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Construção de Brasília Expectativa e Frustração para o Povo Goiano

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CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA: EXPECTATIVA E FRUSTRAÇÃO PARA O 
POVO GOIANO (1957 – 1962) 
 
 
Júlio Alves de Oliveira Neto1 
 
 
RESUMO: Os primeiros rumores de uma possível transferência da Capital Federal do litoral para o 
Planalto de Goiás despertou no povo goiano expectativas e sonhos, diante de um projeto tão 
audacioso. Tais expectativas só foram aumentando com passar do tempo, e então Brasília deixou de 
ser sonho e passa a ser realidade. O choque cultural e a grande aglomeração de pessoas que vieram 
de todos os cantos do Brasil para trabalharem nas obras da nova metrópole que estava por surgir 
causou medo e estranhamento aos esperançosos que aqui aguardavam o progresso e não sabiam 
dos males que o acompanhavam. 
PALAVRAS-CHAVE: Brasília, expectativa, goianos, frustração. 
 
 
 
1.0 BRASLÍA: UMA SOLUÇÃO PARA O BRASIL 
 
 
Ao longo da história, podemos ver que nos mais remotos cantos do mundo 
cidades surgiam ou até mesmo desapareciam, devido a fatores econômicos, como 
rotas comerciais e a busca de lugares apropriados para um determinado tipo de 
comercio, devidos a fatores naturais, que, favoreciam a sobrevivência ou não em 
uma determinada região. Nos tempos modernos vimos o surgimento de cidades 
planejadas, visando segurança, expansão socioeconômica e o desenvolvimento 
político-cultural. Mesmo não sendo uma cidade tipicamente comercial, mas 
administrativa, a construção de Brasília teve como um dos seus principais objetivos 
atender a política nacionalista da época de Vargas, o antigo sonho do nacionalismo 
brasileiro estava para acontecer. 
 
1
 Graduado em História pela Universidade Estadual de Goiás e Graduando em Direito pela Faculdade de Jussara 
FAJ 
A construção de Brasília foi um velho sonho e vitória do 
nacionalismo brasileiro. Desde o romantismo, a visão profética 
de um futuro radioso acompanha as cenas de fundação nas 
tentativas de “autodelimitação e esforço de uma identidade 
nacional coesa – diretamente proporcionais, é claro, ao 
desenraizamento, ao dilaceramento, que, no entanto, a definem” 
(SILVA, 1997, p. 60) 
Os planos e as expectativas aumentavam com o passar do tempo, deixando 
viva a idéia de desenvolvimento sócio-cultural e econômico. Mas Brasília, como 
veremos adiante, tinha outros interesses além do desenvolvimento sócio-cultural, 
que abafariam todas estas expectativas até então criadas no imaginário de políticos 
e sertanejos do Estado de Goiás. 
1.2 A Capital Federal e os primeiros rumores da sua criação. 
 
 
Os primeiros rumores sobre a mudança da nova Capital Federal e a escolha 
de um local no interior do país, foi um projeto antigo e também de extrema 
importância para que pudesse atender as expectativas de desenvolvimento político, 
social, cultural, pois tal projeto visava à interiorização do país, uma vez que o Brasil 
era visto como uma grande fazenda que produzia e exportava açúcar, café e tabaco. 
Necessitava-se então, buscar um desenvolvimento para a nação, usando o interior, 
todas as capitanias deveriam procurar um desenvolvimento, um avanço rumo ao 
oeste, mas não era esse o principal interesse da elite da época dos primeiros 
rumores sobre uma possível transferência da Capital Federal. 
Para dar suporte a esse vasto projeto educacional, cada 
capitania deveria encarregar-se de montar um tipografia e uma 
farta biblioteca local. Aos burocratas e oligarcas, a quem "só 
interessava vender açúcar, café, arroz e tabaco", se instruídos 
fossem, ele conclamava a que se dedicassem a difundir o que 
sabiam junto ao povaréu. . (SCHILLING, 2002, p.03) 
 
 Além de outras séries de fatores que favorecia o sonho de uma capital para o 
sertão longe do litoral. Até então, a capital que era o Rio de Janeiro, ficava exposta 
às invasões estrangeiras, tinha um clima tropical que favorecia as epidemias, 
durante o período da Republica foi palco de inúmeras revoltas e desordens. E 
mesmo com todos estes fatores que deixavam claro a necessidade de transferência 
da capital para um local que pudesse oferecer mais segurança, afastando-se das 
revoltas e de possíveis ataques vindos do oceano, nenhum projeto era feito a esse 
respeito. 
Mudar a capital era sonho antigo na história do Brasil. O Rio 
de Janeiro, cidade que se tornou capital da Colônia em 1763 e 
que recebeu a Corte portuguesa em 1808, apresentava 
inúmeros problemas. Além de ser vulnerável às invasões 
estrangeiras, tinha no clima tropical, que favorecia as 
epidemias, um grave obstáculo. Já na República, a cidade foi 
palco de inúmeras revoltas e era considerada o espaço da 
desordem. Tudo isso favorecia o sonho de uma capital no 
interior. (OLIVEIRA, 2008, p. 01) 
Uma cidade no interior do país, sendo uma Capital Federal, estaria mais 
segura do que no litoral. Segura não só das invasões estrangeiras, mas também de 
revoltas e insurreições populares que acontecia constantemente no Rio de Janeiro. 
Mas até então, a transferência da Capital Federal para o interior do país, não 
passava de rumores e especulações. E somente alguns anos mais tarde, movido por 
ideais europeus, José Bonifácio um dos homens mais poderosos do primeiro 
reinado, após voltar dos seus estudos na Europa, trouxe consigo alguns 
apontamentos para o Governo Provisório, entre eles, a proposta de uma nova 
Capital em um outro local e ele ainda sugeria que esta nova cidade deveria se 
chamar Brasília, o local sugerido para a mudança era em alguma região do interior 
de Minas Gerais, mais precisamente em Paracatu, conforme nos mostra a seguinte 
citação: 
Em 10 de outubro de 1821 ele apresentou aos seus pares 
Apontamentos para o Governo Provisório que, sem medo de 
exageros, podemos considerar como o primeiro projeto para o 
Brasil... Como nova capital sugeriu algum lugar no interior, 
pensou em Paracatu no interior de Minas Gerais, para dali 
lançarem-se estradas para todos os lados, concluindo a 
ocupação do torrão pátrio. (SCHILLING, 2002, p.01) 
 
