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Faringoamigdalites e Adenoamigdalectomia

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FARINGOTONSILITES
1) INTRODUÇÃO
As faringotonsilites são doenças inflamatórias e infecciosas que envolvem a faringe, tonsilas palatinas (amígdalas) e tonsilas faríngeas (adenóide).
Constituem um dos distúrbios mais freqüentes na rotina diária de atendimento, tanto de otorrinolaringologistas como de pediatras e de clínicos gerais, e seu manejo terapêutico envolve dúvidas e controvérsias.
2) CONSIDERAÇÕES ANATOMO-FISIOLÓGICAS
As tonsilas palatinas, as tonsilas faríngeas ou de Luschka, as tonsilas linguais , as tonsilas tubáricas e os nódulos linfóides da faringe constituem o anel linfático de Waldeyer. As tonsilas palatinas e adenóides são órgãos linfóides periféricos ou secundários que se encontram na entrada dos sistemas respiratório e digestivo, sendo, portanto os primeiros tecidos imunocompetentes a entrarem em contato com microorganismos exógenos e outros antígenos presentes no fluxo aéreo-digestivo. Sua função primária seria coletar informação antigênica, havendo evidências também da sua participação nos mecanismos envolvidos na indução de produção e secreção de imunoglobulinas. As tonsilas palatinas são mais ativas entre o 4º e o 10° anos de vida e involuem depois da puberdade, e o tecido adenoidiano é normalmente mais volumoso entre os 3° e 7° anos de idade.
2.1) Tonsila Faríngea (adenóide)
A tonsila faríngea é uma massa de tecido linfóide localizada na região póstero-superior da nasofaringe. Seu suprimento sangüíneo provém das artérias faríngea e palatina ascendente, artéria do canal pterogóide, ramo faríngeo da artéria maxilar interna e ramo cervical ascendente do tronco tireocervical. Ramos dos nervos glossofaríngeo e vago fornecem inervação sensitiva, sendo responsáveis por dor referida para a garganta ou ouvido, durante episódios infecciosos. A drenagem linfática é feita para linfonodos retrofaríngeos e cervicais profundos superiores. 
A tonsila faríngea desenvolve-se totalmente no sétimo mês de gestação e continua a crescer até o quinto ou sexto ano de vida, estimulada por uma variedade de estímulos antigênicos (vírus, bactérias, alérgenos e irritantes). Devido à sua localização, adenóides aumentadas podem causar obstrução nasal e estase de secreção nasossinusal com proliferação de microorganismos e maior exposição a antígenos, o que, por sua vez, tende a fazer aumentar ainda mais seu tamanho. Além disso, a nasofaringe funciona como um conduto para a passagem de ar inspirado e secreções que drenam da cavidade nasal para a orofaringe, como caixa de ressonância para a fala e local de drenagem da tuba auditiva. A presença de uma tonsila faríngea de volume aumentado obstruindo a nasofaringe prejudica todas essas funções. A partir dos sete anos de idade, a atrofia da tonsila faríngea e o aumento do diâmetro da nasofaringe melhoram o fluxo de ar local.
2.2) Tonsila palatina (amígdala)
Em numero de duas, as tonsilas palatinas são massas de tecido linfóide localizadas na parede lateral da orofaringe, ocupando a escavação também chamada de fossa amigdaliana. Normalmente estão confinadas à orofaringe. Se excessivamente grandes, podem alcançar a nasofaringe, gerando insuficiência velofaríngea e obstrução nasal. O mais comum, no entanto, é sua extensão à hipofaringe, gerando obstrução alta de vias aéreas e síndrome da apnéia e hipopnéia obstrutiva do sono (SAHOS).
Sua localização anatômica faz com que as tonsilas palatinas estejam pouco associadas a doenças da tuba auditiva e dos seios paranasais. Porém, é frequente a coexistência de hipertrofia de amígdalas e adenóide, o que confunde os sintomas das duas entidades. 
A tonsila palatina apresenta duas faces, uma interna e outra externa; e dois pólos, superior e inferior. A face interna está envolta por um tecido conjuntivo denso, constituindo uma túnica denominada de cápsula amigdaliana que se adere intimamente ao tecido amigdaliano, contrariamente à sua união com a parede faríngea, que é muito frouxa sendo de fácil dissecção durante a amigdalectomia. Sua face externa apresenta numerosos orifícios de forma variável, chamados de criptas amigdalianas, que avançam profundamente se estendendo até a sua face interna. Criptas muito aumentadas podem favorecer a deposição de caseum, constituído de restos alimentares, cristais de colesterina, descamação epitelial e leucócitos degenerados, que pode ser causa de halitose nesses indivíduos.
A fossa amigdaliana é constituída por três músculos: músculo palatoglosso (pilar anterior), o palatofaríngeo (pilar posterior) e o constritor superior da faringe (assoalho). A musculatura é extremamente fina e encontra-se externamente ao nervo glossofaríngeo. Este nervo pode ser facilmente lesado se houver lesão do leito amigdaliano ou edema temporário pós-amigdalectomia. Nestes casos o paciente poderá apresentar perda temporária da sensibilidade gustatória do terço posterior da língua e otalgia referida. A inervação da tonsila palatina é dada por ramos do glossofaríngeo, no pólo inferior, e de ramos descendentes do nervo palatino. A causa de otalgia após amigdalectomia ou em vigência de amigdalites deve-se ao ramo timpânico do glossofaríngeo.
A principal artéria que irriga a amígdala é a artéria tonsilar (ramo da a. palatina ascendente, ramo da a. facial), que penetra na amígdala pelo pólo inferior. Lateralmente, a cápsula amigdaliana é separada do músculo constritor superior por tecido conectivo frouxo. A veia palatina externa desce do palato mole neste tecido conectivo frouxo para se unir ao plexo venoso faríngeo. Lateral ao músculo constritor superior se situa o músculo estiloglosso e a alça da artéria facial. A artéria carótida interna se situa a 2,5 cm atrás e lateral à tonsila palatina.
Ao exame, a amígdala pode ser pediculada, encastoada (aderidas ao pilar anterior), ou intravélica (o pólo superior não visível, em nível superior ao arco palatofaríngeo). Em relação ao tamanho, classifica-se em: Grau I (amígdala encoberta pelo pilar anterior), II (se ocupar até 25% do espaço entre o pilar anterior e a úvula), III (se ocupar 75%), e IV (se as 2 amígdalas se tocarem junto à úvula). 
	Grau I 		Grau II		 Grau III		 Grau IV
3) IMUNOLOGIA
As tonsilas palatinas e faríngeas são órgãos de tecido linfóide estrategicamente localizadas para a proteção imunológica do trato aero-digestivo.
As tonsilas não possuem vasos linfáticos aferentes, e isso é o que denota sua principal diferença em relação aos linfonodos, que também fazem parte do nosso sistema linfático. Portanto, para permitir o contato do sistema linfático com o meio externo, o epitélio dessas estruturas sofreu adaptações importantes. As tonsilas palatinas apresentam em sua superfície 10 a 30 invaginações bem desenvolvidas denominadas criptas. As criptas do lobo superior são mais profundas e mais ramificadas; este lobo, funcionalmente, é mais importante que o lobo inferior. Por sua vez, a tonsila faríngea apresenta um pregueamento mucoso bem desenvolvido, mas poucas criptas. O epitélio escamoso das criptas possui sistema complexo de transporte através de microporos que levam antígenos ingeridos ou inalados ao tecido linfóide subjacente. Dentro do tecido linfóide, o antígeno entra em contato com as células apresentadoras de antígenos (APCs), responsáveis por apresentá-lo aos linfócitos T (LT). Quando há uma concentração suficiente de um antígeno, é estimulada a diferenciação de linfócitos B (LB) em plasmócitos e sua expansão clonal. Isso resulta na produção de imunoglobulinas, notadamente IgA, que é transportada à superfície mucosa, fornecendo proteção imunológica local. Mecanismos de defesa no interior da tonsila palatina eliminam os estímulos antigênicos mais fracos. Por isso, apenas altas concentrações antigênicas induzem a proliferação de LB nos centros germinativos.
As tonsilas são imunologicamente ativas entre os 4 e 10 anos de idade, e diminuem após os 20 anos, mostrando um decréscimo de sua importância após essa idade. Em pacientes com infecções recorrentes, há inflamaçãodo epitélio das criptas resultando em diminuição do transporte de antígenos e diminuição da função imunológica dos LB, com conseqüente redução da produção de anticorpos e da população de linfócitos nos centros germinativos. Porém, em alguns casos pode haver um incremento da reposta imune Th2, com aumento da ativação de LB. Sendo assim, tonsilas cronicamente infectadas e com volume aumentado freqüentemente têm sua função imunológica alterada.
3.1) Repercussões imunológicas da adenoamigdalectomia
		- Retardo na aquisição da imunidade contra o vírus da poliomielite em crianças vacinadas e maior incidência da poliomielite paralítica.
		- Cardite reumática pode se instalar de maneira semelhante em operados e não operados e não impede a eclosão de surtos recorrentes posteriores de febre reumática.
		- Sua utilidade em pacientes com nefropatia por IgA ainda não está provada, apesar da ↓ dos episódios de grande hematúria e proteinúria.
		- 88% das crianças asmáticas tiveram melhora de seus sintomas asmáticos e 18% das crianças com alergia nasal tiveram melhora dos sintomas nasais.
		- Declínio de imunoglobulinas que parece não ser fator de risco para o desenvolvimento de infecções de garganta, e pode refletir em uma redução na estimulação antigênica.
4) PATOGÊNESE
A patogênese da doença inflamatória/infecciosa das tonsilas palatina e faríngea provavelmente envolve sua localização anatômica e função de processamento de material infeccioso (através da qual, paradoxalmente, tornam-se focos de infecção). Não há certeza em relação ao que determina o início da infecção crônica. Infecção viral com infecção bacteriana associada pode ser um dos mecanismos de desencadeamento da infecção crônica, mas os efeitos do ambiente, fatores próprios do indivíduo, dieta, entre outros, podem também estar envolvidos. 
Estudos recentes demonstram que inflamação e perda da integridade do epitélio da cripta resultam em criptite crônica e obstrução das criptas, levando a estase de resíduos e persistência de antígenos. A partir daí, mesmo bactérias infrequentes nas criptas poderiam se multiplicar e causar infecção crônica.
5) CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DAS FARINGOTONSILITES
Esta classificação é apresentada no livro "Head and Neck Surgery- Otolaryngology", de Byron J. Bailey.
TONSILAS FARÍNGEAS
1. Adenoidite aguda: quadro muito difícil de diferenciar de IVAS generalizada, ou mesmo de rinossinusite bacteriana. Apresenta-se com febre, rinorréia, obstrução nasal e roncos, que desaparecem com o término do processo.
2. Adenoidite aguda recorrente: 4 ou mais episódios de adenoidite aguda em 6 meses. Pode ser muito difícil de diferenciar de sinusite aguda recorrente.
3. Adenoidite crônica: rinorréia constante, halitose, secreção em orofaringe e congestão crônica podem significar adenoidite crônica, que é difícil diferenciar de sinusite crônica. A associação com OMS sugere mais adenoidite.
(OBS: RGE pode ser causa de adenoidite crônica).
4. Hiperplasia adenoidiana: obstrução nasal crônica (com roncos e respiração bucal), rinorréia e voz hiponasal.
TONSILAS PALATINAS
1. Amigdalite aguda: febre, dor de garganta, disfagia, adenomegalia cervical com hiperemia de amígdalas, podendo haver exsudatos. 
2. Amigdalite aguda recorrente: 7 episódios em 1 ano, 5 episódios por ano em 2 anos consecutivos ou 3 episódios por ano em 3 anos consecutivos.
3. Amigdalite crônica: dor de garganta crônica, halitose, cálculos amigdalianos excessivos, edema periamigdaliano e adenopatia cervical amolecida persistente.
4. Hiperplasia amigdaliana: roncos, apnéia obstrutiva do sono, disfagia, voz hipernasal. Em casos extremos, se associada com obstrução nasal e muito intensa (quadro agudo), pode causar insuficiência respiratória aguda.
	Como já foi citado anteriormente, as tonsilites faríngeas são de difícil diagnóstico e diferenciação com IVAS e/ou sinusites aguda ou crônica. As tonsilites palatinas, pelo contrário, são facilmente visualizadas à oroscopia e devem ser diferenciadas de acordo com sua forma clínica para realização de diagnóstico correta e tratamento adequado. 
	O acometimento agudo da orofaringe e das amígdalas é também conhecido como angina e elas podem ser divididas nas seguintes formas clínicas:
		- eritematosas: hiperemia difusa e aspecto congesto de toda a mucosa faríngea, principalmente das tonsilas palatinas, podendo ou não estar presente exsudato esbranquiçado.
		- eritêmato-pultáceas: presença de exsudato esbranquiçado ou purulento, localizado nas criptas e na superfície das tonsilas palatinas.
		- pseudomembranosas: formação de placas mais ou menos aderentes as amígdalas, que freqüentemente invadem o palato mole e úvula.
		- úlcero-necróticas: presença de formação de úlceras profundas, com necrose de tecido. 
		- vesiculosas: presença de vesículas ou de úlceras superficiais que ocorrem devido a erupção das vesículas.
		
