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Apostila de Comunicação e Expressão

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FATEC – Sorocaba “José Crespo Gonzales” 
Análise e Desenvolvimento de Sistemas – Noturno 
Logística - Vespertino 
Fabricação Mecânica – Turma 1 e Turma 2 – Noturno 
Coletânea de Textos de Comunicação e Expressão 
Prof. Dr. Luiz Fernando Fonseca Silveira 
1º SEMESTRE 2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Caros alunos 
 
Estão reunidos nesta coletânea todos os itens da ementa de COMUNICAÇÃO E 
EXPRESSÃO. 
Todo nosso trabalho terá como ponto de partida os conceitos aqui elencados, o 
que não obstará a oportunidade de nossa reflexão e extrapolação, visto que a Educação é 
uma realidade dinâmica e muitas vezes relativa no que diz respeito aos contextos que 
educandos e educadores podem vivenciar. 
 Espero que as aulas dialogadas com base nos conteúdos pré-estabelecidos sejam 
um início para uma vida de pesquisa que todos abraçarão. 
 
 Prof. Luiz Fernando 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 3 
 
ÍNDICE 
 
Assunto Página 
Comunicação Não Verbal 04 
A qualidade da Leitura 07 
Noção de Texto: Unidade de Sentido 18 
Gêneros Textuais: definição e funcionalidade 23 
O novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa 26 
Procuração 32 
Quando a crase muda o sentido 34 
O desvio da concordância 38 
Relatório 43 
Curriculum Vitae (Currículo) 45 
A redação do Correio Eletrônico 49 
Os dez mandamentos do e-mail 53 
Texto de Opinião: Elementos Constitutivos 58 
Resumo: Elementos Constitutivos 63 
Resenha: Elementos Constitutivos 66 
Computadores descartados pela Europa envenenam 
crianças na África 
70 
Comunicação e Cultura 77 
O texto na era digital 84 
Meios de Comunicação de Massa e Indústria Cultural 89 
Comunicação Oral 93 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4 
COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL
1
 
 
Quando precisamos ou queremos falar com alguém, nossa primeira preocupação é com o 
que falar e, sem dúvida, o conteúdo é um aspecto fundamental da comunicação. Nesta parte, 
veremos outro componente importante: a Comunicação Não verbal (CNV). 
O senso comum nos diz que o sucesso da comunicação depende da habilidade com que 
usamos as palavras — embora não determine se essa é uma habilidade que nasce conosco ou se 
a desenvolvemos ao longo de nossas experiências. 
Os estudos de alguns psicólogos têm demonstrado que, no convívio social, importa mais 
o que fazemos, ou deixamos de fazer, enquanto falamos do que o conteúdo de nossa mensagem. 
É comum ouvir frases como: 
"O problema não foi o que você disse, mas como disse". "Ela falou com tristeza". 
"Quando recebeu a notícia, ficou muito preocupado". 
As emoções são comunicadas sem palavras, antes de serem formuladas na linguagem 
oral. Ansiedade, decepção, alegria, tranquilidade, agressividade, equilíbrio, e tantas outras 
emoções são expressas por intermédio de gestos, tom de voz, expressões faciais e dos olhos, 
postura, toque etc. 
E importante sempre considerar que não há regra, mas tendência, nesse aspecto. Afirmar, 
categoricamente, que uma pessoa sorrindo ou acenando positivamente com a cabeça indica 
aprovação, pode ser um grande erro. Principalmente se não considerarmos os antecedentes desse 
ato ou suas características pessoais. Diante disso, é fundamental desenvolver nosso feeling para 
distinguir as pessoas e as situações. 
Imagine que um candidato à entrevista, nos minutos antecedentes ao seu horário, sente e 
levante várias vezes, cruze e descruze pernas e braços, caminhe em vários sentidos pela sala, 
suspire — o que ele estará expressando sobre seu estado emocional? 
 
Movimentos com a cabeça, expressão dos olhos e da face 
 
Observar a expressão dos olhos de nossos interlocutores pode ser muito útil nas relações 
interpessoais, pois ela revela reações ao que esta sendo falado — o que desperta mais interesse, 
desinteresse, desconfiança, aprovação, desaprovação etc. 
Para o senso comum, "olhar nos olhos" é sinal de integridade e força moral. Entretanto, é 
sabido que algumas pessoas usam o domínio de olhar como técnica de persuasão para dizer as 
mentiras mais atrozes. Já quando se diz algo desagradável, ou se manifesta discordância, é 
comum evitar olhar diretamente para o interlocutor. 
Identificar a expressão dos olhos pode servir para orientar o fluxo de uma conversa entre 
pessoas com pouca convivência. A alternância de quem fala e de quem ouve pode ser 
determinada pela habilidade de perceber quem tem o que dizer ou perguntar sobre o que está em 
pauta, evitando silêncios embaraçosos. 
Um aceno com a cabeça pode indicar concordância ou discordância, encorajando, ou não, 
a continuar a linha de raciocínio desenvolvida. Se acompanhado de um sorriso, pode ressaltar a 
aprovação ou denotar ironia. 
As mais diversas emoções humanas podem ser visualmente transmitidas por meio das 
contrações dos músculos da face. Torcer os lábios pode significar desprezo, abrir a boca e 
levantar as sobrancelhas, pode significar espanto. Franzir os lábios, projetando-os para frente e 
para os lados pode indicar dúvida. 
 
Gestos 
 
São formas e movimentos com as mãos que, frequentemente, acompanham o discurso 
para auxiliar a expressão de quem fala e a compreensão de quem ouve. Servem para reforçar ou 
 
1
 Texto adaptado de in PIMENTA, Maria Alzira. Comunicação Empresarial. 6ª. Ed. São Paulo: Alínea, 
2009 
 5 
transmitir uma atitude, e também podem demonstrar os sentimentos a respeito de alguma 
questão. 
É necessário considerar também que, muitas vezes, os gestos são inconscientes. Enrolar 
ou mexer no cabelo, tocar, alisar o pescoço ou a face são gestos involuntários, que podem servir 
para extravasar tensões acumuladas, gerando equilíbrio e bem-estar. 
Alguns gestos têm significados universais (o V da vitória, OK, a linguagem dos surdos-
mudos etc.), outros são convencionados, variando seu significado para grupos ou culturas 
específicas. 
 
Toque 
 
O toque revela o grau de intimidade e o tipo de relação estabelecida entre duas pessoas. A 
maneira pela qual pais e filhos se abraçam e beijam é diferente daquela dos namorados. 
No trabalho, em razão da preponderância do caráter profissional nas relações, o toque é 
mais raro, em geral, circunscrito às mãos, braços e ombros, tem como objetivo chamar ou 
direcionar a atenção de nossos interlocutores. E possível observar dois tipos de toque 
ritualísticos: apertar as mãos e o controvertido "tapinha nas costas". O primeiro simboliza uma 
predisposição à proximidade e/ou à negociação. O segundo, pode indicar cumplicidade. 
 
Postura 
 
É comum durante a infância e adolescência, as pessoas ouvirem de seus pais 
recomendações sobre como sentar e como andar (com "peito para fora e barriga para dentro"). 
Entretanto, mais importante que julgar se a postura de alguém é correta ou não, a observação 
desta pode nos informar a respeito de suas características. Ombros muito encolhidos e caídos 
podem significar falta de motivação e energia ou ate baixa autoestima. O contrário disso: peito 
exageradamente estufado para fora, pode denotar exibicionismo ou, ainda, arrogância. 
Sentar-se, para uma entrevista ou reunião, sem uma postura adequada, "largado" na 
cadeira, pode ser entendido como desleixo, desinteresse, falta de concentração ou, ainda, 
cansaço (imagine o efeito disso quando uma pessoa se propõe a começar em um novo 
emprego). 
 
Aparência 
 
A aparência de uma pessoa tende a revelar seus conhecimentos, hábitos, preocupações e 
valores. Quando alguémvive com as unhas sujas, provavelmente, se expondo a adquirir 
doenças, é possível deduzir que ele desconhece ou não se preocupa com esse fato. 
Sabemos que é impossível todos nascerem com os dotes físicos das "estrelas", que 
circulam na mídia. Felizmente, qualquer um pode constatar o efeito que cuidados simples têm 
sobre os dotes que herdamos: alimentação adequada e sono suficiente podem tornar-se hábitos 
saudáveis, juntamente com outros — há muitos livros bons sobre esse assunto. 
Para complementar o cuidado com o interior, é essencial que o exterior também esteja em 
harmonia: higiene, cabelos e unhas bem cortados, são fundamentais. 
O modo de vestir, outro componente da aparência, é um aspecto bastante controvertido, 
mas passível de inferências. Guardadas as diferenças culturais (na Europa, tradicionalmente, 
usam-se roupas escuras e, nos trópicos, roupas coloridas), trajes extravagantes para mulheres e 
homens podem denotar uma necessidade de chamar a atenção ou uma total despreocupação com 
a estética e o bom gosto. 
A vestimenta é tão importante que em instituições: hospitais, empresas, escolas, forças 
armadas etc., o uso de uniformes tem a função de facilitar a identificação de quem os usa 
(médico. bombeiro. aluno, faxineiro, soldado, general etc.), seu status e os valores associados à 
função que desempenha. 
 
