Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TEORIA DA NORMA JURÍDICA O DIREITO COMO NORMA DE CONDUTA Um mundo de normas O enfoque aqui adotado é o normativo Do nascimento à morte estamos vivendo uma experiência normativa. Variedade e multiplicidade de normas Há diversos tipos de normas. Sempre que nos fixamos objetivos, prevemos os meios: “se queres A, deves cumprir a ação B”. Se quero enviar uma carta, compro selos, envio pelo correio (DA) , estou protegido pelo sigilo (DC). É o direito uma instituição? Hauriou e Santi Romano SR: O conceito de direito tem de ter os seguintes elementos: a) sociedade (ubi societas, ibi jus); b) ordem social (exclui o arbítrio); c) uma organização. Ordem social organizada= instituição. Assim, uma classe social não é instituição, mas uma gangue pode sê-lo, na medida em que estabelece um direito (o de delinqüir). CRÍTICA: pode haver sociedades sem direito. O pluralismo jurídico Mérito da teoria institucionalista: estender a idéia de direito para além do Estado (gangue, tribo, ordenamentos feudais). O Estado moderno foi se formando num processo de absorção de ordenamentos acima e abaixo (monopolização da produção jurídica). 2 Observações críticas O direito é produzido só pelo Estado ou por outras organizações? Problema semântico (faltam definições estipulativas). Estatal: D em sentido estrito Gangue: sentido amplo. Esta última parece mais oportuna (dir. eclesiástico e internacional). CRÍTICA: A instituição é feita de normas MÉRITO: Mostrou que o d não é só norma, mas conjunto de normas. É o direito uma relação intersubjetiva? DEL VECCHIO: O D (concepção kantiana) é a coordenação de condutas (diferente da moral). Essa relação é qualificada pela existência de um dever de um lado e de um direito do outro,. Observações críticas Direito e dever estão estabelecidos em normas. JUSTIÇA, VALIDADE E EFICÁCIA Três critérios de valoração 1) Justiça: maior ou menor correspondência entre a norma e os valores superiores que inspiram o ordenamento. O problema da justiça é o que a norma deve ser ( deontológico) 2) validade: existência da regra. 3 operações: a) competência da autoridade; b) verificar se foi revogada; e c) verificar compatibilidade com normas superiores. O problema aqui é o que a norma é (ontológico). 3 3) eficácia: cumprimento e aplicação da sanção. Aqui o problema é fenomenológico. Os três critérios são independentes 1. Justa e inválida: normas de direito natural 2. válida e injusta: escravidão, racismo, prp. Privada para o socialista, direito de greve p/o capitalista; 3. válida e ineficaz: normas const. Sociais, bicho etc. 4. eficaz e inválida: normas não jurídicas (etiqueta) 5. justa e ineficaz: “não há justiça no mundo” 6. eficaz e injusta (escravidão) Possíveis confusões dos 3 critérios Justiça= teoria da justiça Validade= tgd Eficácia= sociologia jurídica Reducionismos: 1) redução da validade à justiça; 2) da justiça à validade; 3) da validade à eficácia. O direito natural - Poderíamos reconhecer como direito apenas o justo se ele fosse demonstrável ou evidente. Justo e injusto universalmente válido: problema: desacordo entre os jusnaturalistas. ARISTÓTELES: escravidão natural/ KANT: liberdade natural LOCKE: prop. Privada natural/ CAMPANELLA prop. Coletiva natural. Estas diferenças derivam de 2 razões: 1) o termo natureza é genérico; 4 2) ainda que fosse unívoco, não se pode dizer se a tendência natural é boa ou má (instinto utilitário em HOBBES e MANDEVILLE). Então, essa incerteza é um problema para o direito A quem corresponde estabelecer o que é justo?: 1) a quem detém o poder (redução da justiça à força) 2) a todos (anarquia). Positivismo jurídico Só é justo o que é ordenado e pelo só fato de sê-lo. HOBBES: não é o justo por natureza, mas por convenção. – quem detém o poder não é o mais justo mas o mais forte); Realismo jurídico Descoberta do direito na realidade social e nas regras aplicadas pelas autoridades. 