Buscar

ARTIGO ANAIS Cielli 2012 Regina A M Paula

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A POSIÇÃO SUJEITO ALUNO DA EAD EM UM AMBIENTE VIRTUAL DE 
APRENDIZAGEM (AVA) 1 
Regina Aparecida Milléo de Paula2 (UNISUL) 
 
A fala de um aluno de EAD como exemplar 
Neste estudo pretende-se, ao tomarmos uma fala de um aluno de EAD como 
exemplar, tornar possível compreender alguns funcionamentos da EAD. O enunciado 
selecionado foi produzido por uma acadêmica do Curso de Licenciatura em Pedagogia 
na modalidade de Educação a Distância oferecida por uma instituição particular do 
Paraná. Essa análise preliminar constitui-se em um modo de aproximação daquilo que 
poderá se constituir em “recorte” para análise que desenvolverei mais a frente na 
escritura de minha tese de doutorado. 
Como a determinação dos aspectos sociais é fundamental para se iniciar uma 
análise, é preciso esclarecer que a acadêmica que produziu o enunciado cursava na 
ocasião o primeiro período do mencionado curso, em julho de 2007. O enunciado 
tomado como exemplar é encontrado no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do 
Portal do Curso denominado Webtutoria, ambiente em que a participação do aluno tem 
caráter avaliativo a partir de um questionamento apresentado pelo professor em um 
segundo encontro da disciplina, questionamento este com proposição argumentativa. 
Após a leitura da questão dada para Webtutoria, o representante do grupo deve reunir-se 
com os demais elementos e elaborar uma resposta à questão proposta que deve ser 
postada pelo representante do grupo no portal, em espaço próprio para webtutoria da 
disciplina em questão. A questão deve ser respondida em grupo e com consulta, sendo 
 
1
 As primeiras reflexões e inquietações expostas neste estudo foram apresentadas IX Encontro do Círculo de Estudos 
Linguísticos do Sul – CELSUL na Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL em Palhoça – SC em 
outubro de 2010. Posteriormente, deu-se continuidade ao estudo que resultou na apresentação de uma 
comunicação oral no IV Seminário Integrado e Interinstitucional Capital Social: Arte, Ciência, Cultura e 
Desenvolvimento Regional, nos dias 29 e 30 de abril de 2011 no Campus Universitário da UnC – Universidade 
do Contestado em Canoinhas- SC. Também foram apresentadas comunicações orais e artigos para publicação no 
V e VI Seminários Integrados e Interinstitucionais UNISUL/UNIVILLE/UnC que aconteceram em Joinville e 
Palhoça- SC, respectivamente, nos meses de julho e setembro de 2011. A sequência deste estudo resultou na 
apresentação de uma comunicação oral na 2ª Jornada Internacional de Estudos do Discurso – 2ª JIED em 
Maringá, Paraná, no mês de março de 2012. 
2
 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Ciências da Linguagem - UNISUL/SC. Orientanda da Profª Drª 
Solange M. L. Gallo. Bolsista CAPES. 
 
posteriormente avaliada pelo Webtutor. O webtutor avalia a resposta dada pelo grupo e 
a pontua fazendo comentários pertinentes à nota aferida. 
Portanto, o espaço em questão é destinado às postagens (inserções em portal) de 
respostas às questões feitas pelo professor titular da disciplina, porém é utilizado não só 
para este fim pela acadêmica em questão, como por vários outros alunos, como também 
para desabafos, congratulações aos professores, depoimentos de vida, reclamações, já 
que é um canal de resposta eficiente, rápido e direto com a instituição. A equipe de 
webtutores, tutores a distância – professores contratados especialmente para esta 
atividade pela IES, têm prazos pré-estabelecidos para analisar, corrigir e pontuar as 
respostas. Até então, os canais criados para fins de correspondências mais pessoais e 
específicas são: e-mail; call-center; requerimentos via correio, nos quais os 
interlocutores não são necessariamente professores e, devido ao número considerável 
deste tipo de mensagem, as eventuais demandas não são respondidas tão rapidamente. 
Outra razão pela qual os alunos se utilizam da webtutoria é a de que o professor 
titular oportuniza a participação para que o aluno envie dúvidas quanto às considerações 
teóricas expostas em teleaula e/ou encontradas em material impresso – apostila, também 
oportuniza que ele envie suas inferências sobre a temática estudada para que o 
professor, também cadastrado como webtutor, acesse e use algumas delas durante as 
teleaulas, o que faz com que o aluno assista em teleaula ao vivo, na expectativa de ouvir 
uma menção, tanto de suas respostas dadas em avaliação, quanto de inferências, dúvidas 
e perguntas feitas. O professor geralmente nomina o aluno, pólo presencial, região e 
estado que as enviou. 
Tal prática gera expectativa dos acadêmicos quanto aos nomes que serão citados, 
já que o professor os fala ao vivo além de parabenizar, enfatizar fazendo com que o 
autor da participação sinta-se, de certa forma, conhecido e reconhecido por todos os 
alunos, cerca de dez mil, que assistem aquela teleaula em diversas regiões do Brasil. 
O enunciado em questão é: 
Prof. Paulo, pelo amor de DEUS, mande um alô, para a nossa turma em Nossa 
Senhora do Socorro em Sergipe, para a gente saber que nós existimos. Pois ainda 
ninguém nos mandou um alô. Estamos adorando a sua aula. Obrigado. 
 