 
 
 6 
Orientação e proximidade 
 
A orientação é a forma pela qual as pessoas se posicionam fisicamente entre si. 
Dependendo de como o corpo é direcionado, pode revelar a disponibilidade ou interesse em 
interagir com o interlocutor. Colocar-se frente a frente demonstra uma abertura, porque facilita 
contato verbal, visual e até o toque. Já "dar as costas" para alguém revela a falta de empenho 
para estabelecer contato. Por princípio, é gerada uma situação que dificulta a compreensão e a 
troca de mensagens. 
A proximidade é outro fator que permite avaliar se existe, ou não, relação entre um 
conjunto de pessoas e, ainda, que tipo de relação. Toda pessoa tem um território próprio, que só 
será compartilhado por outros com sua concordância. Em um espaço público, é possível 
perceber a formação dos grupos, observando a proximidade de seus componentes e de como 
define um território próprio. Por outro lado, em espaços públicos mais restritos, como 
elevadores, ônibus, metrô etc., existe uma proximidade física que não indica a existência de 
relacionamento. Para demonstrar o isolamento em relação às pessoas próximas, o silêncio é 
mantido, em geral, acompanhado do olhar fixo em algum ponto (porta, paisagem, livro etc.), o 
que coloca obstáculo a qualquer contato. 
 
Paralinguagem 
 
A paralinguagem compreende: 
 
 os sons ou expressões verbais que transmitem um significado (em geral, 
sentimentos), sem constituírem palavras: "ts, ts, ts" (muxoxo), "uau!", 
"Hummm!" etc.; 
 a entonação ou acento atribuídos às palavras enquanto são faladas. Com eles é 
possível transmitir carinho, raiva, espanto e outros acontecimentos. Essas 
variáveis são tão determinantes que diferentes entonações empregadas em uma 
mesma frase podem traduzir respeito e admiração ou, contrariamente, ironia e 
sarcasmo. 
 
Outro aspecto importante, em relação à entonação, pode ser percebido ao se pensar em 
como é difícil manter a concentração quando se ouve alguém falar sempre no mesmo tom. 
Assim, transmitir emoções, valorizar ideias e manter a atenção dos interlocutores depende, 
também, da habilidade em variar o tom do discurso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 7 
Capítulo 3- A qualidade da leitura
2
 
 
1. O que é leitura 
 
Como vimos, a escrita não pode ser considerada desvinculada da leitura. Nossa forma 
de ler e nossas experiências com textos de outros redatores influenciam de várias maneiras 
nossos procedimentos de escrita. Pela leitura vamos construindo uma intimidade muito grande 
com a língua escrita, vamos internalizando as suas estruturas e as suas infinitas possibilidades 
estilísticas. 
Nosso convívio com a leitura de textos diversos consolida também a compreensão do 
funcionamento de cada gênero em cada situação. Além disso, a leitura é a forma primordial de 
enriquecimento da memória, do senso crítico e do conhecimento sobre os diversos assuntos 
acerca dos quais se pode escrever. 
 
A leitura é um processo complexo e abrangente de decodificação de signos e 
de compreensão e intelecção do mundo que faz rigorosas exigências ao 
cérebro, à memória e à emoção. Lida com a capacidade simbólica e com a 
habilidade de interação mediada pela palavra. E um trabalho que envolve 
signos, frases, sentenças, argumentos, provas formais e informais, objetivos, 
intenções, ações e motivações. Envolve especificamente elementos da 
linguagem, mas também os da experiência de vida dos indivíduos. 
 
Os procedimentos de leitura podem variar de indivíduo para indivíduo e de objetivo 
para objetivo. Quando lemos apenas para nos divertir, o procedimento de leitura é bem 
espontâneo. Não precisamos fazer muito esforço para manter a atenção ou para gravar na 
memória algum item. Mas, em todas as formas de leitura, muito do nosso conhecimento prévio 
é exigido para que haja uma compreensão mais exata do texto. Trata-se de nosso conhecimento 
prévio sobre: 
 
 a língua 
 os gêneros e os tipos de texto 
 o assunto 
 
Eles são muito importantes para a compreensão de um texto. É preciso compreender 
simultaneamente o vocabulário e a organização das frases; identificar o tipo de texto e o gênero; 
ativar as informações antigas e novas sobre o assunto; perceber os implícitos, as ironias, as 
relações estabelecidas com o nosso mundo real. Esse é o jogo que torna a leitura produtiva. 
Como exemplo, vamos analisar uma crônica de Luís Fernando Veríssimo. 
 
O PRESIDENTE TEM RAZÃO 
 
Mais uma vez os adversários pinçam, maliciosamente, uma frase do presidente para 
criticar. No caso, a sua observação de que é chato ser rico. Pois eu entendi a intenção do 
presidente. Ele estava falando para pobres e preocupado em prepará-los para o fato de que 
não vão ficar menos pobres e podem até ficar mais, no seu governo, e que isso não é tão ruim 
assim. E eu concordo com o presidente. Ser pobre é muito mais divertido do que ser rico. Pobre 
vive amontoado em favelas, quase em estado natural, numa alegre promiscuidade que rico só 
pode invejar. Muitas vezes o pobre constrói sua própria casa, com papelão e caixotes. Quando 
é que um rico terá a mesma oportunidade de mexer assim com o barro da vida, exercer sua 
criatividade e morar num lugar que pode chamar de realmente seu, da sua autoria, pelo menos 
até ser despejado? Que filho de rico verá um dia sua casa ser arrasada por um trator? Um 
maravilhoso trator de verdade, não de brinquedo, ali, no seu quintal! Todas as emoções que um 
 
2
 GARCEZ, Lucia H. do Carmo. Técnica de Redação: o que é preciso saber para bem escrever. 2004. 
São Paulo: Martins Fontes 
 8 
filho de rico só tem em vídeo game o filho de pobre tem ao vivo, olhando pela janela, só 
precisando cuidar para não levar bala. Mais de um rico obrigado a esperar dez minutos para 
ser atendido por um especialista, aqui ou no exterior, folheando uma National Geographic de 
1950, deve ter suspirado e pensado que, se fosse pobre, aqui/o não estaria acontecendo com 
ele. Ele estaria numa fila de hospital público desde a madrugada, conversando animadamente 
com todos à sua volta, lutando para manter seu lugar, xingando o funcionário que vem avisar 
que as senhas acabaram e que é preciso voltar amanhã, e ainda podendo assistir a uma visita 
teatral do Ministro da Saúde ao hospital, oque é sempre divertido em vez de se chateando 
daquela maneira. E pior. Com toda as suas privações, rico ainda sabe que vai viver muito mais 
do que pobre, ainda mais neste modelo, e que seu tédio não terá fim. Efe Agá tem razão, è um 
inferno. 
Correio Braziliense. Brasília, 2 dez. 1998. 
 
Para compreender adequadamente esse texto, levamos em consideração, além de outros, 
os seguintes conhecimentos prévios: 
 quem é Veríssimo (um escritor de humor, cronista crítico que se opõe ao governo em 
questão); 
 como são, em geral, os outros textos de Luís Fernando Veríssimo (sempre de humor e 
ironia); 
 qual é a sua posição no jornalismo de sua época (é um dos mais conceituados e 
respeitados cronistas de costumes e de política; seus textos são publicados em espaços 
nobres dos principais jornais e revistas brasileiros); 
 quem é o presidente a que ele se refere (o presidente da República no ano de 
publicação, 1998); 
 a que fala do presidente ele se refere (a comparação que estabeleceu entre a vida do 
pobre e do rico); 
 qual é a situação social do Brasil em nossa época e como é realmente a vida nas classes 
menos favorecidas. 
 
Entrelaçando essas informações e a forma como o texto foi escrito, vamos reconsiderar 
o título e as ideias que se repetem pelo texto: o presidente tem razão; eu entendi o presidente; 
eu concordo com o presidente. 
Quando comparamos as descrições da forma de vida dos pobres e dos ricos e a 
afirmação de que ser pobre é muito mais divertido do que ser rico, penetramos no mundo da 
ironia, que no Dicionário Aurélio Eletrônico é definida como: 
 
[Do grego: eiróneia, interrogação; pelo latim, ironia.] S.f. " 
 Modo de exprimir-se que consiste em dizer o contrário daquilo que se está pensando ou 
sentindo, ou por pudor em relação a si próprio ou com intenção depreciativa e 
sarcástica em relação a outrem; 
 Contraste fortuito que parece um escárnio; 
 Sarcasmo, zombaria. 
 
Nessa experiência, podemos constatar que a leitura não é um procedimento simples. Ao 
contrário, é uma atividade extremamente complexa, pois não podemos considerar apenas o que 
está escrito. No texto analisado, por exemplo, para compreender as intenções e posições do 
autor, lemos muito mais o que não está escrito, pois suas ideias são contrárias ao que está 
escrito. 
Como a leitura faz inúmeras solicitações simultâneas ao cérebro, é necessário 
desenvolver, consolidar e automatizar habilidades muito sofisticadas para pertencer ao mundo 
dos que leem com naturalidade e rapidez. Trata-se de um longo e acidentado percurso para a 
compreensão efetiva e responsiva, que envolve: 
 
 
 9 
 decodificação de signos; 
 interpretação de itens lexicais e gramaticais; 
 agrupamento de palavras em blocos conceituais; 
 identificação de palavras-chave; 
 seleção e hierarquização de ideias; 
 associação com informações anteriores; 
 antecipação de informações; 
 elaboração de hipóteses; 
 construção de inferências; 
 compreensão de pressupostos; 
 controle de velocidade; 
 focalização da atenção; 
 avaliação do processo realizado; 
 reorientação dos próprios procedimentos mentais. 
 
