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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE AGRONOMIA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS TÓPICOS I: IND. E APLICAÇÃO DE ENZIMAS NA IND. DE ALIMENTOS DOCENTE: LUCIANA REIS FONTINELLE SOUTO CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA GUILHERME BORGES E SILVA ISABELLA VENTURA KAMYLLA MARTINS FERREIRA MARINS LAURYANE VIEIRA MURILO TAVARES SILVA RAYANNE GOMES CERVEJA E VINHO GOIÂNIA- 2018 CERVEJA 1. Introdução De acordo com o Decreto nº 6871, Art. 36 de 4 de junho de 2009, cerveja é a bebida obtida pela fermentação alcoólica do mosto cervejeiro oriundo do malte de cevada e água potável, por ação da levedura, com adição de lúpulo, sendo estes os ingredientes básicos. Há cerca de 6 mil anos, o homem antigo descobriu, por acaso a cerveja. Existem relatos de que a primeira cerveja foi produzida por acaso, na região da Mesopotâmia, pelos Sumérios. Eles alegravam-se com uma bebida fermentada, obtida de cereais, em que se acredita que surgiu a partir de pão molhado que fermentou, dando origem à cerveja. Daí vem o apelido de pão líquido. De lá pra cá surgiram infinitos estilos de cervejas, variando de regiões, culturas, gostos, e da água disponível em cada região. Atualmente, é a terceira bebida mais popular do mundo, logo depois da água e do café. É a bebida alcoólica mais consumida no mundo atualmente. A classificação de cervejas é uma tarefa bastante complexa, pois são diversos parâmetros a se levar em consideração. Desde cor, teor alcoólico, ingredientes utilizados, escola cervejeira, métodos de produção, entre outros. Quanto ao tipo, as cervejas são classificadas em três famílias: as Ales, as Lagers e as Lambics. As Ales são cervejas de alta fermentação, ou seja, as leveduras utilizadas nesse tipo de cerveja realizam a fermentação na superfície com temperatura de 15ºC a 24ºC, enquanto que as Lagers são cervejas de baixa fermentação pois as leveduras utilizadas para esse tipo realizam a fermentação no fundo do fermentador a temperatura de 6ºC a 12ºC. Já as Lambics são cervejas de fermentação espontânea, com leveduras selvagens. Dentro dessas famílias, as cervejas são classificadas em sub tipos, ou Estilos, de acordo com os ingredientes, cor, amargor, teor alcoólico e outros parâmetros. O propósito de se dividir as cervejas em estilos é classificá-las de acordo com suas características, facilitando ao consumidor a identificação de suas referências, assim, pode-se saber o que esperar daquela cerveja de um determinado estilo. As classificações mais conhecidas e utilizadas atualmente são as do Beer Judge Certification Program (BJCP), que é uma organização que organiza critérios de avaliação de cervejas e desenvolveu um guia de estilos adotado mundialmente por vários conhecedores do assunto. Existem outras referências de classificação, como da Brew Association, da Rate Beer e da Beeradvocate. O Brasil é o terceiro maior produtor de cerveja no mundo, com cerca de 13 bilhões/litro ao ano, sendo que o mercado de cervejas artesanais corresponde a 0,15% do total, com cerca de 200 microcervejarias, e a perspectiva de alcançar 2% do mercado até 2024. 2. PROCESSAMENTO DE CERVEJA O processo tradicional de produção de cerveja pode ser dividido em oito operações essenciais: moagem do malte; mosturação ou tratamento enzimático do mosto; filtração do mosto; fervura do mosto ; tratamento do mosto (remoção do precipitado, resfriamento e aeração); fermentação; maturação e filtração. 2.1. Moagem do malte O objetivo da moagem do malte é a redução do grão de modo uniforme, para obter o rompimento da casca no sentido longitudinal, expondo o endosperma, porção interna do grão; a desintegração do endosperma, promovendo uma melhor atuação enzimática e a produção mínima de farinha com granulometria muito fina, evitando a formação de substâncias que produzem uma quantidade excessiva de pasta dentro da solução. 