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Cultura Brasileira AP1

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Cultura Brasileira - AP1
Aula 1: Revisitando o conceito de cultura
A antropologia e o estudo da cultura
A Antropologia faz parte do campo das ciências, sendo inserida no que é denominado Ciências Humanas ou Sociais e tem por finalidade o estudo e a pesquisa de semelhanças e diferenças culturais entre os vários agrupamentos humanos, assim como a origem e a evolução das culturas.
Cultura e sociedade: definições
Sociedade compreende o conjunto dos indivíduos não como soma populacional indiferenciada, mas agrupados em situações comuns de existência. Os sociólogos conceituam essas situações como instituições e categorias sociais, que são parcialidades de um todo. São exemplos mais evidentes família, vizinhança, vivência na cidade ou no campo (urbanidade e ruralidade), trabalho, educação e outras condições de vida. Os indivíduos se comportam de acordo com sua participação nessas categorias, isto é, cada uma dessas categorias tem uma influência de comportamento coletivo sobre os indivíduos. Ser membro de tal ou qual família implica atitude tal ou qual; ser cidadão dessa ou de outra cidade significa ter tal ou qual visão de mundo.
a sociedade, em suas parcialidades ou em sua totalidade, se rege pela cultura, por um modo de ser coletivo que é partilhado por seus membros. Pertencendo a determinada categoria social, os indivíduos têm participação coletiva dentro dessa categoria, que, por sua vez, se integra ao todo da sociedade. Isto é, cada categoria social abriga comportamentos e modos de ser coletivos que podem ser vistos como cultura. Cultura aqui seria uma dimensão da sociedade. Uma metáfora que ajuda a compreender a questão explica que sociedade seria como um esqueleto, que é sustentado por músculos, nervos e carne, que conformariam a cultura.
Sociedade é um todo de indivíduos agrupados em categorias sociais; tais categorias se constituem por diferenciação, mesmo que não resulte em desigualdade. Já a cultura teria uma função muito importante: dar coesão, integridade, ao que é necessariamente dividido. Numa sociedade igualitária a divisão se dá entre famílias, grupos de idade etc., que formam interesses próprios; a cultura seria aquilo que passa por cima dessas diferenças e faz todos se sentirem um só. Desse ponto de vista, a cultura seria uma vivência que mantém o todo, que produz a unidade daquilo que é desigual. Seria uma categoria de conservação.
A Antropologia Cultural propôs para efeito de análise o agrupamento dos diversos significados do referido conceito para que a partir daí, elaborasse o conceito antropológico de cultura. Abaixo fornecemos um quadro para melhor visualização dessas noções.
Cultura envolve todo o conjunto que caracteriza um determinado agrupamento humano. A cultura compreende o complexo que inclui conhecimentos, artes, leis, crenças, moral, costumes, enfim tudo o que o ser humano adquire como membro de sua comunidade.
Diversidade cultural - Inicialmente, a explicação que alcançou maior aceitação esteve baseada nos argumentos biológicos; posteriormente, em argumentos geográficos até a Antropologia propor uma nova explicação. As duas primeiras explicações – biológicas e geográficas – utilizaram de argumentos que não deixavam margem para a ação humana, sendo essa a grande crítica da Antropologia. Por serem explicações extremamente “fechadas”, ambas ficaram marcadas por serem deterministas.
Determinismo biológico - Valorizar as características de sociedades humanas através da redução a relação com determinadas partes do corpo e que seriam transmitidas de geração a geração pelo caráter hereditário dos genes. Dessa forma, comportamentos, habilidades, etc.
Determinismo geográfico - O determinismo geográfico foi uma explicação que sofreu grande influência da teoria da evolução das espécies de Charles Darwin, que defendia ser a luta entre as espécies ocorria basicamente pelo espaço. Com o determinismo geográfico essa ideia foi estendida à humanidade. Diferenças culturais do local onde nasceu.
Teorias sobre a origem da cultura
Sabemos que alguns fatores favoreceram essa ocorrência, tais como: uma modificação cerebral, isto é, a complexidade e o aumento de volume do mesmo; a utilização das mãos; a conquista da posição ereta e o alcance de uma visão tridimensional.
Claude Lévi-Strauss, antropólogo francês, afirma que a cultura surgiu no momento que o homem convencionou a primeira regra, a primeira norma, sendo essa a proibição do incesto.
CARACTERÍSTICAS DA CULTURA
Todas as culturas possuem aspectos que lhe são fundamentais:
1- A cultura é aprendida. O aprendizado corresponde ao traço diferencial que a distingue da natureza. Ninguém nasce investido de cultura, mas há um legado ancestral que é repassado através da história de vida de cada um; 
2- As manifestações culturais são variáveis, múltiplas e diversificadas, o que não implica em uma valoração de superioridade de uma cultura sobre outra e sim, de diferenciação técnica. É de grande importância introduzir tal critério, de modo a evitar qualquer juízo de valor;
3- A cultura é ao mesmo tempo estável e mutável, operando em uma dualidade que se assenta no dinamismo que lhe é próprio. As alterações de seus elementos fazem parte do estímulo do grupo. A cultura resiste a uma mutação dissolvente porque o polo de sustentação se defende das rupturas, embora não impeça o movimento de mudança;
4- Os processos culturais se desdobram em pensamentos, ideias, instituições e objetos materiais. Embora a expressão “cultura material” se refira ao real/tangível, nela habitam também o mundo simbólico e fantasioso. Há, por efeito, uma cultura material e outra não/material; 
5- A cultura revela-se como o instrumento por meio do qual o indivíduo se ajusta ao cenário local e adquire meios de expressão;
6- A cultura contém o princípio da universalidade — onde há agrupamento humano a sua presença se instala. Na sua universalidade, prevalece uma “adequação” ao tempo e ao espaço;
7- A cultura deriva de componentes biológicos, ambientais, psicológicos e históricos; 
8- A cultura é estruturada em blocos, isto é, pontos em que mantêm uma relação mais estreita, sem, contudo, deixar de estar interconectadas a outros blocos.
Elementos que compõem a cultura
A cultura compreende os bens materiais, de um modo geral, como utensílios, ferramentas, moradias, etc. E também os bens não materiais, como as representações simbólicas, os conhecimentos, as crenças e os sistemas de valores, isto é, o conjunto de normas que orienta a vida em sociedade.
A produção cultural da espécie humana é um documento vivo da história da humanidade. Desde a pré-história até os nossos dias a espécie humana faz cultura, manifestando através dela, o seu conhecimento e a sua visão de mundo.
 A cultura não é sempre a mesma. Apresenta formas e características diferentes no espaço e no tempo.
Toda cultura é suficiente para fins a que se propõe, embora eventualmente com questões não resolvidas.
A cultura de uma sociedade é transmitida das gerações adultas à gerações mais jovens pela educação. Educar é transmitir aos indivíduos os valores, os conhecimentos, as técnicas, o modo de viver, enfim, a cultura do grupo. A cultura é a vida total de um povo, a herança social que o individuo adquire de seu grupo. 
A cultura é um todo, um sistema, um conjunto de elementos ligados estreitamente uns aos outros. Os principais elementos de uma cultura são: os traços culturais, o complexo cultural, a área cultural, o padrão cultural e a subcultura.
Os traços culturais são elementos mais simples da cultura. Eles são a unidade de uma cultura e só tem significado quando considerados dentro de uma cultura especifica.
O complexo cultural é a combinação dos traços culturais em torno de uma atividade básica.
Área cultural é a região em que predominam determinados complexos culturais. É a área geográfica.
Padrão cultural é a norma de comportamento estabelecida pela sociedade.
A subcultura ocorre quando aparecem diferenças significativas no interior de uma cultura.
A aquisição e aperpetuação da cultura são um processo social, não biológico, resultante da aprendizagem. Cada sociedade transmite às novas gerações o patrimônio cultural que recebeu de seus antepassados. Por isso a cultura é também chamada de herança social.
A invenção é a combinação de traços culturais já existentes, dando como resultado um traço cultural novo. Muitas vezes, como no caso do trem e do automóvel, as invenções acarretam mudanças amplas e profundas em toda a cultura.
Alguns traços culturais, como uma nova moda ou o uso de um equipamento recentemente inventado, difundem-se dentro da sociedade em que tiveram origem e também em culturas diferentes, geralmente pelos meios de comunicação (jornais, revistas, televisão, cinema, rádio, internet etc.). Quando isso ocorre, dizemos que está havendo um processo de difusão cultural. Pode-se afirmar que o enriquecimento cultural se verifica mais frequentemente por difusão do que por invenção.
A cultura é o somatório de todas as realizações das gerações passadas que se sucederam no tempo, mais as realizações da geração presente.
Cultura e turismo
As relações entre a atividade turística e acultura pode ajudar a minimizar impactos negativos sobre uma cultura receptora, pois os processos pelos quais o turismo ingressa e se torna parte da vida da comunidade pode e deve ser controlado no momento do planejamento turístico de todas as regiões a serem turistificadas.
Os antropólogos concordam que a cultura muda em resposta ao ambiente, aos contatos com outras culturas e à tecnologia. Isso ocorre porque as culturas são dinâmicas. 
Para um processo de turistificação (Processo de implantação, implementação e/ou suplementação da atividade turística em espaços turísticos ou com potencialidade o turismo) nos moldes da sustentabilidade, o que deve ser considerado é a minimização dos impactos negativos da atividade e não uma “estagnação” da cultura receptora, pois não existe uma cultura “pura” ou “intocada”. O turismo é um elemento entre tantos outros capazes de promover mudanças culturais, devido a interação estreita entre a cultura dos membros de um destino receptor e os próprios turistas.