Assim, essa passagem, demonstra que desde cedo já se tinha a intenção de 
ocupar o interior do país, romper com a fronteira que separava os homens letrados 
que viviam no litoral, com os sertanejos e caipiras que habitavam o interior do Brasil. 
Entretanto, percebemos que nem todos os projetos de José Bonifácio foram 
executados com êxito. Nota-se, no entanto, que este teve reconhecimento e 
destacou-se em seu empenho pela luta na independência do Brasil, tanto que ele 
ficou reconhecido como o “Patriarca da Independência”. José Bonifácio volta a ser 
lembrado quando mais tarde os lideres políticos, se reúnem para escolher o nome 
para nova capital brasileira, e optam pelo nome escolhido por ele na mesma época 
em que sugeriu a transferência da capital para o interior do país. 
O projeto em seu todo era a chegada do Iluminismo ao Brasil. 
Não foi indevido pois, que, quase em seguida, após os fados 
do Sete de Setembro de 1822, a imprensa passasse a chamar 
José Bonifácio de o Patriarca da Independência. (SCHILLING, 
2002, p.03) 
 
Muito tempo se passou desde os primeiros projetos de José Bonifácio, e 
somente no final do século XIX, que a idéia de uma Nova Capital brasileira no 
interior do país foi retomada. Como já era prevista nas duas Constituições, as de 
1891 e de 1946, as comissões só foram formadas na década de 50, com a já antiga 
ideologia de Marcha para o Oeste. Comissões foram formadas com o intuito de 
escolher no planalto central um local onde geograficamente tivesse condições de ser 
construída a Capital Federal. 
A escolha, no interior do país, do local onde se construiria a 
nova capital, processou-se através do trabalho de várias 
comissões técnicas e estendeu-se por muitos anos. O ponto 
de partida foi, naturalmente,o art. 3o. da Constituição de 1891, 
que fixara claramente onde seria o futuro Distrito Federal: no 
"Planalto Central da República". (TAMANINI, 2007, p. 01). 
 
Seguindo esses aspectos, no ano de 1894 a Comissão Cruls demarcou no 
Planalto Central, um quadrilátero que marcaria o início de um sonho para os 
goianos. Sonho este que com o passar dos anos foi se intensificando e parecia mais 
próximo da realidade, principalmente quando os goianos, conseguiram fazer a 
transferência de sua própria capital (Goiânia). 
Nesse clima de euforia do momento, alguns políticos goianos de renome, 
como os irmãos Jerônimo e Abelardo Coimbra Bueno, que ajudaram na construção 
física de Goiânia e participaram diretamente do Planejamento de construção e 
Mudança da Nova Capital Federal. Contagiados pela empolgação de terem 
conseguido construir uma cidade moderna, (Goiânia)2 em meio ao cerrado, viram a 
possibilidade de ter dentro do território goiano a Capital Federal. Não foi necessário 
muito tempo e todos já viviam na expectativa de que a mudança da capital federal 
para o sertão do país e principalmente para Goiás, representando enorme progresso 
para o contexto regional e nacional. 
 
1.3 A Transferência da Capital Federal e o contexto Brasileiro. 
 
 
Os lideres políticos do país acreditavam que para o Brasil se desenvolver, 
seria necessário avançar rumo ao oeste. Fazer uma mistura de povos, de homens 
que viviam no sertão, levava uma autêntica vida natural, o verdadeiro sertanejo com 
tradições apegadas às raízes do campo se misturando com homens letrados que 
 
2
 Goiânia, construída na década 30 e inaugurada na década de 40, mostrava arquitetura moderna, sendo umas das 
cidades brasileiras planejadas, que mais impressionavam os brasileiros, principalmente os goianos. 
 
