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1 CONTEÚDO N1 - ANTROPOLOGIA JURÍDICA 1. CONCEITO E OBJETIVO DA ANTROPOLOGIA. 1.1. O QUE É A ANTROPOLOGIA? Na definição mais geral e clássica a antropologia é entendida como o estudo do homem. Contudo, considerando que a psicologia, a medicina, e todas as ciências humanas têm como objetivo o estudo do homem, de algum ponto de vista específico, qual o objeto e especificidade da antropologia? Até porque o estudo do homem envolve a antropologia física, como a genética, a fisiologia e a biologia. A arqueologia que pesquisa além da evolução física a evolução social, a linguística antropológica que estuda as línguas, etc. O estudo do homem pode ser algo tão genérico e envolver tantas áreas do conhecimento, que nem mesmo entre os antropólogos existe um consenso sobre sua definição. A Antropologia, mais que o estudo do homem, é o estudo do outro e da sua cultura. A Antropologia sempre busca um retorno reflexivo, um entendimento de como as diversas culturas e etnias percebem o mundo, qual a visão do mundo desse outro para compreendê-lo e até mesmo para aprender alguma coisa de nossa própria cultura com outro. A percepção que temos de nós mesmo é mudada quando nos percebemos em relação aos outros; quando ao observar que os outros podem fazer as mesmas coisas, mas de forma diferente, nos indagamos sobre as nossas próprias maneiras. Afinal o que é natural? Comer de garfo e faca? Dormir em camas? Escovar os dentes? Fazer fila? Antropologia é uma ciência que se dedica ao estudo aprofundado do ser humano. É um termo de origem grega, formado por “anthropos” (homem, ser humano) e “logos” (conhecimento, estudo). Assim, a Antropologia é o estudo do homem como ser biológico, social e cultural ou ainda como o estudo do homem e seus trabalhos através do tempo de espaço.. Por isso é importante a noção de pensar o “outro”. A Antropologia deve ser entendida como a resposta para conhecermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo “outro”. Muito associada ao estudo do outro “diferente”, ao estudo de sociedades distantes e intocáveis, cada vez mais a Antropologia se propõe a estudar a nossa sociedade, voltando-se cada vez mais para uma auto-reflexão do seu papel político e social. Assim, Antropologia é o estudo do outro de forma reflexiva. Mas, quando se estuda a Antropologia é necessário ter o entendimento de cultura, pois o foco desta formação é o estudo dos agrupamentos humanos e das diversas culturas por eles construídas ao longo da história e nas sociedades atuais. 2 1.2. O QUE É CULTURA? Cultura significa cultivar, e vem do latim colere. Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é. Somente no século 19 Edward Tylor deu origem a palavra cultura, sintetizando dois antigos conceitos (Civilization de origem francesa que se referia a realizações materiais de uma comunidade e outra de origem germânica kultur abrangendo aspectos culturais de um povo). CULTURE ficou sendo “todas as possibilidades de realização humana”, ou seja, um “complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Para conhecer a cultura de um povo é fundamental conhecer sua história, sua evolução cultural, ou seja, suas tradições e as transformações que construíram e ainda constituem a cultura particular de cada tribo ou qualquer organização social. A partir dos estudos de Antropologia pode-se afirmar que a cultura está inserida no processo de socialização de cada ser, que se constitui no convício comunitário, no qual são assimiladas as normas, os padrões, a conduta, a religião, a língua, enfim, o conjunto que compõe o estilo de vida. “É por meio da cultura que um povo constrói a sua identidade e mantém viça a sua história e sua etnia”. RATTNER, 2005. Antropologia Jurídica. Por conta dessa interligação entre a cultura e a antropologia, Robert Lowie1 chegou a declarar que cultura é o único assunto da antropologia. Seja pelo estudo da antropologia ou da evolução humana, a antropologia é uma ciência que se interessa por ideias, valores, símbolos, normas, costumes, crenças, ambientes, etc... e por conta disto é intimamente associada a outra ciências e poucos reconhecem sua autonomia. E neste cenário que encontramos dificuldades em definir Antropologia e ela está intimamente ligada com a cultura. 1.3. HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA. Alguns afirmam que Heródoto, chamado pai de História e da Geografia teria sido um dos percursores a estudar os costumes dos povos exóticos, ou seja, aqueles povos que não eram gregos, mas tratava-se de uma população que divida o mundo em gregos e não gregos, que depois na Idade Média será alterada para os estudos sobre cristãos e não-cristãos – discurso sobre o não europeu. Contudo, é a descoberta do Novo Mundo que marca como gênese da reflexão antropológica. É no século XVI que tem inícios os primeiros contornos empíricos de uma análise sistemática das sociedades não europeias mediante relato dos viajantes e dos 1 Robert Harry Lowie (1883 -1957) foi um austríaco especialista em índios norte-americanos, ele foi fundamental para o desenvolvimento da antropologia moderna. 3 missionários. Assim, nos seus primeiros momentos a antropologia vai eleger como objeto de estudo as sociedades primitivas, marcado pelo aparecimento de duas ideologias: (i) o fascínio pelo estranho: enaltecendo a cultura das sociedades primitivas. Exemplo: Las Casas, Américo Vespucio e o próprio Colombo. (ii) a recusa do estranho: censurando e excluindo tudo o que não seja compatível com a cultura europeia. Exemplo: Sepulveda, Gomara, Oviedo,etc... E assim nascem as conexões entre antropologia e direito para a América Latina. Só mais tarde com a união do trabalho de campo (pesquisa da natureza) com a interpretação teórica é que a Antropologia adquire a sua originalidade. No século XX a Antropologia é qualificada como ciência moderna, como disciplina universitária e profissão, no estudo do homem inteiro, das suas culturas em todas as suas dimensões. A antropologia considera, portanto, todos os aspectos da existência humana. 1.4. ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E SEUS CAMPOS DE ESTUDO. As escolas antropológicas são visões diversas do modo de explicar a humanidade. 1.4.1. A ESCOLA EVOLUCIONISTA A escola EVOLUCIONISTA é a primeira escola antropológica moderna (século XIX), ela é marcada pelo darwinismo social2, situava a sociedade europeia no topo da evolução social, em contraposição às demais, que eram vistas como sociedades de seres primitivos. Na verdade era uma explicação científica que agradava ao homem europeu e ajuda a justificar a imposição da sua cultura sobre as outras, assim como justificar o domínio territorial. “Portanto, a Antropologia científica passa a se interessar pelo diferente na ânsia de entender o homem civilizado, industrial, moderno e burguês. E, nesse sentido, se, por um lado, não tem a função de ajudar a colonizar e explorar de forma mercantil esses povos, por outro, tende a ver o homem moderno como continuidade desses povos considerados mais atrasados.” (Rocha, p.22) São consideradas características da Antropologia Evolucionista os seguintes temas: a) estudo das sociedades simples ou primitivas e das sociedades antigas; b) estudo da religião; c) estudo do parentesco. Representante dessa escola: Edward Burnet Tylor, James Frazer, Lewis Henry Morgan. No século XIX, Frazer criou modelo de desenvolvimento da humanidadena religião, dividindo-os nas fases da - magia, - religião - ciência. 