Vamos analisar algumas dessas habilidades. 
 
2. Recursos para uma leitura mais produtiva 
 
Um leitor ativo considera os recursos técnicos e cognitivos que podem ser 
desenvolvidos para uma leitura produtiva. A leitura não se esgota no momento em que se lê. 
Expande-se por todo o processo de compreensão que antecede o texto, explora-lhe as 
possibilidades e prolonga-lhe o funcionamento além do contato com o texto propriamente dito, 
produzindo efeitos na vida e no convívio com as outras pessoas. 
Há procedimentos específicos de seleção e hierarquização da informação como: 
 observar títulos e subtítulos; 
 analisar ilustrações; 
 reconhecer elementos paratextuais importantes (parágrafos, negritos, sublinhados, 
deslocamentos, enumerações, quadros, legendas etc.); 
 reconhecer e sublinhar palavras-chave; 
 identificar e sublinhar ou marcar na margem fragmentos significativos; 
 relacionar e integrar, sempre que possível, esses fragmentos a outros; 
 decidir se deve consultar o glossário ou o dicionário ou adiar temporariamente a dúvida 
para esclarecimento no contexto; 
 tomar notas sintéticas de acordo com os objetivos. 
 
Há também procedimentos de eletrificação e simplificação das ideias do texto como: 
 
 construir paráfrases mentais ou orais de fragmentos complexos; 
 substituir itens lexicais complexos por sinônimos familiares; 
 reconhecer relações lexicais/ morfológicas/ sintáticas. 
 
Utilizamos ainda procedimentos de detecção de coerência textual, tais como: 
 
 identificar o gênero ou a macroestrutura do texto; 
 ativar e usar conhecimentos prévios sobre o tema; 
 usar conhecimentos prévios extratextuais, pragmáticos e da estrutura do gênero. 
 
Um leitor maduro usa também, frequentemente, procedimentos de controle e 
monitoramento da cognição: 
 
 planejar objetivos pessoais significativos para a leitura; 
 controlar a atenção voluntária sobre o objetivo; 
 10 
 controlar a consciência constante sobre a atividade mental; 
 controlar o trajeto, o ritmo e a velocidade de leitura de acordo com os objetivos 
estabelecidos; 
 detectar erros no processo de decodificação e interpretação; 
 segmentar as unidades de significado; 
 associar as unidades menores de significado a unidades maiores; 
 autoavaliar continuamente o desempenho da atividade; 
 aceitar e tolerar temporariamente uma compreensão desfocada até que a própria leitura 
desfaça a sensação de desconforto. 
 
Alguns desses procedimentos são utilizados pelo leitor na primeira leitura, outros na 
releitura. Há ainda aqueles que são concomitantes a outros, constituindo uma atividade 
cognitiva complexa que não obedece a uma sequencia rígida de passos. É guiada tanto pela 
construção do próprio texto como pelos interesses, objetivos e intenções do leitor. 
 Como são interiorizados e automatizados pelo uso consciente e frequente, e são apenas 
meios e não fins em si mesmos, nem sempre esses procedimentos estão muito claros ou 
conscientes para quem os utiliza na leitura cotidiana. Vamos aprofundar nosso conhecimento 
acerca de alguns desses procedimentos. 
 
3. Os tipos de leitura e seus objetivos 
 
O objetivo da leitura, como já foi explicado anteriormente, determina de que forma 
lemos um texto. Lemos: 
 por prazer, em busca de diversão, de emoção estética ou de evasão; 
 para obter informações gerais, esclarecimentos, em busca de atualização; 
 para obter informações precisas e exatas, analisá-las e escrever um texto relativo ao 
tema; 
 para estudar, desenvolver o intelecto, em busca de qualificação profissional; 
 para seguir instruções; 
 para comunicar um texto a um auditório; 
 para revisar um texto etc. 
 
Se lemos um jornal, por exemplo, apenas para saber se há alguma novidade interessante, 
empreendemos uma leitura do geral para o particular (descendente): olhamos as manchetes, 
fixamos alguns parágrafos iniciais, passamos os olhos pela página, procurando um ponto de 
atração, e quando o encontramos fazemos um outro tipo de leitura: do particular para o geral 
(ascendente). 
No primeiro tipo somos superficiais, velozes, elaboramos rápidas hipóteses que não 
testamos, fazemos algumas adivinhações. No segundo tipo de leitura somos mais detalhistas, 
queremos saber tudo, procuramos garantir a compreensão precisa, exata. 
 Um leitor maduro distingue qual é o momento de fazer uma leitura superficial e 
rápida {descendente) daquele em que é necessária uma leitura detalhada, 
desacelerada {ascendente), mesmo quandoestá trabalhando ou estudando. Pois, mesmo quando 
estuda, há momentos em que você pode dispensar certos textos, ou partes de textos, que já são 
conhecidos. 
 
4. Procedimentos estratégicos de leitura 
 
Um texto para estudo, em geral, exige do leitor uma grande concentração, uma atenção 
voluntária e controlada. Esse tipo de leitura detalhada, minuciosa, que um estudante precisa 
desenvolver é o que vamos focalizar aqui. Há muitos recursos e procedimentos para uma leitura 
mais produtiva. Alguns você já usa naturalmente, outros pode incorporar ao seu acervo de 
habilidades. 
 
 11 
a) Estabelecer um objetivo claro 
 
Sempre que temos um objetivo claro para a leitura vamos mais atentos para o texto. Já 
sabemos o que queremos e ficamos mais atentos às partes mais importantes em relação ao nosso 
objetivo. 
Estabelecer previamente um objetivo nos ajuda a escolher e a controlar o tipo de leitura 
necessário: ascendente ou descendente; detalhada, lenta, minuciosa, ou rápida e superficial. 
É importante construir previamente algumas perguntas que ajudam a controlar o 
objetivo e a atenção, como, por exemplo: 
 Qual é a opinião do autor? 
 Quais são as informações novas que o texto veicula? 
 O que este autor pensa desse assunto? Em que discorda dos que já conheço? O que 
acrescenta à discussão? 
 Qual é o conceito, a definição desse fenômeno? 
 Como ocorreu esse fato? Onde? Quando? Quais são suas causas? Quais são suas 
consequências? Quem estava envolvido? Quais são os dados quantitativos citados? 
 O que é mais importante nesse texto? O que eu devo anotar para utilizar depois no meu 
trabalho'? 
 
Quando começamos uma leitura sem nenhuma pergunta prévia, temos mais dificuldade 
em identificar aspectos importantes, distinguir partes do texto, hierarquizar as informações. 
 
b) Identificar e sublinhar com lápis as palavras-chave 
 
As palavras que sustentam a maior carga de significado em um texto são chamadas de 
palavras-chave. Elas podem apresentar uma pequena variação de leitura para leitura, de leitor 
para leitor, pois cada um imprime sua visão ao que lê. O Dicionário Aurélio Eletrônico registra: 
 
Verbete: palavra-chave S.f. 
 Palavra que encerra o significado global de um contexto, ou que o explica e 
identifica: A palavra-chave deste romance é angústia. 
 Palavra que serve para identificar num catálogo de livros ou de artigos, numa 
listagem ou na memória de um computador, os elementos que têm entre si um 
certo parentesco ou que pertencem a um certo grupo. 
 
Sem elas o texto perde totalmente o sentido. Por meio delas podemos reconstituir o 
sentido de um texto, elaborar um esquema ou síntese. Normalmente são os substantivos, verbos 
e certos adjetivos. Não são palavras gramaticais: artigos, conectivos, pronomes, preposições ou 
advérbios. 
Nos dois parágrafos seguintes, vamos identificar as palavras-chave: 
 
Nenhuma criança trabalha porque quer. Mas porque é obrigada. Prova disso é 
que só as pobres entram precocemente no mercado de trabalho. No Brasil, três 
milhões de menores entre 10 e 14 anos saem de casa todos os dias para garantir o 
próprio sustento e, muitas vezes, o da família. Alguns nunca entraram 
mana escola. Outros tiveram que abandonar os livros antes do tempo. Jogados nas 
ruas ou em atividades insalubres, a maioria tem o destino traçado. De uma ou 
outra forma, está condenada. Não terá direito ao futuro. 
Entre a multidão de trabalhadores mirins, encontram-se cerca de cinquenta mil 
em situação desumana e degradante. São os catadores de lixo. Eles disputam com 
cães, porcos, ratos e urubus o que os outros jogam fora. A partir dos três ou 
quatro anos, os menores acompanham os pais aos aterros sanitários para catar 
a sobrevivência. O resultado de um dia de labor sob sol ou chuva é parco. Rende 
de um a seis reais. 
 12 
Correio Braziliense. Brasília, 19jun. 1999. Editorial. 
 
