Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Gestão Ambiental Unidade 1 Universidade de Fortaleza - Unifor Núcleo de Educação a Distância - NEAD Universidade de Fortaleza - Unifor 2 Gestão Ambiental Unidade 1 SUMÁRIO Universidade de Fortaleza - Unifor 2 UNIDADE 1 1. Evolução Histórica das Questões Ambientais no Brasil e no Mundo e Fatores Condicionantes das Mudanças Relativas ao Tema 2. Conceito e Aplicações do Modelo de Desenvolvimento Sustentável 2.1 A questão central do discurso sobre o desenvolvimento sustentável 2.2 O capital natural: outro conceito fundamental 2.3 A preocupação com a sociedade e com o indivíduo 2.4 A abordagem multidimensional do desenvolvimento sustentável 2.4.1 A dimensão espacial 2.4.2 A dimensão social 2.4.3 A dimensão ambiental 2.4.4 A dimensão cultural 2.4.5 A dimensão econômica 2.5 Meio ambiente, impactos socioespaciais e sustentabilidade 2.6 A intervenção e mitigação dos impactos ambientais e aplicações do modelo de Desenvolvimento Sustentável 3. Conceituação de Gestão Ambiental e Apresentação de suas Dimensões, Aplicações e Interfaces 3.1 Gestão ambiental nas empresas 3.2 A evolução do processo de gestão ambiental nas organizações 3.3 Aspectos fundamentais da gestão e do gerenciamento ambiental 4. Conceituação de Gestão Ambiental Pública, Instrumentos de GAP e suas Aplicações 4.1 Aplicação da gestão ambiental e instrumentos de GAP 4.2 Instrumentos de gestão ambiental Referências da Unidade 01 Universidade de Fortaleza - Unifor 3 Gestão Ambiental Unidade 1 UNIDADE 1 Olá! Seja bem-vindo à disciplina de Gestão Ambiental à Distância. Nessa disciplina iremos abordar as relações empresariais e as questões socioambientais, a partir de um sistema de planejamento, segundo os princípios do desenvolvimento sustentável. Nosso estudo está dividido em quatro unidades, mas antes de começar a primeira unidade é importante conhecer qual o objetivo de aprendizagem. Vamos lá! Espero que nosso estudo seja proveitoso e lembre-se de complementar os assuntos aqui abordados com a sua web-aula. Bons estudos! Compreender a evolução das questões ambientais e dos fatores condicionantes Y das mudanças, permitindo que seja avaliado de forma crítica o conceito de Desenvolvimento Sustentável; Apresentar o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) a partir da definição dos Y elementos que o compõem, para o desenho de propostas de solução e implementação nas organizações. Objetivos 1. Evolução Histórica das Questões Ambientais no Brasil e no Mundo e Fatores Condicionantes das Mudanças Relativas ao Tema Quando abordamos sobre a raiz da crise ambiental do nosso planeta, referimo-nos tradicionalmente à crise econômica e social que causam problemas no equilíbrio ecológico. Em uma perspectiva sistêmica, podemos dar como exemplo a situação de que se ao afetarmos um dos subsistemas ambientais, estaremos consequentemente impactando os outros. Mas, na realidade, a raiz da crise em nosso Planeta vai mais além das relações de causa-efeito aparentemente observadas. Se dermos um passo atrás na História, poderemos verificar que o surgimento da visão iluminista, apoiada pelos filósofos contemporâneos, acarretou um enaltecimento do pensamento racional. A ação antrópica, para fins de sobrevivência planejada e premeditada na biosfera, ocorre desde o aparecimento do ser humano. Portanto, as sociedades sempre interferiram de uma forma ou de outra no sistema ecológico. A revolução industrial, há cerca de 250 anos, marcou uma nova era em que a intervenção humana passou a ser decisiva e impactante para o equilíbrio dos sistemas biológicos e até mesmo aos sistemas econômicos e sociais. Desde então o planeta Terra tem sido impactado pelas atividades humanas em praticamente todos os níveis da biosfera. De acordo com Jonathon Porritt, o modelo de progresso herdado pela revolução industrial do século passado, que se caracterizou por um crescimento econômico a qualquer preço – mesmo com todos os problemas econômicos atuais –, continua se desenvolvendo na mesma dinâmica institucional massiva com o qual iniciou o processo historicamente. Jonathon Porritt é o diretor do Fórum do Futuro, uma instituição não-lucrativa que desenvolve ações voltadas para a promoção do desenvolvimento sustentável no Reino Unido. Possui 70 colaboradores e mais de 100 organizações parceiras em todo o mundo. Universidade de Fortaleza - Unifor 4 Gestão Ambiental Unidade 1 O avanço tecnológico moderno e o desenvolvimento acelerado dos países ricos, através de megaempreendimentos industriais, provocou grande crescimento econômico, mas muitas vezes a custos ambientais enormes. Entre as décadas de 1970 e 1980, os indicadores deste processo de desenvolvimento foram os desastres ambientais de Seveso Chemical (Roche), na Itália, o acidente nuclear de Three Mile Island, nos EUA, os acidentes químicos de Bhopal, na Índia, e Basel, na Suíça, o desastre nuclear de Chernobyl, na extinta União Soviética, incluindo o derrame do petroleiro Valdez, da corporação Exxon, no Alasca. Estes desastres provocaram um dramático crescimento da conscientização ambiental no mundo, principalmente na Europa e nos EUA. (CALLENBACH et al., 1993). Lembrando De acordo com isso, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em seu relatório denominado “A Global Green New Deal” (2009), onde demonstra os índices de degradação ambiental (social, econômico e ecológico) em nosso planeta, destacou o valor das perdas da biodiversidade e degradação dos ecossistemas, conforme pode ser verificado a seguir: 800 milhões de pessoas sofrem de desnutrição. Em 2020 prevê-se que este número D chegará a um bilhão e meio. Dois bilhões de pessoas sofrem com a insuficiência de micronutrientes no organismo; Um terço da população mundial sofre com a carência de água. Dois terços da população D terão dificuldades em obter água no ano 2025; O desaparecimento das espécies de animais e vegetais avança hoje a um ritmo entre D mil e dez mil vezes maior que o seu desaparecimento natural. Estima-se que nos próximos 100 anos podem desaparecer dois terços das espécies; Quatro quintos das florestas originárias na face da Terra já foram dizimadas e 40% D da vegetação que ainda resta está ameaçada pelos desmatamentos que chegam a 16 milhões de hectares anualmente; A cada ano perde-se mais de 25 bilhões de toneladas de solo fértil. A erosão dos solos D ameaça o sustento de mais de um bilhão de pessoas no planeta; 20% dos peixes no mundo estão extintos, ameaçados ou em perigo de extinção. Cerca D de 70% dos estoques de pesca marinha são explorados acima de sua capacidade; 5 milhões de pessoas morrem todos os anos por causa de enfermidades – como D a diarreia – transmitidas pela água contaminada. Outras 2,5 milhões de pessoas morrem anualmente por problemas respiratórios provocados pela queima de combustíveis fósseis; O aquecimento global e as mudanças climáticas promovidas pelas atividades D humanas mediante a emissão de gases, como o dióxido de carbono (CO2) e os desmatamentos, provocou, somente em 1998, uma perda econômica comparável a toda a década de 80. Universidade de Fortaleza - Unifor 5 Gestão Ambiental Unidade 1 Em decorrência dos crescentes problemas ambientais que se iniciaram intensamente no século passado, em 1970, cientistas de vários países reuniram-se na Itália e instituíram o Clube de Roma, visando discutir a questão ambiental a nível mundial. Como resultado das reuniões, muitos relatórios foram elaborados e divulgados, dentre eles o mais polêmico, intitulado “Os limites de Crescimento”, onde se defendia que o desenvolvimento econômico no Terceiro Mundo deveria ser zerado para evitar maiores degradações ambientais no planeta. O Clube de Roma foi constituído por industriais, políticos e cientistas no ano de 1968 com a finalidadede analisar e discutir os limites do crescimento econômico e as implicações sobre os recursos naturais e a biosfera como um todo. Por conta dos estudos realizados, em 1972, os pesquisadores, liderados por Dennis L. Meadows, publicaram o estudo intitulado “Os Limites do Crescimento”, no qual apresentam uma projeção para cem anos onde aponta-se que, para atingir a estabilidade econômica e respeitar a limitação dos recursos naturais, é necessário estabilizar o crescimento da população global e do capital industrial. Torna-se interessante observar que as projeções não consideraram o avanço tecnológico e a possibilidade de descoberta de novos materiais. Este posicionamento representava uma evidente reedição das antigas teses de Malthus (população crescendo em Progressão Geométrica e Recursos em Progressão Aritmética) sobre os perigos do crescimento da população mundial. Os Limites do Crescimento Obra escrita em 1972 por Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jorgen Randers, and William W. Behrens III. Aborda as consequências danosas do acelerado crescimento da população e os impactos promovidos nos sistemas biológicos e serviços ambientais. A primeira Conferência Mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, ocorrida em Estocolmo, em 1972, teve como “âncora” o relatório do Clube de Roma, e a partir dela a questão ambiental a nível mundial começou a ter um enfoque mais pragmático em termos de controle ambiental e preservação ecológica. Depois desta reunião, muitos organismos internacionais foram criados, como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), dentre outros, fortalecendo a gestão institucional de meio ambiente e ao mesmo tempo estimulando a implementação de diretrizes ambientais nos vários setores de desenvolvimento. No Brasil, logo após a conferência de Estocolmo, criou-se, em 