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Cadeia produtiva da carne bovina Fabiano Alvim Barbosa Médico Veterinário Doutor Produção Animal Professor Adjunto UnB fabianoalvim@unb.br Venício José Andrade Médico Veterinário PhD em Ciência Animal Professor Titular- EV-UFMG vejoan@gmail.com RESUMO A visão sistêmica do agronegócio da bovinocultura de corte permite conhecer uma rede de relações existentes entre os agentes econômicos e não somente a unidade de produção. A eficiência dessa cadeia produtiva é dependente de todos os elos envolvidos no processo. A crescente demanda mundial de commodities agropecuárias decorrente da expansão econômica de países em crescimento tem proporcionado estimativas de crescimento na demanda mundial de carne bovina. O Brasil tem alcançado ganhos em produtividade e qualidade na produção bovina de corte, nas últimas décadas, com crescentes volumes físicos e financeiros de exportação, consolidando sua hegemonia como maior exportador mudial. A exigência do mercado consumidor é cada vez maior, sendo necessário adequar as normas e requisitos técnicos para que o Brasil mantenha sua participação no mercado, sendo fundamental a gestão da atividade nos aspectos técnicos, adiministrativos e financeiros, ambiental, social, controle de qualidade, rastreabilidade, certificação de processos e produtos. Palaras-chave: agronegócio, bovinos de corte, gestão, sistemas. 1 Introdução O aumento da eficiência produtiva é primordial para a lucratividade da pecuária de corte, sendo que, as unidades de negócio devem ser entendidas e manejadas dentro de um enfoque sistêmico, em busca da maximização de lucros. Os sistemas de produção de gado de corte são complexos e diversificados, não havendo fórmulas e nem recomendações únicas, que possam ser largamente aplicadas para todas as condições do criatório nacional. Portanto, cada produtor deve desenvolver seu sistema de produção, combinando suas metas às condições ambientais e mercadológicas (3), aliado às capacidades financeiras e aos recursos humanos, aliados à responsabilidade social e ambiental. O conhecimento da cadeia produtiva da pecuária bovina de corte torna-se fundamental para o gestor da atividade conhecer as ameaças e oportunidades no ambiente externo (fora da unidade de produção), bem como as forças e fraquezas da sua unidade de negócio (ambiente interno) para que se possa analisar e tomar decisões gerenciais para tornar a empresa mais competitiva no mercado. 2 Objetivos O objetivo geral dessa revisão será proporcionar o conhecimento do sistema de produção interligado a toda cadeia produtiva de bovinos de corte no cenário nacional e internacional, bem como descrever o histórico dos anos anteriores e discutir as possíveis tendências do agronegócio da bovinocultura de corte brasileira. Como objetivos específicos a revisão abordará a cadeia produtiva de bovinos de corte relacionada: a) ao sistema de produção – histórico e evolução, custos e estratégias gerenciais; b) ao mercado nacional – preços de venda, volumes e fatores de demanda; c) ao mercado internacional – preços de venda, volumes, importadores, exportadores, barreiras de exportação e fatores de demanda; d) às tendências da atividade no médio prazo. 3 Desenvolvimento 3.1 O agronegócio da bovinocultura de corte A tradução do termo agribusiness, usado pelos americanos e recentemente pelos brasileiros, significa negócio agrícola ou agronegócio. Esta expressão ressalta as interrelações que existem entre o setor primário, as fazendas e os outros setores da cadeia produtiva, como as indústrias de insumos, indústrias alimentares ou de processamento, prestação de serviços, atacadistas, consumidores, entre outros (5). O conceito tradicional de economia primária (agropecuária), secundária (indústria), terciária (serviços), como se fossem sem integração, está sendo substituído por uma economia interligada, de que fazem parte o setor primário, o setor à montante (insumos e bens de capital para o setor) e o à jusante (armazenamento, transporte, processamento, transformação e distribuição), e juntos caracterizam o agronegócio (17). A visão sistêmica do agronegócio permite conhecer uma rede de relações contratuais, de dominância, de liderança, pesquisa e desenvolvimento, financiamento, assistência técnica, informações de mercado, logística, entre outros, e, não somente num segmento da produção. A eficiência da cadeia produtiva é dependente de todos os elos envolvidos no processo, portanto, uma quebra ou ineficiência em algum segmento acarreta prejuízos para todos. Pode-se citar o exemplo do embargo às exportações americanas de carne bovina devido à “doença da vaca louca”, em que os Estados Unidos perderam para o Brasil, sua posição de maiores exportadores mundiais de carne bovina (8). A análise fundamentada na noção de cadeia produtiva, ao descrever o fluxo da produção de um bem, revela a possibilidade de existirem situações de mercado típicas de concorrência imperfeita. Pode-se identificar, no interior de uma cadeia, segmentos de mercado representando as relações comerciais que se estabelecem entre o setor, a