A partir das palavras destacadas (você poderia sugerir outras) podemos compreender e 
reconstituir o assunto principal do texto. O reconhecimento das relações lexicais, morfológicas e 
sintáticas estabelecidas na configuração da superfície do texto é um pressuposto necessário para 
que leitor possa tomar decisões. É importante aprender a selecionar e hierarquizar as ideias para 
identificar as palavras principais. Há muitos detalhes que são usados em um texto para 
esclarecer ou enriquecer a informação já dada. Não fazem falta a não ser estilisticamente. 
Veja, por exemplo, a frase: Eles disputam com cães, porcos, ratos e urubus o que os 
outros jogam fora. O teor de informação nova agregado ao que já tinha sido dito é muito 
pequeno. E apenas uma ilustração explicativa contundente. 
Observe a continuação desse texto e exercite sua capacidade de selecionar palavras importantes, 
destacando-as: 
 
Na tentativa de pôr fim a esse quadro dramático, o Fundo das Nações Unidas para 
a Infância (Unicef), em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente e a 
Secretaria do Desenvolvimento Urbano, lançou a campanha Criança no Lixo 
Nunca Mais. A meta é erradicar o trabalho dos catadores mirins até 2002. Para 
chegar lá, 31 instituições governamentais e não governamentais fornecerão 
orientações a prefeituras de 5.507 municípios sobre elaboração de projetos e 
formas de buscar recursos para implementá-los. A mela é ambiciosa. Ninguém 
imagina que seja fácil atingi-la. O desenvolvimento de um programa com 
semelhante dimensão deve, necessariamente, envolver a União, os estados, os 
municípios, além de parcerias com a iniciativa privada e a população em geral. 
Acima de tudo, exige vontade política. 
O governo está convocado a estabelecer políticas eficazes para atrair às escolas 
as crianças agora lançadas no mais abjeto dos infortúnios - a disputa de alimentos 
com os abutres. Há caminhos abertos nesse sentido. Um deles é a garantia de 
renda mínima para as famílias em estado de pobreza absoluta, incapazes de 
alimentar os filhos e, ao mesmo tempo, mantê-los no colégio. Nenhum esforço de 
tirar o menor do labor diário dará resultado se não for assegurado o sustento do 
núcleo em que ele vive. Outro caminho é a reciclagem educacional dos pais para 
que possam comparecer ao mercado de trabalho em condições de disputar 
empregos dignos. 
Não há tempo a perder. São 50 mil brasileiros que pedem socorro. Clamam por 
saúde e educação. A sociedade espera que a iniciativa do Unicef prospere. Espera, 
sobretudo, que o governo faça a sua parte. O amanhã se constrói a partir de hoje. 
E a perspectiva é de que nossos filhos e netos herdem um país melhor. A existência 
de uma multidão de meninos buscando a sobrevivência no lixo constitui mau 
presságio. Sugere que poderá não haver nenhum futuro. E indispensável e urgente 
modificar, para melhor, o cenário. 
Correio Braziliense. Brasília, 19jun. 1999. Editorial. 
 
Observe como as palavras destacadas por você carregam o significado mais importante 
da mensagem e permitem que as ideias principais sejam recuperadas. É preciso observar e 
compreender para hierarquizar e selecionar. Tudo depende de treino, experiência. Ou seja, uma 
boa leitura depende de muita leitura anterior. 
 
c) Tomar notas 
 
Uma ajuda técnica imprescindível, principalmente para quem lê com o objetivo de 
estudar, é tomar notas. A partir das palavras-chave, o leitor pode ir destacando e anotando 
pequenas frases que resumem o pensamento principal dos períodos, dos parágrafos e do texto. 
Pode também marcar com lápis nas margens para identificar por meio de títulos pessoais as 
partes mais importantes, os objetivos, as enumerações, as conclusões, as definições, os 
 13 
conceitos, os pequenos resumos que o próprio autor elabora no decorrerdo texto e tudo o mais 
que estiver de acordo com o objetivo principal da leitura (algumas edições já trazem esse 
destaque na margem para facilitar a leitura). Essas notas podem gerar um esquema, um resumo 
ou uma paráfrase. 
 
d) Estudar o vocabulário 
 
Durante a leitura de um texto, temos que decidir a cada palavra nova que surge se é 
melhor consultar o dicionário, o glossário, ou se podemos adiar essa consulta, aceitando nossa 
interpretação temporária da palavra a partir do contexto. Observe o seguinte período do texto: 
 
O governo está convocado a estabelecer políticas eficazes para atrair às escolas as crianças 
agora lançadas no mais abjeto dos infortúnios - a disputa de alimentos com os abutres. 
 
A palavra abjeto pode gerar dúvidas no leitor, mas podemos perceber que ela não é 
essencial ao texto. Quando retirada, o período preserva significado. Talvez não seja tão 
necessário nesse caso consultar o dicionário, já que o contexto esclarece que se trata de uma 
ideia negativa que intensifica (junto com o advérbio mais) a negatividade que está 
em infortúnios. Poderíamos tentar substituí-la por outras mais conhecidas: indigno, horrível, 
desprezível, e a frase continuaria apresentando ideia lógica. 
Esses procedimentos de inferência e compreensão lexical são realizados com muita 
velocidade pelo leitor. Quando a continuidade da leitura se torna prejudicada, o melhor mesmo é 
parar e ir ao dicionário. 
 
e) Destacar divisões no texto para agrupá-las posteriormente 
 
É importante compreender essas divisões para estabelecer mentalmente um esquema do 
texto. Muitas vezes o autor não insere gráficos, esquemas, nem explicita por meio de 
enumerações as divisões que faz das ideias. Preste bem atenção quando o texto apresenta 
estruturas assim: 
 
 Em primeiro lugar... em seguida... em terceiro lugar... 
 Inicialmente... a seguir... finalmente... 
 Primeiramente... em prosseguimento... por último... 
 Por um lado... por outro lado... 
 Num primeiro momento... num segundo momento... 
 A primeira questão é... A segunda... A terceira... 
 
Por meio da identificação dessas estruturas é possível reconstruir o raciocínio do autor e 
torna-se mais fácil elaborar esquemas e resumos. No texto que estamos analisando há um 
exemplo interessante: 
 
O governo está convocado a estabelecer políticas eficazes para atrair às escolas as 
crianças agora lançadas no mais abjeto dos infortúnios a disputa de alimentos com os 
abutres. Há caminhos abertos nesse sentido. Um deles é a garantia de renda mínima para as 
famílias em estado de pobreza absoluta, incapazes de alimentar os filhos e, ao mesmo tempo, 
mantê-los no colégio. Nenhum esforço de tirar o menor do labor diário dará resultado se não 
for assegurado o sustento do núcleo em que ele vive. Outro caminho é a reciclagem 
educacional dos pais para que possam comparecer ao mercado de trabalho em condições de 
disputar empregos dignos. 
 
A identificação dessas estruturas textuais na leitura facilita a compreensão das ideias e 
cria uma matriz mental para organização e hierarquização das informações. 
(....) 
 14 
 
g) Identificação da coerência textual 
 
Diante de cada novo texto temos de identificar as estruturas básicas para compreender 
seu funcionamento. Assim, identificamos imediatamente o que é um poema, o que é uma 
fábula, o que é um texto dissertativo. 
Como a escrita é para ser lida e compreendida a distância, sem interferência do autor no 
momento da leitura, sua elaboração exige uma estrutura exata, precisa, clara, que assegure ao 
leitor uma decodificação correta e adequada. Para tanto o autor usa estruturas sintáticas 
complexas, estabelecendo minuciosamente as relações entre as ideias, já que não pode contar 
com o apoio do contexto, das expressões faciais, do conhecimento comum. Isso acontece 
principalmente nos textos de natureza informativa: dissertações, argumentações, reportagens e 
ensaios, os quais privilegiamos neste livro. Quanto menos compromisso o texto tem com a 
informação exata, mais espaço deixa para os acréscimos e interpretações do leitor, como é o 
caso da publicidade, da poesia e dos textos literários em geral, nos quais a polissemia (convívio 
de uma multiplicidade de significações sobre uma mesma base) predomina. 
Um texto bem escrito apresenta sempre uma certa dose de repetição, de redundância, 
para auxiliar o leitor a chegar às conclusões desejadas pelo autor. Quando o interesse for 
assegurar uma compreensão predeterminada, precisa, exata, naturalmente será produzido um 
texto mais denso, mais estruturado. Terá por base um planejamento lógico, em que as 
sequencias tenham uma articulação necessária entre si mesmas. Esses textos não são fáceis e 
não são compreendidos à primeira leitura, superficial e rápida. É preciso um rígido controle da 
atenção, um objetivo claro para a leitura, um empenho constante para fazer os relacionamentos 
adequados tanto entre as ideias interiores ao próprio texto, como entre o texto e os 
conhecimentos prévios do leitor e suas experiências vividas. 
Isso significa que a leitura para apreensão de informações deve ser uma leitura pausada, 
desacelerada, que vai do particular para o geral e volta do geral para o particular 
constantemente. Uma decifração que procura percorrer o mesmo raciocínio do autor do texto, 
refazendo o trajeto do seu pensamento original, para apreender, discutir, concordar ou se opor a 
essas ideias. 
Durante a leitura é preciso conferir as interpretações, fazendo perguntas ao texto. Para 
isso fazemos perguntas elementares: 
 Quem escreve? Autor. 
 Que tipo de texto é? Gênero. 
 A quem se destina? Público. 
 Onde é veiculado? Suporte editorial. 
 Qual o objetivo? Intenções. 
 Com que autoridade? Papel social do autor. 
 O que eu já sei sobre o tema? Conhecimentos prévios do leitor. 
 Quais são os outros textos que estão sendo citados? Intertextualidade. 
 Quais são as ideias principais? Informações. 
 Quais são as partes do texto que apresentam objetivos, conceitos, definições, 
conclusões? Quais são as relações entre essas partes?Estrutura textual. 
 Com que argumentos as ideias são defendidas? Provas. 
 Onde e de que maneira a subjetividade está evidente? Posicionamento explicitado. 
 Quais são as outras vozes que perpassam o texto? Distribuição da responsabilidade 
pelas ideias. 
 Quais são os testemunhos utilizados? Depoimentos. 
 Quais são os exemplos citados? Fatos, dados. 
 Como são tratadas as ideias contrárias? Rebatimento ou antecipação de oposições. 
 
