Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS CENTRO DE PESQUISAS FLORESTAIS MANEJO FLORESTAL: Planejamento da Produção Florestal Paulo Renato Schneider Engenheiro Florestal, Dr., Prof. de Manejo Florestal, UFSM Santa Maria, agosto de 2008 Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 2 Endereço: Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Rurais Departamento de Ciências Florestais Campus Universitário 97105-900 Santa Maria, RS. BRASIL Fone: (55) 220 8444 E-mail: paulors@smail.ufsm.br Ficha catalográfica elaborada por Rosa Maria Fristsch Feijó CRB-10 / 662 Biblioteca Central - UFSM S359c Schneider, Paulo Renato Manejo Florestal: planejamento da produção florestal / Paulo Renato Schneider. 500p. 1. Engenharia Florestal 2. Manejo Florestal 3. Manejo florestal sustentado 4. Planejamento florestal 5. Produção florestal 6. Fluxo de produção 7. Avaliação florestal 7. Plano de manejo. II. Título.33333 CDU: 630 630.2/.9 Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 3 APRESENTAÇÃO A realização deste trabalho foi motivada pelo contraste existente na literatura contemporânea de manejo florestal, com relação à bibliografia tradicional, com isto pretende- se mostrar as linhas de conexão que parecem existir entre estas duas formas de entender o manejo florestal na atualidade. As modificações do manejo das florestas são evidenciadas nas mudanças substanciais nas linhas de pesquisas e consequentemente na relação dos trabalhos publicados na maioria das revistas científicas nacionais. Este trabalho reúne idéias que se encontram na literatura especializada sobre o manejo florestal. Essas idéias são apresentadas como um marco teórico, ordenadas de forma lógica e contínua por conteúdos, o que permite visualizar as conexões e as diferenças que as novas idéias tem em relação às teorias tradicionais de manejo florestal, especialmente no planejamento da produção. É importante assinalar que não se pretende fazer uma descrição integral e completa do manejo florestal para as diferentes situações, mas enfocar com maior amplitude e clareza os aspectos teóricos e na medida do possível com exemplos práticos dos pontos mais importantes e aplicáveis para o momento. O autor agradece a colaboração do aluno de Graduação em Engenharia Florestal, Paulo Sérgio Pigatto Schneider, pela digitação e correção de textos e aos alunos do Programa de Pós-graduação em Engenharia Florestal, Sandro Vacaro, Hélio Tonini, Gedre Borsoi, Luciano Scheeren, Ronaldo Drescher, Ivanor Müller e Fabio Moskovich, pela colaboração na preparação de alguns exemplos práticos de planejamento da produção florestal, introduzidos neste trabalho. O Autor Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 4 Dedico, a minha família, pelo estímulo e apoio e, aos amigos, que colaboraram na realização deste trabalho. Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 5 SUMÁRIO Página I - INTRODUÇÃO 11 1.1 Definições de manejo florestal 11 1.2 Ordenamento e manejo florestal 14 1.3 Histórico do manejo florestal 15 1.4 Relação do manejo florestal com outras disciplinas 17 1.5 Natureza e finalidade do manejo florestal 18 II - ELEMENTOS PRINCIPAIS DO MANEJO FLORESTAL 29 2.1 Espaço 29 2.2 Tempo 35 2.2.1 Idade 36 2.2.2 Rotação 38 2.2.3 Madureza de corte 39 2.3 Espaço e tempo 40 2.3.1 Rendimento sustentado e uso múltiplo da florestal 40 2.3.1.1 Histórico da sustentabilidade 40 2.3.1.2 Novas concepções de sustentabilidade 43 2.3.1.3 Condicionantes da sustentabilidade de produção 46 2.3.2 Incremento 48 2.3.3 Volume 50 2.3.4 Modelo de floresta normal 51 2.3.4.1 Modelo de floresta normal para sistemas equiâneos 51 2.3.4.2 Modelo de floresta ideal para sistemas inequiâneas 55 2.3.4.2.1 Método de área basal – máximo dap-q 55 2.3.4.2.2 Matriz de transição 58 2.3.4.2.3 Aplicação com matriz de transição 61 2.3.4.2.4 Implementação na aplicação da matriz de transição 65 III - LEVANTAMENTO, MÉTODOS E PLANEJAMENTOS 73 3.1 Determinação das metas da empresa 73 3.1.1 Meta econômica da empresa 73 3.1.2 Meta técnica da empresa 75 3.2 Ordem espacial 78 3.2.1 Necessidades da ordem espacial 78 3.2.2 Planejamento e execução da ordem espacial 80 3.3 Levantamento e planejamento silvicultural 83 3.3.1 Levantamentos dos povoamentos 83 Diogo Realce Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 6 3.3.2 Planejamento dos povoamentos 85 3.4 Volume e sua determinação 91 3.5 Incremento e sua determinação 93 3.5.1 Determinação da árvore média para cálculo do incremento 102 3.5.1.1 Exemplo de determinação da árvore média para obtenção do incremento 103 3.6 Levantamento e análise de vegetação 106 3.6.1 Considerações gerais 106 3.6.2 Composição florística 107 3.6.3 Distribuição espacial das espécies 107 3.6.4 Estrutura horizontal 109 3.6.5 Estrutura vertical 111 3.6.6 Índice de similaridade e diversidade florística 113 3.6.7 Estrutura espacial 114 3.6.8 Exemplo da dinâmica numa floresta natural heterogênea 116 3.6.9 Índice de distribuição espacial e competição 119 3.6.9.1 Índice de competição de copa 119 3.6.9.2 Índices independentes da distância 121 3.6.9.3 Índices dependentes da distância 121 3.6.9.4 Índice baseado no espaço ocupado pelas árvores 126 3.6.9.5 Índice baseado na manipulação das árvores 127 3.7 Regeneração natural 127 IV - AVALIAÇÃO DE RENTABILIDADE, ROTAÇÃO E BENEFÍCIOS 129 4.6.1 Introdução 129 4.6.2 Avaliação do solo florestal 130 4.6.2.1 Valor de produção do solo 130 4.6.2.2 Valor de transação do solo 135 4.6.3 Avaliação de povoamento florestais 135 4.6.3.1 Valor da exploração 135 4.6.3.2 Valor de custo do povoamento 137 4.6.3.3 Valor da expectativa de produção 139 4.6.3.4 Determinação do valor de indenização por aproximação 143 4.6.3.5 Valor da rentabilidade da floresta 144 4.6.3.6 Valor presente líquido 148 4.6.3.7 Valor futuro líquido 149 4.6.3.8 Razão benefício/custo 149 4.6.3.9 Determinação da taxa de juro 149 4.6.10 Avaliação de danos e desapropriação 157 4.6.10.1 Danos 157 4.6.10.2 Desapropriação 158 4.6.11 Valor do fator idade 159 Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 7 4.6.12 Rotação 161 4.6.12.1 Determinação da rotação 161 4.6.12.2 Decisão sobre a rotação 166 4.6.12.3 Condições para uma rotação ótima 167 4.6.13 Avaliação dos benefícios indiretos da floresta 171 4.6.13.1 Conceito e importância da função social da floresta 171 4.6.13.2 Diferenças entre conceitos de benefícios indiretos171 4.6.13.3 Características dos benefícios indiretos 172 4.6.13.4 Bens públicos e privados 172 4.6.13.5 Avaliação dos benefícios indiretos 173 4.6.13.6 Problemas fundamentais da avaliação dos benefícios indiretos 176 4.6.13.7 Métodos de avaliação dos benefícios indiretos 176 4.6.13.8 Incentivos das empresas florestais na Alemanha 181 V - PLANEJAMENTO E REGULAÇÃO DE CORTES 185 5.1 Planejamento de cortes por métodos tradicionais 185 5.1.1 Introdução 185 5.1.2 Indicadores da taxa de corte 187 5.1.3 Métodos de determinação da taxa de corte 187 5.1.3.1 Métodos Dedutivos 188 5.1.3.2.1 Métodos Indutivos 196 5.1.3.3 Determinação da taxa de corte de uma classe de manejo 198 5.2 Planejamento de corte por métodos contemporâneos 203 5.2.1 Introdução 203 5.2.2 Programação linear na área florestal 204 5.2.3 Método Simplex 205 5.2.3.1 Solução usando quadros 207 5.2.3.2 Casos especiais 210 5.2.3.2.1 Problema de minimização 210 5.2.3.2.2 Empate na entrada 210 5.2.3.2.3 Empate na saída - Degeneração 211 5.2.4 Modelos de regulação da produção 212 5.2.4.1 Modelo I 213 5.2.4.1.1 Modelo I com área restringida 213 5.2.4.1.2 Modelo I: com fluxo de corte restringido 221 5.2.4.1.3 Modelo I: com restrição do estoque final 223 5.2.4.1.4 Modelo I: com restrições reguladas 224 5.2.5 Modelo II 226 5.2.5.1 Restrição do estoque final 227 5.2.5.2 Condições de não negatividade 228 5.2.5.3 Função objetivo 229 Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 8 5.2.5.4 Restrição de área 230 5.2.5.1.4 Restrições para o fluxo equilibrado 231 5.2.5.6 Restrições de estoque final 232 5.2.5.7 Ordenamento das restrições 232 5.2.6 Comparação do Modelo I e Modelo II 232 5.2.7 Utilização da programação linear 233 5.2.7.1 Definição de espaçamento 233 5.2.7.2 Abastecimento industrial 237 5.2.7.3 Suprimento de matéria-prima 241 5.2.8 Modelo I: Colheita em povoamentos manejados em talhadia simples 254 5.2.9 Modelo I: Colheita em povoamentos manejados em alto fuste 270 5.2.10 Definição de um modelo para planejamento da produção florestal 283 5.2.10.1 Determinação do ciclo econômico 283 5.2.10.2 Formulação do modelo de maximização 286 5.2.10.3 Formulação do modelo de minimização 288 5.2.10.4 Variação da taxa de juro 288 5.3 Planejamento de corte em floresta inequiânea 289 5.3.1 Determinação do incremento 289 5.3.2 Determinação da taxa de corte 290 5.3.4 Sistemas para manejo de florestas inequiâneas heterogêneas 291 5.3.4.2 Sistema Celos de manejo 291 5.3.4.2 Sistema de seleção 293 5.3.5 Sistema de manejo proposto 294 