montante e agropecuário e entre este e o setor à jusante (Fig. 1). As empresas que atuam nos setores; à montante e à jusante, são poucas, organizadas em associações de interesses, e interagem com um grupo amplo, heterogêneo e disperso de produtores. Essa situação limita a capacidade de ações coletivas dos atores localizados na agropecuária (16). Figura 1 – Os setores do agronegócio Fonte: Reis, 2002 (17). Esse cenário favorece a possibilidade para que as relações entre os setores, a montante e agropecuário assumam características de oligopólio e as relações entre a agropecuária e a jusante características de oligopsônio, isto é, pequeno número de compradores que controlam o mercado e ditam o preço. Por conseguinte, pelo menos teoricamente, os produtores rurais são os agentes que dispõem de menores recursos para negociar seus interesses no interior de uma cadeia, mesmo que essa negociação seja entendida como uma aliança estratégica. Como um sistema agroindustrial não se interrompe no setor a jusante, seria interessante observar que as relações que são estabelecidas entre este e os consumidores podem assumir a configuração de um mercado com traços de oligopólio, isto é, pequeno número de vendedores que controlam a oferta do produto e seu preço (4). A cadeia da pecuária bovina de corte esta ilustrada na Fig.2. Figura 2 – Fluxograma da cadeia pecuária da bovinocultura de corte Fonte: Reis, 2002 (17). A economia brasileira tem passado por rápidas transformações nos últimos anos. Nesse contexto, ganham espaço novas concepções, ações e atitudes, em que produtividade, controle dos custos de produção e eficiência se impõem como regras básicas de sobrevivência em um mercado cada vez mais competitivo e globalizado. A conscientização dos pesquisadores, técnicos e produtores rurais envolvidos nesse sistema, bem como o ajuste para esse novo cenário, é primordial para a competitividade da atividade. Nas análises da CEPEA-USP e CNA com relação ao agronegócio do Brasil, o valor total do produto interno bruto (PIB) deste, em cada um dos seus complexos é composto de: a) insumos; b) produção; c) processamento; e d) distribuição e serviços. Com relação a esses quatros componentes tem-se que, no complexo do agronegócio da pecuária, os percentuais de participação registrados são 6,85%, 41,96%, 17,11% e 34,35%, respectivamente. Especificamente para a pecuária, o setor produtivo possui a maior participação no PIB (41,96%) (10). O PIB da agropecuária (produção) tem efeito multiplicador nos demais setores da economia brasileira. Cada R$ 1,00 de renda obtida na agropecuária gera R$ 2,40 nos setores de insumos, processamento e serviços, o que representa uma multiplicação de renda de 140%. Osdados anuais do PIB do agronegócio, da agricultura e da pecuária mostram um crescimento acumulado expressivo, desde de 1999 até o ano de 2007. O percentual de crescimento de 1999 para 2007 foi de 80,9, 81,34 e 109,6% para a pecuária, agricultura e agronegócio, respectivamente. Entretanto, ao analisar os dados a partir de 2004, a situação passa a ser de estabilização ou pequeno crescimento para os setores da pecuária e agronegócio e de queda na agricultura (Tab. 1). Tabela 1 – Variação anual do PIB na pecuária, agricultura e agronegócio de 1999 a 2007 – bilhões de reais Ano Pecuária Agricultura Agronegócio 1999 37,80 48,98 306,58 2000 40,51 45,49 306,88 2001 50,92 61,91 391,53 2002 53,07 72,72 424,32 2003 64,94 97,12 520,68 2004 65,22 95,43 533,98 2005 67,84 85,20 537,63 2006 65,10 84,52 539,59 2007 68,40 88,82 642,63 Fonte: CEPEA/USP, 2008 (9). 3.2 O agronegócio da bovinocultura de corte brasileira e o cenário mundial O Brasil possui o segundo maior rebanho bovino mundial, sendo o primeiro rebanho comercial do mundo, já que a Índia, líder mundial em termos numéricos, não explora economicamente seus animais. Com o maior rebanho comercial do mundo, o Brasil é o maior exportador de carne em toneladas e em faturamento, entretanto, ainda possui taxas produtivas (abate e produção de bezerros, por exemplo) abaixo dos seus maiores concorrentes. bezerros, por exemplo) abaixo dos seus maiores concorrentes. Na última década, as produções bovinas dos Estados Unidos (E.U.A), da União Européia (U.E.), da Austrália e da Índia ficaram praticamente estáveis, fato acontecido também com o volume de exportação (Tab. 2). O Brasil tem como manter sua hegemonia na exportação de carne bovina, por ter vantagens com relação à expansão horizontal, isto é, crescimento em terras não-exploradas, e expansão vertical, incremento da produtividade (melhora na taxa de natalidade e de desmama, de abate e precocidade do rebanho) mas, para isso, tem que melhorar os aspectos de segurança sanitária e certificação de qualidade de origem (rastreabilidade) do rebanho, que podem colocar em risco todo o resultado conquistado no mercado internacional. Tabela 2 – Balanço da pecuária bovina mundial Brasil Índia China EstadosUnidos Austrália União Européia Anos 2007 2008* 2007 2008* 2007 2008* 2007 2008* 2007 2008* 2007 2008* Rebanho Bovino – milhões de cabeças 168 170 282 282 140 139 97 97 29 30 88 87 Abate – milhões