Além dessas, há muitas outras perguntas que o leitor vai propondo à medida que lê e de 
acordo com os seus objetivos. Esse diálogo, essa interação entre leitor e texto exige a ativação 
de conhecimentos que extrapolam a simples decodificação dos elementos constitutivos do texto. 
 15 
Essas informações pragmáticas vêm iluminar e esclarecer os significados e estabelecer a 
coerência textual do que é lido. 
Caso essas perguntas não sejam respondidas de maneira adequada, podemos incorrer em 
equivoco, interpretando mal os objetivos e consequentemente as informações e os significados. 
 
h) Percepção da intertextualidade 
 
Um texto traz em si marcas de outros textos, explícitas ou implícitas. A esse fenômeno 
chamamos intertextualidade. Essa ligação entre textos pode ir de uma simples citação explícita a 
uma leve alusão, ou até mesmo a uma paródia completa, em que a estrutura do texto inicial é 
utilizada como base para o novo texto. Essa associação é prevista pelo autor e deve ser feita pelo 
leitor de forma espontânea, na proporção em que partilhe conhecimentos com o autor. Em textos 
mais complexos, a intensidade do esforçopara compreender a intertextualidade pode variar e 
sempre depende de conhecimentos prévios comuns ao autor e ao leitor. Vamos analisar um 
exemplo bem simples de intertextualidade: 
 
CONTRAFÁBULA DA CIGARRA E DA FORMIGA 
Adaptação Feita por Pedro Bandeira do texto do escritor português Antônio A. Batista 
 
A formiga passava a vida naquela formigação, aumentando o rendimento da sua capita e 
dizendo que estava contribuindo para o crescimento do Produto Nacional Bruto. Na 
trabalheira do investimento, sempre consultando as cotações da Bolsa, vendendo na alta e 
comprando na baixa, sempre atenta, aos rateios e às subscrições. Fechava contratos em 
Londres já com um pé no Boeing para Frankfurt ou Genebra, para verificar os dividendos de 
suas contas numeradas. 
Mas vivia também roendo-se por dentro ao ver a cigarra, com quem estudara no ginásio, 
metida em shows e boates, sempre acompanhada de clientes libidinosos do Mercado Comum. 
E vivia a formiga a dizer por dentro: 
-Ah, ahl No inverno, você há de aparecer por aqui a mendigar o que não poupou no verão! E 
vai cair dura com a resposta que tenho preparada para você! 
Ruminando sua terrível vingança, voltava a formiga a tesourar e entesourar investimentos e 
lucros, incutindo nos filhos hábitos de poupança, consultando advogados e 
tomando vasodilatadores. 
Um dia, quando voltava de um almoço no La Tambouille com os japoneses da informática, 
encontrou a cigarra no shopping Iguatemi, cantarolando como de costume. 
Lá vem ela dar a sua facada, pensou a formiga. "Ah, ah, chegou a minha vez!" 
Mas a cigarra aproximou-se só querendo saber como estava ela e como estavam todos no 
formigueiro. 
A formiga, remordida, preparando o terreno para sua vingança, comentou: 
- A senhora andou cantando na tevê todo este verão, não foi, dona Cigarra? 
- E claro! - disse a cigarra. - Tenho um programa semanal. 
- Agora no inverno é que vai ser mau - continuou a formiga com toda maldade na voz. - A 
senhora não depositou nada no banco, não é? 
São faz mal. Os meus discos não saem das paradas. E acabei de fechar um contrato com o 
Olympia de Paris por duzentos mil dólares... 
O quê?! -- exclamou a formiga. - A senhora vai ganhar duzentos mil dólares no inverno? 
- Não. Isso é só em Paris. Depois, tem a excursão a Nova York, depois Londres, depois 
Amsterdam... 
Aí a formiga pensou no seu trabalho, nas suas azias, na sua vida terrivelmente cansativa e nas 
suas ameaças de enfarte, enquanto aquela inútil da cigarra ganhava tanto cantando e se 
divertindo! E perguntou: 
- Quando a senhora embarca para Paris? 
- Na semana que vem... 
- E pode me fazer um favor? Quando chegar a Paris, procure lá um tal La Fontaine. E diga-lhe 
que eu quero que ele vá para o raio que o parta! 
 16 
 
Trata-se de uma fábula, ou seja, uma historieta de ficção, de cunho popular e de caráter 
alegórico, destinada a ilustrar um preceito, uma sabedoria. O próprio título anuncia a intenção. 
O autor parte do pressuposto de que seus leitores conhecem a fábula da Cigarra e da Formiga do 
autor francês La Fontaine e que reconhecerão imediatamente a sua paródia. Utilizando uma 
situação similar à fábula original, atualiza suas circunstâncias e modifica seu 
final (intertextualidade implícita na estrutura). Segundo sua posição crítica, hoje em dia, no 
mundo dominado pelos meios de comunicação e pelo hedonismo, os artistas podem chegar a ser 
milionários com mais rapidez e facilidade do que quem trabalha incansavelmente pensando 
exclusivamente no dinheiro, e a mensagem original, contrária ao prazer, não estaria mais 
funcionando. E também um juízo a favor da arte em oposição à especulação financeira. 
A história em si é engraçada, mas a alusão à fábula original (na última fala da formiga) 
cria a intertextualidade explícita, já que remete à lição de moral tradicional e multiplica o humor 
do texto. 
 
i) Monitoramento e concentração 
 
Durante a leitura podemos exercer um relativo controle consciente sobre as nossas 
atividades mentais, disciplinando-as e submetendo-as aos nossos interesses. Esse controle é 
essencial para que a leitura seja produtiva. Ele não é espontâneo e depende de treino e 
concentração. Por isso é necessário prestar bem atenção no que fazemos enquanto lemos para 
termos mais domínio sobre as nossas próprias habilidades de leitura. 
 
· Fidelidade ao planejamento: antes de começar a ler um texto sempre estabelecemos, 
consciente ou inconscientemente, uma espécie de roteiro: como vamos ler? para que vamos ler? 
Esse roteiro deve ser controlado e reavaliado durante a leitura. Algumas vezes pode merecer 
reorientação. Estou mesmo perseguindo meu objetivo? Já me distraí? Mudei o meu trajeto de 
leitura? Criei outro objetivo no percurso? 
 
· Detecção de erros no processo de leitura: algumas vezes lemos muito rapidamente enquanto 
pensamos em outra coisa e, quando percebemos a distração, temos que voltar e reler aquele 
trecho. Esse é um exemplo de como controlamos naturalmente os nossos erros de leitura. Outras 
vezes, interpretamos mal uma passagem e no decorrer da leitura percebemos que as ideias estão 
contraditórias. Voltamos, então, para conferir a decodificação das palavras e a interpretação. 
Essa capacidade de avaliar constantemente a própria leitura precisa ser desenvolvida. 
 
· Ajuste de velocidade: o leitor deve controlar a velocidade de leitura de acordo com as 
dificuldades que o texto oferece e com os objetivos da leitura. Às vezes, podemos ler mais 
rapidamente: quando o assunto é conhecido, quando o trecho é fácil ou quando a leitura tem por 
objetivo a simples distração. Outras vezes, temos que ler desaceleradamente: quando estudamos 
assuntos desconhecidos, quando o texto é denso e complexo ou quando contém muitos 
implícitos. Para garantir esse controle é necessário ter uma consciência contínua dos 
procedimentos que estão sendo utilizados, além de uma disposição para avaliar a qualidade da 
própria leitura. 
 
· Tolerância e paciência: muitas vezes, desistimos da leitura de um texto no primeiro 
parágrafo. Esse procedimento é precipitado. É preciso mergulhar profundamente no texto para 
dar-lhe uma chance de ser bem sucedido. Na maioria das vezes, a leitura se torna, pouco a 
pouco, mais fácil e as dificuldades preliminares vão se resolvendo. Esse desconforto no início 
de um texto é muito comum, pois é natural que o começo da compreensão seja ainda uma ideia 
desfocada. A primeira leitura, com frequência, não é satisfatória e é preciso empreender uma 
segunda, já com alguma informação sobre o texto e com mais atenção e concentração. 
 
