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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE QUÍMICA DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ORGÂNICA QUÍMICA ORGÂNICA QUI -A17 Apostila de Experimentos Professores: Valéria Belli Riatto Mauricio Moraes Victor Salvador, Bahia QUÍMICA ORGÂNICA PRÁTICA PLANO DE ENSINO: QUIA17 1 1- OBJETIVOS GERAIS 1.1 - Ensinar as técnicas necessárias para um estudante de engenharia poder trabalhar com compostos orgânicos. 1.2 - Aprender a manusear os equipamentos básicos para uma pesquisa laboratorial. 1.3 - Conhecer as técnicas para sintetizar, separar e purificar compostos orgânicos. 2- CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 2.1 - Síntese e purificação de substâncias orgânicas líquidas: destilação simples e fracionada. 2.2 - Síntese e purificação de substâncias sólidas: cristalização e recristalização. 2.3 - Determinação de ponto de fusão. 2.4 - Extração com solventes. 2.5 – Síntese de substâncias de interesse industrial. 3- PROCEDIMENTO DIDÁTICO A disciplina será ministrada através de aulas expositivas e práticas. 4- RELATÓRIO O relatório será realizado em dupla e dividido em duas partes (50% da nota para cada parte): 1ª Parte: Abordará o experimento que será realizado naquele dia de aula, deverá ser entregue ao professor antes do início da aula e contendo os seguintes itens: 1. Título da experiência a ser realizada. 2. Objetivos. 3. Introdução. 4. Materiais e Procedimento. 5. Bibliografia. 2ª Parte: Deverá ser entregue ao Professor, logo no início da aula seguinte. O relatório deverá conter os seguintes itens: 6. Resultados (deverão ser colocados preferencialmente em forma de tabelas e gráficos), reações, mecanismos, cálculos e outras observações relacionadas ao experimento. 7. Discussão: comentários dos resultados obtidos experimentalmente e comparação com os dados disponíveis na literatura. 8. Conclusão. 9. Bibliografia. 5- CRONOGRAMA AULA 01: Apresentação, normas de segurança, literatura AULA 02: Infravermelho AULA 03: Destilação simples e fracionada AULA 04: Preparação e recristalização do AAS AULA 05: Acilação do resorcinol e recristalização AULA 06: Medidas dos PF´s AULA 07: Extração química ativa AULA 08: Preparação de Biodiesel 6- AVALIAÇÃO A avaliação será feita através de: 6.1- 04 (quatro) provas individuais escritas - 20% 6.2- Relatórios em dupla/tripla - 80% 2 7- BIBLIOGRAFIA 1) Vogel, A. I. Análise Orgânica; Ao Livro Técnico S.A.; 3 a ed.; Vol. 1, 2, 3; 1984. 2) Vogel, A. I. A Textbook of Practical Organic Chemistry; 3 a ed; Longmann; Londres; 1978. 3) Pavia, D. L.; Lampman, G. M.; Kriz, G. S. Introduction to Organic Laboratory Techniques; 3 rd ed; Saunders; New York; 1988. 4) Gonçalves, D.; Almeida, R. R. Química Orgânica e Experimental; McGraw-Hill; 1988. 5) Fessenden, R. J.; Fessenden, J. S. Techniques and Experiments for Organic Chemistry; PWS Publishers; Boston; 1983. 6) Mayo, D. W.; Pike, R. M.; Trumper, P. K. Microscale Organic Laboratory; 3 a ed; John Wiley & Sons; Nova Iorque; 1994. 7) Nimitz, J. S. Experiments in Organic Chemistry; Prentice Hall; New Jersey; 1991. 8) Mohrig, J. R.; Hammond, C. N.; Morrill, T. C.; Neckers, D. C. Experimental Organic Chemistry; W. H. Freeman and Company; New York; 1998. 9) Morrison, R. T.; Boyd, R. N. Química Orgânica; Fundação Calouste Gulbenkian; 9 a ed; Lisboa; 1990. 10) Solomons, T. W. G. Química Orgânica; 6 a ed; Livros Técnicos e Científicos; Rio de Janeiro; 1996. 