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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 00ª VARA CÍVEL DO FORO RGIONAL DE vvvvvv COMARCA DA CAPITAL.
 
 
PROCESSO nº 00000000000000
MARIA, já devidamente qualificada, nos autos em epígrafe, vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelencia, por sua advogados infra-assinada, apresentar RÉPLICA, em face do BANCO S.A., já qualificados na presente, pelas razões de fato e de direito que passa a expor:
DO CASO.
A Autora azuizou a presente Ação Declaratória de Inexistência de Débito c/c Indenização por Danos Morais em desfavor do Banco Réu, em face de conduta indevida referente aos emprestimos consignados descontados mensalmente em seu beneficio do INSS.
Distribuída a demanda, atentou esse digníssimo Juízo em deferir o pleito de antecipação de tutela, para que fosse imediatamente suspenso/interrupto, as indevidas prestações dos empréstimos consignados.
SÍNTESE DA CONTESTAÇÃO
Cumpridas exigências da liminar, a Ré, apresentou sua Contestação, alegando pela improcedência da demanda, especialmente por entender que, no mérito, não há indícios de fraude, embora não prove (art. 373, II, do CPC), e pela documentação acostada as fls., informa que a operação de empréstimos foram firmadas através de terminal de autoatendimento, (caixa eletrônico), pela utilização de cartão e senha e ainda confirma, que não existe um contrato físico para esses empréstimos.
Alega ainda, que o Banco Réu tem permissão legal para celebração desse tipo de operações de créditos, mediante a utilização de caixa eletrônico, e ainda alega que a Autora mesmo sendo analfabeta, não é relativamente nem absolutamente incapazes, gozando, para todos os efeitos, de capacidade.
RÉPLICA A CONTESTAÇÃO
Ora, Excelência, conforme já mencionado, a AUTORA é uma idosa e não sabe ler (analfabeta), somente saber assinar seu nome, motivo pelo qual, foi fraudulosamente enganada pelos prepostos do RÉU, que, ao auxiliarem na retirada de seu benefícios do INSS, fizeram empréstimos consignados indevidos em sua conta, e que a mesma desconhece a existência desses contratos de empréstimo, que ora se tenta anular.
E por ser a Autora analfabeta não poderia ter celebrar contrato, de forma eletrônica, em contrato de adesão, preparado pelo banco, pois não manifestada regularmente sua vontade e, seria necessária a formalização do contrato mediante escritura pública ou por procurador nomeado pela Autora através de instrumento público.
E, ainda, nos termos do art. 39, IV, do Código de Defesa do Consumidor: “É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (...) IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços.”
E também cabe ao Estado e à sociedade "assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais", art. 10º do Estatuto do Idoso.
Portanto, o ato jurídico está maculado pelo vício da forma, pois esse não teria validade, se não em documento oficial. Aliás, mesmo que contivesse a assinatura, a forma de contratação do mesmo não foi pautada pela boa-fé, nem caracterizou a vontade da AUTORA, nesses empréstimos.
 
Em vistas de tais fatos, torna-se importante analisar o contrato celebrado entre as partes à luz dos princípios inseridos no Código Civil, no Código de Defesa do Consumidor e do Estatuto do Idoso.
 
 Da Função Social do Contrato
 
Na nova compreensão do Direito Privado, a perspectiva funcional se sobrepõe à análise meramente conceitual e estrutural dos institutos jurídicos. Não se indaga mais, por exemplo, acerca dos elementos estruturais que compõem o conceito do contrato, mas se a sua finalidade está sendo cumprida.
As transformações sofridas pelo Direito Privado em face da aplicação dos princípios constitucionais, de caráter normativo, bem como dos princípios estabelecidos no Novo Código Civil, principalmente a "função social do contrato" prevista no artigo 421, do CC, além dos princípios estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor (art. 6º, V), e no Estatuto do Idoso, (art. 10º), permitem ao Judiciário a intervenção no contrato para restabelecimento do seu equilíbrio.
O antigo princípio do "pacta sunt servanda", portanto, precisa sofrer as adaptações da CF de 1988 e do CC de 2002, ou seja, os contratos devem visar uma função social e a satisfação dos interesses das partes contratantes, em cooperação.
Assim, quando o contrato satisfaz apenas um lado, prejudicando o outro, o pacto não cumpre sua função social, devendo o Judiciário promover o reequilíbrio contratual através da revisão das cláusulas prejudiciais a uma das partes, ou até mesmo, decretando a sua anulação.
 