de cabeças 42 39 25 26 59 60 35 35 9 9 29 29 Produção de carne – mil ton Eq. Carcaça 7,8 7,3 2,5 2,7 7,5 7,7 12,1 12,2 2,2 2,1 8,2 8,1 Taxa de abate (%) 23 23 9 9 42 43 36 37 31 29 33 33 Produção de bezerros – milhões de cabeças 43,8 44,1 57,0 57,5 59,5 60,5 37,4 37,2 10,2 10,3 30,4 30,5 Exportações – milhões ton Eq. Carcaça 2,19 2,15 0,74 0,80 0,1 0,1 0,65 0,67 1,40 1,36 0,14 0,10 *2008 – previsões. Fonte: Anualpec, 2008 (6). A cada ano, o Brasil, consolida-se como fornecedor de produtos alimentícios para o mundo, com destaque para produtos como a soja, o álcool, o café, o suco de laranja, a celulose e as carnes. É o maior exportador de carne de aves (41% do total exportado) e de bovinos (28% do total exportado) e o 4º maior de carne suína (14% do total exportado). Vários fatores contribuíram para esse aumento das exportações brasileiras de carne bovina a partir do ano de 2001: - Aspectos sanitários: o mal da vaca louca (encefalopatia espongiforme bovina EEB) e a febre aftosa que ocorreram em outros países e abriram o mercado mundial para o Brasil; - Melhoria na qualidade e precocidade do rebanho brasileiro, em relação às décadas anteriores; - Maior demanda de alimentos pelos mercados emergentes: Rússia, Oriente Médio, Europa Oriental; - Baixo custo de produção do produto nacional em relação aos seus maiores concorrentes: Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Argentina. As exportações do complexo da carne (bovina, suína e de aves) apresentaram certa estabilidade em relação ao ano de 2005, embora o comportamento seja diferenciado por segmento. As exportações de carne bovina, em 2007, aumentaram 4,4% em relação ao ano de 2006, ou seja, de 2,10 para 2,19 milhões de toneladas de equivalente carcaça, com aumento do preço de venda em 10,3%, de 3,79 para 4,18 bilhões de dólares (Tab.3). Apesar dos efeitos negativos, no ano de 2005, ocasionados por problemas Apesar dos efeitos negativos, no ano de 2005, ocasionados por problemas sanitários, relacionados aos focos de febre aftosa no Brasil, o país manteve a liderança mundial em exportação, tanto em quantidade, quanto em volume financeiro, superando a Austrália. As exportações brasileiras de carne industrializada apresentam um aumento percentual e em quantidade menores do que a carne “in natura”. O mesmo acontece com o preço desses produtos, onde o aumento do valor pago pela carne “in natura” foi maior do que na carne industrializada (Tab. 3). Tabela 3 – Exportações brasileiras de carne bovina 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Industrializada Mil Tonelada de Equivalente Carcaça 369 402 428 447 508 523 Milhões US$ FOB 299 338 447 524 654 694 “In natura “ Mil Tonelada de Equivalente Carcaça 559 806 1.202 1.410 1.592 1.670 Milhões US$ FOB 776 1.154 1.963 2.419 3.134 3.486 Fonte: Anualpec, 2008 (6). Conforme dados do Instituto FNP, entre 2006 a 2008, o consumo de carne bovina (kg/habitante/ano) teve pequeno aumento na China, México e Rússia; permaneceram estáveis na Austrália, Japão e Europa, e apresentaram queda no Brasil, Canadá, Ucrânia e Estados Unidos (Tab. 4). Tabela 4 – Consumo per capita mundial de carne – kg por pessoa/ano Carne bovina Carne total 2006 2007 2008 2008* Canadá 32,8 32,9 30,7 89,3 México 23,4 23,6 23,7 66,9 Estados Unidos 43,0 42,6 42,2 118,8 Brasil 35,9 30,5 27,9 83,7 União Européia 17,7 17,7 17,5 77,6 Rússia 16,6 16,9 17,5 57,7 Ucrânia 11,7 10,8 10,4 37,5 China 5,3 5,6 5,8 48,8 Japão 9,1 9,3 9,1 43,9 Austrália 36,9 36,4 36,5 93,8 * Inclui aves, suínos e bovinos. Ano de 2008 são previsões. Fonte: Anualpec, 2008 (6). Apesar da queda do consumo per capita, deve ser levado em consideração o aumento populacional, e, conseqüentemente, o aumento da demanda total por carne bovina no mercado mundial, visto que as importações totais nos diferentes países tem aumentado (Tab.5). Os dados de importações mundiais mostram uma tendência de estabilidade com certas quedas em alguns países, mas aumento em outros. Os Estados Unidos são os maiores importadores seguidos da Rússia e Japão (Tab. 5). Tabela 5 – Importações mundiais de carne bovina – mil toneladas de equivalente carcaça 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Estados Unidos 1.363 1.669 1.632 1.399 1.384 1.329 Rússia 720 730 978 939 1.030 1.130 Japão 851 647 686 678 686 650 União Européia 463 584 711 717 638 550 México 370 287 335 383 410 420 Coréia do Sul 444 218 250 298 308 310 Egito 93 114 221 291 300 300 Canadá 274 111 151 180 242 250 Chile 180 178 200 124 151 151 Total de importação incluindo outros países 6.232 6.217 6.789 6.838 7.233 7.225 Fonte: Anualpec, 2008 (6). O maior importador de carne bovina brasileira, em quantidade e valores (dólares - US$), é a Rússia, sendo o Reino Unido o segundo em US$, mas o terceiro em toneladas. Devido aos embargos russos e chilenos, decorrentes dos surtos da febre aftosa no Brasil, em 2005, ocorreu queda da quantidade importada por esses países no primeiro semestre do ano; em compensação, os demais países aumentaram suas importações. Outro aspecto que chama a atenção é a variação do preço médio pago pela carne brasileira, que