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nota de aula - unidade I (2015.1) (3) (2)

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UNIDADE I - PROCESSO E PROCEDIMENTO (Nota de aula 
desenvolvida a partir dos livros de Cândido Rangel Dinamarco, Sérgio 
Bermudes e Daniel Amorim Assumpção Neves, indicados no plano de 
ensino) 
 
 
1. O Conflito 
 As normas jurídicas conferem às pessoas um poder de fazer ou não 
fazer alguma coisa; um poder de prática, ou abstenção, impondo a 
outras pessoas o dever de respeitar a conduta que se assume em 
consonância com a norma. Esse poder de se comportar de acordo com 
a norma, seja para fazer algo, seja para abster-se, chama-se direito 
subjetivo – interesse juridicamente protegido. 
Podem, contudo, duas pessoas, pelo menos, entenderem possuir 
direito sobre um mesmo bem da vida. Diz, então que elas possuem 
pretensões em conflito. 
 No contexto das relações sociais, a pretensão (de praetendere, 
estender diante, pôr diante; de prae, diante de, adiante de, e tendere, 
estender, apresentar) é o propósito de alcançar um bem qualquer da 
vida, corpóreo ou incorpóreo. 
Para o surgimento do conflito, necessário que à pretensão 
exteriorizada, outra se oponha. Aqui surge a resistência: pretensão 
posterior que se opõe à anterior. Dessa maneira, a lide (luta, combate) 
é um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida ou 
insatisfeita. 
O meio social, então, criou diversas formas de solucionar o conflito, 
porquanto a paz é pressuposto de sociabilidade. 
Surgiram, assim, os meios de composição – que significa pôr em 
ordem, como se agrupam as notas musicais para formar a melodia. 
Comentado [na1]: A entende possuir o direito de sentar 
na única carteira ergonômica existente em sala de aula. B 
também entende possuir o mesmo direito. 
Comentado [na2]: A pretende que B se submeta e se 
levante para dar-lhe o lugar na carteira. B resiste. (Conflito) 
O primeiro e mais intuitivo é autodefesa ou autotutela (tutela, tudo o 
que defende) através da qual um dos contendores subjuga o outro, para 
satisfazer a sua pretensão. 
A abdicação (abdicatio, abandono, renúncia; de ab, prefixo indicativo 
de afastamento, e dicare, divulgar, dizer) da pretensão (renúncia), ou 
da resistência (reconhecimento), contemporânea do homem, também, 
é um dos meios de solução da lide. 
A transação (transactio, ato de passar, de acomodar; de transigere, de 
trans, através, de um lugar a outro, e agere, impelir, fazer andar, levar; 
logo, o que vai e vem: toma lá, dá cá) que envolve abdicação parcial, 
aproximando-se dela por isso mesmo, consiste na composição, ou na 
prevenção da lide, mediante mútuas concessões que se fazem os 
litigantes. 
Todas estas formas de composição emanam das partes, ainda que 
haja um mediador. Em outras palavras, a solução do conflito é obra das 
partes. Por isso são chamadas formas de autocomposição. 
Entretanto, pode ser que as partes não sejam capazes de comporem 
seus conflitos, seja porque, via de regra, é proibido o uso da força, seja 
porque suas pretensões são irrenunciáveis. 
Então, surge o Estado, como um terceiro imparcial, que irá compor a 
lide ou o conflito, de forma a pacificar o meio social com justiça, dando 
a cada litigante o bem da vida merecido, conforme regras estabelecidas 
em que cada um poderá participar no sentido de colaborar com o 
pronunciamento do Estado. É a jurisdição que atua mediante o 
processo. 
2. Jurisdição 
2.1. Escopos da Jurisdição 
O escopo jurídico consiste na aplicação concreta da vontade do direito 
(por meio da criação da norma jurídica), resolvendo-se a chamada “lide 
Comentado [na3]: A arranca B da carteira e senta-se nela, 
sem que B, mais fraca, possa retomá-la. (Autotutela) 
Comentado [na4]: A diante resistência de B em ceder-lhe 
a carteira, abandona a pretensão e senta-se em carteira 
comum. (Renúncia) 
B, diante da pretensão de A à carteira, espontaneamente lhe 
cede o assento. (Reconhecimento) 
Comentado [na5]: A e B negociam que uma sentará na 
carteira no horário AB e a outra no horário CD. (Transação) 
jurídica”, Note-se que, diante de uma afronta ou ameaça ao direito 
objetivo, a jurisdição, sempre que afasta essa violação concreta ou 
iminente, faz valer o direito objetivo; no caso concreto, resolvendo do 
ponto de vista jurídico o conflito existente entre as partes. 