11) Shriner, R. L.; Fuson, R. C.; Curtin, D. Y.; Morril, T. C. The Systematic Identification of Organic Compounds; 6 th ed; John Wiley & Sons; Singapure; 1980. SITE PARA A BUSCA DE SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS http://www.chemfinder.com/ SITE COM DADOS DE SEGURANÇA DE PRODUTOS COMERCIAIS: http://www.hazard.com/msds/ DADOS FÍSICO-QUÍMICOS DE SUBSTÂNCIAS http://webbook.nist.gov/ HOMEPAGE DA AGÊNCIA AMERICANA DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE: http://www.epa.gov/ 3 SEGURANÇA E NORMAS DE TRABALHO NO LABORATÓRIO 1 - INTRODUÇÃO Laboratórios de química não precisam ser lugares perigosos de trabalho (apesar dos muitos riscos em potencial que neles existem), desde que certas precauções elementares sejam tomadas e que cada operador se conduza com bom senso e atenção. Acidentes no laboratório ocorrem muito freqüentemente em virtude da pressa excessiva na obtenção de resultados. Cada um que trabalha deve ter responsabilidade no seu trabalho e evitar atitudes impensadas de desinformação ou pressa que possam acarretar um acidente e possíveis danos para si e para os demais. Deve-se prestar atenção a sua volta e prevenir-se contra perigos que possam surgir do trabalho de outros, assim como do seu próprio. O estudante de laboratório deve, portanto, adotar sempre uma atitude atenciosa, cuidadosa e metódica em tudo o que faz. Deve, particularmente, concentrar-se no seu trabalho e não permitir qualquer distração enquanto trabalha. Da mesma forma, não deve distrair os demais desnecessariamente. 2 - NORMAS DE LABORATÓRIO 01. Não se deve comer, beber ou fumar dentro do laboratório. 02. Cada estudante deve usar, obrigatoriamente, um guarda-pó. Não será permitida a permanência no laboratório ou a execução de experimentos sem o mesmo. O guarda-pó deverá ser de brim ou algodão grosso e, nunca de tergal, nylon ou outra fibra sintética inflamável. 03. Utilizar óculos de segurança, pois constituem proteção indispensável para os olhos contra respingos e explosões. O uso de sapato fechado também é indispensável e motivo para impedimento de realização da aula experimental: chinelos e sandálias não são tolerados. 04. Ao manipular compostos tóxicos ou irritantes a pele, usar luvas de borracha. 05. A manipulação de compostos tóxicos ou irritantes, ou quando houver desprendimento de vapores ou gases, deve ser feita na capela, sob ventilação. 06. Leia com atenção cada experimento antes de iniciá-lo. Monte a aparelhagem, faça uma última revisão no sistema e só então comece o experimento. 07. Aperfeiçoe o seu trabalho no laboratório, dividindo as tarefas entre os componentes de sua equipe. 08. Antecipe cada ação no laboratório, prevendo possíveis riscos para você e seus vizinhos. Certifique-se ao acender uma chama de que não existem solventes próximos e destampados, especialmente aqueles mais voláteis (éter etílico, éter de petróleo, hexano, dissulfeto de carbono, benzeno, acetona, álcool etílico, acetato de etila). Mesmo uma chapa ou manta de aquecimento quente podem ocasionar incêndios, quando em contato com solventes como éter, acetona ou dissulfeto de carbono. 09. Leia com atenção os rótulos dos frascos de reagentes e solventes que utilizarmos. 10. Seja cuidadoso sempre que misturar dois ou mais compostos. Muitas misturas são exotérmicas (ex. H2SO4 (conc.) + H2O), ou inflamáveis (ex. sódio metálico + H2O), ou ainda podem liberar gases tóxicos. Misture os reagentes vagarosamente, com agitação e, se necessário, resfriamento e sob a capela. 11. Em qualquer refluxo ou destilação utilize "pedras de porcelana" a fim de evitar superaquecimento. Ao agitar líquidos voláteis em funis de decantação, equilibre a pressão do sistema, abrindo a torneira do funil ou destampando-o. 12. Caso interrompa alguma AULA pela metade ou tenha que guardar algum produto, rotule-o claramente. O rótulo deve conter: nome do produto, data e nome da equipe. Pergunte sobre o local mais adequado para o armazenamento. 