1973, a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), vinculada ao então Ministério do Interior, com a competência de promover a elaboração e o estabelecimento de normas e padrões relativos à preservação do meio ambiente, em especial dos recursos hídricos, assegurando o bem-estar das populações e o seu desenvolvimento econômico e social, regulamentando o uso adequado dos recursos ambientais. A SEMA posteriormente formulou a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), que foi promulgada como Lei n° 6.938/81. Importante Nos anos 80 foi possível ver a ascensão do ativismo ambiental nos EUA, desde o movimento Earth First! até as amplas coalizões forçando a implantação de legislações de meio ambiente mais rigorosas. Este movimento culminou com a declaração do Dia da Terra, em 1990, através de uma enorme manifestação popular voltada para alertar populações e governantes da necessidade de salvar o Planeta de uma possível catástrofe ambiental global. Universidade de Fortaleza - Unifor 6 Gestão Ambiental Unidade 1 Nesta mesma época, a Cultural Surviva, uma ONG internacional, iniciou uma campanha de importar produtos cuja disponibilidade dependia da preservação ambiental e do “know-how” dos povos indígenas ameaçados pelo desenvolvimento descontrolado, tais como nozes e óleos das florestas tropicais que eram usados para a fabricação de alimentos, botões e cosméticos. Paralelamente a este movimento, iniciou-se também as ações radicais do navio Rainbow Warrior, da organização Greenpeace, contra os empreendimentos e ações poluidoras – como as usinas termelétricas e nucleares – as matanças das baleias, o lixo tóxico e as grandes indústrias poluidoras, como forma de alertar o mundo dos perigos ambientais. Estes e outros movimentos, apoiados pela comunidade científica internacional e entidades políticas, como os Verdes (Die Grünen) da Alemanha, levaram a população a exigir maiores regulamentações e tomada de decisões pelos governantes para controlar a crise ambiental. Em 1982, cientistas de vários países verificaram que pouco havia sido implementado sobre as recomendações sugeridas no relatório do Clube de Roma, levando à realização de uma assembleia geral das Nações Unidas para discutir com os países membros o desenvolvimento de um relatório mundial para avaliar a situação ambiental do planeta. Este documento resultou no relatório Bruntland, que descreveu a macro problemática ambiental tanto dos países industrializados como daqueles em desenvolvimento, propondo a realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (UNCED), ou conhecida simplesmente como a Rio-92, onde os governantes pudessem se reunir e aprovar os tratados e convenções sugeridas nos capítulos da Agenda XXI. Durante a Conferência, realizou-se também o Fórum Global 92, que reuniu a sociedade civil organizada (ONGs), representada pela maioria dos setores sociais (arte, religião, ecologia, ciência, cultura, economia, dentre outras), para que fosse avaliada a mencionada Agenda e discutidas as soluções globais necessárias para o Desenvolvimento Sustentável. A partir do Fórum Global, muitas sugestões e diretrizes novas foram propostas, documentadas e oficializadas através de organizações não governamentais (ONGs), criando assim o slogan de “pensar globalmente e atuar localmente”, mostrando que o que fazemos em âmbito local irá refletir globalmente, e todas as sociedades e nações são responsáveis pela promoção da sociodiversidade no planeta. Porém, quase 20 anos após a UNCED e o Fórum Global, todos os esforços no sentido de preservar o planeta e as questões básicas socioambientais continuam subdesenvolvidos. A raiz disso está no despreparo das sociedades, nações e corporações em ceder a um estilo de vida menos impactante. As melhorias requerem mudanças básicas muito enraizadas em processos econômicos e culturais fortes. Para isso, são necessárias mudanças de comportamentos individuais e coletivos, mas estas precisam de tempo porque é necessário mudar hábitos e crenças antigas, demandando mudanças de grande complexidade, mas que não são impossíveis. Reflexão Universidade de Fortaleza - Unifor 7 Gestão Ambiental Unidade 1 2. Conceito e Aplicações do Modelo de Desenvolvimento Sustentável A construção histórica do conceito de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável está vinculada com o incremento da preocupação da manutenção e existência de recursos naturais e um ambiente propício para continuidade das gerações futuras, rediscutindo o ritmo e a forma como o sistema capitalista propunha o desenvolvimento das sociedades. Apesar de distinções conceituais já existentes desde a década de 1970 entre crescimento e desenvolvimento, as políticas e ações econômicas se orientavam pelo uso intensivo de recursos em privilégio ao objetivo de aumentar a produção, o consumo e a riqueza. A sustentação desse tripé econômico era o grande desafio para o “desenvolvimento” da sociedade. Sendo assim, o conceito de desenvolvimento não pode ser apenas econômico, mas deve abordar uma visão sistêmica. Esse enfoque envolve economia, cultura, estruturas sociais, uso dos recursos, entre outros fatores. se relaciona com a manutenção, primeiramente, do ambiente Um fim se relaciona com a questão do desenvolvimento se fazer melhor Processo Desenvolvimento sustentável Sustentabilidade são sinônimos em muitas situações É importante ressalvar que os termos sustentabilidade e desenvolvimento sustentável são utilizados como sinônimos em muitas situações, porém, são diferentes. O conceito de desenvolvimento sustentável relaciona-se com a questão de desenvolvimento, de fazer melhor, e sustentabilidade com a manutenção, primariamente, do ambiente. Assim, temos o desenvolvimento como um processo e a sustentabilidade como um fim. Importante As diferenças entre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável afloramnão como uma questão dicotômica, mas como um processo em que o primeiro se relaciona com o fim, ou objetivo maior, e o segundo com o meio. Entretanto, essa distinção está imersa em uma discussão ideológica que se insere em pensar algo para o futuro ou em preocupar-se com ações presentes e suas consequências. Ao ser discutido o desenvolvimento sustentável não se pode perder de vista a própria sustentabilidade, o contrário também é verdadeiro. 2.1 A questão central do discurso sobre o desenvolvimento sustentável O conceito ideológico que permeia a definição de desenvolvimento sustentável, sobre cujo destino alia-se a decisão de custo versus benefícios, retoma a necessidade de preocupação e de uso racional dos recursos. Universidade de Fortaleza - Unifor 8 Gestão Ambiental Unidade 1 Viabiliza-se o sistema em busca da sustentabilidade, considerando que o presente é influenciado pelo passado e condicionante do futuro, ou seja, as decisões têm impactos em gerações futuras. Trata-se desenvolvimento sustentável como “aquele que atende às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem a suas necessidades e aspirações”. Esta definição foi consagrada pelo Relatório Brundtland (oficialmente conhecido como “Nosso futuro comum”, 1987), produzido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Considerando que as necessidades se alteram e se incrementam com o tempo, pode-se refletir que o desenvolvimento sustentável trata do aprimoramento da condição humana e de suas bases materiais, sabendo que o incremento da condição de vida hoje não deve dar-se de qualquer forma, ou seja, ao custo da degradação da qualidade de vida das futuras gerações. 2.2 O capital natural: outro conceito fundamental Como sabemos, os seres vivos interagem de forma dinâmica com o meio e por conta disso os objetivos da sustentabilidade mudam com o passar do tempo. Estas mudanças se dão por que as inter-relações e as características desses seres tornam o sistema mutável, e o uso dos recursos constituem-se em motivo de rediscussão a cada fato novo, ou seja, o capital natural torna-se um importante recurso para consecução de produtos e serviços, assim como para garantir o desenvolvimento do sistema. De forma sintética, pode-se destacar o conceito de capital natural, constituído de recursos, sistemas vivos e serviços do ecossistema, como um quarto pilar da economia, em vez dos tradicionais capital humano, financeiro e manufaturado. O desenvolvimento sustentável não se limita à preocupação sobre o que e para quem produzir, mas à questão de como produzir torna-se fundamental para garantia da continuidade do bem ou serviço em questão. Dessa maneira, a decisão da empresa está associada a uma cadeia de valor que envolve desde os produtos finais até os recursos de matéria-prima. Com isso, ampliam-se os fatores de decisão sobre a interferência das organizações empresariais ou de outro agente econômico, como o Estado. Como já dito anteriormente – mas não custa enfatizar – esse sistema deve ser estudado com enfoque sistêmico compreendendo aspectos econômicos, culturais, de estrutura social, de uso dos recursos, entre outros, tornando- se insustentável para garantir a sustentabilidade, posto que as interações e características entre e dos agentes se alteram com o passar do tempo. Lembrando A preocupação com o capital natural associa-se ao princípio da insustentabilidade do sistema capitalista, repensando a sua trajetória e questionando sua continuidade. Mais que um novo capital, O termo faz referência a Gro Harlem Brundtland, ex-ministra do Meio Ambiente e ex-primeira-ministra da Noruega, que presidiu a partir de 1983 a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Universidade de Fortaleza - Unifor 9 Gestão Ambiental Unidade 1 tornou-se um elemento transformador da forma de se pensar o desenvolvimento sustentável, agregando o componente tempo à análise e definição de metas daquilo que se espera ser sustentável. No decorrer de um sistema econômico, social e ambiental, a transformação da sociedade permite avaliar que o desenvolvimento sustentável pode ser observado como meio, quando se caracteriza como um processo em mutação, e ou como fim do processo de reprodução do sistema, quando se define esse desenvolvimento pelo uso dos recursos. 