está relacionada ao tipo de carne (industrializada, resfriada ou congelada) e ao mercado comprador. Comparando o ano de 2005 com 2006, o preço médio da tonelada de carne elevou, mesmo com o cenário desfavorável, relacionado aosurto de febre aftosa e desvalorização do dólar em relação ao real (Tab. 6). Tabela 6 – Volume de exportação de carne bovina brasileira para diferentes países 2005 – jan – dez 2006 – jan – dez País Milhões US$ Toneladas US$/ t Milhões US$ Toneladas US$/ t Rússia 567 303.686 1.870,00 765 330.277 2.316,00 Reino Unido 312 118.535 2.630,00 329 113.747 2.899,00 Egito 262 152.539 1.720,00 207 377.015 1.819,00 Holanda 215 50.616 4.240,00 304 62.623 4.858,00 Estados Unidos 206 51.844 3.980,00 277 94.262 2.936,00 Itália 184 55.188 3.340,00 271 58.847 4.612,00 Chile 141 67.462 2.090,00 19 5.337 3.494,00 Fonte: ABIEC, 2006 (1) e 2007 (2). Fonte: ABIEC, 2006 (1) e 2007 (2). Os Estados Unidos e o Japão são grandes importadores mundiais de carne bovina; entretanto, o Brasil, apesar de ser o maior exportador mundial, não possui volumes expressivos de vendas para esses mercados, que necessitam de carne com qualidade diferente daquela que é produzida em larga escala em nosso país. O maior volume de vendas para o mercado americano é de carne industrializada. 3.3 O agronegócio da bovinocultura de corte brasileira e o cenário nacional Em 2007 o maior rebanho bovino nacional estava localizado na região Centro- oeste, seguida das regiões Sudeste, Norte, Nordeste e Sul (6) (Tab. 7). O estado de Minas Gerais apresentava o maior rebanho com 20,33 milhões de cabeças, seguido do estado do Mato Grosso com 18,72 milhões de cabeças, Mato Grosso do Sul com 16,41 milhões de cabeças e Goiás com 16,68 milhões de cabeças (6). Tabela 7 – Rebanho bovino brasileiro por região – milhões de cabeças (M cab) e percentual (%) 2007) Milhões de cabeças % Centro Oeste 51,276 30,61 Sudeste 33,552 20,03 Norte 32,265 19,26 Nordeste 26,504 15,82 Sul 23,925 14,28 TOTAL 167,524 100 Fonte: Adaptado de Anualpec, 2008 (6). Na última década registrou-se grande crescimento do rebanho bovino das regiões Norte (50%) e Nordeste (16%), e diminuição nas demais regiões do país. A taxa de abate aumenta anualmente em decorrência do uso de tecnologias (nutrição, genética, manejo e sanidade) com aumento da produtividade. A produção de carne, o consumo interno e as exportações (cerca de 30% do total produzido) também aumentaram, apesar do consumo per capita estar estabilizado com tendência de diminuição (Tab. 8). Esses dados poderiam significar uma perspectiva de melhores preços para os pecuaristas a partir de 2004, mas que somente ocorreu no final do ano de 2007. Tabela 8 – Balanço da pecuária bovina de corte 2003 2004 2005 2006 2007 2008* Rebanho bovino (milhões) 175,0 176,1 175,0 169,9 167,5 169,8 Taxa de abate total - % 22,2 23,3 25,3 27,7 25,1 22,9 Abate (milhões) 38,9 41,1 44,3 47,1 42,1 38,9 Taxa abate de matrizes - % 45,1 45,4 46,8 48,5 48,0 45,3 Produção Carne - mil ton. eq. carc. 7.159 7.576 8.151 8.600 7.783 7.328 Produção Carne - mil ton. eq. carc. 7.159 7.576 8.151 8.600 7.783 7.328 Consumo interno - mil ton. eq. Carc 6.009 6.089 5.994 6.525 5.615 5.207 Consumo per capita (kg eq. carc.) 34 34 33 35 31 28 Exportação - mil ton. eq. carc. 1.208 1.630 1.857 2.588 2.532 2.150 Importação - mil ton. eq. carc. 58 48 43 25 30 29 * 2008 – são estimativas Fonte: Anualpec, 2008 (6). Apesar do aumento do abate de fêmeas ao longo dos anos e da diminuição do número total de animais, não se registrou diminuição acentuada do número de bezerros produzidos anualmente. Por outro lado observa-se significativa redução na oferta de bois de 3 a 4 anos, e acima de 4 anos (Tab. 9), em razão da redução da idade de abate. Esses números demonstram melhora nos índices zootécnicos brasileiros decorrentes da utilização das tecnologias nas diversas áreas (nutrição, sanidade, genética, reprodução e gerencial). Tabela 9 – Rebanho bovino brasileiro – efetivo por categoria animal (milhões de animais) 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Touros 2,13 2,15 2,19 2,24 2,30 2,34 2,33 2,30 2,26 2,24 2,12 Vacas 53,71 54,53 55,98 58,06 59,99 60,97 62,01 62,42 60,41 57,38 55,6 Novilhas 2 a 3 anos 12,25 11,94 12,27 12,84 12,37 12,97 13,34 13,81 12,96 12,32 13,17 Novilhas 1 a 2 anos 17,20 17,33 18,31 17,81 18,91 19,45 20,33 20,20 20,15 21,03 21,13 Bezerras 19,14 20,03 19,44 20,63 21,25 22,27 22,22 22,62 23,67 23,69 22,28 Bezerros 18,92 19,80 19,21 20,40 21,06 22,11 22,08 22,50 23,54 23,54 22,15 Novilhos 1 a 2 anos 15,31 15,29 15,70 15,10 15,87 16,23 16,79 16,51 16,59 17,61 17,86 Novilhos 2 a 3 anos 10,21 9,44 9,19 9,32 8,79 9,12 9,09 9,15 8,67 8,91 9,65 Bois 3 a 4 anos 3,80 3,74 3,39 3,31 3,17 3,00 2,96 2,78 2,64 2,67 2,89 Bois acima de 4 anos 1,10 0,99 0,94 0,81 0,78 0,71 0,62 0,57 0,49 0,49 0,55 TOTAL 153,8 155,3 156,6 160,5 164,5 169,2 171,8 172,9 171,4 169,9 167,5 Fonte: Anualpec, 2008 (6). As análises econômicas da pecuária bovina de corte mostram que os custos operacionais efetivos (COE) vem aumentando. Os componentes que mais contribuiram para essa maior variação se relacionam ao