13. Utilize os recipientes apropriados para o descarte de resíduos, que estão dispostos no laboratório.Só derrame compostos orgânicos líquidos na pia, depois de estar seguro de que não são tóxicos e de não haver perigo de reações violentas ou desprendimento de gases. De qualquer modo, faça-o com abundância de água corrente. Consulte sempre o professor antes de qualquer procedimento. 14. Cada equipe deve, no final de cada aula, lavar o material de vidro utilizado e limpar a bancada. Enfim, manter o laboratório LIMPO. 4 3 - COMPOSTOS TÓXICOS Um grande número de compostos orgânicos e inorgânicos é tóxico. Manipule-os com respeito, evitando a inalação ou contato direto. Muitos produtos que eram manipulados pelos químicos, sem receio, hoje são considerados nocivos à saúde e não há dúvidas de que a lista de produtos tóxicos deva aumentar. A relação abaixo compreende alguns produtos tóxicos de uso comum em laboratórios: 3.1 - COMPOSTOS ALTAMENTE TÓXICOS: São aqueles que podem provocar, rapidamente, sérios distúrbios ou morte. compostos de mercúrio ácido oxálico e seus sais compostos arsênicos cianetos inorgânicos monóxido de carbono cloro flúor pentóxido de vanádio selênio e seus compostos 3.2 - LÍQUIDOS TÓXICOS E IRRITANTES AOS OLHOS E SISTEMA RESPIRATÓRIO: sulfato de dietila ácido fluorobórico bromometano alquil e arilnitrilas dissulfeto de carbono benzeno sulfato de metila brometo e cloreto de benzila bromo cloreto de acetila acroleína cloridrina etilênica 3.3 - COMPOSTOS POTENCIALMENTE NOCIVOS POR EXPOSIÇÃO PROLONGADA: a) Brometos e cloretos de alquila: bromoetano, bromofórmio, tetracloreto de carbono, diclorometano, 1,2-dibromoetano, 1,2-dicloroetano, iodometano. b) Aminas alifáticas e aromáticas: anilinas substituídas ou não, dimetilamina, trietilamina, diisopropilamina. c) Fenóis e compostos aromáticos nitrados: fenóis substituídos ou não, cresóis, catecol, resorcinol, nitrobenzeno, nitrotolueno, nitrofenóis, naftóis. 3.4 - SUBSTÂNCIAS CARCINOGÊNICAS: Muitos compostos orgânicos causam tumores cancerosos no homem. Deve-se ter todo o cuidado no manuseio de compostos suspeitos de causarem câncer, evitando-se a todo custo a inalação de vapores e a contaminação da pele. Devem ser manipulados exclusivamente em capelas e com uso de luvas protetoras. Entre os grupos de compostos comuns em laboratório se incluem: a) Aminas aromáticas e seus derivados: anilinas N-substituídas ou não, naftilaminas, benzidinas, 2- naftilamina e azoderivados. b) Compostos N-nitroso: nitrosoaminas (R'-N(NO)-R) e nitrosamidas. c) Agentes alquilantes: diazometano, sulfato de dimetila, iodeto de metila, propiolactona, óxido de etileno. d) Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos: benzopireno, dibenzoantraceno, etc. e) Compostos que contém enxofre: tioacetamida, tiouréia. f) Benzeno: um composto carcinogênico, cuja concentração mínima tolerável é inferior aquela normalmente percebida pelo olfato humano. Se você sente cheiro de benzeno‚ é porque a sua concentração no ambiente é superior ao mínimo tolerável. Evite usá-lo como solvente e sempre que possível substitua-o por outro solvente semelhante e menos tóxico (por exemplo, tolueno). g) Amianto: a inalação por via respiratória de amianto pode conduzir a uma doença de pulmão, a asbestose, uma moléstia dos pulmões que aleija e eventualmente mata. Em estágios mais adiantados geralmente se transforma em câncer dos pulmões. 5 4 - INTRUÇÕES PARA ELIMINAÇÃO DE PRODUTOS QUÍMICOS PERIGOSOS 1) Hidretos alcalinos, dispersão de sódio: suspender em dioxano, lentamente adicionar o isopropano, agitar até completa reação do hidreto ou do metal: adicionar cautelosamente água até formação de solução límpida, neutralizar e verter em recipiente adequado. 