2.3 A preocupação com a sociedade e com o indivíduo A própria preocupação ambiental, ao buscar manter a convivência com os demais seres vivos, pressupõe intrinsecamente em seu discurso a preservação do ser humano que seria um ator principal no processo pela capacidade de interferência no próprio meio ambiente. O princípio fundamental do desenvolvimento sustentável define que ele pertence a todas as pessoas, por todas as pessoas e para todas as pessoas. O conceito de desenvolvimento sustentável é participativo, pois, sem pessoas não há desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, o desenvolvimento sustentável é continuamente um processo do individual para o global. Importante 2.4 A abordagem multidimensional do desenvolvimento sustentável A compreensão da sustentabilidade por dimensões que a afetam traz uma reflexão sobre a velha forma de entender o novo. Esse recente conceito descende de ponderações sobre a inter-relação minimamente do econômico com o ambiental. Procuravam-se mostrar as limitações econômicas pela escassez dos recursos ambientais, sendo essas inter-relações de caráter ação- efeito, ou seja, a ação econômica e o efeito ambiental. Há algum tempo atrás, entendia-se a relação entre o econômico e o social, porém em caráter de ação-efeito: a ação econômica e o efeito social. Em ambos aspectos procuravam-se alternativas econômicas para minimizar, justamente, tais efeitos (ambientais e sociais). A discussão sobre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável tem como foco a inter- relação das variáveis, não podendo manter-se no caráter da ação-efeito, uma vez que nesse caso resumiria o problema ao econômico e minimizariam as preocupações, nas demais dimensões, simplesmente à redução do efeito. De acordo com o paradigma cartesiano, os problemas de cada área seriam tratados conforme suas bases teóricas: questões sociais com as ferramentas e teorias sociais, ambientais com a base teórica apropriada e econômicas com a teoria econômica de reprodução do capital. Universidade de Fortaleza - Unifor 10 Gestão Ambiental Unidade 1 Para refletir sobre o conceito de desenvolvimento sustentável, há de se partir para uma base teórica e de análise crítica da realidade que compreenda o sistema na sua própria dinâmica. Essa dinâmica envolve todas as dimensões (social, ambiental e econômica), além de considerar que questões culturais, especiais e institucionais são relevantes e parte desse contexto. Reflexão De acordo com Silva (2005), as variáveis relacionadas à dinâmica econômica, social e ambiental interagem fortemente sobre as questões culturais, espaciais e institucionais. Na perspectiva da multidimensionalidade, torna-se importante compreender cada uma das variáveis e as suas inter-relações para planejar e executar ações que visem à sustentabilidade do sistema. A seguir serão discriminados, sumariamente, os aspectos relacionados a cada dimensão e as respectivas inter-relações. Acompanhe! 2.4.1 A dimensão espacial Ao se analisar o desenvolvimento sustentável, uma das primeiras questões é sobre o espaço analítico. Um município, por exemplo, pode ter capacidades para ter um desenvolvimento contínuo, direcionado por indicadores favoráveis, mesmo apresentando problemas localizados e contornáveis. Esses problemas tornam, ao mesmo tempo, aquelas regiões vulneráveis e o desenvolvimento questionado pelas contradições internas. Visto desta forma, apesar de o município ter indicadores vulneráveis, algumas regiõespodem não ter tamanha capacidade de gerenciar os seus recursos e objetivos em um projeto contínuo de desenvolvimento ou vice-versa. O mesmo pode acontecer entre municípios, Estados e Federações. Enfim, o espaço de análise deve delimitar os atores e recursos em curso para identificar o processo de desenvolvimento. Essa delimitação depende dos objetivos da análise e da própria dinâmica da região em discussão, posto que algumas vezes o corte analítico pode ser expresso pela divisão política, enquanto as dinâmicas econômica, social, cultural e ambiental demonstram realidades completamente diferentes no mesmo bairro. 2.4.2 A dimensão social Esta dimensão envolve temas relativos à interação dos indivíduos e à situação da sociedade em termos da sua condição de vida. Com relação à primeira questão, envolve-se o denominado capital social, ou seja, o valor obtido em uma determinada região a partir da interação existente naquela sociedade. Um alto capital social pode viabilizar projetos que economicamente seriam inviáveis em outro local, em razão das externalidades possíveis provenientes da sociedade local. Este capital é acumulado historicamente pela confiança e objetivos comuns dos indivíduos em um determinado local. Universidade de Fortaleza - Unifor 11 Gestão Ambiental Unidade 1 A condição de vida tem sido um dos principais tópicos de discussão na dimensão da sustentabilidade social nos últimos anos. Essa ótica da sustentabilidade teve como eixo central a discussão da pobreza e o crescimento populacional. Ao considerar os recursos ambientais e econômicos (incluindo o capital natural) como escassos, partia-se do princípio de que o incremento contínuo da sociedade levá-la-ia automaticamente à estagnação do processo de desenvolvimento e a crises generalizadas. Ações para limitar esse crescimento ao tamanho da população e que garantissem o uso mínimo dos recursos de forma individual eram tratadas como necessárias, apesar de não serem suficientes, pois, mais que garantir médias de distribuição de recursos, dever-se-ia distribuí-los de forma equitativa. Essa questão social e econômica também é um problema debatido na dimensão social em razão dos desdobramentos na dinâmica de inter-relação dos indivíduos naquela sociedade. A dimensão social é influenciada e afeta a dimensão econômica, já que uma das principais formas e fontes de inter-relacionamento da sociedade ocorre por meio das transações econômicas. O termo “sociedade”, por exemplo, está vinculado a uma associação de pessoas com um objetivo comum, cultural, econômico, etc., ou seja, as dimensões culturais e econômicas estão intimamente relacionadas com a formação da base social e, dessa forma, com a dimensão social. No que diz respeito à dimensão social, a questão ambiental também deve ser considerada à medida em que pode ser motivo de agregação ou desagregação da sociedade ao ser ponto de convergência de objetivos, na busca da sustentabilidade e resolução de problemas localizados e que devem ser contornáveis. Neste aspecto, devemos entender que o espaço habitado constitui-se em uma produção social, ou seja, é produto das relações sociais estabelecidas nele. Sendo assim, a questão espacial é um dos limitantes da sociedade e, assim, da própria dimensão social analisada. Enfim, a interação dos indivíduos e a constituição de uma dinâmica social ocorrem por questões econômicas e culturais principalmente delimitadas em um determinado espaço com recursos ambientais escassos. 2.4.3 A dimensão ambiental A dimensão ambiental reflete um novo capital para o sistema capitalista, o natural, que permite evoluir no conceito de desenvolvimento para a ótica sustentável. A lei 6.938, de 31/08/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente define, em seu artigo 30, meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, o que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Percebe-se, a partir da legislação, que há uma preocupação em preservar o meio ambiente, bem como a fauna, flora e todos os componentes. Concretamente a relação sociedade e meio Universidade de Fortaleza - Unifor 12 Gestão Ambiental Unidade 1 ambiente é disciplinada pelo sistema normativo, especificamente voltada para fins ambientais, consolidada pelas instituições formais expressas em leis e na Constituição Federal de 1988, procurando-se o desenvolvimento econômico-social, equilibrado com o meio ambiente, ou seja, com a exploração equilibrada dos recursos naturais equivalentes com o bem-estar da população. Entretanto, percebe-se também que a necessidade da tutela ambiental dá-se pelos processos de degradação ambiental, permitindo que o Estado estabeleça formalmente uma legislação para proteger o meio ambiente. A dimensão ambiental interage com as perspectivas econômicas e sociais como uma limitação de recursos para o desenvolvimento. A dimensão espacial explicita a abrangência dos recursos disponíveis para alcançar a sustentabilidade. A dimensão cultural participa como um pressuposto de vinculação da sociedade com o meio ambiente, podendo ser mais ou menos agressivo o processo de degradação, conforme a educação e a sensibilização da sociedade firmada nos seus diversos valores, inclusive culturais. 