A mercantilização da cultura pode ser entendida como o fenômeno contemporâneo da transformação da cultura em mercadoria, ou seja, em objeto de venda. Nessa perspectiva, a cultura tende a ser observada e interpretada como uma “coisa” , algo descartável e para pronto consumo, fatores que afetam as vidas dos residentes de uma comunidade receptora de turistas.
Quando uma cultura é mercantilizada para fins turísticos, a comunidade receptora é levada a um estado de dependência cultural e econômica do sistema de turístico na qual foi inserida, tendo em vista o fato de que os significados de traços e complexos culturais, como uma festa, por exemplo, passam a existir somente em função da cultura daqueles que os visitam.
Aula 2: Há algo de comum em todas as culturas?
A cultura é um estilo de vida próprio, um modo particular, que todas as sociedades possuem e que caracteriza cada uma delas. Assim os indivíduos que compartilham a mesma cultura apresentam o que se chama de identidade cultural. As identidades culturais chamam a atenção para as particularidades de grupos humanos que são rotulados como pertencentes a mesma cultura.
Diversidade cultural
Engloba as diferenças culturais que existem entre as pessoas, como a linguagem, danças, vestimenta e tradições, bem como a forma como as sociedades organizam-se conforme a sua concepção de moral e de religião, a forma como eles interagem com o ambiente etc.
O termo diversidade diz respeito à variedade e convivência de ideias, características ou elementos diferentes entre si, em determinado assunto, situação ou ambiente. Cultura é um termo com várias acepções, em diferentes níveis de profundidade e diferente especificidade. São práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço/tempo. Referem-se a crenças, comportamentos, valores, etc. É a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período. A diversidade cultural é tão necessária para o gênero humano, quanto a diversidade biológica o é para a natureza.
De acordo com a escola funcionalista, cada sociedade deve ser estudada como uma totalidade integrada e constituída por partes interdependentes e complementares, cuja função é satisfazer as necessidades essenciais de seus integrantes.
Malinowski - definiu função como a resposta de uma cultura a necessidades básicas do homem, como a alimentação, defesa e habitação. A função, nesse aspecto mais simples e básico do comportamento humano, pode ser definida como a satisfação de um impulso orgânico pelo ato adequado.
Para a teoria do funcionalismo, elaborada por Malinowski, o indivíduo sente necessidades e cada cultura vai satisfazê-las criando instituições (econômicas, jurídicas, políticas, educativas) para dar resposta coletiva organizada, resultando em soluções para atender as necessidades.
Os universais da cultura
Ritos de passagem são celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa no seio de sua comunidade. Os ritos de passagem podem ter caráter religioso, por exemplo. Cada religião tem seus ritos, sendo parecidos com de outras religiões, ou não.
Os ritos de passagem são realizados de diversas formas, dependendo da situação celebrada; desde rituais místicos ou religiosos até assinatura de papéis (ou ainda os dois juntos).
Em todas as sociedades primitivas, determinados momentos na vida de seus membros eram marcados por cerimônias especiais, conhecidas como ritos de iniciação ou de passagem.
Nesse rito, o recém-nascido era apresentado aos seus antecedentes diretos, e era reconhecido como sendo parte da linhagem ancestral.
O casamento era uma delas, e os ritos fúnebres eram considerados como a última transição, aquela que propiciava a entrada no reino dos mortos e garantia o retorno futuro ao mundo dos vivos.
Nas sociedades primitivas, tais promessas solenes eram obrigações indiscutíveis e sagradas. Rompê-las era colocar em risco a própria sobrevivência da tribo como unidade coerente, o que não era, ao menos, cogitável.
Fala: língua, sistemas de escrita, signos, comunicação.
A comunicação é a forma mais importante de interação social, ela é fundamental para o ser humano, enquanto ser cultural e social.
Interação socialÉ um tipo de ação social e por se enquadrar nesse conceito, a interação social é mutuamente orientada, podendo envolver dois ou mais indivíduos que estão em contato. A interação social envolve significados e expectativas em relação a ação de outras pessoas.
Os meios não vocais manifestam-se através de expressões ou traços fisionômicos e expressões corporais. O entendimento da comunicação por meios não vocais são condicionados por significados atribuídos a elas, aprendidos ao longo do processo de educação e interpretação através de experiências j;a vivenciadas nesses aspecto.
Já os símbolos, isto é, os códigos de transmissão de ideias, por sua forma e natureza, atuam nos variados contextos como substitutos, provocadores ou mesmo reprodutores daquilo que é abstrato ou que não se faz presente no momento.
Linguagem atribuição de significados e fonemas, a um conjunto de sons articulados.
Sons inarticulados é também uma forma de comunicação. Esses sons são entendidos, mesmo não sendo articulados em palavras, pois o processo de interação social favorece o reconhecimento dos mesmos dados às experiências anteriores.
Traços naturais: utensílios de cozinha, abrigo/moradia, transporte, roupas, ferramentas, armas
A cultura material consiste em utensílios de todo tipo, ferramentas, instrumentos, maquinas, tipos de habitação. Enfim tudo aquilo que é concreto insere-se no campo material da cultura e influi na cultura não material, produzindo os “estilos de vida”.
Alimentação: gastronomia e hábitos à mesa
O ato de alimentar-se obedece a uma necessidade ou função biológica, que é a de fornecer ao corpo os elementos necessários a sua manutenção e sobrevivência. Alimentação,além de atender a função anteriormente descrita, é também um ato cultural que se ajusta a variadas regras, circunscritas a cultura em que está manifestada.
Arte: escultura, pinturas, desenho, música etc.
A arte é uma criação humana com valores estéticos (beleza, equilíbrio, harmonia, revolta) que sintetizam as suas emoções, sua história, seus sentimentos e a sua cultura. Pode ser definida também, como um conjunto de procedimentos utilizados para realizar obras. Apresenta-se sob variadas formas como: a plástica, a música, a escultura, o cinema, o teatro, a dança, a arquitetura etc. Pode ser vista ou percebida pelo homem de três maneiras: visualizadas, ouvidas ou mistas (audiovisuais).
Pré- História: figuras entalhadas em pedra, pintura rupestre e modelagem em barro.
Na Idade Antiga, egípcios, hebreus, fenícios, persas e gregos também manifestavam atividades artísticas. Roma Antiga apresentava grande produção artística, cujo destaque era a literatura, arquitetura e escultura. A Idade Média legou registros que revelam uma produção artística com preocupação religiosa. Nessa época, as manifestações mais comuns eram a literatura, a arquitetura, a pintura e a música.
Mitologia e conhecimento: o conhecimento pode ser empírico, baseado apenas na experiência ou científico
O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em que vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e dos processos naturais e as origens deste povo, bem como seus valores básicos. O mito caracteriza-se sobretudo pelo modo como essas explicações são dadas, ou seja, pelo tipo de discurso que constitui.
As lendas e narrativas míticas não são produto de um autor ou autores, mas parte da tradição cultural e folclórica de um povo. Sua origem cronológica é indeterminada, e sua forma de transmissão é basicamente oral. O mito é, portanto, essencialmente fruto de uma tradição cultural e não da elaboração de um determinado indivíduo.
O pensamento mítico é um tipo de conhecimento, tal como o é a ciência, a religião, a filosofia. Cada tipo de conhecimento possui sua especificidade e atendem a determinada demanda humana.
Religiosidade e fé: práticas religiosas, formas litúrgicas, crenças visão de transcendência etc.
Todas as sociedades humanas possuem em seu sistema cultural alguma expressão relacionada ao extra/físico. A religião seria o meio de relacionamento entre o homem e o nível sobrenatural, povoado por seres (duendes, gnomos, fadas, etc.).
Família: formas de casamento, sistemas de parentesco, herança.
A família surgiu com a necessidade biológica de conservação e reprodução da espécie humana, transformando-se posteriormente em fenômeno social/cultural. As regras de relações sexuais e localização dos descendentes em determinada posição no sistema de parentesco ocorrem em todos os grupamentos humanos, daí o fato de ser a família, enquanto instituição social, um dos universais da cultura.
Os grupos culturais apresentam diferenças na forma como organizam ou estruturam seus sistemas de parentesco, sendo a família a estrutura mais elementar desse sistema.
Sistemas sociais: normas, leis, controle social, instituições sociais burocracia.
Os sistemas sociais expressam e representam os códigos e modelos que exercem determinado constrangimento sobre as ações do indivíduo ou de grupos. Variam de cultura para cultura e dentro da mesma cultura, resultando um sistema de sanções positivas ou negativas. Os sistemas sociais presentes em uma cultura regem as relações e o comportamento dos membros de um grupamento social e faz com que todos regulem a si próprios.
Lazer: esportes, jogos, divertimento.
O Lazer é um dos universais da cultura porque atende a necessidade de diversão, de quebra no ritmo do cotidiano social. O ser humano necessita repor as energias físicas despendidas nos variados processos produtivos e o lazer atende a essa necessidade, mantendo-se de variadas formas em todos os grupos sociais.
Propriedade: real, privada, coletiva, padrões de valor e troca, comércio.
A propriedade delimita o direito a coisas abundantes ou escassas, valorizadas ou não pelo grupo social. É um mecanismo que permite a uma pessoa ou a um grupo, considerado o proprietário da coisa, a particularizar como de sua posse determinado bem.