2) Hidreto de lítio e alumínio: suspender em éter ou THF ou dioxano, gotejar acetato de etila até total transformação do hidreto, resfriar em banho de gelo e água, adicionar ácido 2N até formação de solução límpida, neutralizar e verter em recipiente adequado. 3) Boroidreto alcalino: dissolver em metanol, diluir em muita água, adicionar etanol, agitar ou deixar em repouso até completa dissolução e formação de solução límpida, neutralizar e verter em recipiente adequado. 4) Organolíticos e compostos de Grignard: dissolver ou suspender em solvente inerte (por exemplo, éter, dioxano ou tolueno), adicionar álcool, depois água, no final ácido 2N, até formação de solução límpida, verter em recipiente adequado. 5) Sódio: Introduzir pequenos pedaços do sódio em metanol e deixar em repouso até completa dissolução do metal, adicionar água com cuidado até solução límpida, neutralizar, verter em recipiente adequado. 6) Potássio: introduzir em n-butanol ou t-butanol anidro, diluir com etanol, no final com água, neutralizar, verter em recipiente adequado. 7) Mercúrio: 7A) Mercúrio metálico: recuperá-lo para novo emprego. 7B) Sais de mercúrio ou suas soluções: precipitar o mercúrio sob forma de sulfeto, filtrar e guardá-lo. 8) Metais pesados e seus sais: precipitar sob a forma de compostos insolúveis (carbonatos, hidróxidos, sulfetos, etc.), filtrar e armazenar. 9) Cloro, bromo, dióxido de enxofre: absorver em solução de NaOH 2N, verter em recipiente adequado. 10) Cloretos de ácido, anidridos de ácido, PCl3, PCl5, cloreto de tionila, cloreto de sulfurila: sob agitação, com cuidado e em porções, adicionar à muita água ou NaOH 2N, neutralizar, verter em recipiente adequado. 11) Ácido clorosulfônico, ácido sulfúrico concentrado, óleum, ácido nítrico concentrado: gotejar, sob agitação, com cuidado, em pequenas porções, sobre gelo ou gelo mais água, neutralizar, verter em recipiente adequado. 12) Dimetilsulfato, iodeto de metila: cautelosamente, adicionar a uma solução concentrada de NH3, neutralizar, verter em recipiente adequado. 13) Presença de peróxidos, peróxidos em solventes, (éter, THF, dioxano): reduzir em solução aquosa ácida (Fe (II) - sais, bissulfito), neutralizar, verter em recipiente adequado. 14) Sulfeto de hidrogênio, mercaptanas, tiofenóis, ácido cianídrico, bromo e clorocianos: oxidar com hipoclorito de sódio (NaOCl). 5 - AQUECIMENTOS NO LABORATÓRIO Ao se aquecer substâncias no laboratório, deve-se sempre levar em conta o perigo de incêndio. Para temperaturas inferiores a 100C use preferencialmente banho-maria ou banho a vapor. Para temperaturas superiores a 100C use banhos de óleo. Parafina aquecida funciona bem para temperaturas de até 220C; glicerina pode ser aquecida até 150C sem desprendimento apreciável de vapores desagradáveis. Banhos de silicone são os melhores, mas são também os mais caros. Uma alternativa quase tão segura quanto os banhos são as mantas de aquecimento. O aquecimento é rápido, mas o controle da temperatura não é tão eficiente como no uso de banhos de aquecimento. Mantas de aquecimento não são recomendadas para a destilação de produtos muito voláteis e inflamáveis, como éter de petróleo e éter etílico. Para temperaturas altas (>200C) pode-se empregar um banho de areia. Neste caso o aquecimento e o resfriamento do banho devem ser lentos. Chapas de aquecimento podem ser empregadas para solventes menos voláteis e inflamáveis. Nunca aqueça solventes voláteis em chapas de aquecimento (éter, CS2, etc.). Ao aquecer solvente como etanol ou metanol em chapas, use um sistema munido de condensador. Aquecimento direto com chamas sobre a tela de amianto só é recomendado para líquidos não inflamáveis (por exemplo, água). 