3 momentos: 1) Escola histórica (Savigny) Restauração. – Volkgeist – Costume contra o direito imposto pela classe dominante. 2) Concepção sociológica do direito – 1900 – defasagem entre os códigos e a realidade social – direito judicial – movimento do direito livre (Kantorowicz) - Geny, Ehrlich, Heck. 3) Realismo norte-americano – Corte Holmes (anos 30-50). - Common law (dir. consuetudinário - O.W.Holmes defende a interpretação evolutiva do direito - R. Pound: o jurista deve levar em conta na interpretação e aplicação os fatos sociais; - Franck: não existe d. objetivo, mas permanente criação do juiz. CRÍTICA: desaparece a certeza. Para FRANCK, a certeza é um mito derivado da aceitação infantil da autoridade. 5 MÉRITO: mostrar que há fontes do direito além da lei. Nessas correntes a relação validade/eficácia: a) direito consuetudinário: para que seja jurídico, deve ser validado pela lei ou pelo juiz b) direito judicial: é necessário distinguir fonte de conhecimento de fonte de qualificação. AS PROPOSIÇÕES PRESCRITIVAS Um ponto de vista formal Abstrai-se o conteúdo: S é P vale tanto para Sócrates é mortal quanto para A baleia é um mamífero. Assim, Se A deve ser B vale tanto para pisar nas flores quanto para matar. A norma como proposição A nj é uma proposição. Proposição é um conjunto de palavras que tem um significado em seu conjunto. Forma mais comum: juízo (proposição composta por sujeito e predicado unidos por uma cópula: S é P) Nem toda proposição é um juízo (Olha! Ou Qual é a sua idade?) Enunciado: forma gramatical da proposição Mesma proposição com distintos enunciados: Mário ama Maria e Maria é amada por Mário. Mesmo enunciado em contextos diferentes: “gostaria de beber um refrigerante” Conjuntos de palavras sem significado não são proposições: César é um número primo ou o triângulo é democrático. Proposição falsa é proposição (tem significado): César morreu nos idos de abril, ou o triângulo tem 4 lados. 6 Prop. Falsa: Se sintética, não correspondência aos fatos; se analítica, coerência. Formas e funções Forma: declarativas, interrogativas, imperativas e exclamativas Função: afirmações, perguntas, ordens, exclamações. EX: Chove (formalmente declarativa com função de afirmação); Chove? Formalmente interrogativa e com função de pergunta); Pegue o guarda-chuva (formalmente imperativa e função de mandamento) Como vc está molhado! (formalmente exclamativa e função de exclamação. Mas nem sempre coincidem: quando o CC diz que os filhos herdam em partes iguais, não descreve mas prescreve. As três funções Funções da linguagem: descritiva, expressiva e prescritiva >>>científica, poética e normativa Função descritiva: dar informações= fazer conhecer Função expressiva: evocar sentimentos= fazer participar Função prescritiva: dar ordens = fazer fazer. Características das prop prescritivas a) quanto à função; b) quanto ao comportamento do destinatário; c) quanto ao critério de valoração. 1) quanto à função: já referido; 2) quanto ao destinatário: na prop. Descritiva, o destinatário aceita quando crê que a afirmação é verdadeira; na prescritiva quando a cumpre; 3) Critério de valoração: descritivas = v ou f; (correspondência aos fatos = verificação empírica; postulados auto-evidentes = verificação racional; Prescritivas: justas (justificação material) ou válidas (justificação formal). 