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1
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARXISMO: HISTÓRIA, POLÍTICA E 
MÉTODO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 2
Walmir Barbosa 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO 
1 – BREVE BIOGRAFIA DE MARX 
2 – CAPITALISMO E MARXISMO 
2.1 – Capitalismo e crise 
2.2 – Capitalismo e Experiências Pós – Revolucionárias 
2.3 – Capitalismo e Conflito Social 
2.4 – O Marxismo Reprimido 
2.5 – Construir a Autonomia do Marxismo 
3 – DIALÉTICA E HISTÓRIA 
3.1 – Sociedade e Totalidade em Marx 
3.2 – O Método Dialético 
3.3 – A Concepção Materialista da História 
3.3.1 – O Conceito de “Modo de Produção” 
3.3.2 – Modo de Produção e Transformação Histórica 
3.3.3 – Modo de Produção e Formação Social 
3.3.4 – O Conceito de “Classe Social” 
3.3.5 – O Conceito de “Ideologia” 
3.3.6 – O Conceito Estado 
3.3.7 – Práxis e Política 
4 – CONCEPÇÃO MARXISTA DE POLÍTICA E DE ESTADO 
4.1 – A Influência de Hegel 
4.2 – O Estado no “Jovem Marx” 
4.3 – A Concepção de Estado no Marx de 1848 – 1852 
4.3.1 – Dezoito Brumário de Luiz Bonaparte 
4.3.2 – O Golpe do 18 Brumário e o Bonapartismo 
4.3.3 – Estado e Representações de Classe no Bonapartismo 
4.4 – A Origem do Estado: A Contribuição de Engels 
4.5 – A Concepção de Estado em Lênin 
4.5.1 – Lênin e o Estado 
4.5.2 – Lênin e os Sovietes 
 3
4.6 – As Contribuições de Gramsci 
4.7 – A Violência 
5 – VERTENTES E INFLUÊNCIAS HISTORIOGRÁFICAS MARXISTAS 
5.1 – Escola Annales e o Marxismo 
5.1.1 – A Influência da Escola Annales na Historiografia Marxista 
5.1.2 – Contradições na Relação Annales/Marxismo 
5.2 – Historiografia Marxista Inglesa 
5.2.1 – Vertentes da Historiografia Marxista Inglesa 
5.2.2 – A História de Baixo para Cima 
5.2.3 – Objeto de Investigação 
5.3 – Historiografia Marxista Soviética 
5.4 – Problemas e Perspectivas das Vertentes Historiográficas Marxistas 
5.5 – O Horizonte Historiográfico Marxista 
6 – ESTADO E AUTORITARISMO NO BRASIL: O QUE COMEMORAR? 
6.1 – Sociedade e Estado Escravista Moderno no Brasil 
6.2 – Sociedade e Estado Burguês no Brasil 
6.3 – Estado e Rebeldia Popular 
6.4 – A Necessária Desconstrução dos Mitos 
BIBLIOGRAFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4
 
APRESENTAÇÃO 
 
 Convivemos com um período histórico particularmente difícil para o mundo do 
trabalho. A democracia liberal reduzida a um caráter formal e a economia de mercado global 
acima da política de sentido público e das necessidades humanas, têm determinado aspectos 
como o acirramento das contradições e conflitos sociais, a busca pelas soluções individuais, a 
desideologização do debate político e o avanço do relativismo, do irracionalismo e do niilismo 
no meio acadêmico. 
 Uma overdose de cinismo percorre o pensamento e a ação social de grande parte de 
indivíduos e grupos sociais que têm conservado o acesso aos bens materiais e culturais neste 
período histórico. Legitimam e justificam, de forma ativa ou passiva, direta ou indireta, 
explícita ou implícita, a democracia liberal formal e economia neoliberal global, arquitetas do 
fascismo social em curso em todo o mundo. 
 Com o presente texto pretende-se uma contribuição de caráter introdutório ao 
marxismo. Por meio dele busca-se alcançar dois objetivos: permitir uma compreensão de 
aspectos da teoria e metodologia marxista e proporcionar uma instrumentação teórica e 
metodológica de abordagem crítica da realidade atual. 
 O texto distribui-se por meio de seis temáticas, a saber: uma breve reconstituição da 
trajetória intelectual e política de Marx, de forma a evidenciar o seu compromisso com a 
transformação social e com a articulação entre o pensamento e a ação; uma abordagem do seu 
método de análise e dos conceitos básicos para a investigação da formação social, de forma a 
permitir a compreensão da interpretação marxista do processo histórico; uma caracterização 
da crítica marxista do capitalismo e das experiências de luta formada no seu interior, de forma 
a demonstrar a pertinência da crítica (teórica e prática) marxista do capitalismo e dos 
problemas e limites com os quais ela convive; uma identificação da concepção marxista de 
Estado, de forma permitir a crítica ao contratualismo e o papel que o Estado exerce como 
instrumento de construção de uma hegemonia social; uma qualificação da influência que o 
marxismo exerce na Ciência da História, de forma a identificar as contribuições, problemas e 
limites decorridos desta relação; e uma leitura marxista de caráter panorâmico da relação 
estabelecida entre Estado e sociedade (de classes) no Brasil, de forma a proporcionar um 
exemplo de interpretação da realidade histórica a partir da teoria e metodologia marxistas. 
 5
 Em que pese os limites de um texto de caráter introdutório e do próprio autor é 
necessário que se registrem as contribuições dos amigos Sônia Lobo, Paulo Augusto de Faria, 
Ricardo Orsini, Sebastião Cláudio Barbosa e Gilda Guimarães. 
1 - BREVE BIOGRAFIA DE MARX 
 
Karl Marx nasce em Treves, uma pequena cidade de 12.000 habitantes e de cultura 
franco-germânica, capital da província alemã do Reno, em 5 de maio de 1818. Sua família 
pertence à pequena burguesia judia próspera. Embora descendendo de uma longa linhagem de 
rabinos (tanto do lado paterno quanto materno), não sofre uma forte doutrinação em favor do 
judaísmo. 
O pai de Marx, o advogado Hirschel Marx, adere intelectualmente a um racionalismo 
tipicamente iluminista. Posteriormente, quando Treves passa a sofrer a dominação prussiana 
de Frederico Guilherme III, que era anti-francês e anti-semita, converte-se ao protestantismo e 
muda o seu nome para Heinrich Marx, possivelmente em decorrência de motivos materiais, 
visto que convive com a ameaça de não poder exercer a sua profissão porque é vedado à 
época acesso a cargos públicos aos judeus que habitam a província do Reno (Bottomore, 
1988, P. 239). 
Marx conduz seus estudos primários e secundários na cidade de Treves, quando esta 
se encontra mergulhada sob a administração absolutista prussiana marcadamente 
autoritária/burocrática e anti-industrial (para a região do Reno). A resistência à administração 
prussiana, embora desorganizada, se estende para diversos setores, a exemplo do Ginásio do 
Estado, no qual Marx estuda. Marx envolve-se com esta resistência. 
Mesmo antes de seguirem estudos em nível universitário Marx já mantém leituras 
clássicas. Por meio do pai conhece Lessing, Voltaire e Rousseau, e por meio do amigo e 
futuro sogro, o barão Ludwig Von Westphalen, conhece Homero e Shakespeare. Nesta fase, 
por meio de dissertações realizadas no Ginásio de Treves, já é possível identificar duas idéias 
que marcariam profundamente o pensamento de Marx. A primeira é a idéia de que o homem 
feliz é aquele que busca fazer todos os homens felizes, isto é, que trabalha em prol da 
humanidade. A segunda é a idéia de que os homens não podem determinar, em grande 
medida, o seu desenvolvimento, isto é, estão profundamente condicionados pelo estado social 
da sua existência. 
Em 1835, aos 17 anos Marx é enviado para a pequena cidade de Bonn, dando início 
ao curso de direito na Faculdade de Direito da Universidade de Bonn, com a intenção de 
 6
estudar jurisprudência. O romantismo do ambiente, não raramente marcado por bebedeiras, 
declarações amorosas e “duelos” compromete o desempenho acadêmico de Marx. No ano 
seguinte é encaminhado por seu pai para a cidade de Berlim, com os seus 300 mil habitantes. 
Na Universidade de Berlim Marx passa os quatro anos seguintes conduzindo seus estudos. A 
adesão ao romantismo, na sua estadia em Bonn, é abandonada em favor do hegelianismo, na 
sua estadia emBerlim, bem como os estudos de jurisprudência em favor dos estudos de 
História e Filosofia. 
Marx abandona a carreira de advogado e pretende conquistar uma cátedra 
universitária. Além da satisfação intelectual Marx procura as condições econômicas 
necessárias para viabilizar o seu casamento com Jenny Westphalen cujo noivado oficial 
ocorre em 1837. Para tanto, depende do doutoramento. Conduz os estudos durante os anos de 
1838,1839 e 1840. Ao final redige a tese de doutorado entitulada Diferença entre a Filosofia 
da Natureza de Demócrito e de Epicuro em 1841. Marx louva o fato de Epicuro ter buscado 
encontrar um lugar para a liberdade do homem em face da natureza, opondo-se ao 
determinismo natural de Demócrito. 
Segundo Giannotti, esta obra recupera uma problemática levantada por Hegel1 na 
Fenomenologia do Espírito, na qual este autor considera o estoicismo e o ceticismo grego 
como etapas do desenvolvimento do Espírito, momentos em que a consciência de si liberta-se 
de seu vínculo com o mundo e se afirma soberana. O sábio estóico, recolhido em si mesmo, e 
o filósofo cético, armando seu pensamento sobre a dúvida, estariam dando prova de intensa 
liberdade individual, inovadora, mesmo no âmbito da Pólis grega (Marx, 1978, P. IX e X). 
Marx, por meio de um diálogo filosófico crítico com Hegel, percorre outro caminho. 
Busca identificar as diferentes funções desempenhadas pelo atomismo naqueles dois filósofos 
racionalistas e conclui que o átomo em Demócrito (Séc. V-IV a.c.) representaria uma 
categoria abstrata, isto é, que é apenas uma hipótese a exprimir uma dimensão empírica 
(sensível) da natureza. Em Epicuro (Séc. IV-III a.c.), por sua vez, o átomo representaria uma 
forma natural que a consciência assumia de si mesma. Com Epicuro, na interpretação de 
Marx, a atomística transformaria-se em um princípio absoluto, rompendo a separação entre 
espírito e matéria. 
A defesa da tese de doutorado prevista de início para a Universidade de Berlim é 
transferida para a Universidade de Iena e ocorre em 15 de abril de 1841. Isto porque as 
 
