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MÉTODOS CITOGENÉTICOS DIAGNÓSTICOS PROF. EDIVALDO DE OLIVEIRA ehco@ufpa.br ASPECTOS GERAIS A citogenética é a área da biologia que estuda os cromossomos e suas implicações na genética, sendo uma união da biologia celular com a genética. A citogenética é a ciência que estuda a constituição genética da célula através dos cromossomos. Cromossomos são as estruturas visualizadas durante a divisão celular que levam a informação genética de um indivíduo. A história da citogenética começa em 1903, quando o americano Walter Sutton e o alemão Teodor Boveri estabeleceram a Teoria Cromossômica da Herança. Sutton e Boveri deram início a uma revolução científica que permitiu a caracterização de numerosas síndromes antes não explicadas e o surgimento de novas especialidades na Genética Humana com aplicações na prevenção, no diagnóstico e na terapêutica médica. As alterações cromossômicas numéricas e estruturais constituem uma categoria importante de doenças genéticas. A avaliação citogenética é recomendada para os portadores de malformações congênitas, atraso no desenvolvimento mental, indivíduos com alterações no desenvolvimento sexual, hipogonadismo, esterilidade masculina, aborto de repetição e natimortos. Citogenética: o início Com a teoria cromossômica da herança Mendeliana (Sutton & Boveri, 1902), deu-se início aos estudos dos cromossomos. citogenética animal e vegetal: Primeiros 50 anos do século passado. A citogenética humana iniciou com 50 anos de atraso. Dificuldades Iniciais Os cortes histológicos usuais geralmente perturbavam as mitoses. Os cromossomos tendiam a ficar uns sobre os outros e a se aglomerar. Novas Metodologias (década de 50) Uso de uma suspensão de células intactas que podiam ser comprimidas em uma lâmina. Uso do tratamento com solução hipotônica, fazendo com que os cromossomos ficassem mais afastados entre si. Colchicina A cultura de linfócitos de sangue periférico(década de 60) é a metodologia mais utilizada para obtenção de cromossomos metafásicos, sendo que os mesmos também podem ser obtidos diretamente de células de medula óssea ou a partir de culturas de fibroblastos ou outros tecidos. Colchicina Fitohemaglutinina Meio de cultura Fixação e Lavagem Os estudos morfológicos permitem a avaliação da constituição cromossômica numérica e estrutural, sendo que esta avaliação é realizada através da coloração convencional, onde os cromossomos são organizados em grupos de acordo com o tamanho e posição do centrômero. Através de técnicas de bandeamento, é produzido um padrão de bandas claras e escuras ao longo dos cromossomos, possibilitando a individualização de cada par cromossômico. Metáfase em bandeamento G Solução de um enigma: Síndrome de Down Lejeune et al (1959): relato de estudos cromossômicos de uma cultura de fibroblastos de nove crianças com síndrome de Down, 2n=47. O cromossomo extra foi descrito como pequeno e “telocêntrico”. A não disjunção meiótica foi sugerida como explicação mais provável para o cromossomo adicional. Exame de cromatina sexual em pacientes com síndrome de Turner e de Klinefelter. Síndrome de Turner: ausente Síndrome de Klinefelter: presente. Jacobs & Strong (1959): análise de cromossomos mitóticos em pacientede com síndrome de Klinefelter (2n=47). Ford et al. (1959): cariótipo com 45 cromossomos em pacientes com síndrome de Turner. Primeiros Relatos de Trissomias e Monossomias dos Cromossomos Sexuais Análise de Cromossomos Metafásicos Humanos Cerca de 50% dos casos de abortos espontâneos estão relacionados a ocorrência de aneuploidias. Cerca de 0,7-1% dos nativivos apresentam algum tipo de mutação cromossômica, na maioria dos casos aneuploidias. A incidência aumenta para 5% se incluirmos os natimortos. ANORMALIDADE INCIDÊNCIA (%) TRISSOMIA DO 13 2 TRISSOMIA DO 16 15 TRISSOMIA DO 18 3 TRISSOMIA DO 21 5 OUTRAS 25 MONOSSOMIA