viviam nas grandes cidades, povos que já conheciam o desenvolvimento e levaria 
esses conhecimentos para misturar com o pouco senso de progresso que eles 
imaginam ter os sertanejos que aqui moravam. E esta mistura de povos, junto com 
essa política voltada para o avanço desenvolvimentista rumo ao Oeste, estavam 
ligadas a uma série de mudanças estruturais herdadas da era Vargas, que no 
governo de JK3 ganharam velocidade e diziam respeito principalmente às bases do 
desenvolvimento, ao modelo econômico adotado, com a urbanização crescendo de 
forma acelerada. Fazendo-se então, a travessia do mundo rural para o mundo 
urbano industrial, com profundos impactos, tanto positivos como negativos. “O Brasil 
vivia o que se chamava então de um intenso processo de “modernização” política e 
econômica e sofria todos os impactos, positivos e negativos, daí decorrentes.” 
(D’ARAÚJO, 2008). 
Segundo Maria Celina D’Araújo, todos esses planejamentos, essas bases do 
desenvolvimento foram heranças do governo Vargas, que Juscelino Kubitschek 
soube muito bem aproveitar, dando continuidade aos projetos em andamento, 
podendo dar seqüência de um modo que o seu governo ganharia certa notoriedade, 
com repercussões internacionais. JK soube aproveitar o momento de crise política e 
militar que o país passava para desviar as atenções rumo às metas 
desenvolvimentista, com uma propaganda de que iria acelerar o progresso brasileiro. 
Contando com o apoio de fortes aliados, Juscelino viu a oportunidade de se destacar 
no cenário nacional através de um legado deixado por Getúlio. 
Desse modo temos: 
Este era um legado deixado por Vargas, do qual JK se 
apropriou com maestria. Juscelino adicionava ao 
desenvolvimentismo à ótica do otimismo e da tolerância 
política. E contava, na retaguarda, com um corpo institucional 
 
3
 Abreviação de Juscelino Kubitschek, que será usado no texto abreviado ou não. 
já formalizado e uma estrutura burocrática e estatal 
razoavelmente consolidada, que lhe permitiriam agir e decidir 
mesmo em momentos de crise política ou militar. (SCHILLING, 
2002, p.03) 
 
 Levaram alguns anos até que os planos de construção fossem realmente 
colocados em prática, e quando isso se deu, JK se apropriou de um imenso 
oportunismo. Uma vez que as metas já haviam sido traçadas anos antes, e que o 
governo de Getúlio Vargas deu condições reais para que os projetos de construção 
da cidade que viria se chamar Brasília (nome sugerido por José Bonifácio) fossem 
executados. Com isso Juscelino ao chegar ao poder, se apropria da idéia que mais 
tarde o consagraria um herói nacional, pela coragem e ousadia de construir uma 
capital no “meio do nada”. 
 
 
2.0 A CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA E O CONTEXTO SOCIAL GOIANO. 
 
 
Em Goiás, os discursos e as ações políticas giravam entorno do assunto 
voltado para a construção de Brasília. As lideranças políticas do Estado de Goiás 
tentavam sob todos os modos influenciar as lideranças políticas nacionais, na 
expectativa ter a Nova Capital Nacional em seu território. As coisas pareciam que 
iam dar certo, os planejamentos estavam saindo de acordo com as expectativas 
criadas no imaginário de cada goiano. E há quase quinze anos antes da 
inauguração, nem sabiam o certo se seriam apenas rumores ou não, o governo de 
Goiás coloca um artigo na Constituição Estadual de 1947, tratando como certo a 
transferência da Capital Federal para o sertão de Goiás, e ainda dá garantias de que 
o território da nova cidade seria desmembrado imediatamente do território estadual. 
Como mostra a seguinte citação: 
 A 20 de julho de 1947, quando é promulgada a constituição 
do estado de Goiás, lia-se em seu artigo 54 que a área da 
nova capital seria “desmembrada automaticamente do 
território goiano”. (OLIVEIRA, 2005, p. 101) 
 
Mas as autoridades políticas nacionais, ainda não tinham o mesmo interesse 
e entusiasmos que tinham o povo goiano. Os anos que antecedem o governo JK 
foram politicamente conturbados, Vargas se mata4, o pós-guerra ainda repercutia na 
política econômica da nação e os planos para Brasília haviam sido menos atraentes 
naquele momento da história. Mas os estudos sobre a delimitação do território da 
Nova Capital Federal continuavam, mesmo sendo aos passos lentos, mas 
continuavam. O então presidente Café Filho5 se recusa a assinar o decreto que 
definiria de vez os limites do quadrilátero onde seria construída a nova Capital do 
país. Fato que fez o governo de Goiás tomar decisões mais radicais e ousadas. 
De posse do resultado dos estudos, Pessoa encontra-se com 
Café Filho na tentativa de convencê-lo da necessidade de 
assinar, o quanto antes, o decreto definindo os limites do 
futuro distrito federal. Sua preocupação era evitar a 
especulação imobiliária que poderia se iniciar a partir da 
escolha do sítio. Contudo, Café Filho recusa-se a assinar o 
decreto... Antecipando-se a ação do governo federal, o estado 
de Goiás cria, então, a Comissão de Cooperação da Mudança 
da Capital Federal (pelo Decreto Estadual no 1.258, de 5 de 
outubro de 1955), cujo objetivo central foi a efetiva 
desapropriação da área do Distrito Federal. Interesses 
convergentes dos goianos... (OLIVEIRA, 2005, p. 102) 
 
Tal ato, do Governo de Goiás mostrou ousadia e reforçava mais uma vez o 
ideal de luta e esperança do povo goiano de ter em seu território a tão esperada 
Capital Federal. Fatos e lutas que tiveram como protagonistas o povo goiano, no 
processo de transferência da capital do país, acabaram sendo esquecidos no calor 
das perspectivas que engrandeceram JK. 
 