Função – autor e efeito- leitor na EAD 
 
O que se procura levar em conta nesse estudo é a historicidade na construção do 
sujeito neste ambiente virtual de aprendizagem (AVA), ambiente que “do ponto de vista 
discursivo, não é somente o suporte da linguagem, mas elemento constitutivo do 
sentido.” (GALLO, 2011, p. 411) 
Pretende-se compreender como este AVA/ Webtutoria onde um dizer é deixado 
para ser respondido, ficando em suspense (dependendo da demanda deste 
professor/webtutor), efetiva-se como um espaço em que deve se dar a “presentificação 
permanente do sentido”, conforme afirmado por Gallo (2011, p. 421): “Pensando, então, 
no “online”, por analogia ao “ao vivo”, o que temos aí é um preenchimento permanente 
dos “espaços cambiáveis” 3. Há uma fluidez que exige permanente presentificação.” 
Com este AVA/ Webtutoria, ambiente de participação do aluno, usado como 
possibilidade de interlocução com o professor, tem-se a materialização do que Gallo 
(2011, p. 422) salienta, ou seja, “a presentificação virtual que se dá pelo preenchimento 
permanente dos “espaços cambiáveis” (no caso, espaço entre o momento em que a 
pergunta é inserida/postada no AVA até ser respondida pelo professor webtutor). Gallo 
aborda a questão do status “pendente”, tão comum de ser usado/encontrado no AVA, 
referindo-se a ausência de um dos interlocutores e/ou quando a questão não foi 
respondida, Gallo (2011, p. 27) se refere à página do Skype que possui características 
possíveis de aproximação com os AVAs: “Se, por acaso, um dos interlocutores se 
ausenta, o preenchimento do “espaço cambiável” muda, justamente materializando essa 
não presença com o enunciado “pendente”.” (GALLO, 2011, p. 422) 
Então, questiona-se se esta fluidez deste espaço na produção do “online”, 
própria dos espaços da internet, portanto, um aspecto constitutivo do funcionamento 
da EAD provoca/implica o efeito de abandono e desamparo nos alunos aí inscritos? 
Parafraseando Orlandi (2010, p. 16): que espécie de sujeito e de sentidos são 
produzidos nesta(s) relações na EAD? 
Ainda ancorando-se em Orlandi (2010, p. 15): “Todas estas questões que coloco 
aqui têm um objetivo particular que é o de pensar a escola nessa conjuntura discursiva 
 
3
 Noção formulada por Gallo para dar conta do que a autora considerava o “ao vivo” nas produções radiofônicas 
analisadas, ainda em sua tese de doutorado: esses “espaços cambiáveis” eram os espaços preenchidos durante a 
transmissão: a locução da hora presente, as respostasaos ouvintes pelo telefone, etc. Uma vez preenchidos, eles 
refletiam seu efeito de “presente” para todo o conteúdo do programa. Em resposta ao desafio de dar conta dessa 
condição de produção “ao vivo”, então, que propusemos a noção de “espaços cambiáveis”. (GALLO, 2011, p. 421) 
 