2 Charles Darwin e a sua teoria sobre a evolução das espécies influenciou profundamente as Ciências Sociais. “Para sobreviver, as espécies animais se adaptavam ao meio em que viviam e que os mais fortes eram aqueles que melhor se adaptavam.” 4 Foram os primeiros a realizar estudos sobre magia e religião dos povos antigos e primitivos e sua influência não só na evolução das religiões mundiais, mas também na construção das instituições e do direito. E isto porque é certo que as crenças dos antigos gregos e romanos persistiram durante muito tempo e exerceram grande influência na construção e solidificação da religião, das instituições e do direito que moldam a sociedade contemporânea. “Religião é uma crença no sobrenatural”, afirma Tylor. Todas as religiões possuem esses dois elementos: (i) crença: que é antes de tudo um ato de fé, de confiança, de respeito e reconhecimento pelo sistema de mitos que representam a religião. (ii) o sobrenatural: que é o objeto da fé, portanto, tudo aquilo que escapa ao entendimento humano. Aliás, a aproximação entre religião e direito é constatada através do casamento religioso que é equiparado ao civil. Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração. Pode ser qualquer religião? Não há qualquer restrição jurídica. A Constituição Federal não define o conceito de religião, nem autoriza o legislador ordinário a defini-lo porque é um conceito antropológico. Não há como escolher melhores ou selecionar que tipo de casamento religioso equipara civilmente. Claro que usualmente é o casamento na Igreja Católica, mas proteção constitucional deve alcançar todas elas. At. 5º. VI CF - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; Art. 226 § 2º CF - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. Outro grande antropólogo da escola evolucionista, que também foi jurista, é o norte-americano Henry Lewis Morgan (1818-1881) que elaborou um modelo de desenvolvimento da humanidade pelo sistema de parentesco para explicar a organização social, segundo qual o desenvolvimento transcorria os três níveis: - selvageria – barbárie – civilização. A selvageria caracteriza-se pelo matrimônio por grupos e apropriação dos produtos da natureza, a barbárie pelo matrimônio cercado pela monogamia apenas a para a mulher e a agricultura e a civilização pelo matrimônio monogâmico e a indústria. O EVOLUCIONISMO E O DIREITO Os fatores que influenciam a vida social, provando-lhe mutações, vão produzir igual efeito no setor jurídico, determinando alterações no direito positivo. A evolução do direito está subordinada à realidade social. Esses fatores sociais e jurídicos induzem a transformações no Direito. Exemplo disso são as consequência dos estudos antropológico sobre os sistemas de parentesco dentro da escola Evolucionista. A antropologia sociocultural tem considerado durante muito tempo o estudo da família e do parentesco como o seu património indiscutível. A família é considerada em geral o fundamento universal das sociedades. O parentesco é uma relação humana universal com base biológica e com variações nos significados socioculturais particulares. 5 Ele pode ser visto como uma referência para o posicionamento social, pois em todas as sociedades humanas os indivíduos adquirem os primeiros elementos do seu estatuto e da sua identidade social através do parentesco. É este um tema clássico em antropologia, o parentesco é de grande importância na vida quotidiana. Questões como o divórcio, que nos parece tão moderna, são muito antiga noutras culturas (concedido a petição dos dois), ou também o aborto, que noutras culturas é admitido como algo normal. Também o tema das relações sexuais fora do matrimónio, que apenas são proibidas num 5% das culturas, e noutras é permitido, mas com certas condições. O parentesco é o sentido sociocultural dos laços de sangue, tem uma base biológica, mas precisa de uma interpretação e reconhecimento social (ex.: o caso dos pais adotivos). O parentesco é um tipo de relação social pautada. As funções que satisfaz o parentesco são: económicas (subsistência e controlo do sistema de reprodução), psicológicas (seguridade emocional), sociais e económicas (regulamentar as formas de intercâmbio, organizar os casamentos). Os sistemas de parentesco são, do ponto de vista antropológico, considerados como estruturas formais, que resultam da combinação de três tipos de relações básicas: a) a relação de descendência, que é a relação entre pai e filho e mãe e filho; b) a relação de consangüinidade, que é a relação entre irmãos e c) a relação de afinidade ou seja, a que se dá através do casamento, pela aliança. Essas três relações são básicas e o estudo do parentesco é o estudo da sua combinação. Essas relações são a estrutura formal universal. Qualquer sociedade forma-se pela combinação dessas três relações. A variabilidade está em como se faz essa combinação. Vejam que elas são retratadas em nossa legislação: Art. 226 CF. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração. § 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. (Regulamento) § 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. § 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. § 6º - O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos. § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 66, de 2010) § 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. Regulamento § 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; O parentesco por afinidade é civil e não se extingue mesmo com o fim da relação que o originou. Por isso, sogro não pode se casar com a nora, mesmo que ele seja divorciado e ela já tenha rompido a relação com o ex-companheiro. 6 Art. 227 § 6º CF - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na relação de ascendentes e descendentes. Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra. Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem. Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações,e, na colateral, também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente. Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade. § 1º O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro. § 2º Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável. O tabu do incesto para antropologia é interpretado como um princípio de organização social é uma forma de estabelecer aliança entre os grupos. Essa interpretação introduz uma dimensão política. É através da proibição da relação com as pessoas do próprio grupo, que se introduz a necessidade de se comunicar com outro grupo, através do casamento. O evolucionista, Edward Tylor (1975), que estudou o parentesco, dizia que os povos se defrontaram com a seguinte escolha: casar fora ou ser morto fora. A questão era essa: sair do isolamento da consangüinidade, para a expansão através da aliança (o casamento). A aliança através do casamento era a forma de evitar o confronto entre tribos. CRÍTICA AO EVOLUCIONISMO Não é possível estabelecer uma continuidade progressiva das culturas. Evolução e progresso exprimem uma crença na superioridade do presente em relação ao passado e do futuro em relação ao presente. O que existe é uma pluralidade de culturas diferentes, e cada uma dela inventa o seu modo de relacionar-se com o tempo, seu modo próprio de organizar o poder e de produzir seus valores. O diferente é inferior? 