2.2. Mosturação Nesse processo, deve-se considerar que todo processo enzimático depende da temperatura, do tempo, do grau de acidez e concentração do meio, da qualidade do malte e constituição do produto da moagem. A escolha do tipo de mosturação ou programa de tempo/temperatura a ser aplicado durante a atuação enzimática vai depender da composição e do tipo de cerveja desejado, agregando conhecimentos do quanto de açúcares fermentescíveis deseja-se ou quanto de substâncias proteicas de alto peso molecular almeja-se para o “corpo”da cerveja e consistência da espuma. A ação das enzimas produz um mosto que contém de 70-80% de carboidratos fermentescíveis, incluindo glicose, maltose e maltotriose. 2.3. Filtração do mosto A filtração do mosto é realizada em um recipiente denominado tina de filtração, construído em aço inoxidável contendo agitador, disco filtrante PAKSCREENS, bomba centrífuga e isolamento térmico. A casca do malte serve como camada filtrante. Após essa operação, a camada filtrante é lavada com uma certa quantidade de água à 75 °C, visando aumentar a extração de açúcar e consequentemente, elevar o rendimento do processo. 2.4. Fervura Nessa etapa, com acréscimo do lúpulo, o mosto filtrado é submetido à fervura, visando a inativação de enzimas, esterilização do mosto, coagulação proteica, extração de compostos amargos e aromáticos do lúpulo, formação de substâncias constituintes do aroma e sabor, evaporação de água excedente e de componentes aromáticos indesejáveis ao produto final. A fervura do mosto é realizada em equipamento denominado fervedor de mosto ou tina de fervura, construída em aço inoxidável, encamisada e com sistema de aquecimento e isolamento térmico. O mosto é mantido em fervura até atingir a concentração desejada de açúcar para o início da fermentação, durante 60-90min, permitindo uma evaporação máxima de até 10% do volume inicial. 2.5. Tratamento do mosto Após a sua fervura, o mosto deve passar por etapas de retirada do precipitado, resfriamento e posterior aeração. Durante a primeira etapa, fazendo uso de forças centrípetas através da rotação forçada do meio, precipitam-se os complexos de proteínas, resinas e taninos denominados de trub, os quais sedimentam no fundo do tanque, sendo separados do mosto límpido. Posteriormente à retirada do trub, o mosto é resfriado em trocador de calor de placas, até a temperatura de fermentação. Mosto de cerveja tipo lager são usualmente resfriados entre 7 e 15°C e os de tipo Ale são resfriados em média entre 18 e 22°C, antes da adição da levedura. 2.6. Fermentação O processo fermentativo consiste no processo central para produção de qualquer bebida alcoólica, possuindo como principal objetivo a conversão de açúcares em etanol e gás carbônico pela levedura, sob condições anaeróbicas. As fermentações são iniciadas utilizando culturas de leveduras renovadas após um certo número de ciclos fermentativos (4 a 6). Os métodos utilizados na multiplicação de fermento são, em geral, variantes do processo de cortes, no qual o mosto em fermentação é diluído com mosto estéril toda vez que a fermentação se mostra vigorosa. Todos os carboidratos fermentescíveis (glicose, frutose, sacarose, maltose e maltotriose e dextrinas que são somente utilizadas por Saccharomyces diastaticus) são metabolizados pela levedura alcoólica. Além disso, numerosos subprodutos se desenvolvem durante a fermentação, sendo que vários produtos intermediários permanecem no líquido e muitos componentes do mosto são assimilados pela levedura. Todos os compostos envolvidos com a assimilação, formação de produtos e subprodutos,influenciam no aroma, no paladar e nas características da cerveja pronta. A fermentação é conduzida em fermentador provido de controlador e indicador de temperatura, manômetro para indicação da pressão interna, para a monitoração do CO2 formado durante o processo fermentativo. 