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A PRODUÇÃO OMNILATERAL DO HOMEM NA PERSPECTIVA MARXISTA: A EDUCAÇÃO E O TRABALHO


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A PRODUÇÃO OMNILATERAL DO HOMEM NA PERSPECTIVA 
MARXISTA: A EDUCAÇÃO E O TRABALHO 
 
NEVES, Sandra Garcia –FECILCAM 
sandragarcianeves@bol.com.br 
 
Área Temática: História da Educação 
Agência Financiadora: Não contou com financiamento 
 
Resumo 
 
A produção omnilateral é a que objetiva o homem completo pelo trabalho produtivo e pela 
vida em sociedade e a produção unilateral é a que visa somente a preparação do homem para 
o trabalho alienado. Na atualidade a educação escolar abrange grande diversidade de aspectos 
que fortalecem esta dicotomia porque são, na maioria das vezes, contraditórios entre a 
formação humana para a vida e para o trabalho. O âmbito escolar, as atividades formativas 
limitam-se a preparação do homem para ingresso no mercado de trabalho, mediante domínio 
de uma técnica e de conhecimentos desconectados de sua vida, portanto, apolíticos e 
alienantes. Apesar de Marx e Engels não haverem elaborado uma teoria da educação, em suas 
análises filosóficas conjunturais sobre economia e política, encontramos importantes e 
esclarecedoras orientações sobre educação e ensino. Nosso objetivo neste texto é apresentar 
indicações sobre como deveria ser a educação na perspectiva marxista. Acreditamos que a 
análise histórica fundamentada na perspectiva marxista de educação e de trabalho como 
princípio educativo, permite-nos caracterizar como é a produção do homem unilateral, pelo 
trabalho dividido especializado e a onilateral pelo trabalho produtivo e pela relação entre 
educação e sociedade. Fundamentamos nossa discussão, principalmente, nos escritos de Marx 
e Engels, quando tratam do trabalho e da vida em sociedade como elementos da aquisição da 
humanidade pelo homem; Kosik quando trata da produção e reprodução da vida em sociedade 
pelo homem; Vázquez quando caracteriza o homem como ser histórico, social e práxico; e 
Manacorda que define a onilateralidade. Acreditamos a produção do homem completo 
somente se dará, e nisso mais uma vez, firmamos a teoria marxista, quando o trabalho 
produtivo e a relação entre educação e sociedade efetivamente produzam o homem o 
profissional e cientificamente. 
 
