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O Design como Disciplina Nigel Cross – 2006 CROSS, N.; Designerly ways of knowing, Springer-‐Verlag, London, 2006 Nigel Cross (2006): trabalho procurando identificar o Design como um modo particular de cognição/raciocínio e seu corpo de conhecimentos próprio. Valores intrínsecos do Design como sendo os Designerly ways of knowing: • O design desenvolve habilidades inatas de solução de problemas reais mal-‐ estruturados; • O Design favorece o pensamento construtivo, ou seja, o desenvolvimento da cognição concreta/icônica; • O design oferece oportunidades para desenvolver uma ampla gama de habilidades do pensamento e da comunicação não-‐verbal. Solução de problemas reais mal-‐estruturados Conforme Cross (op.cit), designers manipulam códigos não-‐verbais da cultura material e traduzem esses códigos em mensagens através de objetos concretos e conceitos abstratos. Esse processo é potencializado pelo raciocínio do designer que é focado na busca de soluções; assim como os códigos verbais e numéricos potencializam o raciocínio analítico de cientistas, que é focado no resolução de problemas. Além disso, o processo de Design desenvolve nos estudantes a habilidade para lidar com uma classe particular de problemas, caracterizada pelos problemas mal-‐defindos e/ou mal-‐ estruturados (wicked problems, visto na capítulo anterior) que são bem diferentes da classe dos problemas bem-‐estruturados abordados pela educação em Ciências e Humanidades. Conforme Cross, (op cit) isso pode nos levar a acreditar que a natureza destes problemas é mais realista, ou seja, mais próxima das questões e decisões enfrentadas pelas pessoas do dia-‐a-‐dia. Ainda no esforço de justificar a Educação em Design como modo de abordagem de problemas Cross comenta que não se trata de um treinamento ou um ensino instrumental. Refere-‐se à formação de um sujeito hábil a compreender a natureza dos problemas mal-‐definidos, com competência para abordá-‐los identificando sua diferença para outras classes de problemas. Pensamento construtivo De acordo com Cross (op.cit), a aprendizagem subjacente ao processo projetual de busca de soluções para problemas mal-‐estruturados que implicam no desenvolvimento de objetos concretos e/ou conceitos abstratos, leva-‐nos à esfera do tipo de raciocínio muito particular ao Design: o pensamento construtivo (ou segundo Pierce, 1931, 1958, seria o pensamento abdutivo). Essa classe de pensamento difere daqueles mais comumente reconhecidos: indutivo e dedutivo. Conforme Cross (op.cit), no meio pedagógico, o pensamento construtivo tem sido negligenciado como um aspecto do desenvolvimento cognitivo dos sujeitos. Isso ocorre em detrimento à predominância da cultura das Ciências e Humanidades e também devido a supremacia da teoria dos estágios do desenvolvimento cognitivo. Neste momento Cross (op cit) faz uma crítica à teoria de Piaget no que se refere ao enquadramento do raciocínio concreto, construtivo e sintético como pertencente a uma fase passageira, pois que estes tipos de raciocínio, conforme Piaget, ocorreriam muito cedo no desenvolvimento infantil e logo após seriam substituídos por estágios mais elevados caracterizados pelo raciocínio abstrato e analítico (predominantes nas Ciências). O desenvolvimento do pensamento e da comunicação não-‐verbal Em contrapartida a teoria dos estágios de desenvolvimento, Cross (op.cit) aponta para outras teorias cognitivas, citando como exemplo Bruner que aponta para cognição icônica e simbólica, enquanto Piaget discute em termos de cognição concreta e formal. Essas outras teorias sugerem que o desenvolvimento cognitivo é um processo contínuo de interação entre diferentes modos de cognição, onde cada um pode atingir níveis elevados. Cross defende que esses são modos qualitativamente distintos de cognição, e não diferentes estágios de desenvolvimento. Ou seja, são distintas habilidades cognitivas e todas podem ser desenvolvidas em diferentes níveis. O modo de cognição concreta/icônica é particularmente relevante para o Design enquanto o modo formal/simbólico é mais apropriado às Ciências. Considerando uma teoria cognitiva que incorpora a continuidade ao invés dos estágios de desenvolvimento, temos um forte argumento para a Educação em Design, uma vez que ela favorece o desenvolvimento da cognição concreta/icônica. Com base nesta justificativa pode-‐se reconhecer que existem áreas da cognição humana que vem sendo sistematicamente ignoradas nos modelos de educação geral pelo mundo afora. A abordagem da "terceira cultura" (Cross, op cit) reside na aprendizagem da "modelagem" e dos códigos fortemente presentes nas imagens, desenhos, diagramas e rascunhos que são produzidos para facilitar o raciocínio ou para comunicar ideias a outras pessoas. Isso ainda inclui o estudo da esfera da linguagem gráfica (graphicacy), da linguagem dos objetos e dos mapas cognitivos. French (1979, in Cross, op cit) que o estudo do pensamento não-‐verbal seria a principal justificativa para o Ensino do Design: Éestreitamente na educação não-‐verbal de uma criança, e no aprimoramento da acuidade deste tipo de raciocínio, que reside a primordial justificativa para ensinar Design nas escolas. French (1979, in Cross, op cit)
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