 
 
 17 
5. Conhecendo melhor o processo de leitura 
 
Como vimos, a escrita depende de nosso conhecimento do assunto, da língua e dos 
modelos de texto; para isso, a leitura é fundamental. É um processo complexo que exige do 
leitor uma série de habilidades cognitivas muito sofisticadas. Uma única leitura nem sempre é 
suficiente; geralmente é necessário voltar ao texto algumas vezes, conforme nossos objetivos. E 
são os objetivos que vão direcionar o tipo de leitura que vai ser realizado. Em qualquer situação 
de leitura utilizamos procedimentos que nos auxiliam a compreender e interpretar o texto. É 
importante desenvolver adequadamente essas estratégias de apoio técnico, de simplificação e de 
monitoração das atividades mentais de forma que possamos otimizar nosso esforço, ou seja, 
conseguir o melhor resultado da maneira mais prática e simples. Habilidades que agilizem os 
procedimentos contribuem para que não haja desperdício de energia e de tempo, e também para 
que a leitura se transforme, a cada dia, em um exercício mais prazeroso. Pela leitura 
interiorizamos as estruturas da língua,os gêneros, os tipos de texto, os recursos estilísticos com 
mais eficácia que pelas aulas e exercícios gramaticais. Assim, naturalmente, a leitura ajuda a 
escrever melhor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 18 
NOÇÕES DE TEXTO: UNIDADE DE SENTIDO 
 
 O texto, considerado como um todo organizado de sentido, é a unidade básica com 
que devemos trabalhar, porque é no texto que o usuário da língua exercita a sua capacidade 
de organizar e transmitir ideias, informações, opiniões em situações de interação 
comunicativa. 
 
1. Conceitos de Texto 
A - Segundo Koch e Travaglia 
 
O texto será entendido como uma unidade linguística concreta, que é tomada 
pelos usuários da língua, em uma situação de interação comunicativa 
específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função 
comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da sua extensão. 
(Koch e Travaglia, 1989). 
 
 
B - Segundo M. H. Duarte Marques 
 
Do ponto de vista linguístico, que nos interessa nessa unidade, adotamos, como ponto de 
partida, as considerações de Marques (1990). Na sua abordagem, textos são conjuntos de 
unidades discursivas estruturadas, não apenas de acordo com padrões sintático-gramaticais, mas 
também inter-relacionadas segundo princípios lógico-semânticos, de que a gramática não dá 
conta. 
 
“As unidades discursivas inter-relacionadas de acordo com os princípios 
lógico-semânticos constituem textos”. Textos caracterizam-se, assim, pela 
coerência conceitual, pela coesão sequencial de seus constituintes no plano do 
significado, pela adequação às circunstâncias e condições de uso da língua. 
O conceito que normalmente temos de texto é empírico. Diante de uma série de 
enunciados não inter-relacionados dentro desses princípios lógico-semânticos, 
numa dada situação de uso da língua, sabemos que não estamos diante de um 
texto. Para que identifiquemos como texto uma série de enunciados 
encadeados, é preciso que a sequencie de enunciados forme um todo 
significativo, constitua uma unidade de sentido, nas circunstâncias de uso em 
que ocorrem. 
Um texto pode ser, portanto, escrito ou falado, apresentar extensão ou duração 
variáveis, concretizar-se em qualquer registro, ou modalidade de uso, da 
língua. 
Um texto pode ser uma passagem escrita, em verso, ou em prosa, um provérbio, 
uma legenda de fotografia, uma simples exclamação, a totalidade de um livro, 
um artigo de periódico, uma crônica, um verbete de dicionário, uma 
reportagem, um anúncio. Um texto pode ser uma sequencia de atos de fala, um 
diálogo, uma conversa telefônica, uma conferência, uma aula, um simples grito, 
longas discussões acerca de um tema, comentários, informes, notícias 
veiculadas oralmente." 
 
C - Segundo Fiorin e Savioli 
 
Embora as definições de texto sejam muitas, repetimos aqui as palavras de Fiorin e Savioli 
(1996), por considerar que se trata de uma definição bastante abrangente: 
 
 19 
"Um todo organizado de sentido, delimitado por dois brancos e produzido por 
um sujeito num dado espaço e num dado tempo." 
 
2. O texto como processo3 
A Linguística Textual parte do pressuposto de que todo fazer (ação) é necessariamente 
acompanhado de processos de ordem cognitivo, de modo que o agente dispõe de modelos e 
tipos de operações mentais. No caso do texto, consideram-se os processos mentais de que 
resulta o texto, numa abordagem procedimental. De acordo com KOCH (2004) , nessa 
abordagem “os parceiros da comunicação possuem saberes acumulados quanto aos diversos 
tipos de atividades da vida social, têm conhecimentos na memória que necessitam ser ativados 
para que a atividade seja coroada de sucesso”. Essas atividades geram expectativas, de que 
resulta um projeto nas atividades de compreensão e produção do texto. 
A partir da noção de que o texto constitui um processo, HEINEMANN e VIEHWEGER 
(1991) definem quatro grandes sistemas de conhecimento, responsáveis pelo processamento 
textual: 
Conhecimento linguístico: corresponde ao conhecimento do léxico e da gramática, 
responsável pela escolha dos termos e a organização do material linguístico na superfície 
textual, inclusive dos elementos coesivos. 
Conhecimento enciclopédico ou de mundo: compreende as informações armazenadas na 
memória de cada indivíduo. O conhecimento do mundo compreende o conhecimento 
declarativo, manifestado por enunciações acerca dos fatos do mundo (“O Paraná divide-se em 
trezentos e noventa e nove municípios”; “Santos é o maior porto da América Latina”) e o 
conhecimento episódico e intuitivo, adquirido através da experiência (“Não dá para encostar o 
dedo no ferro em brasa.”). Ambas as formas de conhecimento são estruturadas em modelos 
cognitivos. Isso significa que os conceitos são organizados em blocos e formam uma rede de 
relações, de modo que um dado conceito sempre evoca uma série de entidades. É o caso de 
futebol, ao qual se associam: clubes, jogadores, uniforme, chuteira, bola, apito, arbitro... Aliás, 
graças a essa estruturação, o conhecimento enciclopédico transforma-se em conhecimento 
procedimental, que fornece instruções para agir em situações particulares e agir em situações 
específicas. 
Conhecimento interacional: relaciona-se com a dimensão interpessoal da linguagem, ou 
seja, com a realização de certas ações por meio da linguagem. Divide-se em: 
 conhecimento ilocucional: referentes aos meios diretos e indiretos utilizados para atingir 
um dado objetivo; 
 conhecimento comunicacional: ligado ao anterior, relaciona-se com os meios adequados 
para atingir os objetivos desejados; 
 conhecimento metacomunicativo: refere-se aos meios empregados para prevenir e evitar 
distúrbios na comunicação (procedimentos de atenuação, paráfrases, parênteses de 
esclarecimento, entre outros). 
Conhecimento acerca de superestruturas ou modelos textuais globais: permite aos usuários 
reconhecer um texto como pertencente a determinado gênero. 
 
Contexto e interação 
 
O processamento do texto depende não só das características internas do texto, como do 
conhecimento dos usuários, pois é esse conhecimento que define as estratégias a serem 
 
3
 Texto extraído do artigo “A Linguística Textual e seus mais recentes avanços” de Paulo de Tarso 
Galembeck (UEL), disponível em http://www.filologia.org.br/ixcnlf/5/06.htm, acesso 
em 10/02/2010 
 
 20 
utilizadas na produção/recepção do texto. Todo e qualquer processo de produção de textos 
caracteriza-se como um processo ativo e contínuo do sentido, e liga-se a toda uma rede de 
unidades e elementos suplementares, ativados necessariamente em relação a um dado contexto 
sociocultural. Dessa forma, pode-se admitir que a construção do sentido só ocorre num dado 
contexto. 
Aliás, segundo SPERBER e WILSON (1986:109 e ss.) o contexto cria efeitos que 
permitem a interação entre informações velhas e novas, de modo que entre ambas se cria uma 
implicação. Essa implicação só é possível porque existe uma continuidade entre texto e contexto 
e, além do mais, a cognição é um fenômeno situado, que acontece igualmente dentro da mente e 
fora dela. 
O sentido de um texto e a rede conceitual que a ele subjaz emergem em diversas 
atividades nas quais os indivíduos se engajam. Essas atividades são sempre situadas e as 
operações de construção do sentido resultam de várias ações praticadas pelos indivíduos, e não 
ocorrem apenas na cabeça deles. Essas ações sempre envolvem mais de um indivíduo, pois são 
ações conjuntas e coordenadas: oescritor / falante tem consciência de que se dirige a alguém, 
num contexto determinado, assim como o ouvinte/leitor só pode compreender o texto se o 
inserir num dado contexto. A produção e a recepção de textos são, pois, atividades situadas e o 
sentido flui do próprio contexto. 
Essa nova perspectiva deriva do caráter diálogo da linguagem: o ser humano só se 
constrói como ator e agente e só define sua identidade em face do outro. O ser humano só o é 
em face do outro e só define como tal numa relação dinâmica com a alteridade (BAKHTIN, 
1992). A compreensão da mensagem é, desse modo, uma atividade interativa e contextualizada, 
pois requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes e habilidades e a inserção desses 
saberes e habilidades no interior de um evento comunicativo. 
O sentido de um texto é construído (ou reconstruído) na interação texto-sujeitos (ou 
texto-co-enunciadores) e não como algo prévio a essa interação. A coerência, por sua vez, deixa 
de ser vista como mera propriedade ou qualidade do texto, e passa a ser vista ao modo como o 
leitor/ouvinte, a partir dos elementos presentes na superfície textual, interage com o texto e o 
reconstrói como uma configuração veiculadora de sentidos. 
Cabe assinalar, em forma de conclusão, que essa nova visão acerca de texto, contexto e 
interação resulta, inicialmente, de uma contribuição relevante, proporcionada pelos estudiosos 
das ciências cognitivas: a ausência de barreiras entre exterioridade e interioridade, entre 
fenômenos mentais e fenômenos físicos e sociais. De acordo com essa nova perspectiva, há uma 
continuidade entre cognição e cultura, pois esta é apreendida socialmente, mas armazenada 
individualmente. 
Ressalta-se, também, a evolução da noção de contexto. Para a análise transfrástica o 
contexto era apenas o co-texto (segmentos textuais precedentes e subsequentes, a um dado 
enunciado). Já para a Gramática de Texto contexto é a situação de enunciação, conceito que foi 
ampliado para abranger, na Linguística Textual, o entorno sociocultural e histórico comum aos 
membros de uma sociedade e armazenado individualmente em forma de modelos cognitivos. 
Atualmente, o contexto é representado pelo espaço comum que os sujeitos constroem na própria 
interação. 
 