O escopo social da jurisdição consiste em resolver o conflito de 
interesses proporcionando às partes envolvidas a pacificação social, ou 
em outras palavras, resolver a “lide sociológica”. De nada adianta 
resolver o conflito no aspecto jurídico se no aspecto fático persiste a 
insatisfação das partes, o que naturalmente contribui para a 
manutenção do estado beligerante entre elas. A solução jurídica 
contribui para a manutenção do estado beligerante entre elas. A 
solução jurídica deve gerar pacificação no plano fático, em que os 
efeitos da jurisdição são suportados pelos jurisdicionados. 
O escopo educacional diz respeito à função da jurisdição de ensinar 
aos jurisdicionados – e não somente às partes envolvidas no processo 
– seus direitos e deveres. 
O escopo político pelo qual a jurisdição célere e efetiva fortalece o 
Estado com ente pacificador e como último guardião dos direitos 
fundamentais. Além disso, a jurisdição pode ser instrumento de 
participação política no controle dos demais atos estatais. 
2.2. Características da Jurisdição 
a) Caráter substitutivo: a jurisdição substitui a vontade das partes pela 
vontade da lei no caso concreto, resolvendo o conflito existente 
entre elas e proporcionando a pacificação social. Dessa forma, 
havendo um contrato de empréstimo inadimplido, e sendo a vontade 
da lei o pagamento de tal dívida, a jurisdição terá condições de 
substituir a vontade do devedor (de não pagar) pela vontade da lei 
(realização do pagamento). Exceções: 1) nas ações constitutivas 
necessárias em que mesmo havendo convergência de vontade das 
partes, a atuação da jurisdição é necessária (divórcio consensual); 
2) na execução indireta quando a atuação da vontade do devedor-
executado para cumprir a condenação é insubstituível sob pena 
ofensa à sua liberdade corporal (o juiz não pode segurar a mão do 
pintor famoso para pintar em seu lugar um quadro a que este foi 
condenado a confeccionar). 
b) Existência de lide: normalmente a jurisdição visa a compor a lide, 
mediante intervenção estatal. Exceções: 1) ações constitutivas 
necessárias; 2) processos objetivos (controle concentrado de 
constitucionalidade) etc. 
3. Inércia: apenas a parte pode iniciar o processo; o juiz não pode 
iniciar de ofício o processo porque a) compromete sua 
imparcialidade, b) pode transformar um conflito jurídico em conflito 
social, c) sacrifica os meios autocompositivos de solução dos 
conflitos. 
4. Definitividade: a decisão judicial – no processo de conhecimento – 
que solucionou o conflito deverá ser respeitada por todos, inclusive 
pelo Estado, diante do fenômeno da coisa julgada material. 
5. Processo (noção inicial) 
Processo indica a ideia de caminhar, caminhada. O processo é, por 
esse aspecto, um percurso que vai do ato inicial de sua formação ao 
provimento final que o juiz emitirá sobre a pretensão trazida a exame. 
6. Processo (conceito) 
 É uma série de atos interligados e coordenados ao objetivo de produzir 
a tutela jurisdicional justa, a serem realizados no exercício de poderes 
ou faculdades ou em cumprimento a deveres ou ônus. 
7. Processo e Procedimento 
Os atos interligados, em seu conjunto, são o procedimento. É o 
elemento visível do processo. As normas que o regem estabelecem 
quais atos devem ser realizados para que o processo seja apto a 
produzir o resultado desejado; descrevem a forma de que cada um 
deles deve revestir-se, estabelecema ordem sequencial de sua 
realização e instituem procedimentos diferenciados segundo certos 
critérios e destinados a tutela jurisdicional nas situações que 
descrevem. 
7.1. Procedimento: conceito e conteúdo 
Procedimento é o conjunto ordenado dos atos mediante os quais, no 
processo, o juiz exerce a jurisdição e as partes a defesa de seus 
interesses. 
O procedimento é constituído por atividades concretas que se realizam 
desde o início, com a apresentação da demanda ao Estado-juiz, até ao 
fim, quando este emite o provimento que irá reger a vida dos litigantes. 