6 ESQUEMA PARA INTERPRETAÇÃO DE ESPECTROS DE SUBSTÂNCIAS ORGÂNICAS NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO Adaptado do artigo do mesmo nome publicado pelos professores Wilson Araújo Lopes e Miguel Fascio na revista QuímicaNova, em 2004, editada pela Sociedade Brasileira de Química – SBQ. Referência: Lopes, W. A.; Fascio, M. Química Nova 2004, 27, 670-673. Um novo artigo foi publicado recentemente (Carlos Magno R. Ribeiro e Nelson Ângelo de Souza; Esquema Geral para Elucidação de Substâncias Orgânicas Usando Métodos Espectroscópico e Espectrométrico; Química Nova 2007, 30, 1026-1031) e pode ser empregado como literatura auxiliar. INTRODUÇÃO A espectroscopia na região do infravermelho (IV) é uma técnica de inestimável importância na análise orgânica qualitativa, sendo amplamente utilizada nas áreas de química de produtos naturais, síntese e transformações orgânicas. O infravermelho e demais métodos espectroscópicos modernos como a ressonância magnética nuclear (RMN), espectroscopia na região do ultravioleta–visível (UV-VIS) e espectrometria de massas (EM), constituem hoje os principais recursos para a identificação e elucidação estrutural de substâncias orgânicas. São, também, de alta relevância na determinação da pureza e quantificação de substâncias orgânicas bem como no controle e acompanhamento de reações e processos de separação. O uso dos referidos métodos físicos de análise traz uma série de vantagens, destacando-se a redução no tempo de análise, diminuição substancial nas quantidades de amostra, ampliação da capacidade de identificar ou caracterizar estruturas complexas, não destruição da amostra (exceto EM) e a possibilidade de acoplamento com métodos modernos de separação como a cromatografia gasosa de alta resolução (CGAR) e cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE). A espectroscopia na região do infravermelho tem sido, também, amplamente utilizada em linhas de produção no controle de processos industriais. A interpretação de espectros de infravermelho de substâncias orgânicas é uma tarefa que, devido ao grande número de informações que devem ou precisam ser manipuladas, geralmente apresenta dificuldades para os alunos dos cursos básicos de graduação. Assim, o estudante iniciante necessita de um meio para, de modo sistemático, interpretar um espectro na região do infravermelho e propor uma possível estrutura molecular. Os livros textos geralmente apresentam tabelas de correlação entre as absorções de estiramento e deformação, em número de onda (4000 – 400 cm-1) e/ou comprimento de onda (2,5 - 25m), e os respectivos grupos funcionais ou ligações químicas correspondentes1-4. Não há, contudo, uma preocupação com a sistematização de um caminho que possibilite ao estudante analisar um espectro infravermelho, obter informações sobre as principais ligações e grupos funcionais de uma determinada substância orgânica e, finalmente, propor uma possível estrutura. Com a finalidade de orientar a análise e interpretação de espectros de infravermelho já foram publicados alguns artigos na literatura 5-7 e o livro de Doyle e Mungall 8 apresenta um esquema resumido para interpretação que, porém, é insuficiente para a identificação da maioria das substâncias orgânicas mais simples. O presente trabalho representa uma contribuição com o objetivo de facilitar a tarefa de análise e interpretação de espectros de infravermelho, estabelecendo um caminho objetivo e prático que permite a identificação dos principais grupamentos funcionais e a proposição de uma possível estrutura (ou estruturas) para as substâncias orgânicas mais simples. Havendo necessidade, tabelas de correlação 1-4,9 deverão ser consultadas para a completa interpretação dos espectros. A comparação da região de impressão digital (1400 a 900 cm -1 ) com o espectro de uma amostra padrão é de fundamental importância para confirmar a identidade da substância analisada. É importante ressaltar