Buscar

AULA online 3

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AULA 3 - O Pensamento Político e Econômico sob a Ótica do Capital: Keynesianismo
Nessa aula, estudaremos o Keynesianismo, uma nova etapa do capitalismo.
O capitalismo sofreu e ainda sofre um processo incessante de transformação contínuo, como meio de manutenção constante da acumulação de capital. A história do capitalismo vem mostrando a sua capacidade de superação das crises e as suas reestruturações, modificando as formas de acumulação e de dominação. O capital traz em si a necessidade de se transformar para se manter hegemônico.
Segundo Souza (2002 p.74), a crise do capital é primordial para a manutenção da sua hegemonia. Ele nos indica que a crise é “ao mesmo tempo, elemento de destruição e de construção do próprio sistema (...), pois são nesses momentos que se produzem as rupturas necessárias para a sua continuidade.” Corroborando as análises de Souza, Alves (1999), assim se manifesta:
A autodestruição inovadora do capital decorre do “impulso absoluto de enriquecimento” [...] que revoluciona não apenas os meios de produção, mas os meios de reprodução sociais. Ocasionam crises recorrentes, provenientes da contradição intrínseca à própria atividade do capital, que põem a cada momento problemas de desenvolvimento para o capital (e principalmente para seus “suportes”: capitalistas e trabalhadores assalariados). 
(ALVES, 1999, p. 33).
Assim, a reordenação do capitalismo, tão necessária à manutenção e reprodução do capital, transforma as relações sociais sejam de produção, de sociabilidade, de poder e até mesmo a educacional.
É importante observarmos que as crises são inerentes ao capitalismo.
Ainda no início do século XIX, as crises eram constantes, passageiras e pontuais, tanto assim que diversos intelectuais se puseram a pensar sobre o ciclo das crises econômicas.
Para Thomas Robert Malthus, essa periodicidade ocorre devido à preocupação dos homens em poupar dinheiro. Para ele, a poupança seria responsável para a penúria geral e pelos momentos de crise, já que não permite a circulação do dinheiro e o aquecimento da economia.
Ironicamente, para William Stanley Jevons, as crises tem caráter extraeconômicos, são consequências das manchas solares.
Tanto Malthus quanto Jevons foram duramente criticados pelas suas teorias.
Entretanto, a crise de 1929, ao contrário das anteriores, é profunda e abrangente, atingindo grande parte do mundo capitalista, causando uma ociosidade produtiva e desemprego generalizado.
Essa crise se pronuncia após um período de grande prosperidade, mais de 45 milhões de pessoas empregadas nos Estados Unidos, recebendo US$ 77 bilhões em salários, rendas e lucros. Anuncia-se o final da pobreza e acredita-se que os problemas econômicos do mundo capitalista estão a pouco de serem solucionados. As bolsas de valores eram oásis de prosperidade e de rendimentos exorbitantes.
Um homem que aplicasse US$ 780,00 em ações em 1921 conseguiria multiplicar seu dinheiro. Em 1929, seu dinheiro valeria US$ 21.000,00.  Os americanos hipotecam suas casas, contraem dívidas para investir na bolsa de valores, esperançosos em se tornarem milionários.
Já em 1925, os sinais da crise aparecem:
a superprodução e a diminuição do consumo
O desemprego
a concorrência com os países europeus
A crise não tardou a atingir o mercado de valores. Assim, em outubro de 1929, o mercado entrou em colapso, as ações que anteriormente tinham muito valor decaíram, as perdas foram brutais.
Para termos uma noção, o montante perdido nos Estados Unidos era próximo a US$ 40 bilhões, um em cada quatro americanos perdeu o emprego até 1930. No país, a construção civil caiu 95%, nove milhões de contas de poupança foram perdidas e 85.000 empresas faliram (HEILBRONER, 1992).
É a partir das ideias de John Keynes que vamos analisar o que significa essa nova fase do capitalismo e suas diretrizes.
Para esse economista, o que determina a renda de uma nação é o fluxo de renda de mão para mão, ou seja, é o processo de transferência de mão em mão que revitaliza constantemente a economia.