Palavras-chave: Educação. Homem. Práxis revolucionária. Trabalho produtivo. 
Introdução 
Na História da Educação encontramos propostas, métodos e projetos pedagógicos de 
intelectuais que dedicaram suas vidas à educação. Alguns se tornaram conhecidos 
 8876 
mundialmente, outros não. Alguns trataram ampla e minuciosamente da educação escolar, 
outros fizeram apenas inferências, outros ainda, não tiveram intenção de que suas idéias 
relacionadas à educação se tornassem conhecidas ou referências na área. 
Nos escritos de Marx e Engels encontramos tanto orientações pedagógicas implícitas 
quanto explícitas. No primeiro caso as propostas de instrução, e, no segundo, as discussões 
filosóficas, antropológicas, sociológicas e ideológicas. O modelo educativo elaborado por 
Marx e Engels compunha-se por duas propostas: o trabalho produtivo e a relação entre 
educação e sociedade. Para efetivá-lo seriam necessárias novas escolas que preparassem 
profissional e cientificamente o homem completo. 
Evidentemente, a proposta marxista não pode ser desconsiderada. Nos escritos de 
Marx e de Engels encontramos algumas referências sobre a produção do homem omnilateral 
possibilitada pela vivência social efetiva e pelo trabalho produtivo sobre as quais objetivamos 
apresentar algumas considerações sumárias. 
Desenvolvimento: A produção omnilateral do homem na perspectiva marxista 
Porque buscarmos nos escritos de Marx e Engels as idéias sobre educação se estes 
filósofos-economistas não se dedicaram profundamente a esta temática? O que encontramos 
em seus escritos que contribui para a superação da produção unilateral do homem derivada da 
divisão e especialização do trabalho, promovida pelo modo de produção capitalista? Que 
orientações Marx e Engels trariam para a produção do homem omnilateral na atualidade? 
Para darmos algumas indicações, mesmo que sumárias, apresentamos, primeiramente, 
as características básicas da educação na atualidade, e depois, como seria para Marx e Engels 
a produção do homem completo. A princípio vejamos qual é, objetivamente, a realidade a que 
nos referimos. 
Partimos da identificação do seguinte problema: a escola é a instituição social 
responsável pela educação, contudo, não tem cumprido seu papel mediante as transformações 
econômicas, políticas, sociais e culturais do mundo contemporâneo. Estas transformações são 
derivadas dos avanços tecnológicos, da reestruturação do sistema de produção e 
desenvolvimento, modificações do papel e função do Estado, das mudanças no sistema 
financeiro, na organização do trabalho e nos hábitos de consumo. 
Conforme as características da sociedade capitalista atual, o homem vive entre 
homogeneidades e heterogeneidades, entre globalização e individuação. Realidade que afeta 
 8877 
os sentidos e significados dos indivíduos e grupos e cria inúmeras culturas, relações e sujeitos 
portadores de dimensões física, cognitiva, afetiva, social, ética e estética. Sentidos e 
significados situados em contextos socioculturais, históricos e institucionais. 
Diante desta multiplicidade de fatores, a educação unilateral forma somente sujeitos 
para o mercado de trabalho. Frente a esta realidade, o desafio da educação e da escola - uma 
organização socialmente construída -, na sociedade contemporânea, é a produção do homem 
completo, omnilateral. Como prática social, a educação é fenômeno essencialmente humano 
e, portanto, histórico. Em relação às orientações pedagógicas gerais, antropológicas, 
sociológicas e políticas, “[...] os dois teóricos do materialismo histórico [Marx e Engels] 
esboçam uma proposta educativa que se desenvolve em torno do papel fundamental atribuído 
ao trabalho no âmbito escolar” (CAMBI, 1999, p. 484). 
Nesta perspectiva, Marx e Engels (1979) compreendiam o homem como ser real, de 
ação em condições objetivas de existência, tanto as que se encontram prontas quanto as que 
são produzidas. A omni ou onilateralidade é a 
 
[...] a chegada histórica do homem a uma totalidade de capacidades produtivas e, ao 
mesmo tempo, a uma totalidade de capacidades de consumo e prazeres, em que se 
deve considerar sobretudo o gozo daqueles bens espirituais, além dos materiais, e 
dos quais o trabalhador tem estado excluído em conseqüência da divisão do trabalho 
(MANACORDA, 2007, p. 89). 
 
Como ser natural, vivente, ativo, repleto de forças, disposição, capacidade e instinto, o 
homem é um ser sensível e objetivo que padece, sofre condicionamentos e limitações de 
objetos existentes externa e independentemente. O homem necessita destes objetos, que lhe 
são essenciais, indispensáveis para a efetivação de suas forças essenciais, ou seja, para torná-
lo naturalmente humano. Necessidade apontada por Marx, porque acreditava que “o homem 
[...] é historicamente alienado pela organização capitalista do trabalho e, ao mesmo tempo, 
pelas ideologias que ela exprime, mas é também um “ente” ativo que, por meio do trabalho e 
da sua dialética revolucionária, prepara seu próprio resgate” (CAMBI, 1999, p. 483). 
A efetivação da essência humana se dá pelo trabalho. Neste, o homem “põe em 
movimento as forças naturais de seu corpo - braços e pernas, cabeça e mãos -, a fim de 
apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana” (MARX, 
2008, p. 211). Pelo trabalho “o homem alcança [...] a objetivação, e o objeto é humanizado. 
Na humanização da natureza [promovida pelo trabalho] e na objetivação (realização) dos 
significados, o homem constitui o mundo humano [e constitui-se humanamente]. O homem 
 8878 
vive no mundo (das próprias criações e significados) [...]” (KOSIK, 2002, p. 203. Grifo do 
autor). 
Marx (2008, p. 211) definiu o trabalho comoo “[...] processo de que participam o 
homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, 
regula e controla seu intercâmbio material com a natureza”. Dissemos, então que “o trabalho é 
um processo que permeia todo o ser do homem e constitui a sua especificidade” (KOSIK, 
2002, p. 199. Grifo do autor). 
 