2.7. Maturação A maturação (fermentação secundária) é necessária e importante, mas, relativamente, poucas mudanças ocorrem durante este estágio. Entretanto, no processo tradicional de fabricação de cerveja, a fermentação secundária transcorre durante um longo tempo chegando a algumas semanas e até mesmo alguns meses em determinados tipos de cerveja. O processo de maturação, no qual a cerveja é armazenada ou permanece em tanques sob temperaturas baixas possibilita reações as quais proporcionam as características organolépticas finais do produto. Ao iniciar-se a maturação, a maior parte dos açúcares foi metabolizada a álcool etílico, gás carbônico, glicerol, ácido acético e alcoóis superiores. Durante o processo de maturação, ocorrem algumas alterações de grande importância para a qualidade da cerveja, como o gás carbônico produzido durante a fermentação secundária que provoca a carbonatação da cerveja. Durante o período de maturação são formados ésteres responsáveis pelo aroma e sabor que caracterizam a cerveja; entre esses predominam o acetato de etila e o acetato de metila. 2.8. Filtração A filtração para clarificação da cerveja é um processo realizado em várias etapas com o objetivo de remover o material em suspensão e as leveduras residuais que podem provocar turbidez na cerveja. Ao final deste processo, obtém-se um produto transparente. Os mecanismos de filtração podem ser classificados em três tipos: 1. Filtração de superfície: as partículas são obstruídas na superfície do meio de filtração pois são maiores do que os poros desse meio. 2. Filtração por profundidade através do aprisionamento mecânico das partículas: as partículas passam pela matriz de filtração, mas são retidas mecanicamente nos poros do meio filtrante. 3. Filtração por profundidade através da adsorção das partículas: as partículas passam pela matriz de filtração, mas são adsorvidas na superfície dos poros internos do meio filtrante. A filtração da cerveja pode ser realizada em duas ou mais etapas. A filtração principal ou primária remove a maior parte das leveduras e material em suspensão, enquanto a filtração secundária produz uma cerveja límpida e brilhante. Entre os diversos tipos de filtros disponíveis para clarificar a cerveja, os mais comuns são os filtros que utilizam auxiliares filtrantes em forma de pó. O princípio de operação desses filtros baseia-se na formação de um leito ou torta do auxiliar filtrante sobre o septo ou malha de filtração. Esse leito poroso cria uma superfície que retém os sólidos em suspensão removendo-os da cerveja. 2.9. Envase O envase é o procedimento de engarrafamento, enlatamento ou embarrilamento do produto. Esta operação é executada em um equipamento denominado de enchedora no caso de garrafas e latas ou máquinas de embarrilamento quando se trata de barris. 2.10. Pasteurização A pasteurização consiste na destruição dos microrganismos presentes em soluções aquosas, pela ação do calor. Na prática, a pasteurização da cerveja pode ser dividida em duas categorias: 1) Pasteurização flash: realizada antes do engarrafamento da cerveja. Essa técnica é aplicada comumente ao produto a ser disposto em barris. 2) Pasteurização em túnel: aplicada à cerveja após o enchimento em garrafas e latas. É a forma mais segura de garantir até seis meses de vida de prateleira do produto nesses tipos de embalagens. Essa técnica baseia-se na aplicação de uma menor temperatura do que a utilizada na pasteurização flash, durante um período de tempo maior (até 1 hora), devido ao tempo necessário para elevar, estabilizar e diminuir a temperatura do líquido no interior da embalagem. 3. ENZIMAS APLICADAS E AÇÃO As principais enzimas que constituem o malte são: Alfa (α)- e Beta (β)- amilases, celulase e α-glicosidase, que atuam como catalisadores, respectivamente, das reações de degradação do amido, da celulose e das ligações glicosídicas. 3.1. Fitase É uma enzima que quebra fitina em fitato, gerando um ácido fraco. A pausa nessa temperatura foi muito usada na produção das primeiras cervejas claras, principalmente na cidade de Pilsen (República Tcheca). Devido as características do malte e da água sua ação era fundamental para a correção do pH, acidificando o mosto para facilitar o trabalho das demais enzimas cervejeiras. Sua utilização para realmente baixar para o pH para a faixa desejada (5,0 – 5,5) de um mosto mais básico poderia demorar algumas horas por causa da sua atividade ser maior em pHs ácidos. Devido ao conhecimento da dinâmica entre água e maltes, e a possibilidade de usar outros métodos para ajuste e controle de pH. Pode até aumentar ligeiramente a eficiência da brasagem. Sua temperatura ótima varia de 30-50°C e o seu pH ótimo varia de 4,4-5,5. 