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HALFORD MACKINDER INTRODUÇÃO: Halford Mackinder e sua teoria “Pivô da História” vem completar as ideias de Ratzel. É um inglês típico do período de apogeu do império Britânico. Sua importância é semelhante à de Ratzel e suas propostas continuam vivas até hoje. Mackinder nasceu em 1861, no norte da Inglaterra, e é de origem escocesa. Morre em 1947, imediatamente após a 2° Guerra Mundial. Ele viu a Revolução Industrial, as duas grandes guerras, viu o nazismo, o fascismo e a revolução proletária. Sua teoria foi grande influenciadora da história, da geografia política e das relações internacionais. Os escoceses e os irlandeses nunca tiveram uma boa relação com a Inglaterra, mas a família Mackinder ficou sempre ao lado da Inglaterra, sendo muito bem vista em Londres. Halford fez medicina, mas nunca chegou a exercê-la. Decide optar pela geografia para servir ao império britânico, ele era um colonialista exaltado, acreditando que o maior bem que poderia ocorrer aos povos bárbaros seria a implantação da missão civilizadora dos ingleses. Halford Mackinder foi nomeado para Oxford em 1887, como conferencista, para ensinar Geografia num curso subvencionado pela Royal Geographical Society. Doze anos depois fundou a Escola de Geografia de Oxford e A.J. Hebertson tornou-se assistente de Mackinder. Mais tarde foi diretor da Escola de Ciência Econômica e Política de Londres. Tornou-se um eminente Geógrafo Político relativamente jovem, pouco mais de 40 anos, enquanto Reclus e Ratzel já eram idosos. Durante toda a sua vida foi professor de Geografia Humana e Social, em diversas universidades. Atuou também como conselheiro (assessor) para o Governo, sendo o "Foreign Affairs" (Ministro das Relações Exteriores) junto a Marinha. Portanto, foi ao mesmo tempo Geógrafo Político e Geopolítico. Mackinder era um homem de boa fé. Num primeiro momento, ele passa dificuldades financeiras por não ter feito medicina. Vai, então, ser professor de geografia, porém, muito mais famosos eram os Geógrafos que faziam parte da Sociedade Real de Geografia, e MacKinder, contrariando os pais, resolve ser professor. Cria um método original, era um professor itinerante, dava aulas em diversas instituições. Recebia bem do governo. Era muito carismático, fazendo o prestígio da geografia crescer muito na Inglaterra. Criou a cadeira da Geografia Social, que não existia na Alemanha ou França. Não apenas promoveu a geografia como a si próprio, recebendo, no fim da vida, o título de “Sir”, cavaleiro real. CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS ESTUDOS DE MACKINDER: Sua teoria se preocupou com a questão da relação entre poder e espaço. Geografia Política e Geopolítica. Em termos de espaço (superfície) há dois tipos de poder: o terrestre e o marítimo. Naquela época, isso foi muito bem colocado pois a Inglaterra era a “rainha dos mares”. Os ingleses relutaram em devolver as Malvinas, o canal de Suez, canal de Gibraltar e Hong Kong, pois todas essas áreas permitiam o maior controle dos mares. Mas o poder terrestre também era presente. Naquela época, o maior poder terrestre estava na Europa. MacKinder vai procurar quais eram e onde estavam os lugares mais conflituosos e que raramente eram vencidos. Achou então a região da união da Europa Central com a Ásia Ocidental. Para MacKinder, esse território era imbatível e ele chamava de Heartland ou pivô da terra que seria o coração de alguma coisa - que pegava a maior parte da Rússia, os Balcãs e um pedaço da Alemanha. Para ele, Heartland era uma ilha terrestre e quem a controlasse, teria o poder do mundo. A Inglaterra, tratando do estado como forma de vida, é basicamente a primeira a usar o termo “geopolitik”. Mackinder concebeu uma forma original da noção de poder; chegou mesmo a fazer uma tipologia do poder. Sua proposta era de uma divisão dual entre o poder marítimo e o poder terrestre. O poder terrestre é o central e o poder marítimo é o periférico. Isto foi um impacto para os ingleses, pois significava que o poder inglês era vulnerável. A Inglaterra pensava poder dominar o mundo apenas pelos mares. São diversos os pontos estratégicos marítimos mantidos pelos ingleses por longo tempo: Gibraltar, Falklands (Malvinas), Hong-Kong etc. Apesar de uma fortíssima frota marítima e várias bases militares de sua Marinha em todo mundo, a Inglaterra não era suficientemente forte como se pensava. Britânico característico, Mackinder viveu durante o apogeu do Império Britânico. Esse fato influenciou muito, tornou-se um defensor do Império, porque entendia que sua manutenção era benéfica para a Humanidade. Assim, estudou a fundo a expansão do Império Britânico. Influenciado por Ratzel, quanto a idéia organicista, estudou o nascimento, o desenvolvimento e a decadência dos impérios. Abordou as forças que engendram os impérios, seus