		
6) FORMAS CLÍNICAS DAS FARINGOTONSILITES AGUDAS
6.1) Anginas eritematosas e eritemato-pultáceas
As anginas eritematosas são as mais comuns e correspondem a 90% dos casos. Podem ser de origem viral ou bacteriana. Caracterizam-se por uma mucosa orofaríngea de coloração arroxeada, com amígdalas edemaciadas e freqüentemente aumentadas de volume. As faringoamigdalites eritêmato-pultáceas apresentam, além do arroxeamento inflamatório das estruturas da orofaringe, exsudato esbranquiçado sobre as amígdalas. Este revestimento pultáceo forma manchas puntiformes ou confluentes que se desprendem facilmente da mucosa com o abaixador de língua.
	6.1.1) Origem Viral
As anginas de origem viral correspondem a 75% das faringoamigdalites agudas, mesmo em casos recorrentes. Os agentes virais são preponderantes nos três primeiros anos de vida e menos freqüentes após a puberdade. As infecções causadas pela maioria dos vírus têm curso limitado e melhora espontânea.
Agentes Etiológicos
Dentre os vírus, os adenovírus são provavelmente os patógenos mais freqüentes (20%). São agentes também os rinovírus, coronavírus, herpes simplex, influenza, parainfluenza, vírus sincicial respiratório, coxsakie A, Epstein-Barr, HIV. 
Quadro Clínico
O paciente com faringoamigdalite viral apresenta sintomas de leve intensidade. Os principais são dor de garganta e disfagia. A maioria dos pacientes irá apresentar mialgia e febre baixa, associadas a coriza hialina e espirros. O exame físico mostra eritema da mucosa faríngea. As tonsilas podem estar aumentadas, mas freqüentemente não há exsudato. Características que sugerem etiologia viral são: febre moderada, tosse, coriza e obstrução nasal, ausência de adenopatia ou adenopatia difusa.
Tratamento
Terapias de suporte com medicações analgésicas e antiinflamatórias. Antibióticos são utilizados somente no caso de infecções bacterianas secundárias.
		6.1.1.1) Mononucleose infecciosa
A mononucleose infecciosa é uma doença sistêmica que acomete principalmente adolescentes e adultos jovens (15 a 25 anos).
Agente etiológico
A mononucleose é causada pelo vírus Epstein-Barr (EBV). O EBV é um vírus da família Herpeviridae que apresenta tropismo particular por linfócitos B e pelas células epiteliais da faringe e das glândulas salivares. Existem outros agentes infecciosos que podem simular um quadro de mononucleose infecciosa (síndrome mononucleose-like): citomegalovírus (CMV), Rubéola, Toxoplasma gondii, HIV, Tripanossoma cruzi, entre outros.
Quadro Clínico
A transmissão ocorre principalmente pela saliva, e por isso, ela também é conhecida popularmente como a “doença do beijo”. A tríade clínica da mononucleose infeciosa é constituída por febre, angina e poliadenopatia. A febre pode ser alta e acompanhada de astenia intensa. A angina pode ser eritematosa, eritêmato-exsudativa ou pseudomembranosa. Neste último caso, as pseudomembranas recobrem as amígdalas mas não atingem a úvula. Edema de úvula e de palato são sinais característicos da mononucleose infecciosa. Podem ser encontradossinais sistêmicos como linfadenomegalia, hepatomegalia (10%) e esplenomegalia (50%), principalmente em crianças com menos de 4 anos de idade. Rash cutâneo pode ocorrer principalmente com o uso de ampicilina. Inicialmente, a mononucleose pode simular uma amigdalite comum, porém com a evolução do quadro, sem melhora com uso de antibióticos, impõe-se essa suspeita.
Diagnóstico
O diagnóstico da doença é realizado pelo quadro clínico associado aos resultados de exames laboratoriais: linfocitose ao hemograma (linfócitos> 50% da população de leucócitos), com linfócitos atípicos (10% ou mais do total) e discreto aumento de transaminases. Pode ser realizado teste sorológico de Paul-Bunnel-Davidson (positivo após 10-20 dias de doença, com sensibilidade de 90% e especificidade de 98%) ou pesquisa de anticorpos (Ac) IgM ou IgG contra antígenos do capsídeo viral, que constituem os exames de escolha. Os Ac IgM podem ser detectados desde o início do quadro clínico, atingindo seu pico em 4-6 semanas. Em alguns doentes pode ocorrer uma forma de portador do EBV, com manutenção da produção de anticorpos (IgG) no organismo.
Tratamento
A evolução do paciente com mononucleose costuma ser favorável, com resolução do quadro após alguns meses. O tratamento é baseado em terapias de suporte como hidratação e analgésicos. Muitas vezes acontecem infecções bacterianas secundárias que necessitam de antibioticoterapia. 
	6.1.2) Origem Bacteriana
As faringoamigdalites bacterianas correspondem a 20 a 40% dos casos.
Agentes etiológicos
O Streptococcus pyogenes (estreptococo beta-hemolítico do grupo A) é responsável por cerca de 15% das faringotonsilites agudas.
Mycoplasma pneumoniae é comum em adultos jovens, cursando com faringotonsilite, cefaléia e sintomas respiratórios baixos.
	Outras bactérias como Staphylococcus aureus, Haemophilus sp, Moraxella catarrhalis, são, por vezes, responsáveis por recaídas de infecções estreptocócicas e atuariam produzindo beta-lactamase, enzimas inativadoras de penicilinas, o que pode dificultar a erradicação dos estreptococos piogênicos durante a terapêutica com beta-lactâmicos. Estes agentes são atualmente excluídos como patógenos primários de infecções faríngeas, mas especula-se sobre a possibilidade de estarem associados a infecções persistentes ou recorrentes das tonsilas.
		6.1.2.1) Faringoamigdalite estreptocócica
A faringite aguda causada pelo estreptococo do grupo A é a causa mais comum de faringites bacterianas em crianças com idade entre 5 e 15 anos. Dados epidemiológicos mundiais referem que a prevalência de faringites estreptocócicas atinge índices de 3 a 15% em crianças e adolescentes. Através de análise epidemiológica, o Ministério da Saúde do Brasil estima anualmente 6 milhões de novos casos de faringites estreptocócicas.
A alta freqüência e o risco potencial de complicações tardias em crianças fazem da faringotonsilite estreptocócica um importante problema de saúde pública.
As anginas estreptocócicas usualmente ocorrem após os 3 anos de idade, com pico de incidência entre 5 a 10 anos de idade, mas podem ocorrer em crianças menores de 3 anos e em adultos maiores de 50 anos.
Quadro Clínico
A principal sintomatologia da faringoamigdalite aguda é dor faríngea, odinofagia e otalgia reflexa. A febre é de intensidade variável e pode ser acompanhada de queda do estado geral. Náuseas e vômitos são sinais de alerta principalmente em crianças. O quadro clínico que sugere origem estreptocócica são: início brusco, febre alta, dor de garganta intensa, adenopatia limitada em cadeia jugulo-digástrica, petéquias em pálato e ausência de sintomatologia nasal ou laringo-traqueal. O exame físico revela hiperemia, aumento de tonsilas e exsudato purulento, além de adenomegalia em cadeia jugulo-digástrica, observada em 60% dos casos.
Diagnóstico
O diagnóstico da faringoamigdalite aguda estreptocócica é basicamente clínico. Entretanto, as manifestações da faringite estreptocócica e não-estreptocócica são semelhantes, o que dificulta o diagnóstico específico. Existem alguns métodos diagnósticos para detecção e confirmação da faringoamigdalite estreptocócica. Destes, o padrão-ouro é a confirmação com cultura de material de orofaringe (sensibilidade de 90 a 95%). Sua grande desvantagem é o tempo necessário para obtenção do resultado, que pode ser de 18 a 48 horas. Torna-se difícil para o médico convencer os pais ou o paciente a aguardar o resultado para a introdução do antibiótico, principalmente quando o mesmo se encontra febril e com queda do estado geral.
Os testes de detecção rápida do antígeno (TDRA), usando como métodos ELISA, imunoensaios ópticos (OIA) ou sondas (Probes) de DNA, apresentam especificidade de 95% e sensibilidade de 70-95%. Apesar do custo elevado (maior que o exame de cultura), sua vantagem reside no diagnóstico rápido, permitindo o tratamento imediato e reduzindo o risco de disseminação. Essas provas se apresentam em formas de kits e podem ser realizadas em consultório, requerendo menos de 15 minutos. No entanto, em nosso país, sua realização não é habitual. O TDRA negativo não deve ser interpretado com identificador definitivo de ausência de infecção estreptocócica; recomenda-se confirmar o resultado por meio da cultura. 
Na prática clínica, os exames sorológicos são de pequena utilidade para diagnóstico da faringoamigdalite estreptocócica, uma vez que a elevação dos títulos de anticorpos (anti-estreptolisina O, anti-hialuronidase, anti-DNAse B, anti-estreptoquinase) ocorre duas ou três semanas após a fase aguda, porém são de extrema importância para diagnóstico de algumas complicações não-supurativas desta afecção, como febre reumática e glomerulonefrite pós- estreptocócica.
Se tratada prontamente, há diminuição do período de transmissão e diminuição dos sintomas e da incidência de complicações supurativas; porém adiar o tratamento até 9 dias após o início da faringite parece não aumentar o risco de febre reumática.
Complicações
As complicações da faringoamigdalite estreptocócica podem ser supurativas ou não supurativas.
	a) Complicações não supurativas
	- Escarlatina: Quando a angina estreptocócica se associa a presença de eritema cutêneo, a doença recebe o nome de escarlatina. Decorre da produção da exotoxina pirogênica. Manifestações incluem exantema generalizado, constituído por micropápulas róseas confluentes, inicialmente na parte ântero-superior do tórax, se estendendo rapidamente ao restante do tronco e aos membros. O sinal de Filatov consiste em palidez perioral, enquanto o Sinal de Pastia denota o surgimento, em linhas de flexão, de petéquias e hiperpigmentação, ambos sendo característicos dessa doença. As papilas linguais estão hipertrofiadas, salientes sobre fundo intensamente eritematoso (língua em framboesa). O diagnóstico é clínico, mas o ideal é que a suspeita seja confirmada por teste laboratorial. A penicilina benzatina é a droga de escolha.
	- Febre reumática (FR): Em nosso meio, é a enfermidade reumática mais freqüente e a principal causa de cardiopatia, adquirida na infância e na adolescência. É uma complicação não supurativa que pode ocorrer cerca de 2-3 semanas após uma infecção de orofaringe causada pelo estreptococos beta-hemolítico do grupo A, acometendo, preferencialmente, crianças e adolescentes na faixa etária de 5 a 15 anos. Apenas 0,3-3% dos pacientes com angina estreptocócica desenvolvem essa complicação, parecendo haver uma predisposição genética ainda não esclarecida completamente. A história social revelará freqüentemente baixo nível socioeconômico desses pacientes. O mecanismo patogenético envolvido na origem da doença parece estar ligado a uma reação cruzada de anticorpos, produzidos contra produtos do estreptococos com estruturas do indivíduo afetado (mimetismo molecular), desencadeando todo o processo inflamatório. 
	Os critérios de Jones modificados podem ser utilizados como guia para o diagnóstico de FR, analisando-se criticamente cada caso. Sendo assim,pode ser diagnosticada FR quando existem 2 critérios maiores ou 1 critério maior e 2 menores, associados a evidência de infecção estreptocóccica. Há duas situações em que isso pode não ocorrer: coréia de apresentação tardia e cardite insidiosa, situações em que os outros achados clínicos podem estar ausentes e os laboratoriais, normais.
	Critérios Maiores
	Critérios menores
	Evidências de infecção
	Cardite
	Febre
	Escarlatina recente
	Poliartrite
	Artralgia
	Presença de Ac (ASLO, anti-estreptoquinase, anti-DNAse B)
	Eritema marginatum
	Antecedente de FR
	Cultura positiva
	Coréia de Sydenham
	↑ VHS
	
