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Exposições Tóxicas a Produtos Cáusticos Jornada de Toxicologia e Toxinologia Clínica CCI/FCM/UNICAMP Camila Carbone Prado Cáusticos ou corrosivos são substâncias químicas que provocam profunda desorganização dos tecidos seja por desidratação (coagulantes), seja por dissolução das membranas (liquefacientes) Cáusticos Diluição Neutralização REAÇÃO EXOTÉRMICA Neutralização Ácido + Álcali H2O + Sal Calor Cáusticos • A gravidade das lesões depende: –pH da solução –Concentração –Viscosidade –Tempo de contato com os tecidos –Volume –Região afetada Cáusticos - Álcalis • Soda cáustica = hidróxido de sódio – Limpa forno, desentupidores, sapólio, desengraxantes – Produtos com pH14! • Amônia de uso doméstico – Limpeza de sanitários, polidores de metal e antiferrugem, tintas de cabelo – Uso doméstico concentração de 3-10% – Estenose esofágica com concentrações de 28% Cáusticos - Álcalis • Alvejantes = hipoclorito de sódio – Risco de lesões quando concentração > 10% – Preparações clandestinas com as mais variadas concentrações • Permanganato de potássio – Soluções antissépticas e secativas • Baterias em disco – Relógios e brinquedos Cáusticos - Álcalis • Dissociação libera íon hidroxila (OH-) –Necrose liquefativa –Saponificação de gorduras –Solubilização de proteínas –Perfuração profunda dos tecidos –Lesões com pH > 12 Cáusticos - Álcalis • O epitélio esofágico é o mais acometido • Líquidos levam a estenoses ao longo do esôfago • Sólidos a lesões mais restritas, porém mais profundas Cáusticos - Álcalis • Alimento no estômago e o tônus no piloro podem influenciar a extensão da lesão nos tecidos • A reação persiste até a neutralização ou diminuição da concentração Fabricação de Sabão SODA CÁUSTICA X ÁGUA SANITÁRIA • Pequenas quantidades são capazes de gerar lesões graves • Maioria necessita de avaliação endoscópica • Jejum até definir o quadro • Apresentações comerciais são de baixo risco • Clandestinos tem concentração e pH desconhecidos • Endoscopia depende da clínica e indicações específicas • Alimentar lentamente se não há sinais de gravidade + = Cáusticos - Ácidos • Ácido sulfúrico –Limpeza de sanitários, fluido de baterias • Ácidos fluorídrico, fosfórico, nítrico –Limpeza de metais e de pedras –Antiferrugem • Ácido clorídrico –Produtos de limpeza Cáusticos - Ácidos • Penetração do íon H+ nos tecidos –Necrose coagulativa –O coágulo formado limita a lesão –Efeito dessecante e escarificante –Ânios Cl- e SO4 2- são fortes agentes redutores que também lesam tecidos –Lesões com pH < 3 Cáusticos - Ácidos • O epitélio do estômago é o mais acometido • Descamação tardia pode levar a sangramentos graves e perfuração • Esôfago e intestino delgado proximal também podem ser lesados Ácidos x Álcalis • Álcalis > incidência • Ácidos > mortalidade relativa • O efeito sistêmico do ácido e do seu ânion pode piorar o quadro clínico –Acidemia, hemólise, hematúria, falência renal Cáusticos Exposição Cutânea • Queimaduras • Lesões mutilantes e perda de função • Ácido fluorídrico – Penetra pele, subcutâneo e pode atingir ossos – Pode causar hipocalcemia, hipomagnesemia, hipercalemia, necrose celular e descalcificação/destruição óssea Cáusticos – Exposição Ocular • Lesões por álcalis são mais comuns • Superfície ocular, endotélio corneano, íris, cristalino e corpo ocular • Inflamação gera liberação de enzimas colagenolíticas que causam ulceração e perfuração • Sequelas visuais podem ser permanentes Ingestão de Cáusticos Manifestações Clínicas • Sugerem lesão: –Dor retroesternal e abdominal –Disfagia –Eritema/ulcerações de orofaringe –Salivação –Estridor/dispneia –Vômitos –Hematêmese Cáusticos - Exames • Endoscopia – Ingestões intencionais – Sinais sugestivos de lesão • Hemograma, gasometria e eletrólitos – Pacientes graves com sinais de choque • RX de tórax e abdome – Clínica de aspiração, peritonite ou suspeita de mediastinite – Sinais de perfuração: pneumomediastino, ar subdiafragmático Indicações de Endoscopia • Sinais sugestivos de lesão • Produtos com pH <3 ou >12 • Tentativas de suicidio? Endoscopia Realizar entre 12 e 48 horas da exposição Exposição a Cáusticos • Grau 1 : edema e eritema da mucosa CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES (Chiu et al, 2004) Exposição a Cáusticos • Grau 2A : mucosa friável, bolhas, hemorragia, erosões, eritema intenso, exsudatos esbranquiçados ou ulceração superficial CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES (Chiu et al, 2004) Exposição a Cáusticos • Grau 2B: 2A + ulceração profunda ou circunferencial CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES (Chiu et al, 2004) Exposição a Cáusticos CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES (Chiu et al, 