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A POSIÇÃO SUJEITO ALUNO DA EAD EM UM AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM (AVA) 1 Regina Aparecida Milléo de Paula2 (UNISUL) A fala de um aluno de EAD como exemplar Neste estudo pretende-se, ao tomarmos uma fala de um aluno de EAD como exemplar, tornar possível compreender alguns funcionamentos da EAD. O enunciado selecionado foi produzido por uma acadêmica do Curso de Licenciatura em Pedagogia na modalidade de Educação a Distância oferecida por uma instituição particular do Paraná. Essa análise preliminar constitui-se em um modo de aproximação daquilo que poderá se constituir em “recorte” para análise que desenvolverei mais a frente na escritura de minha tese de doutorado. Como a determinação dos aspectos sociais é fundamental para se iniciar uma análise, é preciso esclarecer que a acadêmica que produziu o enunciado cursava na ocasião o primeiro período do mencionado curso, em julho de 2007. O enunciado tomado como exemplar é encontrado no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do Portal do Curso denominado Webtutoria, ambiente em que a participação do aluno tem caráter avaliativo a partir de um questionamento apresentado pelo professor em um segundo encontro da disciplina, questionamento este com proposição argumentativa. Após a leitura da questão dada para Webtutoria, o representante do grupo deve reunir-se com os demais elementos e elaborar uma resposta à questão proposta que deve ser postada pelo representante do grupo no portal, em espaço próprio para webtutoria da disciplina em questão. A questão deve ser respondida em grupo e com consulta, sendo 1 As primeiras reflexões e inquietações expostas neste estudo foram apresentadas IX Encontro do Círculo de Estudos Linguísticos do Sul – CELSUL na Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL em Palhoça – SC em outubro de 2010. Posteriormente, deu-se continuidade ao estudo que resultou na apresentação de uma comunicação oral no IV Seminário Integrado e Interinstitucional Capital Social: Arte, Ciência, Cultura e Desenvolvimento Regional, nos dias 29 e 30 de abril de 2011 no Campus Universitário da UnC – Universidade do Contestado em Canoinhas- SC. Também foram apresentadas comunicações orais e artigos para publicação no V e VI Seminários Integrados e Interinstitucionais UNISUL/UNIVILLE/UnC que aconteceram em Joinville e Palhoça- SC, respectivamente, nos meses de julho e setembro de 2011. A sequência deste estudo resultou na apresentação de uma comunicação oral na 2ª Jornada Internacional de Estudos do Discurso – 2ª JIED em Maringá, Paraná, no mês de março de 2012. 2 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Ciências da Linguagem - UNISUL/SC. Orientanda da Profª Drª Solange M. L. Gallo. Bolsista CAPES. posteriormente avaliada pelo Webtutor. O webtutor avalia a resposta dada pelo grupo e a pontua fazendo comentários pertinentes à nota aferida. Portanto, o espaço em questão é destinado às postagens (inserções em portal) de respostas às questões feitas pelo professor titular da disciplina, porém é utilizado não só para este fim pela acadêmica em questão, como por vários outros alunos, como também para desabafos, congratulações aos professores, depoimentos de vida, reclamações, já que é um canal de resposta eficiente, rápido e direto com a instituição. A equipe de webtutores, tutores a distância – professores contratados especialmente para esta atividade pela IES, têm prazos pré-estabelecidos para analisar, corrigir e pontuar as respostas. Até então, os canais criados para fins de correspondências mais pessoais e específicas são: e-mail; call-center; requerimentos via correio, nos quais os interlocutores não são necessariamente professores e, devido ao número considerável deste tipo de mensagem, as eventuais demandas não são respondidas tão rapidamente. Outra razão pela qual os alunos se utilizam da webtutoria é a de que o professor titular oportuniza a participação para que o aluno envie dúvidas quanto às considerações teóricas expostas em teleaula e/ou encontradas em material impresso – apostila, também oportuniza que ele envie suas inferências sobre a temática estudada para que o professor, também cadastrado como webtutor, acesse e use algumas delas durante as teleaulas, o que faz com que o aluno assista em teleaula ao vivo, na expectativa de ouvir uma menção, tanto de suas respostas dadas em avaliação, quanto de