1 Hegel (1770-1831) desenvolve um sistema filosófico no qual o Estado moderno é concebido como encarnação 
dos ideais da moral mais objetivos e manifestação da razão no domínio da vida social. A sua filosofia se 
convertia em uma espécie de ideologia oficial legitimadora do Estado prussiano (Marx, 1978, P. VIII e IX). 
 7
esperanças de uma maior abertura do regime absolutista prussiano alimentado pelos círculos 
liberais se frustra com a ascensão de Frederico Guilherme IV ao poder em 1840, ano da morte 
de Frederico Guilherme III, o que veio a refletir no ambiente acadêmico da Universidade de 
Berlim. Marx recusa-se a se submeter e expor a este ambiente e a professores encarregados 
das qualificações do doutorado, a exemplo do professor conservador Stahl. 
O doutoramento de nada adiantou para Marx obter a cátedra universitária. No ano de 
1841 frustra o empenho do seu amigo Bruno Bauer em ajuda-lo a obter a cátedra. No mesmo 
ano Bruno Bauer perde seu emprego e é proibido de continuar lecionando na Universidade de 
Bonn. 
Marx integra-se no movimento intelectual denominado Esquerda ou Jovens 
Hegelianos2. Este grupo busca submeter os textos sagrados e a propriedade privada à crítica, 
conduz uma crítica radical do cristianismo e valoriza a luta política. Este grupo também 
conduz, de um ponto de vista liberal, oposição a autocracia prussiana. 
Marx dá início a uma fase de transição quanto às suas reflexões e ocupações no 
âmbito do próprio movimento da Esquerda Hegeliana. Os problemas políticos e sociais 
assumem progressivamente a centralidade no seu pensamento. 
Problemas esses que nesta fase assumem uma abordagem pública por meio do 
envolvimento de Marx com a imprensa.Marx tem consciência da importância da imprensa 
 
 
2 Hegel compreendia o Estado, a religião e a filosofia como supremas manifestações de Deus, entendido como o 
absoluto. A religião cristã se apresentava como a mais completa revelação da razão enquanto Espírito Universal. 
Nesse processo de manifestação, Jesus desempenharia o papel de mediador entre a generalidade abstrata de 
Deus-Pai e a individualidade concretíssima do espírito santo. Após a morte de Hegel em 1831, seus discípulos 
estão divididos. Alguns, denominados direita hegeliana, prendem-se a elementos conservadores da filosofia de 
Hegel,à apologia do Estado prussiano, a defesa da ordem constituída, outros, denominados esquerda hegeliana, 
procuram aplicar o método historicista de Hegel a análises das questões sociais. A esquerda ou jovens 
hegelianos dão início a uma revisão crítica do seu sistema filosófico. 
David Strauss (1808-1874) busca separar a figura histórica de Jesus de sua interpretação religiosa e 
filosófica. O resultado é, de um lado, a retomada da luta pelo direito de submeter os textos sagrados à crítica 
histórica e, de outro, a revolução da doutrina hegeliana provocando-lhe a crítica política. Seguindo o caminho 
aberto, Bruno Bauer (1809-1872) procura separar o desenvolvimento do espírito do desenvolvimento do mundo, 
transferindo para a consciência de si a tarefa de determinar o curso da História. Arnold Ruge (1802-1880) trouxe 
a luta contra o pensamento conservador hegeliano para o terreno propriamente político frente ao endurecimento 
do governo de Frederico Guilherme IV da Prússia. Moses Hess (1812-1875) e Max Stirner (1806-1856) refletem 
acerca da propriedade e debatem aspectos do socialismo e anarquismo. 
Ludwig Feuerbach (1804-1872), busca mudar os sinais do sistema elaborado por Hegel, de modo que, 
ao invés de partir-se do espírito, partiria-se da natureza e do homem. Feuerbach privilegia o mundo sensível, a 
sensibilidade e o coração, deslocados para o nível do intelecto. Tal concepção traduz-se em um programa 
político: o princípio feminino, o coração, sede do materialismo francês, deveria aliar-se ao intelecto, princípio 
masculino, sede do idealismo alemão. O programa político de Feuerbach não é assumido politicamente por seu 
criador, ou seja, não é para o terreno da luta política. Ludwig Feuerbach recolhe-se no seu isolamento e declina-
se de imiscuir em política. Surpreende a muitos quando, ao final da sua vida, filia-se ao Partido Social-
Democrata Alemão (Marx, 1978, IX e X). 
 
 8
como veículo com capacidade de informar com objetividade e de criticar com 
independência, uma necessidade inadiável em sociedades em que a censura, a corrupção, a 
hipocrisia, o cinismo convertem-se em instituição. Todavia, Marx condena a liberdade da 
imprensa como uma liberdade comercial, isto é, de converter a imprensa em uma “indústria” 
movida pela lógica do mercado, do lucro e do poder. Dessa forma não seria possível informar 
com objetividade e criticar com independência (Konder, 1968, p. 47-49). 
No período de edição da Gazeta Renana3 Marx depara-se com os chamados 
“interesses materiais”4. Na província alemã do Reno os camponeses continuam recolhendo 
lenha nas florestas como se estas estivessem submetidas ao direito consuetudinário, enquanto, 
de fato, encontram-se, agora, subordinadas a outro tipo de propriedade, de caráter privado e 
alienável. Como resultado, e atendendo a apelos de proprietários, o Estado move processos 
contra o “furto” de madeira realizado pelos camponeses. Conforme Giannotti, a investigação 
que Marx inaugura por meio da análise da condenação dos camponeses pela Dieta Renana, 
abria o caminho para a idéia de uma revolução social; e para que esta viesse modificar a 
própria estrutura da sociedade como um todo (Marx, 1978, P. X e XI). 
As publicações deIntrodução a uma Crítica da Filosofia do Direito de Hegel e 
A Questão judaica, no primeiro e único número dos Anais Franco-Alemães5, traz em si uma 
nova noção de crítica, o que conflitua Marx com a Esquerda Hegeliana. Para Marx, a crítica 
da Filosofia do Direito de Hegel deveria partir da crítica do Estado real. Uma crítica 
desalienada, porque recusaria mover-se exclusivamente no âmbito do discurso. 
A crítica, movendo pensamento e prática política, poderia assumir concretude, 
penetrando as massas populares e convertendo-as em força social capaz de mudar a sociedade. 
Portanto, para Marx, toda crítica seria inócua enquanto não atingisse a raiz do próprio homem 
enquanto ser concreto e a sociedade na qual este vive. 
A noção de crítica de Marx, ancorada na unidade dialética estabelecida entre teoria e 
práxis e na desconstrução/construção do Estado e das relações sociais sobre os quais este se 
apoia, conduz Marx a identificar a luta de classes como o motor da História e o proletariado 
como o ator fundamental da crítica e da subversão da estrutura da sociedade moderna (nela 
incluída o próprio Estado). A noção de crítica de Marx completa-se com a contribuição de 
 
3 Diário liberal radical, apoiado por industriais renanos e publicado na cidade de Colônia. Marx ocupa a função 
de redator-chefe desse diário. 4Por interesses materiais, Marx concebe os interesses de classes que emergiam das 
condições materiais, qual seja, o conjunto das condições econômicas acumuladas, a forma de apropriação e 
distribuição dos excedentes e o estágio da consciência social. 
 
