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As disputas atléticas na Idade Media Disciplina: Filosofia e Dimensões Históricas da Educação Física Prof. Tatyane Perna A Igreja Católica Apostólica Romana estava bastante estruturada e recebeu os bárbaros invasores como salvadores, estabelecendo alianças; A Igreja iniciou um processo de aculturação ao catequizar os bárbaros na fé cristã; O processo de desestruturação do Império Romano marcou o início da Idade Média, com a reestruturação social e de poder. Os líderes da Igreja medieval trataram de monopolizar todo o conhecimento clássico greco-romano, queimando e escondendo bibliotecas inteiras, assumindo o papel de educadores da nobreza de acordo com os valores e interesses da Igreja cristã; O período medieval pode ser caracterizado pela ideia de atraso cultural, em função de a Igreja dominar todas as esferas da vida das pessoas; Essa condição teria impedido o avanço do pensamento, da política e das artes; O movimento cruzadista As Cruzadas foram expedições militares de cunho religioso, organizadas pela Igreja para reconquistar a região da Palestina, que estava dominada pelos muçulmanos desde o século VII; Tratava-se de Jerusalém, terra considerada santa para os cristãos, local onde viveu e foi sepultado Jesus; As Cruzadas animaram os ânimos dos reis europeus, impulsionando a organização das Grandes Navegações, que pretendiam estabelecer novas rotas comerciais para o oriente, mas acabaram levando às Américas; Europa foi capaz de impor sua concepção de mundo, sua cultura e seus valores a todos os povos que foram colonizados. Os exercícios físicos durante a Idade Média As atividades que envolviam o corpo tiveram um desenvolvimento restrito e regulado pelos interesses da Igreja da época; As práticas atléticas antigas da Grécia e de Roma foram proibidas e rotuladas como atividades pagãs; O desenvolvimento de atividades atléticas somente foi alavancado, nessa época, em função da incidência da organização da cavalaria; A tradição da cavalaria previa a formação de nobres cavaleiros para lutar em nome de Deus; Geralmente as atividades esportivas eram praticadas por apenas uma pequena parcela da população representada pela nobreza; Basicamente, as ações esportivas imitavam as exigências bélicas dos cavaleiros; Eram lutas com armas (espadas, lanças, bastões), equitação, arco e flecha, combates montados; No âmbito competitivo, destacaram-se o torneio e a justa; O torneio teve duas fases bem definidas Na primeira, a disputa consistia em uma batalha feroz entre dois grupos de cavaleiros. Os combatentes digladiavam-se até a morte e, ao final do dia, eram computados os feridos e mortos para a determinação da equipe vencedora. A segunda fase do torneio foi caracterizada pela diminuição da violência, pelo uso de armas de madeira ou com as lâminas encapadas. Essas mudanças ocorreram após determinações da Igreja com o intuito de reduzir a brutalidade da disputa A justa era o combate entre dois cavaleiros montados, armados com lanças, armaduras e escudos. Consistia no enfrentamento de ambos com o objetivo de derrubar o adversário de sua montaria. As competições na Idade Média tinham caráter essencialmente amador e respeitavam uma série de regras e posicionamentos morais. A elitização da prática fica evidenciada pelo fato de apenas nobres poderem participar das disputas realizadas. O RENASCIMENTO CULTURAL E AS PERSPECTIVAS PARA O CORPO E O MOVIMENTO HUMANO Entre os séculos XIV e XVI, generalizou-se na Europa uma série de movimentos artísticos e científicos que tinham em comum o rompimento com valores do período medieval e a recuperação de ideais e modelos da Grécia e da Roma antigas; RENASCIMENTO considerado um momento de transição, de ruptura entre as estruturas socioeconômicas, políticas e ideológicas da Idade Média e ligação com as novas ideias e organizações sociais da Era Moderna. As características mais evidentes deste momento são: A ruptura com a ideologia doutrinária e hegemônica da Igreja Católica Apostólica Romana medieval; Um afastamento das rígidas concepções teocêntricas; E uma aproximação crescente com um pensamento racionalista, humanista e antropocêntrico; Após esse período, a Igreja passou a não mais ter autoridade para regulamentar a vida pública, deixando o homem livre para o crescimento intelectual e artístico; Dentro da própria Igreja Católica surge um movimento de sucessivos papas que desenvolveram o pensamento humanista, construíram bibliotecas, desenvolveram universidades e financiaram artistas humanistas; O envolvimento da Igreja em conflitos contra o sacro Império Romano fez com que a Igreja se enfraquecesse; Outro fator de declínio da Igreja foi a Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero, que negou a