inferências, dúvidas e perguntas feitas. O professor geralmente nomina o aluno, pólo presencial, região e estado que as enviou. Tal prática gera expectativa dos acadêmicos quanto aos nomes que serão citados, já que o professor os fala ao vivo além de parabenizar, enfatizar fazendo com que o autor da participação sinta-se, de certa forma, conhecido e reconhecido por todos os alunos, cerca de dez mil, que assistem aquela teleaula em diversas regiões do Brasil. O enunciado em questão é: Prof. Paulo, pelo amor de DEUS, mande um alô, para a nossa turma em Nossa Senhora do Socorro em Sergipe, para a gente saber que nós existimos. Pois ainda ninguém nos mandou um alô. Estamos adorando a sua aula. Obrigado. Função – autor e efeito- leitor na EAD O que se procura levar em conta nesse estudo é a historicidade na construção do sujeito neste ambiente virtual de aprendizagem (AVA), ambiente que “do ponto de vista discursivo, não é somente o suporte da linguagem, mas elemento constitutivo do sentido.” (GALLO, 2011, p. 411) Pretende-se compreender como este AVA/ Webtutoria onde um dizer é deixado para ser respondido, ficando em suspense (dependendo da demanda deste professor/webtutor), efetiva-se como um espaço em que deve se dar a “presentificação permanente do sentido”, conforme afirmado por Gallo (2011, p. 421): “Pensando, então, no “online”, por analogia ao “ao vivo”, o que temos aí é um preenchimento permanente dos “espaços cambiáveis” 3. Há uma fluidez que exige permanente presentificação.” Com este AVA/ Webtutoria, ambiente de participação do aluno, usado como possibilidade de interlocução com o professor, tem-se a materialização do que Gallo (2011, p. 422) salienta, ou seja, “a presentificação virtual que se dá pelo preenchimento permanente dos “espaços cambiáveis” (no caso, espaço entre o momento em que a pergunta é inserida/postada no AVA até ser respondida pelo professor webtutor). Gallo aborda a questão do status “pendente”, tão comum de ser usado/encontrado no AVA, referindo-se a ausência de um dos interlocutores e/ou quando a questão não foi respondida, Gallo (2011, p. 27) se refere à página do Skype que possui características possíveis de aproximação com os AVAs: “Se, por acaso, um dos interlocutores se ausenta, o preenchimento do “espaço cambiável” muda, justamente materializando essa não presença com o enunciado “pendente”.” (GALLO, 2011, p. 422) Então, questiona-se se esta fluidez deste espaço na produção do “online”, própria dos espaços da internet, portanto, um aspecto constitutivo do funcionamento da EAD provoca/implica o efeito de abandono e desamparo nos alunos aí inscritos? Parafraseando Orlandi (2010, p. 16): que espécie de sujeito e de sentidos são produzidos nesta(s) relações na EAD? Ainda ancorando-se em Orlandi (2010, p. 15): “Todas estas questões que coloco aqui têm um objetivo particular que é o de pensar a escola nessa conjuntura discursiva 3 Noção formulada por Gallo para dar conta do que a autora considerava o “ao vivo” nas produções radiofônicas analisadas, ainda em sua tese de doutorado: esses “espaços cambiáveis” eram os espaços preenchidos durante a transmissão: a locução da hora presente, as respostasaos ouvintes pelo telefone, etc. Uma vez preenchidos, eles refletiam seu efeito de “presente” para todo o conteúdo do programa. Em resposta ao desafio de dar conta dessa condição de produção “ao vivo”, então, que propusemos a noção de “espaços cambiáveis”. (GALLO, 2011, p. 421) que se instala e nos diferentes processos de leitura que se abrem como possibilidade. Talvez da tomada em consideração da materialidade da leitura no discurso eletrônico possam resultar novos modos de acesso aos sentidos, ao conhecimento.” Neste ponto da afirmação de Orlandi (2010, p. 15), é possível relacionar: pensar a escola é pensar também a EAD. Tal abordagem discursiva não permite descrever algo estanque, pois ao recortar o corpus, percebe-se que esse está movimentando-se e funcionando de um certo modo, não de um modo abstrato, idealizado, mas materialmente determinado. Assim se estabelece a diferença no tratamento de dados pelos que tematizam a EAD por outras teorias. Estes estudiosos partem do pressuposto de que este funcionamento está estabilizado, e ao considerar “agentes4”, fora das condições de produção “[...] não se dão conta que os conhecimentos não são partilhados pelos agentes do discurso. Esses conhecimentos são socialmente distribuídos, pois os agentes