1.4.2. A ESCOLA DIFUSIONISTA A escola DIFUSIONISTA se opõe à escola evolucionista, porém, mantém a mesma linha técnica de seus estudos. A difusão cultural se dá pelo contato entre culturas, nesse sentido, há a evolução cultural. Principais representantes: Graebner (1877-1942), Smith (1864- 1922), Rivers (1864-1922). Suas principais características são: (i) Reação ao evolucionismo: O difusionismo é conceitualmente uma reação às ideias evolucionistas de unilateralidade, isto é, ao evolucionismo universal de acordo as leis determinadas. Assim, os estudos desta escola se concentraram nas semelhanças de objetos pertencentes a diferentes culturas, bem como especulações sobre a difusão destes objetos entre 7 culturas. Assim, um objeto foi inventado uma só vez em uma sociedade em particular e a partir dali se expandia através de diferentes povos. (ii) Interesse pelos traços culturais semelhantes: Ao contrário do evolucionismo que postula um desenvolvimento paralelo entre civilizações, o difusionismo enfatiza o contato cultural e o intercâmbio, de tal maneira que o progresso cultural mesmo é compreendido como uma conseqüência do intercâmbio. Para os difusionistas, o empréstimo cultural seria um mecanismo fundamental de evolução cultural. Desta forma, ao se produzir um contato entre duas culturas, se estabelece um intercâmbio de traços associados que foram tomados na qualidade de “empréstimo”, mas que passam a formar parte da cultura. Conceito de empréstimo cultural: É a transposição de elementos culturais através de um processo seletivo em que os traços que mais se adaptam à cultura são assimilados de tal modo que se transformam, incluindo em sua função. Dentro do difusionismo existiam duas correntes principais: uma britânica e outra alemã. Na escola Alemã, conduzida por Wilhelm Schmidt e Fritz Graebner, acreditava-se que os traços culturais difundiam-se em círculos para outras regiões e pessoas através de áreas culturais variadas. Esses círculos culturais eram chamados de 'Kulturkreise'. A escola alemã foi a principal especialização, uma vez que o evolucionismo foi questionado por Herder que estudou a questão da singularidade e da geografia da herança cultural de cada povo. Na versão britânica do Difusionismo existia apenas um centro cultural primordial (difusão heliocêntrica, alusão ao Deus Sol egípcio) que era o Egito Antigo, do qual todos os traços culturais derivaram. Os principais adeptos dessa teoria inglesa foram G. Elliot Smith e William J. Perry. (iii) Rigor metodológico e desenvolvimento de técnicas de pesquisa. São considerados aportes do difusionismo a importância outorgada à interrelação entre os fenômenos culturais, a notável acumulação de informação etnográfica e a insistência nos trabalhos de campo (pesquisas de campo). Para alguns era urgente coletar dados e informações sobre povos primitivos antes que eles fossem absorvidos pela civilização; em virtude disso a coleta de dados tornou-se mais importante do que a explicação do fenômeno cultural. O difusionismo tem respaldo científico, a partir do momento que suas inferências são baseadas em achados arqueológicos e pesquisas etnográficas. (iv) Interesse pelas culturas particulares Além de imprimir uma nova interpretação ao fenômeno cultural, passou a se concentrar no estudo de culturas particulares, delimitando o campo de estudo. Surge então a escola norte-americana com Franz Boas. 8 DIFUSIONISMO NORTE-AMERICANO. Representante dessa escola: Franz Boas (1858-1881). Franz Boas foi o grande percursor da ida dos antropólogos a pesquisa de campo, que antes se atinham a interpretar as informações. Ele contribuiu para a exigência da união do teórico e do observador, impulsionando a ideia de que os antropólogos deviam dominar as línguas dos povos estudados, com o objetivo de conhecer o mapa da organização básica do intelecto humano. Ele mesmo dedicou-se aos estudos dos índios americanos. Boas entendia que havia muita dificuldade em estabelecer um padrão universal, por isso o estudo antropológico deveria concentrar-se na abordagem de culturas particulares. Para Boas, a tarefa do antropólogo era investigar as tribos primitivas que careciam de história escrita, descobrir restos pré-históricos, estudar tipos humanos e a linguagem. Cada cultura teria a sua própria história. Para compreender a cultura teríamos que reconstruir a história de cada cultura. Franz Boas marcou linhas básicas de orientação que anteciparam o funcionalismo. A ideia central era considerar a cultura como uma totalidade, um conjunto de elementos integrados. A metodologia buscava provas concretas do contato cultural e a comparação de traços que existem contextualmente. Por outro lado, enfatizava evitar a limitação de apenas semelhanças para buscar também as diferenças. Boas “emprestou” de Wissler, a noção de área cultural, conceito que descreve um núcleo de influência, isto é uma zona ampla de onde se observa como um traço cultural deixa seu rastro em diferentes culturas, incorporando assim elementos psicológicos universais da cultura. Defendeu que não há culturas superiores nem inferiores (relativismo cultural). Os sistemas de valores devem compreender-se dentro do contexto de cada cultura e não de acordo com os padrões da cultura do antropólogo. DIFUSIONISMO E O DIREITO Como visto, a teoria difusionista preocupa-se em compreender o processo de transmissão dos elementos de uma cultura para outra, portanto, reconhece que qualquer agrupamento social, com raríssimas exceções, jamais está absolutamente isolado. Os grupos sociais entram em relação com grupos vizinhos, ou mesmo afastados, geralmente em razão de necessidades econômicas ou culturais a que não podem atender com seus próprios recursos. Esses contatos às vezes ocorrem de modo pacífico mediante trocas comerciais, às vezes resultam de guerras e conquistas. De qualquer modo, quando os grupos sociais entram em contato, ocorre o processo de difusão de cultura. O direito é, indubitavelmente, um dos aspectos da cultura de um grupo social, motivo pelo qual também está submetido a esse processo de difusão cultural. Roma foi, sem dúvida, o grande centro de difusão da culturajurídica na Antiguidade. Mesmo após o desaparecimento do Império, o direito romano continuou a ser objeto de estudo por parte 9 dos juristas medievais. Esse estudo se intensificou a partir do século XI com os glosadores e depois se alastrou por toda a Europa. Nessa trilha, o direito romano acabou influenciando toda a construção do edifício jurídico da modernidade, ou seja, a cultura jurídica moderna, principalmente com o renascimento da