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CP-TGE-2013 - Resumo 10 (Personalidade Jurídica do Estado)

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FACULDADE DE DIREITO DE SOROCABA – FADI 
Ciência Política e Teoria Geral do Estado – 2013 
Professor Jorge Marum 
Resumo 10 – Personalidade jurídica do Estado
“À multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim civitas. É esta a geração daquele grande Leviatã, ou melhor (para falar em termos mais reverentes), daquele Deus Mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus Imortal, nossa paz e defesa” (Thomas Hobbes).
Introdução. Nos capítulos anteriores vimos os elementos que compõem o Estado: povo, território, soberania e, para alguns autores, finalidade. O Estado é a síntese desses quatro elementos. Segundo a maioria dos doutrinadores, o Estado é a personificação dessa síntese, ou seja, o Estado é uma pessoa formada pela união de um povo em um território, com poder soberano e, para alguns, uma finalidade. Portanto, para podermos definir o Estado, ou seja, para sabermos o que de fato ele é, temos que saber por que ele é considerado uma pessoa e que tipo de pessoa é essa. 
Personas
Pessoa. A palavra pessoa vem do latim persona, nome da máscara utilizada pelos atores do teatro romano, a qual servia para caracterizar os personagens e, ao mesmo tempo, dar maior ressonância à voz (per sonare: soar por, através de). Pessoa, na linguagem atual, é a dimensão social do ser humano, daí derivando a personalidade. 
Personalidade jurídica. Para o Direito, pessoa é o sujeito ou titular de direitos e obrigações. A personalidade jurídica é a capacidade genérica (abstrata) de ser sujeito de direitos e obrigações. Diante disso, questiona-se: todos os seres humanos são pessoas? E os fetos, também são pessoas? Coisas e animais são pessoas? Empresas são pessoas? O Estado é uma pessoa? 
Seres Humanos. Atualmente, pelo menos em sistemas jurídicos minimamente civilizados, todos os seres humanos são considerados pessoas perante o Direito, ou seja, capazes de direitos e obrigações. Nem sempre foi assim: na antiguidade greco-romana, só os cidadãos eram pessoas, o que excluía mulheres, crianças, escravos e estrangeiros. Onde há escravidão, os escravos não são considerados pessoas e sim coisas. Quanto aos fetos, discute-se se são ou não pessoas. Segundo o Código Civil (art. 2º), a personalidade civil começa com o nascimento, mas a lei protege os direitos do nascituro desde a concepção, ou seja, o feto tem direitos, embora não tenha personalidade “civil”. 
 
Coisas e animais. Na Idade Média chegou-se a processar objetos e animais, como vassouras e gatos, como supostos cúmplices de bruxaria, o que, na linguagem atual, lhes conferia personalidade. Atualmente, discute-se se a proteção aos animais e às plantas decorre de direitos próprios destes (Herman Benjamin) ou de um imperativo ético (Miguel Reale). 
Sobral Pinto
O caso Harry Berger. O alemão Harry Berger era um agente do Comintern que veio ao Brasil para participar da tentativa de revolução comunista em 1935. Preso, foi barbaramente torturado pela polícia de Getúlio Vargas. A ditadura getulista havia suspendido o habeas corpus, que serve para garantir a liberdade e a integridade física de pessoas presas. Heráclito Sobral Pinto, então um jovem advogado, à falta de uma lei que pudesse proteger o preso, invocou em favor de Berger a lei de proteção aos animais, assinada pelo próprio Vargas e que proibia a crueldade contra animais. O ditador, ao cercear os direitos básicos das pessoas, esquecera-se de que seres humanos também são animais... 
 
O caso do chimpanzé Jimmy. Mais recentemente, houve o caso do chimpanzé Jimmy, preso numa pequena jaula no zoológico de Niterói. Entidades ambientalistas impetraram habeas corpus em favor do animal, a fim de que fosse transferido para um santuário de primatas em Sorocaba. Sob o argumento de que o habeas corpus só pode ser utilizado para garantir direitos de pessoas, e que o chimpanzé, embora tenha 99,4% de genes idênticos aos humanos, não é pessoa, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro negou o benefício ao animal. 
 