DO X 20 TRIPLOIDIA 15 TETRAPLOIDIA 5 OUTROS 10 ANORMALIDADES CROMOSSÔMICAS EM ABORTOS ESPONTÂNEOS Coloração Convencional: Giemsa ou orceína acética. Métodos de bandeamento: conferência de Paris (1971): Padronização e nomenclatura dos cromossomos. A B C D E F G Técnica de Hibridização in situ Utilização de sondas fluorescentes. Sondas cromossomo-específicas Sondas loco-específicas. Microscopia de fluorescência Análise em núcleos interfásicos PRODUÇÃO DAS SONDAS CROMOSSOMO-ESPECÍFICAS Citometria de fluxo A citogenética interfásica, principalmente com o advento da hibridização in situ, podem trazer informações não só quanto a organização do material genético durante essa fase de intenso metabolismo celular, mas também sobre modificações referentes ao aumento ou diminuição de cópias de genes e ocorrência de rearranjos cromossômicos. Verde: Centrômero do Cromossomo 17 Vermelho: TP53 Síndrome de DiGeorge 22q11.2 Hibridização genômica comparativa (HGC) Técnica de citogenética molecular desenvolvida para rastrear ganho ou perda cromossômica em tumores DNA teste (verde) hibridiza com DNA referência (vermelho). As imagens dos sinais fluorescentes são capturadas. A razão verde/vermelho é quantificada Sample CGH Vantagens Análise de todo geneoma em um só teste Rapidez 9até 72 horas) Desvantagens Alto custo Não detecta mosaicismos, translocações balanceadas Array-CGH Patologia dos Cromossomos Humanos: Aberrações cromossômicas Epidemiologia das Anomalias Congênitas Causa Freqüência (%) Genéticas 15 - 25 Cromossômica 10 - 15 Gene único 2 - 10 Multifatoriais 20 - 25 Ambientais 8 - 12 Doença materna 6 - 8 Uterina-placentária 2 - 3 Drogas e químicos 0,5 - 1 Gemelaridade 0,5 - 1 Desconhecida 40 - 60 Felix, T; Giugliani, R, 2007 Jacobs et al., 2002 Distúrbios cromossômicos TIPO DE ABERRAÇÃO FREQÜÊNCIA AO NASCIMENTO Trissomia do 21 1 em 600 Trissomia do 18 1 em 3.000 Trissomia do 13 1 em 5.000 47,XYY 1 em 1.000 meninos 47,XXX 1 em 1.000 meninas Prevalência de aberrações cromossômicas no RN Mecanismos de Criação de Mutações Cromossômicas Numéricas O mecanismo mais importante é a não- disjunção. O atraso anafásico pode levar à perda de um único cromossomo, ou mesmo ganho, caso esse cromossomo seja incluído no mesmo núcleo de sua cromátide irmã. Poliploidização por dispermia ou problemas de segregação. Rearranjos estruturais podem originar gametas desbalanceados, devido a problemas na segregação dos cromossomos durante a meiose. Rearranjo estrutural: portador normal, gametas não balanceados. Erros em divisões mitóticas após a formação do zigoto podem originar mosaicos, e o quadro clínico dependerá da percentagem de células afetadas. Algumas Síndromes causadas por Rearranjos Numéricos Síndrome de Down Incidência: 1 a 2/1000 A condição é bem definida. Sua freqüência aumenta com a idade materna. Os indivíduos afetados são os únicos com a condição em uma família de outro modo saudável. Em uma pequena minoria encontra-se mais de um caso na família. Cariótipo Padrão da Síndrome de Down Presença de um cromossomo 21 a mais, seja como trissomialivre, seja como um cromossomo translocado. Já foram observadas translocações com os cromossomos 21, 22, 13, 14 ou 15. Aparentemente, a banda 21q22 é a responsável por esse fenótipo, visto que pacientes com 2n=46 e duplicação in tandem do 21 sem essa banda apresentava um leve retardo mental, sem o fenótipo característico. Idade materna Ocorrência de S. Down 15 a 29 anos 1/1500 30 a 34 anos 1/800 35 a 39 anos 1/270 40 a 44 anos 1/100 Acima de 45 anos 1/40 Sindrome de Patau Patau et al. (1960) descreveram o primeiro caso de uma trissomia autossômica além da trissomia do 21. Trissomia do cromossomo 13. Afeta cerca de 1/20.000 nascidos vivos As características diagnósticas incluem fenda labial e palatina, defeitos cardíacos congênitos, polidactilia, retardo mental, hérnia umbilical, unhas dos dedos