	Nódulos subcutâneos
	↑ Proteína C Reativa
	
	
	↑ Intervalo PR
	
Cardite e valvulite podem ser auto-limitadas ou provocar degeneração valvar progressiva. A válvula mais acometida é a mitral, seguida pela aórtica. As seqüelas de cardite reumática ainda são responsáveis pela principal indicação de valvoplastias atualmente.
	- Glomerulonefrite Difusa Aguda: ocorre após infecção faríngea ou de pele. A incidência gira em torno de 24% dos pacientes expostos a cepas nefritogênicas, mas estas constituem apenas 1% do total. O paciente apresenta síndrome nefrítica (oligúria, hematúria, edema e hipertensão arterial) após 1 a 2 semanas da infecção de orofaringe. Não há evidência que a administração de penicilina diminua a taxa de ataque ou altere a história natural da glomerulonefrite.
	- Síndrome do choque tóxico estreptocóccico: ocorre após infecção ou colonização estreptocóccica de qualquer sítio. Compreende hipotensão associada a pelo menos dois dos seguintes: insuficiência renal, coagulopatia, anormalidades de função hepática, síndrome da angústia respiratória do adulto, necrose tecidual extensa e exantema macular generalizado.
	b) Complicações Supurativas
	- Abscesso periamigdaliano: Consiste na complicação mais freqüente de um episódio de amigdalite aguda. É causado pela extensão do processo infeccioso, surgindo coleção purulenta entre a cápsula da amígdala e a fáscia do músculo constritor superior da faringe. Sua incidência estimada oscila em torno de 45.000 habitantes por ano nos EUA e, acredita-se ser ainda maior no Brasil. Sua mortalidade é desconhecida.
 	Apresenta-se com piora unilateral da odinofagia, disfagia e halitose. Surgem salivação excessiva e alteração no timbre da voz, podendo apresentar classicamente voz de “batata quente”. O trismo pode ser observado nos casos mais adiantados, secundário ao comprometimento dos músculos pterigóides internos. Os indivíduos mais atingidos são os da 1a e 2a décadas da vida. Ao exame físico, pode-se notar eritema, edema da loja amigdaliana e deslocamento da amígdala em direção da linha média. A úvula encontra-se desviada no sentido contrário ao do lado comprometido. A melhor conduta é a drenagem. Atualmente, alguns autores preconizam a aspiração do material purulento com agulha, em seguida higiene oral, antibioticoterapia e dieta leve.
	- Abscesso parafaríngeo: O portador de abscesso no espaço parafaríngeo, com freqüência exibe trismo e limitação dos movimentos cervicais. Algumas vezes ocorre meningismo, em função da irritação dos músculos paraespinhais. Além desses sinais, pode ser encontrado, no exame físico, desvio da parede lateral da faringe e da amígdala em direção à linha média e endurecimento dos tecidos moles cervicais. Flutuação raramente é observada.
	