O chimpanzé Jimmy
Pessoa Jurídica. O Direito reconhece a personalidade jurídica de entidades formadas por outras pessoas, dotadas de existência e vontade próprias que não se confundem com as de seus membros. São entidades como empresas, clubes, associações e também o Estado. O Estado, portanto, é uma pessoa jurídica, pois é formado por outras pessoas e é capaz de direitos e obrigações próprios.
Histórico. Deve-se ao contratualismo a primeira concepção do Estado como um ente autônomo, com vontade própria, diferenciado de seus membros. Essa concepção, porém, era puramente política, ou seja, sem implicações jurídicas. As teorias para qualificar juridicamente o Estado surgem no século XIX, com publicistas alemães como Savigny, Gierke e Jellinek. Deve-se a eles a qualificação do Estado como pessoa jurídica, com importantes repercussões no Direito Público. 
Teorias sobre a personalidade jurídica do Estado. A partir do século XIX, surgiram várias teorias para explicar a personalidade jurídica do Estado: 
ficcionismo: para essa teoria, pessoas, na realidade, são apenas os seres humanos dotados de consciência e vontade. Segundo Savigny, a pessoa jurídica é uma ficção criada pelo Direito por motivos de ordem prática (ficcio juris), a fim de possibilitar que certas entidades sejam sujeitos de direitos e obrigações legais. 
realismo: para os realistas, o Estado tem existência real, alguns chegando ao exagero de afirmar que essa realidade é material (organicismo biológico). Já segundo os adeptos do organicismo ético como Gierke, quando as pessoas se reúnem para realizar uma finalidade, surge um novo ente real, com vida e vontade próprias, independente de seus membros, mas que não tem existência material, e sim moral (espiritual, ideal). 
institucionalismo: para o autor francês Hauriou, a pessoa jurídica ou instituição é uma unidade de fim. Hauriou utiliza-se da filosofia tomista, segundo a qual existem unidades físicas (ex.: um bloco de metal) e unidades de fim (partes que se unem para um objetivo comum, como um relógio). Unidades de fim podem ser formadas tanto por objetos materiais em torno de ideais, pois as emoções e as idéias também têm existência real. A instituição ou pessoa jurídica é uma união de pessoas em torno de uma idéia e, assim, tem existência real.
Teoria de Jellinek. Jellinek simplifica a questão, afirmando que sujeito, em sentido jurídico, não é uma algo material, palpável, mas simplesmente uma capacidade criada pela ordem jurídica. A ordem jurídica pode atribuir essa capacidade a seres humanos e a instituições. Assim, a personalidade jurídica do Estado é algo real, e não fictício, simplesmente porque o Direito assim o determina. 
Oposição. Em oposição à idéia de Estado como pessoa jurídica, Seydel afirma que o Estado é apenas terra e gente dominadas por uma vontade superior. Para o anarquista de cátedra Duguit, o Estado é apenas uma relação de fato e, portanto, não poderia se transformar em pessoa. Essas teorias são minoritárias na doutrina, prevalecendo a idéia de que o Estado é uma pessoa jurídica, cuja capacidade decorre do Direito. 
Importância. O reconhecimento da personalidade jurídica do Estado foi uma conquista importantíssima do Direito Público. Dela resulta: 
a capacidade do Estado para ser sujeito de direitos e obrigações, tanto internamente como na ordem internacional; 
a vontade do Estado não se confunde com a dos seus representantes (órgãos), cujos atos lhe são imputados; 
limitação jurídica do poder; 
conciliação do jurídico com o político (vontade política regulada e limitada juridicamente). 
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O caso do moleiro de Berlim. Para ilustrar a importância da atribuição da personalidade jurídica ao Estado, é interessante lembrar essa história, que teria ocorrido em 1745, na Prússia, já então um Estado moderno. Um humilde moleiro tinha o seu moinho próximo ao palácio do rei Frederico 2º, chamado “o grande”, que, apesar de ser amigo de intelectuais, governava de formaautoritária e pretendia personificar o Estado (“déspota esclarecido”). Incomodado com o moinho, que atrapalhava a paisagem do castelo, o rei emitiu uma ordem para que a construção fosse removida. O moleiro, porém, se negou obedecer. Frederico o chamou para tirar satisfações e ele, então, teria dito a célebre frase: “Ainda há juízes em Berlim”. Ou seja, o Estado, embora representado pelo rei, tem limites estabelecidos na lei e um humilde cidadão pode invocar essa limitação perante outro órgão do Estado, que é o Poder Judiciário.
Leitura essencial: Dalmo Dallari, Elementos de Teoria Geral do Estado, Capítulo III, itens 60 a 63.
Leituras complementares: Miguel Reale, Lições preliminares de direito, Cap. XVIII. Georg Jellinek, Teoría General del Estado, L II, Cap. 6.

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