deformados. Sindrome de Edwards A trissomia do cromossomo 18 afeta 1/10.000 nascidos vivos. A maioria dos afetados é do sexo feminino. Cerca de 80-90% morrem antes de completar 2 anos. As características diagnósticas incluem nariz e boca pequenos, mandíbula retraída, orelhas malformadas e de baixa implantação, deformidades de flexão dos dedos, entre outros. Outras síndromes autossômicas Outras síndromes autossômicas são conhecidas, mas são extremamente raras. Essas incluem trissomia 8, síndrome de Warkany (47,XX ou XY,+8), e a síndrome do olho de gato, causada pela trissomia do cromossomo 22. Mutações numéricas envolvendo os cromossomos sexuais Várias mutações cromossômicas numéricas envolvendo o par sexual são conhecidas em nativivos. As duas síndromes mais conhecidas, devido aos seus respectivos quadros clínicos característicos, são a síndrome de Turner, única monossomia observada em nativivos (45, X0), e a síndrome de Klinefelter (47, XXY). Outras anomalias numéricas, como 47, XXX ou 47, XYY, normalmente não causam quadros clínicos graves, muitas vezes passando despercebidos. Síndrome de Turner (45, X0) Cerca de 1/10.000 meninas nascidas vivas apresentam essa syndrome. Apresentam QI próximo ao normal, mas são caracterizadas por um quadro clínico que incluem subdesenvolvimento dos ovários, tronco em forma de barril, baixa estatura e pescoço alado. Síndrome de Klinefelter Aproximadamente 1/10.000 meninos nascidos vivos apresentam essa síndrome caracterizada por um cariótipo 47, XXY Estatura alta e infertilidade são comuns O diagnóstico pode ser feito com esfregaço bucal, com a presença de um corpúsculo de Barr. A maior parte das características dessa síndrome são causadas pela falta de produção de testosterona. Mulheres com trissomia do X Correspondem a aproximadamente 1/1000 mulheres. A fertilidade é normal, mas apresentam um leve retardo mental. Algumas vezes observa-se atraso no desenvolvimento físico Homens 47, XYY Apresentam um QI um pouco mais baixo que seus irmãos normais Apresentam altura superior à de seus irmãos Afeta cerca de 1/1000 meninos Síndromes causadas por Rearranjos Cromossômicos Estruturais Rearranjos Estruturais balanceados, como traslocações e fusões/fissões cêntricas e inversões, normalmente não produzem nenhuma modificação fenotípica em seu portador. Isso acontece porque nesse tipo de rearranjo não há perda nem ganho de material genético Esporadicamente, esses rearranjos, que acontecem após a ocorrência de quebras cromossômicas, podem silenciar ou modificar genes funcionais, trazendo assim algum efeito deletério ao seu portador. Algumas translocações estão diretamente ligadas ao surgimento de neoplasias, com a formação de genes quiméricos ou silenciamento de genes supressores tumorais. As síndromes causadas por rearranjos estruturais envolvem a ocorrência de deleções ou duplicações, que são mutações não balanceadas com perda ou ganho de material genético. Apesar da normalidade do portador, os rearranjos estruturais balanceados causam erros na meiose, produzindo gametas aneuplóides, com deleções ou com duplicações, aumentando assim o risco do portador vir a ter um filho afetado por alguma síndrome. Síndrome do X frágil A Síndrome do X Frágil (também conhecida como Síndrome de Martin & Bell) é a causa herdada mais comum de atraso mental, e é também a causa conhecida mais comum do autismo. É uma doença genética causada pela mutação do gene FMR1 (Estudos demostram que o gene FMR1 está ligado à formação dos dendritos nos neurônios) no cromossomo X, uma mutação encontrada em 1 de cada 2000 homens e 1 em cada 4000 mulheres. Em pessoas com o síndrome do X frágil, o alelo FMR1 tem mais de 230 repetições deste codão. Uma expansão desta magnitude resulta na metilação dessa porção do DNA, silenciando eficazmente a expressão da proteína FMR1. A metilação do locus FMR1, situado na banda cromossómica Xq27.3, resulta