5 Órgão da propaganda revolucionária e comunista, que se pretendia uma ponte entre o socialismo francês e o 
hegelianismo radical, dirigido por Marx em Paris no ano de 1844. 
 9
Engels, para o qual a sociedade civil6 é o terreno no qual os homens se defrontam como 
particulares e proprietários, mergulhados na alienação. Para Engels, a Economia Política de 
Adam Smith e David Ricardo, enquanto ciência da sociedade civil, não poderia ser nada mais 
do que o lugar da alienação visto que, por não ter posto em causa o postulado da propriedade 
privada e por não ter anteposto ao privatismo da sociedade civil a universalidade do homem, 
não conseguiria conduzir a crítica da sociedade moderna (Marx, 1978, P. XIII e XIV). 
Marx incorpora a noção de crítica de Engels mas a ultrapassa, visto que reconhece 
que a forma de trabalho do sistema capitalista, orientado para a acumulação privada e para o 
mercado, mergulha o homem na alienação. O homem, sob relações de assalariamento, 
produziria uma mercadoria para trocá-la por outra mercadoria. A apropriação de poucos em 
detrimento de muitos se, por um lado, conduziria o homem à alienação, por outro, não poderia 
impedir a recriação da necessidade das mercadorias que se encontrassem em outras mãos, de 
forma que criaria um espaço e um ambiente de tensão nas relações sociais que projetaria a sua 
solução para além da propriedade privada e do mercado. Nos Manuscritos Econômicos e 
Filosóficos, elaborados na sua estadia em Paris (somente publicado em 1930), Marx identifica 
um contraste entre a natureza alienada do trabalho no capitalismo e uma sociedade comunista 
na qual os seres humanos desenvolveriam livremente sua natureza em produção cooperativa. 
O pensamento de Marx apresenta-se maduro. Completa-se, portanto, o processo de 
ruptura com a sua base de origem, inaugurada no âmbito da Esquerda Hegeliana. A própria 
influência de Ludwig Feuerbach é superada. No período compreendido entre 1842 e 1847, 
Marx converte-se em um intelectual e ativista político com uma concepção humanista do 
comunismo (Bottomore, 1988, P. 239). 
A prática intelectual e política (e, provavelmente, a sua etnia) rende a Marx 
perseguição e exílio. Marx busca ter acesso à carreira universitária, mas é impedido pelo 
governo prussiano; converte-se em editor da Gazeta Renana, mas teve o jornal fechado pelo 
 
6 A divisão da sociedade em classes ou estamentos concorre decisivamente para a separação entre a sociedade 
política ou Estado (organização dos que mandam) e uma sociedade civil (conjunto em nome do qual se governa). 
Hegel atribui ao conceito sociedade civil uma significação econômica e jurídica, onde os indivíduos singulares se 
opõem em função de seus interesses particulares. O Estado aparece como a verdade da sociedade civil, que não 
é, graças ao jogo da astúcia da razão, mais do que seu próprio fenômeno, nele realizado. A sociedade civil é um 
instante de uma processos que atinge seu ponto máximo na sua absorção pelo Estado (Althusser, 1979, P. 97). 
Marx cria duas novas concepções de sociedade civil. A primeira identifica sociedade civil com a estrutura 
econômica da sociedade. A sociedade civil seria o “mundo das necessidades, do trabalho, dos interesses 
particulares, do direito privado” (Marx, 1987, P. 483) ou ainda que ela abarcaria “(...) todo o intercâmbio 
material dos indivíduos, em uma determinada fase de desenvolvimento das forças produtivas” (Marx e Engels, 
1974, P. 38). A Segunda identifica sociedade civil com o conjunto de partidos, jornais, clubes e associações. Para 
Marx da “Crítica do Programa de Gotha”, “(...) o Estado deve ser um órgão subordinado à sociedade”. (Marx, 
1946, P. 30). 
 
 10
governo; emigra para Paris em 1843 e passa a dirigir os Anais Franco-Alemães, mas tem o 
periódico fechado e é expulso da capital francesa. 
Radicado em Bruxelas, Marx dedica-se a um estudo intensivo de história e cria a 
teoria que ficou conhecida como a concepção materialista da história. Por meio da obra A 
Ideologia Alemã, escrita em parceria com Engels, chega a duas conclusões básicas: “que a 
natureza dos indivíduos depende das condições materiais que determinam sua produção”; e 
que na história da humanidade sucedem-se vários modos de produção, sendo o próprio 
capitalismo um modo de produção de caráter transitório7. 
Entre 1847 e 1852, Marx e Engels ingressam na Liga Comunista8; elaboram o 
Manifesto Comunista, publicado em 1848; participam intensamente da “Primavera dos 
Povos” - denominação dada às revoluções de 1848 - em Paris e em Colônia; e fundam em 
Colônia a Nova Gazeta Renana sob uma orientação democrática radical contra a autocracia 
prussiana. A vitória da contra-revolução reconduz Marx ao exílio em maio de 1849, agora em 
Londres, de onde ele não mais sai. Marx elabora, no período imediatamente subsequente, às 
obras As Lutas de Classe na França de 1848 a 1850 e Dezoito Brumário de Luís 
Bonaparte. 
Marx reconhece na derrota da “Primavera dos Povos” a fragilidade da classe 
operária, ainda pequena quantitativamente e dispersa geográfica e politicamente; o 
esgotamento da trajetória revolucionária da burguesia, transformada definitivamente em 
classe dominante e abertamente contra-revolucionária; e a vitalidade do capitalismo, que 
promovia a industrialização em vários países (EUA, Alemanha, França, Itália, Bélgica) e dá 
início ao novo expansionismo colonialista na África e Ásia. Esse reconhecimento desperta em 
Marx a necessidade de conduzir estudos econômicos de maior fôlego acerca do capitalismo e 
de criar uma organização internacional dos trabalhadores. 
As obras Esboços da Crítica da Economia Política (produzido entre 1857 e 1858, 
mas somente publicado em 1941) e O Capital (o primeiro livro é editado em 1867; quanto 
aos livros segundo e terceiro são concluídos por Engels após a morte de Marx) jogam novas 
luzes sobre a dinâmica de expansão e de crise do capitalismo. A participação na fundação da 
Primeira Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) em 1864, para o qual é eleito para 
o seu Conselho Geral e onde convive com intensas disputas políticascontra a ala anarquista 
liderada por Bakunin, confirma o seu compromisso com a construção de uma personalidade 
 
7 O ideal burguês concebe o capitalismo como etapa final das transformações da sociedade humana, restando a 
este apenas o seu próprio aperfeiçoamento. A ‘era das revoluções’, segundo essa concepção, não teria mais lugar 
na história da humanidade. 
 11
política revolucionária, libertária e internacionalista dos trabalhadores. A elaboração da sua 
última obra expressiva, A Guerra Civil em França, onde aborda a Comuna de Paris de 1871, 
é acompanhada do progressivo esvaziamento da AIT. 
Nos últimos dez anos de sua vida, Marx não produz nenhuma obra expressiva e não 
consegue concluir O Capital. A saúde abalada, a perda da esposa e filhos, o esgotamento de 
anos de trabalho intelectual extenuante, entre outros fatores, o impedem de conduzir esforços 
continuados de sínteses ricas de elementos e que, de maneira tão evidente, haviam 
caracterizado sua obra até então (Bottomore, 1988, P. 240). Marx morre na cidade de Londres 
em 1883. 
 
 
2 – CAPITALISMO E MARXISMO 
 
As teses sobre as quais se apóia análise marxista sobre o sistema capitalista mantém a 
sua atualidade. As relações sociais entre os homens no capitalismo são reguladas pelo valor de 
troca antes do que pelo valor de uso das mercadorias e serviços que eles produzem. Em 
síntese, as necessidades humanas encontram-se na dependência direta do poder de compra das 
pessoas no mercado. 
A satisfação das necessidades humanas apresenta-se como resultado secundário da 
produção e do lucro mediado pelo sistema de trocas. É o capital e os bens, não o homem e a 
vida, que encontram-se no centro da atividade econômica no sistema capitalista. 
O processo de desenvolvimento do capitalismo acirra a dupla contradição presente na 
sua base de reprodução. Primeiramente, a contradição estabelecida entre a crescente 
produtividade do trabalho social, por um lado, e seu o uso repressivo e destrutivo, por outro. 
Em segundo lugar, a contradição estabelecida entre o caráter social da produção e a 
apropriação privada dos excedentes. 
O capitalismo somente pode resolver essa contradição temporariamente, de forma a 
aumentar o seu caráter repressivo e destrutivo por meio do desperdício, do luxo e da 
destruição das forças produtivas. A corrida competitiva pelo armamento, pela produção e pelo 
lucro proporcionam um elevado grau de concentração do poder econômico - via 
centralização/concentração oligopolista e financeira do capital. A expansão econômica 
agressiva para o exterior, os conflitos regionais criados e/ou incentivados e as disputas por 
 
8 Organização de trabalhadores alemães emigrados e sediada em Londres. 
 12
influência continental entre os países de capitalismo central, tendem a formar ciclos 
recorrentes de dependência, de guerras e de depressões. 
A quinta tese sobre a qual se apóia a análise marxista sobre o sistema capitalista 
insere a idéia da possibilidade da transformação social. Segundo Marx, o ciclo de reprodução 
do capital carrega a possibilidade histórica de ser interrompido pelo mundo do trabalho em 
aliança com outros 
setores populares. Isto porque as classes do mundo do trabalho suportam o peso da 
exploração econômica, o que as tende levar à perspectiva da transformação social, de forma a 
assumir o controle do aparato produtivo e a desencadear a superação das contradições básicas 
do sistema capitalista de produção. Por um lado, liquidando com o sistema social de produção 
mas de controle e apropriação privados e, por outro, libertar o desenvolvimento das forças 
produtivas e estabelecer a integração entre o desenvolvimento das forças produtivas e as 
necessidades humanas. 
 