ano analisado. De uma maneira geral as maiores altas foram registradas para adubos, suplemento mineral, máquinas e mão-de-obra (Tab.10). Tabela 10 – Variação dos preços de alguns insumos da pecuária bovina de corte Jan-Nov/04 % Jan-Nov/05 % Jan-Dez/06 % Jan-Dez/07 % Adubos em geral 20,99 - 8,36 1,62 30,30 Sementes de forrageiras 0,71 20,76 3,99 9,29 Suplemento mineral 13,54 5,50 1,04 12,75 Medicamentos em geral 7,92 3,09 2,02 15,83 Construções em geral 9,68 5,41 4,80 6,83 Máquinas e implementos agrícolas 20,69 16,58 7,26 7,30 Compra de bezerros - 1,18 - 5,21 3,37 20,11 Mão de obra 8,33 15,37 16,67 9,26 Insumos para reprodução animal - 0,58 1,31 0,11 Fonte: CNA e CEPEA (2005, 2006, 2007, 2008) (11,12,13 e 14). Os dados acumulados de janeiro a dezembro de 2007 mostram um aumento Os dados acumulados de janeiro a dezembro de 2007 mostram um aumento da arroba de boi gordo de 36,74% (média no Brasil). Já os COE aumentaram em média 11,02% (Tab. 11). A variação dos custos e do preço da arroba foram diferentes em função dos anos e dos estados. Ao se analisar a situação nos anos de 2004 a 2006, de uma maneira geral, ocorreu queda dos preços da arroba e aumento dos custos de produção, significando que este aumento do custo está sendo retirado da margem de lucro do produtor que já era muito estreita em 2004. Portanto, essa redução do lucro dificulta o crescimento da atividade, e em alguns casos, podem não cobrir as despesas de depreciação comprometendo o investimento em reformas de pastagens, benfeitorias e maquinários. Ao se analisar o primeiro semestre de 2008 (jan-jun), os COE já subiram em média 26,92% e a arroba bovina 25,93%, demonstrando que os ganhos na venda da arroba estão sendo comprometidos com o aumento dos custos de produção (Tab. 11). Tabela 11 – Variação acumulada de janeiro a dezembro de 2007 e de janeiro a junho de 2008 dos custos operacionais efetivos (COE) e arroba de boi gordo. 2007 (jan-dez) 2008 (jan-jun) Estados COE - % @ - % COE - % @ - % Goiás 12,40 38,38 26,23 19,46 Minas Gerais 10,77 33,55 14,12 21,15 Mato Grosso 10,32 37,66 29,86 35,91 Mato Grosso do Sul 10,98 36,15 24,98 30,27 Pará 10,50 46,61 33,76 21,98 São Paulo 17,66 38,13 28,07 24,65 Brasil 11,02 36,74 26,92 25,93 Fonte: CNA e CEPEA (2007, 2008) (13 e 14). Além da perda de rentabilidade, ocorreu também queda da valorização patrimonial do rebanho, visto que os preços médios da arroba, do bezerro e da vaca acumulam queda nos anos de 2005 e 2006, com recuperação dos preços em 2007 (Tab. 12). Tabela 12 – Variação dos preços médio de vaca, bezerro e arroba à prazo em São Paulo Média de 2005 – R$ Média de 2006 – R$ Média de 2007 – R$ Vaca – cabeça 535,00 507,00 537,00 Bezerro – cabeça 336,00 339,00 474,00 Arroba Boi Gordo 56,00 53,90 61,70Arroba Vaca Gorda 49,40 49,90 56,10 Fonte: Anualpec, 2008 (6). O mercado futuro do boi gordo (BM&F) projeta o preço acima de R$ 98,00/arroba para out/09 e nov/09 (data base de 08/10/08), época, normalmente, de pico de preço. Assim, o mercado futuro sinaliza para uma realidade de preços próxima ao do ano de 2008, caracterizando um cenário de melhores preços com maiores possibilidades de aumento da rentabilidade quando comparado aos anos de 2005 e 2006. 3.4 Tendências e perspectivas da bovinocultura de corte brasileira A demanda mundial de carne bovina tem crescimento estimado entre 300-400 mil toneladas por ano, sendo prevista uma evolução de 7,7 milhões de toneladas negociadas, em 2007, para 10 milhões, em 2017 (15). toneladas negociadas, em 2007, para 10 milhões, em 2017 (15). Esse aumento estimado da demanda está relacionado ao crescimento econômico dos países asiáticos e da Europa Oriental, que possuem cerca da metade da população mundial (acima de 3 bilhões de habitantes). O crescimento econômico traz melhoria do padrão de vida da população e aumento da demanda por commodities agropecuárias e metálicas. A exportação de carne bovina, bem como, os preços em dólares totais e por tonelada de equivalente carcaça vem aumentando ao longo da década. Apesar dos efeitos negativos ocasionados por problemas sanitários relacionados à febre aftosa, no ano de 2005, e da diminuição da exportação para a Europa, no início do ano de 2008, pelo não cumprimento das normativas de rastreabilidade (SISBOV), o Brasil mantém a liderança mundial em exportação tanto em quantidade, quanto em volume financeiro. O cenário mundial do mercado da carne bovina está preocupado com o crescimento contínuo das exportações brasileiras. Os produtores europeus, contando com o apoio da imprensa local e de organizações não- governamentais (ONGs) estão fazendo propagandas negativas dos produtos originados do agronegócio brasileiro, sob alegação de serem oriundos de sistemas de produção com degradação ambiental e trabalho escravo prejudicando a imagem dos produtos brasileiros (8). O mercado mundial está à procura de produtos produzidos de acordo com os conceitos de manejo ambiental correto, bem-estar animal, certificação de origem, responsabilidade social, sendo essas, portanto, as novas barreiras comerciais. Normas de boas práticas de manejo e de produção, gestão