	- Infecções do espaço retrofaríngeo: Esse tipo de infecção pode se originar do comprometimento dos linfonodos que presentes nesse espaço por parte de bactérias que infectam primariamente nariz, faringe e seios paranasais (disseminação linfática). Há, com o passar dos anos, a tendência à atrofia desses linfonodos, fato que explicaria a maior incidência dessas infecções nas crianças. O portador dessa afecção apresenta, geralmente, dor, febre e leucocitose. Odinofagia e disfagia são freqüentes, assim como o deslocamento anterior da parede posterior da faringe. Pode haver assimetria da faringe. A inflamação dos músculos paraespinhais pode provocar o opistótono. 
Tratamento
Grande parte dos autores ainda advoga o uso de penicilina e derivados como primeira escolha no tratamento de amigdalites não complicadas (Bisno, 2001). A penicilina G benzatina pode ser usada em dose única de 600.000 UI (peso< 27 kg) a 1.200.000 UI (peso > 27 kg). A amoxicilina é a droga mais usada por VO, na dose de 50mg/kg/dia por 10 dias. 
Em caso de suspeita de germes produtores de beta-lactamase (Staphylococcus aureus, Haemophylus influenzae, Moraxella catarrhalis), preconiza-se o uso de cefalexina, cefadroxil, cefuroxima, azitromicina, clindamicina ou amoxicilina/ácido clavulânico. Em pacientes alérgicos à penicilina, utiliza-se cefalosporinas (cefalexina, cefuroxima, cefadroxil), clindamicina ou macrolídeos (eritromicina, azitromicina). 
Antibioticoterapia realizada nas primeiras 48 horas dos sintomas está associada a melhora precoce dos sintomas como dor, febre e adenopatia, de 12 a 24 horas antes se comparado ao não uso de antibióticos. Além disso, uso de antibióticos minimiza a incidência das complicações supurativas. Antibioticoterapia deve ser utilizada de 7 a 10 dias para completa erradicação dos estreptococos. Medidas de suporte incluem hidratação oral, analgésicos, antitérmicos e o uso de antiinflamatórios não-hormonais e corticóides.
	Em relação às complicações supurativas, como regra geral, a terapêutica é inicialmente clínica, com introdução de antibioticoterapia de amplo espectro. Quando não se observa melhora nas primeiras 24 ou 48 horas, indica-se a cirurgia para drenagem do espaço comprometido. Os métodos de imagem são essenciais para a avaliação de infecções dos espaços profundos do pescoço, tanto na avaliação do localização e extensão da afecção como no planejamento e no controle terapêutico.
		