7 A verdadede uma proposição científica pode ser demonstrada, enquanto que da justiça de uma norma somente se pode tentar persuadir os outros (donde a diferença entre a lógica, ou teoria da demonstração, e a retórica, ou teoria da persuasão) Imperativos autônomos e heterônomos Aqui o critério é o da relação entre sujeito ativo e passivo. Moral: imp. Autônomos Direito: Heterônomos. Mas há sistemas morais religiosos (het) e imp jur. Autônomos (aut. Privada) Kelsen: democracia e autocracia. Imperativos categóricos e hipotéticos Aqui o critério é quanto à forma. Categóricos: Incondicionais Hipotéticos: prescrevem ação boa para obter-se um fim (se queres X, deves Y) Mandamentos e conselhos Critério: força vinculante Mas há conselhos no direito (poder consultivo). AS PRESCRIÇÕES JURÍDICAS Á procura de um critério Se A deve ser B pode ser aplicado a muitos tipos de normas. Kelsen: no direito, A representa o ilícito e B a sanção. O Critério da resposta à violação 8 É a sanção jurídica (como resposta à violação da norma) que serve para diferenciar as nj de outros tipos. Mas as sanções encontram-se em todo sistema normativo. Vamos examinar os vários tipos de resposta. A sanção moral Morais são as normas cuja sanção é puramente interior. Remorso ou arrependimento: sentimento de desconforto PROBLEMA: escassamente eficaz. As sanções sociais Externas. Reprovação, isolamento, desterro, linchamento PROBLEMA: falta de proporção entre violação e resposta, e incerteza de aplicação. A sanção jur Externa e institucionalizada Institucionalizada: 1) Para toda violação foi prevista uma sanção; 2) estabelece- se a medida da sanção; 3) estabelecem-se as pessoas encarregadas de cumprir. Eficácia reforçada. Da auto-tutela à heterotutela. Normas sem sanção Quando se fala em sanção, refere-se ao ordenamento tomado em seu conjunto O critério de juridicidade não é a sanção, mas a pertinência ao ordenamento. 9 Ordenamentos sem sanção Ordenamento internacional (???) CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS Normas gerais e particulares Critérios: o sujeito e a ação. 4 tipos: prescrição com destinatário universal, (gerais) (ex: art.667 CC/ mandatários) com destinatário individual, (particulares) (ex: sentença baseada no art.1694 CC) com ação universal (abstratas) (ex: art.1566, III CC/ mútua assistência) e com ação individual (concretas) (ex: 335 CPC – o juiz pode exigir exibição de documento ou coisa). Generalidade a abstração A doutrina tradicional diz que as nj são gerais e abstratas. Esta é uma afirmação ideológica para reforçar o valor certeza. Combinando os 4 tipos teremos: 1) gerais e abstratas (as leis penais, p. ex) 2) gerais e concretas (lei que declara mobilização) 3) particulares e abstratas (lei que atribui competência a um juiz) 4) particulares e concretas (sentença). Normas-regras e normas-princípios - Forma de operatividade como critério diferencial - Regras como normas de aplicação absoluta - Princípios como mandados de otimização 10 - O caso do assalto ao quartel - O caso da adoção ilegal na Itália - O caso da enfermeira do funk - A máxima da proporcionalidade - A teoria da argumentação: jurisciência x jurisprudência TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO DA NORMA JURÍDICA AO ORDENAMENTO JURÍDICO A nossa definição de direito Já foi definido que a nj é a que pertence ao OJ Pluralidade de normas Condição: não deve haver uma só norma Poderia haver um OJ assim? 1) Tudo é permitido (est. Nat) 2) Tudo é proibido 3) Tudo é obrigatório. Se poderia pensar na norma não lesar a outrem, mas aí teria de haver outra norma: a que permite fazer tudo que não lese a outrem. Normas de estrutura: aquelas que prescrevem condições e procedimentos para a criação de normas de conduta válidas. 11 Aqui é concebível uma só norma de estrutura: O que apraz ao rei tem força de lei. A UNIDADE DO ORDENAMENTO JURÍDICO Fontes reconhecidas e fontes delegadas Quantas são as normas em vigor? Ordenamentos simples e complexos: uma ou várias fontes. Sociedades complexas: regulação através de: a) recepção, e b) delegação. Exemplos: MP e costumes Tipos de fontes e formação histórica do ordenamento 1) um OJ não nasce no deserto; 2) O poder soberano cria novas centrais de produção jurídica (estados, municípios etc.) Hipóteses hobbesiana e Lockiana. As fontes do direito Definição O OJ regula sua própria produção normativa: (art. 59 ss. CF e CPC) São as normas de estrutura: 1) Normas que mandam ordenar (art. 210 CF) 2) Proíbem