atividade comercial e o advento dos grandes Estados nacionais, constituiu-se com base no direito romano. Enfim, a cultura jurídica das sociedades ocidentais modernas resultou, em grande parte, de difusão ou empréstimos da jurisprudência romana. Aliás, os alemães fizeram do direito romano o seu direito até o final do século XIX. Não deixa de ser surpreendente o fato de uma cultura de uma sociedade extinta ressurgir com tanta força e vigor, influenciando o pensamento jurídico e a organização social de toda a Europa continental e suas colônias. O estilo dos jurisconsultos e os conceitos por eles elaborados influenciam até hoje a tecnologia jurídica e as decisões dos Tribunais. O estilo dos jurisconsultos romanos não foi superado, pelo contrário, tem sido constantemente renovado e retorna com todo vigor nos tempos atuais, constituindo uma alternativa para superar os limites impostos pelo positivismo jurídico. A cultura jurídica europeia, com suas bases gregas e romanas, difundiu-se para as colônias, motivo pelo qual a cultura jurídica brasileira tem sido construída conforme os parâmetros estabelecidos no direito europeu. É preciso lembrar também a difusão da cultura jurídica norte-americana, especialmente no âmbito do direito comercial. Essa difusão é evidente na própria nomenclatura das novas figuras contratuais que emergem do direito empresarial brasileiro: leasing, factoring, franchising, software, know-how etc. CRÍTICA AO DIFUCIONISMO Apesar da sua grande importância na recolha de dados, salientou demasiado a forma (unicamente uma dimensão das características culturais), em detrimento do significado que cada característica tem para os membros de cada cultura em particular. Ignorou também as relações com outras características. 1.4.3 A ESCOLA FUNCIONALISTA A escola FUNCIONALISTA compara a cultura a um organismo. As unidades de uma cultura apresentam uma função dentro do contexto cultural. Ênfase à funcionalidade. Para essa escola o desenvolvimento de grupos humanos está permeado por valores, que constituem uma cultura própria e diversificada. A partir dessas funções das instituições culturais como as diversas formas de parentesco e das funções da família é que grupos humanos vão desenvolver suas estratégias de vida e sobrevivência material, acima da economia, política e a produção material. “Em outras palavras, pode ser que determinados grupos humanos isolados, por suas tradições culturais, não tenham imaginado interesse algum em se desenvolverem do 10 ponto de vista econômico e tecnológico, portanto não existe uma relação de inferior e superior, mas e opções diferentes de sobrevivência a partir de fatores essencialmente humanos, como por exemplo, as relações familiares e de casamento.” (Rocha, p. 24) Assim, não existe superioridade, apenas diferença cultural. A Escola Funcionalista se contrapõe: à teoria evolucionista, porque não distingue os estágios de desenvolvimento das sociedades mais simples para mais complexas, e a teoria difusionista porque não acredita em um centro de difusão de cultura que se transmite por empréstimo. Sabe-se que existem requisitos prévios o uma série de condições necessárias para a sobrevivência de uma sociedade ou a manutenção de uma estrutura. Assim, de acordo com a teoria funcionalista, certas formas culturais ou sociais são indispensáveis para que algumas funções possam desempenhar-se. Principais representantes: Bronislaw Malinowski (1884-1943), Radcliffe-Brown (1881- 1955). O funcionalismo enfatizava a interconexão orgânica de todas as partes de uma cultura pondo em primeiro plano a ideia de totalidade. Desta maneira, postulava uma universidade funcional que se opõe ao difusionismo. Análise funcional é uma explicação de fatos antropológicos em todos os níveis de desenvolvimento de acordo com o papel que jogam dentro do sistema total da cultura, de modo que estão interrelacionados com o interior do sistema e pela forma que o sistema se vincula ao meio físico. O conceito de função, de acordo com Malinowski se refere ao papel que joga um aspecto em relação ao resto da cultura e em última instância, orientado sempre a satisfação das necessidades humanas, isto é, a sobrevivência. Para Malinowski a função básica da família encontrados em todos os agrupamentos humanos, são as de : (a) reprodução: legitimidade de reprodução, pois mesmo em sociedades em que há liberdade sexual, a procriação raramente é aprovada fora da família (b) sexual: atender as necessidades sexuais permitidas pela institucionalização da união ou casamento. (c) econômica: assegurar o sustento e a proteção da prole, com obrigação estendida aos parentes. (d) educacional: transmitir a prole a herança cultural e social. Para ele a cultura deve ser encarada como uma totalidade coerente, e todos os aspectos que apresenta, parentesco, economia, política, religião, direito, etc não podem, de maneira alguma, ser interpretados separadamente. Malinowski estabelece a noção segundo a qual é possível mostrar a totalidade de uma cultura, a partir da análise de um único costume (fato-totalidade). Malinowski defendia que as instituições desempenham funções específicas e, assim, contribuem para sustentar a ordem social. Ele afirma que as necessidades do organismo individual ou da espécie (abrigo, calor, liberdade de movimento) são diferentes das necessidades da sociedade (instituições sociais como a família ou o matrimónio são dispositivos sociais que atendem as necessidades sociais). Para tanto, ele rompe os 11 contatos com o mundo europeu, passa a viver com as populações as quais estuda e a recolher seus materiais de seus idiomas. Origem da observação-participante e aculturação do observador. Será um passo adiante na linha de trabalho de Radcliffe-Brown, que encampou o conceito de estrutura social. Com efeito, para este autor não há função sem estrutura. Por estrutura se entende uma série de relações unificadas, na qual a continuidade se conservaria através de um processo vital composto pelas atividades das unidades constitutivas. O sistema de parentesco era um dos elementos fundamentais de sua análise. Considerava-o, mesmo, o elemento fundamental para compreensão da organização social em sociedades de pequena escala, já que expressava um sistema jurídico de normas e regras que impõem direitos e deveres. A busca de princípios comuns, comparando as diferentes sociedades, tornou-se objeto de suas preocupações. Radcliffe-Brown vincula o seu trabalho um grande valor prático, porque podia ser útil para a administração colonial britânica, ao proporcionar uma base científica para o controlo e a educação dos povos colonizados. A ESCOLA FUNCIONALISTA E O DIREITO Interesse por instituições e suas funções para a manutenção de totalidades culturais. Reflexões sobre conflito e coesão social. A própria concepção de função básica de família analisada acima é atrelada a questões jurídicas como reconhecimento de paternidade, pensão alimentícia, regime de bens, divórcio, linha de sucessão, educação, etc. Distinção entre costume e Direito. Após os estudos de Malinowski, a antropologia passou a reconhecer o direito como uma instituição por si mesma, diferenciada