Na base do trabalho, no trabalho e por meio do trabalho o homem criou a si mesmo 
não apenas como ser pensante, qualitativamente distinto dos outros animais de 
espécies superiores, mas também como único ser do universo, por nós conhecido, 
que é capaz de criar a realidade. O homem é parte da natureza e é natureza ele 
próprio (KOSIK, 2002, p. 127). 
 
Mediante esta afirmação, Vázquez (1977, p. 9) definiu “o homem comum e corrente 
[como] um ser social e histórico; ou seja, encontra-se imbricado numa rede de relações sociais 
e enraizado num determinado terreno histórico”. Ao mesmo tempo em que o homem modifica 
a natureza externa, atuando sobre ela, modifica a sua própria natureza, pelo desenvolvimento 
de suas potencialidades e pelo domínio das forças naturais. “O homem se origina da natureza, 
é uma parte da natureza e ao mesmo tempo ultrapassa a natureza; comporta-se livremente 
com as próprias criações, procura destacar-se delas, levanta o problema do seu significado e 
procura descobrir qual o seu próprio lugar no universo” (KOSIK, 2002, p. 127). 
 
É somente graças à riqueza objetivamente desenvolvida da essência humana que a 
riqueza da sensibilidade humana subjetiva é em parte cultivada, e é em parte criada, 
que o ouvido torna-se musical, que o olho percebe a beleza da forma, em resumo, 
que os sentidos tornam-se capazes de gozo humano, tornam-se sentidos que se 
confirmam como forças essenciais humanas. Pois não só os cinco sentidos, como 
também os chamados sentidos espirituais, os sentidos práticos (vontade, amor, etc.), 
em uma palavra, o sentido humano, a humanidade dos sentidos, constituem-se 
unicamente mediante o modo de existência de seu objeto, mediante a natureza 
humanizada. A formação dos cinco sentidos é um trabalho de toda a história 
universal até nossos dias (MARX, 1978a, p. 12. Grifo do autor). 
 
Que dizer, no contato e na transformação da natureza para satisfazer suas necessidades 
o homem ao desenvolver os sentidos humanos, desenvolve a própria humanidade. 
Para Marx e Engels (2008) o trabalho é entendido na forma exclusivamente humana, 
e, “[...] como ação objetiva é um modo particular de unidade de tempo (temporalização) e de 
 8879 
espaço (função extensiva) como dimensões essenciais da existência humana, isto é, formas 
específicas do movimento do homem no mundo” (KOSIK, 2002, p. 204). 
Pelo trabalho o homem confirma a própria realidade em uma atividade objetiva. Ou 
seja, 
 
Na produção e reprodução da vida social, isto é, na criação de si mesmo como ser 
histórico-social, o homem produz: 
1) os bens materiais, o mundo materialmente sensível, cujo fundamento é o trabalho; 
2) as relações e as instituições sociais, o complexo das condições sociais; 
3) e, sobre a base disto, as idéias, as concepções, as emoções, as qualidades humanas 
e os sentidos humanos correspondentes (KOSIK, 2002, p. 126). 
 