autoridade da Igreja; O movimento de reforma se espalhou rapidamente por outros países europeus e nas décadas seguintes dividiu o mundo cristão em dois campos opostos, criando uma divisão permanente no mundo cristão entre as perspectivas católica e protestante. A produção artística dessa época volta ao estilo clássico greco-romano e passa a ilustrar o ser humano como tema central; O corpo desnudo é retratado em seus mais rebuscados detalhes e expressões, caracterizando um realismo compromissado com o humano em contraste com a arte medieval; David, de Michelangelo (1503) Na área da Educação Física existe a retomada gradativa da produção de estudos e obras pedagógicas defendendo uma educação mais integral, equilibrando o desenvolvimento intelectual ao desenvolvimento corporal; As ações práticas se multiplicaram mais tarde na Europa sob a influência dos autores e pedagogos que, a partir do Renascimento, retomaram contato com estudos e obras da Grécia a respeito da Paideia, educação integral e da prática de ginástica. Os precursores renascentistas Vittorino da Feltre (Itália - 1378-1446) foi professor de Filosofia e Retórica, inspirou-se na cultura greco- romana e dedicou-se à educação, estimulava as atividades em grupo, a alegria e o alarido (algazarra) próprio dos jovens e crianças e condenava a solidão como desencadeadora de maus hábitos, buscava o ideal grego de formação integral com a harmonia entre corpo, mente e espírito, ginástica, jogos com bola, esgrima, corrida, equitação, marcha e exercícios de resistência ao frio e ao calor. Os precursores renascentistas Maffeo Veggio (Itália - 1407-1458) foi professor dedicado à ginástica e à fisiologia, publicou, em 1491, a obra Educação da Criança, onde pregava que os exercícios físicos deveriam ser ministrados a partir dos cinco anos de idade, e indicava a prática de exercícios de intensidade moderada, a fim de se evitar a fadiga em nível elevado. Os precursores renascentistas François Rabelais (França - 1494-1553) Filósofo, escritor e médico, defendeu a vida ao ar livre e o desenvolvimento pleno das capacidades físicas, Escreveu a obra Gangântua e Pantagruel Na obra, o autor conta as proezas realizadas por Gargântua. A personagem é um garoto extremamente ativo e hábil, que domina equitação, arco, luta, natação, saltos ginásticos, jogos com bola, remo, suspensões na barra, levantamento de pesos. Em oposição, o autor desenvolve a personagem Pantagruel, um garoto obeso, glutão e indolente, que evitava ao máximo a fadiga do corpo e do espírito, vivendo uma vida pacata e pouco motivadora, com hábitos de pouca higiene. Gargântua é um exemplo da crença no poder da educação na transformação dohomem, sentimento marcante do pensamento renascentista; A intervenção do educador é realçada como determinante para a transformação do garoto através da Educação Física; Percebe-se, na obra de François Rabelais, o surgimento de novas relações sociais e a crítica aos velhos procedimentos, a valorização do corpo e do movimento na educação. Os precursores renascentistas Jean Jacques Rousseau (Suíça - 1712-1778) foi um filósofo social, teórico político e escritor, no seu conteúdo pedagógico destaca-se o romance Emílio, ou da Educação (1762), nele, o autor destaca a importância da prática de exercícios físicos pelos jovens, a necessidade do esforço, a vida ao ar livre, a alimentação saudável e hábitos higiênicos, tais como o uso de roupas leves, o arejamento das residências e o aleitamento materno, Estabelece um programa educacional com quatro princípios básicos: O jovem deve ser educado de forma livre. A infância da criança deve ser vivida de forma plena e prolongada. A educação do emocional deve preceder a educação intelectual. O saber importa menos que o exercício de juízo, valores éticos. O autor recomenda, em sua obra, a prática de corrida, saltos, subidas em árvores, arremesso de pedras, exercícios de equilíbrio, jogos com bola e levantamento de pesos. Os precursores renascentistas Johann Heinrich Pestalozzi (Suíça - 1746-1827) filósofo e educador, tido como continuador da obra pedagógica de Rousseau, para ele, a educação representa o desenvolvimento natural do ser humano, defendeu a educação geral a todas as classes sociais, reconheceu em seu tempo os males gerados ao corpo pela vida das sociedades industrializadas, sugerindo a prática do exercício como fator de correção ao sedentarismo da vida na sociedade moderna. “O hábito do exercício físico não só desembaraça o corpo da criança, como lhe desenvolve as qualidades intelectuais e morais”. Criou o primeiro método moderno de ginástica experimental, no qual se atentava para a postura corporal, para a correção dos movimentos e para as ações articulares
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