ambiental, normativas como a ISO 22.000, que aborda exclusivamente a segurança alimentar, serão a nova tônica de produção de alimentos no mundo. A implantação de medidas de controle, combate e/ou erradicação de doenças como EEB, febre aftosa, brucelose, tuberculose terão de ser efetivas e imediatas, para que não se tornem um problema político e econômico para a exportação da carne bovina brasileira. O mercado mundial tem observado crescimento da participação da carne de frango na alimentação da população, inclusive na brasileira. Alguns fatores contribuem para essa tendência, como os listados abaixo: 1) Preço do kg de frango inteiro ser mais barato que dos cortes bovinos e o consumo reprimido da população por carne bovina; 2) Oscilação de preços da carne bovina é maior que a de aves, de forma que a população tende a cortar de seu cardápio aquela carne de preço mais alto, dando preferência à carne mais barata (frango), e incoorporando-a a sua alimentação; 3) A rapidez de preparo das refeições, devido à mudança de hábito alimentar (fast food, comidas semi-prontas, congeladas etc.), é favorável às carnes de aves, dada a sua praticidade e variedades de produtos; 4) A troca da carne vermelha pela carne branca por “acreditarem” ser mais saudável; 5) A padronização de produtos e escala de fornecimento constante das carnes de aves levam vantagem em relação à carne bovina. a) Gerenciais A falta de controle gerenciais faz com que os pecuaristas baseiem-se em apenas um ou poucos parâmetros para tomar a decisão de vender os animais. Além das "regras" de preços, algumas vezes as decisões são tomadas em função de situações contingenciais. Alguns produtores vendem quando necessitam de capital de giro, enquanto outros o fazem quando não têm mais como manter os animais no pasto. A carência de controles gerenciais tem levado os pecuaristas ao uso de regras de decisão muitas vezes inadequadas no sentido de maximizar seus lucros. Isso mostra que de nada adiantaria a no sentido de maximizar seus lucros. Isso mostra que de nada adiantaria a adoção de tecnologia moderna, caso os mesmos cuidados não fossem tomados sob a ótica gerencial (16). O uso de tecnologias para aumento da produtividade (ganhos em escala), conseqüentemente redução dos custos unitários e aumento da rentabilidade é primordial para a pecuária bovina de corte moderna. Quando o preço de venda passa a ficar próximo dos custos de produção, essa rentabilidade cai, diminuindo a sustentabilidade da atividade primária no médio prazo, com diminuição dos investimentos e maiores abates de fêmeas para manter o fluxo de caixa positivo no negócio. As medidas estruturais e de investimentos devem ser priorizadas para aumentar a rentabilidade da agropecuária brasileira. Como medidas podem ser citadas: 1) Administração da fazenda como empresa rural, de maneira eficiente, com o objetivo de utilizar integral, permanente e, racionalmente, todos os recursos nela disponíveis; 2) Controle de custos de produção para análise de pontos críticos e tomadas de decisões na gestão estratégica da empresa rural; 3) Priorizar a introdução de insumos intelectuais dentro das propriedades: consultorias, treinamentos, qualificação e bonificação de mão-de-obra; 4) Aumento da produção na mesma área (verticalização), incrementando o uso da terra, de máquinas, animais, mão-de-obra, com conseqüente aumento da escala de produção e redução dos custos fixos unitários e aumento da rentabilidade do sistema. Estudos da Watson Wyatt Worldwide - empresa americana de consultoria em recursos humanos - com mais de 1.500 organizações em todo o mundo e, em diferentes setores da economia, mostram que as empresas que tiveram melhores retornos econômicos foram aquelas que investiram no seu capital humano, proporcionando treinamentos, melhores condições operacionais e de ambiente de trabalho, participação nas decisões e no lucro da empresa (7). b) Rebanho e pastagens De acordo com as informações do Instituto FNP (6), o maior abate de matrizes nos anos de 2003 a 2006, decorrente de baixos preços do bezerro, aumento dos custos de produção e necessidade de receitas na propriedade, proporcionou uma queda dos preços dos animais e da arroba (maior oferta no mercado) e redução do rebanho brasileiro. No final de 2007 e em 2008, o ciclo pecuário bovino se inverteu, com maior retenção de matrizes, menor oferta de boi gordo e alta do preço da arroba. As estimativas do Instituto FNP são de um pequeno aumento no rebanho, de 7,7% até o ano de 2017, passando dos atuais 170 milhões de cabeças, para 183 milhões de cabeças em 2017. A estratificação das categorias no rebanho está mudando, com uma maior participação das fêmeas em relação aos machos, devido à redução da idade de abate desses animais em 9 meses (de 44 para 35 meses de idade), nesta última década. Além disso, houve um aumento das taxas de prenhez de 4,2 pontos percentuais (de 66,6 para 70,8%). O crescimento do rebanho será, futuramente, fundamentado em ganhos de produtividade, uma vez quse se estima uma redução de 16,7 milhões de hectares de pastagens degradadas (nativas e artificiais) para