2.4.4 A dimensão cultural De forma genérica, cultura pode ser conceituada como um conjunto de experiências humanas “cultivadas” por uma determinada sociedade. Esse processo, historicamente construído, estabelece raízes sociais alimentadas por um processo de aprendizagem social contínuo. Trata-se de uma dimensão que alicerça as bases de princípios e valores, estando, portanto, diretamente relacionada com os objetivos quanto ao envolvimento sustentável de uma sociedade. Considerando que a cultura amadurece ou se altera no decorrer do tempo, em razão do processo contínuo de aprendizagem social e troca de experiências na própria sociedade, a percepção dos objetivos comuns e do que se espera pela sustentabilidade se altera também historicamente. A dimensão cultural é afetada por todas as demais dimensões que interferem nos valores da sociedade, seja por problemas passados, não desejáveis de serem repetidos no futuro, seja pelo amadurecimento social e busca de novos rumos ou por um presente com valores em xeque. Atenção Os motivos dos questionamentos culturais, valores e objetivos da sociedade podem ter origem individual (insatisfação pessoal generalizada) ou coletiva (mudanças sociais a partir de fatos macros). Podem ser de ordem econômica (crises contínuas e incremento da concentração do poder econômico, por exemplo), social (má distribuição da renda, por exemplo), ambiental (degradação do meio ambiente colocando em xeque os recursos futuros) ou espacial (incremento populacional, com mistura étnica e cultural, por exemplo). Logo, a relação da dimensão cultural ocorre, fundamentalmente, nos fatores que influenciam na delimitação do objetivo de uma determinada sociedade. Universidade de Fortaleza - Unifor 13 Gestão Ambiental Unidade 1 2.4.5 A dimensão econômica A dimensão econômica é o centro das discussões no sistema capitalista, pois esse é um sistema que parte do princípio, justamente, de que o capital é a mola propulsora de todas as relações sociais existentes. Seguramente, as relações por meio das transações econômicas são de substancial importância para o desenvolvimento da sociedade. No entanto, há outras dimensões também relevantes e que afetam as interações das pessoas no decorrer do tempo. Ao se tratar da dimensão econômica preocupa-se com três pontos: como, para quem e o que produzir. As duas últimas questões sempre estiveram em pauta no discurso capitalista por serem formas necessárias de remuneração e de reprodução contínua do capital. A primeira questão (como produzir) tornou-semais relevante com o discurso ambientalista e a percepção dos principais agentes econômicos da máxima em economia: recursos escassos e necessidades ilimitadas. Ou seja, os recursos, cada vez mais escassos, limitavam as perspectivas do crescimento contínuo da economia, enquanto as necessidades eram cada vez maiores pelo desenvolvimento de novas tecnologias e formas de produção. O questionamento em “como produzir” envolve a otimização dos recursos e uso com escolhas conscientes da melhor combinação, tentando maximizar o resultado do benefício versus custo. Nesse sentido, a dimensão econômica se inter-relaciona com a sociedade (dimensão social e cultural) tanto em termos dos recursos (humanos) existentes quanto dos desejos expressos pelos consumidores em novos objetivos individuais e, portanto, coletivos. Importante A dimensão ambiental e a espacial são um recurso (limitado) e deveriam ser consideradas sempre que se decidisse transformar os recursos em produtos. Essas inter-relações precisam ser delimitadas por regras do jogo de mercado que estabelecem o meio de desenvolvimento da sociedade, tornando-se essenciais à compreensão das instituições. 2.5 Meio ambiente, impactos socioespaciais e sustentabilidade A Revolução Industrial, que teve seu início na Inglaterra no século XVIII e rapidamente se espalhou por outros recantos do planeta, promoveu o crescimento econômico e abriu as perspectivas de maior geração de riqueza, que, por sua vez, traria prosperidade e melhor qualidade de vida. O problema é que o crescimento econômico desordenado foi acompanhado de um processo jamais visto pela humanidade, pelo qual se utilizavam grandes quantidades de energia e de recursos naturais, que acabaram por configurar um quadro de degradação contínua do meio ambiente. Universidade de Fortaleza - Unifor 14 Gestão Ambiental Unidade 1 A industrialização trouxe vários problemas ambientais, como alta concentração populacional devido à urbanização acelerada; consumo excessivo de recursos naturais, sendo alguns não renováveis (petróleo e carvão mineral, por exemplo), contaminação do ar, do solo, das águas; e desflorestamento, entre outros. Na segunda metade do século XX, com a intensificação do crescimento econômico mundial, os problemas ambientais agravaram-se e começaram a aparecer com maior visibilidade para amplos setores da população, particularmente dos países desenvolvidos, os mais afetados pelos impactos provocados pela Revolução Industrial. Como consequência, ocorreu a criação de programas com finalidades de conservação e preservação ambientais. A partir de 1976 foi criada ao redor do mundo uma rede mundial de áreas protegidas denominadas Reservas da Biosfera. Essas reservas envolvem regiões com ecossistemas terrestres ou costeiros nas quais o objetivo é conciliar a conservação da diversidade biológica com a exploração racional dos recursos naturais. O Clube de Roma, empregando fórmulas matemáticas e computadores para determinar o futuro ecológico do planeta, previu um desastre a médio prazo. O que descobriu foi publicado num relatório denominado Limites do Crescimento, em 1972, no qual previa que as tendências que imperavam até então conduziriam a uma escassez catastrófica dos recursos naturais e a níveis perigosos de contaminação num prazo de 100 anos. Os alimentos e a produção industrial declinariam até o ano de 2010 e, a partir de então, como consequência, haveria uma diminuição da população por penúria, falta de alimentos e poluição. A Conferência da ONU em 1972 gerou a Declaração sobre o Ambiente Humano e produziu um Plano de Ação Mundial, com o objetivo de orientar a preservação e a melhoria no ambiente humano. Outro importante resultado do evento foi a criação do Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (PNUMA), encarregado de monitorar o avanço dos problemas ambientais no mundo. Importante Em janeiro e fevereiro de 1997, o conselho administrativo do PNUMA lançou a Declaração de Nairóbi, na qual são reafirmados os objetivos da organização, que foi confirmada pela Assembleia Geral da ONU em junho do mesmo ano. De acordo com Silva (2005), os objetivos do PNUMA, em linhas gerais, podem ser assim descritos: Analisar o estado do meio ambiente mundial e avaliar as tendências.a) Fomentar o desenvolvimento do regime jurídico ambiental internacional com vista b) no desenvolvimento sustentável, incluindo o desenvolvimento de vínculos coerentes entre os convênios internacionais relativos ao meio ambiente. Promover a aplicação de normas e políticas internacionais aprovadas, controlar e c) fomentar o cumprimento dos acordos internacionais e os princípios ambientais e estimular a cooperação para fazer frente aos novos problemas ambientais. Fortalecer sua função de coordenação das atividades do sistema das Nações Unidas d) na esfera do meio ambiente, assim como sua função de organismo de execução do Fundo para o Meio Ambiente Mundial, baseando-se em suas vantagens comparativas e sua competência científica e técnica. Universidade de Fortaleza - Unifor 15 Gestão Ambiental Unidade 1 Promover o aumento da consciência pública e facilitar a cooperação eficaz entre todos e) os setores da sociedade e as entidades que participem na aplicação das atividades internacionais em prol do meio ambiente, e atuar como vínculo eficaz entre os círculos científicos e os encarregados da adoção de decisões nos planos nacional e internacional. Prestar serviços de assessoramento e elaboração de políticas gerais aos governos e às f) instituições pertinentes e áreas chaves de desenvolvimento ambiental mundiais e regionais, prestar assessoramento normativo, facilitar pronta informação sobre ameaças ambientais e catalisar e promover a cooperação e as atividades internacionais, baseando-se nos conhecimentos científicos e técnicos mais avançados. (PNUMA, ON-LINE, 2011). No ano de 1983, a Assembleia Geral da ONU, como reflexo do aumento crescente das preocupações ambientais, criou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD), presidida pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, com o objetivo de examinar as relações entre meio ambiente e o desenvolvimento e apresentar propostas viáveis. De acordo com o Relatório Brundtland, o compromisso global para mudança consiste em adotar medidas que promovam o desenvolvimento sustentável, tais como: Desenvolver estratégias que possibilitem a limitação do crescimento populacional; D Propor ações que garantam recursos básicos (água, alimento, energia) a longo D prazo para a sociedade; Promover a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; D Realizar diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com D uso de fontes energéticas renováveis; Promover o aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base D em tecnologias ecologicamente adaptadas; Realizar o controle da urbanização desordenada e integração entre campo e D cidades menores; Garantir o atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia). D Fonte: Report of the World Commission on Environment and Development: our common future. Disponível em: <http://www.un-documents.net/wced-ocf.htm>. Acesso em: 09 de dez. de 2011. O Relatório Brundtland, da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, denominado Nosso Futuro Comum (CMMAD, 1987), pode ser considerado um dos mais importantes documentos sobre a questão ambiental e o desenvolvimento dos últimos anos. Vincula estreitamente economia e ecologia e estabelece com muita precisão o eixo em torno do qual se deve discutir o desenvolvimento, formalizando o conceito de