Da noção de posse derivou o direito de propriedade, que se apresenta em três tipos: individual (particular), grupal (de um grupo) ou coletiva (pertencente a toda sociedade).
Se há a propriedade, há por conseguinte a troca ou permuta, pois os bens são escassos e estão localizados nas mãos de alguém. As trocas existem em todas as culturas, pois em todas as culturas existe a propriedade privada. Nas sociedades complexas, geralmente as trocas envolvem o dinheiro e se chama comércio; contudo, vale ressaltar que nessas sociedades também ocorrem os outros tipos de trocas mencionadas anteriormente.
Governo: formas políticas, tipos de regime, poder, símbolos de prestígio.
Existem governos sem Estado em muitos pontos do planeta. Estado, em linhas gerais, é a instituição social que detêm a exclusividade do uso da violência, pois a Lei confere esse direito; assim, o Estado é antes de tudo um agente de controle social que difere das demais instituições, como a família e a Igreja (que também exercem controle), por regular as relações entre todos os membros da sociedade. Já o Governo, é o grupo de pessoas colocadas a frente dos órgãos fundamentais do Estado e que em seu nome exercem o poder público..
Aula 3: Quem somos nós: culturas formadoras da sociedade brasileira
Culturas formadoras
Entender o conceito de cultura tal como empregado pelas ciências sociais, e de modo especial pela Antropologia, como tudo aquilo que é criação do homem. Essa noção leva em consideração tudo aquilo que é herdado da própria sociedade ou adquirido de outras sociedades, formando assim um complexo de hábitos, ideias e criações do homem. A formação da base cultural brasileira está atrelada a reunião das culturas indígenas, negro-africanas e portuguesas; assim como as influências não apenas ibéricas, mas igualmente francesas, alemãs, italianas, orientais, saxônicas, etc.
População indígena americana/brasileira
Em fins do século XV, havia no continente americano mais de três mil nações indígenas, sendo muitas delas nações aparentadas. Falavam línguas diversas e possuíam culturas distintas. Os apaches.
De acordo com estudos realizados, os habitantes do continente americano descendem de populações advindas da Ásia, sendo que os vestígios mais antigos de sua presença na América datam de 11 a 12,5 mil anos. Todavia, não há consenso acerca do período em que teria havido a primeira leva migratória. Os povos indígenas que hoje vivem na América do Sul são originários de povos caçadores que aqui se instalaram, vindo da América do Norte através do istmo do Panamá, e que ocuparam toda a extensão do continente há milhares de anos. Através dos tempos, estas populações desenvolveram diferentes modos de uso e manejo dos recursos naturais e formas de organização social distintas entre si. No Brasil, a presença humana está documentada no período situado entre 11 e 12 mil anos atrás; contudo, não é possível afirmar com precisão. 
As pesquisas também revelam que havia na América pré-colombiana um grande número de povos com modos de vida bastante diversos e constituindo uma enorme riqueza e variação em termos de vida social. Culturalmente, os nativos do Brasil viviam em regime de comunidade primitiva. A terra pertencia a todos e cada casal faz sua plantação, de onde extraem alimentos para si e seus filhos. Quando a terra utilizada é abandonada, outros podiam utilizá-la. Arcos, flechas, machados de pedra e outros instrumentos de trabalho são de propriedade individual. A divisão das tarefas de sobrevivência é natural, isto é, por sexo e idade.
Uma sociedade organizada dessa maneira não tem classes sociais. O trabalho para a sobrevivência também cabe aos chefes de aldeias, unidades políticas independentes quecompõem as tribos. A produção de excedentes praticamente inexiste, daí o fato de haverem poucas trocas e, essas, acontecem em casos de um grupo produzir o que o outro não conseguiu produzir. Nesses casos, as trocas ocorrem de forma ritual e servem basicamente para estreitar os laços de amizade entre os grupos.
A vida social dos nativos brasileiros antes do contato cultural com os europeus era extremamente oposta à do nosso país de hoje. Por outro lado, como afirmado anteriormente, pouco se sabe desse período de nossa história e por esse motivo, somos altamente influenciados pela percepção e noções criadas pelos colonizadores para explicar a cultura indígena de então. Até hoje, está presente no senso comum brasileiro as ideias preconceituosas que relacionam os indígenas ao atraso e a preguiça e outras ideias que mitificam o indígena, colocando-o como um ser humano “puro” e com uma vida social que mais se assemelha ao paraíso na terra.
Os povos pré-colombianos resistiram e lutaram bravamente; contudo, foram drasticamente dizimados em um curto espaço de tempo (cerca de 50 anos). A violência militar, econômica e cultural reduziu à metade os povos pré-colombianos. A expressão “violência militar” pode ser aplicada na análise da conquista européia dos povos pré-colombianos devido à superioridade dos armamentos utilizados pelos primeiros, tais como: a pólvora, o cavalo e o aço. A utilização de armas.
O conquistador europeu impôs aos povos pré-colombianos costumes que modificaram bastante o modo de vida de suas comunidades. Populações inteiras foram aprisionadas e removidas de suas regiões de origem para trabalhar como escravos para o conquistador.
Considerando-se superior aos povos conquistados, o europeu oprimiu de todas as maneiras os nativos americanos. Impôs-lhes os elementos básicos da cultura europeia: idioma, religião, normas jurídicas, ideias e práticas sobre política e economia, padrões científicos e artísticos. o conquistador foi impondo seus valores e conhecimentos aos povos americanos; as tradições indígenas, as festas, as crenças e costumes foram sendo gradualmente destruídos.
A cultura portuguesa 
Por muito tempo, o reino português permaneceu envolvido na luta pela expulsão dos mouros da península Ibérica. Entre 1279 e 1325 Portugal passou por um período de reorganização interna, pois sob o reinado de D. Dinis interrompeu-se a reconquista cristã no plano militar. Nessa ocasião, as fronteiras do país já estavam definidas.
A dinastia de Avis, iniciada em 1383 com D. João foi resultado direto da luta político-militar denominada “Revolução de Avis”, na qual disputou o trono português o rei de Castela e D. João. A nobreza agrária submeteu-se, então, ao rei D. João e este, apoiado pela burguesia centralizou o poder e favoreceu a expansão marítimo-comercial portuguesa. Assim, Portugal tornou-se o primeiro país europeu a constituir um Estado absolutista e mercantilista.
As navegações portuguesas: pioneirismo marítimo e as conquistas de Portugal 
Portugal foi o primeiro país europeu a lançar-se às grandes navegações no século XV. Muitos foram os fatores responsáveis por esse pioneirismo e podemos citar os seguintes: centralização administrativa, mercantilismo, ausência de guerras e posição geográfica. A expansão marítima portuguesa teve como marco inicial a conquista da cidade de Ceuta. Esse Centro ficou conhecido como Escola de Sagres e tornou-se o mais avançado centro de navegação da época. Os objetivos básicos de D. Henrique eram atingir o Oriente e apossar-se do comércio.
A descoberta do novo caminho para as Índias foi recebida com grande alegria na corte portuguesa, até porque, Vasco da Gama retornou dessa expedição com um carregamento que superou em sessenta vezes o custo total da viagem. O sucesso foi considerado excepcional e o rei de Portugal resolveu enviar às Índias uma esquadra extremamente bem aparelhada e com grande tripulação para estabelecer sólida relação comercial e política com o Oriente.
A carta redigida pelo escrivão oficial da expedição, Pero Vaz de Caminha, ao rei de Portugal relatando a “descoberta”, revela as primeiras impressões do grupo acerca das novas terras e dos contatos iniciais ocorridos entre portugueses e indígenas, que cautelosos demonstraram sua cordialidade.
Do século XV ao XVIII, os europeus buscaram a expansão comercial pelo mundo. África, Ásia e América foram objetos da conquista e exploração europeias e, durante muito tempo a História exaltou os aspectos positivos desse processo, isto é, o progresso para o mundo, as glórias e os benefícios dos feitos. Tudo era revertido em favor de uma mitificação dos povos europeus e parte desse processo de valorização pode ser constatada através da utilização do termo “descobrimento” e não “conquista”.
A conquista colonial de diversos povos do mundo, resultante da expansão marítimo-comercial, foi considerada um direito inquestionável da Europa, pois dentro de sua visão etnocêntrica, consideravam sua “civilização” superior às demais civilizações e com isso, julgavam-se no direito de submeter os povos do resto do mundo, impondo-lhes sua cultura.
A cultura africana
A História do Brasil deixa claro que os primeiros engenhos e fazendas de cana de açúcar tentaram, sem êxito, adaptar o aborígene escravizando aos seus trabalhos, mas o sistema econômico da época favorecia o tráfico e comercialização de mão de obra escrava negra na costa ocidental da África. A sociedade africana de então é marcada por um grau de diversidade cultural que existia e ainda existe por lá. A noção de uma África formada por países, como ocorre em outros continentes, não é realidade no continente africano. Dessa forma, a região deve ser entendida como um conjunto de várias etnias, que se dividem em organizações tribais, de tamanhos, idiomas e culturas variados.
A diversidade cultural existente no continente africano foi transportada para o Brasil, por ocasião do tráfico de escravos. Destacavam-se: os Bantos, os Sudaneses.
É importante ressaltar que a escravidão já era um traço cultural na África e sua ocorrência estava intimamente ligada às guerras entre tribos; a mudança cultural ocorrida com a chegada dos europeus foi a transformação de uma prática comum entre os africanos em um negócio capitalista extremamente rentável.