problemas, ameaças e perspectivas. Outro tema privilegiado por Mackinder foi a discussão do poder do ponto de vista geográfico, estabelecendo uma tipologia de poder. Sua proposta era de uma divisão dual entre o poder marítimo e o poder terrestre. O poder terrestre é o central e o poder marítimo é o periférico. A Alemanha e a Rússia sempre privilegiaram o poder terrestre. Enquanto isto, a Inglaterra e o Japão sempre basearam-se no poder marítimo prioritariamente. Enquanto isto, alguns países conciliavam bem os dois tipos de poder, como por exemplo, os Estados Unidos. Mackinder alertou aos ingleses, que os Estados Unidos, por esse equilíbrio entre os poderes, era o país emergente na política internacional. Mackinder foi um dos primeiros a teorizar sobre a noção de centro-periferia, propondo a Teoria "Heartland-Hinterland”: Para se ter o poder mundial é preciso dominar a "area core" (Europa Central e Leste Europeu, ou seja, do sul da Alemanha até os Montes Urais e o Cáucaso), que é a "área coração", região mais bem defendida da Terra; quem conquistar a "area core" comandará a "Heartland"; quem conquistar a "Heartland" comandará a Ilha Mundo ("World Island"); quem conquistar a Ilha Mundo comandará o Mundo. Napoleão, Hitler e Stálin tentaram dominar a "área core" e fracassaram. O máximo que conseguiram foi uma dominação muito efêmera, mas nunca efetiva. Durante toda história, foram assinados vários tratados para o domínio dessa região, mas seus resultados sempre foram frágeis. Essa teoria justifica o fato dos alemães se espalharem pela Polônia, Tchecoslováquia, Vale do Rio Volga (Rússia). Pois a Alemanha sempre tentou estabelecer uma base germânica nessa área. Os países que querem o poder internacional devem conquistar a "Heartland", e os países que não podem conquistá-la devem se contentar em ocupar a "Hinterland". Essa proposta constitui uma das teorias mais duradouras da Geografia Política. OCEANISMO VERSUS CONTINENTALISMO: A aceitação do primado geográfico é o elemento-chave para a compreensão da secular rivalidade entre o poder marítimo e o poder terrestre pela conquista da preponderância mundial. Na visão de Mackinder os processos históricos eram passíveis de ser interpretados á luz da oposição oceanismo versus continentalismo, como pareciam comprovar as guerras recorrentes travadas desde a Antigüidade entre potências marítimas e potências terrestres. As potências terrestres utilizavam-se de sua posição central e de suas linhas interiores para se expandir em direção às regiões periféricas e conseguir saídas para os mares e oceanos. As potências marítimas apoiavam-se em sua posição insular e em suas linhas exteriores para dominar as regiões litorâneas e manter as potências terrestres encurraladas dentro dos limites de sua posição mediterrânea. Para Mackinder o poder terrestre poderia conquistar as bases do poder marítimo, caso conseguisse adicionarà sua retaguarda continental uma frente oceânica que lhe possibilitasse tornar-se um poder anfíbio, simultaneamente terrestre e marítimo. O autor acreditava que era muito mais propício as condições para o poder terrestre construir uma esquadra e lançar-se ao oceano a partir de sua plataforma continental, que para o poder marítimo organizar um exército e lançar-se à terra a partir de sua base insular. O grande geógrafo alertou as elites e círculos dirigentes de seu país sobre o perigo que representava para a posição insular e o poderio marítimo da Inglaterra uma eventual aliança entre as duas grandes potências continentais européias: Alemanha e a Rússia. A ILHA MUNDIAL E O CORAÇÃO CONTINENTAL: Segundo o geógrafo britânico, existia na verdade apenas o grande oceano, isto é, um oceano único cujas águas contínuas e intercomunicantes recobriam três quartos da totalidade do globo. Do restante um quarto de terras emersas, dois terços correspondiam aos continentes da Europa, Ásia, e África, que na visão de Mackinder, formavam de fato um único grande continente. Com efeito, os montes urais e o istmo de Suez uniam e interligavam, em vez de separar, as terras da Eurásia-Àfrica que envolvidas por todos os lados pelo oceano único, constituíam uma grande Ilha mundial: world island. A noção que pode ser entendida como área-pivô, região-eixo, Terra central ou coração continental – é o conceito chave que constitui a pedra angular da teoria do poder terrestre. A rigor, todos os demais conceitos dessa teoria – grande oceano, ilha mundial, crescente interno, crescente externo e oceano central – só adquirem plena significação geopolítica e estratégica em sua relação com esse conceito. Na descrição de Mackinder, o gigantesco núcleo eurasiático possuía três características físicas essenciais. O heartland era incomparavelmente a mais extensa região de planícies de todo o globo terrestre. Essa região era quase totalmente isolada do mundo