5.3.5.1 Caracterização das atividades 295 5.3.5.1.1 Delimitação da unidade de produção 295 5.3.5.1.2 Corte de cipós 296 5.3.5.1.3 Inventário florestal pré-exploração 296 5.3.5.1.4 Colheita florestal 296 5.3.5.1.5 Método de enriquecimento 297 5.3.6 Um exemplo de manejo em floresta inequiânea heterogênea 302 5.3.6.1 Composição florística 304 5.3.6.2 Análise estrutural 307 5.3.6.3 Análise da posição sociológica 311 5.3.6.4 Análise da qualidade do fuste 315 5.3.6.5 Volume, número de árvores e área basal por espécie e classe de diâmetro 320 5.3.6.6 Volume e número de árvores por classe de diâmetro e qualidade do fuste 326 5.3.6.7 Estimativa do estoque da floresta 326 5.3.6.8 Regeneração natural 327 5.3.6.9 Regulação do estoque 332 5.3.6.9.1 Determinação da distribuição de freqüência balanceada 332 5.3.6.9.2 Determinação do incremento 334 Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 9 5.3.6.9.3 Determinação da taxa de corte sustentada 337 5.3.6.9.4 Programação dos cortes 338 5.3.6.9.5 Execução dos cortes 340 VI – PLANEJAMENTO DE OUTRAS ATIVIDADES 343 6.1 Planejamento de desbaste 343 6.1.1 Introdução 343 6.1.2 Efeito do desbaste sobre a produção 345 6.1.3 Qualidade do produto final 351 6.1.4 Resultados obtidos com aplicação de desbaste 354 6.1.5 Determinação da densidade ótima por meio de desbaste 358 6.1.5.1 Método de Índice de Espaçamento Relativo 358 6.1.5.2 Método Mexicano de desbaste 363 6.1.6 Idade do primeiro desbaste 365 6.1.7 Marcação e controle dos desbastes 365 6.1.9 Regimes de desbaste adotados em algumas empresas 367 6.1.10 Determinação de regime de desbaste 369 6.2 Planejamento da desrama 372 6.2.1 Introdução 372 6.2.2 Intensidade da poda 373 6.2.3 Programa de podas 375 6.2.4 Desrama em Eucalyptus saligna: um estudo de caso 379 6.2.5 Desrama em Pinus elliottii: um estudo de caso 383 6.2.6 Avaliação econômica das podas 387 6.3 Substituição de povoamentos florestais 389 6.3.1 Introdução 389 6.3.2 Métodos de Substituição 393 6.3.3 Progresso tecnológico 394 6.3.4 Critérios econômicos utilizados na avaliação de projetos 395 6.3.4.1 Critérios que não consideram o valor do capital no tempo 395 6.3.4.2 Critérios que consideram o valor do capital no tempo 397 6.3.5 Modelo de decisão entre substituição e condução da brotação: um estudo de caso 399 6.3.5.1 Origem dos dados 399 6.3.5.2 Custos e receitas residuais 401 6.3.5.3 Custo de cultura 401 6.3.5.3.1 Alternativa de substituição 401 6.3.5.3.2 Alternativa de condução da brotação 402 6.3.5.4 Custo de administração 403 6.3.5.5 Remuneração do capital terra 403 6.3.5.6 Preço da madeira 403 Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 10 6.3.5.7 Taxa de juro subjetiva 404 6.3.5.8 Rotação dos povoamentos 404 6.3.5.9 Valor dos povoamentos 404 6.3.5.10 Resultados e discussões 405 6.3.5.10.1 Rotação financeira 405 6.3.5.10.2 Avaliação econômica das alternativas silviculturais 405 6.3.5.11 Considerações finais sobre a substituição de povoamentos 410 6.4 Planejamento de cultura 414 6.5 Planejamento de estradas 415 6.6 Planejamento da exploração principal 416 6.7 Planejamento de regulação de estoque e construção de reserva 417 6.8 Planejamento de exploração secundária 419 VII - PLANEJAMENTO DO FLUXO DE PRODUÇÃO 421 7.1 Planejamento do fluxo de produção em acacicultura 421 7.2 Planejamento do fluxo de produção para sistema de alto fuste 429 VIII - ELABORAÇÃO DO PLANO DE MANEJO 447 8.1. Plano de manejo para florestas de produção 447 8.1.1 Introdução 447 8.1.2 Definição dos objetivos do plano 448 8.1.3 Estrutura do plano de manejo 449 8.2 Plano de manejo para as unidades de uso sustentável subordinadas ao IBAMA 467 8.2.1 Introdução 467 8.2.2 Manejo das unidades de uso sustentável 469 8.2.3 Situação atual das unidades de uso sustentável 470 8.2.4 Manejo da unidades de conservação 471 8.2.5 Elaboração de plano de manejo para as Florestas Nacionais 473 8.2.5.1 Informações geraissobre a Floresta Nacional 473 8.2.5.2 Planejamento da unidade de conservação 479 8.2.5.3 Ações de manejo por áreas de atuação 482 8.2.5.4 Sustentabilidade econômica 482 8.2.5.5 Cronograma físico-financeiro 482 8.2.5.6 Bibliografia 482 8.2.5.7 Anexos 482 IX - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 483 ANEXO I - FÓRMULAS PARA ALTERAÇÃO DE VALORES NO TEMPO 491 ANEXO II - CUSTOS 494 ANEXO II – SAÍDAS PROCESSAMENTO – PROGRAMAÇÃO LINEAR 495 Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 11 I - INTRODUÇÃO A relação do homem com as florestas iniciou antes dos primeiros registros históricos. Entretanto, nesta época era difícil de entender que a floresta representasse para o homem um recurso valioso como se entende atualmente. Para as sociedades primitivas a floresta era um elemento do ambiente com poucas oportunidades de uso embora que sobrevive de sua abundância. Atualmente, a floresta é vista pelo homem como um recurso escasso com valor agregado, pelo aspecto econômico, ecológico e social, envolvidos no processo de produção. Deve-se aceitar para os propósitos deste escrito que a função básica da empresa florestal é a produção madeireira com fins comerciais lucrativos, e que o processo de produção encontra-se sujeito a restrições para proteção dos outros recursos florestais e da ecologia da floresta. Também, supõe-se que a exploração dos recursos florestais dá-se numa propriedade privada, com base numa economia keynesiana, que preconiza o livre mercado, múltiplos produtores e compradores, que atuam de maneira racional. Dentro do cenário descrito, o manejo florestal tradicional pode ser entendido como uma seqüência de decisões tomadas pela administração da empresa e que se encaminha para o alcance eficiente de objetivos gerais, ou seja, da produção de madeira para fins comerciais e de bens imateriais. Uma das lições que a história nos deixou é de que a exploração irrestrita e desordenada dos recursos florestais por parte de proprietários privados conduziu a destruição das florestas e o conseqüente empobrecimento das comunidades. 1.1 Definições de manejo florestal O manejo florestal é interpretado de diferentes maneiras, variando com a visão do autor, como é mostrado em alguns exemplos a seguir: a) Manejo florestal: é o conjunto de artes e técnicas que permitem a organização da produção florestal com a base do rendimento contínuo (Society of American Foresters, Meyer, 1961) Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 12 b) Manejo florestal: trata de levantamentos periódicos do estado atual dos povoamentos, do planejamento a médio e longo prazo, da revisão periódica da produção da propriedade florestal (Mantel, 1959). c) Manejo florestal: trata da organização ótima de uma propriedade florestal, através de planejamento e controles dos efeitos, a serem feitos periodicamente, com a intenção da preservação ou aumento duradouro da produção florestal (Richter, 1963). f) Manejo florestal: é definido como a maneira de dirigir uma empresa florestal (Meyer, 1961). O termo dirigir a empresa florestal, significa, em termos amplos, dar ordens e controlar. As ordens podem ser dadas através de um plano de ordenamento ou espontaneamente. Por outro lado, o ato de controlar pode ser espontâneo ou através de um sistema (fluxo de produção, contabilidade, etc.). O manejo florestal, definido como a maneira de dirigir a empresa florestal, deve cumprir as seguintes exigências básicas: a) Manejo sustentado: a floresta deve ser manejada de tal maneira que venha dar em longo prazo pelo menos os mesmos benefícios financeiros e não financeiros, como atualmente. Este conceito constitui-se no fundamento básico da Engenharia Florestal moderna. Se a Engenharia Florestal brasileira contribuirá em longo prazo para o desenvolvimento florestal do país, dependerá em primeiro lugar da aceitação deste conceito de manejo florestal pelos técnicos, empresários e sociedade em geral. Para cumprir as exigências do manejo sustentado, deve-se antes de tudo tomar cuidado para não prejudicar irreversivelmente as condições ecológicas do habitat. b) Manejo racional: um comportamento pode ser chamado de racional se as informações disponíveis forem bem aproveitadas e visa um objetivo específico. Atualmente, na maioria das empresas, há coleta de informações dendrométricas sem, no entanto, aproveitá-las integralmente nas suas decisões. Isto, provavelmente, deve-se ao fato de que estas informações não são bem ordenadas e, no momento da decisão, o acesso às mesmas é difícil e demanda muito tempo. Devido a isso, o manejo racional exige um sistema de informação bem ordenado, que forneça informações rápidas e resumidas. c) Manejo funcional: o manejo funcional deve abranger quatro funções: análise, planejamento, controle e correção. Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 13 . Análise: sem conhecimento da situação atual da empresa, a mesma não pode ser dirigida de maneira satisfatória. O inventário florestal fornece uma base imprescindível de informações para o manejo, porém as suas funções são bem mais amplas do que as do inventário. O manejo começa com a análise dos resultados do inventário florestal e, eventualmente, de outros levantamentos como a situação financeira e organizatória. A partir disto, analisa-se as possibilidades da empresa alcançar os seus objetivos específicos. Para analisar as possibilidades de uma empresa florestal fornecer madeira suficiente para uma fábrica de papel, precisa-se de dados, da área, espécie, idade, classe de sítio, dos plantios e de prognose da produção destes povoamentos. . Planejamento: com base no conhecimento da situação atual e das possibilidades futuras da empresa, o manejo planeja as medidas a serem tomadas para alcançar os seus objetivos. . Controle: planejamento sem controle não tem sentido, pois a sua execução, divergirá até do melhor plano de manejo. Para um controle eficiente precisa-se de um sistema que registre os acontecimentos (contabilidade, registros dendrométricos dos talhões, etc.) e de técnicas específicas de controle, como por exemplo o PERT/CPM. d) Manejo integral: para facilitar a análise deste complexo sistema de manejo, pode- se observá-lo sob quatro aspectos diferentes: . Aspecto físico: sob este aspecto analisa-se e planeja-se a empresa em unidades físicas, como por exemplo, ha, m³, km, número de máquinas, homem horas por hectare, etc. Muitas vezes o planejamento florestal é feito somente sob o aspecto físico. . Aspecto financeiro: a estrutura e funcionamento da empresa florestal além de ser planejada em termos físicos deve ser planejada e controlada, também, em unidades financeiras. . Aspecto organizatório: sob este aspecto observa-se os elementos humanos da empresa, as suas funções, qualificações, subordinações, etc. . Aspecto informativo: uma empresa florestal, não pode funcionar sem informações. As ordens devem ser passadas por informações normativas, as quais baseiam-se em condições descritivas da situação. Sob o aspecto informativo analisa-se as informações disponíveis na empresa, as fontes de informações, a transformação de informações, por exemplo, o cálculo de custos por hectare mediante as informações obtidas na folha de pagamento, notas de compra, e a transmissão de informações dentro da empresa. Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 14 O manejo florestal deve ser integral no sentido que o mesmo deve referir-se a todos os aspectos da empresa. Não é suficiente, por exemplo, planejarum desbaste somente sob o aspecto físico (quantidade e que árvores devem ser cortadas num ano) sem considerar as conseqüências financeiras (custos e vendas do desbaste), sem planejar a organização (quem marca as árvores, quem corta, quem supervisiona, quem transporta, quem vende), e sem planejar o aspecto informativo (com base em que dados é calculado o desbaste, como os empregados e motoristas recebem as informações necessárias, quando e de quem o departamento de vendas recebe as informações sobre a quantidade e a qualidade da madeira disponível). No Brasil, o manejo florestal ainda não tomou rumos definidos, e pode ser considerado como uma matéria nova. Porque, a maioria dos plantios efetuados anos atrás, não tiveram um planejamento concreto sobre os objetivos a serem atingidos, e simplesmente porque a intenção era de aproveitar uma condição financeira, disposta em função da Lei dos Incentivos Fiscais. As empresas que até então não possuíam especialistas em manejo florestal, hoje se sentem quase que obrigadas a dispor em seus quadros, com o objetivo único de solucionar seus problemas de maneira mais coerente. Estes problemas estão principalmente vinculados à necessidade de desbaste dos povoamentos, qualidade da madeira e dar um destino satisfatório da matéria-prima, oriunda dos desbastes e cortes finais. O ato de dirigir a empresa florestal é um atributo do gerente ou diretor da empresa florestal, e que em muitos casos, não possui uma formação florestal profissional. Nestes casos, o conceito de manejo florestal deveria ser modificado, porque as decisões técnicas a serem tomadas para o manejo dos povoamentos deve sempre partir de um especialista em manejo florestal. 1.2 Ordenamento e manejo florestal O termo manejo florestal está sendo aplicado pela maioria das técnicas em dois sentidos diferentes: como tratamento de um povoamento florestal; e, como administração ou direção de uma empresa florestal. Analisando-se estes dois aspectos, pode-se a primeira vista perceber que o manejo florestal e o ordenamento florestal sejam sinônimos. Porém, analisando-se as funções do gerente da empresa, percebe-se que o ordenamento abrange somente uma tarefa, embora a Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 15 mais importante das funções da gerência, que é a de ordenar a produção. E, o manejo florestal abrange então todas as funções da gerência de uma empresa florestal, ou seja, ordenar e controlar a produção. No entanto, para chefiar uma empresa é preciso dar ordens e controlar. O plano de manejo, geralmente elaborado por assessores, é posto em prática pela chefia da empresa, que com isso, dá ordens a respeito das principais atividades planejadas a serem executadas num período de tempo na empresa. Muitas vezes, o plano de manejo contém ordens insuficientes para dirigir a empresa, pois as ordens são afetadas por três tipos de defeitos: as ordens são incompletas; as ordens são gerais, faltando detalhes; ou, as ordens muitas vezes são incorretas, devido à falta de precisão e previsão. Devido a isso, a chefia deve durante a execução do plano de manejo, completar, especificar e eventualmente corrigir as ordens dadas no mesmo, que por ventura estiverem incorretas. Todavia, as decisões a respeito das correções do plano de manejo, devem ser tomadas pelo gerente da empresa. 1.3 Histórico do manejo florestal O nascimento do ordenamento florestal data de relatos muito antigos, como sendo as primeiras tentativas de um manejo ordenado das florestas. Já em 1122 a.C., um Imperador Chinês contratava um silvicultor com o objetivo de realizar desbaste, poda e limpeza de povoamentos. O corte da madeira era determinado por uma comissão e o uso da madeira era definido somente para determinados fins. Conforme, o escritor Plinius, em 23-79 d.C., os romanos começaram a planejar a utilização das florestas e já conheciam o regime de manejo em alto fuste e talhadia. No regime de talhadia, aplicavam rotações de oito a onze anos. Porém, com a decadência do império romano, essas iniciativas de um ordenamento não chegaram a se desenvolver. Na Europa Central, o ordenamento florestal, nasceu principalmente na França, Alemanha, Áustria e Suíça. Nesta região, o sistema de talhadia já era conhecido desde a época de Carlos Magno, em 742 – 814 d.C. A destruição das florestas na França motivou a intervenção do Estado, o que propiciou o desenvolvimento de práticas de manejo florestal. Os antecedentes mais antigos são as Leis Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 16 de 1280, 1318 e 1346, que foram promulgadas com o objetivo de assegurar a permanência da floresta, restringia-se os cortes e criavam um corpo de mestres florestais. No Século XVI, na França, foi gerado um avanço significativo em matéria silvicultural, que infelizmente tornou-se nula na prática devido aos freqüentes abusos na execução dos cortes e pela persistente corrupção na administração. O avanço da destruição florestal continuou provocando escassez de produtos florestais. Para combater o problema o Governo Francês emitiu mais regulamentação, que culminou com a promulgação da Lei 1669, por iniciativa de Jean Baptiste Colbert. Esta lei requeria que houvesse uma autorização oficial para todo tipo de corte, e que no caso de cortes finais se especificava a forma de cubicação, extensão e procedimento de tratamentos. Também se proibiu a entrada de gado na floresta e se restringiu o pastoreio, para evitar danos e a segurança dos povoamentos. Essa Lei de 1669 foi importante acerca da necessidade de elaborar planos de manejo florestal formais cuja execução dos aproveitamentos eram supervisionados pelo Estado. Na Inglaterra, também, foram desenvolvidos esporádicos esforços, principalmente durante e depois das guerras, mas que na prática acabaram sem maiores conseqüências de desenvolvimento. O curso da história, durante a Idade Média, a madeira situava-se como um recurso importante devido a seu amplo uso em construções domésticas, naval e como combustível. As constantes guerras européias foram fatores fundamentais neste giro de prioridades. O efeito principal da guerra era a destruição das florestas. Um exemplo foi durante a guerra dos 30 anos (1618-1648), na Alemanha, quando uma grande área florestal foi destruída por incêndios provocados, bem como por corte para obter madeira para fins bélicos e pagamento de tributos. Na Alemanha, já no século