4
 Versão aceita na época, e ainda a mais aceita até os dias de hoje, mas que levanta suspeitas sob sua veracidade, 
uma vez que Vargas havia causado o descontentamento de muitos, voltando a presidência do país, agora, sobo 
apoio do povo. Algo que não iremos aprofundar, uma vez que não é aqui o nosso objeto de estudos. 
 
5
 Vice-presidente de Getúlio Vargas, que assume após sua morte e fica até JK assumir em 1956. 
 
1.1 A Cidade e suas representações para o povo de Goiás. 
 
Embora tenhamos diante dos conceitos teóricos dos historiadores várias 
maneiras de como interpretar e analisar as cidades, também não é raro 
encontrarmos esta ambigüidade no senso comum. Onde entendemos a cidade como 
sendo uma estrutura geográfica na qual se vive e se trabalha, ou ainda também 
pode ser vista como uma entidade administrativa, como uma estrutura social e 
comunitária, onde nela diferentes sistemas se interagem, buscando o equilíbrio 
urbano em meio a conflitos de e de relações. Sabemos que cada vez mais as 
cidades vêm assumindo o papel de atores sociais, uma vez que os cidadãos que 
nela habitavam ocupam um espaço simbiótico e se organizam sob um poder político 
como sociedade civil, e, ocupam também um espaço simbólico, que integra seus 
habitantes culturalmente, possibilitando a formação de uma identidade coletiva, que 
dinamiza as relações, convertendo a cidade ainda em um espaço que responde a 
objetivos econômicos, políticos e culturais de uma época. 
Desde que as primeiras civilizações conseguiram se organizar enquanto 
grupo social, as cidades, fossem elas grandes ou pequenas, seriam e são por 
excelência um fenômeno cultural. Onde as mais diversas culturas se misturam 
dando origem a outras, e ainda possuem uma força imaginaria capaz de criar 
representações muito antes de se tornar uma realidade. Foi dessa maneira que 
Brasília enquanto cidade representou para os goianos. A fascinação das cidades 
não criou força imaginária apenas para os goianos, os políticos de todo o Brasil 
durante os projetos e a construção de Brasília ficaram fascinados com tamanha 
ousadia de se construir uma cidade no meio do nada com tanto teor de 
modernidade. E este poder e a fascinação representados pelas cidades não surgiu 
com a construção de Brasília, o fascínio pelas vêm desde a antiguidade, como nos 
mostra Pesavento: 
As cidades fascinam. Realidade muito antiga, elas se 
encontram na origem daquilo que estabelecemos como 
indícios do florescer de uma civilização: a agricultura, a roda, a 
escrita, os primeiros assentamentos urbanos. Nessa aurora do 
tempo, milênios atrás, elas lá estavam, demarcando um 
traçado, em formato de quadrado ou circular; definindo um 
espaço construído e organizado, logo tornando icônico do 
urbano – torres, muralhas, edifícios públicos, praças, 
mercados, templos; a exibir sociabilidades complexas e 
inusitadas na aglomeração populacional que abrigavam; a 
ostentar a presença de um poder regulados da vida e de outro 
ordenador do além, na transcendência do divino. 
(PESAVENTO, p. 11, 2007) 
 
A promessa de erigir uma cidade no meio do nada fascinou aos goianos, que 
almejavam algo bom (melhoria de qualidade de vida, desenvolvimento, progresso) 
com a vinda da cidade grande, como seria Brasília no meio do sertão. Tais atos 
fascinavam os lideres políticos de Goiás daquela época, que já estavam 
boquiabertos com a construção de Goiânia. Os sertanejos viam o sonho distante se 
aproximar na medida em que as metas para a construção iam se tornando mais 
reais, e assim a tão esperada cidade passou a ser sonhada, desejada, com uma 
força imaginaria capaz de qualificar o mundo. “O distrito de Alvorada (próximo a 
Alexânia) também surgiu na época da construção e ajuda a provar, com seu nome, o 
quanto Brasília e sua estrada fascinava e atraía”.(SILVA,1997, p. 47). 
 
1.2 A construção da Capital Federal e o choque de culturas: algo que os goianos não 
esperavam. 
 
Uma completa reviravolta se formou de uma hora para outra no ritmo de vida 
dos sossegados povos goianos. O número de pessoas que vieram para Goiás à 
procura de trabalho nas obras de Brasília foi imenso, na maioria das vezes vieram 
com um futuro incerto, sem ter a certeza de que encontraria um trabalho, podendo 
contribuir para o aumento da pobreza na região. O ritmo pacato de interior de Goiás 
havia sido alterado da noite para o dia, com a chegada de trabalhadores para as 
obras e também de funcionários públicos que acompanhavam o Governo Federal, os 
empreendimentos financeiros, agropecuários, comerciais e até minerais, 
modificaram o modo de vida dos habitantes da região. O choque cultural foi enorme, 
pessoas com os mais diferentes costumes vinham com intenções de ganhar melhor, 
através de empregos diretos e indiretos, motivados pela construção de Brasília. 
 