Capitalismo e Crise 
 
Marx e os intelectuais críticos do capitalismo que se referenciam no marxismo clássico 
concebem o ‘fenômeno’ crise em função do capital, tema fundamental para a reflexão social e 
econômica no âmbito do capitalismo. Portanto, em termos do marxismo clássico, a abordagem 
do fenômeno crise deve partir, necessariamente, da negatividade constitutiva do capital. 
O capital constitui o fundamento do processo da reiteração e expansão das suas próprias 
condições de existência. Cumprida a etapa da acumulação primitiva de capital, o capital se 
materializa nos meios de produção que se coloca à frente da força de trabalho como algo 
estranho e com poder de obrigá-lo a produzir; e na própria força de trabalho, adquirida pelo 
capitalista no mercado e integrada ao capital como capital variável. Enquanto materialização da 
riqueza social e enquanto proprietário das faculdades do produtor, o capital constitui-se, em um 
determinado sentido, no ‘sujeito’ que transforma a produção e a circulação das mercadorias em 
meios para a sua reprodução expansiva. Assim, todas as formas econômicas, das atividades 
econômicas em sentido restrito às formas de organização (tecnológica e organizacional) do 
trabalho, são simples mediadoras da referida expansão (Coggiola (Coord.), 1996, p. 291-302). 
O movimento do capital engendra uma contradição. Para recriar o fundamento da sua 
valorização o capital necessita, concomitantemente, de criar e subordinar a força de trabalho e 
encontrá-la como seu oposto no mercado e no processo de produção. Dessa forma, reduzindo o 
trabalho à condição de mercadoria poderá absorvê-lo como capital variável. 
 13
Por outro lado, a partir desta transformação o capital busca valorizar-se 
crescentemente, o que leva ao progressivo predomínio do capital constante em relação ao capital 
variável. Dito de outra forma, o domínio do trabalho vivo pelo morto (capital), com o 
progressivo predomínio do capital constante em relação ao capital variável (como uma tendência 
à negação do trabalho vivo pelo morto), constitui-se na manifestação da contradição, visto que é 
o trabalho a fonte do valor e, portanto, do próprio capital. 
No plano das relações econômicas este ‘sujeito’ se expressa por meio dos capitalistas 
individualmente e enquanto grupo social. Cada capitalista em particular deve se confrontar com o 
trabalhador para que possa obter a mais-valia (fundamento oculto do capitalismo, ao mesmo 
tempo sua força propulsora e fonte da sua reprodução expansiva). Neste sentido, aumentar a 
duração e a intensidade do trabalho e, acima de tudo, a sua produtividade é a garantia da sua 
extração (e, possivelmente, expansão). O capitalista deve se confrontar também com os demais 
capitalistas para preservar suas taxas de lucratividade e assegurar mercados. Para tanto, ele deve 
necessariamente baixar os seus custos de produção. 
Como ‘sujeito’ da auto-valorização, que confronta consigo mesmo e com a sua 
negação, o capital subordina a produção e a circulação de mercadorias como fases do processo 
pelo qual ele se acumula e reproduz. Fases estas que, se reproduzindo sob uma relativa 
autonomização e sob o impulso desmedido de auto-valorização, não se determinam pelo 
consumo e necessidades sociais. 
A economia capitalista, apoiada na sua intrínseca anarquia em termos da produção, da 
circulação e da produção/circulação, concorre para crises recorrentes (Marx, 1984, v. I, p. 26). 
O fato da determinação do que, como e quando produzir residir no âmbito de cada 
unidade de produção e destas competirem entre si, inviabiliza processos de crescimento 
equilibrado entre e inter departamentos e setores econômicos. Indicadores de mercado como 
preços, custos e juros, que sob certas condições estimulam a expansão mais ou menos rápida da 
acumulação,não podem revelar barreiras como os limites de demanda ou de insumos básicos no 
mercado. Dessa forma, normalmente a uma fase de expansão sucede uma fase de desaceleração 
da expansão, que pode ser um decréscimo de ritmo da expansão, uma recessão, ou ainda uma 
depressão, condicionada pelo grau da intensidade da fase expansiva precedente, pelos 
desequilíbrios estruturais, pela mobilidade do Estado enquanto agente produtivo, pelas formas 
assumidas pela luta de classes, entre outras variantes. 
Na esfera da circulação do capital, a crise aparece de modo privilegiado como paralisia 
 14
do movimento de compras e vendas entre os departamentos9 econômicos. Os departamentos 
econômicos, que idealmente precisam produzir conforme as necessidades um do outro, de fato 
determinam sua produção de acordo com o impulso de valorização dos seus próprios capitais; 
visam seus lucros, sem considerar ex ante que os mesmos tem que se realizar por meio da venda 
do seu produto aos outros departamentos econômicos (Singer, 1989, p. 17-20). 
Na fase de expansão, o sistema dispõe de reservas da fase precedente de desaceleração 
como excedente de mão-de-obra, capacidade produtiva ociosa, matéria-prima estocada, terra 
improdutiva, às quais se agrega a ‘poupança’ pública e privada como pedra de toque da retomada 
da expansão. A nova expansão pode ter início a partir de setores produtivos que possuem grande 
repercussão na estrutura de reprodução material da sociedade. A indústria da construção civil, 
por exemplo, capaz de provocar, por meio da sua rápida expansão, uma demanda importante 
para o Departamento I, como canos, máquinas, cimento, vidros, azulejos etc; para o 
Departamento II, como tecidos e alimentos, decorrentes do maior volume de emprego e, 
possivelmente, de salários dos trabalhadores empregados neste setor; e para o Departamento III, 
como eletrodomésticos, carros etc, consumidos por capitalistas, gestores intermediários da 
produção e trabalhadores em geral. Uma onda de expansão iniciada em alguns setores tende, por 
um efeito cascata, a estender-se sobre todos os demais setores e departamentos econômicos. 
Quando as reservas precedentes à fase de expansão esgotam-se, quando uma expansão 
reiterativa da produção dá lugar à acumulação real, os problemas começam a ser gerados. Os 
capitais, procurando os investimentos de retorno maior, mais rápido e mais seguro, tendem a se 
concentrar em determinados setores e ramos de atividades, em detrimento de outros. ‘Gargalos’ 
gerados em setores e ramos de atividades que exigem investimentos de grande monta e de 
retorno a longo prazo (como as atividades do Departamento I) podem não mobilizar os capitais 
necessários para a sua expansão. 
A mobilização dos capitais pode não ser o bastante para conter a interrupção precoce de 
uma fase de expansão real, visto que o tempo de ampliação e/ou montagem de novas unidades 
produtivas, especialmente em se tratando do Departamento I, é sempre de médio a longo prazo. 
A escassez e elevação de preços decorrentes podem transformar seus produtos em mercadorias 
proibitivas a diversas empresas, desencadear falências, elevar custos gerais de toda a estrutura 
produtiva, provocar ciclos de inflação e retomar as grandes taxas de desemprego. 
 
9 O conceito ‘departamento econômico’ é primeiramente formulado por Marx (1973, vol. II, 3 seção). Para 
compreender a reprodução ampliada do capital em escala nacional, Marx opera uma separação da economia em 
Departamento I, produtor de bens de produção e Departamento II, produtor de bens de consumo. Kalecki (1983, 
p. 35-55) propôs um novo esquema, desmembrando o segundo departamento econômico (originalmente 
 15
A mobilização e adequado investimento da poupança social em atividades do 
Departamento I, materializada em uma satisfatória ampliação da sua produção, pode acarretar 
uma carência de recursos nos Departamentos II e III, formadores da sua demanda. Além disso, a 
sua própria acumulação e dos seus agentes financeiros pode ser comprimida pela pressão de 
custos que exerce sobre os demais. De uma forma, ou de outra, a crise e os seus sintomas tendem 
a reaparecer. Em outras palavras, em uma economia de mercado a cada ‘gargalo’ superado em 
um dado período outros se formam. 
Na esfera da produção mais ampla (que engloba como etapas a da circulação e a da 
produção imediata de mercadorias pelo capital), a crise econômica capitalista se expressa de 
forma mais completa e complexa. É nesta esfera que a negação do trabalho vivo pelo morto 
(capital) se manifesta na tendência ao crescimento proporcional do valor do capital constante em 
relação ao capital variável, levando à queda da taxa média de lucro mesmo com um possível 
aumento da taxa de mais-valia. 
Para conservar/ampliar a taxa de mais-valia extraída e conservar/baixar custos de 
produção, o capitalista recorre ao aumento de capital fixo. O crescimento do capital fixo em 
relação ao trabalho - tecnologização da produção - é o principal meio para aumentar a 
produtividade do trabalho, e o crescimento do capital fixo em relação ao produto - a capitalização 
da produção - é o principal meio para reduzir os custos unitários de produção. 
O crescimento do capital fixo por produto unitário é o elemento mais importante para se 
obter economias de escala. As empresas sob economias de escala viabilizam o crescimento do 
volume de matérias-primas processadas por trabalhador. Como resultado, tanto as matérias-
primas como a produção de mercadorias tendem a aumentar por unidade de trabalho. 
Concomitantemente, o maior volume de capital fixo por produto unitário implica maior despesa 
de depreciação do referido capital e maiores custos de materiais auxiliares (eletricidade, 
combustível, instalações prediais etc) por produto unitário. 
Conforme indicou Bottomore, 
 
(...) para métodos mais avançados, a maior capitalização (capital adiantado por produto 
unitário) implica maiores custos unitários não relativos a trabalho (capital constante 
unitário C), enquanto a maior produtividade implica menores custos unitários com o 
trabalho (capital variável unitário V). No salto, o custo unitário de produção C+V deve 
declinar, de modo que o último deve mais do que compensar o primeiro. Sob condições 
 
trabalhado por Marx) em Departamento II, produtor de bens de consumo corrente e Departamento III, produtor 
de bens de consumo duráveis. Adotaremos o esquema desenvolvido por Kalecki. 
 16
técnicas determinadas, no momento em que os limites do conhecimento e da 
tecnologia existentes forem alcançados, os aumentos subseqüentes no investimento por 
produto unitário provocaria reduções cada vez menores nos custos unitários de produção 
(Bottomore, 1988, p. 372). 
 