3.2. Proteases As proteases são enzimas que pertencem ao grupo das hidrolases, catalisam a reação de hidrólise de ligações peptídicas de proteínas e ainda ligações éster e amida, atuando na decomposição das proteínas. As proteínas já solubilizadas durante o processo de malteação continuam sendo degradadas, e as insolúveis serão degradadas pelas enzimas (BANDINELLI, 2015). Portanto, elas quebram proteínas em aminoácidos, que são importantes para a nutrição das leveduras, ou pedaços menores de proteínas, os peptídeos, que são importantes para a formação e retenção de espuma na cerveja pronta. Sua temperatura ótima varia de 50-55°C e o seu pH ótimo varia de 5,2-5,8. As proteases podem ser divididas em endo-peptidases, quebram longas cadeias de aminoácidos em sua parte central e as exo-peptidases, as quais quebram cadeias pelas extremidades, produzindo aminoácidos livres (BANDINELLI, 2015). 3.3. Beta (β)-glucanases Estas enzimas transformam β-glucanos presentes no grão, que são um tipo de agregado de glicose. Na indústria cervejeira, as β-glucanas presentes no malte causam problemas na etapa de filtração. A adição de β-glucanases é importante para diminuir a viscosidade e aumentar a liberação de açúcares solúveis presentes nos cereais. A faixa de atuação no cozimento do malte está na faixa de temperatura entre 37 e 45 ºC, com pH de 4,5 a 5,5. A necessidade da adição desta enzima se faz quando o teor de adjuntos não-malteados é maior que 25%. 3.4. β-amilase A β-amilase (1,4-α-D-glicano maltoidrolase, EC 3.2.1.2) é classificada na família 14 das glicosídeo hidrolases (GH-14) e atua como exo-hidrolase na penúltima ligação α-1,4-glicosídica do amido, glicogênio e oligossacarídeos relacionados, removendo a partir da extremidade não redutora da cadeia, sucessivas unidades de β-maltose, com inversão da configuração do carbono anomérico inicial do açúcar liberado. Ou seja, junto com a alfa (α)-amilase forma o grupo das enzimas diastásicas. Elas quebram o amido, que é uma longa cadeia de glicose. Especificamente a beta, quebra o amido de forma sistemática em açucares menores que são fermentáveis, chamados maltoses. Sua temperatura ótima varia de 60-65°C e o seu pH ótimo varia de 5,4-5,6. 3.5. α-amilase A α-amilase (1,4-α-D-glicano glicanoidrolase, EC 3.2.1.1), possui atividade endo-hidrolítica e atua aleatoriamente sobre ligações glicosídicas α- 1,4, produzindo uma mistura de glicose, maltose e dextrinas. As dextrinas são indispensáveis para o gosto adocicado e sensação de corpo das cervejas. Temperatura: 70-75°C – pH5,4-5,6. Resumidamente as principais enzimas e qual a temperatura e pH ideal para sua atuação estão na figura 1 e na tabela 1. VINHO 1. Introdução O vinho é uma bebida alcoólica, resultante da fermentação do mosto de uvas frescas, sãs e maduras (PORTARIA N.º 229, DE 25 DE OUTUBRO DE 1988) por intermédio de microrganismos chamados leveduras, as quais transformam o açúcar do sumo da uva em álcool etílico, anidro carbônico e uma série de elementos secundários em quantidades variadas.Na União Europeia, o vinho é legalmente definido como o produto obtido exclusivamente por fermentação parcial ou total de uvas frescas, inteiras ou esmagadas, ou de mostos. Em função disto, o vinho é considerado um produto elaborado, diferenciando-se dos produtos fabricados, caracterizados por misturas de diversas matérias-primas.. O vinho é uma bebida muito antiga e o local e a época em que ele foi produzido pela primeira vez não são precisos, mas segundo ARCHAEO NEWS (2003) o vinho vem de 6.000 a 5.000 a.C e ele sempre esteve ligado a rituais tanto religiosos como pagãos, sendo hoje ainda