utlização como áreas de lavouras. Dessa forma, os atuais 170 milhões de animais criados em 190 milhões de hectares de pastagens (0,9 cabeça/hectare), serão convertidos em 173 milhões de animais que deverão ser criados em 174 milhões de hectares de pastagens (1,05 cabeças/hectare) em 2.017. c) Mercado Como mencionado anteriormente, o consumo de carne bovina, per capita, tendea diminuir, principalmente se não forem realizadas pesquisas e esclarecimentos sobre a qualidade da carne bovina para a saúde humana. esclarecimentos sobre a qualidade da carne bovina para a saúde humana. Além disso, os fornecedores da matéria prima no mercado devem perceber a mudança do hábito alimentar dos consumidores e buscar alternativas de preparo de pratos mais práticos com a carne bovina. As exportações brasileiras devem continuar aumentando, em virtude do aumento de consumo de carne bovina em países onde a demanda estava reprimida, principalmente, por causa do aumento do poder aquisitivo (países asiáticos, por exemplo). Cabe aos empresários ligados aos setores da carne bovina, juntamente com os representantes políticos brasileiros, buscarem mercados externos de maior valor agregado. É fundamental existir harmonia entre os setores primários (oferecer produtos com qualidade, certificada e com escala), setor de processamento (pagar de forma justa a qualidade) e setor de exportação (buscar informações da necessidade do mercado internacional) (8). Pesquisas de consumo realizadas em supermercados paulistas indicam que os consumidores estão dispostos a pagar até 20% a mais por um produto com certificação de origem, responsabilidade social e ambiental, desde que tenham oferta constante. Dessa forma, a busca por marcas, associações de produtores de carne bovina e alianças mercadológicas têm conseguido seu espaço nos mercados interno e externo, com diferencial de preço por arrobas, principalmente para carnes produzidas pelos machos e fêmeas precoces. d) Tecnologias O uso das tecnologias (nutricional, sanidade, genética, reprodutiva e gerencial) foi e será responsável pelo aumento da produtividade brasileira, que poderá ainda ser grandemente melhorada. A sua implantação deve ser realizada de acordo com cada situação, com a época do ano, o nível tecnológico atual, particularidades regionais, capacidade gerencial e de investimento, sistema de produção (cria, recria ou engorda) e preços dos diversos fatores de produção (insumos, mão-de-obra, terras, animais, arroba etc.). Nos últimos anos, em razão dos aumentos nos preços dos insumos, tais como adubos, sementes para pastagens, suplementos minerais, medicamentos e mão-de-obra; aliado aos menores preços de vendas dos produtos, os impactos em aumentos de rentabilidade nos sistemas não se verificaram como esperado, principalmente nas regiões de terras mais caras (Sudeste) e nos sistemas de cria, devido a menor produção de arrobas por hectare quando comparado com os sistemas de recria e engorda ou de ciclo completo. Como a atividade é de longo prazo, não pode ser tomada uma decisão decorrente de três ou quatro anos, sendo necessário um período maior para as devidas análises. Apesar do aumento constante de preços dos insumos, o preço da arroba de carne recuperou seu valor e voltou a subir atingido um novo patamar. Esperam-se, em função de tais ocorrências, maiores rentabilidades para a atividade, entre 7 a 18% ao ano, desde que não ocorra queda dos preços de venda. As medidas para aumento de produtividade isoladas não conseguem surtir efeito na rentabilidade do sistema de produção, quando os preços de venda ficam baixos, passando a comprometer novos investimentos a médio prazo dentro da atividade. e) Sanidade O cenário da comercialização de carnes foi alterado pelas experiências negativas que ocorreram, principalmente, relacionadas aos surtos de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), febre aftosa e resíduos de substâncias (dioxina, nitrofen, hormônios) nos alimentos. Além disso, as enfermidades causam problemas relacionados à queda de produtividade no rebanho, aumento dos custos de produção, implicações na saúde humana e problemas comerciais dentro e fora do país. problemas comerciais dentro e fora do país. No ano de 2003, a EEB, na América do Norte e Europa, e a febre aftosa, nos países da América do Sul, ajudaram o Brasil a conquistar novos mercados internacionais; entretanto, no ano de 2005, a mesma febre aftosa comprometeu os resultados de exportação brasileira (barreira sanitária e política) e modificou os preços da arroba de carne bovina no Brasil. O preço da arroba de boi gordo de Minas Gerais e Goiás chegou a ficar acima do preço verificado em São Paulo que é, normalmente, o preço mais elevado do país. Esse fato mostra que um problema, relacionado à negligência sanitária do país, pode trazer séries conseqüências internas e externas no cenário econômico e político. Atualmente, além da febre aftosa existem programas oficiais específicos para o controle e erradicação da brucelose e tuberculose em propriedades rurais. Não somente as doenças de bovinos, mas também as doenças de suínos e aves podem