XIV, foram realizadas práticas de rendimento sustentado mediante o método de divisão de áreas. O método consistia em dividir a área total em parcelas iguais aos anos da rotação, sendo então anualmente cortada e plantada uma destas parcelas. Ainda nesse país, já no século XVIII, devido ao grave perigo de escassez de madeira, houve a elaboração de uma teoria de ordenamento. Começava-se a regular o corte com base no volume em vez da área. A primeira Escola Florestal foi fundada por Hans Dietrich von Zanthier, em Wernigerode, na Alemanha, que foi fechada com a morte do seu fundador, em 1778. De enorme tradição e importância foi a Escola Prusiana, fundada em 1779, em Hessen, por Georg Ludwig Hartig. Esta escola foi mudada de local em várias ocasiões, até instalar-se Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 17 definitivamente em Eberwald. Igualmente importante foi a Escola Sajona de Zillbach, na região de Thuringen, estabelecida por Henrich von Cotta, em 1785, que depois se mudou para Tharandt e se converteu na Academia Real. A Hartig e Cotta deve-se a formulação, em 1804, da idéia básica de manejo florestal sustentado, que tinha por significado: manejar as florestas de maneiraque os descendentes obtivessem dela pelo menos os mesmos benefícios que a geração atual. Já no século XIX, foi formulado o famoso Modelo da Floresta Normal, por Hundeshagen e Meyer. Esse modelo serve como base da maioria dos métodos da regulação do corte. Ainda, nesse século, foram executados muitos estudos de produção e montadas várias tabelas de volume e de produção, assim como, o cálculo com juros compostos, segundo Pressler. A primeira parte do século XX foi marcada por uma estagnação do desenvolvimento florestal, causado principalmente pela luta inútil entre a Escola de Renda Líquida do Terreno, que observa os juros sobre o valor do povoamento como custo, e a Escola de Renda Líquida da Floresta, que não inclui os juros sobre o valor dos povoamentos no cálculo de custos. Uma fase muito promissora do ordenamento começou, depois da segunda guerra mundial, com o desenvolvimento da pesquisa operacional, principalmente na Inglaterra e EUA. Os modelos matemáticos formulados por esta disciplina são, especialmente, a otimização linear, a otimização dinâmica, o sistema PERT/CPM e as técnicas de simulação, que aplicadas ao manejo florestal permitem soluções mais realísticas de problemas mais complexos do que as técnicas clássicas de ordenamento. 1.4 Relação do manejo florestal com outras disciplinas O termo manejo florestal quer dizer dirigir ou guiar um povoamento durante a vida até alcançar a produção de madeira e o sucesso econômico da empresa. Assim sendo, não se pode tomar o manejo florestal como uma ciência independente, mas uma matéria que integra e relaciona as disciplinas que: analisam os processos de crescimento; as que regem leis e condições econômicas; e, as que se referem à extração de madeira. Segundo Richter (1963), pode-se comparar o manejo florestal como o telhado de uma casa que cobre parcialmente as seguintes disciplinas: Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 18 a) Ecologia: a ecologia antecede ao manejo florestal. É importante principalmente na sondagem e mapeamento de habitat, assim como nas influências ecológicas sobre o crescimento dos povoamentos. b) Biometria e inventário florestal: fornecem dados básicos de crescimento e produção indispensáveis para o planejamento florestal. c) Silvicultura: o manejo florestal abrange aspectos silviculturais, tais como: planejamento de plantio, tratos culturais, etc. d) Proteção florestal: abrange todos os aspectos a amenizar os riscos contra o fogo e insetos, etc. e) Economia: o manejo florestal ocorre dentro de certos critérios econômicos, principalmente nos aspectos que se referem à lei da oferta e procura, comercialização, custos e cálculos de rentabilidade. f) Colheita florestal: tem relação com o manejo florestal, nos seus aspectos relacionados à exploração, custos, abastecimento, etc. g) Política e legislação florestal: traçam certas margens de movimentação livre para os planejamentos do manejo florestal. Além destas disciplinas, podemos ainda acrescentar outras, como a dendrologia, administração, etc. 1.5 Natureza e finalidade do manejo florestal O manejo florestal é um constante planejar, revisar, executar de planos, e está sujeito as características da produção florestal. Geralmente, há o objetivo principal do manejo, que vem a ser a madeira, que varia conforme a propriedade e a localização da empresa em relação aos centros consumidores. Além do objetivo principal principal, são incluídos as explorações secundárias, tais como: resinas, casca, óleos, etc. ou a função protetora da floresta. Pode-se definir a característica da produção florestal através dos seguintes elementos: a) Elemento temporário: tem-se a produção com duração em longo prazo. Neste caso, a produção tem o objetivo de atender um consumo futuro. b) Elemento especial: como elemento especial da produção florestal, temos o habitat. que varia de um habitat para o outro. A área de produção florestal pode ser analisada a nível regional, empresarial, talhão, secção ou sub-secção. Diogo Realce Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 19 c) Elemento biológico-biométrico: tem-se os conhecimentos ecológicos e silviculturais para um melhor conhecimento da qualidade e das espécies existentes no habitat. A escolha da espécie é de fundamental importância para o sucesso do empreendimento. As observações sobre as conseqüências dos trabalhos aplicados, como: incremento, exuberância de renovação, ocorrência de crescimento e estoques, são de fundamental importância no manejo. d) Elemento econômico: tem-se a produção florestal manejada em função de um objetivo econômico, que em princípio pode somente ocorrer dentro de uma margem biológica em concordância com as possibilidades do habitat. A formação de sortimentos, parcialmente em função da determinação da produção; a economicidade das explorações secundárias, desbastes, rentabilidade de mão-de-obra, são elementos a serem analisados para caracterizar a produção florestal de uma empresa. Estes quatro elementos integrantes na ocorrência da produção florestal devem sempre estar equilibrados entre si. O manejo florestal tenta integrá-los e, por outro lado, em parte eles determinam o objetivo da produção e com isso a duração do manejo. Para poder elaborar um plano de manejo e nele um plano de produção em médio prazo para uma empresa, deve-se entender bem o desenvolvimento da produção florestal, como pode ser medida e influenciada pelos diversos fatores do meio. As necessidades de um manejo florestal integral das florestas brasileiras, tanto equiâneas como inequiâneas, faz-se sentir cada vez mais com o aumento da densidade demográfica. Enquanto que a população mundial era pequena, havia pouco consumo de madeira que era satisfeito com a exploração rudimentar das florestas naturais. Mas com o crescimento da população (estimativas: 1950 em mais de 2,5 bilhões; 1970 em 3,5 bilhões; 1980 em 4,3 bilhões), a exploração rudimentar das florestas deve sofrer modificações, ou fazer surgir novas técnicas de exploração das áreas florestais, para suprir a demanda de produtos florestais. O consumo/cápita médio mundial mantém-se na faixa de 0,69 m3/ano, mas está havendo uma transformação no tipo de consumo de matéria-prima, que exige no momento, mais madeira industrial do que para outros usos, como mostra o Tabela 1. Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 20 TABELA 1 – Consumo de matéria-prima no mundo (m³/cápita/ano). Tipo de Matéria-prima Período/ano 1913 * ���2 1975 1985 Madeira Industrial 0,44 0,34 0,38 0,41 Lenha 0,42 0,35 0,31 0,28 Total 0,86 0,69 0,69 0,69 * Estimativa somente para a Europa. A importância do setor florestal brasileiro pode ser medido pela quantidade das exportações de celulose realizada por empresas brasileiras em 2000, que chegou a um valor total de 3.013.830 toneladas, sendo os países da Europa os maiores importadores, com 46,7 % do total produzido. TABELA 2 – Exportações brasileiras de celulose por destino, em 2000. Destino Toneladas % América do Norte 843.557 28,0 Ásia e Oceania 727.719 24,1 América Latina 34.809 1,2 Europa 1.407.631 46,7 África 114 - Total 3.013.830 100,0 Fonte: Bracelpa (2000) Em relação à cobertura florestal no Canadá, EUA, URSS e os países desenvolvidos do leste da Ásia e Oceania a área de florestas fechadas permaneceram constante e aumentaram na Europa, de acordo com as estimativas da Tabela 3. Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 21 TABELA 3 – Estimativa da cobertura florestalper cápita Países/Regiões Cobertura Florestal População 2000 ha./cápita em 2000 1970 2000 2000 Alto Baixo Média Alto Baixo USA/Canadá 470 470 470 354 1.33 1.33 México 145 109 72 118 0.92 0.61 Europa 144 150 150 550 0.27 0.27 USSR 770 770 770 330 2.33 2.33 África (África) 1. Norte da África 2. Zona do Sahel 3. Leste da África e ilhas 4. Oeste da África 5. Sul da África 928 9 31 264 600 24 696 7 23 198 450 18 463 4 15 132 300 12 766 145 49 233 276 63 0.91 0.05 0.47 0.85 1.63 0.28 0.60 0.03 0.31 0.57 1.09 0.19 América Central + Sul 1. América Central 2. Caribe 3. América do Sul Tropical 4. Brasil 5. América do sul Temperada 913 29 4 342 493 45 686 22 3 257 370 34 456 14 2 171 246 23 518 37 55 137 212 77 1.32 0.59 0.05 1.88 1.74 0.44 0.88 0.38 0.04 1.25 1.16 0.30 Leste da Ásia 1. Sul e Oeste da Ásia 2. Ásia Continental Sul 3. Leste insular da Ásia 4. Leste da Ásia 5. Oceania 737 171 116 150 186 114 614 128 87 113 186 100 505 85 58 76 186 100 3498 1278 208 309 1670 33 0.18 0.10 0.42 0.37 0.11 3.03 0.14 0.07 0.28 0.25 0.11 3.03 Total 4113 3495 2886 6134 0.57 0.47 Fonte: Steinlin (1979). Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 22 Nos demais países as áreas florestais diminuíram consideravelmente, principalmente nos trópicos devido à exploração desordenada e ao Schifting Cultivation. Este é o maior problema, porque dificilmente as florestas mundiais não tropicais vão suprir a demanda do mercado mundial. Existem ainda as florestas inacessíveis e as produtivas, mas que quando exploradas faz-se de uma maneira rudimentar. Da mesma forma, as florestas devastadas, de baixa produção, sofrem esta mesma influência, mas que pode ser aumentada com o uso de um manejo intensivo e eficaz. Por outro lado, ainda existe o problema do transporte de longa distância para abastecer as regiões com déficit de matéria-prima com madeira proveniente de regiões de superprodução. Quando se depara com o déficit de madeira, a tendência é tomar geralmente uma das opções: importar madeira a preços de mercado; ou, reunir esforços no sentido de recuperar as florestas, através da regulação de cortes, de reflorestamentos, de manejar as florestas naturais improdutivas ainda existentes. Na Figura 1 pode ser observado a atual situação do uso da terra no Brasil e Rio Grane do Sul, relativo ao ano de 2006, bem como das necessidades de reflorestamento. FIGURA 1 - Uso da terra no brasil e Rio Grande do Sul. USO DA TERRA NO BRASIL EM % 33.5 65.9 0.6 Outros usos Florestas Naturais Florestas plantada USO DA TERRA NO RS EM % 81.14 17.53 1.33 Outros usos Florestas Naturais Florestas plantada Área: 8,54 milhões km2 População: 189,6 milhões habs. Área Reflorestada = 4,3 mils. ha. IRP = 0,023 ha/cápita. Área: 281.748 km2 População: 10,19 milhões habs. Área Reflorestada = 360.000 ha IRP = 0,035 ha/cápita Consumo = 0,69 m3/cápita/ano IMA = 30 m3/ha/ano Demanda Interna/doméstica = 234.370 ha Área Nec. R = 7 ano = 1,64 milhões ha (5,8%) Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 23 O Rio Grande do Sul com uma superfície de 281.748 km2 e população: 10,19 milhões habitantes, apresenta uma área reflorestada de 360.000 ha , o que perfaz um índice de reflorestamento de apenas 0,035 ha/cápita. Considerando um consumo médio de 0,69 m3/cápita/ano e IMA de 30 m3/ha/ano, a demanda interna ou doméstica de área reflorestada seria de 234.370 ha, que para uma rotação de 7 anos de Eucalyptus, esta necessidade real seria de 1,64 milhões há, com uma ocupação de apenas 5,8 % da superfície do estado. Na Figusra 2 pode ser observado a quantidade de área reflorestada com Pinus, Eucalyptus e Acácia-negra no Rio Grande do Sul, em 2002. A área reflorestada com acácia- negra é de 100.000 ha, Pinus 150.000 ha e Eucalyptus de 110.000 ha, totalizando cerca de 360.000 ha., o que perfaz uma ocpuação da superfície territorial do Rio Grande do Sul de apenas 1,33 %. FIGURA 2 - Distribuição das florestas plantadas no Rio Grande do Sul. Fonte: UFSM (2002) Em 2005 o comércio internacional de produtos florestais, não incluindo os produtos de madeira de maior valor agregado (PMVA) e móveis de madeira, chegou a 180.000 $ bilhões, sendo 100.000 $ bilhões provindos das exportações de celulose e papel e 80.000 $ bilhões de produtos de madeira sólida, donforme Figrua 3.Atualmente, o setor florestal cresce a uma taxa de 6,8 % a.a. ÁREA REFLORESTADA(ha) NO RS 150000 110000 100000 PINUS EUCALYPTUS ACACIA Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 24 FIGURA 3 - Comércio internacional de produtos florestais, não inclui PMVA (Produtos de Madeira de Maior Valor Agregado) e móveis de madeira. . Fonte: SCTP ( 2006). Segundo dados do IBGE (2007) a produção brasileira de toras de florestas plantadas e nativas é de 108,7 milhões de metros cúbicos, sendo 107,8 originado de florestas plantadas e 10,9 de florestas nativas, conforme Figura 4. Isto indica que o setor industrial brasileiro é quade que inpedendente da madeira originada de floresta nativas, pois a diferença de apenas 10,1 %. FIGURA 4 – Produção brasileira de toras de florestas plantadas e nativas. Fonte: IBGE (2007) Produção Brasileira de Madeira em Toras 118.7 107.8 10.9 0 20 40 60 80 100 120 140 Total Floresta plantada Floresta Nativa m 3 M ilh õe s 0 40.000 80.000 120.000 160.000 200.000 85 91 92 93 94 95 96 97 98 99 0 1 2 3 4 5 U S D 1 .0 0 0 .0 0 0 C&P PMS Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 25 Na Figura 5 pode-se observar um expressivo desempenho econômico do setor florestal brasileiro, relativo aos produtos originados de florestas plantadas e do extrativismo vegetal. FIGURA 5 – Desempenho econômico do setor florestal brasileiro, relativo as florestas plantadas e extrativismo vegetal. Fonte: IBGE (2007). O desempenho econômico do setor florestal brasileiro chega a 10,9 R$ bilhões. Neste caso as florestas plantadas contribuíram com 7,2 R$ bilhões e o extrativismo vegetal com 2,7 R$ bilhões. Na Figura 6 pode ser observado a evolução dos preços de tora de Pinus e do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Evidencia-se uma estabilização dos preços dos produtos de origem florestal neste últimos ano. A Figura 7 mostra a competitividade do setor florestal brasileiro em relação a outros países, tomando por base o preço de tora de Pinus. Em média, no Brasil, o preço de madeira de toras de Pinus posta na fábrica é de 57 $/m3, inferior ao praticado em países como a Suécia, USA e Finlândia, porém superior aos preços no Chile de Nova Zelândia. Da mesma forma, pode-se avaliar o crescimento do Pinus obtido no Brasil em relação ao de outros países. No Brasil,como mostra a Figura 8, obtem-se um crescimento médio doPinus em torno de 28 m3/ha/ano, enquanto que, em outros países este cresciemnto é muito Produção Florestal Brasileira 10.9 7.2 2.7 0 2 4 6 8 10 12 Total Floresta plantada Extrativismo vegetal R $ B ilh õe s Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 26 inferior, não chegando a 10 m3/ha/ano. Isto mostra a grande competitividade do Brasil em relação a outros países do mundo, com tradição na área florestal, devido as excelentes condições de clima e solos para o crescimento florestal. FIGURA 6 – Evolução dos preços de tora de Pinus e Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Fonte: SCTP ( 2006). FIGURA 7 – Preço de tora de Pinus no Brasil e outros países. Fonte: SCTP ( 2006). 50 100 150 200 250 300 350 ja n/ 00 ju l/ 00 ja n/ 01 ju l/ 01 ja n/ 02 ju l/ 02 ja n/ 03 ju l/ 03 ja n/ 04 ju l/ 04 ja n/ 05 ju l/ 05 ja n/ 06 ju l/ 06 ÍN D IC E D E P R E Ç O S ( JA N / 0 0 = 1 0 0 ) . CELULOSE SERRARIA LAMINAÇÃO IPCA 41 55 57 62 72 77 0 10 20 30 40 50 60 70 80 U S $ / m 3 ( p o st o i n d ú st ri a ) CHILE NOVA ZELÂNDIA BRASIL SUÉCIA EUA (SUL)FINLÂNDIA TORA PARA SERRARIA Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 27 FIGURA 8 – Incremento médio anual de Pinus no Brasil e outros países. Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 28 Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 29 II - ELEMENTOS PRINCIPAIS DO MANEJO FLORESTAL Os elementos principais do manejo florestal são considerados dentro dos conceitos de Espaço, Tempo e Espaço e Tempo, avaliados sob o aspecto físico. 2.1 Espaço O espaço físico refere-se ao domínio da superfície ocupada por um empreendimento florestal. O conhecimento da distribuição espacial das unidades é importante para obtenção do regime sustentado, para que sejam mais bem utilizadas, planejadas, manejadas e controladas. Devido a isso, para o início de qualquer empreendimento é necessário fazer a subdivisão das áreas para iniciar a implantação das florestas. Muitas vezes a própria natureza já oferece subdivisões naturais das áreas, devido à ocorrência de espécies, diferença no porte das árvores, idade, etc. Entretanto, estas divisões naturais, na maioria das vezes, não são suficientes, sendo necessário criar uma ordem espacial dos povoamentos, visando facilitar os levantamentos, planejamentos, execuções e controle; e também no cadastramento de informações históricas. As subdivisões do espaço físico podem ser assim determinadas: a) Subdivisão ecológica ou natural Em todo empreendimento florestal existe uma divisão natural em decorrência de condições climáticas e edáficas, que forma unidades ecológicas com localização fixa e intransferível. Uma empresa pode estar localizada em uma região ecológica única, mas também pode fazer parte de mais regiões ecológicas, como, por exemplo, pertencer à região das florestas de araucária, dos campos de cima da serra e das florestas subtropicais pluviais, etc. Através de levantamentos edáficos, climáticos, geológicos, florísticos são determinados os critérios para a delimitação de tais regiões, permitindo subdividir as áreas florestais segundo grupos ecológicos. Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 30 Esta subdivisão de área fornece um aspecto geral da floresta dentro do qual os habitats constituem apenas divisões. A subdivisão em regiões ecológicas é útil somente em áreas grandes, pois agrupa áreas segundo a vegetação natural. Já a determinação dos habitats permite delimitar áreas dos povoamentos existentes, quer sejam naturais ou artificiais. A delimitação de regiões ecológicas é feita sobre o mapa, uma única vez, devendo sempre que possível trazer informações sobre os tipos florestais, pormenorizando as espécies, tipos de solo, relevo e outros fatores existente na região. Esta classificação reverte-se de grande importância quando da transformação e manejo de áreas, pois em algum momento pode ser necessário conhecer como eram as condições ecológicas naturais do local. Por outro lado, a determinação dos habitats dentro da área da empresa, reveste-se de maior importância, sendo à base do planejamento silvicultural e econômico, pois permite o melhor aproveitamento do solo e clima local. Os habitats formam a estrutura básica para a formação da ordem espacial, constituindo-se no fundamento básico da ordem espacial. b) Subdivisão das áreas de produção A relação entre o espaço e a produção é definida pelas unidades: talhão, secção e subsecção. Talhão: é uma unidade de produção com área variável, que segundo Mantel(1959) situa-se entre 10 a 30 hectares e para Richter(1963) entre 10 a 100 hectares. Ele tem o objetivo de facilitar a administração, planejamento e controle da produção. Possui caracter duradouro, portanto deve ser claramente definido no campo. O talhão pode ser composto por várias secções, que é uma unidade de produção com orientação no espaço, de marcação fixa e visível no campo. A forma do talhão é mais ou menos regular, preferivelmente retangular, pois facilita a acessibilidade às explorações da madeira. O talhão pode ser delimitado por estradas, rios, aceiros, cumeados e linhas abertas artificialmente, entre outras. Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 31 O talhão serve para orientação do empreendimento sendo denominado por um número arábico, por exemplo, 20, servindo para o planejamento da produção, infraestrutura, etc. Secção: é uma subd ivisão do talhão, com área mínima de 3 hectares, servindo para o planejamento e controle da produção. A área física da secção deve, dentro do possível, coincidir com o habitat ou ser de grande semelhança. Sua forma é variável e a área é contígua na floresta. A composição de espécies é a mesma, de mesma idade, independente em relação ao habitat e micro-clima. A separação da secção não ocorre normalmente por linhas naturais, sendo necessário a sua delimitação em pintura de árvores, caminhos de extração de madeira, etc. Muitas vezes, a forma e o tamanho da secção pode trazer influência sobre o crescimento dos indivíduos e habitat. Esta influência pode causar a diminuição da produção ou mesmo em outros casos ser vantajoso, como mostra a Figura 9. FIGURA 9 – Influência marginal de povoamentos vizinhos no crescimento A forma e a área manejada tem influência sobre o crescimento das árvores remanescentes. Na Figura 10, pode-se verificar que o manejo em unidades de produção de forma quadrado traz benefícios em relação às unidades de produção retangulares, pois estas apresentam menor redução de incremento, provocado pela concorrência de árvores de unidade vizinhas. Para ilustração da distribuição espacial é mostrado na Figura 11 uma parte de um mapa que contém a distribuição parcial das secções por talhão, dentro de um espaço físico. Subsecção: são unidades de produção pequenas, com superfície menor que 3 hectare, que se destacam por grandes diferenças no habitat das demais áreas do talhão ou secção, por exemplo, idade, danos, qualidade, solo, etc. Manejo Florestal: Planejamento da ProduçãoFlorestal 32 FIGURA 10 – Relação da perda de produção com a forma da unidade FIGURA 11 – Distribuição espacial das unidades de produção b) Subdivisão técnica Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 33 Esta subdivisão tem por objetivo a formação das classes de manejo, que é uma divisão idealizada não sendo necessariamente homogênea e contígua na natureza. Permite agrupar os povoamentos com características iguais ou semelhantes. Uma classe de manejo é formada por povoamentos com base nas seguintes características: igualdade de rotação; igualdade de composição de espécies; mesmo objetivo de produção, que está ligado ao sistema de manejo dos povoamentos. As unidades de produção que compõe uma classe de manejo podem estar unidas ou separadas espacialmente, sendo composta de talhões e secções distribuídas sobre toda a área da empresa. Na Figura 12 é apresentado um exemplo de classes de manejo, formadas por: Classe de manejo I: Araucaria, rotação de 60 anos, alto fuste, Classe de manejo II: Pinus, rotação de 20 anos, alto fuste. Classe de manejo III: Pinus, rotação de 30 anos, alto fuste. Classe de manejo IV: Eucalyptus, rotação de 7 anos, talhadia simples. A utilidade de se trabalhar com classes de manejo é a seguinte: a) Conseguir uma ordem sobre toda a distribuição dos povoamentos de um empreendimento, tornando mais visível à distribuição das unidades de produção. b) Para exercer o controle do regime sustentado da empresa. c) Para obter uma maior visibilidade, o que facilita o trabalho de manejar a empresa em regime sustentado. Se as classes de manejo forem espacialmente contínuas na natureza são chamadas de reais e quando descontínuas são ditas ideais, sendo esta a situação predominante. d) Subdivisão interna de aproveitamento do solo Na área total de uma empresa, nem sempre as áreas são ocupadas por povoamentos florestais. As áreas podem ser classificadas em: Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 34 FIGURA 12 – Distribuição das classes de manejo SOLO ESTOCADO: são todas as áreas ocupadas por florestas ou árvores sendo subdividida em: + Florestas produtivas: são aquelas áreas arborizadas destinadas a produção de madeira ou eventualmente produtos secundários, como resina. + Clareiras: são áreas que durante certo período de tempo não são arborizadas, podendo ser divididas em: clareiras reais quando as áreas não arborizadas necessitam ou podem ser incluídas como florestas produtivas, e clareiras ideais quando as áreas estão povoadas de árvores ralas, sem intenção de mudar o estado atual. Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 35 + Florestas de regime especial: são áreas de pesquisa, de proteção de bacias hidrográficas, povoamentos ricos em árvores matrizes, etc. Elas permitem manejo, porém sob certas restrições. + Florestas de proteção: são áreas arborizadas cuja importância principal é a proteção do solo. SOLO NÃO ESTOCADO: são áreas que não são ocupadas por árvores, podendo ser divididas em: + Áreas agrícolas; + Áreas de viveiro; + Estradas, áreas de estacionamento e estocagem de madeira; + Rios, lagos, açudes; + Áreas de prédios; + Aceiros; + Áreas de transmissão de energia; + Pedreiras; + Áreas improdutivas. e) Subdivisão interna administrativa É uma subdivisão realizada para propriedades maiores, por exemplo, superiores a 3.000 hectares. Esta subdivisão origina vários corpos independentes e de administração própria, denominada de distrito. O tamanho do distrito varia conforme a intensidade de administração das áreas, normalmente pode variar de 1.000 hectares à superior a 10.000 hectares. 2.2 Tempo A produção florestal, normalmente, ocupa grandes áreas e um longo período de realização. A condução da floresta durante toda a vida deve seguir critérios técnicos fixos, para alcançar os objetivos finais da produção. Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 36 Este longo processo necessita de observações e levantamentos contínuos sobre o estado dos povoamentos, os efeitos do manejo anterior e a definição dos planejamentos para o futuro dos povoamentos. O fator tempo exige revisão periódica dos planejamentos, pois a longa duração da produção determina que, para conseguir um produto determinado em quantidades desejadas, necessita-se de operações contínuas, cujo efeito deve ser controlado. Os longos períodos de produção podem mudar a importância econômica, devido ao progresso tecnológico e mudanças das tendências de consumo. O estabelecimento de uma relação exata entre o tempo e espaço é a importância principal do manejo. A produção florestal ocorre no tempo físico, no qual ocorre a produção. O tempo orgânico tenta situar o crescimento, por exemplo, em volume, numa relação de tempo real necessário para alcançar um determinado valor. Esta relação de crescimento no tempo pode ser definida por uma relação logarítmica, expressa por: ln y = K . ln2 t Sendo: y = crescimento por unidade: t = tempo; ln = logarítmo neperiano; K = constante. Os principais conceitos de tempo estão relacionados com a idade, rotação e madureza de corte. 2.2.1 Idade A idade é definida pelo número de anos de vida de uma planta ou povoamento, incluindo-se o tempo de viveiragem. A determinação exata da idade é importante no manejo florestal, pois permite medir o incremento, produção, estoque e a madureza. Por isto, ela deve ser determinada no plano de manejo para todas as unidades de produção. A idade é o elemento que permite classificar os povoamentos segundo o Estado Arbóreo, em povoamentos equiâneos ou inequiâneos. Os povoamentos são ditos equiâneos quando os componentes do estado arbóreo tiverem a mesma ou quase a mesma idade e, inequiâneos quando os componentes do estado arbóreo tiverem idades diferentes. A diferenciação entre um povoamento equiâneo de um inequiâneo é um critério artificial, normalmente determinado pelo limite de idade. Este limite de idade é determinado pela idade média mais ou menos 10% da idade média (LI = i i . 0,1). Quando todos os Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 37 componentes do estado arbóreo tiverem idade dentro do limite de idade, o povoamento é classificado como equiâneo, caso contrário, inequiâneo. Para determinar a idade média de uma classe de manejo existem as seguintes possibilidades: - Idade Média de áreas: n21 nn2211 a...aa .ai....ai.ai Ia Sendo: i = idade da unidade de produção; a = área da unidade de produção correspondente. - Idade Média de volume: n21 nn2211 v...vv .vi....vi.vi Iv Sendo: i = idade da unidade de produção; v = volume da unidade de produção correspondente. As unidades de produção de idades semelhantes podem ser agrupadas em classes, através dos seguintes critérios: - Classes naturais de idade: estas classes estão relacionadas aos diversos estágios de vida de um povoamento, conduzido sob um sistema de manejo. Assim, por exemplo, no sistema de alto fuste pode-se dividir o desenvolvimento do povoamento nas seguintes fases: Classe I - Renovação: inclui todos povoamentos com idade que vai do plantio até o fim dos tratos culturais. Classe II - Estado denso: inclui todos os povoamentos com idade que vai do final dos tratos culturais ao início dos desbastes. Classe III - Estado de desbaste: inclui todos os povoamentos com idade e estado de desbaste, com diâmetro médio geralmente inferior a 20 cm. ClasseIV - Estado de madeira: inclui todos os povoamentos em que o diâmetro médio for maior que 20 cm. Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 38 - Classes silviculturais-técnicas de idade: estas classes silviculturais-técnicas de idades são formadas pelo agrupamento dos povoamentos que apresentem um mesmo estado de intervenções: Classe I - Povoamentos em renovação: inclui todos os povoamentos onde já foi realizado o corte raso e foi implantada uma nova cultura. Classe II - Povoamentos de tratos culturais: inclui todos os povoamentos que se encontram em estado de tratos culturais. Classe III - Povoamentos em desbaste: inclui todos os povoamentos que se encontram em estado de realização de desbastes. Classe IV - Povoamentos em corte final: inclui todos os povoamentos velhos, nos quais será realizado o corte raso. - Classes artificiais de idade: são agrupados todos os povoamentos, independente do estado de desenvolvimento ou tratamento, sendo formadas da seguinte maneira: Classe I - 0 - 10 anos Classe II - 11 - 20 anos Classe III - 21 - 30 anos Classe IV - 31 - 40 anos. O intervalo de classe de idade depende da grandeza da rotação. Para rotações médias de 40 até 50 anos, o intervalo de classe de idade pode ser de 10 anos; para rotações maiores de 50 anos, intervalos de 20 anos; em rotações curtas até 20 anos, intervalos de 5 anos; e rotações muito curtas de 7 anos, intervalos de 2 anos. O importante é formar entre 4 a 5 classes de idade para agrupar os povoamentos. 2.2.2 Rotação A rotação é um termo relacionado com o tempo que leva um povoamento a ser cortado. É o tempo regular entre o cultivo e o corte. A rotação é uma grandeza matemática, utilizada para fins de administração, manejo e planejamento de corte. A grandeza da rotação depende da espécie, sítio, meta econômica e meta técnica, definida pelo sistema de manejo, em conseqüência a produção de determinados tipos de sortimentos. Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 39 Na execução do manejo, a grandeza da rotação muitas vezes difere da idade de corte final, que é a idade real da realização do corte, que muitas vezes não coincide com a rotação devido aos seguintes aspectos: razões de estoque, que na idade da rotação pode estar muito baixo ou alto demais; razões econômicas da empresa, pelo baixo preço da madeira, o que leva a prolongar a rotação; razões de gastos extraordinários, o que leva a antecipar os cortes. 2.2.3 Madureza de corte A madureza de corte é uma medida individual para designar a idade adequada de aproveitamento. Ao contrário da rotação ela determina um objetivo técnico. A madureza pode ser chamada de idade de madureza de corte, que não precisa ser idêntica a madureza, por ser a idade real de realização do corte. A madureza de corte é utilizada para especificar os cortes em povoamentos inequiâneos, manejada em sistemas de jardinagem, ao contrário da rotação que é utilizada em sistemas de manejo para povoamentos equiâneos. A idade de madureza de um indivíduo é alcançada quando atinge certo tamanho em diâmetro, altura ou qualidade. São valores absolutos que dependem dos critérios a serem definidos pelo proprietário. Esta madureza pode ser: - Madureza física: quando a árvore alcança o limite vital é variável de acordo com a espécie; - Madureza em volume: quando a árvore alcança o máximo de seu rendimento em massa, ocorre na idade de culmíneo do incremento médio anual; - Madureza em valor ou financeira: quando a árvore alcança o máximo incremento em valor econômico. Ela ocorre quando o povoamento fornece a maior renda do solo. Este critério foi utilizado na segunda metade do século passado, baseado na fórmula de Pressler, definida por: H P = Z . __________ H + G Sendo: Z = incremento em valor; H = valor do estoque; G = valor da terra; P = percentagem indicando o aumento de valor anual. Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 40 2.3 Espaço e tempo A produção florestal que ocorre em maiores espaços deve ser relacionados de maneira que possibilitam o máximo de aproveitamento e de preservação dos benefícios gerais. 2.3.1 Rendimento sustentado e uso múltiplo da floresta É o princípio de fornecer produção ótima de bens materiais e imateriais à sociedade. Este conceito, nos últimos tempos, sofreu uma certa ampliação, pois atualmente entende-se também a permanência das funções sociais da floresta. 2.3.1.1 Histórico da sustentabilidade A ação do homem sobre os ecossistemas, em qualquer parte do mundo, em época atual ou não, constituiu-se no alicerce do desenvolvimento social e econômico das comunidades. Embora esse fato seja aceito por todos, muitas vezes os recursos naturais, tal sua abundância, foram considerados um empecílho ao desenvolvimento econômico e por isso foram subaproveitados ou mesmo dizimados, dando lugar a outras formas de atividade econômica. A ação humana, por meio de um longo processo de alteração ambiental, conduziu em alguns casos, ao desenvolvimento econômico e social, mas, em muitos outros, trouxe junto à escassez dos recursos, o declínio e a extinção, até mesmo, de sociedades. O consumo desordenado, o desperdício e a substituição das florestas por outras atividades econômicas levou, já em épocas remotas, ao desabastecimento de madeira e a inviabilização de empreendimentos, obrigando os governantes ao confisco, à restrição e à regulamentação do corte de árvores. Várias proibições, restrições e punições visando regulamentar o uso da floresta datam do ano de 1500, na Áustria, quando foi proibido o corte de madeira sem permissão oficial, proibido deixar apodrecer madeiras, proibido deixar animais domésticos em florestas, pois poderiam danificar árvores jovens e comprometer a regeneração. Essas, entre outras tentativas de recuperação e de garantir o abastecimento da população com produtos florestais não evitaram a escassez de madeira, obrigando então a realizarem-se mudanças na política de Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 