Em terras brasileiras, o destino dos escravos negros era lamentável. Logo na chegada, eram vendidos no próprio porto, em leilões e em pouco tempo já estavam trabalhando para seus proprietários.
Os escravos procuravam reagir de várias maneiras à violência da escravidão. A fuga era o meio mais utilizado para a busca da liberdade, sendo também o mais difícil, devido a constante vigilância. Dos muitos quilombos criados, o mais famoso e importante foi o quilombo dos Palmares. 
A CONVIVÊNCIA
Os indivíduos, através das relações sociais, podem aproximar-se ou afastar-se, dando origem a formas de associação ou dissociação. A este aspecto dinâmico a Sociologia convencionou chamar processo social. Os processos sociais iniciam-se contatos sociais que vem a ser a fase inicial da interestimulação e as modificações resultantes dessa fase são denominadas de interação. O conceito de interação social distingue-se da mera interestimulação pelo fato de envolver significados e expectativas em relação às ações de outras pessoas. A interação é a reciprocidade de ações sociais.
A competição consiste em esforços de indivíduos ou grupos para obter melhores condições de vida; quando uma pessoa ou grupo se interpõe no caminho da satisfação ou dos desejos da outra, surgem choques, no sentido de uma das partes eliminarem os obstáculos levantados pela outra. A Sociologia denomina conflito e o conceito refere-se a uma contenda entre indivíduos ou grupos, em que cada um dos contendores almeja uma solução que exclui a desejada pelo adversário.
Socialmente, as competições e os conflitos estão geralmente relacionados à: divisão do trabalho; desenvolvimento de uma ordem econômica; distribuição das instituições no espaço social; etc. Diantede um quadro de competição ou conflito instalado, surgem as soluções advindas da própria sociedade que podem se manifestar em forma acomodação ou assimilação.
A acomodação é um processo social que tem como objetivo diminuir o conflito entre grupos ou indivíduos; é um ajustamento formal e externo que aparece apenas no aspecto externo do comportamento, sendo pequena ou nula a mudança interna, relativa a valores, atitudes e significados. O antagonismo é temporariamente regulado e desaparece como ação manifesta, embora possa permanecer latente. A acomodação pode ser duradoura e aparentemente permanente ou então transitória. Já a assimilação é um processo social em virtude do quais indivíduos e grupos diferentes aceitam e adquirem padrões comportamentais, tradição, sentimentos e atitudes da outra parte.
Alguns contatos entre povos diferentes podem ser fatais para um deles, isto é, podem provocar sua destruição total ou parcial.
E no que se refere aos negros, o significado de ser escravo na África era diferente de ser escravo nas Américas, incluindo o Brasil; aqui, o escravo era ainda mais estrangeiro considerado ainda mais inferior; porque negro, estranho, isolado em um continente distante era o extremo da perda de sua identidade. Na África, mesmo quando escravizado, por etnia diferente da sua, e negociado, de certa maneira, o escravo, pelo menos, estaria, talvez, mais integrado ao sistema cultural próprio da África, o seu continente, o seu ambiente.
Aula 4: Tipos e mitos de pensamento brasileiro
São muitos os que se pergunta qual pode ser a sua fisionomia, a sua explicação ou o seu conceito.
Pergunta-se sobre qual pode ser o “norte”, ou a direção, já que se repetem os impasses, as reorientações, os progressos e os retrocessos.
Entre as muitas interpretações mais ou menos abrangentes, assim como aquelas relativas a problemas que parecem muito particulares, há sempre algo que se pode definir como uma inquietação sobre o que foi o que tem sido e o que poderá ser o país; como se fosse uma nebulosa informe, ao acaso, em busca de articulação e direção.
Alguns estudos e algumas narrativas são bastante representativas dessas inquietações e interrogações. Vale a pena relembrar alguns: Tavares
Bastos, A Província; Silvio Romero, História da Literatura Brasileira; Joaquim Nabuco, O Abolicionismo; Raul Pompéia.
São várias as linhas de pensamento ou mesmo as “famílias” de explicações do Brasil. São linhas ou famílias que se desenvolvem, recriam ou apenas reiteram. Mas já estão presentes e evidentes em muitos estudos e narrativas. Desenham-se como se fora uma ampla, policrônica e polifônica cartografia do imaginário brasileiro.
a) No Brasil, o Estado constitui a sociedade civil, já que esta seria pouco organizada, dispersa, gelatinosa, de tal maneira que o Estado se constitui em demiurgo da sociedade, realizando a sua articulação e direção, promovendo a mudança e tutela, sempre de conformidade com o descortínio das elites.
b) O Brasil seria um país cuja história está amplamente determinada pelos movimentos e exigências dos mercados externos, desde o colonialismo e o imperialismo ao globalismo, definindo-se por diferentes modalidades de sua inserção dos mercados externos.
Essas e outras interpretações, sempre acompanhadas de inquietações e interrogações, permitem reafirmar a hipótese de que o Brasil é uma nação em busca de conceito, uma nebulosa movendo-se no curso da história moderna em busca de articulação, direção.
Vale a pena resaltar uma das interpretações: s. Trata-se da visão do Brasil, de sua história, como uma constelação de tipos, com alguns dos quais se constroem tipologias, sendo que, em alguns casos, desdobram-se em mitos e mitologias. 
A perspectiva “tipológica” focaliza a realidade social ou a história do país em termos principalmente culturais, com nítidos ingredientes psicossociais. E focaliza a sociedade, a política e a cultura, seja em termos de estudos de ciências sociais, seja em termos de narrativas literárias, como setores ou círculos que podem ser tratados separadamente, nos quais haveria dinâmicas próprias, certa autonomia. É como se a história do país se desenvolvesse em termos de signos, símbolos e emblemas, figuras e figurações, valores e ideais, um tanto ou muito alheios às relações, processos e estruturas de dominação e apropriação com os quais se poderiam revelar mais abertamente os nexos e os movimentos da sociedade, em suas distintas configurações e em seus desenvolvimentos históricos.
Entram o “bandeirante”, o “índio, o “negro”, o “imigrante”, o “gaúcho”, o “sertanejo”, o “seringueiro”, o “colonizador”, o “desbravador”, o “aventureiro”, “Macunaíma”“. São muitos os tipos e os mitos que povoam os estudos e as narrativas, as realidades e as fantasias, compondo uma vasta cartografia.
Mais uma vez, cabe reconhecer que cada interpretação do Brasil nasce de um dado clima intelectual, envolvendo questões e tensões que flutuam no ar e desafiam uns e outros.
Na história do pensamento brasileiro debruçado sobre a sociedade e sua cultura, são frequentes e, às vezes, notáveis os tipos que se criam e recriam, taquigrafando a difícil e complexa realidade. Assim, a história aparece como uma coleção de figuras e figurações, ou tipos e mitos, relativos a indivíduos e coletividades, a situações e contextos marcantes, a momentos da geo/história, que se registram metafórica ou alegoricamente.
Esclarecem ou ordenam o que se apresenta complexo, contraditório, difícil, como é habitualmente a realidade histórico-social, em suas formas de sociabilidade e em seus jogos de forças sociais.
Note-se que os tipos e mitos parecem bastante enraizados na formação sociocultural, político-econômica e psicossocial brasileira. Aí entram tradições indígenas, africanas e portuguesas, além de outras menos fortes, até fins do Século XIX. São tradições, práticas, valores, ideais, mitos e fantasias muito presentes em uma sociedade em que se manifestam, desde os seus primórdios: o “animismo”, o “fetichismo”, a “pajelança”, o “candomblé”, a “umbanda”, a “quimbanda”, o “espiritismo” popular, o “catolicismo” rural e outros traços mais ou menos notáveis de origem não só indíge na, africana e portuguesa, mas também ibérica e mediterrânea. Há todo um vasto, complexo e mágico substrato cultural “pagão” na formação da sociedade brasileira, entrando pelo Século XX e continuando evidente no Século XXI.
Cabe reconhecer, no entanto, que esta família de tipos aponta para o descompromisso, a informalidade, a liberdade inocente, o trabalho como atividade lúdica, o descompromisso com a disciplina, a rejeição do trabalho como obrigação, a sociabilidade solta, imprevisível. São traços do homem cordial, Macunaíma, Martim Cererê; convivendo com a preguiça e a luxúria, a madorra indolente de Jeca Tatú.
Em muitos casos, torna-se difícil, ou mesmo impossível, distinguir o “tipo”, enquanto explicação do “mito”, enquanto fórmula ideológica de reiteração. São frequentes os casos de metamorfose do tipo em mito. À medida que se reiteram as formulações, oralmente e por escrito, já que alguns textos notáveis são lidos e relidos, comentados e repetidos, pode ocorrer um processo de ideologização ou reificação. O conceito pode adquirir uma abrangência e uma constância que transcende bastante, ou muitíssimo, o contexto ao qual estaria originariamente referido.
No caso da sociedade brasileira, às vezes tem-se a impressão de que a sua história se traduz e se reduz a uma coleção de mitos originários de tipos que teriam sido elaborados no empenho de “compreender” ou “explicar situações, acontecimentos, dilemas, perspectivas. Diante da realidade histórico-social complexa e problemática, elaboram-se tipos com os quais a realidade se revela inteligível. Aos poucos, no entanto, pode ocorrer a ideologização ou reificação, o que promove a metamorfose do tipo em mito. Então, acentua-se a distância entre a realidade e o tipo e, mais ainda, entre a realidade e o mito. Assim, a realidade desloca-se, afasta-se, evapora-se, torna-se inofensiva.