		6.1.1.2.) Difteria
É uma doença infecciosa aguda grave de notificação compulsória imediata na suspeita, que acomete principalmente crianças até 10 anos de idade e, hoje em dia, é rara em um bom número de países. O número de casos de difteria notificados, no Brasil, vem decrescendo progressivamente, provavelmente em decorrência do aumento da utilização da vacina DPT. Em 1990, foram notificados 640 casos, com coeficiente de incidência de 0,45/100.000 habitantes, número que foi progressivamente decaindo até 19 casos em 2001 (coeficiente de incidência de 0,01). A letalidade esperada varia de 5 a 10%.
 O agente etiológico é o Corynebacterium diphtheriae, um bacilo gram positivo anaeróbio produtor de uma endotoxina, responsável pelos fenômenos locais e sistêmicos da doença.
Quadro Clínico
O quadro clínico tem início insidioso com período de incubação de 2 a 4 dias. O paciente apresenta-se com comprometimento do estado geral, dor de garganta discreta e a febre não é muito elevada. Nos casos mais graves, há intenso edema do pescoço, com grande aumento dos gânglios linfáticos dessa área (pescoço taurino), e edema periganglionar nas cadeias cervicais e submandibulares.
 Ao exame, observamos pseudomembranas branco-acinzentadas, localizadas sobre as amígdalas e invadindo o terço superior dos pilares anteriores até a úvula. As falsas membranas aderem à mucosa, resistem ao descolamento (deixam leito sangrante ao se destacarem) e não se dissociam na água, como ocorre com o depósito puriforme da angina eritêmato-pultácea. Em casos graves da doença, a membrana pode se estender até ocupar todo o trato aero-digestivo alto, impedindo a eliminação de secreções e resultando em obstrução das vias aéreas superiores. Quando atinge a laringe (quase sempre localização secundária à angina diftérica), surgem voz e tosse roucas, além de tiragem intercostal. 
A exotoxina diftérica tem tropismo pelo miocárdio, acarretando arritmia cardíaca; pelas cúpulas renais, podendo determinar hipotensão, astenia e dores abdominais e pelo sistema nervoso, acometendo primeiramente os pares cranianos, podendo causar diplopia e fenômenos paralíticos do véu palatino.Diagnóstico
Realizado mediante a identificação e isolamento do Corynebacterium diphtheriae, através de cultura de material, mesmo sem as provas de toxigenicidade. A bacterioscopia não tem valor no diagnóstico da difteria, devido à baixa especificidade do método.
O diagnóstico diferencial é feito com as anginas estreptocócicas, de Plaut-Vincent e, particularmente, a da mononucleose infecciosa.
Tratamento
Na suspeita clínica de difteria, o paciente deverá ser internado e iniciar tratamento com soroterapia específica (soro antidiftérico, EV; 40.000 – 120.000 UI) o mais precocemente possível. Sua administração pode causar reações alérgicas; deste modo, é necessária a realização de provas de sensibilidade, antes do seu emprego. Caso a prova seja positiva, deverá ser feita a dessensibilização.
O uso de antibiótico deve ser considerado como uma medida auxiliar da terapia específica, objetivando interromper a produção de exotoxina, pela destruição dos bacilos diftéricos e sua disseminação. Pode-se utilizar Eritromicina ou Penicilina G cristalina ou Penicilina G procaína, durante 14 dias, conforme orientação a seguir:
Eritromicina: deve ser administrada VO, na dose de 40 a 50mg/Kg/dia (dose máxima de 2g/dia);
Penicilina G cristalina: deve ser administrada EV, na dose de 100.000 a 150.000UI/Kg/dia, em frações iguais de 6/6 horas;
Penicilina G procaína: deve ser administrada IM, na dose de 50.000UI/Kg/dia (dose máxima de 1.200.000UI/dia), de 12/12 horas.
O paciente deve ser mantido em isolamento respiratório por 14 dias após a introdução de antibioticoterapia apropriada.
Os comunicantes de um caso-índice de difteria não-vacinados, inadequadamente vacinados, vacinados há mais de 5 anos ou com situação vacinal desconhecida deverão receber a vacina anti-diftérica e serem submetidos à coleta de material de orofaringe para cultura para pesquisa de portadores; se positivos receberão quimioprofilaxia com eritromicina. Os comunicantes íntimos deverão iniciar quimioprofilaxia. 
6.2) Anginas úlcero-necróticas
	6.2.1) Angina de Plaut-Vincent
Agente etiológico
Causada por simbiose entre o bacilo fusiforme (gram negativo anaeróbio) Fusobacterium plautvincenti e o espirilo Spirochaeta dentuim, saprófitos normais da cavidade bucal, que adquirem poder patogênico quando associados. Essa condição se deve a um conjunto de fatores como má higiene bucal e mau estado de dentes e gengiva, desnutrição, fumo, outras infecções e estresse. 
Quadro Clínico
Área necrótica recoberta por exsudato pseudomembranoso, geralmente com disfagia e odinofagia unilateral associadas a intensa halitose, porém sem elevação da temperatura. Deve ser a principal hipótese diagnóstica frente a uma angina úlcero-necrótica unilateral. 
Diagnóstico
O diagnóstico baseia-se na unilateralidade das lesões e na presença de lesões gengivais concomitantes próximas ao terceiro molar superior. O exame bacteriológico auxiliará a evidenciar a natureza fuso-espiralar da angina nos casos de dúvida.
Complicações
Excepcionalmente, a angina de Plaut-Vicent pode complicar-se com tromboflebite jugular com risco de embolização séptica, o qual se constitui a Síndrome angina-infarto pulmonar de Lemiérre.
Tratamento
O tratamento consiste em na redução das bactérias através de melhora na higiene oral (uso de fio dental e escovação de dentes) associado a gargarejos com soluções com água salgada ou peróxido de hidrogênio. A antibioticoterapia (penicilinas ou cefalosporinas e metronidazol) também pode ser usada e, certamente, uso de analgésicos sintomáticos.
	6.2.2) Outras causas de Anginas Úlcero-necróticas
Na presença de uma ulceração de amígdala unilateral devem ser pensados nos seguintes diagnósticos diferenciais:
	- Cancro sifilítico: deve ser pensada em pacientes de risco. A ulceração é menos profunda e endurada com consistência lenhosa à palpação protegida. O diagnóstico se baseia na coleta de amostras e visualização com microscopia de campo escuro, ou provas sorológicas. O FTA-ABS é a reação mais sensível e específica, além de ser a primeira a positivar (concomitante ao surgimento do cancro). No entanto, permanece positiva por longo tempo após a cura. O VDRL torna-se positivo 1 semana após o surgimento do cancro, mas negativa 9-12 meses após tratamento e deve ser utilizado para o controle de tratamento.
	- Câncer de amígdala: deverá ser pensada em pacientes com história de tabagismo e etilismo em amígdala ulcerada que não melhora após tratamento clínico, devendo ser biopsiada. O diagnóstico é anátomo-patológico. Frente a um quadro de ulceração bilateral de amígdala, deve-se pensar sistematicamente em leucemia aguda ou agranulocitose e colher-se um hemograma com urgência.
6.3) Anginas vesiculosas
A denominação de angina nestes casos é pouco adequada uma vez que acometimento envolve a faringe e mucosa oral. As vesículas são vistas no início da afecção. Podem ser múltiplas e disseminadas. Na mucosa buco-faríngea, as vesículas se rompem facilmente e dão lugar a ulcerações pouco profundas recobertas por exsudato esbranquiçado, disseminado ou confluente. As anginas vesiculosas são principalmente de origem viral.
	6.3.1) Vírus Herpes Simplex (HSV)
Agente etiológico
Existem essencialmente dois subtipos sorológicos: 1 e 2. O tipo 1 é o mais freqüentemente associado às lesões orais e o tipo 2 é o mais freqüentemente associado às lesões genitais, porém pode ocorrer infecção oral pelo HSV tipo 2 e genital pelo HSV tipo 1, sem necessariamente isto estar associado a hábitos sexuais do indivíduo infectado. 
Quadro Clínico
A infecção primária pelo HSV é geralmente uma gengivoestomatite, mas pode se manifestar como uma faringite aguda. O vírus apresenta uma tendência a infectar células ectodérmicas na pele e mucosas, manifestando-se mais freqüentemente em crianças entre 10 meses e 3 anos de idade. Antes dos 10 meses, os anticorpos maternos agem inibindo a manifestação dos sintomas relacionados ao HSV. Em adolescentes pode manifestar-se como uma faringite exsudativa posterior aguda. O vírus é transmitido por perdigotos e contato com lesões ativas. O período de incubação é curto, durando de 2 a 12 dias, iniciando com um quadro sistêmico e evoluindo com lesões vesiculosas que sangram facilmente. Pode ser encontrada linfonodomegalia cervical e submental. O quadro agudo regride após 7 a 10 dias do pico das lesões. Após a infecção primária o vírus pode permanecer latente, aparentemente em gânglios nervosos sensitivos por longos períodos, voltando em situações de estresse.
Complicações
Apesar do quadro geralmente ser auto-limitado, sem complicações, pode haver alguns casos de infecção disseminada, comprometendo o sistema nervoso central. Os pacientes imunodeprimidos, os pacientes com lesões cutâneas prévias (ex: pênfigo, impetigo bolhoso, eczema etc), os com infecção bacteriana concomitante e sarcoidose podem apresentar um prognóstico pior com mortalidade atingindo até 80%.
Diagnóstico
O diagnóstico pode ser feito de diversas formas: clínico, microbiológico (através da cultura viral), com microscopia eletrônica e imunológico (ex: “anticorpo fluorescente” e ELISA de tecidos acometidos).
Tratamento
O tratamento se baseia em sintomáticos, podendo ser utilizado o aciclovir, 200mg 5x/dia por 7-10 dias, o qual deve ser sempre utilizado se infecção for em pacientes imunocomprometidos.
	6.3.2) Enteroviroses
	Doenças causadas por vírus cujo habitat é o intestino, portanto a via de transmissão é predominantemente fecal-oral e sua incidência é maior onde as condições sócio-econômicas são mais precárias.
 		6.3.2.1) Herpangina
Agente etiológico
Vírus coxsackie A, provavelmente também coxsackie B e echovírus.
Quadro Clínico
O paciente apresenta angina eritematosa com erupção vesiculosa (vesículas pequenas em palato mole, úvula e pilares amigdalianos). Ao se romperem, as vesículas deixam ulcerações esbraquiçadas circundadas por halo eritematosoespalhadas por toda orofaringe, poupando a região da mucosa jugal. Comum em crianças, principalmente no verão, pode ser acompanhada por febre alta, cefaléia, micropoliadenopatia cervical, disfagia e vômitos. Resolução espontânea em 5 a 10 dias.
Tratamento
O tratamento é sintomático com medidas analgésicas e hidratação via oral.
		6.3.2.2) Doença da mão-pé-e-boca
	É a infecção por enterovírus mais conhecida. É causada principalmente pelo vírus Coxsachie A16 e enterovírus 71.
As lesões orais estão quase sempre presentes e se assemelham às da herpangina, podendo ser mais numerosas e não são confinadas às áreas posteriores da boca. Estão presentes dor de garganta e febre leves. As lesões vesiculares ulceram-se rapidamente e regridem em um período de uma semana. A presença de lesões cutâneas é variável, e aparecem principalmente nas bordas das palmas das mãos e plantas dos pés, bem como nas superfícies ventrais e laterais dos dedos.
7) FARINGOTONSILITES CRÔNICAS
7.1) Amigdalites de repetição
	Podem ser causadas por bactérias, vírus ou fungos. Estudos com culturas realizados tanto na superfície quanto no córion amigdaliano mostram colonização polimicrobiana de aeróbios e anaeróbios em proporções semelhantes, sendo que ocorre a prevalência de microrganismos produtores de ß-lactamase.
	A avaliação laboratorial desses pacientes é importante com intuito de investigar possíveis deficiências imunológicas, carenciais e leucoses. Nestes casos, devem ser solicitados exames como hemograma completo, dosagem de ferro e zinco séricos, dosagem de IgG, IgM, IgA séricos, subclasses de IgG e IgA salivar.
7.2) Tonsilite crônica caseosa 
	As amígdalas apresentam criptas ou sulcos profundos que favorecem a deposição de caseum, constituído de restos alimentares, cristais de colesterina, descamação epitelial e leucócitos degenerados. De acordo com o material das criptas, pode-se classificá-las em caseosa (saída de material de descamação epitelial, que desprende como grãos de arroz), calculosa (calcificação do caseo) ou purulenta (saída de secreção leitosa à expressão da amígdala). Em alguns casos ocorre encapsulamento do material caseoso pelo epitélio amigdaliano, formando verdadeiros cistos repletos de líquido leitoso, de localização preferencial no pólo superior da amígdala, uni ou bilateral. 
	A sintomatologia consiste de irritação na garganta ou halitose e saída de material branco de odor fétido das criptas. O tratamento clínico deve ser dirigido para uma higienização local com anti-sépticos em forma de gargarejos, principalmente após as refeições, remoção do material caseoso e antibióticos nos casos de amigdalite purulenta.
	Se não houver sucesso com tratamento clínico, pode-se criptólise com laser de CO2 ou mesmo amigdalectomia.
ADENOAMIGDALECTOMIA
1) INTRODUÇÃO
Atualmente, o número de cirurgias tem diminuído devido à compreensão do papel das tonsilas palatina e faríngea tanto na imunidade local como sistêmica e pelo reconhecimento da etiologia bacteriana envolvida e utilização de terapêutica medicamentosa adequada. Nos EUA, no início da década de setenta, eram realizadas mais de 1 milhão de amigdalectomias e adenoidectomias por ano; já em 1994, foram realizadas cerca de 426.000, uma redução de aproximadamente 50%. Além dos fatores já citados, o fato de alguns médicos não estarem convictos de que o procedimento cirúrgico seja efetivo em prevenir infecções recorrentes de garganta e ouvido médio também contribui para essa diminuição significativa no número dessas cirurgias. Apesar disso, a amigdalectomia ou adenoidectomia continuam sendo os procedimentos cirúrgicos mais freqüentemente realizados em crianças.