Exemplos de procedimento: 
 
Procedimento 1 
 
 
 
Procedimento 2 
 
 
 
7.2. Interdependência entre os atos do processo 
Como elos da cadeia fechada que é o procedimento. Privados de 
objetivos próprios, os atos processuais recebem da união a sua 
eficácia. A outorga da tutela jurisdicional resulta da realização ordenada 
de todos. Daí serem eles interdependentes, no sentido de que os 
anteriores nada produzirão de prático sem os posteriores e estes 
têm sua validade condicionada à dos que os precedem. 
Omitido um ato essencial, o procedimento como um todo fica viciado. 
Caso típico é a exigência de citação, como ato indispensável cuja au-
sência ou defeitos graves comprometem a validade do procedimento 
todo (art. 214). 
Petição inicial com 
todas as provas 
documentais juntas 
Citação 
do réu 
B 
Defesa 
do réu B 
Julgamento 
Petição 
inicial 
Citação 
do réu B 
 
Defesa 
do réu B 
Despacho 
saneador 
Audiência de 
instrução 
Julgamento 
 
Comentado [na6]: Exemplos de Procedimentos: 
Procedimento 1: Ato 1 – A demanda Poder Judiciário para 
que B lhe conceda a carteira. Ato 2 – O Juiz ordena que B se 
retire da carteira. Ato 3 – Após a retirada de B, o Juiz ordena-
lhe a citação. Ato 4 
7.3. Procedimento rígido ou flexível –fases 
Cada ordenamento jurídico opta por rigor maior ou menor, na exigência 
da ordem em que os atos do procedimento devem ser realizados. O 
brasileiro adere tradicionalmente ao sistema de procedimento rígido, 
caracterizado pela nítida distribuição dos atos processuais em fases e 
pelo emprego acentuado do instituto da preclusão, destinado a impedir 
retrocessos. 
Procedimento rígido opõe-se a procedimento flexível. Este se 
caracteriza pela possibilidade de retrocessos. Surgindo fato novo na 
causa e havendo conveniência de esclarecê-lo, novas audiências se 
fazem apesar de já realizadas as que o sistema ordinariamente manda 
realizar. O juiz colhe manifestações das partes quantas vezes for 
necessário, praticamente à saciedade, sempre que sentir que elas 
ainda têm o que dizer em relação à discussão da causa. 
Não só o procedimento do processo de conhecimento em primeiro grau 
de jurisdição se desenvolve em fases (postulatória, ordinatória, 
instrutória e decisória). Em alguma medida, todos os procedimentos 
são compostos por fases mais ou menos definidas - quer cognitivos, 
quer executivos, quer cautelares, quer o monitório, os recursais etc. No 
Brasil não é usual falar em fases do procedimento executivo, mas elas 
existem: postulatória, instrutória e satisfativa. O procedimento do 
processo monitório tem duas fases, que são a monitoria e a executiva 
(arts. 1.102-b e 1.102-c), separadas pelo processo dos embargos que 
o réu opuser. 
7.4. Preclusões e as fases procedimentais 
O instituto da preclusão tem imensa relevância no sistema brasileiro de 
procedimento rígido. Ele dá apoio às regras que regem a ordem 
sequencial de realização dos atos do procedimento e sua distribuição 
em fases - fazendo-o mediante a imposição da perda de uma 
faculdade ou de um poder em certas situações. Quando a preclusão 
ocorre, já não poderá a parte realizar eficazmente o ato a que tinha 
direito nem exigir do juiz os atos que antes poderia exigir. Com isso, ela 
é um dos grandes responsáveis pela aceleração processual. Segundo 
as circunstâncias em que ocorre, a preclusão será: a) temporal, 
quando decorre do decurso do prazo sem a prática do ato que a parte 
tinha o poder ou a faculdade de realizar (p.ex., revelia); b) lógica, que 
é a consequência da prática de um ato incompatível com a vontade de 
exercer a faculdade ou poder (o reconhecimento do direito do autor 
elimina a faculdade de contestar para resistir a ele: art. 297 c/c art. 269, 
inc. II); c) consumativa, pelo exercício da própria faculdade ou poder 
(oferecido recurso contra uma decisão, não será admissível outro - 
princípio da unirrecorribilidade). 