Ostipos e os mitos podem ser formas de conhecimento, modulações do discernimento, se prejuízo de outros significados e conotações.
Podem ser signos, símbolos ou emblemas, conceitos ou metáforas, categorias ou alegorias, com os quais se taquigrafam situações, acontecimentos e impasses ou fabulações, exorcismos e sublimações. Em todos os casos, há sempre alguma contribuição para o conhecimento da realidade e seu imaginário tanto para o seu desvendamento como para o seu encobrimento.
Outros tipos e mitos contribuem para taquigrafar, organizar e administrar uma sociedade civil incipiente, pouco articulada, na qual se mesclam negros ou ex-escravos, nativos ou índios, imigrantes europeus trazidos como “braços para a lavoura” e muitos outros, indivíduos e coletividades compondo grande parte da sociedade, dos setores sociais subalternos, etc.
O que está em causa é “despolitizar” a sociedade civil em formação, defini-la e organizá-la desde cima, tomá-la como pouco ativa e pouco organizada, gelatinosa, carente de tutela. Daí o Estado forte, demiurgo, oligárquico, autoritário e tirânico. Tudo isso como expressão de uma cultura política arrogante e opressiva, produzida no curso de séculos de escravismo. Daí por que amplos setores das classes dominantes, ou suas “elites”, continuam a agir no mando e desmando das coisas públicas e privadas como desfrutadores, colonizadores, conquistadores.
Aula 5: Identidade Cultural, Identidade Nacional no Brasil
Um dos primeiros problemas que os cientistas sociais brasileiros buscaram resolver em fins do século XIX foi o da existência e características da brasilidade, que segundo eles se comporia de duas vertentes: um patrimônio cultural formado de elementos harmoniosos entre si, que se conservaria semelhante através do espaço e do tempo; e a partilha do patrimônio cultural pela grande maioria dos habitantes do país, em todas as camadas sociais. Tais elementos consistiriam em bens materiais (maneiras de viver) e espirituais
(maneiras de pensar).
Ora, ao encararem seu próprio patrimônio cultural, os pesquisadores de Ciências Sociais desse período estavam conscientes da grande heterogeneidade de traços culturais ligados à variedade dos grupos étnicos que coexistiam no espaço nacional que se distribuíam diversamente conforme as camadas sociais.
Nina Rodrigues - os atrasos e os desequilíbrios da sociedade brasileira, fenômenos sociais, provinham das misturas raciais, — bases biológicas, — e culturais encontradas no país. Raymundo Nina Rodrigues definiu pela primeira vez a existência de um sincretismo religioso no país ao estudar os candomblés baianos — nome genérico dado aos variados cultos afro-brasileiros que então existiam. Segundo ele, o fator biológico era o principal responsável pelas anomalias nacionais: reações políticas descomedidas e irrefletidas no momento da transição do Império para a República (1889); conflitos de religiões; doenças variadas e graves problemas de higiene. Todo o desajustamento sócio/econômico se explicaria pela heterogeneidade biológica e cultural do país, levando os habitantes até mesmo à loucura individual e coletiva.
O racismo estava presente nos trabalhos de Romero e Cunha - pesquisadores do século XIX, de envolta, em doses variadas, com o pessimismo pelo futuro econômico e cultural do país, assim como a negação da existência de características especificamente brasileiras, e até mesmo da possibilidade de sua formação um dia. 
A revelação de Nina Rodrigues da continuidade, por mais de três séculos, das religiões africanas sob a máscara de uma adesão superficial ao catolicismo, a constatação de que uma interpenetração se operava entre esta religião, considerada a verdadeira, e os cultos bárbaros, alimentou profunda inquietação: eram cultos que mantinham estranhas maneiras de pensar e de agir, que pareciam abalar a moral existente, e cujo poder sobrenatural era difícil negar ou medir.
Em todos eles, divindades representavam as forças cósmicas e sociais, e correspondências haviam sido definidas entre as divindades e os santos católicos.
Não existia nestes cultos uma noção de pecado. As divindades não eram nem boas nem ruins, elas se comportavam com os fiéis em função do tratamento que destes recebiam. A reciprocidade de dons existia entre divindades e fiéis e, se cuidadosamente observada, podiam estes últimos viver tranquilos e esperar sem sustos a passagem para o além.
Os cultos afro-brasileiros se distinguiam por formarem cada qual uma totalidade religiosa independente e, em geral, rival de outras. As unidades de culto representadas pelos terreiros não se agrupavam em conjuntos sob um poder central; ao contrário, cada unidade defendia rigorosamente sua independência. Permaneciam assim fundamente ligados às tribos de origem e suas distinções.
A função de defesa cultural dos candomblés foi perfeitamente percebida por Raymundo Nina Rodrigues em seus trabalhos; seus textos visavam dar um grito de alerta aos conterrâneos sobre a ameaça subjacente à aparente submissão negra. Suas constatações vinham reforçar o sentimento de perigo que avassalava as elites, muito conscientes da diferença numérica entre os africanos e seus descendentes, de um lado, e a população de origem europeia, de outro. Este medo foi mais um obstáculo no caminho da abolição da escravatura, tornando seu sucesso difícil de alcançar durante longo tempo, da primeira lei, votada em 1831, até a Lei Áurea, de 1888.
Estas maneiras de ver se refletiram nas especulações sobre a falta de uma identidade cultural nacional que viesse costurar entre si pedaços tão díspares e que ao mesmo tempo lhes apagasse as arestas. E, dado que na maneira de pensar dos intelectuais de então a identidade nacional não podia existir sem certa homogeneidade de traços culturais, e encontravam na sua cultura grandes disparidades, o pessimismo era dominante em seus trabalhos. Somente podiam conceber uma identidade cultural da maneira que julgavam ser a ocidental — branca, educada, refinada.
Uma identidade cultural, urna identidade nacional, eram por eles perfeitamente admitidas; o que é mais, tal noção era proclamada e defendida, se contrapondo às ideias dos predecessores. Mário de Andrade (1893-1945) define a brasilidade principalmente em Macunaíma, seu herói que reúne ao mesmo tempo as qualidades africanas, aborígenes, europeias, todas semelhantes em valor. Demonstra que a originalidade e a riqueza da cultura brasileira provêm justamente da multiplicidade de suas raízes.
O novo conjunto de noções foi rapidamente vitorioso sobre as velhas maneiras de pensar, apesar de no início seus autores terem se visto a braços com críticas desfavoráveis e hostilidade. Na década de 30, porém, já se encontrava perfeitamente consolidada e considerada como a interpretação válida do que seria a brasilidade. Com o correr do tempo, mais e mais foi se configurando como núcleo central de uma definição do que seria a identidade nacional, que perdura até os dias atuais.
Assim, na segunda década do século XX, a heterogeneidade do patrimônio cultural brasileiro é encontrada erigida em característica do maior valor para significar a brasilidade, em dois estratos sociais muito distantes um do outro, tanto em posição sócio/econômica quanto em instrução: o grupo de jovens intelectuais burgueses, de formação universitária, que a definem no âmbito de uma teoria explicativa, e os grupos de descendentes de africanos dos estratos mais baixos, nas duas grandes aglomerações urbanas do país, que fazem dela o núcleo central de uma nova religião. Os primeiros proclamavam conscientemente, em seus textos e trabalhos, a importância da heterogeneidade cultural nacional. Os segundos a admitiam implicitamente, através dos princípios de sua fé religiosa. Tal convergência não seria certamente gratuita, e as circunstancias sócio/históricas em que ambas as novas teorias da identidade cultural nacional — a filosófica e a religiosa, — surgem, devem ser examinadas para uma compreensão melhor de sua consistência. E note-se ainda: a primeira contradiziainteiramente as teorias precedentes dos intelectuais brasileiros de fins do século XIX; a segunda se afastava de maneira extremamente clara do velho candomblé.
Do início do século XX em diante, Rio de Janeiro e São Paulo foram assim perdendo as características de cidades grandes e adquirindo as de metrópoles. Seu crescimento demográfico intenso era concomitante com um rápido desenvolvimento de empregos terciários, indispensáveis à organização de grandes centros urbanos, cujos habitantes constantemente estão exigindo vida mais confortável e mais sofisticada. O mercado de trabalho se ampliou, oferecendo oportunidades antes inexistentes à população de camadas médias e inferiores.
O Sudeste brasileiro foi literalmente invadido por grande quantidade de imigrantes europeus, que traziam consigo sua própria cultura, a qual passou a ameaçar de submersão a civilização existente, — civilização construída durante três séculos de contatos constantes e muito próximos entre portugueses, índios e africanos.
O sincretismo cultural passou a ser muito importante aos olhos de camadas sociais dissemelhantes da sociedade brasileira. Na verdade, se os intelectuais brasileiros persistissem em desprezar os traços culturais aborígenes e africanos, anulariam os únicos elementos que tornavam sua civilização única entre as demais do globo. Se continuassem a se apresentar como europeus, e, — pior ainda, — como europeus de qualidade inferior porque possuidores de uma cultura mestiça, recheada de traços bárbaros, — continuariam negando a existência da identidade nacional.
As duas doutrinas também se mostram díspares em seus objetivos. Definida por intelectuais, isto é, por gente que pertencia a estratos sociais elevados, a nova concepção da identidade brasileira constituía um instrumento voltado contra a ambição dos imigrantes recém-chegados, que deviam aderir a ela se pretendiam ascender na escala social.