O índice de mortalidade da adenoamigdalectomia diminuiu consideravelmente nas últimas décadas. Em 1946, girava em torno de 9%. Atualmente a mortalidade é igual ao risco da anestesia geral e gira em torno de 1:16.000 a 1:35.000 casos. 
2) INDICAÇÕES CIRÚRGICAS
	2.1) INDICAÇÕES PARA ADENOTONSILECTOMIA
		2.1.1) Obstrução de vias respiratórias superiores
É indicação amplamente aceita de adenoamigdalectomia. O aumento de tonsilas faríngeas e palatinas pode causar respiração bucal, malformação crânio-facial, déficit no crescimento pôndero-estatural, anormalidades da deglutição, roncos noturnos, distúrbios do sono, incluindo apnéia obstrutiva do sono, e cor pulmonale. A criança pode apresentar a fácies adenoidiana cujas características são boca permanentemente aberta, protrusão do maxilar e conseqüente hipotonia do lábio inferior e palato em ogiva. Além disso, trabalhos recentes acharam uma correlação positiva entre o grau de obstrução e distúrbios do sono, com piora da qualidade de vida, em crianças de 2 a 15 anos. 
Os distúrbios do sono, que podem ser causados pela hipertrofia adenoamigdaliana, podem ser classificados em três categorias de acordo com sua severidade:
	- Ronco Primário: condição benigna que ocorre em 7 a 10% das crianças. A arquitetura do sono e a oxigenação não estão alteradas. Sua fisiopatologia parece envolver uma incapacidade do centro respiratório no sistema nervoso central de gerar tônus muscular adequado da faringe, levando a estreitamento da passagem de ar durante o sono.
	- Síndrome da Resistência de Vias Aéreas Superiores: quadro caracterizado por ronco pesado, despertares breves e fragmentação do sono. Usualmente, não há diminuição do fluxo de oxigênio, dessaturação ou apnéias durante a polissonografia. Como esse quadro relaciona-se a um aumento do esforço respiratório, pode ser diagnosticado com manometria esofágica (que evidencia um aumento da pressão negativa no interior do esôfago, pelo grande esforço inspiratório para tentar vencer a pressão das vias aéreas superiores).
	- Síndrome da Apnéia e Hipopnéia Obstrutiva do Sono (SAHOS): é o grupo mais comum de apnéia em crianças, com incidência de aproximadamente 0,7% nas crianças da população geral, e tem como principal fator de risco a hipertrofia adenoamigdaliana. O pico de incidência ocorre entre 2 e 5 anos, coincidindo com a idade em que as tonsilas têm seu volume máximo. Um segundo pico ocorre no final da adolescência, com quadro clínico semelhantes à SAHOS do adulto. A maioria das crianças com SAHOS é encaminhada ao otorrinolaringologista por apresentarem tonsilas palatinas aumentadas e respiração bucal. Um conceito que se deve ter em mente é que respiração bucal não é característica específica para SAHOS ou aumento das tonsilas. Freqüentemente as crianças apresentam características físicas como facies adenoideana, alteração dentária e pectus excavatum.
Os principais sintomas da SAHOS na criança são:
a) Sintomas noturnos: roncos, sono inquieto, apnéias e hipopnéias, respiração bucal, facilidade de babar, tosse, enurese.
b) Sintomas diurnos: respiração bucal de suplência, rinorréia crônica, IVAS, voz anasalada, deglutição lenta e atípica, cefaléias matinais, alterações comportamentais. A sonolência diurna raramente é observada na SAHOS na infância.
Um exame físico completo deve ser realizado em crianças com obstrução de vias aéreas superiores e suspeita de SAHOS. A oroscopia deve ser realizada com cuidado com atenção particular ao diagnóstico de aumento de tonsilas, graduando de 1+ a 4+ de acordo com o grau de hipertrofia e obstrução da orofaringe. O diagnóstico de aumento da tonsila faríngea pode ser realizado pela palpação (com paciente anestesiado), rinoscopia posterior, nasofibroscopia rígida ou flexível ou exame radiológico. O exame radiográfico de cavum é o método mais barato e inócuo para o paciente, mas apresenta limitações. O paciente deve estar corretamente posicionado (perfil na inspiração), caso contrário, o exame poderá ser interpretado erroneamente. A polissonografia (PSG) é considerada o padrão-ouro para o diagnóstico, porém as dificuldades de se realizar em crianças e o seu alto custo têm limitado a sua utilização. Os critérios polissonográficos de SAHOS na criança são: IAH (Índice de apnéia e hipopnéia) maior ou iguala 1/hora, SatO2 menor que 90%, presença de arritmias ou bradicardias e presença de respiração paradoxal. A PSG tem como objetivos: confirmar a SAHOS, determinar o grau de gravidade, auxiliar no planejamento terapêutico, fazer o diagnóstico de componente central da apnéia e obter registro pré-tratamento para avaliar eficácia terapêutica. 
	As indicações da "American Thoracic Society" para realização da PSG em crianças são: 
		1. Diagnóstico diferencial entre ronco primário e síndrome da apnéia 	obstrutiva do sono; 
		2. Avaliação da criança com padrão de sono patológico (sonolência 	excessiva diurna, p. ex.); 
		3. Confirmação diagnóstica de obstrução respiratória durante o sono para 	indicação de tratamento cirúrgico; 
		4. Avaliação pré-operatória do risco de complicações respiratórias da 	adenotonsilectomia ou outras cirurgias nas vias aéreas superiores; 
		5. Avaliação de pacientes com laringomalácia cujos sintomas são mais 	intensos no período noturno ou têm cor pulmonale; 
		6. Avaliação de crianças obesas com sonolência excessiva diurna, ronco, 	policitemia ou cor pulmonale; 
		7. Avaliação de crianças com anemia falciforme (pelo risco de oclusão 	vascular durante o sono); 
		8. Persistência do ronco no pós-operatório de adenotonsilectomia; 
		9. Controle periódico do tratamento com pressão positiva contínua das vias 	aéreas (CPAP). 
O tratamento inclui tanto medidas clínicas quanto cirúrgicas. Entre as medidas clínicas, incluem-se o tratamento da rinite alérgica e a diminuição do peso em obesos. Entre as medidas cirúrgicas, estão a adenoamigdalectomia e as cirurgias corretivas nasais (septo, cornetos, pólipos). A uvulopalatofaringoplastia está reservada para pouquíssimos casos, pois seus critérios de indicação para o adulto geralmente não são utilizados para crianças.
		2.1.2) Disfagia e Alteração da Fala
Tonsilas aumentadas ocasionalmente interferem na fase faríngea da deglutição, podendo causar obstrução mecânica ou incoordenação entre a respiração e a deglutição. Similarmente, um aumento de tonsilas pode diminuir o fluxo nasal e causar voz hiponasal ou abafada ou gerar voz hipernasal devido à insuficiência velofaríngea. Disfagia associada a déficit de crescimento e voz inteligível são indicações para adenotonsilectomia.
		2.1.3) Crescimento dento-facial anormal
A obstrução nasal crônica devido a tonsilas aumentadas pode predispor à alterações dentofaciais. Nestas crianças, o crescimento diminuído da mandíbula e o reposicionamento da língua podem compensar a diminuição do fluxo nasal criando uma maior cavidade oral e alterações no posicionamento dos dentes de graus bastante variados. Até certo ponto, com o tratamento, essas alterações no crescimento dentofacial podem ser revertidas.
		2.1.4) Halitose
A presença de halitose pode ocorrer quando há acúmulo de debris e bactérias nas criptas das tonsilas palatinas. Embora mau hálito seja freqüentemente citado como uma indicação de adenotonsilectomia, pode ser causado por vários outros fatores, incluindo doença periodontal, debris da língua ou tonsila lingual, sinusite ou corpo estranho sinusal e refluxo gastroesofágico. Dessa forma, a indicação cirúrgica deve ser avaliada individualmente.
	2.2) INDICAÇÕES PARA AMIGDALECTOMIA
		2.2.1) Infecção de Repetição Persistente 
Não há um consenso sobre a indicação de amigdalectomia por infecção recorrente. Paradise et al. sugeriram os seguintes critérios para indicação de amigdalectomia :
- Freqüência: 7 ou mais episódios em 1 ano; 5 ou mais episódios por ano por 2 anos consecutivos; 3 ou mais episódios por ano por 3 anos consecutivos.
- Cada episódio deve ter pelo menos uma das seguintes características: temperatura oral maior ou igual a 38,3°C, linfoadenomegalia cervical maior que 2cm, exsudato amigdaliano ou cultura de secreção faríngea positiva para estreptococo beta-hemolítico do Grupo A.
- Tratamento antibiótico cobrindo estreptococos.
Segundo o autor, em tais condições, a amigdalectomia reduziu a incidência de infecções de garganta em relação ao grupo não operado. No entanto, a conduta deve ser baseada no bom senso, de acordo com as características individuais de cada caso. A indicação cirúrgica pode ser mais liberal quando:
- o número de infecções é menor que o sugerido, mas elas levam à hospitalização ou a abscessos periamigdalianos;
- o paciente tem diabetes mellitus mal controlado, doença valvar ou shunt ventrículo-peritonial;
Segundo a “American Academy of Otolaryngology-Head and Neck Surgery”, a indicação de tonsilectomia é estabelecida em pacientes com 3 ou mais amigadalites por ano, independentemente de tratamento adequado ou não. 
		2.2.2) Abscesso Periamigdaliano
Um episódio de abscesso peritonsilar pode ser tratado eficazmente por uma
punção aspirativa, incisão e drenagem ou tonsilectomia a “quente”. A taxa de recorrência gira em torno de 10 à 15%. Assunto bastante controverso, para muitos trata-se de uma indicação formal de amigdalectomia pelo alto índice de recorrência do quadro, mesmo quando realizada drenagem adequada. As recidivas ocorrem principalmente em crianças com história prévia de várias infecções de garganta. A cirurgia pode ser feita "a quente" (ou seja, na vigência do abscesso) com cobertura antibiótica ou "a frio" (após a resolução do abscesso, como geralmente é feito no Hospital das Clínicas). Por outro lado um paciente adolescente que não tenha história prévia de infecções de garganta e que apresente um abscesso passível de drenagem com anestesia local e cura com antibioticoterapia, não necessariamente precisa de tratamento cirúrgico, uma vez que nesse tipo de paciente as recidivas são relativamente raras.
		2.2.3) Suspeita de malignidade ou aumento de volume unilateral
Processos malignos envolvendo essas estruturas são geralmente secundários a linfomas em crianças e carcinomas epidermóides em adultos. A apresentação típica de linfoma amigdaliano é o aumento unilateral, tonsila palatina de cor acinzentada, consistência firme, extensão para tecidos adjacentes e ulcerações, associado com linfoadenomegalia cervical e sintomas sistêmicos. Essas anormalidades merecem maior atenção em crianças imunodeprimidas após transplante de medula óssea. Indica-se exame anátomo-patológico em casos em que o paciente apresenta aumento desproporcional de tonsilas ou em casos de aumento do volume após os 20 anos.
		2.2.4) Amigdalite Crônica
Não há ensaio clínico randomizado para definir a eficácia e segurança da amigdalectomia para casos de amigdalite crônica. Sugere-se que se leve em conta a duração e severidade da doença e se o paciente recebeu tratamento adequado (incluindo antibioticoterapia contra germes produtores de beta-lactamase) na indicação da cirurgia.
		2.2.5) Portador Crônico de Streptococcus pyogenes
James et al encontrou um taxa de contágio de familiares a partir de portadores de apenas 9%, e apenas 40% dos infectados desenvolveram doença clínica. Dessa forma, o tratamento cirúrgico deve ser considerado quando na família houver casos de febre reumática, infecções de repetição tipo ping-pong, paciente com passado de glomerulonefrite ou paciente que estude em escola com epidemia de faringotonsilite. Nestes casos deve-se tentar primeiro a administração de antibióticos e cirurgia somente nos casos refratários.
	2.3) INDICAÇÕES PARA ADENOIDECTOMIA
		2.3.1) Sinusite recorrente/crônica
Para pacientes com sinusite recorrente ou crônica, os benefícios da adenoidectomia permanecem incertos, visto que nenhum ensaio clínico demonstrou que a cirurgia diminui a morbidade de sinusites em crianças. Se o paciente apresenta obstrução nasal moderada ou severa devido a aumento de tonsila faríngea, deve-se considerar a cirurgia, que poderia melhorar o fluxo nasal e a drenagem de secreções. Deve-se investigar presença de rinopatia, visto que pode haver concomitância de sinusopatia alérgica/irritativa. Alguns trabalhos recentes como de Rudnick et al. têm demonstradoque intervenções cirúrgicas como adenoidectomia e FESS em crianças com doença nasosinusal levam a uma melhora dramática de qualidade de vida nesses indivíduos. 
		2.3.2) Otites Médias
Estudos demonstraram que adenoidectomia, principalmente se for associada à colocação de tubo de ventilação, em pacientes com aumento do volume das tonsilas faríngeas, foi eficiente em diminuir o número de episódios de otite média aguda recorrente. Contudo, tal indicação não é de aceitação unânime. Coyte et al. em estudo com 37.316 crianças com idade até 19 anos submetidas a colocação de tubo de ventilação, demonstrou que houve melhor resultado no sentido de diminuição de necessidade de reinserção do tubo e evolução com otite média quando a colocação do tubo está associada a adenoidectomia e do que quando apenas realizada isoladamente. Revelou resultados ainda melhores quando foi associada à colocação do tubo de ventilação a adenoamigdalectomia.
		2.3.3) Outras
	