do discurso podem ocupar posições diferentes, e mesmo polêmicas dentro de formações discursivas distintas.” (ORLANDI, 1984, p. 12) Os estudos que abordam a EAD tendem a acreditar em uma correspondência total de qualquer sujeito com sua posição sujeito aluno da EAD, de qualquer sujeito com a posição sujeito professor titular da EAD, ou seja, sem deslizamentos, sem rupturas. Assim sendo, nesta perspectiva, basta o sujeito ser aluno da EAD e ele corresponderá totalmente ao denominado perfil do aluno de EAD, conforme descrito nos referenciais da EAD ou em Projetos Político Pedagógicos de Cursos desta modalidade. Desta forma, todos estes agentes5 já estarão prontos, padronizados. Como neste trabalho adota-se uma teoria materialista, acredita-se neste processo existirem rupturas, contradições, deslizamentos: Esse princípio diz que mais do que transmissão de informação, o discurso é efeito de sentido entre locutores (Pechêux, 1969). Por outro 4 O termo agentes é aqui tomados na perspectiva discursiva, como interlocutores, participantes do processo discursivo e não como é utilizado na terminologia da EAD, terminologia esta descrita na nota de rodapé 5. 5 O termo agentes aqui se refere a terminologia utilizada na EAD. Segundo Roesler (2008): São agentes do processo de ensino: o tutor, que guia o aluno de forma personalizada e individualizada durante todo o seu percurso universitário; o consultor, que acompanha o progresso do aluno em cada uma das disciplinas; e, para seu processo de ensino em rede, utiliza como recursos didáticos: o plano docente da disciplina, que define o processo de aprendizagem, as metodologias de trabalho e os critérios de avaliação; e os materiais didáticos multimídia que complementam os estudos específicos de cada disciplina. (ROESLER, 2008, p.34) lado, e de acordo com este mesmo princípio, já não se considera a linguagem de forma unilateral, ou como produtora (e o mundo é dado) ou como produto (e ela própria é dada). A linguagem passa a ser considerada como tal, ou seja, discurso. Dessa forma, ela pode ser observada na dinâmica de seu funcionamento, em que se procuram determinar os processos de sua constituição e que são de natureza sócio-histórica. (ORLANDI, 1984, p. 10-11) Tais considerações levam a questionar: Como este sujeito movimenta-se discursivamente na EAD? Ou seja, a posição sujeito aluno precisa ser “habitada” a partir de uma inscrição de um sujeito que vai assumir esta posição sujeito aluno da EAD não de todo, não completamente, já que atravessando esta posição tem-se muitos sentidos (político- governamental, institucional, pedagógico, da tecnologia, etc.). Este sujeito não abarca todos estes sentidos, ele vai ter um modo particular de se identificar ou se desidentificar nessa posição sujeito, ou seja, uma condição particular no modo de inscrição na posição que ele ocupa e na função- autor. “A função autor é tocada pelo modo particular e pela história: o outro consegue formular, no interior do formulável, e se constituir com seu enunciado, numa história de formulações.” (ORLANDI, 2006, p. 24) Assim, esta inscrição será afetada por este complexo de formações discursivas, por estas memórias, o que permite questionar: Quais memórias discursivas já mobilizadas podem funcionar nesta relação e quais memórias não são possíveis de serem mobilizadas e tem efeito de desidentificação quando este sujeito diz: Prof. Paulo, pelo amor de DEUS, mande um alô, para a nossa turma em Nossa Senhora do Socorro em Sergipe, para a gente saber que nós existimos. Desta forma, no presente estudo ainda acredita-se que o que está no âmbito da identificação e da desidentificação, pode-se tratar como função-autor, ou seja, condição inalienável do sujeito, já que no processo discursivo o sujeito não pode alienar-se. Ao dizer com-promete-se, responsabiliza-se, devassa-se, increve-se, já que a primeira marca da função autor é a assunção do sentido. Neste processo de assunção de sentido, este aluno como todo e qualquer sujeito “constrói uma relação organizada – em termos de discurso – produzindo um efeito- imaginário de unidade (com começo, meio, progressão, não contradição e fim)”. (ORLANDI, 2005, p.65) Dito de outro modo, neste processo constitui-se a função- autor: A Função – autor é a dimensão da autoria que está sempre presente. [...] a unidade do texto é um efeito [..] o texto em si é dispersão de sentidos. A Função – autor é a dimensão de todo o sujeito, que