Determinada a transferência da capital federal pela Mensagem 
de Anápolis, de 18 de abril de 1956, a construção de Brasília, 
fixada no prazo de 3 anos e 10 meses, iria modificar tal 
situação. A fantástica cidade futurista, erguida no meio do 
cerrado goiano, seria a nova catalisadora das energias 
nacionais. A máquina administrativa estatal ao sair do Rio de 
Janeiro, onde se encontrava fazia dois séculos, deslocando-se 
para o centro do Brasil, produziu um enorme choque na 
região. Foi como se por lá caísse um meteorito de 
espetaculares proporções. Numa sentada, foram atraídos para 
suas proximidades milhares de trabalhadores (os candangos) 
e transferidos mais de 5 mil funcionários públicos. E, com eles 
empreendimentos agropecuários, comerciais, minerais, e 
financeiros de toda ordem. (SCHILLING, 2002, p.03) 
 
Com o grande número de pessoas, de outros cantos do país, que vieram 
trabalhar nas construções de Brasília, o fluxo de pessoas que vieram para a região 
em busca de dias melhores foi enorme. Mas tanto para os trabalhadores que não 
eram do Estado de Goiás, quanto os trabalhadores goianos, Brasília os fascinavam 
em tamanha proporção, que eles nem se quer perceberam que a cidade, que eles 
tanto esperavam e ajudavam a construir não seria para eles. Os goianos aqui 
esperavam ansiosos pelo resgate progressista que Brasília iria representar, e não 
era somente os políticos do Estado, os principais interessados, os sertanejos do 
interior de Goiás que viviam nas condições mínimas, apenas suficiente para 
manterem suas vidas. Este sujeito goiano, caipira6 por natureza, que aqui aguardava 
com enorme expectativa a conclusão das obras em Brasília, apenas esperavam que 
com vinda da cidade suas vidas melhorassem e aquilo que a sociedade letrada do 
Rio de janeiro desprezavam por lá, seria aparentemente algo que eles necessitavam 
aqui. 
...o Brasil central era um paraíso à espera da civilização. 
Ansiosos por colocar Goiás no mapa, atualizá-lo, entendiam 
que isso só era possível pelo „progresso‟. Aquilo que 
desprezavam no Rio de Janeiro era exatamente o que queriam 
para o sertão. (SILVA, 1997, p. 43) 
 
Mas este ser caipira, com raízes tipicamente ligadas ao campo, seria feliz 
com a inserção de uma outra cultura em seu meio? Será que o sertão de Goiás 
estava tão sedento assim de progresso? Os povos do campo ou das pequenas 
cidades do interior do Estado de Goiás, levavam uma vida autentica, pacata, 
sossegada e sua cultura era essa, um ambiente tranqüilo e em harmonia com a 
natureza. E uma vez que saísse deste ciclo de vida, perderia sua cultura ao se 
assimilar a outras, e então o caipira deixaria de existir. 
A cultura do caipira, como a do primitivo, não foi feita para o 
progresso: a mudança é o seu fim, porque está baseada em 
tipos tão precários de ajustamento ecológico e social, que a 
alteração destes provoca a derrocada das formas de cultura 
por eles condicionada. Daí o fato de encontrarmos nela uma 
continuidade impressionante, uma sobrevivência das formas 
essenciais, sob transformações de superfície, que não atingem 
o cerne senão quando a árvore já foi derrubada – e o caipiradeixou de o ser. (CANDIDO, 1997, p.82-83) 
 
Quando estes sujeitos, goianos interioranos, que a elite da sociedade que 
estava se instalando em Brasília insistia em chamar de “caipiras”, viram suas vidas 
sendo bruscamente alteradas de uma hora para outra, suas expectativas já foram 
 
6
 Pessoa do mato, da roça, sertanejo, pessoas que habitavam o interior de Goiás (e não somente de Goiás) e eram 
vistos como pessoas que ainda aguardavam a civilização. Caipira e sertanejo são sinônimos que iremos estar 
usando constantemente em nosso texto. 
diminuindo e a frustração foi se instalando. Talvez aquele sonhado progresso não 
chegasse como eles tanto esperavam, ou talvez nem chegasse a eles. 
 