7.5. Diversificação dos procedimentos (comum, especiais etc.) 
A diversificação dos procedimentos consiste na predeterminação dos 
atos e sua sequência, conforme a natureza do processo e os objetivos 
a obter. Em primeiro lugar, cada espécie de processo tem seus proce-
dimentos próprios, que diferem dos procedimentos próprios às outras 
espécies de processos. Os procedimentos do processo de 
conhecimento, que preparam um ato final consistente em julgar, são 
necessariamente diferentes dos procedimentos do processo executivo, 
que preparam a entrega do bem. Todos eles diferentes do 
procedimento do processo monitório, que prepara a constituição de um 
título executivo (mandado, art. 1102-b) e depois, em uma segunda fase, 
conduz a uma entrega (execução, art. 1.101 -c). Os procedimentos 
cautelares, que preparam medidas urgentes, têm as características de 
celeridade das quais depende a urgência da tutela. 
Depois, no campo de cada espécie de processo também ocorrem 
diversidades de procedimento. O processo civil brasileiro de 
conhecimento celebra-se segundo os trâmites do procedimento 
comum, que será ordinário ou sumário, ou dos procedimentos 
especiais - e estes serão, conforme o caso, de jurisdição contenciosa 
ou de jurisdição voluntária (arts. 272, 274 ss., 282 ss. c 890 ss.). 
Prevalece o procedimento comum nos casos para os quais a lei não 
determinar a observância de algum especial porque cada um destes é 
portador de peculiaridades bem definidas, que só se amoldam às 
peculiaridades de certos conflitos - e daí serem especiais. Entre os 
procedimentos comuns, só prevalece o ordinário quando não se 
configurar nenhuma hipótese regida pelo sumário, que o Código 
reserva para casos havido como merecedores de mais celeridade (art. 
275). 
No processo de execução regido pelo Código de Processo Civil, variam 
os procedimentos conforme o objeto do direito a ser atuado, sendo 
estes os procedimentos executivos (espécies de execução): a) 
execução por quantia certa contra devedor contra devedor 
solvente tendo por objeto dinheiro (arts. 646 ss.); b) execução para 
entrega de coisa certa, cujo objeto são coisas individualizadas; c) 
execução para entrega de coisa incerta, destinada a receber coisas 
determinadas pelo género e quantidade (arts. 621 ss.); d) execução por 
obrigação de fazer, para a atuação do direito a uma conduta alheia; e) 
execução por obrigação de não- fazer (arts. 632 ss.), relacionada 
com o direito a uma abstenção de conduta. No processo executivo 
inexiste um procedimento ordinário ao qual se chegasse por 
exclusão dos demais e que pudesse valer como convergência dos 
casos regidos por estes. 
No processo cautelar variam muito os procedimentos, conforme a 
natureza da cautela pretendida: há um procedimento cautelar ordinário, 
instituído principalmente para a preparação de tutelas inominadas (art. 
798), ao lado de um número significativo de procedimentos cautelares 
específicos (arresto, sequestro, busca-c-apreensão, produção 
antecipada de provas etc. - arts. 812 ss.). 
8. Processo e Relações Jurídicas Processuais 
A importância atribuída modernamenteà relação jurídica processual 
associa-se intimamente ao princípio do contraditório, com o juiz 
obrigado a praticá-lo efetivamente e a permitir que o pratiquem as 
partes. As situações jurídicas ativas que a ordem processual oferece 
às partes operam como instrumentação técnica dessa garantia 
constitucional 
Relações jurídicas dentro do processo: O conjunto de situações 
jurídicas ativas e passivas que autorizam ou exigem a realização dos 
atos é a relação jurídica processual (poderes, faculdades, deveres e 
ônus). Ela é a alma do processo cujo corpo é o procedimento. 
Os atos do procedimento não se realizam por acaso ou irracionalmente 
mas porque as partes têm a faculdade, o ónus, o poder ou o dever de 
realizá-los, ou porque tem o juiz o poder e o dever de impô-los ou de 
oferecê-los às partes. Assim como os procedimentos estabelecidos em 
lei são um fator de interligação coordenada de atos, assim também a 
relação jurídica processual é fator de interligação entre os sujeitos do 
processo. 
Define-se a relação jurídica processual, mediante a junção desses 
elementos conceituais, como o sistema dos vínculos regidos pelo 
direito que interligam os sujeitos do processo. Ou, em palavras mais 
simples e igualmente expressivas, relação entre os sujeitos do 
processo (Liebman). 