uma das bebidas mais utilizadas em ocasiões especiais e muitas vezes como item presenteável. É, portanto, uma bebida muito associada a tradições. Seu consumo tem perdido lugar para as bebidas mais baratas e que atingem uma faixa etária menor, como a cerveja. (HASHIZUME, 2001) Os maiores consumidores de vinho no mundo são os países da Europa e alguns países da América do Sul, como a Argentina, seguido de países onde o clima é mais frio, sendo uma das exceções o Brasil. E o maior consumo per capita está na cidade do Vaticano, com 62 litros per capita/ano, sendo que no Brasil o consumo de vinho é de 1,65 litros per capita/ano. (Wine Institute, 2005) Segundo Uvibra (1995) um considerável número de estudos concluiu que os bebedores de vinho tiveram os riscos de doenças cardíacas diminuídas em relação aos abstêmios. O mesmo autor afirma que o fato deve-se ao álcool que desencadeia metabolismos que inibem a coagulação do sangue e, além dele, também outros componentes trazem benefícios antioxidantes e digestivos. Se ingerido moderadamente, traz benefícios ao organismo humano, agindo beneficamente sobre as paredes das artérias. Uvibra (1995), afirma que existe na casca da uva uma substância denominada resveratrol, encontrada em maior quantidade no vinho tinto, que tem a capacidade de diminuir as taxas de LDL (Lipoproteína de baixa densidade), que se deposita na parede das artérias. Esta substância também aumenta o nível de HDL (Lipoproteína de alta densidade) que se ligam as partículas de gordura impedindo a formação de placas de ateroma, diminuindo os riscos de doenças cardiovasculares. Flavonóides presentes no vinho tinto tem o poder antioxidante até maior que a vitamina E, e por isso, protege o coração dos efeitos das gorduras. A substância resveratrol ajuda a eliminar as células neoplásicas, por inanição, inibindo a ação da proteína chamada fator nuclear- kappa B, que as nutrem. Esta proteína é encontrada no núcleo de todas as células e ativa os genes que irão se responsabilizar pela sobrevivência das mesmas (UNIVERSITY OF VIRGINA HEALTH SYSTEM, 2004). A fermentação é um processo bioquímico realizado por microorganismos que convertem moléculas de carboidratos (açúcares) em álcool, gás carbônico e energia. Neste processo de fermentação há um mundo "micro", o mundo dos microorganismos. A fermentação é utilizada na elaboração de bebidas fermentadas, como o vinho e a cerveja. No caso do vinho, a fermentação é utilizada para a obtenção de álcool a partir dos açúcares do suco de uva. Para isso, são utilizados os microorganismos do tipo leveduras (fermentos semelhantes aos utilizados na fabricação de pão) do gênero Saccharomyces, destacando-se as espécies S. ellipsoideus (ou cerevisae ou vini), S. chevalieri e S. oviformis (ou bayanus). 2. PROCESSAMENTO DE VINHO 2.1. Colheita, recepção e análise da uva A colheita da uva deve ser realizada manualmente, com tempo seco e, preferencialmente, nas primeiras horas da manhã. Na recepção da uva na vinícola, a uva é pesada e o grau glucométrico é determinado, para fins de cálculo do potencial alcoólico e de eventuais correções. 2.2. Desengace e esmagamento Realizado por esmagadora/desengaçadora, a qual separa o engaço e esmaga as uvas, sem triturar as cascas e sementes. Na vinificação em tinto, o esmagamento das uvas tem como finalidade liberar o suco contido na polpa e facilitar a dissolução da matéria corante durante a maceração. Para uvas brancas, uma variação bastante utilizada da técnica é o desengace sem esmagamento. A uva é em seguida prensada inteira, o que pode aportar maior qualidade aromática ao vinho. 2.3. Sulfitagem do mosto O uso de dióxido de enxofre em enologia é uma prática bastante antiga. As principais propriedades do SO2 são: ação seletiva sobre as leveduras, ação anti-oxidante, anti-oxidásica e conservante. 