 21 
 
 
Texto 1 - Circuito Fechado, de Ricardo Ramos 
 
"Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de 
barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme 
para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, 
níqueis, jornais, documentos, caneta, chaves, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. 
Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. 
Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, 
canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, 
papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, 
cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, 
cinzeiros, cadeiras, esboço de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. 
Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, 
xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, 
papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova 
de anúncio, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e 
caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. 
Quadros. Mesa, cadeira, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. 
Abotoaduras, camisa, sapato, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, 
escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro." 
 
Texto 2 
 22 
 
 Texto 3 
João vai à padaria. A padaria é feita de tijolos. Os tijolos são caríssimos. Também os 
mísseis são caríssimos. Os mísseis são lançados no espaço. Segundo a Teoria da 
Relatividade, o espaço é curvo. A geometria rimaniana dá conta desse fenômeno. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 23 
Gêneros textuais: definição e funcionalidade – Luiz Antonio Marcuschi 
 
1.Gêneros textuais como práticas sócio-históricas 
 
 Os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural 
e social. 
 Fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as 
atividades comunicativas do dia a dia. 
 São entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer 
situação comunicativa. 
 No entanto, mesmo apresentando alto poder preditivo e interpretativo das ações 
humanas em qualquer contexto discursivo, os gêneros não são instrumentos estanques e 
enrijecedores da ação criativa. Caracterizam-se como eventos textuais altamente 
maleáveis, dinâmicos e plásticos. 
 
 Surgem emparelhados a necessidades e atividades sócio-culturais, bem como na relação 
com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se considerar a 
quantidade de gêneros textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à 
comunicação escrita. 
 
2. Novos gêneros e velhas bases 
 
 Os gêneros textuais não se caracterizem nem se definam por aspectos formais, sejam 
eles estruturais ou linguísticos, e sim por aspectos sócio-comunicativos e funcionais, 
isso não quer dizer que estejamos desprezando a forma. 
 Suponhamos o caso de um determinado texto que aparece numa revista científica e 
constitui um gênero denominado "artigo científico"; imaginemos agora o mesmo texto 
publicado num jornal diário e então ele seria um "artigo de divulgação científica". 
 Assim, num primeiro momento podemos dizer que as expressões "mesmo texto" e "mesmo 
gênero" não são automaticamente equivalentes, desde que não estejam no mesmo suporte. 
 
3.Definição de tipo e gênero textual 
 
 Trata-se de distinguir entre o que se convencionou chamar de tipo textual, de um lado, e 
gênero textual, de outro lado. 
 Partimos do pressuposto básico de que é impossível se comunicar verbalmente a não 
ser por algum gênero, assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser por 
algum texto. Em outros termos, partimos da ideia de que a comunicação verbal só é 
possível por algum gênero textual. 
 
(a) Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de construção teórica 
definida pela natureza linguística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos 
verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de 
categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. 
 
(b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir 
os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características 
sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição 
característica. Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros. Alguns 
exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, 
bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, 
receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, 
inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea,conferência, carta 
 24 
eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante. 
 
(c) Usamos a expressão domínio discursivo para designar uma esfera ou instância de 
produção discursiva ou de atividade humana. Esses domínios não são textos nem discursos, 
mas propiciam o 
 
(d) surgimento de discursos bastante específicos. Do ponto de vista dos domínios, 
falamos em discurso jurídico, discurso jornalístico, discurso religioso etc., já que as atividades 
jurídica, jornalística ou religiosa não abrangem um gênero em particular, mas dão origem a 
vários deles. 
 
 Constituem práticas discursivas dentro das quais podemos identificar um conjunto 
de gêneros textuais que, às vezes} lhe são próprios (em certos casos exclusivos) 
como práticas ou rotinas comunicativas institucionalizadas. 
 
4. Algumas observações sobre os tipos textuais 
 
 Em geral, a expressão "tipo de texto", muito usada nos livros didáticos e no nosso dia-a-
dia, é equivocadamente empregada e não designa um tipo, mas sim um gênero de texto. 
 É evidente que em todos estes gêneros também se está realizando tipos textuais, 
podendo ocorrer que o mesmo gênero realize dois ou mais tipos. 
 Assim, um texto é em geral tipologicamente variado (heterogêneo). Veja-se o caso da 
carta pessoal, que pode conter uma sequencia narrativa (conta uma historinha), uma 
argumentação (argumenta em função de algo), uma descrição (descreve uma situação) e 
assim por diante. 
 Portanto, entre as características básicas dos tipos textuais está o fato de eles serem 
definidos por seus traços linguísticos predominantes. 
 
5. Observações sobre os gêneros textuais 
 
 Bakhtin [1997] dizia que os gêneros eram tipos "relativamente estáveis" de 
enunciados elaborados pelas mais diversas esferas da atividade humana. 
 São muito mais famílias de textos com uma série de semelhanças. Eles são eventos 
linguísticos, mas não se definem por características linguísticas: caracterizam-se, 
como já dissemos, enquanto atividades sóciodiscursivas. Sendo os gêneros 
fenômenos sócio-históricos e culturalmente sensíveis, não há como fazer uma lista 
fechada de todos os gêneros. 
 A expressão "gênero" sempre esteve, na tradição ocidental, especialmente ligada aos 
gêneros literários. 
 Os gêneros não são entidades naturais como as borboletas, as pedras, os rios e as 
estrelas, mas são artefatos culturais construídos historicamente pelo ser humano. 
Não podemos defini-los mediante certas propriedades que lhe devam ser necessárias 
e suficientes. 
 Assim, um gênero pode não ter uma determinada propriedade e ainda continuar 
sendo aquele gênero. Por exemplo, uma carta pessoal ainda é uma carta, mesmo que 
a autora tenha esquecido de assinar o nome no final e só tenha dito no início: 
"querida mamãe". 
 Uma publicidade pode ter o formato de um poema ou de uma lista de produtos em 
oferta; o que conta é que divulgue os produtos e estimule a compra por parte dos 
clientes ou usuários daquele produto. 
 
6. Observações finais 
 
 Em conclusão a estas observações sobre o tema em pauta, pode-se dizer que o 
 25 
trabalho com gêneros textuais é uma extraordinária oportunidade de se lidar com 
a língua em seus mais diversos usos autênticos no dia-a-dia. Pois nada do que 
fizermos linguisticamente estará fora de ser feito em algum gênero. 
 Assim, tudo o que fizermos linguisticamente pode ser tratado em um ou outro 
gênero. 
 E há muitos gêneros produzidos de maneira sistemática e com grande incidência 
na vida diária, merecedores de nossa atenção. Inclusive e talvez de maneira 
fundamental, os que aparecem nas diversas mídias hoje existentes, sem excluir a 
mídia virtual, tão bem conhecida dos internautas ou navegadores da Internet. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 26 
NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA 
 
TIPOS DE ESCRITA 
 
 Existem dois tipos de escrita: 
 Escrita Fonográfica – baseada no som 
 Escrita Ideográfica – baseada na idéia (ex. a escrita do chinês) 
 
 No caso do Português, nossa escrita é basicamente fonográfica, do tipo Escrita 
Alfabética. Entretanto, sabemos que a língua muda, no tempo e no espaço, 
fazendo surgir as v a r i e d a d e s que incluem os falares regionais. 
 Daí surge o dilema: qual variedade vai ser usada na escrita? 
 Em Português, por ex., em certas regiões do Brasil o encontro do fonema 
consonantal /t/ com a vogal /i/ dá origem à pronúncia /tch/ (ex. /tchio/), ao lado 
da forma usual (ex. /tio/), assim como o fonema /d/, seguido da mesma vogal, dá 
origem à pronúncia /dj/, como em /djia/ em oposição à forma /dia/. Fica a 
pergunta: como devemos escrever essas palavras? 
 Para evitar oscilação e confusão com escritas que variam o tempo todo, surge a 
necessidade de se padronizar a escrita, ou seja, criar uma forma padrão, como 
que neutra, que é simplesmente resultado de um acordo, uma convenção social: 
surge assim a ORTOGRAFIA. 
 A Ortografia é uma invenção relativamente recente na história da escrita. Nas 
línguas neolatinas, o caso do português ilustra a mais recente: nossa ortografia 
tem apenas 100 anos! 
 
O QUE É ORTOGRAFIA? 
 