		- Obstrução respiratória em pacientes com tonsilas palatinas de tamanho nitidamente reduzido.
		- Suspeita de neoplasia.
3) CONTRA INDICAÇÕES
	3.1) Fenda palatina
A presença de fenda palatina submucosa manifesta-se pela tríade úvula bífida, sulco na linha média ao longo do palato mole e entalhe na margem posterior do palato duro. A presença destes sinais indica uma maior probabilidade de desenvolvimento de insuficiência velofaríngea após a cirurgia, constituindo-se uma contra-indicação relativa.
	3.2) Anemia
Evitar em pacientes com hemoglobina inferior a 10g/100ml ou hematócrito menor que 30%.
	3.3) Infecção aguda
A presença de infecção aguda de amígdalas ou de vias aéreas superiores pode aumentar o sangramento intra-operatório e levar a infecção das vias respiratórias baixas. Recomenda-se aguardar um período de 2 a 3 semanas para a realização da cirurgia (com exceção dos casos de abcesso peri-amigdaliano).
	3.4) Vacinação contra poliomielite
Estudos epidemiológicos demonstram que a incidência de poliomielite aumenta após amigdalectomia; porém, em indivíduos vacinados, a possibilidade de contrair a doença é mínima. Aconselha-se aguardar um período de 15 dias a 6 semanas após a última dose da vacinação para realizar a cirurgia.
	3.5) Outras
A idade do paciente é de pouco importância para a realização da adenoidectomia, podendo ser realizada desde os primeiros meses de vida; entretanto, o período mais favorável é entre os 2 e 4 anos de vida. Aconselha-se amigdalectomia após os 2 anos de vida porque pequenas perdas sangüíneas em crianças pequenas demais já podem provocar alterações hemodinâmicas (Faigel, 1966).
Alguns autores recomendam aguardar 6 meses após a vacinação de BCG para operar.
Impetigo peri-orificial em face é contra-indicação para a cirurgia.
Múltiplas cáries dentárias ou piorréia alvéolo-dentária são contra-indicações
relativas para a cirurgia; é preciso saber que elas são causas freqüentes de infecções pós-operatórias. Já abscessos dentários em evolução contra-indicam a cirurgia.
Obviamente, discrasias sangüíneas não corrigidas e outras doenças sistêmicas não controladas contra-indicam a cirurgia.
4) CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS
O esclarecimento do paciente e sua família no pré-operatório sobre a possibilidade de dor, hemorragia e vômitos facilita o pós-operatório, pois muitas vezes, como se trata de uma cirurgia muito "popular", as pessoas tendem a minimizar suas repercussões, não estando preparadas para as manifestações pós-operatórias. O exame geral do paciente é imprescindível. Os exames hematológicos pré-operatórios de rotina, em pacientes sem outras patologias, devem englobar o coagulograma e hemograma com contagem de plaquetas. Exames laboratoriais não se mostraram mais eficazes que uma história clínica detalhada em predizer o risco de sangramento. Crianças com doença de Von Willebrand e hemofilia requerem um preparo especial (reposição dos fatores de coagulação ausentes no pré-operatório imediato e por mais 24 horas no pós-operatório, segundo o Departamento de Hematologia do Hospital das Clínicas). Crianças com Síndrome de Down devem ser radiografadas antes da cirurgia para avaliar a possibilidade de subluxações das primeira e segunda vértebras cervicais. Nestes pacientes deve-se evitar a hiperextensão da cabeça no ato cirúrgico. 
O paciente deverá manter jejum de pelo menos 12 horas antes da cirurgia, evitando refluxo gástrico e conseqüente aspiração; deve ser tomada especial atenção quanto ao estado de hidratação do paciente, já que o jejum e a perda sangüínea durante a cirurgia podem levar à desidratação. Recomenda-se sempre a realização de reposição volêmica durante a cirurgia e, em alguns casos, no pré-operatório.
No dia da cirurgia a temperatura do paciente deve estar igual ou inferior a 37,5ºC.
Podem ser usados sedativos na noite anterior à cirurgia com o objetivo de minimizar a ansiedade do paciente.
5) ANESTESIA
A anestesia geral com intubação orotraqueal é o método de escolha, pois permite melhor controle da via aérea do paciente, rápida sucção de secreções da faringe e impede aspiração de sangue ou debris durante a cirurgia. O ponto de fixação do tubo endotraqueal deve ser realizado junto à boca. 
6) TÉCNICA CIRÚRGICA
O paciente deverá permanecer em posição supina com o cirurgião posicionado à sua cabeceira. A posição de Rose facilita a exposição do campo operatório. Um abridor de boca estático deve ser colocado para permitir boa visualização do campo cirúrgico. A assepsia rigorosa nessas cirurgias não é obrigatória já que a cavidade oral não pode ser esterilizada.
	6.1) ADENOIDECTOMIA
O palato mole é retraído com um retrator de palato ou com um catéter introduzido pela narina e retirado pela boca, permitindo melhor inspeção da nasofaringe por visualização direta ou indireta com auxílio de espelhos, ou palpação. A adenoidectomia pode ser realizada apenas com o uso de curetas, devendo-se tomar o cuidado de não lesar tecidos subjacentes (músculos faríngeos e óstios tubários).
Alguns autores sugerem o uso de telescópio nasal para melhor visualização do tecido a ser curetado ou de palpação para certificar-se da total exérese do tecido adenoidiano.
O sangramento costuma cessar com a utilização de tampão de gaze na nasofaringe que deve ser deixado por 10-15 minutos.
	6.2) AMIGDALECTOMIA
Existem duas técnicas básicas de amigdalectomia: dissecção e Ballanger-Sluder. Essa última teve utilização universal nos anos 30 e 40, porém hoje usa-se principalmente a dissecção.
		6.2.1) Considerações anatômicas importantes:
	- A face externa da tonsila palatina, ou cirúrgica, encontra-se revestida por cápsula fibrosa, separando-a do plano muscular por uma área de tecido conjuntivo frouxo. Deve-se respeitar a musculatura faríngea e o máximo da mucosa. Esse limite pode estar ausente nos pilares, principalmente os posteriores, e no terço inferior da tonsila; portanto, a dissecção deve iniciar no pilar anterior, do pólo superior para o inferior.
	- A carótida interna passa a 2 cm da loja. Isto é válido quando a cabeça do paciente está medianizada. Se houver alguma rotação da cabeça a carótida interna encosta no pólo inferior do lado oposto ao da rotação.
	- A carótida externa passa bem próximo ao pólo inferior.
	- O primeiro cotovelo da a. facial é mais exposto ao nível do pólo inferior.
	- Os pedículos arteriais se agrupam nos 2 pólos amigdalianos. As atipias ocorrem quando há predomínio de um dos pedículos.
	- As hemorragias ocorrem com mais freqüência no pólo inferior.
	- Alguns autores sugerem que a infiltração do leito amigdaliano com anestésico local, mesmo com o paciente sob anestesia geral, diminui a dor no pós-operatório.
		6.2.2) Dissecção
�
A tonsila palatina é apreendida por clamp e puxada medialmente de forma a deixar os pilares distendidos. É realizada incisão da mucosa do pilar anterior, iniciando-se na prega triangular (no pólo inferior,onde a tonsila palatina continua-se com a lingual) e estendendo-se até a fossa supra-tonsilar e pilar posterior. O clamp é então ajustado de modo e apreender a cápsula tonsilar. Realiza-se a dissecção romba do pólo superior, por planos, com auxílio do descolador aspirador ou da pinça de Hartmann. Essa dissecção deve ser extra capsular, mantendo a integridade da amígdala e, geralmente, é de fácil execução, exceto na presença de fibrose. Neste processo, deve-se preservar ao máximo os pilares e a musculatura faríngea. Após a dissecção da região superior, o pólo inferior pode ser retirado com o auxílio de alça fria. Segue-se procedimento semelhante para a amígdala contralateral.
Sangramentos podem ser controlados com técnicas compressivas. Algumas vezes pode ser necessária a eletrocoagulação, suturas hemostáticas ou "nós" para controlar sangramentos mais importantes. Sangramentos profusos podem necessitar de aposição e sutura dos pilares anterior e posterior. Ainda podem ser utilizados agentes adstringentes, como nitrato de prata, e soluções diluídas de epinefrina.
Ao término do procedimento, a faringe é irrigada com solução salina. Caso não haja sangramento, a solução é succionada e o paciente pode ser submetido à reversão da anestesia e extubação.
		6.2.3) Novas técnicas e instrumentos
Intrumentos com melhorias no design produziram algumas evoluções na tonsilectomia, porém a abordagem básica permanece a mesma. Dentre eles, podem ser citados o uso de eletrocautério (mono e bipolar), laser de argônio, microdebridador, harmonic scalpel e ablação por radiofreqüência.
7) CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS E TERAPIAS ADJUVANTES
A extubação só deve ser realizada com o paciente completamente acordado; pequenas quantidades de sangue ou secreção podem causar espasmo laríngeo reflexo na extubação. 
Os regimes de ingesta oral após a cirurgia, assim como a atividade física, variam de autor para autor; recomenda-se aguardar em média um período de 7 a 14 dias após a cirurgia para iniciar atividade física rigorosa. Paparella recomenda que se inicie a ingestão de fluidos tão logo o paciente esteja completamente acordado, sendo ajustada conforme a tolerância do paciente. No geral, inicia-se dieta líquida e fria, quando o paciente recobra plenamente a consciência. Devem ser evitados alimentos que possam causar lesão aos tecidos faríngeos por um período de 3 semanas, quando a cicatrização se completará. Adultos devem ser proibidos de fumar no pós-operatório, uma vez que pode ocorrer inflamação secundária que prolongue o período de cicatrização.
	7.1) Injeção perioperatória de anestésicos locais
O agente tradicionalmente usado para anestesia local em tonsilectomias é a bupivacaína a 0,25% com epinefrina 1:200.000; tipicamente 3 a 5 ml deste agente é injetado no tecido peritonsilar antes ou após a remoção da tonsila. Entretanto, outros agentes tem sido reportados para uso, como a lidocaína com epinefrina e ropivacaína com ou sem clonidina. Os benefícios atribuídos à injeção local de anestésicos têm incluído redução da dor, sangramento intra operatório e pós operatório diminuídos e facilitação da dissecção. Estudos existentes não comprovaram benefício da prática, não sendo recomendado o seu uso.
	7.2) Uso pós-operatório de antibióticos
Uma revisão sistemática recente mostrou, com o uso de antibiótico pós-operatório, diminuição de episódios de febre e duração da halitose, mas não mostrou efeito significativo na redução da dor e necessidade de analgesia, na incidência de hemorragia e no tempo necessário para o retorno para uma dieta e atividades habituais.
Seu uso não está livre de controvérsias e ainda não existe consenso sobre qual agente usar e a duração da terapia. A emergência de resistência bacteriana com o uso de antimicrobianos de largo espectro não era preocupação anteriormente, mas deve ser considerado atualmente.
	7.3) Uso perioperatório de esteróides
O uso de uma dose única de dexametasona no intraoperatório mostrou diminuição da dor no primeiro pós operatório. Além disso, apresentam outros benefícios, incluindo a redução da incidência de síndrome de angústia respiratória, diminuição do edema subglótico e menor incidência de náuseas e vômitos pós-operatórios. O esteróide mais comumente usado é a dexametasona, na dose de 0,15-1,0 mg/kg EV.
	7.4) Manejo da dor pós-operatória
O controle inadequado da dor após tonsilectomia pode resultar em pobre ingestão oral, distúrbios do sono, alterações comportamentais e vômitos. Acetominofeno, em doses de 10-15mg/Kg, é comumente usado. Moir et al mostrou que o uso de acetominofeno associado à codeína levou a uma menor ingesta oral pós-operatória com o mesmo nível de controle da dor. Dessa forma, não há vantagem em administrar agentes narcóticos no controle da dor. Não foram encontrados grandes trials com a análise do uso de dipirona, que é muito utilizada no Brasil. Os agentes anti-inflamatórios não hormonais mostraram diminuição da dor, porém também aumentavam o índice de sangramento por alterarem a agregação plaquetária.
	7.5) Avalição da possibilidade de alta hospitalar
Tornou-se uma prática bastante comum os pacientes receberem alta no mesmo dia da cirurgia. Esse procedimento deve ser evitado em pacientes considerados de risco, listados abaixo:
		- pacientes que apresentaram ingesta oral baixa;
		- pacientes que apresentarem vômitos ou hemorragia;
		- crianças com menos de 3 anos;
		- pacientes que residam a mais de 30 - 45 minutos do hospital;
		- pacientes cujo nível socio-econômico possa levar a negligência inadvertida e complicações;
		- pacientes com outros problemas de saúde.
	Habitualmente, preconiza-se alta após 8 horas.
8) COMPLICAÇÕES MENORES PÓS-OPERATÓRIAS
	