1.3 Brasília: símbolo de progresso, expectativas e frustrações para os goianos. 
 
Quando alguém vive imaginado algo (desenvolvimento, progresso) que 
melhore os aspectos socioeconômicos na sociedade em que vive, este acaba por 
experimentar um sentimento de propriedade sobre aquilo que tanto anseia. E isto 
acaba por ser um problema, uma vez que aguardamos algo com muita vontade, 
criam-se também expectativas. E quando aquilo que esperávamos chega, nem 
sempre é como imaginamos, e devido às expectativas antes criadas ainda não 
ficamos satisfeitos, porque estávamos esperando mais. Sentindo-nos insatisfeitos, 
cria-se consequentemente frustrações. Mas os goianos, cada vez mais próximos da 
realização de suas expectativas, nem se quer imaginavam ou tinham qualquer 
espécie de pensamento negativo naquilo que se diz respeito à transferência da Nova 
Capital Federal. Mas as expectativas, segundo KOSELLECK (2006), estão ligadas 
diretamente à categoria das experiências, e é neste sentido que os goianos aqui 
esperavam algo de Brasília. E isto para eles era uma experiência nova, que lhes 
causavam tamanha expectativa de melhoras, progresso, desenvolvimento, enfim 
estavam otimistas, pareciam até que o otimismo de JK havia os contagiado. E não 
muitos anos antes, haviam também passado por uma outra experiência neste 
mesmo sentido, a construção de Goiânia. Contudo iremos trabalhar apenas as 
expectativas que o povo goiano tinha com relação à Brasília, e consequentemente 
suas respectivas frustrações. Embora KOSELLECK (2006) nos mostra as 
expectativas da seguinte maneira: “O par de conceitos “experiência e expectativa” é 
manifestante de uma outra natureza. Não propõe uma alternativa, não se pode ter 
um sem o outro: não há expectativa sem experiência, não há experiência sem 
expectativa. (KOSELLECK, 2006, p. 307)”. 
 E as frustrações, geralmente poderão aparecer quando não conseguimos 
fazer com que as expectativas correspondam à realidade, e neste momento da 
história ainda era muito cedo para levantar algum questionamento neste sentido. 
Mas as ousadias dos projetos de Brasília já passavam ao povo brasileiro e 
principalmente o povo goiano a enorme sensação de expectativas e esperança, e 
quando as enormes edificações começaram a ganhar vida, as expectativas 
aumentaram ainda mais. 
O que era um deserto adquiriu vida. O projeto de Lúcio Costa, 
um dos maiores urbanistas do país - uma planta de um 
enorme pássaro com asas abertas (dividias em Norte e Sul) 
pronto para alçar vôo -, infundiu no povo brasileiro uma 
sensação de esperança como há muito não era possuído (daí 
o escritor André Malraux, ao visitá-la, chamá-la de “ a capital 
da esperança”). Espaço amplíssimo que imediatamente foi 
ocupado pelas espetaculares edificações saídas da prancheta 
do genial Oscar Niemeyer, um discípulo de Le Corbusier, tido 
como um dos pais da arquitetura moderna. (SCHILLING, 2002, 
p.04) 
 
 No processo histórico, em que analisamos as reações dos goianos diante 
das repercussões que Brasília representaria para Goiás, vemos as expectativas 
como um conjunto de possibilidades que quando não atingidas podem provocar as 
mais diversas reações, e entre elas as frustrações, naturalmente. No senso comum, 
as expectativas são entendidas como sendo um conjunto de possibilidades onde 
mentalmente se planeja os resultados que se pretende obter. E Brasília não mostrou 
todos os resultados que o povo goiano aqui esperavam, e aos poucos a tão sonhada 
cidade foi substituindo as expectativas de progresso por frustrações em diversas 
classes da sociedade goiana. 
 
3.0 A CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA NA REALIDADE GOIANA. 
 
A construção de Brasília não trouxe a Goiás somente o grande número de 
operários e funcionários públicos, mas trouxe também a ideologia de 
desenvolvimento, progresso e levaria Goiás em um lugar de destaque no cenário 
nacional. O povo goiano que há tempos já estavam fascinados com a construção de 
uma enorme cidade moderna e planejada como foi Goiânia, ficaram otimistas e 
esperançosos com a construção de Brasília. Algo que aos poucos foi sendo 
esquecido e substituído pela sensação de frustração. Os males que acompanharam 
a construção eram iguais ou até mesmo maiores do que os benefícios. Alem de ter 
um grande choque cultural na região, os casos de violência, drogas, e prostituição 
nos canteiros de obras eram constantes. A seguinte citação mostra desta forma: 
Dias tomados, noites vazias e angustiantes. O livro das 
ocorrências da GEB7 está repleto de casos de embriaguez 
(geralmente acompanhados de desordem, briga e desacato a 
autoridade). As apreensões de armas são constantes. Muito 
roubo e briga envolvendo prostitutas. Jogo, golpes, viadagem, 
estrupos, taras, drogas, loucura, suicídios são referidos 
repetidamente. (SILVA, 1997, p.80) 
 
Tudo isso causavam um certo estranhamento aos entusiasmados sertanejos 
de Goiás, que viam algo, ou ouviam de terceiros as noticias das obras de Brasília, a 
realidade que eles estavam vendo ou ficavam sabendo, não era o que eles antes 
imaginavam e muito menos era o que eles queriam. E o progresso quando viesse 
seria de certo modo até repudiado, pois trazia consigo males de significativas 
proporções. Os políticos que tanto lutaram para ver Brasília no planalto central, não 
tiveram acesso as obras e muito menos foram lembrados. As frustrações dos 
goianos ganhavam o lugar antes ocupado pela enorme expectativa. 
 