2.4. Adição de leveduras As leveduras são os microrganismos que transformam o açúcar contido no mosto da uva em álcool etílico e compostos secundários. São, portanto, os agentes biológicos da vinificação. O melhor método de adição da levedura ao mosto é através de "pé de cuba", que consiste em diluir um preparado comercial de leveduras secas ativas em uma quantidade de mosto que represente 2 a 5% do volume total a fermentar. A levedura Saccharomyces cerevisiae é a única a prestar-se à vinificação, uma vez que tem a capacidade de transformar totalmente os açúcares da uva em álcool etílico e outros compostos secundários. Existem diversas cepas da levedura que, segundo a aptidão, prestam-se mais à elaboração de vinhos brancos, tintos, espumantes, etc. 2.5. Fermentação alcoólica Na vinificação em tinto, a fermentação alcoólica pode ser dividida em duas fases: tumultuosa e lenta. A fermentação tumultuosa caracteriza-se pela grande atividade das leveduras, gerando elevação da temperatura e grande liberação de gás carbônico, que empurra as partes sólidas para a parte superior do recipiente formando o "chapéu de bagaço". Na vinificação em branco com controle de temperatura a fase tumultuosa é menos evidente, uma vez que o ajuste da temperatura para cerca de 15°C evita que a fermentação se acelere. Os fatores que afetam a fermentação alcoólica são: teor de açúcar da uva; álcool; compostos nitrogenados; oxigênio; dióxido de carbono e temperatura. 2.6. Maceração É uma das mais importantes etapas da vinificação em tinto. Nela ocorre a extração dos compostos contidos nas partes sólidas da uva. A mesma deve ser seletiva, permitindo a máxima extração dos compostos que concorrem para a qualidade do vinho e limitando ao máximo a extração dos que concorrem para limitá-la. 2.7. Remontagens A remontagem é uma importante etapa da maceração na vinificação em tinto. Na prática, trata-se de uma maneira de homogeneizar as fases sólida e líquida, dado que a fase sólida concentra-se na parte superior do recipiente, durante a fermentação. 2.8. Descuba Consiste na separação do líquido (vinho em elaboração) da fase sólida (bagaço). 2.9. Prensagem do bagaço Esta operação, é realizada para os vinhos tintos e no início da vinificação para vinhos brancos, possibilita um aumento de rendimento de 10 a 15%, pela extração do vinho retido nos interstícios das partes sólidas. 2.10. Fermentação malolática É a transformação do ácido málico em ácido láctico. De maneira geral, os vinhos tintossão beneficiados com esta fermentação ao adquirirem maior complexidade aromática, suavidade e maciez gustativa. Entretanto, é indesejável na maioria dos vinhos brancos, para os quais uma acidez mais pronunciada é realça o aroma e equilibra o sabor. O agente da fermentação malolática é a bactéria Leuconostoc oenos. 2.11. Sulfitagem do vinho Serve para neutralizar possíveis reações químicas e bioquímicas de oxidação e evitar o crescimento de microrganismos indesejáveis no vinho. Deve- se adicionar SO2 ao mosto antes do início da fermentação alcoólica, de modo a inibir o crescimento de bactérias e leveduras selvagens que competiriam com a cultura pura de levedura, com prejuízo para a qualidade do vinho. 2.12. Filtrações A filtração é a prática mais empregada em enologia para retirada de micropartículas e para a estabilização microbiológica do vinho. Os tipos de filtro mais usados são: a terra (normalmente são a vácuo); a placas, ou lenticulares. 2.13. Engarrafamento As garrafas de vidro de 750mL de capacidade são os recipientes utilizado por excelência em todo o mundo. No engarrafamento de grandes volumes de vinho, são utilizadas máquinas engarrafadoras automáticas. As rolhas de cortiça natural são ainda hoje os melhores objetos para tampar garrafas de vinho. Existem vários tipos de rolhas para vinhos tranquilos. Para espumantes, as rolhas são de um só tipo, específicas para o tipo de garrafa utilizado e para a pressão que devem suportar. 