exterior, já que seus grandes rios desembocavam nos mares do interior da Eurásia ou nas costas geladas do oceano Ártico: o Ob, o Ienissei e o Lena desaguavam no litoral norte da Síbéria; o Amudário e o Airdária, no mar de Aral; O Volga e o Ural, no mar Cáspio. Finalmente, a topografia plana de suas estepes meridionais oferecia condições ideais à mobilidade dos povos nômades-pastoris da Ásia central. O heartland era uma fortaleza inacessível ao assédio do poder marítimo das potências insulares ou marginais da Eurásia, favorecendo ao mesmo tempo o desenvolvimento do poder terrestre da potência continental que possuísse ou viesse a conquistar aquela região basilar. Em termos geoesratégicos, as regiões anfíbias eurasianas formavam em torno do heartland um grande arco interior ou marginal que Mackinder denominou Inner Crescent. Esse crescente interno era composto por um conjunto de zonas amortizadoras que constituíam pontos de fricção ou áreas de disputa onde se chocavam o poder terrestre e o poder marítimo. Por um lado, o Inner crescent era o espaço natural de expansão do poder terrestre que, de posse do núcleo basilar eurasiano, procurava conquistar as regiões periféricas e obter saídas para o oceano, tendo em vista a construção de um poder marítimo, que procurava conter a expansão do poder terrestre e mantê-lo encurralado no coração da Eurásia. Na periferia do Inner crescent existia um arco exterior formado pelo crescente externo ou insular - o Outer crescent. Protegidas pelos fossos do grande oceano, as potências marítimas do crescente insular estavam a salvo do assédio do poder terrestre dominante no núcleo basilar eurasiano. No Outer Crescent localizavam-se as grandes potências marítimas, como a Inglaterra, Estados Unidos e Japão, além dos domínios britânicos do Canadá, África do Sul e Austrália. O CORDÃO SANITÁRIO: Quando eclodiu a guerra, a Rússia lutou ao lado da Inglaterra contra as potências centrais até 1917, somente se retirando unilateralmente do conflito depois do triunfo da revolução bolchevique. Ademais, com a vitória do poder marítimo anglo-americano sobre o poder terrestre alemão, o desfecho da guerra pareceu desmentir as reflexões teóricas do geógrafo britânico. A despeito da dura réplica dos fatos, Mackinder desenvolveu extensamente sua teoria do poder terrestre no livro demcratic Ideals and Reality. Mackinder sustentou que a vitória da potência insular sobre a potência continental foi tributária do fato de o Estado-pivô russo Ter combatido ao lado da ilha fortaleza durante a maior parte da guerra. Obrigado a dividir suas forças em duas frentes sitiado pelo poder naval britânico, o poder terrestre alemão exauriu seus recursos materiais e humanos numa prolongada guerra de trincheiras. Posteriormente o conceito de Pivot area foi substituída pelo conceito estratégico de Heartland, o coração continental eurasiano. O heartland não tinha limites geográficos rigorosamente demarcados sobre o mapa e sua extensão era ainda maior que a abarcada originalmente pela pivot area. Além da Sibéria, Mongólia, Tibete e Pérsia, o heartland incluía a Europa oriental até as margens do rio Elba e do baixo Danúbio. Toda a Rússia e a parte oriental da Alemanha integravam o heartland, e seus respectivos povos – eslavo e germânico – lutavam para obter completo domínio dessa gigantesca esplanada continental. Mackinder descreveu toda sua preocupação com a Europa oriental através da seguinte frase: “ Quem domina a Europa Oriental controla o Heartland; quem domina o Heartland controla a World island; quem domina a World Island controla o mundo” Desta forma, era vital para a Inglaterra isolar a Rússia e a Alemanha, impedindo uma aliança entre ambas ou a conquista de uma pela outra. A configuração de um bloco de poder russo-germânico provocaria a ruptura do equilíbrio europeu, colocando em risco a posição insular e a preponderância naval britânica. Como assessor da diplomacia britânica nas negociações de paz, Mackinder propôs que as potências vitoriosas criassem, na Europa Oriental, uma cadeia de Estados-tampões desde o mar Báltico até os mares Negro e Adriático. A função estratégica desse cordão sanitário era introduzir uma cunha entre a Alemanha vencida e a Rússia Bolchevique, impedindo uma futura aliança da potência situada no centro da Europa com aquela que controlava a região –pivô da Eurásia. OBSERVAÇÕES FINAIS: A teoria desenvolvida por Mackinder demonstrou ser extremamente atual, além de ser uma das teorias mais influenciadoras do meio geopolítico. Sua teoria continua viva até os dias de hoje, mais ainda do que quando foi escrita pela primeira vez, pois era uma teoria tão arrojada que não fora entendida a princípio, mas alguns anos mais tarde foi capaz de entusiasmar personalidades como Stalin, Hittler e muitos outros estadistas.
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