7
 Guarda Especial de Brasília. 
 
1.1 Brasília e a expectativa goiana 
 
Aos poucos, o povo goiano foi criando expectativas de ter a Nova Capital 
Federal no território do próprio Estado. Desde as comissões que aqui vieram para 
localização do território a ser construído a nova sede do Governo Nacional, os 
rumores a respeito do assunto só foram aumentando, e os políticos de Goiás que 
também começam a respirar o ar de esperança e otimismo, entram de vez na luta 
pela possibilidade de trazer a Nova Capital Federal para Goiás. Mas o episódio que 
marcou e norteou as expectativas do povo goiano de um modo em geral, foi o início 
da campanha presidencial de Juscelino Kubitschek no interior do Estado de Goiás, 
onde o mesmo quando questionado sobre a possível transferência da Capital 
Federal para Goiás, promete cumprir na íntegra, como mostra a seguinte citação: 
"Em Jataí(...)ocorreu um fato(...)que iria tornar aquele comício 
histórico. Quando ao terminar o discurso, indaguei se alguém 
desejava fazer uma pergunta, um popular(...)me interpelou: Já 
que o senhor se declara disposto a cumprir integralmente a 
Constituição, desejava saber se irá pôr em prática aquele 
dispositivo da Carta Magna que determina a transferência da 
capital da República para o planalto goiano? 
(...)O aparteante chamava-se Antônio Carvalho Soares, o 
Toniquinho. Era coletor estadual. (...) Não hesitei um segundo 
e respondí(...): Acabo de prometer que cumprirei, na íntegra, a 
Constituição, e nãovejo razão para ignorar esse dispositivo. 
Durante o meu quinquênio, farei a mudança da sede do 
Governo e construirei a nova capital. 
(...)Assim, ao deixar Jataí(...), já o meu programa de metas 
estava alterado. As 30 Metas iniciais seriam mantidas, mas a 
elas havia sido acrescentada a da construção de Brasília, que 
eu iria denominar a Meta - Síntese". (KUBITSCHEK, 1978, p. 
137.) 
 
Nesse instante mágico, estava selada definitivamente a sorte da nova capital. 
A princípio embaraçado, Juscelino confirma a intenção e vai rapidamente, 
assimilando a idéia de que a transferência era a alavanca que faltava para articular 
seu Plano de Metas. Por isso, compromete-se com a idéia que lhe era familiar desde 
quando a viveu nos debates da Constituinte de 1946 e a denomina meta-síntese de 
seu Programa. O cenário nacional juntamente com enorme esforço dos políticos 
goianos (como os irmão Coimbra Bueno), cedo o convenceria de que o Planalto 
Goiano daria à nova capital um significado muito mais profundo do que o Triângulo 
Mineiro8. Mas Brasília não seria uma solução econômica imediata, e sim o ponto de 
partida que daria fôlego à "marcha para o Oeste", levando de vez as expectativas de 
progresso ao imaginário dos esperançosos goianos. A transferência da Capital 
Federal para o planalto central, que segundo Silva (1997), foi “o maior episódio da 
republica brasileira”, originou idéias e sonhos de desenvolvimentos e progresso para 
o sertão. 
 
1.2 A construção de Brasília e a frustração goiana. 
 
Juscelino Kubitschek sendo visto como centro das atenções faz com que 
goianos como os irmãos Jerônimo e Abelardo Coimbra Bueno (construtores de 
Goiânia) que foram pioneiros da idéia, no entanto, não participaram da construção 
física de Brasília e acabaram sendo esquecidos, sobrando-lhes a frustração. Pois o 
momento da construção e também depois de concluídas as obras, o grande nome 
era o de Juscelino Kubitschek, visto como herói nacional, homem audacioso e 
genial, como se Brasília na tivesse a importante participação de outras pessoas. 
Os irmãos sonhadores persistiram: a “civilização sertaneja” e a 
“internacional democrática” sustentaram suas vidas. A sua 
participação central no projeto de interiorização da capital foi 
esquecida pela perspectiva que enaltece Juscelino Kubitschek. 
(SILVA, 1997, p. 39) 
 
8
 Local que os mineiros queriam que fosse construída Brasília, e que os goianos enfrentaram forte oposição para 
convencer de que o Planalto Goiano seria o local mais apropriado no momento para tal obra. 
 As lutas que os irmãos Coimbra Bueno enfrentaram não foram poucas, além 
de enfrentar forte oposição política, ainda tiveram que lutar contra os mineiros que 
queriam que Brasília fosse construída no seu território, em especial no Triangulo 
Mineiro. Jerônimo Coimbra Bueno que governou Goiás (1947-1950) e ainda usou as 
atribuições de seu cargo na luta para trazer Brasília para Goiás. ...“foi o homem que 
construiu politicamente Brasília ao conseguir adesão do candidato, depois 
presidente da República, para a causa e a sustentação do projeto no Legislativo” 
(Silva, 1997, p. 39) 
Os goianos começaram a perceber que a construção da nova capital gerou 
um progresso fantasioso, uma utopia. A “conquista do sertão” que antes era 
esperada com entusiasmo, passou a ser vista com olhares duvidosos. Antes todos 
queriam a mudança da Nova Capital, mas agora não se o sertão estava preparado 
para receber o tão sonhado “progresso”. A vida nas pequenas cidades do entorno foi 
bruscamente alterada, deixando os sertanejos frustrados. E é perceptível que antes 
mesmo de sua conclusão, Brasília já “dava as cartas” de frustração ao povo de 
Goiás. 
O sertão não estava tão sedento assim de progresso; e, 
quando este chegou, ficou claro para a maioria da população 
que seus males eram tão grandes ou maiores que seus 
benefícios. Mesmo para a elite sertaneja, aquela a quem mais 
interessava forjar tal identidade integradora (o sertão), o que 
sobreveio não foi o esperado. (SILVA, 1997, p. 51). 
Uma rápida mistura de culturas mudou radicalmente a pacata vida dos 
sertanejos goianos, que esperavam por um desenvolvimento que trouxessem 
progressos e modernidade que lhes permitissem melhores condições de vida. No 
entanto, com a aglomeração de pessoas que vieram de todos os cantos para 
trabalhar nas construções, com o passar do tempo os goianos sentiram o despertar 
de um sonho para uma realidade que não esperavam. Pessoas vinham de todos os 
cantos do Brasil, visando dias melhores se alojavam nas cidades do entorno, 
espalhando uma onda de pobreza na região. Zonas de prostituição começaram a 
aparecer, pessoas que vieram para trabalhar legalmente, ao verem a enorme 
quantidade de trabalhadores vindos de outros lados, buscaram em atividades ilegais 
alguma forma de ganhar a vida mais fácil se aproveitando da grande massa que 
naquela região estava se alojando. Vilas e povoados surgiram de uma hora para 
outra, e depois de concluídas as obras viram seus moradores desaparecerem e 
quase se tornarem “cidades fantasmas”. 
Na Serra do Ouro, povoado próximo a Alexânia, o motivo da 
fixação dos moradores foi antes a existência de um 
restaurante e uma „zona‟, criada para divertir os construtores 
da estrada (inaugurada em 30 de julho de 1958), e, mais tarde, 
a instalação ali de um centro espírita com infra-estrutura, 
alojamentos e escola construídos por uma ex-caminhoneira 
que se tornou a vidente conhecida como Tia Neiva. O distrito 
de Alvorada (próximo a Alexânia) também surgiu na época da 
construção e ajuda a provar, com seu nome, o quanto Brasília 
e sua estrada fascinavam e atraíam. (SILVA, 1997, p. 47) 
 