que se instala e nos diferentes processos de leitura que se abrem como possibilidade. 
Talvez da tomada em consideração da materialidade da leitura no discurso eletrônico 
possam resultar novos modos de acesso aos sentidos, ao conhecimento.” Neste ponto da 
afirmação de Orlandi (2010, p. 15), é possível relacionar: pensar a escola é pensar 
também a EAD. 
Tal abordagem discursiva não permite descrever algo estanque, pois ao recortar 
o corpus, percebe-se que esse está movimentando-se e funcionando de um certo modo, 
não de um modo abstrato, idealizado, mas materialmente determinado. Assim se 
estabelece a diferença no tratamento de dados pelos que tematizam a EAD por outras 
teorias. Estes estudiosos partem do pressuposto de que este funcionamento está 
estabilizado, e ao considerar “agentes4”, fora das condições de produção “[...] não se 
dão conta que os conhecimentos não são partilhados pelos agentes do discurso. Esses 
conhecimentos são socialmente distribuídos, pois os agentes do discurso podem ocupar 
posições diferentes, e mesmo polêmicas dentro de formações discursivas distintas.” 
(ORLANDI, 1984, p. 12) 
Os estudos que abordam a EAD tendem a acreditar em uma correspondência 
total de qualquer sujeito com sua posição sujeito aluno da EAD, de qualquer sujeito 
com a posição sujeito professor titular da EAD, ou seja, sem deslizamentos, sem 
rupturas. Assim sendo, nesta perspectiva, basta o sujeito ser aluno da EAD e ele 
corresponderá totalmente ao denominado perfil do aluno de EAD, conforme descrito 
nos referenciais da EAD ou em Projetos Político Pedagógicos de Cursos desta 
modalidade. Desta forma, todos estes agentes5 já estarão prontos, padronizados. Como 
neste trabalho adota-se uma teoria materialista, acredita-se neste processo existirem 
rupturas, contradições, deslizamentos: 
 
Esse princípio diz que mais do que transmissão de informação, o 
discurso é efeito de sentido entre locutores (Pechêux, 1969). Por outro 
 
4
 O termo agentes é aqui tomados na perspectiva discursiva, como interlocutores, participantes do processo 
discursivo e não como é utilizado na terminologia da EAD, terminologia esta descrita na nota de rodapé 5. 
5
 O termo agentes aqui se refere a terminologia utilizada na EAD. Segundo Roesler (2008): São agentes do processo 
de ensino: o tutor, que guia o aluno de forma personalizada e individualizada durante todo o seu percurso 
universitário; o consultor, que acompanha o progresso do aluno em cada uma das disciplinas; e, para seu processo de 
ensino em rede, utiliza como recursos didáticos: o plano docente da disciplina, que define o processo de 
aprendizagem, as metodologias de trabalho e os critérios de avaliação; e os materiais didáticos multimídia que 
complementam os estudos específicos de cada disciplina. (ROESLER, 2008, p.34) 
 
lado, e de acordo com este mesmo princípio, já não se considera a 
linguagem de forma unilateral, ou como produtora (e o mundo é dado) 
ou como produto (e ela própria é dada). A linguagem passa a ser 
considerada como tal, ou seja, discurso. Dessa forma, ela pode ser 
observada na dinâmica de seu funcionamento, em que se procuram 
determinar os processos de sua constituição e que são de natureza 
sócio-histórica. (ORLANDI, 1984, p. 10-11) 
 
Tais considerações levam a questionar: Como este sujeito movimenta-se 
discursivamente na EAD? 
Ou seja, a posição sujeito aluno precisa ser “habitada” a partir de uma inscrição 
de um sujeito que vai assumir esta posição sujeito aluno da EAD não de todo, não 
completamente, já que atravessando esta posição tem-se muitos sentidos (político-
governamental, institucional, pedagógico, da tecnologia, etc.). 
Este sujeito não abarca todos estes sentidos, ele vai ter um modo particular de se 
identificar ou se desidentificar nessa posição sujeito, ou seja, uma condição particular 
no modo de inscrição na posição que ele ocupa e na função- autor. “A função autor é 
tocada pelo modo particular e pela história: o outro consegue formular, no interior do 
formulável, e se constituir com seu enunciado, numa história de formulações.” 
(ORLANDI, 2006, p. 24) 
Assim, esta inscrição será afetada por este complexo de formações discursivas, 
por estas memórias, o que permite questionar: Quais memórias discursivas já 
mobilizadas podem funcionar nesta relação e quais memórias não são possíveis de 
serem mobilizadas e tem efeito de desidentificação quando este sujeito diz: Prof. 
Paulo, pelo amor de DEUS, mande um alô, para a nossa turma em Nossa Senhora 
do Socorro em Sergipe, para a gente saber que nós existimos. 
 Desta forma, no presente estudo ainda acredita-se que o que está no âmbito da 
identificação e da desidentificação, pode-se tratar como função-autor, ou seja, condição 
inalienável do sujeito, já que no processo discursivo o sujeito não pode alienar-se. Ao 
dizer com-promete-se, responsabiliza-se, devassa-se, increve-se, já que a primeira 
marca da função autor é a assunção do sentido. 
Neste processo de assunção de sentido, este aluno como todo e qualquer sujeito 
“constrói uma relação organizada – em termos de discurso – produzindo um efeito-
imaginário de unidade (com começo, meio, progressão, não contradição e fim)”. 
 