dos costumes. Fugindo da visão etnocêntrica da cultura europeia que vê a si mesmo como evoluída, enquanto a culturajurídica das sociedades primitivas é tida como impregnada de religião, Malinowski irá afirmar que há nas sociedades primitivas certo conjunto de regras costumeiras que se distinguem de outros conjuntos, porque um conjunto estabelece obrigações para uma pessoa e outro conjunto estabelece direitos. Malinowsky também observou que no direito primitivo ou tribal existe uma separação entre lei civil e lei penal. No direito civil, a lei (obedecida) consiste em um conjunto de obrigações forçadas e consideradas como justas por uns e reconhecidas como um dever por outros. No direito penal, a lei (desrespeitada) é definida como regras fundamentais que salvaguardam a vida, a propriedade e a personalidade. Função e instituição: As noções de função e instituição da teoria funcionalista também aparecem de forma acentuada em algumas teorias jurídicas. Instituições são os modos estabelecidos que permitem a determinada sociedade cuidar de seus assuntos, de lidar com seus problemas sociais. De modo geral as sociedades desenvolvem instituições: (a) judiciais e 12 políticas para ajudar a manter a paz entre os atores, proteger a propriedade e decidir conflitos; (b) de parentesco para socializar e regular as relações sexuais; (c) e econômicas para incentivar o trabalho, produzir e distribuir bens e até mesmo em manter a desigualdade entre classes. As instituições exercem o controle social sobre os indivíduos e garantem as condições de lidar eficazmente com os problemas sociais. Então o Direito é uma instituição? No campo jurídico, para alguns teóricos o Direito é uma instituição, para outros é um conjunto de normas. Norberto Bobbio faz uma tentativa de conciliar essas duas posições. Aos que defendem que o Direito é uma instituição CRÍTICA AO FUNCIONALISMO A crítica que se faz à Escola Funcionalista, é que, ao privilegiar as funções das instituições sócio-culturais, de forma idealista se deu uma autonomia e preponderância desses sub-sistemas “particulares” (parentesco, religião, economia) sobre as condições concretas de existência em que repousam as particularidades em que tais sub-sistemas executam suas funções e quais as modificações que ao longo do tempo essas instituições apresentam. Não se pode partir do imaginário valorativo de uma comunidade sem que se entenda qual a relação desse imaginário com as contradições internas dessa comunidade, seja em relação à natureza ou aos outros homens. Assim, a evolução humana, na visão funcionalista, parecia ter explicação apenas em uma porção de contingências e acidentes procurados externamente à determinação valorativa e funcional das suas instituições sociais, pois em seu interior as comunidades parecem harmoniosas e incapazes de produzirem litígios, delitos e punições cabíveis. 1.4.4. A ESCOLA ESTRUTURALISTA A escola ESTRUTURALISTA apresenta as mesmas características da escola funcionalista, porém, é considerada uma versão melhorada, visto que alarga seu campo de abrangência para a mente humana, a subjetividade, o chamado inconsciente. Entende-se por estruturalismo o método ou processo de pesquisa em cuja base encontra-se o conceito de estrutura com o significado de sistema. O que o observador vê de imediato é apenas a superficialidade. Mas existe uma estrutura de relações e afinidades que compõem um sistema de organização social. Um sistema pode ser definido como um conjunto de elementos interrelacionados que interagem no desempenho de uma função. É uma definição tão abrangente que pode ser usada em uma grande variedade de contextos como sistema econômico, sistema nervoso, etc... 13 Uma estrutura é uma disposição e organização dos elementos essenciais que compõem um todo, quer material (de um edifício, do corpo humano), quer, por analogia, de uma realidade imaterial (de uma obra literária, da consciência). Uma disposição ou organização na qual as partes são dependentes do todo e, por conseguinte, solidárias umas das outras. Assim, na Antropologia, o sistema deve ser encarado como regra de disposição sistemática de elementos, um sistema de relações hierarquicamente ordenado. A estrutura, portanto, não é constituída simplesmente por um conjunto de elementos relacionados, mas por uma ordem hierárquica que tem o objetivo de garantir o êxito de sua função e sua própria conservação. O termo estrutura tem o significado genérico de sistema quando se fala de estrutura como um conjunto de elementos submetidos a determinadas relações. ESTRUTURA: conjunto de relações sociais específicas de uma organização. 1.4.4.1 Princípios metodológicos da Escola Estruturalista Estes princípios estruturais explicam o dinamismo e múltipla determinação no desenvolvimento dos grupos humanos. Relação de e religiosidade e produção material parentesco Estrutura de uma ordenação mental coletiva 1. Toda estrutura é um conjunto determinado de relações, ligadas umas às outras segunda leis internas que apresentam transformações constantes. 2. Toda estrutura combina elementos específicos que a compõem e por este motivo, é impossível “reduzir” uma estrutura a outra ou “deduzir” uma estrutura de outra. 3. Estruturas se unem formando sistemas sociais complexos (parentesco + magia e liderança + produção), através de leis de compatibilidade, mas que não têm uma origem única e definida. Representante dessa escola: Claude Lévi Strauss.(1908-2009) Lévi Strauss merece uma atenção especial. Até a década de 1930, poucos pesquisadores dedicavam-se a estudar as populações indígenas brasileiras de forma sistemática. Naquela época, os estudiosos costumavam voltar às atenções para analisar as comunidades africanas, asiáticas e 14 norte-americanas, pois eram mais tradicionais nas academias europeias. Foi então que o antropólogo e filósofo belga Claude Lévi-Strauss veio ao Brasil e passou um tempo vivendo junto aos bororos e nambiquaras, no Mato Grosso, e os kadiveus, na fronteira com o Paraguai. As ideias e métodos de análise Lévi-Strauss mudaram para sempre os rumos da antropologia e dos estudos de mitologia, religião e parentescos. O pensador, nascido em Bruxelas, na Bélgica, morreu em 2009, um mês antes de completar 101 anos, mas, mesmo em vida, já era uma das maiores referências na sua área de estudo. Qualquer curso de Ciências Sociais e Antropologia, por exemplo, possui disciplinas voltadas a estudar suas teorias estruturalistas - uma das principais correntes do pensamento antropológico. Lévi-Strauss estudou Direito e Filosofia na França, dedicando boa parte de sua vida às aulas em cursos superiores. Ele, aliás, foi um dos primeiros docentes do curso de Ciências Sociais da recém-criada Universidade de São Paulo (USP), entre 1935 e 1938, quando viveu no Brasil e realizou importantes estudos de campo com etnias locais. Lévi-Strauss integrou o segundo grupo de professores franceses contratados para lecionar na USP, como o Fernan Braudel (economista) e Raymond Aros (filósofo), que eram todos professores de Sobourne na França. A universidade havia sido inaugurada há pouco tempo, em 1932, e buscava docentes qualificados