trabalha permanentemente com a contenção dessa dispersão. (GALLO, 2011, p. 415) Assim sendo, este sujeito aluno da EAD formula, textualiza seu apelo em função de uma imagem de leitor virtual: o professor, mais especificamente o Prof. Paulo. Neste dizer, este sujeito aluno da EAD produz possibilidades de sentido que encaminhariam para a constituição da posição sujeito professor; ao formular, este sujeito aluno evoca possibilidades de sentido em função de uma imagem de leitor virtual, ou seja, evoca a configuração de outra função do sujeito que é o efeito-leitor: [...] se temos, de um lado, a função-autor como unidade de sentido formulado, em função de uma imagem de leitor virtual, temos, de outro, o efeito-leitor como unidade (imaginária) de um sentido lido. [...] o efeito-leitor é uma função do sujeito como a função-autor. (ORLANDI, 2005, p. 65-66) O enunciado traz em si um leitor idealizado imaginado pelo sujeito aluno autor deste dizer, é este leitor projetado que na efetivação desta interlocução tem como leitor real um webtutor, e como “ler é fazer um gesto de interpretação”6 (ORLANDI, 2005, p. 68), a prática da leitura se dará sobre o texto produzido pelo sujeito aluno da EAD, ou, conforme foi explicado anteriormente, produzido pela função-autor. Desta forma, o webtutor lê a partir da posição-sujeito webtutor que constitui-se por atravessamentos dos quais um deles é o da posição sujeito professor, porém, tal atravessamento não a afeta de todo já que não é nesta posição que encontra-se inscrito ao ler o dizer deste aluno, assim, encontra-se submetido à determinadas condições de produção próprias da posição sujeito webtutor. 6 Entende-se gesto de interpretação conforme exposto por Gallo (2011a) em seu texto A internet como acontecimento: considerandoque o gesto de interpretação é aquele realizado pela forma-sujeito de determinada formação discursiva, e não um gesto produzido por um enunciador em particular. É bem verdade que esse gesto de interpretação da forma-sujeito está sempre materializado em uma posição de sujeito, mas essa posição está nos limites do que pode e deve ser dito no âmbito da forma-sujeito, relativa à FD em que o sujeito se inscreve. Por isso a posição-sujeito não é uma categoria somente enunciativa, mas eminentemente discursiva. Então, na relação, na interlocução7 webtutor x aluno na construção e desconstrução dos sentidos inscritos naquele enunciado, sentidos que em sua constituição se encontram afetados pela posição da qual o leitor processa a leitura, afetada pelo interdiscurso e pela formação discursiva, ocorre e decorre deste comprometimento um efeito nas formas de leitura, conforme Pêcheux (1997, p. 164) o “efeito leitor como constitutivo da subjetividade”. Pensando assim, a questão que se apresenta é: E na relação aluno x professor neste AVA, nesta função de autoria tem-se o efeito-leitor? Apropriando-me das considerações de Orlandi (2005, p. 62): “O que se propõe nesta reflexão é pensar a produção do efeito-leitor a partir da materialidade mesma do enunciado em questão com a discursividade e os diferentes gestos de interpretação que ali se dão e, deste modo, questionar se a autoria deste aluno corresponde a um efeito-leitor?” Para tanto, conforme afirmado anteriormente, este enunciado, considerado em sua materialidade textual, teria em si um efeito-leitor concebido e gestado pelos gestos de interpretação de quem o produziu, considerações que permitem afirmar que os efeitos de sentidos são processuais e constituem-se e constroem-se na relação de interlocução, “são efeitos da troca de linguagem que não nascem nem se extinguem no momento em que se fala.” (ORLANDI, 1996, p. 103), assim, um AVA que se caracteriza pela denominada interatividade8 que pode ser considerada como “a possibilidade [...] de transformar os envolvidos na comunicação, ao mesmo tempo, em emissores e receptores da mensagem”, cabe dizer que tal definição leva em conta na relação entre emissor e receptor uma troca de informação. Este AVA tem em sua constituição a memória discursiva deste conceito (informação), ou seja, “o saber discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma do pré-construído, o já dito que está na base do dizível, sustentando cada tomada da palavra” (ORLANDI, 2005ª, p. 31). Memória que reverbera nesta relação 7 Aqui, já que trata-se de uma abordagem discursiva, tem-se a opção de utilizar o termo interlocução e não o termo interação, termo tão próprio de estudos que tematizam EAD, tal escolha ancora-se em considerações de Orlandi quando esta coloca que somos sujeitos simbólicos vivendo espaços históricos- sociais.