Para entendermos melhor, tomemos como exemplo os nossos gastos.
Todos nós gastamos nossa rende em bens produtos para uso próprio , e estamos comprando bens regularmente, garantindo, assim, a transferência de nossa renda para as mãos de outros.
Então, para Keynes, é essa transferência que garante uma economia aquecida e próspera. 
Quando esta transferência diminui, essa economia entra em crise.
Para o autor, há ainda outra parte da renda que não vai fazer esse movimento de troca de mãos. É a poupança.
Essa parte da renda vai ser aplicada nos bancos e consequentemente é colocada de volta no mercado através dos empréstimos dos bancos para os empresários, para a expansão da produção.
No momento de crise, a população não consegue poupar dinheiro, muito pelo contrário, ela gasta o que tinha conseguido guardar, e os empresários não desejam investir no aumento de produção porque a economia fica estagnada.
Para Keynes, há somente uma saída para a estagnação da economia e da crise, a intervenção estatal. 
Este investimento se reveste de empréstimos, obras públicas e incentivos fiscais.
A intervenção estatal é necessária para diminuir o desemprego, incentivar a poupança e aumentar o nível de renda da população para que a mesma volte a consumir e, com isso, os empresários voltem a investir, reaquecendo a economia.
Podemos tomar como exemplo dessa intervenção estatal a política denominada “New Deal”, implantada pelo presidente Roosevelt no período de 1933 e 1937, buscando o reaquecimento da economia. Entre as medidas adotadas, destacamos:
o investimento maciço em obras públicas;
concessão de empréstimos aos proprietários agrícolas;
criação de um seguro-desemprego.
Com base nos ideais de Keyne, o  Estado de Bem-Estar Social se consolida no período posterior à Segunda Guerra Mundial no momento em que os Estados podem efetivamente investir no desenvolvimento econômico e no bem-estar dos trabalhadores.
O Welfare State pode ser caracterizado pelo desenvolvimento de políticas sociais estatais que visam à libertação da empresas privadas dessas obrigações, para que possam investir seu capital no desenvolvimento e no aumento da produção.
Essas políticas sociais estatais têm como meta a garantia do pleno emprego, melhoria de salários, direito à habitação, etc., além de ser um mecanismo de controle sobre as classes trabalhadoras.
Para os defensores do Welfare State, essa fase do capitalismo busca a justiça social, a equidade e a igualdade, tendo como consequência disso o aumento da acumulação do capital.
É importante observar que para esse grupo de intelectuais o Welfare State é a humanização do capitalismo
Entretanto, outros intelectuais, como Claus Offe, reconhecem que esse período se define pela tentativa de dissipar a luta de classe, porém devemos lembrar que a luta de classe é uma das bases fundantes do capitalismo e, por isso, não tem como ser dissipada, e pela necessidade de conformação da classe trabalhadora à ideologia do capital. Podemos afirmar que a partir desse Estado social é possível criar condições subjetivas e objetivas para a interiorização dessa ideologia pelos trabalhadores, como se fosse um projeto de sociedade próprio.
Sobre isso, vejamos o que Edmundo Fernandes Dias, professor da Unicamp, no artigo “Reestruturação produtiva: forma atual da luta de classes”, tem a nos dizer.
“Passada a guerra e a época nazifascista, a maior parte da Europa viveu uma era de social-democratização’. Para impedir a expansão russa, foi necessário antecipar-se a ela. Face àquela alternativa, fortíssima no imaginário dos trabalhadores, foi necessário ir além e constituir os direitos sociais, os mecanismos compensatórios do Welfare State combinados com o keynesianismo. Esse conjunto de medidas de contratendência permitiu compatibilizar a dinâmica da acumulação e da valorização capitalista.
E, em um mesmo movimento, garantiu direitos políticos e sociais mínimoso que possibilitou, com bastante êxito, a integração dos trabalhadores à ordem capitalista via redução destes à perspectiva econômico-corporativa.