desenvolvimento sustentável e estabelecendo os parâmetros a que os Estados, independentemente da forma de governo, deveriam se pautar, assumindo a responsabilidade não só pelos danos ambientais como tambémpelas políticas que causam esses danos. O documento Nosso Futuro Comum foi referência e base importante para os debates que aconteceram na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro em 1992, onde popularizou-se o conceito de desenvolvimento sustentável, tornando as questões ambientais e de desenvolvimento indissoluvelmente ligadas. Universidade de Fortaleza - Unifor 16 Gestão Ambiental Unidade 1 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) ocorreu 20 anos após a de Estocolmo (1972) e concentrou-se em identificar políticas que geram efeitos ambientais negativos. Concluiu ela, de forma veemente, que “a proteção ambiental constitui parte integrante do processo de desenvolvimento, e não pode ser considerada isoladamente deste”. (CNUMAD, 1992). Como produto desse encontro foram assinados cinco documentos que direcionariam as discussões sobre o meio ambiente nos anos seguintes. São eles: Agenda 21; D Convenção sobre a Biodiversidade (CDB); D Convenção sobre Mudanças do Clima; D Princípios para Administração Sustentável das Florestas; D Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. D Além dos importantes documentos contendo diretrizes geradas na CNUMAD, houve um desdobramento institucional importante, que foi a criação da Comissão sobre o Desenvolvimento Sustentável (CDS), em dezembro de 1992, para assegurar a implementação das propostas da Rio 92. Em dezembro de 2000 a Assembleia Geral das Nações Unidas resolveu que a Comissão sobre o Desenvolvimento Sustentável serviria de órgão central organizador da Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio + 10, que ocorreria em Johanesburgo entre os dias 26 de agosto e 4 de setembro de 2002 e que teria como objetivo avaliar a situação do meio ambiente global em função das medidas adotadas na CNUMAD. Realizada a conferência, foram produzidos dois documentos relevantes: a Declaração de Johanesburgo sobre o Desenvolvimento Sustentável e o Compromisso de Johanesburgo para um Desenvolvimento Sustentável. Os participantes da Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável (CMDS), em Johanesburgo, reconheceram que não foram alcançados os objetivos fixados na Cúpula do Rio e reiteraram que os três pilares inseparáveis de um desenvolvimento sustentável estabelecidos naquela ocasião continuavam sendo a proteção do meio ambiente, o desenvolvimento social e o desenvolvimento econômico. Foi adotado o Compromisso de Johanesburgo para o Desenvolvimento Sustentável, o qual, como declaração é bastante prolixo, mas, quanto a compromissos concretos, deixa muito a desejar e fica muito distante de uma verdadeira agenda para a ação. De modo geral, os compromissos assumidos foram muito vagos e sem prazos para alcançar os objetivos socioeconômicos e ambientais colocados. A definitiva vinculação da temática ambiental com as propostas de desenvolvimento pode ser considerada um marco no debate ambiental, pois, passados 20 anos, abriu-se a possibilidade para uma nova abordagem das questões ambientais vinculando-as com os problemas sociais típicos dos países subdesenvolvidos do sul, tais como a desigualdade e a injustiça social. Importante Universidade de Fortaleza - Unifor 17 Gestão Ambiental Unidade 1 Com o avanço da conscientização ecológica nos países do norte nas décadas de 70 e 80, desenvolveram-se tecnologias que possibilitaram melhor controle da emissão de poluentes, maior economia energética e substituição de alguns recursos naturais escassos. A pressão da opinião pública e das agências ambientais fez com que determinadas indústrias transferissem suas plantas industriais, seus processos produtivos e, muitas vezes, a comercialização de produtos que não satisfaziam às novas exigências, para os países em desenvolvimento. Ao constatarem que os problemas ambientais eram fundamentalmente globais, os países do norte tentaram fazer crer que as responsabilidades deveriam ser globalmente distribuídas, desconsiderando desse modo os diferentes estágios de desenvolvimento em que se encontravam os países. Por outro lado, nos países em desenvolvimento, a degradação dos recursos assumiu dimensões mais trágicas, devido à necessidade de exploração da natureza para garantir a sobrevivência de suas populações. Desse modo, estamos sacrificando o futuro para assegurar uma vida precária no presente. Está claro que não se pode proteger um recurso natural, negando sua utilização pelos que dependem desse recurso. Além de fazerem uso intensivo dos recursos naturais, os países do sul são grandes consumidores de energia e suas indústrias não apresentam controle de emissão de poluentes comparáveis aos encontrados nos países desenvolvidos. A introdução de novas tecnologias que tornariam seus processos produtivos ecologicamente aceitáveis, de outro lado, encareceria seus produtos, tornando-os menos competitivos no mercado internacional. Sem dúvida nenhuma, evoluiu muito o debate sobre o real papel do meio ambiente no processo de desenvolvimento. O vínculo entre a proteção do meio ambiente e o combate à pobreza foi um avanço importante e constitui-se numa conquista dos países subdesenvolvidos diante da pressão exercida pelos países do norte. Hoje, há pouco questionamento sobre sua importância e, na realidade, a discussão ambiental retoma a problemática de qual deve ser o modelo de desenvolvimento que reduzirá a desigualdade entre os países do norte e do sul e a existente no interior dos países em desenvolvimento. Reflexão A busca de uma agenda comum de ataque à pobreza e à destruição ambiental constitui-se num objetivo que une países desenvolvidos e em desenvolvimento nos fóruns internacionais que, embora apresentem diferentes propostas no enfrentamento do problema, concordam que somente a adoção de estratégias comuns permitirá enfrentar o duplo desafio que representam a pobreza e o meio ambiente. 2.6 A intervenção e mitigação dos impactos ambientais e aplicações do modelo de Desenvolvimento Sustentável Existem inúmeras formas de intervenção no meio ambiente em busca da sustentabilidade, uma das mais objetivas e melhor elaboradas para o alcance do desenvolvimento sustentável foi a do Worldwatch Institute em seu relatório State of the World, 1988 (Estado do Mundo, 1988). Universidade de Fortaleza - Unifor 18 Gestão Ambiental Unidade 1 Além desse, vários outros relatórios recentes têm abordado temas internacionais ou globais, especificando prioridades à limitação da deterioração ambiental e tornando o desenvolvimento mais sustentável. Há de se destacar que algumas prioridades de intervenção são consensuais entre vários especialistas, tais como: reduzir o crescimento populacional; Y diminuir a pobreza, desigualdades e a dívida dos países subdesenvolvidos; Y praticar a agricultura sustentável; Y proteger florestas e habitats; Y limitar a perda de espécies; Y aumentar a eficiência energética; Y desenvolver fontes renováveis de energia; Y limitar os gases do efeito estufa; Y proteger a camada de ozônio, dentre outros, reduzir o crescimento populacional; Y diminuir a pobreza, desigualdades e a dívida dos países subdesenvolvidos; Y praticar a agricultura sustentável; Y proteger florestas e habitats; Y limitar a perda de espécies; Y aumentar a eficiência energética; Y desenvolver fontes renováveis de energia; Y limitar os gases do efeito estufa; Y proteger a camada de ozônio, dentre outros. Y Atenção Segundo Seiffert (2010), os impactos problemáticos podem ser mitigados através de seleção de alternativas de intervenção consideradas efetivas e prioritárias para cada aspecto ambiental. Nessa perspectiva, temos: reduzir o ritmo do crescimento populacional para mitigar todos os impactos problemáticos; a) reduzir a pobrezae a desigualdade, o que inclui fatores como melhorias na saúde, b) longevidade e alfabetização; aumento da oferta de empregos e participação política;c) extensão das oportunidades às mulheres e minorias.d) Universidade de Fortaleza - Unifor 19 Gestão Ambiental Unidade 1 Para esta autora, ao ver satisfeitas suas necessidade básicas, o indivíduo se torna propenso à sensibilização ambiental, reduzindo assim a degradação ambiental através das seguintes práticas: Praticar agricultura sustentávela) , o que inclui evitar a erosão com a adoção de boas práticas de cultivo do solo, reduzindo o uso de produtos químicos. Proteger florestasb) e outros habitats, o que inclui reflorestamento e proteção de outros recursos vivos, de modo a diminuir a destruição das espécies, limitar a degradação do solo, reduzir a poluição atmosférica e o esgotamento dos suprimentos de água doce. Tornar sustentável o uso de energiac) , o que inclui melhorias na eficiência energética e conservação de energia através de incentivos econômicos e desenvolvimento de fontes renováveis de energia. É essencial para a redução da poluição do ar, degradação do solo, esgotamento dos suprimentos de energia e minerais e conflitos entre países. Praticar o uso sustentável da águad) , o que inclui melhorar a eficiência do uso da água e proteger a qualidade da água. É fundamental a limitação do esgotamento e poluição dos suprimentos de água. Reduzir a geração de lixoe) , o que inclui melhorias nos processos de produção e reciclagem dos restos líquidos e sólidos. É determinante para a redução da poluição do ar e das águas e exaustão das reservas de energia, minerais e água. A partir dos problemas ambientais existentes, surgiu a necessidade de mudar a realidade vigente, de modo