2.14. Envelhecimento na garrafa Na garrafa, o vinho deixa de estar sob um ambiente oxidante e passa a estar sob um ambiente redutor. Nessas condições, desenvolve o aroma terciário, ou de envelhecimento. Este aroma, por ser bastante complexo e sentido na degustação buco-nasal, é denominado buquê. O tempo de envelhecimento em garrafa é determinado pelo potencial de cada vinho, variando de alguns meses a vários anos. 3. ENZIMAS APLICADAS E AÇÃO As principais enzimas industriais comercializadas no setor da enologia são pectinases, hemicelulases, glucanases e glicosidades. A produção destas enzimas é controlada pelo OIV que determina que apenas os fungos Aspergillus niger e Trichoderma harzianium possam ser utilizados na produção industrial destes grupos enzimáticos. As pectinases estão envolvidas na degradação das pectinas do mosto e as hemicelulases na degradação das pectinas da película das uvas. As glucanases são parte importante da parede dos fungos, incluindo das Saccharomyces cerevisiae, responsáveis pelas fermentações alcoólicas. Estas enzimas são principalmente usadas na clarificação dos mostos de uvas atacadas com o fungo Botrytis cinerea, ricos em glucanos, e também na autólise de leveduras, acelerando o processo e permitindo uma maior intensidade e complexidade de gosto no vinho. As glicosidases têm por missão remover o açúcar que se encontra ligado a compostos aromáticos (monoterpenos, por exemplo), inibindo a sua característica odorante. Assim os vinhos se tornam mais aromáticos. No caso da vinificação em branco, as pectinases permitem que os sólidos em suspensão no mosto, acabado de extrair da uva, sedimentem com maior rapidez, encurtando o tempo de decantação, período sempre crítico deste tipo de vinificação. O mosto da uva contém cerca de 1g/l de pectinas - estes elementos, formados por ácido péctico, hemiceluloses e gomas, funcionam como uma espécie de cola das células vegetais. Mas o mosto também contém pectinases naturais encarregadas de as destruir. Ambos os elementos aumentam na uva à medida que a maturação se completa. Mas o uso de anidrido sulfuroso na proteção contra oxidações inibe estas pectinases naturais. Assim são adicionadas ao mosto em decantação enzimas pectolíticas (pectinases) industriais que rompem as pectinas diminuindo a viscosidade do mosto e permitindo uma velocidade de sedimentação mais rápida dos elementos sólidos em suspensão. Vinhos clarificados com enzimas necessitam de filtrações mais rápidas. No caso da vinificação em tinto o uso de enzimas de extração permite obter nos mostos uma cor mais intensa e brilhante, taninos mais maduros e macios e aromas mais limpos e focados. O caráter varietal e a qualidade da fruta são aumentados e melhorados. A película das uvas contém pectinas (protopectinas) que são destruídas por hemicelulases - um grupo de enzimas encarregadas de tratar vários tipos de substratos que separados permitem uma maior extração dos componentes aprisionados em moléculas complexas da película das uvas. Um aspecto importante deste produto enológico é possuir pouca quantidade de antocianases de modo a assegurar futuramente uma boa estabilidade da cor. Antocianases são enzimas que não se desejam nos mostos tintos. BIBLIOGRAFIA ARCHAEO NEWS, 2003. Disponível em: < http://www.stonepages.com/news/archives/000498.html> Acesso em: 07 ago. 2018. BANDINELLI, P. C. Estudo de caso de melhoria do Processo de Mosturação de uma cerveja no RS. Porto Alegre: UFRGS, 2015 HASHIZUME, T. Tecnologia do Vinho. In: BORZANI, W. et AL. Biotecnologia Industrial: biotecnologia na produção de alimentos. São Paulo: Editora Edgard Blücher, v.4, p.21-68, 2001. MONTEIRO, V. N.; SILVA, R. N. Aplicações industriais da biotecnologia enzimática. Revista Processos Químicos, v. 3, n. 5, p.9-23, 2009. UNIVERSITY OF VIRGINIA HEALTH SYSTEM. Vinhos & Saúde / Câncer: proteína pode matar células cancerosas. Virginia, 2004. Disponível em: acesso em: 09 ago. 2018 UVIBRA – União brasileira de vitivinicultura: Aos homens com hipertensão, faz bem bebe vinho com moderação. Worcester Medical Center. Massachussets, 2004 UVIBRA – União dos Viticultores Brasileiros. Revista do Vinho. Bento Gonçalves, 1995, v.12. Wine Institute. Disponível em: <http://www.wineinstitute.org/resources/statistics> Acesso em: 07 ago. 2018.
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