que o esquema da Figura 5 vem sendo utilizado com pleno êxito nas disciplinas de Química Orgânica oferecidas aos alunos dos cursos de Química, Engenharia Química e Farmácia da Universidade Federal da Bahia, há mais de 10 anos. Este esquema é uma segunda versão que foi revisada e ampliada com a participação de alunos e a contribuição dos professores das disciplinas de Análise Orgânica, Química Orgânica Fundamental e Química Orgânica Básica Experimental. CALCULANDO O ÍNDICE DE DEFICIÊNCIA DE HIDROGÊNIO A determinação da fórmula estrutural de uma substância orgânica requer um conjunto de informações que envolvem propriedades químicas e físicas. O conhecimento da fórmula molecular representa uma importante contribuição pois permite calcular o Índice de Deficiência de Hidrogênio (IDH), que indica a ausência ou presença de ligações duplas, triplas ou anéis na estrutura molecular e, 7 muitas vezes, tem sido indevidamente denominado de índice de insaturação o que, de fato, não corresponde à realidade. Os alcenos, devido à presença de uma ligação dupla carbono-carbono, e os ciclo- alcanos, por conterem um anel, têm dois hidrogênios a menos que os correspondentes hidrocarbonetos acíclicos saturados de fórmula CnH2n + 2. Por exemplo, o eteno (H2C=CH2) tem fórmula molecular C2H4 e o etano (H3C-CH3) tem fórmula C2H6. O cálculo do IDH pode se feito por mais de um método, destacando-se: a) Pela aplicação da expressão 1 : IDH = (C - M/2) + T/2 + 1 C = número de átomos de carbono. M = número de átomos monovalentes. T = número de átomos trivalentes. b) Segundo as regras referidas por Klemm 10,11 com base na comparação entre as fórmulas da substância desconhecida e o correspondente hidrocarboneto saturado (alcano): 1. Substituir todos os átomos monovalentes (halogênios) por hidrogênio. 2. Desconsiderar os átomos bivalentes (oxigênio e enxofre). 3. Excluir os átomos trivalentes junto com um hidrogênio (nitrogênio como NH e fósforo como PH). 4. Comparar com a fórmula geral dos hidrocarbonetos saturados (CnH2n + 2). Exemplos: Substância/estrutura Fórmula molecular Fórmula ajustada (1) Fórmula do Alcano (2) IDH (2-1)/2 1. C4H8 C4H8 C4H10 (10 – 8)/2 = 1 2. C6H12 C6H12 C6H14 (14 – 12)/2 = 1 3. Cl C6H5Cl C6H6 C6H14 (14 – 6)/2 = 4 4. CH 3 C7H8 C7H8 C7H16 (16 – 8)/2 = 4 5. O C8H8O C8H8 C8H18 (18 – 8)/2 = 5 6. NH 2 C5H11N C5H10 C5H12 (12 – 10)/2 = 1 INTERPRETANDO UM ESPECTRO DE INFRAVERMELHO a) Seguindo o esquema da Figura 5, observar inicialmente a presença ou ausência de absorção devida ao grupamento carbonila. Se o espectro da substância apresentar absorção entre 1820 a 1630 cm -1 (C=O), seguir a seta à direita e identificar o grupo funcional responsável pela absorção (ácido carboxílico, amida, aldeído, anidrido, éster, haleto de acila, cetona, aril-cetona). Seguir então para o bloco esquerdo do Esquema e verificar a presença ou ausência de outras funções orgânicas. Se não apresentar absorção entre 1820 a 1630 cm -1 , seguir a seta à esquerda e identificar as ligações ou grupos funcionais presentes ou ausentes na estrutura molecular. Havendo uma ligação dupla ou anel aromático, caracterizar o padrão de substituição nos quadros correspondentes: olefinas ou benzeno e derivados. Finalmente, verificar a presença de grupos CH2 e CH3 no quadro referente a alcanos. 