para que a instituição pudesse se transformar em um dos maiores centros de ensino superior da América Latina. O principal mérito atribuído à obra de Lévi-Strauss é que ele nunca aceitou as teorias de que a cultura e a civilização ocidentais eram superiores ao resto do mundo. Ao contrapor-se a esse eurocentrismo3, o pensador deu um novo enfoque aos estudos dos chamados povos primitivos, principalmente os das Américas. Ao conviver com os bororos, os nhambiquaras e outras etnias, Lévi-Strauss chegou a uma conclusão inovadora. O modo de pensar dos índios é absolutamente idêntico ao nosso e o que o Lévi-Strauss vai mostrar éessa universalidade do pensamento humano, seja o pensamento dos ditos povos selvagens, seja o pensamento dos ditos povos civilizados. A importância disso é mostrar que, na verdade, não se pode hierarquizar povos, não se pode hierarquizar culturas, como se alguns fossem superiores a outros. Foi Lévi-Strauss quem mostrou que as sociedades podiam andar por caminhos diferentes. Por isso, o encontro com os índios foi decisivo e provocou nele uma defesa que ele vai levar até o resto da vida dele pela diversidade cultural, pela necessidade da existência de povos diferentes. As ideias de Lévi-Strauss tiveram um forte impacto no pensamento moderno, principalmente em um momento muito importante do século XX. Foi depois da Segunda Guerra Mundial, depois das atrocidades cometidas pelo nazismo, que propagava a superioridade de uma raça em relação às outras. Lévi-Strauss aproveitou a experiência que teve com os índios brasileiros para combater todas as teorias racistas. 3 Eurocentristmo: coloca os interesses e a cultura Europeia como sendo as mais importantes e avançadas do mundo 15 Para que serve o estudo das sociedades primitivas? Um duplo sentido. (i) retrospectiva: pois os gêneros de vida primitivos estão em vias de desaparecimento, motivo pelo qual é necessário recolher o mais rápido possível todas as lições que essas sociedades podem oferecer. (ii) prospectiva: na medida em que, tomando consciência de uma evolução cujo ritmo se precipita, sentimo-nos desde já os “primitivos” das gerações futuras, e na medida em procuramos provar nossa validade aproximando-nos daqueles que foram – e ainda são, por pouco tempo – tais como uma parte de nós persiste em permanecer. “Nesse sentido o pensamento dele é absolutamente atual, se a gente se lembra da dificuldade que a Europa enfrenta hoje em relação aos imigrantes e a discriminação de todos os imigrantes. O Lévi-Strauss vai mostrar exatamente que a discriminação não tem nenhuma justificativa científica”, explica a antropóloga Sylvia Caiuby. Veja o filme sobre Levi Strauss no link: http://www.cineconhecimento.com/2013/01/levi-strauss-saudades-do-brasil/ CONCEPÇÕES ESTRUTURALISTAS DE LEVI STRAUSS Para Lévi Strauss a vida social constitui um fenômeno que implica um movimento de trocas perpétuas através do qual as palavras, os bens, as mulheres circulam entre os indivíduos e entre os grupos. A sociedade, portanto, funda-se sobre a troca e só existe através da combinação de todos os tipos de troca: (i) de mulheres: relação de parentesco (terminológico e de atitude) (ii) de bens: economia (iii) de palavras e de representação: linguagem e cultura. O casamento, para Lévi-Strauss, envolve três sujeitos, é uma relação a três, uma mulher e dois homens, um que dá essa mulher, e o outro que a recebe. É uma forma de comunicação entre tribos que de outra forma estariam em antagonismo. O tabu do incesto, assim como o casamento, estabelece o social. O casamento estabelece a norma em relação à legitimidade dos filhos e o tabu do incesto cria a norma em relação ao fato biológico das relações sexuais. Os elementos que definem a família em Antropologia têm um caráter positivo e negativo: definindo o tabu do incesto, define-se o que pode e o que não pode ser feito. Define-se o legítimo e o proibido. O mesmo se passa com a divisão sexual do trabalho, outro princípio fundamental na constituição da família: estabelece o que os homens e as mulheres podem e não podem fazer, instituindo a reciprocidade. ESTRUTURALISMO E O DIREITO Várias teorias jurídicas usam as noções de sistema e estrutura, e por essa razão, são classificadas como estruturalismo jurídico. Exemplo são os positivistas Hans Kelsen com a Teoria Pura do Direito e Norberto Bobbio. 16 De acordo com essa orientação teórica, o sistema jurídico é, fundamentalmente, um conjunto de normas jurídicas válidas, dispostas numa estrutura hierarquizada. Norma jurídica válida é aquela emanada de uma autoridade que possui competência para editar as normas. A competência da autoridade é determinada pelas própria normas jurídicas . Hierarquia é conjunto de relações estabelecidas conforme regras de subordinação e coordenação. Essas regras não são normas jurídicas, isto é, não fazem parte do repertório, mas da estrutura do sistema. São regras estruturais: a) o principio da lei superior: regra segundo a qual a norma prevalece sobre estas; b) o principio da lei posterior: regra segunda a qual, havendo normas contraditórias, desde que do mesmo nível hierárquico, prevalece a que no tempo aparecer por último; c) o principio da lei especial: regra segundo a qual a norma especial revogada a geral no que dispõe especificamente. Para o positivismo jurídico, é preciso supor que as normas do ordenamento jurídico estão dispostas numa ordem sistemáticas. O sentido de uma norma não está, portanto, somente nos termos que expressam sua articulação sintática, mas também em sua relação com outras normas do ordenamento. Em outras palavras, entende-se que o direito é composto pelo conjunto organizado de regras diretoras (denominadas princípios) que presidem o sistema e regras simples que perfazem o todo sistemático. O direito, portanto, caracteriza-se pela disposição organizada e hierárquica de princípios e normas. Estrutura e hierarquia O positivismo jurídico concebe o ordenamento jurídico como uma estrutura de normas. A imagem da pirâmide ajuda a compreender essa concepção: no ápice da pirâmide normativa estariam situadas as normas superiores, tidas como fundamento de validade das normas imediatamente inferiores. Com esse escopo pode-se dizer pode-se dizer que no texto constitucional brasileiro estão as normas jurídicas do mais alto grau. Isso porque a Constituição Federal é o marco inicial de todo o motivo pelo qual adquire posição fundamental porque funda a ordem jurídica e adquire posição fundamental porque funda a ordem jurídica e adquire posição suprema; porque as normas constitucionais sobrepõem-se a todas as demais que integram o ordenamento jurídico. As normas constitucionais, além de orientar a atividade interpretativa do profissional do direito, orientam a produção e aplicação das normas pelos órgãos jurisdicionais (Legislativo e Judiciário). Desse modo, a validade da norma só pode ser julgada por sua relação com outras normas; isto é, as normas jurídicas encontram sempre seu fundamento de validade em outras normas ganham uma posição de superioridade, de preeminência, visto que as normas subordinadas não podem contrariar as normas de hierarquia superior. Alguns