(ORLANDI, 2005, p.65) Dito de outro modo, neste processo constitui-se a função-
autor: 
A Função – autor é a dimensão da autoria que está sempre presente. 
[...] a unidade do texto é um efeito [..] o texto em si é dispersão de 
sentidos. A Função – autor é a dimensão de todo o sujeito, que 
trabalha permanentemente com a contenção dessa dispersão. 
(GALLO, 2011, p. 415) 
 
Assim sendo, este sujeito aluno da EAD formula, textualiza seu apelo em 
função de uma imagem de leitor virtual: o professor, mais especificamente o Prof. 
Paulo. Neste dizer, este sujeito aluno da EAD produz possibilidades de sentido que 
encaminhariam para a constituição da posição sujeito professor; ao formular, este 
sujeito aluno evoca possibilidades de sentido em função de uma imagem de leitor 
virtual, ou seja, evoca a configuração de outra função do sujeito que é o efeito-leitor: 
 
[...] se temos, de um lado, a função-autor como unidade de sentido 
formulado, em função de uma imagem de leitor virtual, temos, de 
outro, o efeito-leitor como unidade (imaginária) de um sentido lido. 
[...] o efeito-leitor é uma função do sujeito como a função-autor. 
(ORLANDI, 2005, p. 65-66) 
 
O enunciado traz em si um leitor idealizado imaginado pelo sujeito aluno autor 
deste dizer, é este leitor projetado que na efetivação desta interlocução tem como leitor 
real um webtutor, e como “ler é fazer um gesto de interpretação”6 (ORLANDI, 2005, p. 
68), a prática da leitura se dará sobre o texto produzido pelo sujeito aluno da EAD, ou, 
conforme foi explicado anteriormente, produzido pela função-autor. Desta forma, o 
webtutor lê a partir da posição-sujeito webtutor que constitui-se por atravessamentos 
dos quais um deles é o da posição sujeito professor, porém, tal atravessamento não a 
afeta de todo já que não é nesta posição que encontra-se inscrito ao ler o dizer deste 
aluno, assim, encontra-se submetido à determinadas condições de produção próprias da 
posição sujeito webtutor. 
 
6
 Entende-se gesto de interpretação conforme exposto por Gallo (2011a) em seu texto A internet como 
acontecimento: considerandoque o gesto de interpretação é aquele realizado pela forma-sujeito de 
determinada formação discursiva, e não um gesto produzido por um enunciador em particular. É bem 
verdade que esse gesto de interpretação da forma-sujeito está sempre materializado em uma posição de 
sujeito, mas essa posição está nos limites do que pode e deve ser dito no âmbito da forma-sujeito, relativa 
à FD em que o sujeito se inscreve. Por isso a posição-sujeito não é uma categoria somente enunciativa, 
mas eminentemente discursiva. 
 
