualização, interdisciplinaridade, o uso de tecnologias e de recursos lúdicos no ensino. É evidente que este estudo não encerra o assunto a respeito das características de um bom professor de Matemática. Mas, abre espaço para se levantar novas questões do que ainda precisa ser investigado em relação à este assunto. Talvez um estudo que abordasse a auto- percepção dos alunos sobre sua aprendizagem em Matemática, ou quem sabe, nessa mesma linha de raciocínio, investigar também a auto-percepção do professor sobre sua atuação em sala de aula ou até mesmo sobre seu aluno. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. São Paulo: Ars Poética, 1994. ARANHA, Maria Salete Fábio. Formando Educadores para a Escola Inclusiva. 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