8.1. Os sujeitos da relação jurídica processual, ou do processo 
Sujeitos processuais são todas as pessoas que figuram como titulares 
das situações jurídicas ativas e passivas integrantes da relação jurídica 
processual. Ser sujeito do processo é ser titular dessas faculdades, 
ónus, poderes, deveres, autoridade ou sujeição. Só os sujeitos 
processuais, entre os quais o juiz, as partes e os auxiliares da Justiça, 
são legitimados a realizar os atos do processo, ao longo do 
procedimento. Os atos postulatórios das partes são realizados por seus 
advogados na qualidade de procuradores. 
Há sujeitos processuais parciais, que no processo estão em busca da 
satisfação de uma pretensão própria, ou alheia, ou mesmo de um grupo 
ou da sociedade como um todo - e que são as partes e os advogados; 
e sujeitos imparciais, que são os juízes no exercício da jurisdição, na 
qualidade de terceiros alheios ao conflito de interesses, bem como 
todos os auxiliares da Justiça, que mediante atividades 
complementares lhe dão o apoio indispensável para que a jurisdição 
possa ser exercida. O juiz e as partes dizem-se sujeitos principais, 
porque são estas as pessoas envolvidas nos conflitos de interesse 
trazidos à Justiça e é aquele quem decide a respeito do conflito e dirige 
o processo. São sujeitos secundários o advogado, que representa as 
partes, e os auxiliares da Justiça, subordinados ao juiz. 
8.2. Situações jurídicas processuais das partes 
8.2.1. Faculdades processuais 
Faculdade é, em sentido bem amplo, liberdade de conduta. 
A liberdade de conduta processual é sempre uma faculdade que a parte 
exercerá conforme queira, caracterizando-se como situação 
redobradamente ativa quando seu exercício lhe trouxer direito a uma 
providência do juiz (poder) e não deixando de ser o que é ainda quando 
haja a ameaça de consequências negativas pela omissão (ônus). 
Exemplos: faculdade de demandar, de provar, de contestar, de recorrer 
etc. 
8.2.2. Ônus processuais 
Ônus é, por definição, um imperativo do próprio interesse. É encargo, 
ou peso. Ele é o reverso de certas faculdades outorgadas às partes e 
caracteriza-se pelas consequências desfavoráveis que a lei associa a 
algumas delas. Há ónus quando o cumprimento de uma faculdade é 
necessário ou ao menos conveniente para a obtenção de uma 
vantagem ou para evitar uma situação desvantajosa. Os ónus não são 
impostos para o bem de outro sujeito, senão do próprio sujeito ao qual 
se dirigem. O descumprimento de um deles não causa malefício algum, 
ou diminuição patrimonial, nem frustra expectativas de outra pessoa. A 
parte tem plena liberdade de optar pela conduta ou pela omissão (daí, 
ser o cumprimento ou descumprimento do ónus uma faculdade), 
sabendo no entanto que, omitindo-se, agravará sua situação no 
processo (daí, tratar-se de um ônus). 
Os ônus diferem substancialmente das obrigações e dos deveres, cujo 
descumprimento contraria o direito e é sempre passível de ser 
sancionado de alguma forma, para que o beneficiário venha afinal a 
obter o resultado que o cumprimento voluntário e espontâneo teria 
produzido. Por isso, a ordem jurídica não municia pessoa alguma de 
meios para exigir de outrem o cumprimento dos ônus que a lei lhe 
atribui. 
O mais notório e ilustrativo dos ônus processuais é o da prova. Ao 
demonstrar a ocorrência dos fatos de seu interesse, a parte está 
favorecendo o acolhimento de sua própria pretensão, porque com isso 
evita ou reduz o risco de que ela venha a ser rejeitada; e o adversário 
não sofre gravame algum em caso de omissão - só tendo, ao contrário, 
motivos para regozijar-se e aplaudir. 
8.2.3. Poderes processuais 
Poder é capacidade de produzir efeitos sobre a esfera jurídica alheia. 
Bastante ilustrativo é o poder de recorrer: a parte vencida tem a 
faculdade de optar entre recorrer ou não recorrer, mas se optar por 
fazê-lo isso criará para o órgão jurisdicional superior o dever de proferir 
nova decisão. 
8.2.4. Deveres 
Dever é imperativo de conduta no interesse alheio. 