numa constrição e fragilidade do cromossomo X nesse ponto, um fenómeno que deu o nome ao síndrome. Síndrome do Miado do Gato Há uma deleção do braço curto do cromossomo 5. Tal síndrome recebeu esse nome em virtude do choro típico dos pacientes afetados Outras características são hipotonia muscular, microcefalia, pavilhão das orelhas dismórficos, pregas epicântricas, malformações dos membros., o qual lembra o miado de gatos. Síndrome de Prader-Willi é um distúrbio genético no qual sete genes do cromossomo 15 estão faltando ou não são expressados (deleção no braço longo do cromossomo 15) no cromossomo paterno. A incidência da síndrome é entre 1 em 12.000 e 1 em 15.000 nascimentos. CarlosCJR Destacar CarlosCJR Destacar CarlosCJR Destacar CarlosCJR Destacar A síndrome de Prader-Willi é caracterizada por polifagia, pequena estatura e dificuldades de aprendizado. Diagnósticos precoces da síndrome permitem intervenção adiantada, assim como prescrição de hormônio de crescimento. Injeções de hormônio de crescimento recombinante são indicadas para crianças com a síndrome Síndrome de Angelman Atraso do desenvolvimento, funcionalmente severo; Incapacidade de falar, com nenhum ou quase nenhum uso de palavras; A criança se comunica mais pela capacidade compreensão de seus atos do que pela expressão verbal; Problemas de movimento e equilíbrio; Crises convulsivas; É observado o atraso no crescimento do perímetro cefálico em 80% dos casos, ocorrendo microcefalia em torno dos dois anos de idade. Incapacidade de coordenação dos movimentos musculares voluntários ao andar e/ou movimento trêmulo dos membros. Síndrome de Wolf-Hirschhorn Deleção do braço curto do cromossomo 4. retardo mental grave, microcefalia Hipotonia, palato profundo em consequência de fissuras congênitas do lábio superior. Possuem características faciais aparentes como o estrabismo, queixo pequeno e assimetria craniana (crânio desproporcional). Citogenética no Diagnóstico Pré- Natal Indicações Idade materna avançada Filho anterior com cromossomopatia Translocação balanceada de um dos pais Testes de triagem anormais Exames do pré-natal alterados Filho anterior falecido sem diagnóstico O procedimento invasivo para diagnóstico pré-natal só deve ser indicado quando o risco para a anomalia for maior do que o riscode perda fetal pelo procedimento Exames invasivos Punção de VC (11-13 sem) Amniocentese precoce (12-14 sem) Amniocentese tradicional(15-18 sem) Cordocentese (> 18 sem) Dificuldades Artesanal Treinamento de pessoal Estudo de células vivas Qualidade da coleta Cariotipo normal com anomalias sexuais 46 XX em homens – SRY está no X 46 XY em mulheres – perda do SRY – feminilização testicular Pseudohermafroditismo – tecido gonadal de um sexo e genitália ambígua Hemarfroditismo verdadeiro – presença de ovário e testículo ou ovotestis – cariotipo: 46 XX/46 XY Alterações numéricas de autossomos Trissomias Cromossomo 20 é comum em aborto espontâneo Polipliodias Triploidia =18% dos abortos espontâneos (3n=69) Tetraploidia = 7% dos abortos espontâneos (4n=96) Cromossomo marcador FISH Resultado com 24-48 horas Identifica 90% das anomalias cromossômicas (13, 18, 21, X, Y) Não detecta mosaicismos, translocações ATENDIMENTO AOS PACIENTES SUSPEITOS DE CROMOSSOMOPATIAS SERVIÇO DE CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL “CAMINHAR” SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ HOSPITAL UNIVERSITÁRIO BETTINA FERRO DE SOUZA RN de Risco Transtornos Motores/ Paralisia Cerebral Botox Distúrbios Globais do Desenvolvimento (autismo) Distúrbios do Crescimento Alterações Genéticas Síndrome Cromossômica Reposição enzimática Transtornos Hipercinéticos Atraso no Desenvolvimento Doenças neuro- Genéticas e neurometabólicas Epilepsias Endocrinologia Transtornos da Diferenciação Sexual Dismorfologia Perguntas???
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