A ação do homem sobre a natureza é necessária porque de imediato, os objetos tais 
como são encontrados, não possuem sentido humano assim como também não é imediata a 
sensibilidade e objetividade humana. A natureza não está, objetiva e subjetivamente, presente 
para o ser humano de imediato e adequadamente. “E como tudo o que é natural deve nascer, 
assim também o homem possui seu ato de nascimento a história, que, no entanto, é para ele 
uma história consciente, e que, portanto, como ato de nascimento acompanhado de 
consciência é ato de nascimento que se supera” (MARX, 1978a, p. 41. Grifo do autor). A 
consciência do homem é a 
 
[...] consciência geral é apenas a figura lógica daquilo cuja figura viva é a 
comunidade real, o ser social, enquanto hoje em dia a consciência geral é uma 
abstração da vida efetiva e como tal a enfrenta como inimiga. Por isso também a 
atividade de minha consciência geral – como tal – é minha existência teórica 
enquanto ser social (MARX, 1978a, p. 10. Grifo do autor). 
 
Marx (1979, p. 36), foi além da ação objetiva do homem sobre o objetivo e esclareceu 
que pelo trabalho produtivo “a consciência [se torna], pois um produto social e continuará a 
sê-lo enquanto houver homens”. 
O único ato da consciência é o saber, ou seja, o “saber é seu único comportamento 
objetivo” (MARX, 1978a, p. 42), de maneira que “o homem só conhece a realidade na 
medida em que ele cria a realidade humana e se comporta antes de tudo como ser prático” 
(KOSIK, 2002, p. 28. Grifo do autor) e somente “[...] supera (transcende) originariamente a 
situação não com a sua consciência, as intenções e os projetos ideais, mas com a praxis” 
(KOSIK, 2002, p. 240. Grifo do autor). Significa que, somente quando a prática humana é 
guiada pela teoria que a embasa, torna-se práxis consciente, e possivelmente, revolucionária. 
 8880 
Com o desenvolvimento da sociedade capitalista, a divisão do trabalho, a 
especialização e a crescente valorização do consumo, o sentido humano, em grande parte, 
passou a ser o ter ao invés do ser. “Em lugar de todos os sentidos físicos e espirituais apareceu 
assim a simples alienação de todos esses sentidos, o sentido do ter. O ser humano teve que ser 
reduzido a esta absoluta pobreza, para que pudesse dar à luz a sua riqueza interior partindo de 
si” (MARX, 1978a, p. 11. Grifo do autor). Tanto que “o comércio universal gira quase 
inteiramente em torno das necessidades não do consumo individual, mas da produção” 
(MARX, 2009, p. 56). Produz-se, mesmo que não seja aquilo de que todos precisam para 
satisfazer as necessidades de subsistência. 
O que importa é fazer mover e crescer o mercado global. Por isso, no decorrer da 
história todas as sociedades se sustentaram “[...] no antagonismo entre classes dominantes e 
dominadas. Mas, para que uma classe possa ser oprimida, é necessário garantir-lhe as 
condições que lhe permitam, pelo menos, sobreviver em sua existência servil” (MARX; 
ENGELS, 2005, p. 98). O homem tornou-se escravo do mercado, não para atender suas 
próprias necessidades, mas as do capitalista, e porque, mesmo que em condições precárias e 
por um salário mínimo, precisa trabalhar para sobreviver. Daí Marx e Engels (2004, p. 32) 
afirmarem que “subdividir um homem é executá-lo [...]”. 
 
Dessa condição do trabalho alienado – no qual a atividade humana, rebaixada de fim 
a meio, de automanifestação a uma atividade completamente estranha a si mesma, 
nega o próprio homem – decorre uma situação de “imoralidade, monstruosidade, 
hilotismo dos operários e dos capitalistas”, pois o que em um é atividade alienada, é 
estado de alienação no outro, e uma potência desumana domina a ambos. Eis aí o 
homem unilateral [...] (MANACORDA, 2007, p. 42). 
 