teóricos entendem que é possível estabelecer uma hierarquia entra as normas constitucionais; isto é, as normas que compõem o texto constitucional não possuem todas a mesma relevância. Algumas veiculam simples regras, outras são verdadeiros princípios. Entende que o sistema é um conjunto de normas inter- relacionadas em torno de princípios fundamentais que fecham o sistema como um todo unitário. Assim, os princípios assumem o sentido de elementos principais e fundamentais 17 do sistema, razão pela qual são considerados normas com âmbito de abrangência mais amplo que vinculam as demais normas do universo sistemático. Nessa trajetória, o interprete, ao examinar o sistema normativo, deve, em primeiro lugar, identificar os princípios e, a partir deles, caminhar em direção às normas jurídicas inferiores. A norma que se apresenta vaga e ambígua deve ser interpretada e aplicada em sintonia com os princípios que a Constituição acolhe. Os princípios constitucionais, por serem normas qualificadas, são considerados vetores para soluções interpretativas. Essa modelo, segundo os seus teóricos, pode ser aplicado no estudo e compreensão do direito dequalquer sociedade politicamente organizada. 1.5. CLASSIFICAÇÃO DA ANTROPOLOGIA A Antropologia é, por natureza, uma ciência fundamentada na abertura de conhecimento, razão pela qual a sua conjectura interna revela uma permeabilidade entre as suas muitas disciplinas objetivas. Tanto é, que não há um curso denominado Antropologia. A Antropologia é uma habilitação do curso de Ciências Sociais. Este curso oferta três habilitações: Ciências Políticas, Sociologia e Antropologia. Muitos são resistentes à classificação radical, mas podemos dividi-la inicialmente em antropologia cultural e antropologia física. 1. ANTROPOLOGIA FÍSICA: Foco no homem em sua evolução física. O homem é analisado como “herdeiro biológico”. Subdivisões da Antropologia Física: (i) Paleontologia humana: voltada ao estudo da origem e do processo evolutivo da espécie humana, especialmente por meio do exame de fósseis de hominídeos. Estuda as variações dos caracteres biológicos do homem no espaço e no tempo. Forte ligação com a genética, a biologia. (ii) Somatologia: dedicada ao exame da constituição física e catalogação das diferenças entre os biótipos (ou somatótipos) humanos. (iii) Antropometria: conjunto de técnicas voltados para medição do corpo humano e consequentemente tabulação dos dados para subsidiar investigações, até estudos comparativos de crescimento. 2. ANTROPOLOGIA CULTURAL OU SOCIAL: Foco voltado para o homem em sua evolução cultural. Consiste no estudo de tudo que constitui as sociedades humanas. Seus modos de produção econômica, suas descobertas e invenções, suas técnicas, sua organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, de conhecimento. O homem considerado no âmbito de sua ação sobre o mundo, seja natural (domesticação que impusemos ao nosso ambiente natural), por meio de artefatos como ferramentas, 18 moradias, meio de transporte, seja o mundo social em que veiculamos nossas crenças, valores, comportamentos e normas. Subdivisões da Antropologia Cultural: (i) Arqueologia : voltada ao estudo das culturas e civilizações antigas, remotas, vinculada com a pré-história, o estudo o homem por meio dos seus vestígios materiais, visando a reconstituir as sociedades desaparecidas em seu aspecto material e social. (ii) Etnografia: é a disciplina que recolhe dados sobre a descrição dos povos, língua, raça, religião, instituições e manifestações materiais. Voltada ao registro e à descrição das sociedades humanas consideradas primitivas, isto é, com nível organizacional menos complexo do que o da nossa sociedade e frequentemente ágrafas (sem escrita, baseadas na tradição oral). (iii) Etnologia: sintetiza, compara, unifica teórica e metodologicamente a realidade humana. Levantamento de dados numa pesquisa analítica e comparativa entre duas ou mais culturas. (iv) Linguística: Ramo autônomo da Antropologia, mas interligado porque a linguagem é um elemento cultural de um povo, que mediante o estudo da língua reproduz seus valores, preocupações e pensamentos. (v) Antropologia Social: Relação estreita com a Sociologia. Campo do conhecimento que estudo a sociedade e suas instituições do ponto de vista dos agrupamentos humanos e culturas atuantes sobre as relações sociais que as constituem. 1.5.1. DIFERENÇA ENTRE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA Enquanto a antropologia, nos seus primeiros momentos (século XIX), interessava- se pelo estudo das populações mais arcaicas do mundo, as sociedades primitivas, a sociologia sempre se interessou pelas sociedades contemporâneas. Acontece que nos últimos tempos a antropologia também. Foi sob forte influência do positivismo no século XIX que surgiram ciências como a Antropologia e a Sociologia, como resposta e como produtos de uma emergente sociedade ocidental. A Sociologia logos e propôs a estudar a sociedade, enquanto a Antropologia se especializou na pré-modernidade. Sociologia é a ciência que estuda as relações entre as pessoas que pertencem a uma comunidade ou aos diferentes grupos que formam a sociedade – fatos sociais. Curiosamente a Antropologia surge para estudar esse outro primitivo no preciso momento em que o projeto expansionista ocidental o condenava a extinção, enquanto a 19 Sociologia atingia seu ápice com as transformações do capitalismo moderno de racionalização, secularização, industrialização, burocratização, comercialização, etc.. A Sociologia traçará o seu percurso por meio da observação direta e situacional desses processos ocorridos no mundo ocidental, enquanto a Antropologia operará essa análise em função de um mundo em extinção, um mundo que esse outro selvagem se esfuma e desaparece. Por isso que no Brasil a formação do Antropólogo se inicia na Graduação no curso de Ciências Sociais que se divide em três áreas Sociologia, Antropologia e Ciência Política, porque ele precisa definir e compreender teoricamente a interrelação dessas três áreas do conhecimento: a sociedade, o homem e a política. O “sociólogo” nascente pensará a sociedade em que está inserido e o “antropólogo” é o sujeito que vai querer saber dos outros mundos. É na pós-graduação que os antropólogos vão se profissionalizar mediante o desenvolvimento da pesquisa na área, geralmente em torno de três eixos temáticos fundamentais: a etnologia indígena, o estudo das populações negras e o mundo da cultura nos grandes centros urbanos. Além disso, os antropólogos estão contribuindo para a reflexão sobre os problemas da sociedade brasileira e têm atuado diretamente em diversos segmentos quanto a questões fundiárias, à defesa dos direitos das minorias, populações específicas, movimentos sociais e ONGs. 1.6 CONCEITO DE ANTROPOLOGIA JURÍDICA Dedica-se ao estudo do Direito das sociedades “simples”, das Instituições do Direito da sociedade contemporânea, do Direito Comparado e do pluralismo jurídico. Robert Weaver Shirley divide o estudo da Antropologia Jurídica em três tipos: - Antropologia Legal é o trabalho clássico, o estudo da ordem social, de regras e sanções em sociedades ‘simples’, o direito primitivo na sua terminologia mais antiga. - Antropologia Jurídica é o emprego de métodos antropológicos de pesquisa, observação participante e comparação com as modernas instituições de Direito. Trabalhos nesta linha têm sido feitos na polícia, na magistratura e até em prisões. - Direito Comparado é o estudo e comparação de diferentes sistemas jurídicos, simples e complexos em que a colaboração do antropólogo é imprescindível pelo conhecimento multicultural. 