Então, na relação, na interlocução7 webtutor x aluno na construção e 
desconstrução dos sentidos inscritos naquele enunciado, sentidos que em sua 
constituição se encontram afetados pela posição da qual o leitor processa a leitura, 
afetada pelo interdiscurso e pela formação discursiva, ocorre e decorre deste 
comprometimento um efeito nas formas de leitura, conforme Pêcheux (1997, p. 164) o 
“efeito leitor como constitutivo da subjetividade”. 
Pensando assim, a questão que se apresenta é: E na relação aluno x professor 
neste AVA, nesta função de autoria tem-se o efeito-leitor? Apropriando-me das 
considerações de Orlandi (2005, p. 62): “O que se propõe nesta reflexão é pensar a 
produção do efeito-leitor a partir da materialidade mesma do enunciado em 
questão com a discursividade e os diferentes gestos de interpretação que ali se dão 
e, deste modo, questionar se a autoria deste aluno corresponde a um efeito-leitor?” 
Para tanto, conforme afirmado anteriormente, este enunciado, considerado em 
sua materialidade textual, teria em si um efeito-leitor concebido e gestado pelos gestos 
de interpretação de quem o produziu, considerações que permitem afirmar que os 
efeitos de sentidos são processuais e constituem-se e constroem-se na relação de 
interlocução, “são efeitos da troca de linguagem que não nascem nem se extinguem no 
momento em que se fala.” (ORLANDI, 1996, p. 103), assim, um AVA que se 
caracteriza pela denominada interatividade8 que pode ser considerada como “a 
possibilidade [...] de transformar os envolvidos na comunicação, ao mesmo tempo, em 
emissores e receptores da mensagem”, cabe dizer que tal definição leva em conta na 
relação entre emissor e receptor uma troca de informação. 
Este AVA tem em sua constituição a memória discursiva deste conceito 
(informação), ou seja, “o saber discursivo que torna possível todo dizer e que retorna 
sob a forma do pré-construído, o já dito que está na base do dizível, sustentando cada 
tomada da palavra” (ORLANDI, 2005ª, p. 31). Memória que reverbera nesta relação 
 
7
 Aqui, já que trata-se de uma abordagem discursiva, tem-se a opção de utilizar o termo interlocução e 
não o termo interação, termo tão próprio de estudos que tematizam EAD, tal escolha ancora-se em 
considerações de Orlandi quando esta coloca que somos sujeitos simbólicos vivendo espaços históricos-
sociais.(ORLANDI, 2005, p. 149) 
8
 A definição de interatividade aqui utilizada foi retirada do texto Interatividade produzido pelo 
Laboratório Interdisciplinar de Tecnologias Educacionais – Faculdade de Educação FE – Unicamp 
disponível no endereço eletrônico: http://www.lite.fae.unicamp.br/sapiens/interatividade.htm 
 
aluno x professor, relação a ser estabelecida e construída sob forma de interação, ou 
seja, troca de informação vetorial entre os elementos da comunicação9, deste efeito de 
sentido gestado nesta memória de informação é que acredita-se que decorra o 
comprometimento na construção do efeito-leitor: pela relação de interatividade 
constitutiva deste AVA e pela virtualidade da posição sujeito professor que não se 
encontra inscrito neste ambiente no momento de textualização deste dizer. Daí lê-se nas 
marcas deste dizer: pelo amor de DEUS; Socorro que esta autoria não corresponde a 
um efeito-leitor; que esse lugar que a função autor evoca em desespero é o lugar do 
leitor. A marca para a gente saber que nós existimos textualiza que este autor não 
produz efeito para o leitor. Assim, retoma-se a questão: Qual é o efeito- leitor desta 
interlocução? 
 
A função enunciativo-discursiva, que é a do leitor, constitui um sujeito 
afetado pela sua inscrição no social. Quer dizer que o efeito-leitor é 
determinado historicamente pela relação sujeito com a ordem social. 
Isso se dá de tal modo que não é do alocutário (do “tu”) ou do 
destinatário (do leitor – ideal), mas do leitor (inscrito no social), que 
se cobra um modo de leitura (coerência, unidade, etc). Desta forma, na 
produção de leitura, ele entra com as condições que o caracterizam 
sócio- historicamente. Ele terá, assim, sua identidade de leitura 
configurada pelo seu lugar no social e é em relação a esse “seu” lugar 
que se define “sua” leitura. O efeito-leitor é, pois, relativo à posição 
sujeito. (ORLANDI, 1996, p. 104) 
 
Na relação webtutor x aluno, tem-se para o webtutor exercendo sua posição 
sujeito de mediador nas ações de filtrar participações no AVA que tematizem teoria das 
demais participações, ou seja, posição sujeito com atravessamentos dos sentidos de 
controle; seleção; do que pode ou deve ser dito/repassado ao professor titular produz-se 
o efeito- leitor. Este determinado historicamente pela relação sujeito com uma produção 
de resposta que deve ser cordial, porém evasiva, ou seja, o modo de leitura que é 
cobrado deste webtutor como leitor desta participação é este de transmissão e troca de 
informação entre emissor x receptor. Portanto, a memória discursiva deste AVA, 
“aquilo que face a um texto surge como acontecimentos a ler” (PÊCHEUX, 1999, p. 
 