De outro modo, a finalidade do homem para Marx e Engels (1978, p. 53) é “[...] o 
enobrecimento da humanidade e dele próprio [...]” pela via que determinar para educar-se a si 
mesmo e a sociedade. Por não ser abstração individual, “[...] a essência humana [...] em sua 
efetividade é o conjunto das relações sociais” (MARX, 1978b, p. 52). Marx e Engels (1978) 
advertiram que nem sempre o homem consegue adotar a carreira que lhe interessa, e que, as 
relações que estabelece com a sociedade iniciam-se antes de poder determiná-las. Como 
conjunto de relações, “a sociedade é, pois, a plena unidade essencial do homem com a 
natureza, a verdadeira ressurreição da natureza, o naturalismo acabado do homem e o 
humanismo acabado da natureza” (MARX, 1978a, p. 9). 
 8881 
Considerando-se que são as condições reais e materiais do mundo que determinam a 
vida do homem depreende-se queEnquanto as circunstâncias em que vive este indivíduo lhe não permitem senão o 
desenvolvimento unilateral de uma faculdade à custa de todas as outras e lhe não 
fornecem senão a matéria e o tempo necessários ao desenvolvimento desta única 
faculdade, este indivíduo só atingirá um desenvolvimento unilateral e mutilado 
(MARX; ENGELS, 1978, p. 62. Grifo do autor). 
 
Nestas circunstâncias, “o homem vive e tem vivido constantemente alienado, o que 
equivale a dizer: em constante negação de si mesmo, de sua essência” (VÁZQUEZ, 1977, p. 
137). De outro modo, quando a vida do homem abarca atividades diversas e relações práticas 
com o mundo, seu pensamento se torna universal. O que se dá quando o pensamento do 
homem adquire um desenvolvimento universal, transpõe os limites locais que o aprisionam. 
 
O que dá aos indivíduos a possibilidade de vencerem a sua estreiteza local, em 
determinadas circunstâncias favoráveis, não é o facto de que na sua reflexão se 
imaginem ou se proponham dissolver estas limitações, mas que, na sua realidade 
material e determinada por necessidades materiais, conseguem produzir um sistema 
de trocas à escala do mundo (MARX; ENGELS, 1978, p. 64). 
 
No período industrial, a formação dos jovens limitou-se a transformar os jovens em 
máquinas de produzir mais-valia. Trabalhadores que mal sabiam ler e escrever. Marx e Engels 
(1978, p. 89) defenderam as escolas técnicas e teórico-práticas, combinadas às escolas 
primárias. Acreditavam ser preciso “[...] banir da escola [...] qualquer influência do governo e 
da Igreja” e firmar a educação como um dos mais poderosos meios de transformação da 
sociedade daquela época. Ressaltaram a necessidade da “educação de todas as crianças, a 
partir do momento em que podem passar sem os primeiros cuidados maternais, nas 
instituições nacionais e as expensas da nação” (MARX; ENGELS, 1978, p. 107) e que 
trabalho produtivo e educação possuíam valores e importância iguais. 
Para atender a essa necessidade, seria preciso extinguir a propriedade privada. Depois 
disto, toda a sociedade administraria, conforme suas necessidades, todas as forças produtivas 
e os meios de circulação, de troca e distribuição de produtos. Julgaram que “a coincidência da 
alteração das contingências com a atividade humana e a mudança de si próprio só pode ser 
captada e entendida racionalmente como praxis revolucionária” (MARX, 1978b, p. 51. Grifo 
do autor). 
 8882 
Vázquez (1977, p. 3) define “[...] práxis como atividade material do homem que 
transforma o mundo natural e social para fazer dele um mundo humano”. Neste sentido, “a 
relação entre teoria e praxis é para Marx teórica e prática; prática, na medida em que a teoria, 
como guia da ação, molda a atividade do homem, particularmente a atividade revolucionária; 
teórica, na medida em que essa relação é consciente” (VÁZQUEZ, 1977, p. 117). Deste 
modo, “a superação positiva da propriedade privada como apropriação da vida humana é por 
isso a superação positiva de toda alienação, isto é, o retorno do homem da religião, da família, 
do Estado, etc., ao seu modo de existência humano, isto é, social” (MARX, 1978a, p. 9. Grifo 
do autor). 
A determinação exercida nos homens pelas condições reais em que vivem é devida ao 
fato de que, as condições objetivas de vida refletem aquilo que são. “O que são coincide 
portanto, isto é, tanto com aquilo que produzem como com a forma como produzem. Aquilo 
que os indivíduos são depende portanto das condições materiais da sua produção” (MARX; 
ENGELS, 1979, p. 19. Grifo do autor). Então, podem ser seres unilaterais ou omnilaterais, 
parciais ou completos. 
Ao invés da formação unilateral, 
 