A ocupação desordenada de Brasília e cidades do entorno, ainda hoje 
refletem no convívio social de seus habitantes, como sendo ainda hoje uma das 
regiões mais violentas e perigosas do Brasil. Tal colocação não está dentro do 
tempo no qual estamos trabalhando, mas é uma importante referencia quando 
comparamos com Brasília no inicio de suas obras. Mas não poderíamos de forma 
alguma afirmar que foi a cidade que trouxe consigo a prostituição e atividades ilegais 
para Goiás, e em especial para aquela região, mas sem sombras de duvidas 
podemos dizer que sua construção contribuiu muito para o significativo aumento 
dessa atividade na região. “Os goianos esperavam muito de Brasília. Quando ela 
chegou, seguiram-se estranhamento e frustrações correspondentes. (SILVA, 1997, 
p.45) 
Por outro lado, os terrenos na região quadruplicaram os preços do dia pra 
noite, movimentando intensamente o mercado imobiliário, beneficiando a pequena 
elite da sociedade e arruinando a grande massa de assalariados e pequenos 
proprietários. Os posseiros surgem em grande quantidade, e passam a ser mais um 
dos problemas sociais que o Estado de Goiás terá que enfrentar, devido a migração 
de milhares de pessoas de todos os cantos do país, que vieram para Goiás em 
busca de melhores condições vida, ligados ao fato de um possível desenvolvimento 
rápido devido a construção de Brasília. 
Discorre, em seguida, sobre os problemas do estado, muitos 
deles ligados à construção de Brasília. Enfatiza o problema da 
migração – “afluxo de milhares e milhares de brasileiros 
desajustados, que demandam a Goiás em busca de uma vida 
melhor” – e prossegue: “Um problema social da mais alta 
gravidade já nos desafia desde agora, ameaçando degenerar-
se num conflito de imprevisíveis conseqüências... (SOUZA, 
2004, p. 43) 
 
O estímulo ao investimento motivado pela construção da nova Capital 
Federal, teve um efeito nefasto no corpo social, principalmente porque atingiu os 
assalariados. De certa maneira,é possível dizer que, através desse mecanismo, 
transferiram-se, indiretamente, os recursos dos assalariados para o setor 
empresarial. Em outros termos, os ricos ficavam cada dia mais ricos e os pobres 
cada vez mais pobres. Para piorar ainda mais a situação, os investimentos 
naturalmente resultaram no incremento da tecnologia. Com isso, restringiu-se a 
criação de novos empregos, atirando os excedentes populacionais em setores 
agrícolas, agropecuários, da indústria extrativa - que eram frágeis -, ou então ao 
comércio e ao setor de serviços, em que o subemprego tornou-se inevitável, dando 
origem a um “subproletariado marginal urbano”. O descontentamento do povo 
goiano com o progresso fantasioso que veio foi enorme. Tal ato agiu na mentalidade 
dessa gente com uma força destrutiva capaz de apagar anos de sonhos e 
expectativas. 
Nos discursos de produção de identidades regionais, esconde-
se um efeito substancializador de caráter mitificante. Existe, 
porém, uma dimensão organizadora nessa construção. Para 
os que esperavam, idealizando-o, o progresso se mostrou 
mais como força destrutiva do que construtiva. O resultado foi 
o estranhamento. (SILVA, 1997, p. 51) 
 
Deste modo, o tão sonhado futuro de progresso para o povo goiano não 
chegaria a todos. O desenvolvimentismo foi o fator ideológico essencial para a 
transferência da capital brasileira. Uma vez que o lema era desenvolver o interior do 
país, levando o progresso para o sertão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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