Sindicatos e partidos de esquerda (nem todos) se associaram ao capitalismo na busca de uma estabilidade que garantisse a parceria antagônica, criando assim um pacto despolitizante que acabou por fortalecer as lutas corporativas.
Emergiu o chamado compromisso fordista: o pacto social em escala internacional. Essa foi à estratégia assumida pelos capitalistas e seu Estado, em alguns países, para, através de políticas sociais compensatórias, buscar a fidelidade das massas, legitimando assim a ordem burguesa. Aqui a contradição atinge o limite. Os trabalhadores em troca da garantia de empregos, melhores salários e condições mais adequadas de vida acabaram por aceitar os lucros do capital.
Obviamente, em termos imediatos, os trabalhadores, por sua luta, obtiveram fortes melhorias, mas ao preço da incorporação dos operários, novamente e de forma superior, objetiva e subjetivamente, à racionalidade capitalista. Tendo abandonado qualquer pretensão revolucionária, a maioria dos trabalhadores viviam a plenitude de um sindicalismo de resultados, criatura típica da ordem do capital. O Estado de Bem-Estar expressou o período conhecido como ‘os anos gloriosos’ do capitalismo.
A forma assumida pelo capitalismo nesse período reorganizou totalmente a sociedade, e, ao criar a nova distribuição do trabalho, criou uma vida social amplamente diferente (BRAVERMAN, 1977).
Uma das consequências dessa reordenação foi o esvaziamento das lutas trabalhistas através dos sindicatos, visto como um espaço coletivo de reivindicações.
A exacerbação do indivíduo e as supostas conquistas dos trabalhadores, como a garantia de emprego e melhores salários, modificou esse espaço. Permitiu que práticas desumanizadoras recorrentes no chão da fábrica fossem aceitas sem muita resistência como, por exemplo, a intensa divisão do trabalho. A divisão do trabalho foi levada ao máximo pelo seu maior teórico, Frederick Taylor, e tinha como ideia fundamental “uma especialização extrema em todas as funções e atividades” (PINTO, 2007, p. 25).
Este sistema de organização somente pode ser colocado em prática devido às inovações tecnológicas do período, fazendo com que as máquinas assumissem um importante papel na produção. Alves (1999, p. 53) salienta que, “o conhecimento e a atividade consciente não estão mais no sujeito que trabalha, mas na atividade mecânica do instrumento como ferramenta utilizado a serviço da valorização do capital”.
As teorias de Taylor encontraram materialidade nas linhas de produção em séries desenvolvidas por Ford. Essa linha de produção é a colocação da matéria-prima numa esteira automática que percorre todas as fases de produção até o seu estágio final. Ao longo dessa linha, as diversas atividades de transformação da matéria-prima são distribuídas entre vários trabalhadores fixos.
Para Ford, o trabalho na linha de produção deve ser pura repetição de movimento,
“Pois de outro modo não se pode conseguir sem fadiga a rapidez da manufatura que faz descer os preços e possibilita os altos salários” (FORD, 1995, p. 148).
Ford cumpre outro importante papel nessa economia: incutir nos seus contemporâneos à cultura de consumo de massa de produtos padronizados.
A partir desse sistema, foi urgente a formação de um novo tipo de trabalhador e, para Taylor, o trabalhador ideal deveria ter alguns requisitos:
“Um dos primeiros requisitos para que um homem seja adequado para lidar com os lingotes de ferro como ocupação regular é que ele seja tão estúpido e calmo que mais se assemelhe a um bovino, em sua constituição mental, do que a qualquer outro tipo. O homem mentalmente alerta e inteligente é, por isso mesmo, inteiramente inadequado para o que seria, em sua opinião, a opressiva monotonia de um trabalho dessa categoria.
Por conseguinte, o trabalhador mais adequado para lidar com os lingotes de ferro é incapaz de compreender a ciência real da realização desse tipo de trabalho. É tão estúpido que a palavra “porcentagem” não tem significado para ele, e, portanto, deve ser treinado por um homem mais inteligente que ele no hábito de trabalhar de acordo com as leis da ciência para poder ser bem-sucedido”. 