1.6.1. O OBJETO DA ANTROPOLOGIA JURÍDICA Da Antropologia Jurídica clássica é o Direito das sociedades simples, sem escrita e sem Estado – ou distante dele. Pelo estudo do Direito de outras sociedades a 20 Antropologia Jurídica nos permite compreender melhor o sistema jurídico da nossa própria sociedade. Mas pensar em Antropologia Jurídica é se desvincular do Direito do Estado. Para Antropologia um povo pode criar mecanismos de organização e controle social sem necessidade de formalização de regras e sem a intervenção de um único poder centralizado e burocratizado. O indivíduo não é escravizado pelas normas reguladoras, nem ameaçado pelas sanções coercitivas, mas é socializado em decorrência da sua dependência do grupo. Ex: das instituições culturais, familiares, chefes. Não existe universalidade jurídica nas sociedades humanas e tampouco existem leis inúteis ou nocivas nas sociedades primitivas. Um retrata a experiência e a relação de sobrevivência de um grupo diante da natureza, outro de uma refinada e complexa lógica jurídica (sociedades com Estado). A ANTROPOLOGIA JURÍDICA estuda as restrições socioculturais que possuam sanções executáveis pela sociedade. Abrange desdea descrição das normas, elaboração das leis, análise da coexistência de sistemas jurídicos formais e informais, pesquisa do desvio das normas legais, perícia, mediação e resolução de conflitos, além da correção e readaptação dos desviantes. No campo teórico a antropologia jurídica examina os fatores culturais e sociais envolvidas nos processo legais. A antropologia jurídica ainda engatinha no Brasil. Aqui estão alguns objetos de estudos e áreas de urgente carência de pesquisa e aplicação da antropologia jurídica no país: (i) Pluralismo Jurídico: é o estudo da coexistência de vários sistemas jurídicos em uma mesma sociedade. Geralmente não é bem aceito a concorrência de outros sistemas jurídicas onde vigora o direito positivistas típicos dos países baseados em códigos legais de tradição romano-germânica. Há uma recente tendência de valorizar e aceitar a validade mediação privada de uma determinada comunidade. Isto é, deixar que os grupos étnicos, organizações religiosas, associações de bairro e juntas comerciais mediem as causas de seus membros. Porém, se há aceitação do Estado das mediações intra- comunitárias, ainda há pouca discussão de resoluções de conflitos jurídicos inter- comunidades. Um exemplo dessa falha são os conflitos entre fazendeiros e indígenas no Brasil. (ii) Direito dos Povos Indígenas: os povos indígenas e tribais possuem seus direitos garantidos pela resolução da Organização Mundial do Trabalho 169, entre eles o direito de auto-definição, preservação de território e cultura. Ainda não há cursos públicos para formar juristas dentro dos direito das diversas etnias no Brasil. (iii) Direito e Desenvolvimento: o antropólogo atua desde delimitar territórios étnicos em áreas rurais até mitigar interesses de partes (stakeholders) em um plano diretor urbano. (iv) Direito Socioambiental: avalia e media os interesses e direitos de diferentes comunidades e aderência às legislações sociais e ambientais. Também julga disputas, fiscaliza o cumprimento e provê remédios em processos de certificações sociais e 21 ambientais. Já é um tanto comum antropólogos participarem de EIA (Estudo de Impacto Ambiental). Além de avaliar, o antropólogo também tem o papel legal de negociar com as comunidades e facilitar a realização de audiências públicas para discutir um consentimento informado em termos significantes e compreensíveis entre partes. (vi) Criação de leis, políticas e diretrizes. O antropólogo pode sondar a população, ouvindo-a e observado suas necessidades que precisam ser traduzidas em leis. Atividade ausente no Brasil. (vii) Estudo dos desvios das normas legais: nesse campo, a antropologia jurídica sobrepõe a outras disciplinas como a criminologia, a sociologia jurídica e a psiquiatria forense. A antropologia forense brasileira teve um nascimento abortivo na “escola Nina Rodrigues”, inexistindo antropólogos legistas e mesmo antropólogos forenses socioculturais em orgãos atuação policial ou penal. 1.6.2. IDENTIDADE ANTROPOLOGIA COM O DIREITO As conexões do direito com a antropologia são evidentes, visto que o ser humano constitui objeto central dessas duas áreas do conhecimento. Temas como igualdade e diferença são, ao mesmo tempo, jurídicos e antropológicos. Além disso, o Direito é um aspecto da cultura que constitui objeto específico da antropologia cultural. A Antropologia tal como o Direito também se interessas pelos conflitos sociais, principalmente no que diz respeito à intervenção normativa na decisão jurídica desses conflitos, bem como desdobramento da ordem jurídica e diante das transformações culturais, sociais e políticas e econômicas. Há tópicos em antropologia que são importantes aos profissionais do direito, como também há tópicos do direito que servem ao antropólogo. Algumas dessas noções comuns são os conceitos de pluralidade jurídica, direito socioambiental, etnicidade, dinâmicas de poder, sanções informais, mediação de comunidades de direito informal, relações estado-indivíduo, direitos humanos, responsabilidade social corporativa, direito comparado, liberdade religiosa, liberdade de consciência em tratamento médicos. No entanto, por si só esses tópicos não formam a disciplina de antropologia jurídica. É a teoria da antropologia jurídica que os articulam. EXEMPLO: Eis um exemplo do modo de trabalho da antropologia jurídica. O antropólogo e sociólogo Bruno Latour passou meses assistindo sessões de um tribunal superior francês para entender a produção da justiça pelos profissionais da lei. Se ele não lançasse mão da teoria, os dados coletados seriam meras descrições. Na formulação da teoria, a antropologia jurídica pode abordar os tópicos que mencionei e também outras disciplinas, como psicologia, sociologia, criminalística, história, geografia, e claro, o direito. 22 Outro exemplo da prática da antropologia jurídica no Brasil, os poucos antropólogos do Ministério Público passam tempos tentando examinar e mediar entre interesses de partes distintas. Tipicamente trabalham com causas indígenas, mas poderiam bem servir em direito de família ou do trabalho. Sem método ou teoria antropológica, a atuação deles seria semelhante de assistentes sociais, porém sem tomar responsabilidade pelos seus assistidos. Por essa razão, o testemunho de um antropólogo para ter validade jurídica não pode se basear a uma entrevista e uma visita. Requer um contato intenso e prolongado com as comunidades envolvidas.
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