 “Entende-se por ortografia um conjunto de normas convencionais pelas quais se 
representam na escrita os sons da fala. Para tal fim também se utilizam acentos gráficos 
e outros sinais diacríticos que permitem a boa pronúncia das palavras representadas na 
escrita” 
(BECHARA, 2008, p. 71) 
 
ACORDO ORTOGRÁFICO 
 
BREVE HISTÓRICO 
 
O SURGIMENTO DA ORTOGRAFIA 
 
 Cagliari (1999, 2001): As gramáticas antigas do séc. XVI propunham modos 
diferentes de se escrever o Português da época. Em geral, os autores grafavam as 
palavras como achavam melhor, havia muita confusão! Exemplos: 
 
Documentos do séc. XII 
 - Onrras (honras), 
- oueru (houveram) 
 - Devison (divisão) 
 - Forum (foram) 
 - Deru (deram) 
 
 27 
Autores do séc. XVI 
 - Omilde (humilde) 
 - Omées (homens) 
 - Sima, Çima (cima) 
 - Jente (gente) 
 
Autores do séc. XIX 
 
 - mactar (matar) 
 - septe (sete) 
 - thio (tio) 
 - hombro (ombro) 
 É dessa época a presença de /th/, /ph/, /w/,/y/, /k/ 
 
No período que vai do séc. XVI até o XX (1904) a falta de uma forma padrão de se 
escrever as palavras em português – uma ortografia oficial – levou os gramáticos a uma 
longa discussão sobre qual seria a forma adequada de se escrever. A situação ficou 
bastante complicada até que em 1904, A.R. Gonçalves Viana lançou em Portugal a 
“Ortografia nacional – simplificação e uniformização das ortografias portuguesas”. Esta 
obra teve grande impacto no Brasil e em 1907 a Academia Brasileira de Letras tentou 
uniformizar a escrita aqui também. A partir disso, houve modificações em: 1912, 1915, 
1919, 1929, 1931, 1938, 1943, 1945, 1955 e em 1971. 
 
NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO 
 
 O novo Acordo de Língua Portuguesa foi aprovado em 1990, em Lisboa, 
pela Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Letras e delegações de 
Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com a 
delegação de observadores da Galiza. 
 
POR QUE FAZER UM NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO? 
 
“Porque o Português é língua oficial em oito Estados soberanos, mas tem duas 
ortografias, ambas corretas, a de Portugal e a do Brasil. Existem desvantagens na 
manutenção desta situação e a língua será internacionalmente tanto mais importante 
quanto maior for o seu peso unificado. Assim, a existência dedupla grafia: 
 
 No plano intracomunitário: limita a dinâmica do idioma e as diferenças criam 
obstáculos, maiores ou menores, em todos os incontáveis planos em que a forma escrita 
é utilizada: seja a difusão cultural (literatura, cinema, teatro); a divulgação da 
informação (jornais, revistas, mesmo a TV ou a Internet); as relações comerciais 
(propostas negociais, textos de contratos) etc., onde o Português escrito é utilizado. 
 
No plano internacional: limita a capacidade de afirmação do idioma, 
provocando, por exemplo, traduções quer literárias quer técnicas diferentes 
para Portugal e Brasil.” (Carlos Alberto Faraco) 
 Diz respeito às alterações quanto ao uso dos chamados sinais diacríticos 
(trema, hífen e acentos: agudo, grave e circunflexo). 
 
O QUE MUDA NA ORTOGRAFIA USADA NO BRASIL? 
 28 
 
 
I. O ALFABETO E OS NOMES PRÓPRIOS ESTRANGEIROS E SEUS 
DERIVADOS 
 
O ALFABETO 
 As letras k, w e y incorporam-se ao alfabeto da língua portuguesa, que 
passa de 23 a 26 letras, cada uma delas com uma forma minúscula e outra maiúscula. 
 
II. ACENTUAÇÃO GRÁFICA 
 
PALAVRAS PAROXÍTONAS 
 
 CONCEITO: palavras paroxítonas são aquelas cuja sílaba tônica é a 
penúltima. 
 
 NOVO ACORDO: manteve algumas regras de acentuação gráfica, enquanto 
outras foram alteradas. 
 
 IMPORTANTE: mesmo com a perda do acento gráfico de algumas palavras, 
elas continuarão a ser pronunciadas como antes. 
 
ACENTO AGUDO 
 
Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das sílabas tônicas das palavras 
paroxítonas, uma vez que existe oscilação em muitos casos entre pronúncia fechada e 
aberta: 
 
(éi / ei): assembleia, ideia, boleia / baleia, cadeia, meia, cheia 
 
(ói / oi): jiboia, heroico, paranoico / dezoito, biscoito, comboio 
 
COMO ERA COMO FICA 
 
 assembléia assembleia 
 alcatéia alcateia 
 andróide androide 
 apóia (verbo apoiar) apoia 
 apóio (verbo apoiar) apoio 
 bóia boia 
 celulóide celuloide 
 colméia colmeia 
 heróico heroico 
 idéia ideia 
 
ATENÇÃO: Essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam 
a ser acentuadas as palavras oxítonas terminados em éi e ói seguidos ou não de -s. 
 
 papéis fiéis 
 corrói heróis 
 29 
 
Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando estas 
vogais estiverem precedidas de ditongo. 
 
 COMO ERA COMO FICA 
 feiúra feiura 
 bocaiúva bocaiuva 
 
ACENTO CIRCUNFLEXO 
 
Perde o acento gráfico a vogal tônica e fechada do hiato oo em palavras paroxítonas, 
seguidas ou não de -s. 
 
 COMO ERA COMO FICA 
 
 abençôo abençoo 
 dôo (verbo doar) doo 
 enjôo enjoo 
 magôo (verbo magoar) magoo 
 perdôo (verbo perdoar) perdoo 
 povôo (verbo povoar) povoo 
 vôos voos 
 zôo zoo 
 
Perdem o acento gráfico as formas verbais paroxítonas conjugadas na 3ª p. do pl. do 
presente do indicativo ou subjuntivo dos verbos crer, dar, ler e ver e seus derivados: 
 
COMO ERA COMO FICA 
 crêem creem 
 dêem deem 
 lêem leem 
 vêem veem 
 
ACENTO DIFERENCIAL 
 
Perdem o acento gráfico as palavras paroxítonas que são homógrafas (mesma grafia, 
mas significados diferentes): 
 
COMO ERA COMO FICA 
pára /para para (verbo e preposição) 
pêlo/pelo pelo (substantivo e per + lo) 
péla/pela pela (verbo pelar e per + lo) 
pêra/péra pera (substantivo e preposição antiga) 
pólo/polo polo (substantivo e por + lo) 
 
 
EXCEÇÃO: pôr (verbo) / por (preposição) 
 pôde (pret. perf. ind) / pode (presente ind.) 
 
 30 
OBSERVAÇÃO: Perde o acento gráfico também a forma para (do verbo parar) 
quando entra num composto separado por hífen. 
 
 para-brisa(s) 
 para-choque(s) 
 para-lama (s) 
 
 
TREMA 
 
Não se usa mais o trema em palavras portuguesas ou aportuguesadas nos grupos gue, 
gui, que, qui. 
 
COMO ERA COMO FICA 
agüentar aguentar 
cinqüenta cinquenta 
bilíngüe bilíngue 
lingüiça linguiça 
tranqüilo tranquilo 
 
O trema será mantido em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: mülleriano 
de Müller. 
 
OBSERVAÇÃO: 
 
 Com o fim do trema em palavras portuguesas ou aportuguesadas, não 
haverá modificação na pronúncia dessas palavras. O trema não será mais usado, 
mas as palavras que o possuíam continuarão a ser pronunciadas como antes. 
 
O HÍFEN 
 
EM PREFIXOS 
 
Regra básica 
Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-homem. 
 
Outros casos 
 
1. Prefixo terminado em vogal: 
• Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo. 
• Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto, semicírculo. 
• Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracismo, antissocial, 
ultrassom. 
• Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-ondas. 
 
2. Prefixo terminado em consoante: 
• Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-bibliotecário. 
• Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, supersônico. 
• Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante. 
 
 31 
Casos específicos 
 
1. Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r sub-
região, sub-raça etc. Palavras iniciadas por h perdem essa letra e juntam-se sem hífen: 
subumano, subumanidade. 
 
2. Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e 
vogal: circum-navegação, pan-americano. 
 
3. Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-almirante. 
 
4. O prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se 
inicia por o: coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação. 
 
5. Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição, 
como girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista. 
 
6. Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen: 
ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar, recém-casado, pós-graduação, pré-
vestibular, pró-europeu. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 32 
PROCURAÇÃO 
 
 Instrumento por meio do qual a pessoa física ou jurídica outorga poderes a outra 
pessoa. Sempre que o documento for público, deve ser lavrado, registrado em cartório, NA 
PRESENÇA DE TESTEMUNHAS e com firmas reconhecidas.. 
O documento deve ter título (Procuração), constar nome, nacionalidade, estado civil, 
profissão CPF e domicílio do OUTORGANTE (mandante) e do OUTORGADO (procurador). 
Deve constar a finalidade do documento, data e assinatura do OUTORGANTE. 
 
EXEMPLO 1: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROCURAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
Por este instrumento particular de procuração, eu, Maria Cristina dos Santos Horta, brasileira, 
casada, residente e domiciliada em Sorocaba, SP, na Rua Dr. Lago de Campos, no. 54, aluna da 
Faculdade de Direito da Universidade de Sorocaba, aprovada no quinto semestre do Curso de 
Bacharelado, nomeio e constituo meu bastante procurador o senhor José Antonio de Oliveira 
Peixoto, brasileiro, solteiro, maior, residente e domiciliado em Araçoiaba da Serra, na Rua das 
Brisas, no. 23, com o fim especial

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