São raros os deveres das partes. A natureza duelística do processo 
conduz o legislador a optar prioritariamente pela técnica dos ônus, 
impondo consequências nefastas à parte que nesse combate baixe a 
guarda, sem revidar adequadamente aos golpes do adversário e sem 
assumir em seu próprio benefício as condutas legitimamente 
indispensáveis ou convenientes. Não existe o dever de contestar nem 
a revelia é um ilícito, ou rebeldia. 
Os poucos deveres processuais das partes constituem projeção e 
consequência de sua sujeição ao Estado-juiz e correlativa autoridade 
exercida por este no processo. Eles são instituídos para a defesa do 
interesse público no correto e eficiente exercício da jurisdição, 
incorrendo em ilícito aquele que os descumpre. O mais amplo e 
expressivo dos deveres das partes é o de lealdade, cuja transgressão 
a lei sanciona mediante repressão à litigância de má-fé e aos atos 
atentatórios à dignidade da Justiça (arts. 14, inc. V e par., 16-18 e 600-
601); na execução por quantia o devedor tem o dever de indicar quais 
são e onde se encontram seus bens penhoráveis, sob pena de sofrer 
as repressões inerentes ao atentado à dignidade da Justiça (art. 652, § 
3a). 
8.2.5. Não há direitos subjetivos e obrigações de natureza 
processual 
Direito subjetivo é uma situação jurídica de vantagem em relação a um 
bem. Obrigação, como contraposto negativo do direito subjetivo, é uma 
situação jurídica de desvantagem em relação ao mesmo bem. Ser 
titular de um direito significa receber da ordem jurídica a promessa de 
manutenção do bem ou a legítima expectativa de obtê-lo; ser titular de 
obrigação é ter o dever de entregá-lo ou de realizar o facere ou o non 
facere exigido pela lei. 
É impróprio falar em direitos e obrigações no processo, porque os 
deveres impostos aos seus sujeitos têm por objeto imediato a criação 
de situações processuais e não a obtenção de um bem da vida. 
8.2.6. As situações jurídicas do juiz no processo 
Os poderes do juiz não se confundem com os das partes. Os destas 
têm por fundamento as garantias constitucionais inerentes à 
participação e à defesa, enquanto aqueles constituem desdobramentos 
técnicos do próprio poder estatal. 
Por outro lado, a ordem jurídico-processual não outorga faculdades 
nem ônus ao juiz. As primeiras têm por premissa a disponibilidadede 
bens ou de situações jurídicas e, daí, serem conceituadas como 
liberdade de conduta: cada qual age ou omite-se segundo sua vontade 
e sua própria escolha, tendo em vista o resultado que mais lhe agrade. 
Mas o juiz não está no processo para gestão de seus próprios in-
teresses, senão para regular os de outrem, ou seja, das partes. Não 
tem disponibilidade alguma sobre esses interesses, que não são seus, 
nem sobre as situações jurídico-processuais ocupadas por elas. Todos 
os poderes que a lei lhe outorga são acompanhados do dever de 
exercê-los. 
Se não tem faculdades processuais, o juiz também não pode ter ônus. 
Só está sujeito a estes aquele que tem a ganhar ou a perder, pelo 
exercício da faculdade ou pela omissão em exercê-la. O Estado-juiz 
nada ganha e nada perde no processo, conforme o resultado da causa. 
Os interesses postos sob seu zelo e tutela não são seus, mas das 
partes. 
8.2.7. Relação jurídica tríplice 
Inserido o juiz na relação processual, constitui postulado axiomático da 
teoria do processo a conformação tríplice da relação jurídica 
processual. É absolutamente excluída a possibilidade de que as partes 
litiguem por si sós, com suas próprias forças e segundo as regras que 
elas próprias estabeleçam, cumpram ou deixem de cumprir - e ainda 
sem um diretor que dirija e discipline o combate. 
Só existe relação processual linear antes da citação. O processo 
reputa-se formado já com a propositura da demanda (art. 263) e, como 
o demandado ainda não foi integrado a ele, existirá durante esse 
efêmero lapso de tempo uma relação processual bilateral entre o 
demandante e o juiz. Não existe nisso qualquer transgressão conceitual 
ou sistemática porque é irracional negar a existência do processo antes 
da citação e, de outro lado, não se infirma a necessidade da presença 
do réu para que possa ser emitido o provimento jurisdicional final 
(garantia do contraditório) - com a ressalva da possibilidade do 
julgamento pela improcedência da demanda sem que ele haja sido 
citado (CPC, art. 285-A). 