Da Boa-fé objetiva
 
A boa-fé, entendida como elemento meramente subjetivo, situação ou fato psicológico, deu lugar ao princípio da boa-fé objetiva, que impõe um padrão de conduta a ambos os contratantes, no sentido da recíproca cooperação.
Neste sentido, o artigo 51, IV, do CDC, considera nulas as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que sejam incompatíveis com a boa-fé.
Ainda em termos de legislação, o artigo 422, do Código Civil Brasileiro, estabelece que os contraentes são obrigados a guardar os princípios da probidade e da boa-fé.
Em consequência, distanciando-se mais ainda da subjetividade do antigo conceito, a boa-fé objetiva exige um dever de conduta, de ética, lealdade e de colaboração na execução do contrato.
Não se pode dizer, portanto, que está presente a boa-fé objetiva em um contrato que permite vantagens e lucros exorbitantes a um dos contratantes, resultantes de contratação realizada de forma fraudulenta, sem representar a vontade de uma das partes.
			
Vulnerabilidade do Consumidor
 
O artigo 4º, I, do Código de Defesa do Consumidor, que trata da Política Nacional de Relações de Consumo, reconhece, expressamente, a condição de vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo, que pode ser classificada da seguinte forma:
 
a) Técnica – quando o consumidor não possui conhecimentos específicos sobre o objeto que está adquirindo ou sobre o serviço que lhe está sendo prestado;
 
b) Científica – a falta de conhecimentos jurídicos específicos, contabilidade ou economia;
 
c) Fática ou sócio econômica – quando o prestador do bem ou serviço impõe sua superioridade a todos que com ele contrata, fazendo valer sua posição de monopólio fático ou jurídico, por seu grande poder econômico ou em razão da essencialidade do serviço.
			
Nem esse poder de decisão foi dado a AUTORA, pois, conforme demonstrado, o contrato foi realizado de forma fraudulenta, sem a Requerente o desejar, tão somente pela ganância dos bancos RÉUS e/ou dos seus prepostos.
Portanto, o princípio da vulnerabilidade do consumidor não pode ser visto como mera intenção, ou norma programática sem eficácia. Ao contrário, "revela-se como princípio justificador da própria existência de uma lei protetiva destinada a efetivar, também no plano infraconstitucional, os princípios e valores constitucionais, em especial o princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), da isonomia substancial (art. 5º, caput), da defesa do consumidor (art. 5º, XXXII)" e do Estatuto do Idoso, (art. 10º).
 
Por conseguinte, aproveitar-se da vulnerabilidade, em todos os sentidos, de uma PESSOA IDOSA E ANALFABETA, para celebrar contrato de empréstimo com nítida vantagem para o lado mais forte e poderoso, inclusive podendo resultar em enriquecimento sem causa, repercute, no mínimo, em humilhação à pessoa contratante, configurando o dano moral a ser reparado por meio de indenização.
Por todo o exposto, considerando que o contrato em análise viola os princípios inseridos no Código Civil, no Código de Defesa do Consumidor e o Estatuto do Idoso, bem como causou, por conta de suas ilicitudes e irregularidades, constrangimento moral a AUTORA, apeticionante requer a procedência da ação para que seja determinado o cancelamento definitivo do contrato objeto da ação e a condenação do banco Réu, no pagamento de indenização pelos danos materiais e morais sofridos, conforme pedido inicial. 
 
Nestes Termos,
Pede Deferimento.
 Pinheiros, 20 de outubro de 2017.
advogado
OAB/SP nºxxxxxxx

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