41 uso de florestas e no desenvolvimento de métodos que propiciassem o melhor aproveitamento dos recursos florestais. O grande passo foi dado com o desenvolvimento da idéia de sustentabilidade, a qual foi formulada já no início do século XVI e desenvolvida pelos engenheiros florestais ao longo de muitos anos, até os tempos atuais. Já no início, observou-se uma grande difusão dos termos relacionados a sustentabilidade florestal. Com a orientação do manejo florestal sustentado, surgiram novas idéias, durante um período de esclarecimento à comunidade. A dominância desse dogma fomentou a preocupação do homem com o futuro e a incerteza (SCHANZ, 1996). O termo sustentabilidade florestal foi documentado pela primeira vez, provavelmente, por Hans Carl von Carlowitz, em 1713, na Alemanha, divulgado no seu livro “Silviculture Oeconomiaca”, afirmando que: a floresta deve fornecer produtos madeireiros e não-madeireiros às gerações atuais e às futuras em igual quantidade e qualidade às, hoje, disponíveis (Speidel, 1972). Para que isso possa ser possível é preciso que, periodicamente, seja cortada somente uma quantidade de madeira igual ao crescimento das árvores da floresta, proporcionando, assim, a perpetuação do estoque de madeira e da biodiversidade, o que requer longo prazo e a manutenção do equilíbrio do ecossistema, suporte básico de qualquer produção. A quantidade de madeira possível de corte corresponde à soma do crescimento de cada árvoreda floresta, em um determinado período, sendo obtida, principalmente, pelo corte das árvores maduras, velhas e/ou doentes. Essa ação deve proporcionar melhores condições de crescimento para as árvores remanescentes e ser realizada de forma equilibrada sobre todas as espécies existentes na área. A produção sustentada de madeira em longo prazo requer, indiscutivelmente, a manutenção de condições ecológicas ótimas para as espécies, bem como o retorno econômico, sem o qual não haverá sustentabilidade. O termo manejo, que no início considerava apenas a produção contínua de madeira, foi sendo alterado, envolvendo hoje também o planejamento econômico e ecológico da empresa florestal a médio e longo prazos, com base no princípio de regime sustentado e uso múltiplo. Sem dúvida, o princípio de sustentabilidade e as técnicas de gerenciamento de florestas desenvolvidos foram e são, no mundo todo, a garantia da recuperação de áreas florestais, da estabilidade ecológica e do abastecimento contínuo de indústrias e da população. Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 42 A palavra sustentabilidade é um termo neutro e seu significado está diretamente ligado às expressões manutenção, constância, continuidade e a não-interrupção de um efeito ou condição. O seu significado preciso só é conhecido após ser definido o objetivo a ser alcançado. A manutenção, a constância e a continuidade de um efeito ou produto pode estar relacionada a uma condição como a área, o volume de madeira, e a uma situação ecológica. Ainda, pode estar associada ao desenvolvimento ou mudanças, como por exemplo, a produção de um determinado bem madeireiro e não-madeireiro, como proteção do solo, água, ar, vegetação e animais. A expressão sustentabilidade será operacional somente após ser determinada a condição atual para essa sustentabilidade (condição estática), como se processará seu desenvolvimento (condição/efeito dinâmico) e ainda, ser definido o objetivo para o qual será realizado o planejamento. De forma geral, essas condições podem ser resumidas por intermédio do seguinte esquema: SUSTENTABILIDADE ESTÁTICA (Continuidade da Situação) DINÂMICA (Continuidade da Produção) 1. Área florestal 2. Condições ecológicas 3. Volume de corte sustentado 4. Valor do volume de corte 5. Manutenção da empresa 6. Manutenção do capital 7. Força de trabalho 1. Incremento 2. Aproveitamento da madeira: volume e qualidade 3. Receitas líquidas 4. Rentabilidade 5. Eficiência do capital 6. Rentabilidade do trabalho 7. Infra-estrutura: produção, proteção, recreação, etc. 8. Uso múltiplo. Fonte: Speidel(1972) A forma estática é considerada condicionante para chegar-se às formas específicas de sustentabilidade dinâmica, ou seja, a sustentação do volume é a condicionante da produção de Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 43 madeira, assim como a manutenção da área é o fundamento da sustentabilidade biológica do efeito de proteção proporcionado pela floresta. O princípio da sustentabilidade é utilizado por diversos ramos da economia e não somente pelo setor florestal. Entretanto, existem diferenças entre seus efeitos no segmento florestal e no de outro segmento produtivo. Enquanto no segmento florestal, a inter-relação da produção florestal com a natureza e o longo período de tempo que requer pode levar, quando da não-observância das condicionantes da sustentabilidade, a danos irreparáveis que só serão sentidos em longo prazo. Em outros segmentos econômicos, seus efeitos são logo conhecidos, sendo possível introduzir correções simultâneas para garantir ou aproximar ao planejado. No setor florestal, a aplicação da sustentabilidade, como princípio de perpetuidade, considera ainda os seguintes aspectos (Speidel, 1972): a) Oferta regular de madeira para suprir a demanda regional. O abastecimento de madeira para mercados distantes está condicionado ao preço de mercado, e do custo de transporte. b) Produção contínua e constante dos efeitos de proteção ambiental, (água, ar, solo, etc.) e do bem-estar da população. c) Quanto melhor utilizada a capacidade de produção da floresta, regular e continuamente, menores serão os custos do empreendimento. d) Sustentabilidade de uma floresta representa rendimentos regulares e alta liquidez. e) A segurança é aumentada com o manejo dos povoamentos, pois com o trabalho continuado são reduzidos os perigos de incêndios, ataques de insetos, doenças, ventos e de outros fatores que podem causar danos. f) A sustentabilidade é condicionante para a estabilidade da organização florestal em longo prazo, que é dependente da quantidade e da continuidade da produção. 2.3.1.2 Novas concepções de sustentabilidade Após a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992, foi enfatizada a dimensão ecológica e social do desenvolvimento sustentado, abrangendo não só a dimensão econômica. Esse "novo enfoque" de sustentabilidade, "manutenção das condições ambientais", é, na verdade uma das condicionantes do manejo em regime sustentado preconizado por Von Manejo Florestal: Planejamento da Produção Florestal 44 Carlowitz, em 1713, e desde então é aplicado pelos Engenheiros Florestais ao manejo das florestas. Tais enfoques, agora enfatizados, são preceitos indispensáveis no manejo e ordenação de florestas já descritos por Bauer (1877), Mantel (1959), Speidel (1972), entre outros. Segundo Whitmore (1994), na segunda Conferência Ministerial sobre proteção das florestas na Europa, realizada em Helsinki, em 1993, foi aceita a seguinte definição de manejo sustentado: o manejo sustentado significa a administração e uso das florestas e terrenos florestais de forma que mantenham sua biodiversidade, produtividade, capacidade de regeneração, vitalidade e um potencial para cumprir, hoje e no futuro, pressões ecológicas, econômicas e sociais, em níveis locais, nacionais e global, e que não cause danos a outros sistemas. Para atuar no manejo sustentado de florestas, é necessário o estabelecimento de princípios em nível nacional e regional. As ações necessárias variam nas diferentes zonas, desde áreas altamente habitadas e contaminadas, a ecossistemas frágeis, tendo alguns princípios comuns. Os objetivos gerais, segundo o autor, podem incluir os seguintes aspectos adotados na Conferência de Helsinki: a) As ações humanas que conduzem, direta ou indiretamente, à degradação irreversível do solo florestal, da fauna e da flora deverão ser proibidas. Os esforços deverão ser incrementados para manter as emissões de ar contaminado e gases abaixo dos níveis de tolerância esperados nos ecossistemas florestais. As queimadas e a poluição do solo deverão ser controladas. b) A política florestal deverá reconhecer a natureza de longo prazo das florestas, e deverá influenciar fortemente as práticas, tanto nas florestas estatais como nas privadas que facilitem as funções e a ordenação sustentada, incluindo a conservação e um apropriado incremento da biodiversidade. c) O manejo florestal deverá basear-se em políticas e regulações estáveis e de longo prazo, as quais ajudam a conservação dos ecossistemas florestais funcionais. d) O manejo florestal deverá basear-se em planos e em programas periódicos a nível local, regional e nacional, na fiscalização florestal, avaliação dos impactos ecológicos e no conhecimento científico e experiência prática. e) O manejo florestal deverá aportar, até o ponto que seja econômica e ambientalmente possível,
Compartilhar