(ORLANDI, 2005, p. 149) 8 A definição de interatividade aqui utilizada foi retirada do texto Interatividade produzido pelo Laboratório Interdisciplinar de Tecnologias Educacionais – Faculdade de Educação FE – Unicamp disponível no endereço eletrônico: http://www.lite.fae.unicamp.br/sapiens/interatividade.htm aluno x professor, relação a ser estabelecida e construída sob forma de interação, ou seja, troca de informação vetorial entre os elementos da comunicação9, deste efeito de sentido gestado nesta memória de informação é que acredita-se que decorra o comprometimento na construção do efeito-leitor: pela relação de interatividade constitutiva deste AVA e pela virtualidade da posição sujeito professor que não se encontra inscrito neste ambiente no momento de textualização deste dizer. Daí lê-se nas marcas deste dizer: pelo amor de DEUS; Socorro que esta autoria não corresponde a um efeito-leitor; que esse lugar que a função autor evoca em desespero é o lugar do leitor. A marca para a gente saber que nós existimos textualiza que este autor não produz efeito para o leitor. Assim, retoma-se a questão: Qual é o efeito- leitor desta interlocução? A função enunciativo-discursiva, que é a do leitor, constitui um sujeito afetado pela sua inscrição no social. Quer dizer que o efeito-leitor é determinado historicamente pela relação sujeito com a ordem social. Isso se dá de tal modo que não é do alocutário (do “tu”) ou do destinatário (do leitor – ideal), mas do leitor (inscrito no social), que se cobra um modo de leitura (coerência, unidade, etc). Desta forma, na produção de leitura, ele entra com as condições que o caracterizam sócio- historicamente. Ele terá, assim, sua identidade de leitura configurada pelo seu lugar no social e é em relação a esse “seu” lugar que se define “sua” leitura. O efeito-leitor é, pois, relativo à posição sujeito. (ORLANDI, 1996, p. 104) Na relação webtutor x aluno, tem-se para o webtutor exercendo sua posição sujeito de mediador nas ações de filtrar participações no AVA que tematizem teoria das demais participações, ou seja, posição sujeito com atravessamentos dos sentidos de controle; seleção; do que pode ou deve ser dito/repassado ao professor titular produz-se o efeito- leitor. Este determinado historicamente pela relação sujeito com uma produção de resposta que deve ser cordial, porém evasiva, ou seja, o modo de leitura que é cobrado deste webtutor como leitor desta participação é este de transmissão e troca de informação entre emissor x receptor. Portanto, a memória discursiva deste AVA, “aquilo que face a um texto surge como acontecimentos a ler” (PÊCHEUX, 1999, p. 9 Elementos da comunicação segundo Esquema da Comunicação de Jakobson (2005) esquema que caracteriza a comunicação como todo o processo de transmissão e de troca de mensagens entre seres humanos. 52), como ambiente de interatividade não é comprometida já que na produção de leitura, o webtutor entra com as condições que o caracterizam sócio- historicamente. “Ele terá, assim, sua identidade de leitura configurada pelo seu lugar no social e é em relação a esse “seu” lugar que se define “sua” leitura. O efeito-leitor é, pois, relativo à posição sujeito.” (ORLANDI, 1996, p. 104.) Já na relação aluno x professor, o aluno ao assumir em seu dizer o não reconheci-mento da sua existência: para a gente saber que nós existimos, este sujeito assume a autoria para dizer que não se reconhece tendo um lugar no social, consequentemente, não reconhece sua identidade de leitura, resultando num não lugar e, portanto, não definindo um efeito de leitura, o lugar que este sujeito aluno clama é o lugar do leitor. Como este estudo encontra-se em fase muito inicial visto que faz parte das questões norteadoras da tese de doutorado que ainda encontra-se em fase de escritura, acredita-se que esta autora e suas considerações aqui expostas também clamam e evocam saber se realmente existem. Referências GALLO, S. L. A Internet como Acontecimento discursivo. In. INDURSKY, Freda; MITTMANN, Solange (orgs). Memória e história na/da Análise do Discurso. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2011a. ________. Da Escrita à Escritoralidade: um percurso em direção ao autor online. 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