A conseqüência principal desta dinâmica é que os métodos mais avançados tendem a 
proporcionar menor custo unitário de produção em detrimento da taxa de lucro (que tende a cair). 
Ainda que os salários e a intensidade e duração da jornada de trabalho se conserve, o aumento da 
composição orgânica do capital (capital constante suplantando crescentemente o capital variável 
na composição do capital) tende a elevar-se mais rapidamente do que a taxa de mais-valia, 
determinando a queda da taxa geral de lucro. 
Em que pese todo este quadro, a concorrência capitalista empurra os capitalistas a 
adotarem a capitalização (ou tecnologização) da produção. Aqueles que primeiramente adotam 
os ‘novos’ métodos de capital mais intensivo, ao reduzir custos podem reduzir também seus 
preços abocanhando parte do mercado junto aos seus concorrentes.Podem também manter por 
um determinado período uma acumulação relativamente elevada para os padrões gerais da ‘nova’ 
realidade da acumulação. Aqueles capitalistas que lhes seguem na aplicação do referidos 
métodos não dispõe desta acumulação relativamente elevada, visto que recoloca-se uma nova 
guerra de preços, reduzindo a acumulação. Aqueles capitalistas que não conseguem aplicar os 
novos métodos vão à falência ou restringem-se a um papel econômico periférico e quase tão-
somente reiterativo. 
Para o capitalista individual que primeiramente adota estes métodos de capital 
intensivo, o menor custo unitário obtido permite reduzir preços e expandir-se a expensas de seus 
concorrentes, compensando sua menor taxa de lucro (por unidade produzida), por meio de uma 
fatia maior do mercado. Aqueles que adotam os referidos métodos tardiamente e/ou estão 
sujeitos a pressões financeiras, estão sujeitos, ao mesmo tampouco, a uma taxa de lucro ainda 
menor e a uma acumulação igualmente menor no conjunto do ciclo econômico. 
No sistema como um todo, o resultado é a queda da taxa média de lucro. Este resultado 
determina um desestímulo crescente à acumulação, ou seja, da realização de novos 
investimentos, tendo em vista a manutenção/ampliação da massa de lucros. 
A estagnação da massa total de lucro, enquanto uma ‘onda longa’ no sistema, tende a 
conduzir, em um certo momento, a uma crise geral do sistema. Conforma-se, portanto, a 
tendência secular de queda da taxa média de lucro (processo ao longo do qual ‘ondas longas’ de 
crise e de acumulação necessariamente ocorrem). 
 17
A tendência de queda da taxa média de lucro convive com contra-tendências 
neutralizadoras (Coggiola (Coord.), 1996, p. 194-195; Bottomore, 1988, p. 371-373; Sweezy, 
1976, p. 125-128). A contenção salarial; a intensificação do processo de exploração da força de 
trabalho; a eliminação de conquistas trabalhistas; a recriação de formas de exploração e 
dominação extra-econômica (escravidão, servidão, etc); a geração de capital constante mais 
barato por meio de uma determinada tecnologia disponível; a migração de empresas para espaços 
sócio-econômicos e territoriais com força de trabalho e recursos naturais mais baratos; o 
desenvolvimento de novos métodos de gestão da produção que alcançam maior racionalização da 
produção e intensidade do trabalho; a terceirização de fases da atividade produtiva barateando 
custos de serviços e produtos; a importação de bens de consumo para assalariados e meios de 
produção mais baratos; o desenvolvimento de indústrias complementares nas quais a composição 
orgânica de capital fosse relativamente baixa, entre outros processos, podem contribuir para a 
elevação da taxa de lucro, aumentando a taxa de exploração e/ou baixando a composição 
orgânica do capital. Tais processos são tão importantes para o capitalista individual como para o 
sistema como um todo. 
Os referidos processos (entre outros) podem compor um processo mais amplo, qual 
seja, a reestruturação produtiva. Enquanto tal será, necessariamente, um mecanismo voltado para 
assegurar, de um lado, o avanço das forças produtivas, e, de outro, a re-subordinação do trabalho 
ao capital com novos métodos organizativos/administrativos que esvaziem o potencial de 
resistência dos trabalhadores. 
A reconstituição e/ou ampliação do exército industrial de reserva nos quadros da crise 
possui uma importância particular enquanto uma contra-tendência à tendência de queda da taxa 
média de lucro. A perda de estímulo para novos investimentos e a destruição de forças produtivas 
(falências, concordatas, desvalorização e/ou destruição dos excedentes etc) provocados pela 
crise, proporciona um ambiente extremamente favorável para a diminuição dos salários e para a 
queda das condições de trabalho graças à super-oferta da força de trabalho. Tal processo diminui 
o custo do trabalho no âmbito dos custos da produção e é um importante fator de ampliação das 
taxas de extração de mais-valia. 
Destacamos também enquanto contra-tendência à tendência de queda da taxa média de 
lucro o papel que o Estado passa a cumprir a partir da crise de 1929. A conversão do fundo 
público em fundo de financiamento da acumulação, a possibilidade de mobilizar capitais 
especulativos e canalizá-los para a produção, por meio da emissão de títulos, a transformação do 
Estado em agente produtivo que pode determinar sob certas conjunturas o perfil da conjuntura ou 
período econômico e/ou abrir mão dos seus ganhos em benefício da iniciativa privada, o 
 18
desenvolvimento de pesquisas tecnológicas e científicas para o capital, a condição de grande 
comprador e impulsionador/contratador de obras públicas, entre outras condições e atribuições, 
edifica o Estado como uma instituição anti-crise e de contra-tendência à queda da taxa média de 
lucro. 
É necessário reconhecermos, ainda, que a crise, enquanto realidade do sistema 
capitalista e independentemente de ser mais ou menos destrutiva, será parte constitutiva do 
processo de concentração e centralização de capitais (Coggiola (Coord.), 1996, p. 303-315). O 
referido processo, em termos econômicos globais de cada país (não de cada empresa enquanto 
unidade produtiva), apresenta uma fase em que predomina a concentração e outra em que 
predomina a centralização de capitais. Na fase da concentração de capitais - precedida por uma 
fase de centralização de capitais e desencadeada por uma nova etapa de competição oligopolista 
e monopolista e/ou pela atuação de governos por meio da manipulação de políticas econômicas - 
as reservas de capitais acumulados por parte das empresas e presentes na órbita financeira são 
aplicados na ampliação quantitativa e/ou qualitativa das empresas, verticalizando e/ou 
horizontalizando os espaços de atuação dos seus capitais. Nesta fase, o crescimento das despesas 
ocorre passo a passo com o aumento das receitas. 
A rigidez relativa entre a estrutura de custos e o nível das receitas determina uma 
instabilidade para as empresas que necessitam contar com provisão financeira - com exceção dos 
oligopólios e uma parte dos monopólios, a maioria das empresas necessitam da referida provisão, 
obtida junto ao sistema financeiro. As empresas não monopolistas ou monopolistas sem suporte 
de autofinanciamento somente dispõem de duas alternativas: ingressar na fase da concentração 
de capitais (sob pena de reduzir suas receitas em relação às demais empresas) ou amargar uma 
gradual marginalização no mercado. 
Desencadeado o processo, conforma-se a tendência à homogeneização das taxas de 
retorno imposto pelos oligopólios e monopólios, com grandes conseqüências econômicas. As 
empresas que não efetuam despesas, embora com taxas de retorno superiores à taxas de retorno 
média imposto pelos oligopólios e monopólios possuem receitas infinitamente inferiores. 
Aquelas empresas monopolistas ou não que recorreram intensamente aos empréstimos junto ao 
sistema financeiro também apresentam uma receita inferior aos oligopólios e monopólios que se 
auto-financiaram. No curso do processo da concentração de capital - no qual ocorre a reprodução 
ampliada do capital, ou seja, expansão que ultrapassa a pura e simples reiteração econômica - o 
impacto desencadeado pela nova taxa de retorno e os custos financeiros de muitas empresas será 
a falência e conseqüente incorporação daquelas despreparadas para a competição nos termos 
ditados pelas maiores e mais capitalizadas. Em conseqüência, diminui o número de empresas e 
 19
intensifica o controle dos oligopólios e monopólios sobre o mercado. 
Consumado o processo tem início novamente a fase de centralização de capitais, ou 
seja, de capital líquido na forma de lucros das empresas diretamente produtivasque ampliam 
suas receitas - oligopólios e monopólios - ou empresas financeiras que partilham dos lucros das 
empresas que recorrem a financiamentos - bancos, bolsas de valores etc. A nova massa de 
capitais não diretamente aplicado, ou reserva de poupança, começa a ser recomposto preparando 
as condições para uma nova fase de concentração de capitais. 
A crise, independentemente da sua extensão e natureza, cumpre sempre um importante 
papel na reprodução ampliada do capital, qual seja, o de destruir para construir em novas bases. 
A crise (incompatibilidade entre produção e consumo; interrupção do fluxo de compras e vendas 
ou de pagamentos; desproporcionalidade e desequilíbrio entre os departamentos econômicos em 
que se divide o capital social; queda da taxa média de lucro; sobre-acumulação; desvalorização 
do capital existente e contradições inerentes à dinâmica de concentração e centralização de 
capitais) será, portanto, fruto da contradição constitutiva do capital. 
As crises não levam a um colapso econômico final capaz de destruir completamente e 
de uma só vez o sistema. Para Marx, o fim das crises somente pode advir do trabalhador, que 
tomando consciência de si mesmo e das relações sociais que o envolvem, edifica-se como o 
sujeito real e verdadeiro da produção (dominando o sujeito abstrato, representado pelo capital). O 
capitalismo, cuja essência é a (relação de) contradição inscrita na sua própria origem, desaparece 
com a eliminação da referida contradição; o que equivale reconhecer que a crise no capitalismo 
somente seria superada por meio da superação do próprio sistema. 
A concepção de crise em Marx, conforme identificamos, não pode ser separada da 
dinâmica do capital e, nem tampouco, a superação definitiva da crise no capitalismo fora da 
superação do próprio capitalismo. Neste ponto reside a unidade dialética da concepção marxista a 
cerca do capital e da crise. As teorias que se encontram fora desta concepção (incluindo aquelas 
que se reivindicam da teoria econômica de Marx), de forma explícita ou não, conformam-se 
enquanto teorias (ou metodologias) para o capital. 
Em nossa perspectiva, cada processo de crise no capitalismo compõe uma teia 
específica de articulação destes elementos `estruturais´ identificados por Marx. A crise, portanto, 
deve ser compreendida enquanto crise das relações capitalistas de produção e que, como tal, pode 
encontrar, como obstáculos conjunturais à sua reprodução, realidades econômico-sociais e/ou 
institucionais. 
Os obstáculos à reprodução capitalista poderão inviabilizar ou imprimir um curso 
particular ao desenvolvimento capitalista. A forma e o sentido da superação destes obstáculos 
 20
serão, necessariamente, uma conseqüência da interferência das classes, movimentos, grupos 
sociais e partidos políticos, em uma dada conjuntura nacional e internacional e sob uma 
determinada correlação de forças, em nível das superestruturas sociais. 
Postas estas considerações gerais, é necessário que superemos alguns equívocos quanto 
ao entendimento do conceito crise no sistema capitalista. Primeiramente, é necessário que se 
compreenda que a crise não é algo anormal ao sistema capitalista. Ela compõe a essência do 
referido sistema e é necessária à sua própria reprodução. 
Em segundo lugar, compreender que cada crise possui a sua especificidade. Uma crise 
poderá ser induzida ou não pelo poder público, como também ser mais ou menos duradoura. 
Em terceiro lugar, devemos distinguir as crises em função do grau e profundidade da 
sua repercussão. Neste sentido, as crises podem ser de repercussões mais imediatas e de curto 
prazo, que decorrem de flutuação dos indicadores econômicos e da re-acomodação produtiva das 
atividades econômicas; de repercussão mais ampla, que podem findar/criar novos ciclos 
expansivos no âmbito de um padrão de acumulação e financiamento; e, finalmente, de 
repercussão muito ampla, que caracterizam o esgotamento de um padrão de acumulação e 
financiamento capitalista. 
Em quarto lugar, devemos reconhecer que a crise no capitalismo não possui 
causalidades puramente econômicas e que estas podem não encontrar-se entre os fatores mais 
importantes na deflagração de uma crise econômica. O que implica orientarmo-nos por uma 
perspectiva de totalidade, ou seja, localizar fatores sociais, políticos, econômicos e ideológicos 
que concorram para uma crise, bem como hierarquizá-los segundo a sua importância na 
conjuntura. 
Em quinto lugar, a crise provoca, inexoravelmente, uma estagnação ou acumulação 
restrita de capital em termos econômicos globais. Comumente ocorre, paralelamente a este 
processo, a transferência de mais-valia e rendas para os grupos monopolísticos e oligopolísticos 
assegurando-lhes elevadíssima acumulação. 
Em sexto lugar, uma crise econômica pode estar criando condições sociais, políticas, 
econômicas e ideológicas para uma nova fase de acumulação do capital. Neste sentido, a 
destruição desencadeada pela crise pode ser um pressuposto para uma nova construção (ou 
expansão das relações capitalistas de produção). 
 