(TAYLOR, 1947 apud MÉSZÁROS, 2004, p. 119).
Ou seja, o Welfare State associado com o binômio Taylorismo/Fordismo aumenta a seguridade social, cria políticas sociais para garantir o consenso e, ao mesmo tempo, desqualifica o trabalhador. O trabalhador moderno, como consequência das inovações tecnológicas e das diretrizes econômicas, exige uma maior qualificação, porém o seu trabalho é tão dividido que as operações mínimas exigem um trabalhador com menos instrução, quase que dispensando o uso do seu cérebro.
Visto isso, vamos agora analisar o desenvolvimento do Welfare State no Brasil.
O surgimento do Welfare State no Brasil é diferente das observadas nos países industrializados, isso ocorre devido às especificidades da modernização brasileira, os setores modernos industriais convivem com setores tradicionais e com uma economia agroexportadora. O Welfare State surge no Brasil com o objetivo de regular aspectos relativos à organização dos trabalhadores urbanos (MEDEIROS, 2001).
A constituição de um Estado de Bem-Estar Social no Brasil é datado de 1930. Esse período se caracteriza pela consolidação de uma economia industrial pautada no desenvolvimentismo em que predominava o ideal de uma sociedade harmônica em que a luta de classe é prejudicial ao bem comum.
No Brasil, o Welfare State surge como um mecanismo de organização da força de trabalho intermediada pelo Estado.
Para Medeiros (2001, p. 10), “como a maior parte dos bens de capital e tecnologia era importada e a mão de obra encontrava-se no setor agroexportador da economia, criou-se um descompasso entre meios de produção e força de trabalho. O Welfare State brasileiro atuou sobre esse descompasso, o que facilitou a migração dos trabalhadores dos setores tradicionais para os setores modernos e a constituição de uma força de trabalho industrial urbana no país”.
As políticas sociais nesses anos iniciais da industrialização se constroem em um período de autoritarismo que tem como anseio aumentar o papel do Estado na regulação da economia e da política nacional visando ao desenvolvimento.
Quanto às relações de trabalho, três metas devem ser alcançadas, são elas:
conter os movimentos dos trabalhadores
despolitização das relações de trabalhos
tornar os trabalhadores ponto de apoio do governo. 
Medeiros constata que tais metas foram alcançadas por meio de uma combinação de repressão e concessão.
Alterar conteúdo para: Para tanto, são criadas as Leis Trabalhistas, como:
No período entre 1946 e 1964, a constituição do Welfare State não apresenta significativas mudanças. A democratização do país, nessa época, introduz mudanças na legislação trabalhista, como:
o direito à greve
organização sindical. 
No entanto, essas conquistas limitam-se a um pequeno grupo da sociedade.
Com a ditadura dos militares em meados da década de 1960 uma nova fase de consolidação do sistema é acompanhada por mudanças significativas na estrutura institucional e financeira das políticas sociais. Nesse período, o desenvolvimento é associado à concentração da renda, um exemplo dessa ideia pode ser observada na fala do Delfim Neto, ministro em alguns governos militares.
Na sua concepção, é preciso primeiro “esperar o bolo crescer para depois repartir”. O problema é que o bolo cresceu e nunca foi dividido, continua concentrado em poucas mãos.
Dessa forma, a repressão aos movimentos dos trabalhadores é um dos caminhos para alcançar o tão almejado desenvolvimento.
O modelo de Welfare State adotado no regime militar é de caráter compensatório que busca diminuir os impactos causados pela aceleração do desenvolvimento capitalista e também de caráter produtivista, já que as políticas sociais são formuladas visando contribuirpara a aceleração do processo de crescimento econômico (MEDEIROS, 2001).
Outra característica desse modelo é a quantidade de recursos que circulavam pela área social subordinados à racionalização e à transferência de determinados setores para a iniciativa privada, como educação, saúde, alimentação, etc.
Concluímos, então, que o Welfare State no Brasil constituiu-se de forma modificada devido à inserção do Brasil tardiamente no rol de países industrializados e também as suas especificidades
.

Outros materiais