	Considera-se complicação menor qualquer alteração intra ou pós-operatória que tenha resultado na necessidade de atuação do médico fora da rotina habitual, mas que não tenha colocado em risco a vida do paciente. A incidência das complicações menores citadas na literatura é de cerca de 15%.
	8.1) Dor
De modo geral, a dor é tanto mais intensa quanto maior a idade do paciente. O local da dor é na faringe e frequentemente irradia-se para os ouvidos (dor reflexa pelo nervo glossofaríngeo). Geralmente é bem controlada com a utilização de analgésicos comuns.
	8.2) Febre
Febre freqüentemente ocorre nas primeiras 36 horas de pós-operatório e usualmente representa efeito dos agentes anestésicos, atelectasia, estresse ou bacteremia transitória. Raramente ultrapassa 38,5°C e é considerada normal. Considera-se complicação a febre muito intensa e prolongada, que faz pensar em infecções atípicas.
	8.3) Vômitos
	Os vômitos persistentes são a causa mais comum que impede a alta do paciente ou que provoca seu retorno ao hospital. Presente em 55% dos pacientes no pós-operatório. Normalmente essa situação se resolve em menos de 24 horas por meio de hidratação e medicação parenteral sintomático.
	
	8.4) Desidratação
	Conseqüente ao jejum, à perda de sangue na cirurgia e à má aceitação via oral de líquidos no pós-operatório e vômitos. Se necessário, fazer hidratação endovenosa.
	8.5) Edema de úvula
	Pode ser causado por trauma de intubação ou trauma cirúrgico. Alguns pacientes podem apresentar dor, disfagia e desconforto respiratório. Indica-se a utilização de corticóide por até 7 dias.
	8.6) Insuficiência velofaríngea transitória
	
	O ronco pode persistir ou mesmo aumentar durante alguns dias. O anasalamento é normal nos primeiros dias, mas se ele persistir é necessário verificar insuficiência velopalatina, que deveria ter sido afastada antes da cirurgia. Neste caso, é indicado fonoterapia e, se necessário, um flap faríngeo (aguardar 2 meses após a cirurgia).
	Ao persistir a respiração oral, estando o cavum e as fossas nasais livres, deve-se tentar terapia de reeducação com participação de fonoaudióloga.	
	8.7) Pequenos sangramentos
	
	Ocorrem com certafreqüência e geralmente cessam espontaneamente, sem necessitar de intervenção do médico. Esses pacientes precisam de observação rigorosa, pois uma parte deles pode vir a apresentar sangramentos importantes. Richmond et al. relataram 2% de pequenos sangramentos com resolução espontânea, e 2% de sangramentos importantes que requereram intervenção cirúrgica no pós-operatório.
	8.8) Traumas dentários
	Causados tanto pelo anestesista quanto pelo cirurgião. Para evitar este tipo de problema deve-se tomar cuidado especial na colação do abridor de boca para a realização da cirurgia, devendo checar a integridade dentária do paciente no pré-operatório.
	
	8.9) Recidiva
	São mais freqüentes em lactentes e em casos de exérese incompleta.
9) COMPLICAÇÕES MAIORES PÓS-OPERATÓRIAS
	9.1) Hemorragias
	
	São as complicações mais estudadas e mais temidas das adenoamigdalectomias. Sua incidência na literatura é variável, oscilando entre 1 e 8%. A necessidade de transfusão é mais freqüente em crianças que tiveram episódios de infecção de vias aéreas superiores recentes e em adultos.
Têm 4 causas principais:
	- sangramento de uma artéria vomeriana (se inadvertidamente raspou-se a borda posterior do vômer);
	- sangramento da parede faríngea posterior (se a curetagem seguiu muito para baixo);
	- exérese adenoidiana incompleta;
	- discrasias sangüíneas não diagnosticadas previamente.
O controle do sangramento deve ser feito após boa visualização do leito amigdaliano sangrante. Pode-se optar por uso de vasoconstritores, cauterização, sutura, ou curetagem do tecido remanescente. Nos sangramentos de grande monta em que não se consegue controla-los, há indicação de acesso cervical externo e ligadura da artéria carótida externa ou seu ramo relacionado ao sangramento.
 
	9.2) Insuficiência respiratória
	
	A causa mais citada (apesar de rara) na literatura é o edema pulmonar, que pode acometer principalmente pacientes com SAHOS grave e portadores de Síndrome de Down. Richmond et al. referiram 1,3% de dificuldades respiratórias graves no pós-operatório, sendo que 80% dos casos eram crianças portadoras de Síndrome de Down, ou com idade bem abaixo da média do grupo. A obstrução respiratória crônica importante que esses pacientes têm pela grave hipertrofia amigdaliana leva a um aumento na resistência inspiratória e expiratória. O aumento da pressão expiratória final leva a um aumento da pressão venosa intratorácica. O alívio súbito da obstrução respiratória pela intubação e/ou pela amigdalectomia pode resultar em transudação para o interstício e para o espaço alveolar, que pode ocorrer em graus variados.
	Outras causas mais frequentes de insuficiência respiratória são: aspiração de secreção, sangue ou restos de adenóide, atelectasia pulmonar, espasmos de laringe ou brônquios, traumas de intubação etc.
10) COMPLICAÇÕES RARAS
	Insuficiência velofaríngea persistente: ocorre em aproximadamente 1: 1500 a 1:3000 pacientes. Constituem grupos de risco as crianças com fenda palatina submucosa, anomalias orofaciais e desordens neuromusculares que afetam a função do palato.
	Estenose nasofaríngea: Complicação rara e de difícil tratamento, que pode ocorrer como conseqüência de remoção de excesso de mucosa, com a formação de uma cicatriz circunferencial.
	Lesão da tuba auditiva: Pela utilização excessivamente agressiva da cureta de adenoidectomia ou a utilização intempestiva do laser.
	Infecções cervicais
	Imunológicas: Os valores dos níveis de imunoglobulinas séricas no pós-operatório, apesar de inferiores aos do pré-operatório, estão dentro dos limites da normalidade. 
11) MELHORA DA QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES SUBMETIDOS À
ADENOAMIGDALECTOMIA
Após a adenoamigdalectomia, foi observada melhora da qualidade de vida de todos os pacientes com SAHOS devido ao aumento de tonsilas, associada a uma melhora do sofrimento físico e dos distúrbios de sono, as duas maiores preocupações de pais e crianças com essa patologia. Nos casos em que a melhora foi menos expressiva, observou-se rinite associada. (Di Francesco et al, 2004; Serres et al, 2000).
Existem evidências a respeito da influência positiva da adenoamigdalectomia sobre o crescimento pôndero-estatural de crianças portadoras de aumento das tonsilas e conseqüente SAHOS. Dois trabalhos diferentes evidenciaram aumento do ritmo de crescimento 6 meses após a cirurgia (Williams et al, 1991; Di Francesco et al,2003).
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	Vou procurar as páginas estudadas!!!
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