a amenizar ou eliminar completamente os desequilíbrios, através do processo de Gestão Ambiental, em seus mais diversos níveis. Sob o enfoque da Gestão Ambiental, buscamos analisar o papel e o comportamento das atividades empresariais nas últimas décadas e as mudanças de posicionamento no que diz respeito aos ambientes em que elas operam. As empresas, que eram vistas apenas como instituições econômicas com responsabilidades referentes a resolver os problemas econômicos fundamentais, tais como o que produzir, como produzir e para quem produzir, têm presenciado o surgimento de novos papéis que devem ser desempenhados, como resultado das alterações no ambiente em que operam. Sendo assim, as organizações tem se voltado para problemas que vão além das considerações meramente econômicas, atingindo um cenário muito mais amplo, envolvendo preocupações de caráter político-social, tais como proteção ao consumidor, controle da poluição, segurança e qualidade de produtos, assistência médica e social etc. Como resultado da ampliação desse contexto, tem ocorrido uma proliferação de novas pressões por parte da sociedade, através de movimentos sociais reivindicatórios, pela atuação de grupos organizados ou de indivíduos, que resultam em novas leis e regulamentações que acabam, de certa forma, provocando mudanças na forma de atuar e se comportar das organizações. Essas mudanças afetam de forma intensa o ambiente social e político em que a empresa atua, criando novas diretrizes e limitações para que a empresa possa operar de forma eficaz, segundo uma ótica que leve em conta apenas a maximização do retorno financeiro de seus proprietários. Universidade de Fortaleza - Unifor 20 Gestão Ambiental Unidade 1 3. Conceituação de Gestão Ambiental e Apresentação de suas Dimensões, Aplicações e Interfaces O processo de gestão ambiental surgiu como uma estratégia para promover a sustentabilidade dos ecossistemas artificiais, preservando de forma equilibrada suas interações com os ecossistemas naturais. Contudo, para obter essa harmonização através da gestão ambiental é necessário lidar com situações de extrema complexidade, envolvendo uma realidade problemática e cujas condições necessitam ser melhoradas. Isso envolve na maioria das vezes se deparar com casos que apresentam interesses conflitantes em relação à forma de utilização de um determinado bem ambiental. Em virtude disso, foi necessária a criação ao longo do tempo de instrumentos de gestão ambiental de várias naturezas, como uma forma de mediar essa complexidade. Acompanhe agora, alguns desses instrumentos da Gestão Ambiental de várias naturezas: 3.1 Gestão ambiental nas empresas A preservação do meio ambiente converteu-se em um dos fatores de maior influência dos anos 1990 e da primeira década de 2000, com grande rapidez de penetração de mercado. Por conta desta nova realidade, as empresas começaram a apresentar soluções para alcançar o desenvolvimento sustentável e, ao mesmo tempo, aumentar a lucratividade de seus negócios. Neste contexto, a gestão ambiental não é apenas uma atividade que pode propiciar ganhos financeiros para as empresas. A gestão ecológica, base do processo de gestão ambiental, não coloca em questão a ideologia do crescimento econômico, que é a principal força motriz das atuais políticas econômicas e responsável pela destruição dos ecossistemas globais, mas implica rejeitar a busca desenfreada pelo crescimento econômico a qualquer custo, entendido em termos puramente quantitativos, como maximização dos lucros ou do Produto Nacional Bruto (PNB). A gestão ecológica implica no reconhecimento de que o crescimento econômico ilimitado em um planeta finito só pode levar a desequilíbrios inimagináveis. Sendo assim, faz-se uma restrição ao conceito de crescimento, introduzindo-se a sustentabilidade ecológica como critério fundamental de todas as atividades de negócios. Importante Pode-se dizer que gestão ambiental não é um conceito novo, tampouco uma necessidade nova, mas algo que foi amadurecendo ao longo dos anos a partir das contribuições de várias áreas do conhecimento, mas particularmente das engenharias, ciências biológicas, administração, geologia e geografia. Evoluiu, portanto, das demandas associadas aos sistemas de saneamento Universidade de Fortaleza - Unifor 21 Gestão Ambiental Unidade 1 básico, em virtude do crescimento das metrópoles, para enfoque propriamente de gestão induzida pelas áreas de conhecimento de engenharia de produção e administração. Constitui-se em um desdobramento de mudanças de paradigma no processo de controle ambiental que evoluiu da abordagem que envolve as técnicas de Fim-de-Tubo ou sanitaristas, típicas nos estudos de engenharia sanitária, para a abordagem preventiva de engenharia ambiental, a qual envolve propriamente o processo de gestão ambiental nas esferas privada ou pública. Assim, uma pesquisa conjunta realizada pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Sebrae e Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) apontou que metade das 573 empresas pesquisadas realizara investimentos ambientais nos últimos anos, variando cerca de 90% nas grandes a 35% nas microempresas. A pesquisa revelou também que as razões para adoção de práticas de gestão ambiental (quase 85% das empresas pesquisadas adotam algum tipo de procedimento associado à gestão ambiental) não foram apenas em função da legislação, mas, principalmente, por questões que poderíamos associar à gestão ambiental, tais como: Aumentar a qualidade dos produtos;a) Aumentar a competitividade das exportações;b) Atender ao consumidor com preocupações ambientais;c) Atender à reivindicação da comunidade;d) Atender à pressão de organização não governamental ambientalista;e) Estar em conformidade com a política social da empresa;f) Melhorar a imagem perante a sociedade.g) (Análise Gestão Ambiental – Anuário 2010/2011) Comentário Assim, a gestão ambiental busca a condição harmoniosa dos processos dinâmicos e interativos que ocorrem entre os diversos componentes do ambiente natural e antrópico,determinados pelo padrão de desenvolvimento almejado pela sociedade. Isto implica que, para que ocorra um processo efetivo de gestão ambiental, é necessário grande conhecimento das dinâmicas que envolvem os ecossistemas antrópicos e naturais, porque os processos humanos, que abrangem os aspectos sociais, econômicos e culturais de cada região, estão em constante interação com os naturais. Nos últimos anos, o conceito de gestão vem sendo utilizado para incluir, além da gestão pública do meio ambiente, os programas de ações desenvolvidos por empresas e instituições privadas não governamentais, de modo a administrar sua atividade dentro dos modernos princípios de proteção ao meio ambiente. Dessa forma, o conceito de gestão ambiental tem evoluído na direção de uma perspectiva de gestão compartilhada entre diferentes agentes envolvidos e articulados em seus diferentes papéis. As técnicas de Fim-de-Tubo são convencionalmente utilizadas para o tratamento e minimização de resíduos, efluentes e emissões. Ao contrário da estratégia de “Produção Mais Limpa”, que é utilizada na prevenção da poluição, as de Fim-de-Tubo tem por finalidade atuarem sobre os efeitos da produção somente depois que a poluição foi gerada no processo produtivo. Universidade de Fortaleza - Unifor 22 Gestão Ambiental Unidade 1 Forças motoras Mudanças Desa� adoras Decisores Crescimento econômico e • desenvolvimento Mudanças tecnológicas• Globalização• Modo de produção agrícola• Desmatamento• Mudanças climáticas• Poluição• Educação/novas ideias e paradigmas• Desigualdade social• Padrões de crescimento e migração • populacional Consumo de insumos e matérias-• primas e produção de resíduos Forma de gerenciamento dos • recursos Infraestrutura urbana e uso da terra• Sistema de abastecimento• Gerenciamento de solo e água• Educação pública• Governos e políticas públicas• Sistemas de transportes• Fontes de energia• Padrões de consumo• Redesenho, manufatura e economia• Sociedade civil• Indivíduos• Governos• Negócios• ONGs• Quadro 1 – Desafi os para a busca da sustentabilidade socioambiental. (SEIFFERT, 2010) 3.2 A evolução do processo de gestão ambiental nas organizações O processo de controle ambiental em organizações passou por uma evolução histórica bastante característica e foi refl exo do decréscimo progressivo da qualidade ambiental, chamando a atenção de vários atores interessados na melhoria do desempenho ambiental das organizações. Além disso, a regulamentação ambiental vem se tornando cada vez mais restritiva ao longo dos últimos anos. Isto torna evidente uma intensifi cação da pressão sobre as organizações que não pode mais desprezar os investimentos na área ambiental, sob pena de perder espaço em um mercado competitivo e cada vez mais exigente. Ao longo das últimas décadas, essa intensifi cação vem levando as organizações a um amadureci- mento de sua postura caracterizada por três estágios, conforme quadro a seguir. Acompanhe: Período Paradigma Característica Até a década de 1970 Dispensar os poluentes Em virtude do menor avanço tecnológico, do menor contingente populacional e de um padrão de consumo menos sofi sticado. Décadas de 1970 e 1980 Sistemas de tratamento Controle ambiental de Fim de Tubo. O maior avanço tecnológico gerou indivíduos com padrão de consumo mais exigente e esbanjador. Esse fator aliado à elevação do contingente populacional do planeta fez com que o nível de degradação ambiental se agravasse, ocasionando um grande decréscimo na qualidade de vida das populações. Década de 1990 em diante Proativo Maior ênfase ao processo de prevenção, levando