8.2.8. Requisitos prévios à relação jurídica processual: os 
pressupostos processuais 
A existência da relação processual válida e viável é condicionada a 
certos requisitos indispensáveis. Tem-se por existente uma relação 
jurídica processual a partir de quando, pela demanda, se dá formação 
ao processo. Mas, posto que existente, há casos em que ela não reúne 
forças suficientes para prosseguir em direção ao objetivo final, que é a 
concessão de tutela jurisdicional àquele que tiver direito. Diz-se viável 
a relação processual dotada desses requisitos. 
A dois pressupostos está condicionada a existência da relação jurídica 
processual, a saber: a) a propositura de uma demanda e (b) a 
investidura jurisdicional do órgão a que é dirigida. 
A viabilidade do processo formado por uma demanda endereçada a um 
órgão jurisdicional está condicionada a outros três requisitos, que são: 
a) a regularidade da demanda proposta, (b) a plena capacidade do 
sujeito que a propõe e (c) a personalidade jurídica da pessoa que na 
demanda figura como demandado. 
Uma demanda corporificada em petição inicial inepta dá nascimento a 
uma relação processual, mas inviável porque é dever do juiz extinguir 
o processo logo ao nascedouro (art. 295, inc. I). 
Para a plena capacidade de um sujeito processual exige-se que ele 
tenha condições para ser parte (pessoas físicas e jurídicas etc. - art. 
12), que tenha capacidade de exercício de direitos segundo a lei civil 
(maioridade etc. - arts. 3º e 4º Código Civil) e que esteja representado 
por advogado (capacidade postulatória). Se ao demandante faltar 
qualquer um desses requisitos e portanto inexistir uma vontade 
regularmente externada no sentido de litigar em juízo, não será viável 
a relação processual. Ela se forma, o juiz despacha (ainda que para 
indeferir a petição inicial), mas não deve ir além. 
Também será assim se o demandado não tiver capacidade de ser 
parte, como se dá no caso do morto ou de uma Secretaria de Estado 
(mera divisão de serviço de uma pessoa jurídica). A apresentação da 
demanda ao Poder Judiciário, em casos assim, dá existência a uma 
relação processual mas ela não é viável porque jamais o polo passivo 
poderia vir a ser ocupado e porque, depois, eventual sentença de 
mérito não teria como ser efetivada, devendo o processo ser extinto o 
mais breve possível. Caso de inviabilidade, portanto. 
Em síntese: existem (a) requisitos prévios de existência da relação 
jurídica processual (demanda e investidura) e (b) requisitos de sua 
validade (regularidade da demanda, capacidade do demandante e 
personalidade jurídica do demandado). Todos eles são pressupostos 
processuais e sem algum deles inexiste relação processual regular e 
viável - ou porque não exista, ou porque exista, mas não tenha aptidão 
a produzir os resultados pretendidos pelo demandante. 
Uma outra abordagem dos pressupostos processuais é dada por 
Sérgio Bermudes. 
Para ele os pressupostos processuais dividem-se em 03 categorias: 
Pressupostos processuais subjetivos: 
A) relativos ao juiz: o juiz deve ser investido na função de membro do 
poder judiciário; o juiz deve ser competente; o juiz deve ser imparcial. 
B) relativos à parte: as partes devem ser pessoas (físicas ou jurídicas); 
as partes devem se achar no exercício de seus direitos, tendo, portanto, 
capacidade plena (as pessoas incapazes devem ser representadas ou 
assistidas; as pessoas jurídicas representadas, na forma da lei); as 
pessoas, além de plenamente capazes, devem atuar, no processo, 
mediante profissional técnico - advogado devidamente inscrito na OAB 
-, salvo se já forem advogados postulando em causa própria. 
Pressupostos processuais objetivos: 
A) extrínsecos: ausência de situações existentes fora do processo que 
impedem a viabilidade deste (coisa julgada, litispendência, perempção, 
compromisso arbitral). 
B) intrínsecos: subordinação do processo às normas jurídicas que 
representam o devido processo legal (citação válida, por exemplo) 
A falta de pressuposto processuais acarreta a extinção do processo 
sem possibilidade de julgamento de mérito (CPC, arts. 267, IV e V).

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