Capitalismo e Experiências ‘Pós-Revolucionárias 
 
As contradições emergidas do capitalismo e indicadas por Marx dão conta de evoluir 
 21
para processos revolucionários no século XIX e, principalmente, no século XX. Alguns 
destes processos são derrotados, a exemplo da Comuna de Paris de 1871, outros nos legam as 
experiências ‘pós-revolucionárias’, a exemplo do leste da Europa e da China. 
As experiências ‘pós-revolucionários’ denominadas ‘socialismo real’ não logram 
realizar a utopia socialista. O burocratismo, as relações autoritárias de poder, a corrida 
armamentista, o desequilíbrio do desenvolvimento do processo produtivo, o atraso técnico-
científico comparado aos centros dominantes do capitalismo, são demonstrações inequívocas 
da deturpação e desvirtuamento das sociedades ‘pós-revolucionárias’. 
E trivial - senão conservador - fixarmos apenas nas condições objetivas para explicar 
os ‘desvios’ e ‘insuficiências’ dos processos de construção do socialismo nas sociedades ‘pós-
revolucionárias’. É necessário salientarmos a distância estabelecida entre essas experiências 
históricas e a utopia socialista, especialmente a violentação da práxis da transformação social 
pela ação das vanguardas políticas. Em outras palavra, é menos importante compreender a 
superioridade tecno-científica dos centros imperialistas quando comparado com a 
identificação dos obstáculos que as estruturas de poder construídas nas experiências ‘pós-
revolucionárias’ acarretam no sentido da incompetência, acomodamento, desilusão e 
desperdícios, tendo em vista a compreensão da crise das referidas experiências. 
A transição do capitalismo para o socialismo somente poderá assegurar a superação 
da propriedade e do controle privado dos meios de produção se tal processo encontrar-se 
integrados coerentemente com o caráter social da produção e basear-se em uma hegemonia do 
mundo do trabalho. A contradição dialética entre a intervenção direta do mundo do trabalho 
(expresso no conceito ‘controle social da produção’) e os centros de poder externo ao mundo 
do trabalho (expresso na nova estrutura de poder construída) deve ser superado pela gestão 
direta da produção já nos primeiros ‘momentos’ da transição para o socialismo. Dessa forma, 
poderá ser possível libertar e harmonizar o desenvolvimento das forças produtivas com as 
necessidades da sociedade humana. Nada disto ocorre nas sociedades ‘pós-revolucionárias’ do 
século XX. 
A práxis política de transformação social deve superar qualquer prática política 
sectária e golpista, de forma a orientar-se pela ética e pela autonomia do movimento. O 
sentido estratégico da práxispode significar a realização da utopia socialista ou a sua negacão, 
a transição para o socialismo ou a crise de definição e de perspectivas em sociedades ‘pós-
revolucionárias’. 
Os equívocos das concepções predominantes nas experiências ‘pós-revolucionárias’ 
não permite que a tese de Marx, segundo a qual a propriedade dos produtores sobre os meios 
 22
de produção libertaria o desenvolvimento das forças produtivas, fosse confirmada ou 
refutada pela ação concreta dos atores sociais do mundo do trabalho. 
 