ao investimento em produção mais limpa, visando maximizar o uso de matérias-primas nos processos. Poluição passa a ser sinônimo de desperdício. Posturas das empresas quanto à questão ambiental. (SEIFFERT, 2010) Quadro 1 – Desafi os para a busca da sustentabilidade socioambiental. (SEIFFERT, 2010)Quadro 1 – Desafi os para a busca da sustentabilidade socioambiental. (SEIFFERT, 2010)Quadro 1 – Desafi os para a busca da sustentabilidade socioambiental. (SEIFFERT, 2010)Quadro 1 – Desafi os para a busca da sustentabilidade socioambiental. (SEIFFERT, 2010)Quadro 1 – Desafi os para a busca da sustentabilidade socioambiental. (SEIFFERT, 2010) Universidade de Fortaleza - Unifor 23 Gestão Ambiental Unidade 1 Segundo o paradigma proativo, a geração de poluentes no processo é entendida como um desperdício para a organização, conforme pode ser observado no esquema a seguir: Matérias- primas e insumos de produção Processo produtivo Produto Desperdício (custos) Resíduos sólidos Efluentes líquidos Emissões atmosféricas Tratamento/Disposiçãocustos Andrade, Tachizawa e Carvalho (2002) Realizando a leitura do esquema, podemos considerar que em um primeiro momento a produção de poluentes significa: matérias-primas e insumos não completamente utilizados no processo de produção e liberados no ambiente e, em um segundo momento, estes poluentes necessitam ser tratados ou dispostos. Nas duas condições incorre-se em custos adicionais ao processo. Como consequência disso, passa a ser necessária a utilização de uma maior quantidade de matérias- primas e insumos de processo para a produção de menor quantidade de produto, contribuindo assim para a aceleração do ritmo de exaustão das reservas naturais. Desta forma, pode-se inferir que quanto maior a geração de poluentes, maior o desperdício associado ao processo de produção, o que poderia ser facilmente reduzido com medidas muitas vezes simples, como um maior controle sobre o processo produtivo através de controles operacionais, ajustes de equipamentos, substituição de matérias-primas e insumos, dentre outras ações, ou mesmo através da substituição de equipamentos e máquinas obsoletos por similares mais eficientes. Para as organizações que investem em um processo de gestão ambiental sistemático, inúmeros benefícios são gerados, inclusive a melhoria de sua lucratividade a médio e longo prazo. 3.3 Aspectos fundamentais da gestão e do gerenciamento ambiental A amplitude do conceito de gestão ambiental envolve diretamente questões estratégicas das organizações, abrangendo itens que, apesar de demandarem uma carga conceitual significativa, são efetivamente materializados através de posturas e ações altamente objetivas. Neste contexto, a abordagem conceitual, para gestão ambiental, envolve uma visão sistêmica deste processo, a qual abarca os seguintes significados: A 1) política ambiental: conjunto de princípios que conformam aspirações sociais e/ou governamentais no que concerne à regulamentação ou modificação no uso, controle, proteção e conservação do ambiente; Universidade de Fortaleza - Unifor 24 Gestão Ambiental Unidade 1 O 2) planejamento ambiental: estudo prospectivo que tem por finalidade a adequação do uso, controle e proteção do ambiente às aspirações sociais e/ou governamentais expressas formal ou informalmente em uma política ambiental, através da coordenação, compatibilização, articulação e implantação de projetos de intervenções estruturais e não estruturais; O 3) gerenciamento ambiental: ações destinadas a regular o uso, controle, proteção e conservação do meio ambiente e avaliar a conformidade da situação corrente com os princípios doutrinários estabelecidos pela política ambiental. Percebe-se pelo exposto que o gerenciamento ambiental é parte integrante da gestão ambiental. Este processo pressupõe uma política, um planejamento e o próprio gerenciamento ambiental. Este conceito aplica-se ao processo de gestão ambiental em vários níveis de abrangência: municipal, estadual, regional e nacional quanto ao ambiente organizacional. Gestão e gerenciamento ambiental têm, portanto, umcaráter bem diferenciado à medida que o processo de gerenciamento está associado a medidas de caráter mais tático na organização, enquanto a gestão implica em processo de ordem estratégica. O processo de gestão sempre implicará na implantação de políticas ambientais, enquanto o gerenciamento não necessariamente. Importante 4. Conceituação De Gestão Ambiental Pública, Privada, Instrumentos De GAP e suas Aplicações O GAP é uma lacuna a ser preenchida pelas empresas, sejam públicas ou privadas. Neste sentido a Gestão Ambiental é entendida como um instrumento de preenchimento do GAP. Considerando a esfera pública, a Gestão Ambiental é um processo administrativo de re- sponsabilidade dos Municípios, Estados e União legalmente constituídos, buscando a par- ticipação social de modo abrangente, com o intuito de formular, implementar e avaliar das políticas ambientais a partir da cultura, realidade e potencialidades de cada região, em con- formidade com os princípios de desenvolvimento sustentável. Enquanto na esfera pública surgem instrumentos que representam mecanismos de imposição, tais como comando e controle, com criação de requisitos legais cada vez mais restritivos, a esfera privada abrange mecanismos voluntários envolvendo autocontrole ou autorregulação. Desse modo, percebe-se que existe uma complementariedade muito grande e determinante entre instrumentos que envolvem a atuação da esfera pública e da privada. O processo de elevação da escala de produção e consequentemente da importância da atividade industrial acentuou os problemas ambientais e a complexidade inerente ao contexto. Isso levou a mudanças de paradigmas no processo de Gestão Ambiental que afetaram a forma de encarar os impactos ambientais tanto na esferas públicas, privadas, como também em organizações não governamentais. Universidade de Fortaleza - Unifor 25 Gestão Ambiental Unidade 1 Portanto, a preocupação com o meio ambiente deixou de ser uma função exclusiva de proteção para tornar-se também função da administração. Contemplada na estrutura organizacional e interferindo no planejamento estratégico organizacional, passou a ser atividade importante no desenvolvimento das atividades de rotina, na discussão de cenários alternativos e, na consequente análise de sua evolução, acabou gerando políticas, metas e planos de ação. Essa atividade dentro da organização passou a ser interesse da alta gestão e a exigir uma nova função na estrutura administrativa que pudesse abrigar um corpo técnico específico e um sistema gerencial especializado, com a finalidade de propiciar à empresa uma integração articulada e bem conduzida de todos os seus setores e a realização de um trabalho de comunicação social moderna e consciente. Na esfera organizacional privada, a Gestão Ambiental consiste em um conjunto de medidas que visam ter controle sobre o impacto ambiental de uma atividade. Dessa forma, para que a empresa passe a realmente trabalhar com Gestão Ambiental, deve, inevitavelmente, passar por uma mudança em sua cultura organizacional e empresarial, ou seja, por uma revisão de seus paradigmas. A Gestão Ambiental tem-se configurado como uma das mais importantes atividades relacionadas com qualquer empreendimento. Importante As mudanças de paradigmas para a questão ambiental exigem transformações de velhos hábitos e formas de estruturas burocráticas por organizações mais flexíveis e adaptáveis ao momento atual. Neste sentido, quatro fatores precisam ser considerados: criatividade; D fortalecimento institucional; D motivação; e D formação de pessoal para a Gestão Ambiental. D É fundamental, cada vez mais, que o gestor do meio ambiente, seja no espaço público ou privado, se relacione bem com as técnicas de administração: planejamento, organização, coordenação e direção. Aprofundando a questão da Gestão Ambiental na esfera pública, torna-se interessante verificar que ao instituir uma política ambiental, é necessário que o governo estabeleça os objetivos, defina as estratégias de ação, crie as instituições e estruture a legislação que contém e que orienta sua aplicabilidade. Esse universo de implementação da política constitui o sentido da Gestão Ambiental. Ela deve incidir sobre todos os aspectos do problema (econômicos, sociais e ambientais). Gestão Ambiental na esfera pública é dependente da implementação pelo governo de sua política ambiental, mediante a definição de estratégias, ações, investimentos e providências institucionais e jurídicas, com a finalidade de garantir a qualidade do meio ambiente, a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável. Importante Universidade de Fortaleza - Unifor 26 Gestão Ambiental Unidade 1 Pelos princípios e objetivos expostos, pode-se verificar que a formulação da política ambiental definiu como meta harmonizar a proteção do meio ambiente com o desenvolvimento econômico, resultando em orientações para a Gestão Ambiental no sentido de garantir a qualidade ambiental. Assim, o meio ambiente passa a ser reconhecido como patrimônio público e a ser protegido pelo uso racional dos recursos naturais. Assim, na esfera pública, a gestão ambiental é materializada por um conjunto de políticas que, mesmo tendo seus próprios objetivos, depende da orientação política geral do governo e é influenciado pelos efeitos das demais políticas públicas. Este aspecto é fundamental, uma vez que estabelecem um arcabouço geral para o processo de gestão ambiental, sendo materializadas através de uma série de leis, decretos, portarias, medidas provisórias etc. que fornecem a estrutura legal e o controle ambiental. A base para elaboração de políticas ambientais surge justamente da necessidade de mediar através de legislação os conflitos existentes entre os vários agentes envolvidos no processo de Gestão Ambiental. Normalmente, essas necessidades ocorreram historicamente a partir da identificação de focos para estes conflitos, os quais estão associados a categorias de impactos ambientais, como: exaustão de reservas naturais; D comprometimento da paisagem; D contaminação do solo; D contaminação da água; e D contaminação do ar. D A partir desses impactos diretos, percebe-se que a qualidade de vida do ser humano através de sua saúde passou a tornar-se evidentemente comprometida, como um impacto indireto do processo de poluição. 