ordenar (220, § 1º) 3) Permitem ordenar (art. 22) 4) Mandam proibir (5º, XLIII) 5) Proíbem proibir (5º, XXXV) 6) Permitem proibir (5º, XXXIII) 7) Mandam permitir (= 5) 12 8) Proíbem permitir (= 4) 9) Permitem permitir (negação de uma proibição anterior) Construção escalonada do OJ Atos executivos= dever Atos produtivos = poder Limites materiais e formais Órgão inferior: quem, como e o quê. A norma fundamental Problema do fundamento da norma fundamental : Deus, lei natural ou convenção originária. Direito e força O OJ só é válido se for eficaz. Todo poder reside um pouco no consenso e um pouco na força. O direito é expressão dos mais fortes e não dos mais justos (tanto melhor se coincidirem). O objetivo do legislador é organizar a sociedade mediante a força. A COERENCIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO O OJ como sistema Totalidade ordenada = sistema 13 Três significados de sistema 1) dedutivo ( de alguns poucos princípios gerais); 2) indutivo (classificatório – Savigny e a teoria do negócio jurídico) 3) ausência de normas incompatíveis. As antinomias a) entre Ox e Vx; b) entre Ox e Pnx c) entre Vx e Px Vários tipos de antinomias Condições para que haja antinomia: a) mesmo ordenamento; b) mesmos âmbitos de validade Fumar no cinema x âmbitos de validade ANTINOMIA: situação que se verifica entre duas normas incompatíveis, pertencentes ao mesmo ordenamento e tendo o mesmo âmbito de validade. Total-total: greve V e P Parcial-parcial: V adultos cachimbo e charuto das 5 as 7 na sala de cinema e P charuto e cigarro. Total-parcial: V adultos fumar na sala de cinema e P adultos fumar cigarro. Antinomias de princípio: liberdade x segurança Antinomia de avaliação: furto qualificado x homicídio culposo (injustiça) Critérios para solução das antinomias Cronológico (art 2º § 1º LICC) hierárquico (art. 485 CPC) 14 e da especialidade Insuficiência dos critérios 2 normas: - no mesmo nível - contemporâneas - ambas gerais Aqui há 3 possibilidades: a) eliminar 1 b) eliminar as 2 c) conservar as 2 Cabe a interpretação corretiva. Conflito dos critérios 1) hierárquico x cronológico (anterior superior x posterior inferior) ganha o hierárquico 2) especialidade x cronológico (anterior especial x posterior geral): incerto 3) hierárquico x especialidade (superior geral x inferior especial) incerto. O dever de coerência Regra: Num OJ não devem existir antinomias. Para os produtores: Não deveis criar normas antinômicas Para os aplicadores: Se encontrardes antinomias, devereis eliminá-las 3 casos: 1) Normas de diferentes níveis a) produtor: obrigado à coerência b) aplicador: idem15 2) Normas sucessivas no tempo: a) produtor: desobrigado b) aplicador: obrigado 4) Normas do mesmo nível e contemporâneas: a) produtor: desobrigado b) aplicador: desobrigado. RESULTADO: A compatibilidade não é condição necessária para a validade. 2 Normas incompatíveis do mesmo nível e contemporâneas são ambas válidas. A coerência é condição de justiça e eficácia. ANTINOMIAS DE NORMAS-PRINCÍPIO: COLISÃO E SUA SOLUÇÃO A COMPLETUDE DO ORDENAMENTO JURÍDICO O problema das lacunas Completude: capacidade de resolver qualquer caso. A completude é necessidade (art. 4º LICC) A completude é condição necessária nos OJs em que valem estas duas regras: 1) O juiz é obrigado a julgar todos os casos (art 126 CPC) 2) Deve julgá-los com base numa regra do OJ (127) O dogma da completude O Estado moderno nasceu usurpando poderes normativos. 3 pressupostos: 1) A prop maior de cada raciocínio jurídico deve ser uma nj; 16 2) essa nj deve ser sempre uma lei do Estado; 3) todas essas nj devem fazer em seu conjunto 1 unidade. A crítica da completude 1) envelhecimento das codificações 2) revolução industrial 3) a descoberta da sociedade civil. O espaço jurídico vazio Ali onde o d regula, ele é pleno. A norma geral exclusiva Mas existe a analogia As lacunas ideológicas Falta de 1 nj justa
Compartilhar