8 b) Com base nas informações obtidas do espectro de infravermelho, fórmula molecular e índice de deficiência de hidrogênio, identificar as principais ligações ou grupamentos, assinalar a função (ou funções) orgânica e propor uma possível estrutura (ou estruturas) para a substância que está sendo analisada. As Figuras 1 a 4 mostram os espectros de infravermelho de quatro substâncias orgânicas (A-D) que, como exemplo, são analisadas de acordo com o esquema apresentado. As amostras foram purificadas por destilação (líquidos) ou cristalização(sólidos) e os espectros foram obtidos em Espectrômetro de Infravermelho com Transformada de Fourier (IV-TF), da marca Bomem, modelo ABB. 4000 3600 3200 2800 2400 2000 1600 1200 800 0 20 40 60 80 Tran smi tânc ia % Número de Onda (cm -1 ) Filme 3064 2738 2820 1702 1598 1455 746 688 A 4000 3600 3200 2800 2400 2000 1600 1200 800 0 20 40 60 80 Tran smi tânc ia % Número de Onda (cm -1 ) Filme 3064 2738 2820 1702 1598 1455 746 688 A Figura 1. Espectro de infravermelho da substância A. Substância A (C7H6O): Cálculo do IDH: (7 – 6/2) + 1 = 5 ou C7H16 – C7H6 = H10/2 = 5 Análise funcional: 1702 cm -1 , C=O; 2820 e 2738 cm -1 , C(=O)-H (dubleto de Fermi); 1598 e 1455 cm -1 , C=C (ArH); 3064 cm -1 , Csp2-H; 746 e 688 cm -1 , C-H (ArH), monosubstituido. Identificação: O IDH igual a 5 é compatível com a presença de um anel aromático. A presença de absorção a 1702 cm -1 (C=O) juntamente com o dubleto de Fermi (2820 e 2738 cm-1) é indicativo de função aldeído. As absorções a 1598 e 1455 cm -1 , (C=C, ArH) e 3064 cm-1, (Csp2-H) confirmam a presença de estrutura aromática. As absorções a 746 e 688 cm -1 (C-H, ArH) indicam o padrão monossubstituído, concluindo-se que A corresponde ao benzaldeído. Estrutura: O H 9 4000 3600 3200 2800 2400 2000 1600 1200 800 0 20 40 60 80 Filme Tran smit ânci a % Número de Onda (cm -1 ) B 3334 1068 2855 2932 1451 4000 3600 3200 2800 2400 2000 1600 1200 800 0 20 40 60 80 Filme Tran smit ânci a % Número de Onda (cm -1 ) B 3334 1068 2855 2932 1451 Figura 2. Espectro de infravermelho da substância B. Substância B (C6H12O): Cálculo do IDH: (6 – 12/2) + 1 = 1 ou C6H14 – C6H12 = H2/2 = 1 Análise funcional: ausência de C=O entre 1820 e 1630 cm-1; 1068 cm -1 , C-O; 3334 cm -1 , O-H; ausência de C=C entre 1680 e 1620 cm-1 e ausência de C-H em ~1380 cm-1 (metila). Identificação: O IDH igual a 1 é indicativo da presença de ligação dupla ou estrutura cíclica. A ausência de absorção entre 1820 e 1630 cm -1 exclui todas as funções carboniladas. As absorções em 1068 cm -1 (C-O) e 3334 cm-1 (O-H) são compatíveis com a função álcool. As absorções entre 3000 e 2800 cm-1 (C-H) são compatíveis com a presença de carbono com hibridização sp3. A ausência de absorções entre 3100 e 3000 cm -1 (Csp 2 -H) e entre 1680 e 1620 cm -1 (C=C) elimina a possibilidade de ser uma olefina. A ausência de absorção em ~1380 cm -1 (C-H) indica que a substância não possui grupo metila. O espectro de B, portanto, poderá corresponder ao ciclo-hexanol (I) ou ciclopentanometanol (II). Pela comparação com o espectro de infravermelho de uma amostra autêntica é possível concluir que se trata do ciclo-hexanol (I). Estruturas: (I ) OH (II) OH 4000 3600 3200 2800 2400 2000 1600 1200 800 0 20 40 60 80 Tran smit ânci a % Número de Onda (cm -1 ) KBr 2964 3034 3312 1682 850 1279 1599 1500 C 1234 1164 4000 3600 3200 2800 2400 2000 1600 1200 800 0 20 40 60 80 Tran smit ânci a % Número de Onda (cm -1 ) KBr 2964 3034 3312 1682 850 1279 1599 1500 C 1234 1164 Figura 3. Espectro de infravermelho da substância C. 10 Substância C ( C8H8O3): Cálculo do IDH: (8 – 8/2) + 1 = 5 ou C8H18 – C8H8 = H10/2 = 5 Análise funcional: 1682 cm -1 , C=O; 1300 - 1100 cm -1 , C-O; 3312 cm -1 , O-H; 1599 e 1500 cm -1 , C=C (ArH); 3034 cm -1 , Csp2-H; 2964 cm -1 , Csp3-H; 850 cm -1 , C-H (ArH), 1,4-di-substituído. Identificação: O IDH igual a 5 é compatível com a presença de um anel aromático. A presença de uma banda de absorção em 1682 cm -1 (C=O) associada com absorção entre 1300 e 1000 cm-1 C-O) é indicativo da função éster. As absorções entre 1300 e 1100 cm -1 (C-O) e a presença de banda de absorção a 3312 cm -1 (O-H) permitem assinalar que a substância tem função mista - éster e