Na verdade, documentos históricos demonstram que a mistura de três culturas etnicamente diferenciadas existia já com bastante estabilidade desde o início do século XVIII, pelo menos. Todavia, a miscelânea cultural não era reconhecida como válida, principalmente pelas camadas superiores da sociedade, e notadamente pelos poucos intelectuais da época.
Em fins do século XIX, os intelectuais reconheciam a heterogeneidade cultural e o sincretismo na sociedade em que viviam; mas negavam-lhe qualquer valor e, também que houvessem constituído já uma identidade brasileira ou uma identidade nacional, seus preconceitos raciais e contra os costumes bárbaros dos africanos e dos indígenas impedia os de reconhecer qualquer valor a qualquer tipo de mestiçagem.
Identidade cultural se apresenta forçosamente como coisa muito diversa; diz que todos os membros de uma coletividade partilham do mesmo patrimônio cultural, que neles dá origem a um conjunto de valores e de crenças que os tornam sui generis, e que muitas vezes está perfeitamente inconsciente. Buscar a identidade nacional na perspectiva da Psicologia dos Povos ou no campo da identidade cultural levava forçosamente a decepções e becos sem saída, pois cada nação europeia era composta de grupos culturalmente heterogêneos, de coletividades disparatadas em suas características; no entanto, estavam todos unidos por uma dedicação comum e consciente à totalidade que compunham.
Atualmente, quando estudiosos brasileiros falam de identidade cultural ou de identidade nacional, referem-se, pois, a noções diferentes das utilizadas por seus colegas europeus.
Nos dois casos, o que há de comum é somente o fato de que ambas noções são em geral utilizadas como instrumentos para diferenciar uma cultura ou uma coletividade do conjunto das demais. Estas noções podem se tornar também armas para lutar contra qualquer perigo que ameace com o desaparecimento ou a coletividade, ou a nação. O Brasil, cuja independência não teve de ser alcançada à força, não voltou sua arma ideológica contra outras sociedades; ela foi forjada principalmente para propósitos internos.
Conceitos e definições são forjados por cientistas sociais nascidos e educados em sociedades e civilizações específicas; muitas vezes as discussões férvidas a que dão lugar decorrem de entendimentos diferentes do mesmo termo justamente porque as culturas em que nasceram os pesquisadores não são as mesmas. O que, consciente ou inconscientemente, admitem e o que recusam, ao construí-los, está profundamente influenciado pela própria sociedade e suas maneiras de pensar. Este ensaio não foge à regra...
Aula 6: Cultura popular e cultura erudita: as construções de um conceito na produção historiográfica
O termo cultura normalmente se relacionava à literatura (acadêmica), música (clássica), ciência. Depois, ele passou a ser empregado para caracterizar os seus correspondentes populares – literatura de cordel, canções folclóricas, medicina popular. Atualmente, o conceito de cultura tem um sentido bastante dilatado, abrangendo praticamente tudo que pode ser apreendido em uma sociedade – desde uma variedade de artefatos (imagens, ferramentas, casas e assim por diante) até práticas cotidianas (comer, beber, andar, falar, ler, silenciar). O que se costumava considerar de óbvio, normal ou ‘senso comum’ agora é tido como algo construído socialmente, que sofre variações de sociedade a sociedade e muda de uma época para outra, o que requer explicação histórica.
Na divisão tradicional cultura popular é entendida como toda prática cultural empreendida pelos extratos inferiores, pelas camadas iletradas e mais baixas da sociedade, ao passo que cultura erudita é aquela empreendida pelos extratos superiores ou pelas camadas letradas, cultas e dotadas de saber ilustrado.
A cultura cômica popular expressou a visão de mundo peculiar das camadas inferiores da sociedade. Mas, apesar disso, esta manteve um permanente, orgânico e dinâmico contato com a cultura oficial, influenciando e sendo influenciado por ela.
A relação entre a cultura erudita (ou da elite intelectual) e a cultura popular passa tanto pelas formas quanto pelos conteúdos dos sistemas de representações. Por isso o cruzamento entre ambos os domínios não pode ser entendido como uma relação de exterioridade envolvendo dois conjuntos estabelecidos aprioristicamente e sobrepostos (um letrado, o outro iletrado). Pelo contrário, esse cruzamento - ou zonas de fronteiras - entre o chamado "erudito" e "popular" produz encontros e reencontros, espécie de fusões culturais.
Segundo Bakhtin, em determinados momentos o Renascimento se traduzia na cultura popular codificada nas obras da cultura letrada ou erudita. Aliás, foi na cultura popular que todo aquele sistema cultural encontrou a sua máxima coerência e revelou de forma mais cabal seu princípio. A obra de Rabelais, nesse sentido, é paradigmática, justamente porque penetra na essência da "cultura cômica popular", ou seja, na verdadeira "enciclopédia" da cultura popular.
O que se qualifica de “erudito” e o “popular” está em permanente processo de ajustes, desajustes, reajustes, em suma, em movimento. Assim, tornar indissociável a divisão entre eles é anular os postulados metodológicos que procuram conferir um tratamento contrastado de um e de outro domínio.
No prefácio à edição italiana de seu livro O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela inquisição, Carlo Ginzburg faz uma análise crítica de algumas obras que trataram da cultura popular. Para esse historiador italiano, o uso do termo cultura para designar o conjunto de práticas, atitudes e códigos de comportamentos próprios das classes subalternas é algo tardio e foi emprestado da antropologia cultural.
Graças ao conceito de “cultura primitiva” reconheceu-se que aquelas pessoas outrora definidas de forma paternalista como “camadas inferiores dos povos civilizados” eram dotadas de cultura. Superou-se, assim, a posição daqueles que identificavam nas ideias, crenças, visões de mundo das classes subalternas, apenas “um acúmulo desorgânico de fragmentos de ideias, crenças,visões de mundo elaborado pelas classes dominantes provavelmente vários séculos antes”.
Ginzburg constata que apenas “recentemente” os historiadores encamparam a temática do popular. Isso teria ocorrido por dois motivos: um ideológico e o outro metodológico. Do ponto de vista ideológico, foi superado: 1) a visão de considerar as “crenças e ideias originais” apenas aquelas provenientes das classes superiores; 2) a concepção de que tais “crenças e ideias originais” das classes superiores eram tão deformadas no processo de difusão e transmissão para as classes subalternas que estas não mereciam ser levadas a sério. Já do ponto de vista metodológico, refere-se ao fato das culturas das classes subalternas serem predominantemente orais, fato, aliás, que é acentuado à medida que recuamos no tempo.
Darnton diferencia a história cultural, a qual se alinha da história das ideias. Esta se preocupa com o pensamento que foi sistematizado e formalizado, ao passo que aquela aborda como as pessoas dos segmentos subalternos entendiam o mundo.
Chartier - O primeiro, no intuito de abolir toda forma de etnocentrismo cultural, concebe a cultura popular como um sistema simbólico coerente e autônomo, que funciona segundo uma lógica absolutamente alheia e irredutível à da cultura letrada. O segundo, preocupado em lembrar a existência das relações de dominação que organizam o mundo social, percebe a cultura popular em suas dependências e carências em relação à cultura dos dominantes. Temos, então, de um lado, uma cultura popular que constitui um mundo à parte, encerrado em si mesmo, independente, e, de outro, uma cultura popular inteiramente definida pela sua distância da legitimidade cultural da qual ela é privada.
O importante para ele é identificar como se opera esse relacionamento entre as formas impostas e aculturantes, de um lado, e as táticas implementadas pelos segmentos subalternos, por outro. De acordo com Chartier, são nos modos de usar, enquanto práticas sociais, que se deve encontrar o “popular”. A questão dos usos, por sua vez, está diretamente relacionada ao conceito de apropriação. É por meio da apropriação que os setores não hegemônicos operam a “produção de sentidos”, ou seja, é por meio dela que a recepção se torna “matreira” e “rebelde”.
Chartier - Seu argumento é de que a separação radical entre produção (cultura erudita) e consumo (cultura popular) leva a pensar que as ideias ou as formas têm vida auto/suficiente, totalmente independente de sua apropriação para um grupo de sujeitos. Agir como se os textos (ou imagens) tivessem significados em si mesmos, fora das leituras que lhes conferem sentidos, é elevar tais textos e imagens ao estatuto de categorias absolutas e universais, em última instância, a históricas.
Thompson - [...] pode sugerir, numa inflexão antropológica influente no âmbito dos historiadores sociais, uma perspectiva ultraconsensual dessa cultura, entendida como “sistema de atitudes, valores e significados compartilhados, e as formas simbólicas (desempenho e artefatos) em que se acham incorporados”. Mas uma cultura é também um conjunto de diferentes recursos, em que há sempre uma troca entre o escrito e o oral, o dominante e o subordinado, a aldeia e a metrópole; é uma arena de elementos conflitivos, que somente sob uma pressão imperiosa – por exemplo, o nacionalismo, a consciência de classe ou a ortodoxia religiosa predominante – assume a forma de um “sistema”. E na verdade o próprio termo “cultura”, com sua invocação confortável de um consenso, pode distrair nossa atenção das contradições sociais e culturais, das fraturas e oposições existentes dentro do conjunto.
Ele - “cultura popular” é um conceito vazio se utilizado de forma generalizante. Ele só vai ter alguma importância quando inserido num contexto histórico específico. 