2004) • Grau 3A: áreas de necrose, descoloração marrom-enegrecida ou cinzenta, ulceração profunda Exposição a Cáusticos CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES (Chiu et al, 2004) • Grau 3B: áreas de necrose extensas Contra-indicações de Endoscopia • Obstrução de VAS • Sinais e sintomas de perfuração • Mais de 48 horas da exposição • Instabilidade respiratória –Assegurar a ventilação Caustic injury: can CT grading system enable prediction of esophageal stricture? Caustic injury and CT grading system Clinical Toxicology (2010) 48, 137–142 Tomografia Computadorizada (Ryu et al, 2010) Grau I: sem edema na parede do esôfago (<3 mm) Tomografia Computadorizada (Ryu et al, 2010) Grau II: edema e espessamento da parede (> 3 mm) sem infiltração dos tecidos moles periesofageanos Tomografia Computadorizada (Ryu et al, 2010) Grau III: edema e espessamento da parede do esôfago, infiltração dos tecidos moles adjacentes Tomografia Computadorizada (Ryu et al, 2010) Grau IV: edema da parede do esôfago com infiltração dos tecidos moles adjacentes; também perda da interface entre os tecidos ou líquido livre ao redor esôfago ou aorta ascendente Clinical Toxicology (2010) 48, 137–142 Clinical Toxicology (2010) 48, 137–142 Clinical Toxicology (2010) 48, 137–142 Cáusticos - Tratamento • Medidas de suporte vital • Descontaminação – Não indicada nos casos de ingestão – Lavagem copiosa da superfície de contato nas exposições cutâneas e oculares (preferir ringer lactato) • Analgesia/Suporte nutricional • Sinais de perfuração, abdome agudo e/ou instabilidade hemodinâmica: cirurgia de urgência Cáusticos - Complicações Aumento do risco de carcinoma de esôfago (lesões moderadas/graves) Em até 1000X, com latência de até 40 anos • Complicações – Sangramento – Perfuração esofágica – Fístula traqueoesofágica – Estenose esofágica (grau 2b ou >) Masc, 2a7m Soda Cáustica Estenose com 6cm de extensão e 0,6cm de diâmetro Cáusticos - Evolução • Estenose de esôfago é o resultado do processo natural de reparação – Produção de colágeno – Formação de cicatriz • Pode evoluir em semanas a meses • Prevenção – Corticóides? – Stents ? High Doses of Methylprednisolonein the Management of Caustic Esophageal Burns Usta M et al. Pediatrics 2014;133:e1518-e1524 Survival rate (stricture formation as the end point) in both groups (Kaplan-Meier analysis). •Menor incidência de estenose na EDA (p=0,038) •Menor incidência de estenose no EED (p=0,004) •Menor tempo de nutrição parenteral (p=0,001) •Não houve efeitos colaterais Usta M et al. Pediatrics 2014;133:e1518-e1524 Exposição a Discos de Baterias • Tipos mais comuns de baterias – Óxido de manganês – Mercúrio – Hidróxido de sódio – Óxido de zinco Severe esophageal damage do to button battery ingestion can it preveted? Yardeni et al. Pediatr Surg Int, 2004. 20: 496-501. National Capital Poison Control Center, Washington, USA • Baterias no esôfago – mais grave!!! – Queimaduras graves – Estenose cicatricial – Morte As manifestações apresentadas incluem vômitos, febre, recusa alimentar, disfagia, odinofagia, taquipneia, irritabilidade e hemorragia Exposição a Discos de Baterias Bateria com sinais de corrosão discreta; CR 2025, lítio, diâmetro= 20mm anodo catodo Exposição a Discos de Baterias • Mecanismo de lesão – Queimadura elétrica – Necrose por pressão direta (corpo estranho) – Lesão cáustica por vazamento Absorção das substâncias presentes nas baterias (ex., óxido de mercúrio) Uma corrente externa flui entre o catodo e o anodo da bateria, passando através do tecido adjacente causando hidrólise dos fluidos teciduais e geração local de hidróxidos, que atuam nos tecidos de maneira similar ao produto químico alcalino que pode vazar da bateria. O gás hidrogênio e o complexo de íons OH- + Na+ se acumulam na região anodo, se correlacionando com o dano tecidual mais freqüentemente observado no lado anodo da bateria MECANISMO DE LESÃO 2H2O + 2e - 2OH- + H+ Severe esophageal damage due to button battery ingestion: can it prevented? Yardeni et al. Pediatr Surg Int, 2004. 20:496-501 Fig. 1 a: A 20 mm, 3 V bateria de lítio removida do esôfago de uma criança de 7 anos cerca de 6 h após a ingestão. b Note os debris negros que já haviam se aderido ao lado aniônico da bateria. Exposição a Discos de Baterias • Conduta – Retirada endoscópica sempre que impactado em esôfago – Remoção por via endoscópica, quando em estômago > 48h – Quando em intestino, acompanhar radiologicamente o paciente até eliminação – Considerar laxativos em casos especiais – Solicitar a bateria para avaliação Exposição a Discos de Baterias • Complicações – Sangramento – Perfuração esofágica – Fístula traqueoesofágica – Estenose esofágica
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