4.1 Aplicação da Gestão Ambiental e instrumentos de GAP Tanto os processos de Gestão Ambiental de âmbito público como privado constituem-se em sistemas que incluem a estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a política ambiental. É o que a empresa faz para minimizar ou eliminar os efeitos negativos provocados no ambiente pelas atividades antrópicas. Há uma necessidade cada vez maior de capacitação técnica do profissional que atue na área de Gestão Ambiental. Não existe administração ecológica sem haver em contrapartida um processo ecológico envolvido, quer direta, quer indiretamente. A manutenção das interações envolvidas nos diferentes ecossistemas dependerá muitas vezes de decisões que ocorrerão no âmbito administrativo e que, se não forem tomadas levando-se em consideração a necessidade de certo saber científico, poderão tornar irreversível a destruição de processos existentes há muito tempo. Universidade de Fortaleza - Unifor 27 Gestão Ambiental Unidade 1 Para que o processo de Gestão Ambiental possa se concretizar, é fundamental a realização de um diagnóstico, definindo claramente seus objetivos e tendo em vista os prognósticos em virtude dos instrumentos de gestão adotados. O objetivo do processo de gestão é o GAP ou diferença entre a situação desejada e a situação atual. Importante Cabe destacar quenão existe um caminho ótimo no processo de Gestão Ambiental, mas sim o mais adequado para a realidade local. Para o alcance desse objetivo, deve-se lançar mão de um conjunto de instrumentos de Gestão Ambiental, uma vez que somente a regulamen- tação ambiental não é mais considerada suficiente para atender às demandas geradas pelos conflitos entre diversos agentes do processo. 4.2 Instrumentos de Gestão Ambiental A percepção de que o processo de Gestão Ambiental se concretizava somente através de políticas ambientais, típicas da esfera pública, apresentava algumas limitações, as quais estimularam o surgimento de novos tipos de instrumentos de Gestão Ambiental, buscando outras abordagens, em um primeiro momento de comando e controle e posteriormente de mercado. Acompanhe na próxima tela cada um desses instrumentos e os compreenda melhor. a) Instrumentos de comando e controle: São os mecanismos de imposição que se constituem na primeira geração de instrumentos de Gestão Ambiental. No Brasil, sua implantação ocorre da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que apresenta por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida. O artigo 9º dessa lei estabelece os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: Zoneamento Ambiental; Y Criação de áreas de proteção ambiental (preservação e conservação), para Y espaços de relevante interesse ecológico e reservas extrativas pelo Poder Público municipal, estadual e federal; Licenciamento e revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; Y Avaliação de impactos ambientais; Y Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; Y Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou Y utilizadoras de recursos ambientais (IBAMA); Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; Y Importante Universidade de Fortaleza - Unifor 28 Gestão Ambiental Unidade 1 Penalidades disciplinares ou compensatórias em caso de não cumprimento das Y medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental; Instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado Y anualmente pelo IBAMA; Sistema Nacional de Informações Sobre o Meio Ambiente; Y Garantia da prestação de informações relativas ao meio ambiente, obrigando Y o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes; Instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, Y seguro ambiental e outros. Os instrumentos de Gestão Ambiental de comando e controle atuam como articuladores dos interesses dos vários atores sociais do processo. São mecanismos do tipo repressivo, tais como leis, decretos, portarias, resoluções e normas técnicas ABNT, onde a organização, em caso de descumprimento, sofre penalizações ou negociação de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao ministério público. Apresentam dois princípios básicos: Preventivo D : define os padrões mínimos de desempenho ambiental previamente à instalação do empreendimento, considerando os critérios de acordo com o Zoneamento Ambiental. Contribui para reduzir o nível de degradação ambiental utilizando-se do Zoneamento Ambiental, licenciamento ambiental e a avaliação de impactos ambientais; Corretivo D ou Reativo: estabelece os padrões de desempenho ambiental das atividades poluidoras, visando manter o status quo do nível de degradação ambiental de acordo com o Zoneamento Ambiental (padrões de lançamento de efluentes, padrões de lançamento de emissões atmosféricas, níveis de ruído, dentre outras). b) Autocontrole ou autorregulação: Estes são instrumentos de gestão focados por excelência na esfera privada e de natureza voluntária. Sua criação parte do princípio de deixar para o mercado a responsabilidade de mediar as relações entre os atores envolvidos no processo de gestão ambiental. c) Econômicos: Correspondem aos mecanismos que atuam como mediadores na relação custo e benefício ambiental de modo a enfatizar a importância nos investimentos em controle ambiental como uma forma de obter ganhos econômicos efetivos, mesmo em curto prazo. O maior interesse na aplicação de instrumentos econômicos resulta de quatro necessidades: recompensar e incentivar continuamente as melhorias no campo ambiental; D usar os mercados de forma mais efetiva para atingir os objetivos ambientais; D buscar os menores custos efetivos tanto para os governos como para as empresas; e D mudar a ênfase na política e na prática ambiental, recorrendo à preservação ao D invés da correção. Universidade de Fortaleza - Unifor 29 Gestão Ambiental Unidade 1 Depois dessa explanação acerca da evolução das questões ambientais e de verificarmos a aplicação do conceito de desenvolvimento sustentável no âmbito das atividades empresariais, bem como os princípios da Gestão Ambiental e suas dimensões de atuação nas esferas pública e privada, encerramos aqui a nossa primeira unidade, mas lembre-se de complementar os estudos aqui abordados com a sua web aula. A seguir trataremos das formas de aplicação desses conceitos nos Sistemas de Gestão Ambiental. Nos encontramos em nossos ambientes. Bons estudos e até lá! REFERÊNCIAS Análise Gestão Ambiental - Anuário 2010/2011. São Paulo: Análise editorial, 2011. ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de; TACHIZAWA, Takeshy; CARVALHO Ana Barretos de. Gestão ambiental: Enfoque estratégico aplicado ao desenvolvimento sustentável. 2ª ed. São Paulo: Pearson Makron Books, 2002. BRASIL. LEI Nº 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1981. Política Nacional do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em: 09 dez. 2011. BRAUN, Ricardo. As raízes da crise ambiental e os esforços convencionais para a proteção do Meio Ambiente. In: ________. Novos paradigmas ambientais: Desenvolvimento ao ponto sustentável. 2. ed. Atualizada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. DONAIRE, Denis. Gestão Ambiental na Empresa. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2010. Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Disponível em: <www. unep.org>. Acesso em: 09 dez. 2011. PNUMA. A Global Green New Deal. Disponível em: <http://www.unep.org.br/publicacoes_ detalhar.php?id_publi=58> Acesso em: 07 dez. 2011. Report of the World Commission on Environment and Development: Our Common Future. Disponível em: <http://www.un-documents.net/wced-ocf.htm>. Acesso em: 09 dez. 2011 SEIFFERT, Maria Elizabete Bernardini. Gestão ambiental: Instrumentos, esferas de ação e educação ambiental. São Paulo: Atlas, 2010. SILVA, Luiz C.; MENDES, J. T. Grassi (Orgs.). Reflexões sobre o desenvolvimento sustentável: Agentes e interações sob a ótica multidisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. Universidade de Fortaleza - Unifor 30 Gestão Ambiental Unidade 1 CRÉDITOS UNIVERSIDADE DE FORTALEZA Núcleo de Educação a Distância Coordenação Geral Carlos Alberto Batista Supervisão Administrativa Graziella Batista de Moura Produção de Conteúdo Didático João Batista Vianey Silveira Moura Projeto Instrucional Andrea Chagas Alves de Almeida Ticiane Soares de Morais Roteiro de Áudio e Vídeo Andrea Chagas Alves de Almeida Ticiane Soares de Morais José Moreira de Sousa Produção de Áudio e Vídeo Vaneuda Almeida de Paula Identidade Visual Natália Soares Sousa Arte João José Barros Marreiro Programação Raimundo Bezerra Lima Júnior Roberto Bezerra Morel Lopes Francisco Capistrano Diagramação de Material Didático Sávio Félix Mota Revisão Gramatical Luís Carlos de Oliveira Sousa Universidade de Fortaleza - Unifor 31 Gestão Ambiental Unidade 1 ANOTAÇÕES Universidade de Fortaleza - Unifor 32 Gestão Ambiental Unidade 1 ...
Compartilhar