Capitalismo e Conflito Social 
 
O papel transformador do mundo do trabalho e a transição para o socialismo sofrem 
uma crise para algumas análises marxistas sobre sociedades capitalistas de intermediário e de 
elevado grau de desenvolvimento das forças produtivas. Para situarmos o debate necessitamos 
identificar alguns aspectos da sociedade capitalista do final do século XIX e do século XX. 
Marx previa um conteúdo revolucionário e permanente do capitalismo no plano do 
desenvolvimento das suas forças produtivas. Para Marx, o capitalismo removeria a camisa-de-
força sob a qual as forças produtivas encontrariam-se submetidas nas sociedades pré-
capitalistas e as conduziria de tal forma que as contradições, no que concerne às relações 
capitalistas de produção, estabeleceriam um período revolucionário de transição para o 
socialismo. A tendência de proletarização crescente de amplas camadas da sociedade e a 
internacionalização do espaço e política revolucionárias haveriam de se constituir em uma 
conseqüência dialética do processo. 
Essas previsões de Marx não se confirmam plenamente. No seu processo de 
desenvolvimento o capitalismo mundializa-se definitivamente, estende os seus tentáculos 
sobre todas as esferas da vida social e alcança o estágio de capitalismo monopolista de Estado. 
Mas nesse processo (e como reação a estratégia socialista) produz-se um conjunto de 
iniciativas e instrumentos no sentido de garrotear a contradição fundamental capital versus 
trabalho, de forma a buscar a subordinação do desenvolvimento das forças produtivas às 
relações capitalistas de produção. 
No plano técnico e científico o desenvolvimento das forças produtivas encontra-se 
deprimidas por que estão vinculadas necessariamente ao desperdício e ao luxo elevado e 
irrestrito. Grandes somas de excedentes são transferidas para financiar e manter a indústria da 
guerra; indústrias locomotivas do sistema, como a de automotores, produtoras de veículos de 
luxo e de decrescente duração, secundarizam a produção de meios de trabalho produtivo e de 
transporte de massa; informática e eletrônica, sob os limites das relações capitalistas de 
produção, canalizam-se muito mais para área de distribuição, serviços e pesquisas, do que 
para os processos de produção propriamente ditos, e assim por diante. 
A sociedade norte-americana, locomotiva do capitalismo e paraíso do ‘modus 
vivendi’ burguês ocidental é paradigmática. O elevado grau de desenvolvimento das suas 
 23
forças produtivas expressam esse conteúdo repressivo e destrutivo, por meio do luxo e 
desperdício nacionais, financiados graças a um sucateamento do sistema produtivo e 
pauperização social da periferia do mundo capitalista (América latina, África, etc) e pela 
‘guetificação’ social de parcelas da população da própria sociedade norte-americana. O 
‘irracionalismo econômico’ atinge o seu clímax e dramaticidade no próprio déficit público 
anual dos Estados Unidos, no momento superior a um terço da dívida externa fixa do 
chamado ‘terceiro mundo’. 
No plano político o desenvolvimento das forças produtivas encontra-se deprimido, 
primeiramente, pela institucionalização das lutas sociais. As reformas eleitorais e trabalhistas 
conduzidas na Alemanha no final do século XIX por Otto von Bismarck e posteriormente 
exportadas para outros países são capazes, respectivamente, de integrar/subordinar a ação 
política da esquerda ao campo institucional e de lançar as bases das progressivas reformas 
sociais e de seguridade social que redundaria mais tarde no Estado do bem-estar social. A 
carência de uma política econômica coerente com estas reformas e a necessidade de controlar 
a instabilidade depressiva e as crises termina por proporcionar a teoria keynesiana de 
regulação econômica. 
A revolução produtivista proporcionada pelos métodos fordista e taylorista de gestão 
produtiva integra estas mudanças institucionais. A divisão técnica do trabalho realizado por 
estes métodos assegura a ampliação da produção sem que para tanto tenha que assegurar um 
trabalhador com ampla consistência intelectual e motivado pelo trabalho coletivo. 
Combinadamente, o fordismo, o taylorismo e, a partir das últimas décadas, o toyotismo 
advoga nos países de capitalismo central a produção em massa e consumo em massa, nela 
incluído os trabalhadores. 
Amplia-se progressivamente a partir do final do século XIX as reservas sociais e 
políticas da hegemonia burguesa. O capitalismo encontra um meio de integrar, sob 
determinados limites, as expectativas individuais de consumo e conforto das pessoas em geral 
e dos trabalhadores em particular com a necessidade de reprodução material dele mesmo. Este 
processo, consolidado nas décadas de 50 e de 60 na forma dos chamados anos dourados do 
capitalismo, provavelmente teria ocorrido antes não fosse as duas grandes guerras mundiais. 
No plano da formação da consciência o desenvolvimento das forças produtivas 
encontra-se reprimido devido a manipulação científica das necessidades, dos desejos, das 
satisfações, dos prazeres. Esta manipulação representa um reforço complementar à unificação 
e integração da sociedade. Surgida da combinação entre a mídia eletrônica e a psicologia 
comportamental - manipuladas cientificamente - ela opera em nível da publicidade, da 
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indústria da diversão, etc, de forma a gerar o nó górdio entre a superestrutura político-
ideológica e a base do processo produtivo. Esse padrão ‘americanista’ da sociedade de trocas, 
emergido da concepção liberal do trabalho e da reificação do mercado, tem funcionado como 
um importante pára-choque das contradições e conflitos sociais. 
A razão crítica transformadora, que se apresenta como algo irresistível para os 
marxistas do final século XIX e início do século XX, dá lugar à uma razão crítica 
instrumental, fruto da coisificação humana na sociedade de trocas. A perspectiva do 
desenvolvimento da consciência ‘em si’ para a consciência ‘para si’ - transformadora e 
internacionalista - não se realiza na sociedade da Revolução de Outubro. Na Europa 
Ocidental, após as tentativas revolucionárias das primeiras décadas, podemos mesmo concluir 
ter ocorrido um refluxo da consciência ‘em si’ para a consciência ‘corporativa’. 
O capitalismo monopolista de Estado - proveniente da fusão das instituições e órgãos 
públicos com os núcleos dirigentes dos monopólios e oligopólios - consegue reprimir o 
desenvolvimento da contradição estabelecida entre as forças produtivas e as relação de 
produção capitalistas por meio da combinação entre a planificação econômica e aparelhos 
públicos e privados de hegemonia. A concepção marxista da passagem do capitalismo para o 
socialismo passa a conviver, a partir de então, com abalos emergidos da nova configuração do 
capitalismo. 
Ao construir novas reservas políticas e ideológicas a classe dominante não perde de 
vista o terreno nacional como a base fundamental para a realização do seu domínio. Os países 
de economia central buscam garantir índices de bem estar para parcelas substanciais das suas 
populações, visando promover altos níveis de estabilidade política e o tempo e espaço 
necessário para fortalecer sua hegemonia ideológica. O capital oligopolista efinanceiro 
internacional compreende que a coesão interna dos países de capitalismo central é 
fundamental para manutenção do domínio do capital em plano mundial. 
Nos países de capitalismo periférico a ‘pauperização progressiva’ é real para amplos 
setores. Contudo, os aparelhos de hegemonia, a militarização do Estado, os recursos da 
política tradicional, a constituição de segmentos sociais médios privilegiados, entre outros 
elementos, constituem-se em amortecedores das contradições sociais, isto é, convertem em 
mecanismos de contenção do desenvolvimento da luta de classes na perspectiva da 
transformação social. 
O capitalismo não pode conter ad eterno a contradição fundamental estabelecida 
entre as forças produtivas e as relações de produção. A subordinação das forças produtivas às 
relações de produção pode estar sendo abalada por meio da globalização da economia, do 
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acirramento da competitividade, da reestruturação produtiva, da desregulamentação 
econômica, da demolição e/ou minimização do Estado do bem-estar social em diversos países, 
da desregulamentação do mercado de trabalho, entre outros processos, em curso a partir dos 
anos 70 na Europa Ocidental e Japão e anos 80 e 90 do século XX no restante do mundo. As 
crises econômicas periódicas, o acirramento da disputa de hegemonia entre os blocos 
imperialista, a elevação do movimento operário internacional, a luta pela garantia das 
conquistas conduzidas pelo ‘socialismo real’ no leste da Europa, são exemplos de processos 
que expressam luta de classe e que são capazes de proporcionar acirramentos da contradição 
fundamental. 
Em que pese o contexto histórico favorável para o desenvolvimento do capitalismo 
no início do século XXI, não há como não reconhecer que ele sofre derrotas importantes. O 
movimento anti-globalização, a internacionalização da luta pelo socialismo, os limites da ação 
imperialista no mundo muçulmano, etc, evidenciam, por um lado, processos históricos que 
não podem simplesmente ser removidos pelo capitalismo e, por outro, as condições básicas e 
fundamentais destes conflitos não possuem solução no seu interior. 
 
O Marxismo Reprimido 
 
A dinâmica de reprodução ampliada do capital e as novas configurações sociais, 
políticas, econômicas e ideológicas do desenvolvimento capitalista proporciona um ambiente 
que pode desencadear a superação de alguns conceitos e categorias do marxismo. Na verdade, 
uma previsão feita pelo próprio marxismo. Todavia, a crítica a conceitos e categorias 
marxistas esta dando lugar a crítica ao método e a própria práxis política da transformação 
social. 
Os maiores adversários do marxismo emergem, não raramente, por dentro dele 
próprio. O revisionismo de Bernstein, Kautsky ou Mach, que buscam criticar o núcleo central 
das estruturas de análise que compõem o método e filosofia, são exemplos desta realidade. Os 
ideólogos da Teologia da Libertação reivindicam o ‘método marxista’ destituído da sua 
filosofia. Na verdade, propõem um retorno à um paraíso perdido: o hegelianismo de esquerda. 
Para os magos da ‘nova esquerda’, o marxismo é superado enquanto doutrina e filosofia 
revolucionária, restando um referencial - junto a outros - para interpretação e crítica do 
capitalismo. O marxismo - como momento da práxis revolucionária -, é dispensado, em 
função de um ecletismo metodológico e humanista neo-idealista. A ala esquerda da social-
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democracia (e aliados), questionam para além do método. Conceitos universais como: luta 
de classes, ruptura, revolução, entre outros, para esses setores fazem parte do grande sistema 
mitológico representado pelo ‘marxismo revolucionário’. Conforme Lukács, 
 
A função do marxismo ortodoxo - superar o revisionismo e o utopismo - não é a liquidação, de uma vez por 
todas, de falsas tendências, mas sim uma luta incessantemente renovada contra a influência corruptora de formas 
do pensamento burguês sobre o pensamento do proletariado. 
Manter o ‘alvo final’ ou a ‘essência’ do proletariado isentos das distorções do materialismo vulgar, significa a 
compreensão da realidade, a atividade crítica prática, a superação da dualidade utópica do sujeito e do objeto, da 
teoria e da práxis 
 
Esse quadro emerge de um duplo processo. De um lado, a crise das experiências 
‘pós-revolucionárias’ expressa, principalmente, por meio das burocracias autoritárias, das 
contradições nacionais e do atraso técnico e científico dessas sociedades. De outro lado, pela 
enorme capacidade repressiva desenvolvida pelo capitalismo junto às suas contradições 
básicas e fundamentais. A crise das sociedades ‘pós-revolucionárias’ e os novos obstáculos à 
luta pelo socialismo nos países periféricos e, principalmente, centrais do capitalismo, gera 
uma perplexidade no movimento socialista, de forma a expressar concepções revisionistas. 
Recriadas tendo como referência a social-democracia européia e desenvolvidas em novas e 
diversas formas, estas concepções estão quase sempre preocupadas com as ‘antinomias do 
marxismo’. 
Os críticos do marxismo ‘ortodoxo’ ampliam a sua influência, principalmente por 
meio da academia. O marxismo universitário desloca o centro de reflexão do movimento 
social e da luta de classes, como determina a melhor tradição marxista, para a academia. 
E como tal reivindica a separação da dialética do materialismo; da interpretação da 
realidade da articulação à perspectiva do mundo do trabalho; e do mundo do trabalho da 
transformação social. Esta é sempre o centro da ação política, teórica e filosófica de 
inspiração pequeno-burguesa contra o marxismo clássico. Não mais se estabelece uma relação 
dialética entre sujeito e objeto; quem conhece, conhece para si e para a academia e não para a 
classe. O conhecimento reflui para o plano da especulação e da ‘objetividade’ científica. 
Em certa medida, o marxismo universitário expressa o próprio processo de cooptação 
ideológica desenvolvido pela hegemonia burguesa, de forma a reduzir o marxismo a um 
método, concepção e teoria especulativa. A décima primeira tese sobre Ludwig Feuerbach é 
rejeitada, consciente ou inconscientemente, por amplos setores. Ainda segundo Lukács, 
 