Cultura popular tem que ser um conceito mais concreto e cabível; não mais situado no ambiente dos “significados, atitudes, valores” e sim localizado dentro de um “equilíbrio particular de relações sociais”, arena que deve conjugar o ambiente de exploração e resistência à exploração, assim como as “relações de poder mascaradas pelos ritos de paternalismo e da deferência. Desse modo, [...] a ‘cultura popular’ é situada no lugar material que lhe corresponde”.
Thompson - Seu argumento é de que a hegemonia cultural dos “governantes”, embora definisse os limites do que era possível e inibisse as expectativas alternativas por parte do “povo”, só podia ser sustentada com habilidade e constantes negociações e concessões. Mesmo assim, essa hegemonia jamais foi bem sucedida a ponto de impor uma única visão de mundo. Pelo contrário, ela coexistia com uma cultura “vigorosa e autônoma” do povo, derivada de suas próprias experiências e recursos.
Peter Burke - a noção de cultura popular é problemática. Existiam muitas
“culturas populares ou muitas variedades de cultura popular – é difícil optar entre as duas formulações porque uma cultura é um sistema de limites indistintos, de modo que é impossível dizer onde termina uma e começa outra”.
Cabe observar que a cultura popular, no transcorrer da Idade Moderna, foi identificada tanto nos pequenos livros escritos por pessoas simples do povo – conhecidos como "literatura de cordel" - quanto num conjunto de crenças tidas como formadoras de uma religião popular. Nestes dois casos, o popular é conceituado em oposição, primeiro, à literatura qualificada como erudita e letrada, e, segundo, ao catolicismo institucional da Igreja no período. Todavia, essa divisão no corpus documental é mais aparente do que se imagina. Afinal, a literatura "popular" alimentou as leituras (ou escritas) da sociedade camponesa ou de um público intermediário, situado entre o povo analfabeto e uma ínfima minoria de letrados.
Burke afirma que a atenção do historiador deve concentrar-se na interação e não na divisão entre elas. Ele cunha o termo “bicultural” para descrever a situação de membros da elite que se engajavam nas práticas culturais populares e que, ao mesmo tempo, participavam de uma cultura “alta”, “ensinada em escolas secundárias, universidades, cortes, etc., às quais as pessoas comuns não tiveram acesso”.
Burke sugere que seria mais proveitoso estudar as interações entre a cultura popular e a cultura erudita, em vez de tentar definir o que as separa. Contudo, se o historiador assim o proceder, precisa certificar-se do polimorfismo desse processo. Há uma variedade de relações possíveis entre altas e baixas culturas: os usos da cultura popular por escritores renascentistas, os usos do Renascimento pelas pessoas comuns e, por fim, “a importância da ‘viagem circular’ de imagens e temas, uma viagem circular em que o que retorna jamais é o mesmo que partiu”.
A cultura popular é um conjunto de práticas ambíguas e contraditórias, que se realizam nos interstícios da cultura dominante, recusando-a, aceitando-a ou confortando-se a ela. Ou seja, a cultura popular se caracteriza por uma combinação de resistência e conformismo.
O pressuposto de que não é possível separar, de maneira engessada e polarizada, cultura popular e erudita ganha cada vez mais espaço na produção do conhecimento histórico. Os historiadores vêm tomando consciência de que as categorias cultura popular e cultura erudita são dinâmicas, mutantes, forjadas por mediações, atualizadas e reatualizadas em cada contexto histórico específico.
Aula 7: O que é cultura material?
Por exemplo, o carnaval, em suas diversas manifestações pelo Brasil, é uma conhecida expressão da cultura brasileira.
Breve histórico do conceito “cultura material”
A noção de cultura material nas Ciências Humanas é relativamente antiga. A origem dessa noção é difícil de precisar. No entanto, podemos localizá-la já na segunda metade do século XIX, no coração de diversas correntes de pensamento. O que era comum entre tais correntes era o uso de objetos e fatos concretos na construção de seus pensamentos empíricos. A partir desses pressupostos, dentro das Ciências Humanas, três ciências se constituíram, tendoa noção de “cultura material” como objeto de estudo: a Arqueologia, a pré-história e a Antropologia.
A partir de 1920, após a Segunda Guerra Mundial, a ideia de cultura material passou a ser muito utilizada pelas Ciências Humanas, em especial pelos historiadores.
Algumas definições de cultura material 
“cultura material designa aspectos da cultura que determinam a produção e o uso de artefatos” (DOUGLAS). Assim, a cultura material seria, ao mesmo tempo, as formas materiais da cultura – os produtos da cultura, como a arquitetura, os objetos, os artefatos, as obras de arte, as vestimentas, os utensílios, os instrumentos e todas as formas de tecnologia – e a lógica que determina a produção, invenção e significado de tais objetos.
Cultura material pode ser definida como os elementos materiais da cultura – os produtos da cultura, como a arquitetura, os objetos, os artefatos, as obras de arte, as vestimentas, utensílios, instrumentos e todas as formas de tecnologia. Como, por exemplo, as roupas, colares, talheres, pratos etc.
Algumas características da noção de “cultura material”
Cultura material é antes de tudo cultura. Por ser cultura, ela expressa características de um grupo, de uma coletividade, ou seja, quando falamos de cultura material não estamos falando do objeto de uma pessoa específica, mas sim de um objeto importante para um grupo social, cujo significado e valor são compartilhados.
Quando falamos de cultura material estamos interessados nos elementos materiais (todos e quaisquer elementos materiais – objetos, utensílio, matérias-primas, artefatos, construções, móveis, roupas etc. – que fazem parte da vida de um grupo) utilizados com frequência. Tais elementos estão, assim, ligados aos hábitos, à rotina, ao cotidiano ou à tradição de um grupo.
A terceira característica da cultura material se refere à materialidade.
A “cultura material” não é igual ao patrimônio cultural material, apesar de terem características em comum.
Lemos - patrimônio cultural material é aquele elemento da cultura que herdamos do passado e/ou que transmitimos a gerações futuras. A ideia de patrimônio cultural está ligada à herança e à memória. No entanto, nem tudo que herdamos e/ou transmitimos para as futuras gerações é reconhecido como patrimônio. Para ser reconhecido como tal, um elemento material de uma determinada cultura passa por uma seleção consciente. O conceito de patrimônio cultural implica uma noção de posse coletiva.
Os elementos da cultura material não passam necessariamente por uma seleção consciente para serem transmitidos de geração em geração. Aliás, grande parte do que nos constitui culturalmente, ou seja, toda a lógica que nos orienta no mundo, é inconsciente. Os elementos da cultura material não estão ligados, necessariamente, à noção de posse da forma como o patrimônio cultural material assim a estabelece. 
A cultura material está sempre relacionada a um grupo que a detém, mas o que temos é mais uma relação de pertencimento do que de posse.
Todo patrimônio cultural material é um elemento cultural, mas nem todo elemento cultural é um patrimônio cultural material. Assim que um elemento cultural torna-se patrimônio cultural material, referente a um grupo social, ele deve ser, inclusive legalmente, valorizado e preservado coletivamente. Palácio Imperial (Petrópolis).
A cultura material como objeto de estudo 
Na antropologia, os objetos concretos, sejam eles móveis ou imóveis, como, por exemplo, armas, ferramentas, utensílio, casas ou cidades, provenientes de grupos sociais, são o suporte concreto necessário na descrição ou compreensão de um grupo. Por meio da cultura material podemos entender hábitos e costumes de um grupo social.
Podemos fazer a seguinte distinção entre os elementos que podem ser categorizados dentro de “cultura material”:
Os materiais da natureza (ex.: a madeira, as pedras, a água, as plantas etc.), bem como o uso da energia desses materiais (quando construímos moinhos e represas, usamos carvão ou o vento para combustível etc.) para produzir outros materiais.
Os instrumentos de trabalho (por exemplo, machados, lanças, máquinas etc.) e o conhecimento técnico para a produção de novos bens materiais (as técnicas de construção, de tecelagem, de olaria etc.).
Os objetos fabricados e os produtos destinados ao consumo (por exemplo, os vasos de barro feitos com água e técnicas artesanais, as casas construídas a partir do corte da madeira com o machado de pedra, os cristais lapidados e polidos a partir de ferramentas e técnicas específicas etc.).
O estudo da cultura material e do consumo 
Durante muito tempo os estudos relacionados à cultura material estavam voltados para as grandes coleções etnográficas e para as coleções dos viajantes que passavam por tribos indígenas, recolhendo, por todo o mundo, machados, colares, pulseiras, entre outros objetos representativos dessas culturas. Esse ato dos viajantes de recolher objetos por onde passavam já podia ser qualificado como um tipo de consumo.
Em geral, esse consumo era realizado a partir de trocas, ou seja, o viajante dava algo em troca de um artefato indígena.
Hoje, o estudo do consumo dos objetos representativos da cultura material ganha uma nova roupagem. Os pesquisadores não se limitam mais ao estudo dos objetos de sociedades distantes e exóticas. O olhar volta-se para uma economia global, para um conjunto de objetos cada vez mais abrangente, que envolve tanto as produções tradicionais e artesanais como as mercadorias de alta tecnologia e produtos de massa (telefones celulares, brinquedos, tecidos, carros etc.).
Nos últimos anos, o interesse nos estudos das sociedades nos contextos urbanos vem crescendo entre os pesquisadores. Desta forma, o estudo da cultura material ligada à cultura urbana tem ganhado espaço.
Há vários tipos de objetos que podem ser consumidos, os quais são parte da cultura material de um grupo. Vejamos um exemplo: as Havaianas, os famosos chinelos de borracha que ganharam o mundo nos últimos anos. 