prejudicar as exportações de carne bovina, haja vista o que aconteceu com o embargo russo da carne de bovinos e suínos por causa da febre aftosa em bovinos em 2005. A União Européia questiona a rastreabilidade dos animais quando existe a presença de animais mortos nas pastagens, o que coloca em risco a situação brasileira, pela falta de uma legislação ou menção ao destino a ser dado para animais mortos nas fazendas. Assim, a preocupação do sistema de produção deve ser encarada de maneira global e não somente em ações isoladas e de curto prazo. f) Gestão da qualidade e certificação de processos Questões como controle da qualidade, segurança alimentar, preservação ambiental e responsabilidade social vêm adquirindo importância crescente em todas as atividades realizadas pelo homem. No setor agropecuário, nota-se a crescente cobrança dos órgãos públicos; ONGs, consumidores, e da própria sociedade, para que as propriedades rurais e os processadores de alimentos desenvolvam atividades ambientalmente corretas e forneçam produtos seguros para o consumo em diferentes mercados mundiais. As barreiras não-tarifárias, impostas pelos países importadores, têm forçado os países produtores a seguirem as rígidas normas fitossanitárias e os limites máximos de contaminação dos produtos vegetais e animais por agrotóxicos e outros químicos. Portanto, os países produtores têm de provar que atendem a tais normas e requisitos através de certificações. A cadeia produtiva de alimentos deve fazer uso mais eficiente dos seus insumos, de forma integrada, desenvolvendo processos e produtos mais seguros, gerenciando os recursos naturais e humanos de forma responsável para garantir a segurança alimentar do produto final. Essas práticas se tornam viáveis a partir da aplicação dos requisitos de normas e padrões nacionais e internacionais e da certificação. Com isso, surgem outros agentes nessa cadeia produtiva de alimentos: as entidades normalizadoras, existentes em vários países, e que podem ser governamentais ou não. Uma das principais normas que regulamenta o setor produtivo de alimentos in natura para exportação no Brasil é o Protocolo EurepGap. O protocolo EurepGap descreve os requisitos essenciais, de acordo com as BPA (GAP em inglês - Boas Práticas de Agricultura), os padrões globais de segurança do alimento – HACCP (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), preservação do meio ambiente, saúde e segurança dos funcionários, além do bem-estar dos animais. Os objetivos das entidades normalizadoras envolvem os seguintes padrões: 1) Segurança Alimentar: são baseados nos critérios de segurança alimentar e derivados da aplicação dos princípios genéricos do HACCP. derivados da aplicação dos princípios genéricos do HACCP. 2) Proteção do Meio Ambiente: consistem nas boas práticas agrícolas de proteção ao ambiente, designadas para minimizar os impactos negativos da produção agrícola em relação ao meio ambiente. 3) Bem-Estar, Segurança e Saúde Ocupacional: estabelecem um nível de saúde ocupacional e critérios de segurança nas fazendas, bem como a conscientização e responsabilidade social. 4) Bem-Estar Animal: estabelecemum nível global dos critérios de bem-estar animal nas propriedades rurais, buscando uma relação ótima entre produtividade, conforto animal e menor risco aos empregados que lidam diretamente com os animais. Esses critérios são relacionados às mudanças operacionais do manejo com o rebanho, modificações e manejo de instalações, entre outros. As normas EurepGap além de outras existentes (Qualiagro, Programa Embrapa Carne de Qualidade, Qualex etc.) atendem ainda às necessidades do consumidor europeu e americano, atualmente muito exigentes, com maior necessidade de alimentos seguros, conhecimento da origem desses alimentos e produtos com qualidades sanitárias garantidas. Dessa forma, esse sistema de certificação, envolve a segurança do alimento, saúde dos trabalhadores, além da preservação do meio ambiente. Somente por meio desses processos de certificação os produtos poderão chegar nesse mercado que paga preços mais elevados pela segurança e qualidade. Os frigoríficos brasileiros de exportação pagam preço diferencial na arroba bovina que podem variar de 2 a 10% no valor final, para propriedades que possuem animais rastreados e certificados conforme requisitos pré- estabelecidos. 4 Conclusão O Brasil consolidou sua hegemonia no mercado de exportação de carne bovina com perspectivas de manter esse quadro por longo período; entretanto, os pecuaristas, governo, insituições públicas e privadas, e os técnicos atuantes nas diferentes áreas da produção animal devem fazer a parte que cabe a cada um para manter a qualidade sanitária e técnica que atenda à necessidade de mercado. Além disso, tópicos como gestão gerencial, segurança alimentar, comercialização, certificação de processos, rastrebailidade e marketing são fundamentais para a continuidade do processo. 5 Referências bibliográficas 1) ABIEC. Exportações de carne bovina por país importador – período de janero a dezembro de 2006. 2006. 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