9
 Elementos da comunicação segundo Esquema da Comunicação de Jakobson (2005) esquema que 
caracteriza a comunicação como todo o processo de transmissão e de troca de mensagens entre seres 
humanos. 
 
52), como ambiente de interatividade não é comprometida já que na produção de leitura, 
o webtutor entra com as condições que o caracterizam sócio- historicamente. “Ele terá, 
assim, sua identidade de leitura configurada pelo seu lugar no social e é em relação a 
esse “seu” lugar que se define “sua” leitura. O efeito-leitor é, pois, relativo à posição 
sujeito.” (ORLANDI, 1996, p. 104.) 
Já na relação aluno x professor, o aluno ao assumir em seu dizer o não 
reconheci-mento da sua existência: para a gente saber que nós existimos, este sujeito 
assume a autoria para dizer que não se reconhece tendo um lugar no social, 
consequentemente, não reconhece sua identidade de leitura, resultando num não lugar e, 
portanto, não definindo um efeito de leitura, o lugar que este sujeito aluno clama é o 
lugar do leitor. 
Como este estudo encontra-se em fase muito inicial visto que faz parte das 
questões norteadoras da tese de doutorado que ainda encontra-se em fase de escritura, 
acredita-se que esta autora e suas considerações aqui expostas também clamam e 
evocam saber se realmente existem. 
 
Referências 
GALLO, S. L. A Internet como Acontecimento discursivo. In. INDURSKY, Freda; 
MITTMANN, Solange (orgs). Memória e história na/da Análise do Discurso. 
Campinas, SP: Mercado das Letras, 2011a. 
 
________. Da Escrita à Escritoralidade: um percurso em direção ao autor online. In: 
RODRIGUES, Eduardo Alves; SANTOS, Gabriel Leopoldino dos; CASTELLO 
BRANCO, Luiza Katia Andrade. (Org.). Análise de Discurso no Brasil: pensando o 
impensado sempre. Uma homenagem a Eni Orlandi. Campinas, SP: Editora RG, 2011. 
 
JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. São Paulo, Cultrix, 2005. 
 
Laboratório Interdisciplinar de Tecnologias Educacionais – Faculdade de Educação FE–
Unicamp. Interatividade. Disponível em: 
http://www.lite.fae.unicamp.br/sapiens/interatividade.htmAcesso maio de 2012. 
 
ORLANDI, E. P. Análise do Discurso: princípios e procedimentos. São Paulo: Pontes, 
2005a. 
_________. Discurso e texto: formulação e circulação dos sentidos. Campinas: Pontes, 
2005. 
_________. Introdução às ciências da linguagem. In: ORLANDI, Eni & LAGAZZI-
RODRIGUES, Suzy (orgs). Discurso e textualidade. Campinas, Pontes, 2006. 
 
 
_________. O intelegível, o interpretável e o compreensível. In: Discurso e Leitura. 3ª 
Ed. Campinas: Cortez, 1996. 
 
________. Os sentidos de uma estátua: espaço, individuação, acontecimento e memória. 
En-tremeios: revista de estudos do discurso. v.1, n.1, jul/2010. Disponível em 
http://www.entremeios.inf.br Acesso maio de 2012. 
 
________. Segmentar ou recortar. ln: Lingüística: questões e controvérsias. Uberaba, 
1984. 
 
PÊCHEUX, Michel. Análise automática do discurso. Tradução de Eni P. Orlandi. In: 
GADET, Françoise; HAK, Tony (orgs.). Por uma análise automática do discurso: uma 
intro-dução à obra de Michel Pêcheux. Campinas: Unicamp, 1997. 
 
________. Papel da memória. In: P. Achard (org.). Campinas: Pontes, 1999. 
 
ROESLER, JUCIMARA. Comunicação, socialidade e educação on-line. Tese 
apresentada no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Faculdade de 
Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 
PUCRS. Porto Alegre, 2008.

Outros materiais