Esse consumo está intimamente ligado a todo um trabalho de reformulação e reposicionamento da marca, que ligou o chinelo a uma imagem moderna e positiva do Brasil.
As casas são outro elemento da cultura material que sofreu modificações relacionadas aos hábitos de consumo nos últimos anos. A arquitetura das casas se altera hoje diante das demandas do consumo. Vejamos o caso do uso da madeira para a sua construção.
O tema consumo é recorrente nos estudos antropológicos. Podemos pensar no consumo como o consumo de uma cultura, a partir do consumo dos aspectos materiais da cultura. É possível encararmos esse “consumo da cultura” como uma forma de destruição da mesma. Consumo pode ser interpretado como um fator de extinção do que é consumido: quando consumimos um alimento, um prato de comida, por exemplo, significa que, ao final desse consumo, o prato estará vazio.
A “turistificação” do carnaval, das escolas de samba (o fato de o carnaval ter se tornado uma atração turística da cidade do Rio de Janeiro), teria destruído a festa. Hoje as escolas de samba, por exemplo, são cada vez mais compostas por pessoas que não fazem parte das comunidades. Além disso, seu público é cada vez mais seleto em função do elevado custo dos ingressos. Os desfiles teriam perdido algumas características de liberdade do carnaval para tornarem-se shows com coreografias.
Turismo e cultura material 
Como vimos nesta aula, nas viagens e trabalhos de campo, os antropólogos, de um lado, e exploradores e aventureiros, de outro, recolhiam vários objetos representativos de determinadas culturas. Esses objetos, elementos da cultura material, eram utilizados para os mais diferentes fins: uns podiam se tornar objetos de estudos, outros eram transformados em coleções, expostos em museus ou, ainda, viravam mercadorias, suprindo todo um comércio especializado em “peças indígenas”. É aqui que começa a relação entre turismo e cultura material.
Barreto - os primeiros grandes estudos antropológicos sobre turismo consideravam este comoa “indústria sem chaminés”, porém, tão destrutiva quanto às indústrias mais poluidoras. A destruição da indústria do turismo acontecia de formas bem particulares: pela aculturação e pela perda de autenticidade dos povos atingidos por ela.
A cultura material, ou seja, a soma de materiais, artefatos e bens manufaturados ligados a uma cultura, pode definir o significado da identidade cultural de um grupo ou sociedade. O consumo de tais elementos como representantes de uma identidade cultural é um elemento crucial no desenvolvimento do turismo.
Os elementos da cultura material, como os objetos, edificações e artefatos que usamos atualmente e aqueles considerados “vestígios do passado“ (os objetos históricos e arqueológicos) têm sido reconhecidos, valorizados e apropriados pelo turismo e transformados. Passam, assim, a serem objetos de consumo turístico.
O turismo apropria-se de elementos da cultura material ou imaterial para desenvolver suas potencialidades. Temos aí o “turismo cultural”; a “cultura material” não existe sem a chamada “cultura imaterial”, ou seja, os hábitos, os valores, os significados, os conceitos que uma determinada cultura constrói sobre si mesma.
Os elementos materiais só têm sentido porque têm significado, são conceituados, valorados, compreendidos dentro de um sistema ou lógica cultural.
No Turismo Cultural, a atividade turística desenvolve-se com base nos símbolos da cultura material e imaterial, que são os principias motivadores da demanda turística. Trata-se de um tipo de turismo realizado quando o turista é motivado a se deslocar especialmente com o objetivo de vivenciar aspectos e situações particulares, ligadas a algum universo cultural.
Aula 8: Museu não é lugar de coisa velha!
Os museus transformaram-se nas últimas décadas, ganharam novos formatos, novas finalidades e trazem hoje muito mais do que objetos do passado – que às vezes parecem tão distantes de nossa realidade e interesse. Hoje há, inclusive, os chamados museus vivos, museus a céu aberto e museus comunitários.
No Brasil, até 2008, os direitos, deveres e obrigações relacionados aos museus federais eram regulados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Ibram - o órgão é responsável pela Política Nacional de Museus e pela melhoria dos serviços do setor. Essa melhoria aconteceria com:
a) o aumento de visitação e arrecadação dos museus;
b) o fomento de políticas de aquisição e preservação de acervos; 
c) a criação de ações integradas entre os museus brasileiros. 
Os museus são como casas que “guardam e apresentam sonhos, sentimentos, pensamentos e intuições que ganham corpo através de imagens, cores, sons e formas”. Assim, seguindo essa definição bastante poética, os museus são como “pontes, portas e janelas que ligam e desligam mundos, tempos, culturas e pessoas diferentes”.
O Estatuto de Museus, instituído pela Lei nº 11.904, de 14/01 /2009: Art. 1º Consideram-se museus, para os efeitos desta Lei, as instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preserva
Ainda, segundo o artigo 2º da Lei nº 11.904, são princípios fundamentais dos museus:
I – a valorização da dignidade humana;
II – a promoção da cidadania;
III – o cumprimento da função social;
IV – a valorização e preservação do patrimônio cultural e ambiental;
V – a universalidade do acesso, o respeito e a valorização à diversidade cultural;
VI – o intercâmbio institucional.
Museu da Abolição – Recife- PE
O Museu da Abolição foi criado em 1957, no governo Juscelino Kubitschek, mas só foi inaugurado em 1983, 26 anos depois. Com o propósito de ressaltar a importância do passado, o museu incentiva o debate de temas como escravidão, abolição, racismo, exclusão, violências, diversidades culturais e identidade brasileira.
Museu da Arqueologia de Itaipu – Niterói –RJ
Criado em 1977, o Museu de Arqueologia de Itaipu está instalado nas ruínas do antigo Recolhimento de Santa Teresa, fundado no início do século XVIII. O MAI desenvolve um programa educativocultural voltado para as escolas e comunidade local, com base no seu acervo, composto por objetos testemunhos dos povos que viveram no litoral fluminense antes de 1500. São machados de pedra, pontas de ossos, lascas de quartzo, polidores, peças de cerâmicas e conchas. O museu é considerado também como sítio arqueológico.
História da instituição museu
Com o passar dos anos, a significação do termo museu foi ampliada para além de “um lugar de inspiração” – e passou também a ser conhecido como “lugar em que se guardam coleções”. 
Segundo Suano (1986), colecionar é um hábito tão antigo quanto o homem. Contudo, os significados desses hábitos sempre foram diversos e dependiam do contexto em que se inseria. As coleções podem retratar, ao mesmo tempo, a história de uma parte do mundo dos quais os objetos foram coletados, como também podem contar a história do homem ou a sociedade que coletou esses objetos. Os museus estão intimamente ligados às coleções.
Nos séculos XVII e XVIII, observou-se, na Europa, a crescente necessidade de organização do conhecimento, o crescimento do interesse pela cultura, pelas ciências, e as reivindicações da 
população ao acesso às coleções particulares. E, finalmente, com a Revolução Francesa de 1789, foram abertos os primeiros museus públicos, como instituição.
Os museus foram se diversificando, a partir das condições sociais, políticas e intelectuais da época. Com o nacionalismo, surgiram os museus históricos ou nacionais. Com a expansão colonial vieram os museus etnológicos. Com a Revolução Industrial, foram criados os museus de ciências e tecnologia.
Gaspar - na época da Revolução Industrial, em função do avanço tecnológico, os museus passaram também a ser utilizados como um instrumento de educação. Nesse contexto, a educação passava a ser entendida como uma das principais funções dos museus públicos.
Após a Segunda Guerra Mundial, a maioria dos novos museus e centros de ciências passou a se preocupar com o presente e o futuro, e muitos deles não possuem acervo histórico. Substituíram as coleções de objetos por exposições e experimentos destinados a um maior envolvimento e aprendizagem dos visitantes, além da preocupação em fornecer informações atualizadas em ciências e tecnologia de uma forma educativa e agradável.
Gaspar - atualmente, há uma preocupação das instituições museológicas em desligar-se da imagem elitista tradicional tem prevalecido e se faz desde as próprias edificações até o acervo. Há ainda a tendência de uma ligação maior com a realidade cotidiana, com o meio ambiente e a divulgação científica. 
Segundo Vasconcellos (2006), na América Latina e no Brasil, os museus receberam forte influência europeia no século XIX.
As categorias de museus
Museu clássico ou tradicional
Museu tradicional - A estética do ambiente é fundamental; os núcleos de exposição são integrados; os espaços são delimitados para cada núcleo; a exposição segue um roteiro definido (circuito); há uma ênfase no objeto como produto cultural. Exemplo: Museu Imperial de Petrópolis (RJ).
Museu tradicional interativo - A estética geral do ambiente não é fundamental; a exposição é feita em núcleos definidos; os espaços não são rigidamente delimitados; há a ênfase na percepção e no tempo do visitante; temos um novo conceito de objeto; há a ênfase a conjuntos; não há roteiros definidos, mas sim conjuntos interativos; a compreensão só é possível com a participação do visitante. Exemplo: Museus de Ciência e Tecnologia.
Museu tradicional com coleções vivas
Temos a exposição em núcleos definidos por classificação científica ou ocorrência segundo critérios ecológicos (plantas); temos uma ênfase no acervo constituído por espécimes vivos; acervo produzido para montagem de exposições; a exposição pode ou não ter um roteiro definido; há pouca interação; pode provocar intensa reação no visitante, mas, para que haja compreensão, é necessário o complemento educativo. Exemplo: jardins botânicos.
Museus

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