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O marxismo ortodoxo refere-se ao seu método. Implica na convicção científica de que com o marxismo 
dialético encontrou-se o método correto de investigação e de que este só pode ser desenvolvido, aperfeiçoado e 
aprofundado no sentido indicado por seus fundadores; mais ainda: implica na convicção de que todas as 
tentativas de ‘superar’ ou ‘melhorar’ este método conduziram e necessariamente deveriam fazê-lo – a sua 
trivialização, transformando-o num ecletismo 
 
A denominada crise do ‘marxismo’ surge da incompreensão, em uma perspectiva 
histórica, da contradição formada entre o desenvolvimento crescente das forças produtivas e 
os obstáculos representados pelas relações de produção. Contradição esta relegada pelos 
novos revisionistas de sempre. Marx indica na obra Para a Critica da Economia Política 
(1858) as tendências econômico-tecnológicas internas ao desenvolvimento capitalista e que 
proporcionariam a sua tendencial dissolução: (Marx, 19.., p...). 
 
A medida que a grande indústria se desenvolve, a criação de riqueza real depende menos do tempo de trabalho e 
da quantidade de trabalho empregado e mais da potência dos instrumentos colocados em operação durante o 
tempo de trabalho. Esses instrumentos e a sua poderosa eficácia não são proporcionais ao tempo de trabalho 
imediato requerido pela produção; sua eficácia depende antes do nível científico adquirido e do progresso 
tecnológico, ou seja, da aplicação da ciência a produção.. – O trabalho humano não mais aparece então encerrado 
no processo de produção; é antes o homem queé ligado a esse processo apenas como supervisor e regulador. Ele 
está fora do processo de produção, ao invés de ser o seu agente principal... Nessa transformação, a base da 
produção e da riqueza não é mais o trabalho imediato realizado pelo homem, nem o seu tempo de trabalho, mas a 
apropriação de sua produtividade universal (poder criador), isto é, de seu conhecimento e de seu domínio da 
natureza através de sua existência social; em suma, do desenvolvimento do indivíduo social (das muitas 
capacidades). O furto do tempo de trabalho de um outro homem, sobre o qual se funda ainda hoje a riqueza 
social, aparece então como uma base bastante miserável, em comparação com a nova base criada pela grande 
indústria. Tão logo o trabalho humano, em sua forma imediata, deixe de ser a grande fonte de riqueza, o tempo 
de trabalho deixará de ser e de um modo necessário – a medida da riqueza; e o valor de troca deixará de ser a 
medida do valor de uso. O sobre-trabalho da Massa (da população) cessará de ser a condição para o 
desenvolvimento da riqueza social, e a situação privilegiada de alguns deixará de ser a condição para o 
desenvolvimento das faculdades intelectuais universais do homem. Então, cai o modo de produção baseado sobre 
o valor de troca 
 
O colapso do capitalismo em Marx está ligado a tendência de crescente automação 
fruto da enorme centralização/concentração do capital, no qual o produtor estaria cada vez 
mais livre do processo de produção. O produtor poderia, desta forma, desenvolver a crítica 
radical da sociedade capitalista e burguesa e construir a consciência de classe ‘em si’ e a 
consciência de classe ‘para si’, de forma a compreender o sentido ‘pré-histórico’ da 
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apropriação privada dos frutos do trabalho e apreender a necessidade de remover a 
contradição em favor do desenvolvimento humanizado das forças produtivas. A modernidade 
do capitalismo tem evidenciado a tendência, mas contraditoriamente, tem desenvolvido 
instrumentos para reprimi-la. 
Objetivamente, o revisionismo enfraquece o marxismo como teoria da crítica radical 
e priva o próprio método da práxis da perspectiva da transformação social. Por não 
compreender esta dinâmica do processo histórico, o resultado tem sido um retorno ao tipo de 
orientação política que majoritariamente grassa no Partido Social-Democrata Alemão, sob a 
direção de Kautsky e Bernstein. A estratégia gradualista para o socialismo no plano da tática 
política é orientado por uma política institucional-parlamentar, respaldado por um movimento 
sindical reivindicativo-imediatista. Em nível da ciência priva o trabalho científico do seu 
sentido de classe e transformador, de forma a reduzir-se a um conhecimento ‘objetivo’. Em 
outras palavras, reduz o marxismo a uma manifestação ‘positivista’ de esquerda. 
Libertar o marxismo do revisionismo ocupa grande importância na práxis voltada 
para a transformação social. A exemplo de Lukács e da Escola de Frankfurt é necessário que 
sejamos ‘ortodoxos’ na defesa da sua essência, o método. Combinadamente, é necessário 
desenvolver uma estratégia político-cultural mediada por uma camada de intelectuais 
orgânicos de classe, capazes de proporcionar a construção de um movimento social amplo e 
radical o bastante para efetuar a crítica ao capitalismo e dirigir a construção da consciência de 
classe ‘em si’ e ‘para si’. Enfim, articular uma intervenção ao nível da infra e superestrutura 
social, informado por uma nova concepção de mundo, social-revolucionária, que permita a 
conformação de um novo bloco histórico capaz de remover os obstáculos criados pelo 
capitalismo para o avanço do processo histórico. 
 
Construir a Autonomia do Marxismo 
 
Até a década de 30 do século XX partidos comunistas, a exemplo do italiano, 
exercem uma influência criativa no desenvolvimento do marxismo. O marxismo se articula à 
prática social e deste processo resultam transformações que o enriquecem. 
Posteriormente, sob a influência dos conflitos estabelecidos entre a II e a III 
Internacionais e, principalmente, por causa da relação burocrática, autoritária e a-crítica 
estabelecida entre a III Internacional e os partidos comunistas e destes para com seus 
militantes, grande parte da atividade teórica marxista acaba por se transferir para as 
universidades e se desvincular da prática política. Como conseqüência emergem novas 
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concepções a cerca do marxismo e que não raramente divergia do pensamento original de 
Marx e Engels. 
O desvirtuamento do marxismo encontra a partir de então um campo fértil. Isto 
porque o acadêmico não leva muitas vezes em conta as conseqüências práticas do seu 
pensamento, de forma a desautorizar um aspecto central do marxismo, qual seja, articular 
criativamente a teoria e a prática. O marxismo universitário haveria de enriquecer e, ao 
mesmo tempo, desviar o curso do marxismo. Superar o marxismo universitário é um passo 
importante no sentido do resgate da práxis transformadora. 
Outra iniciativa importante é libertar o marxismo da camisa de força representado 
pelo leninismo. O conceito ‘leninismo’ não possui um sentido de ‘universalidade’ na 
perspectiva de uma práxis transformadora. Formado no período da III Internacional a partir da 
necessidade de desenvolver uma organização partidária para a luta da transformação social em 
um contexto caracterizado por uma profunda repressão política, tal conceito prolonga-se para 
uma determinada concepção da internacional, do Estado soviético e de direções partidárias, 
cujas únicas interpretações válidas passam a ser aquelas emergidas da estrutura partidária. 
O ‘marxismo’ enquanto teoria leninista da revolução e amalgamado na política do 
partido perde a sua flexibilidade e autonomia como método de análise perante as práticas de 
partido. Não é casual a crise de elaboração ao nível da teoria e filosofia marxista ao longo do 
período, na medida em que um aspecto essencial à teoria crítica, qual seja, a liberdade de 
interrogação, encontra-se condicionado a estrutura orgânica do partido, a sua prática social, a 
sua concepção e o seu programa. 
Libertar o marxismo do leninismo não significa o retorno a um marxismo contem-
plativo. A superação do leninismo poderá proporcionar espaços para a reafirmação do método 
de análise marxista, condição necessária para a construção de uma teoria critica superior do 
capitalismo, para a construção de novos instrumentos de luta do mundo do trabalho e para a 
derrota estratégica do social-reformismo. A articulação destas diversas frentes de intervenção 
política do marxismo deve partir da sua própria crítica e convergir no reconhecimento da 
realidade nacional, de forma a identificar o novo estágio do capitalismo e suas contradições 
básicas; apreender a superestrutura vigente, em especial os modernos aparelhos privado e 
públicos de hegemonia; e compreender a estrutura de classes e a diversidade de expressões 
políticas e ideológicas que dela emergem. 
O marxismo há de ser ‘militante’. Deve contribuir para o aprofundamento da crítica 
das experiências ‘pós-revolucionárias’ e para a compreensão dos processos sociais que 
reprime o desenvolvimento das forças produtivas, em especial a formação da consciência de 
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classe, tendo em vista supera-los. Combinadamente, deve buscar contribuir para a 
construção de referenciais gerais para o enfrentamento com capital em sua dimensão global. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3 – DIALÉTICA E HISTÓRIA 
 
Marx, por meio do diálogo crítico com os pensadores que o precedem e do 
compromisso com o mundo do trabalho, confecciona um novo método de análise. Método

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