A indústria praticada em comum, segundo um plano estabelecido em função do 
conjunto da sociedade, implica homens completos, cujas faculdades são 
desenvolvidas em todos os sentidos e que estão à altura de possuir uma clara visão 
de todo o sistema de produção (MARX; ENGELS, 1978, p. 109). 
 
Na sociedade comunista, os jovens passariam por todo sistema produtivo com a 
garantia de percorrerem todas as etapas da produção segundo suas aptidões e necessidades da 
sociedade. Nesta sociedade a educação aos que a integram “[...] a ocasião de pôr, em todos os 
sentidos, em ação as suas aptidões, também elas desenvolvidas em todos os sentidos” 
(MARX; ENGELS, 1978, p. 110). Diferente, portanto, da formação unilateral promovida pela 
divisão e alienação do homem no trabalho parcial. 
Segundo Vázquez (1977, p. 138) 
 
[...] o homem se aliena, e apenas ele, porque é o produto do que ele próprio faz, de 
seu trabalho; justamente porque ele faz seu ser – em poucas palavras, por ser um 
ente histórico -, o homem se encontra num processo de produção de si mesmo, isto 
é, de humanização, dentro do qual pode encontrar-se em níveis humanos tão ínfimos 
como o do homem alienado ou coisificado. 
 
 8883 
Marx e Engels (1978, p. 111), já na segunda metade do século XIX, fizeram uma 
avaliação crítica da situação alienante da sociedade da época e, em contrapartida, 
apresentaram a proposta de 
 
[...] associação universal de todos os membros da sociedade em vista da exploração 
colectiva e ordenada das forças produtivas, a extensão da produção a fim de que 
possa satisfazer as necessidades de todos, a abolição de um estado de coisas em que 
as necessidades de uns só são satisfeitas à custa de outros, a eliminação completa 
das classes e dos seus antagonismos, o desenvolvimento em todos os sentidos das 
faculdades de todos os membros da sociedade, graças à supressão da actual divisão 
do trabalho, graças à educação baseada na indústria, à variação do gênero de 
actividade, à participação de todos nos prazeres criados por todos, à combinação da 
cidade e do campo – serão estes os principais efeitos da abolição da propriedade 
privada. 
 
Marx e Engels defenderam a “[...] necessidade de eliminar a propriedade privada, a 
divisão do trabalho, a exploração e a unilateralidade do homem, para atingir um pleno 
desenvolvimento das forças produtivas e a recuperação da onilateralidade” (MANACORDA, 
2007, p. 41). 
 
Somente quando a prática produtiva material e a prática social revolucionária 
alcançam certo nível na própria realidade e que se dão as condições para que se 
possa captar a prática, em toda a sua significação social e humana, em toda a sua 
universalidade, riqueza e essencialidade, como atividade transformadora do mundo 
(VÁZQUEZ, 1996, p. 157). 
 
Para Marx e Engels (2004, p. 32. Grifo do autor) “a objetivação da essência humana, 
tanto no sentido teórico como no prático, é, pois, necessária tanto para tornar humano o 
sentido do homem como para criar o sentido humano correspondente à riqueza plena da 
essência humana e natural”. A criação do sentido humano deriva-se do fato de que “[...] com 
o seu agir o homem inscreve significados no mundo e cria a estrutura significativa do próprio 
mundo” (KOSIK, 2002, p. 241. Grifo do autor). 
A orientação geral de Marx e Engels (2003, p. 149) para a produção do homem 
omnilateral parte da afirmação de que 
 
Se o homem forma todos seus conhecimentos, suas sensações etc. do mundo 
sensível e da experiência dentro desse mundo, o que importa, portanto, é organizar o 
mundo do espírito de tal modo que o homem faça aí a experiência, e assimile ao o 
hábito daquilo que é humano de verdade, que se experimente a si mesmo enquanto 
homem. 
[...] 
 8884 
Se o homem é formado pelas circunstâncias, será necessário formar as 
circunstâncias humanamente. 
 
A escola e todas as outras instituições sociais, inclusive a cultura, que atuam 
ideologicamente, porque revelam uma concepção de mundo e os interesses socioeconômicos 
da classe no poder, “[...] reflete e confirma uma nítida divisão entre as classes sociais 
(burguesia e proletariado), para as quais existem orientações escolares diferenciadas,bem 
como veicula uma cultura abstrata e idealista, que se baseia na divisão do trabalho (CAMBI, 
1999, p. 484). Daí Marx (1978, p. d) questionar: 
 
Mas como posso ser virtuoso, se não sou? Como posso ter boa consciência, se não 
sei nada? Tudo isto está fundado na essência da alienação: cada uma aplica-me uma 
medida diferente e oposta, a moral aplica-me uma e a economia política outra, 
porque cada uma destas é uma determinada alienação do homem e [...] fixa um 
círculo particular da atividade essencial alienada; cada um delas se relaciona de 
forma alienada com a outra alienação [...]. 
 
O homem, então, será livre quando superar as circunstâncias impostas pela sociedade 
capitalista. Neste sentido, “a liberdade não é um estado; é uma atividade histórica que cria 
formas correspondentes de convivência humana, isto é, de espaço social” (KOSIK, 2002, p. 
241). 
Considerações Finais 
As orientações pedagógicas de Marx e Engels para a produção omni ou onilateral do 
homem, se constituem, basicamente, pelo trabalho produtivo e pela relação entre educação e 
sociedade efetivada nas escolas que preparam profissional e cientificamente o homem 
completo. 
Acreditamos que as orientações de Marx e Engels são fundamentais à medida que 
acreditamos ser possível efetivarmos propostas e projetos que visem, não somente a formação 
do homem como consumidor, alienado e autômato, unilateral, portanto, mas como sujeito 
histórico que produz, pelo trabalho, suas condições objetivas de vida individual e em 
sociedade, portanto, omnilateral. 
REFERÊNCIAS 
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. Tradução de Álvaro Lorencini. São Paulo: 
Fundação Editora da UNESP, 1999. (Encyclopaidéia). 
 8885 
KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 7 ed. Tradução de Célia Neves e Alderico Toribio. São 
Paulo: Paz e Terra, 2002. 
MANACORDA, Mario Alighiero. Marx e a pedagogia moderna. Tradução Newton Ramos-
de-Oliveria. Campinas, São Paulo: Alínea, 2007. 
MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. Terceiro manuscrito. Tradução de José 
Carlos Bruni. In: Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. Traduções 
de José Carlos Bruni. 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978a. 
MARX, Karl. Miséria da filosofia: resposta à Filosofia da miséria, do Sr. Proudhon. 
Tradução de José Paulo Netto. São Paulo: Expressão Popular, 2009. 
MARX, Karl. O Capital: crítica da Economia Política. Livro Primeiro o processo de 
produção do Capital. 26 ed. Livro 1. v. I. Tradução de Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 2008. 
MARX, Karl. Teses sobre Feuerbach. Tradução de José Carlos Bruni. In: Manuscritos 
econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. Traduções de José Carlos Bruni. 2 ed. São 
Paulo: Abril Cultural, 1978b. 
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: crítica da filosofia alemã mais recente 
na pessoa dos seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão na 
dos seus diferentes profetas. Tradução de Conceição Jardim e Eduardo Lúcio Nogueira. 3 ed. 
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