fenol. A absorção em 2964 cm -1 é característica de Csp3-H e as absorções em 1599 e 1500 cm-1 (C=C, ArH) e em 3034 cm -1 (Csp2-H) confirmam a presença de estrutura aromática. A absorção em 850 cm-1 (C-H, ArH) indica o padrão 1,4-dissubstituído, concluindo-se que C poderá corresponder ao 4-hidróxi-benzoato de metila (I) ou ao monoacetato de hidroquinona (II). Por meio do ponto de fusão (pf) e pela comparação com o espectro de infravermelho de uma amostra autêntica é possível concluir que se trata do 4-hidróxi- benzoato de metila (I). Estruturas: (I ) O O CH 3 OH pf: 128 ºC; (II) OH O O CH 3 pf: 62 ºC 4000 3600 3200 2800 2400 2000 1600 1200 800 0 20 40 60 80 Tra nsm itân cia % Número de Onda (cm -1 ) KBr 3294 758 1665 1599 1500 695 D 3021 3059 4000 3600 3200 2800 2400 2000 1600 1200 800 0 20 40 60 80 Tra nsm itân cia % Número de Onda (cm -1 ) KBr 3294 758 1665 1599 1500 695 D 3021 3059 Figura 4. Espectro de infravermelho da substância D. Substância D (C8H9NO): Cálculo do IDH: (8 – 9/2) + 1/2 + 1 = 5 ou C8H18 – C8H8 = H10/2 = 5 Análise funcional: 1665 cm -1 , C=O; 3294 cm -1 , N-H; 1599 e 1500 cm -1 , C=C (ArH); 3059 e 3021 cm -1 , Csp2-H; 758 e 695 cm -1 , C-H (ArH), monossubstituido. Identificação: O IDH igual 5 é compatível com a presença de um anel aromático. A banda de absorção em 1665 cm -1 (C=O) associada à absorção em 3294 cm-1 (N-H) é indicativa da função amida. As absorções em 1599 e 1500 cm -1 (C=C, ArH) e em 3059 e 3021 cm-1 (Csp2-H) confirmam a presença de estrutura 11 aromática. As absorções em 758 e 695 cm -1 (C-H, ArH) indicam o padrão monossubstituído, concluindo-se que D poderá corresponder à N-fenilacetamida (I) ou à N-metilbenzamida (II). Por meio do ponto de fusão (pf) e pela comparação com o espectro de infravermelho de uma amostra autêntica é possível concluir que se trata da N-fenilacetamida (I). Estruturas: (I ) N O CH 3 H pf: 114 ºC; (II) N CH 3 H O pf: 78 ºC CONCLUSÕES O esquema proposto para interpretação de espectros na região do infravermelho permite, de modo simples e prático, a identificação dos principais grupos funcionais e a proposição de estrutura de substâncias orgânicas, constituindo-se assim em recurso de grande utilidade no ensino de disciplinas tanto teóricas quanto experimentais. REFERÊNCIAS 1. Silverstein, R. M.; Bassler, G. C.; Morrill, T. C.; Spectrometric Identification of Organic Compounds, 5 th. ed., John Wiley & Sons: New York, 1991. 2. Solomons, T. W. G.; Fryhle, C. B.; Química Orgânica, 7a. ed., LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A: Rio de Janeiro, 2001. 3. Nakanishi, K.; Solomon, P. H.; Infrared Absortion Spectroscopy, 2nd. ed., Holden-Day Inc: Oakland, 1977. 4. Coates, J.; Em Encyclopedia Analytical Chemistry, Meyers; R. A., ed.; John Wiley & Sons: Chichester, 2000, p. 10815 – 10837; http://www.spectroscopynow.com:1800/Spy/pdfs/eac10815.pdf, acessada em Julho 2003. 5. Ingham, A. M.; Henson, R. C.; J. Chem. Educ. 1984, 61, 704. 6. Moyé, A. L.; Cochran Jr., T. A.; J. Chem. Educ. 1972, 49, 129. 7. Hartman, K.; J. Chem. Educ. 1976, 53, 111. 8. Doyle, M.P.;Mungall, W.S.; Experimental Organic Chemistry, John Wiley & Sons: New York, 1980. 9. http://www.cem.msu.edu/%7Ereusch/VirtualText/Spectrpy/InfraRed/infrared.htm#ir1, acessada em Julho 2003. 10. Kleman, L. H.; J. Chem. Educ. 1995, 72, 425. 11. http://chipo.chem.uic.edu/web1/ocol/SB/du.htm, acessada em Julho 2003. 12 OC NC OC HO O C H OC HO HN HN CC CC NO 2 C C XC OC OC OC HC HR1 H R2 HR1 R2 R3 R3R1 R2 R4 R2R1 H H HR1 H H HR1 R2 H C-N HS 761 cm-1 770 - 730 e 710 - 690 770 - 735 810 - 750 e 735-680 860 - 800 **Ressonância de Fermi: C-H com overtone de C-H ( pode ser dubleto ). (, F, 1820-1630 cm-1) SIMNÃO (, L, 3200-2500) ÁCIDO CARBOXÍLICO singleto dubleto AMIDA PRIMÁRIA AMIDA SECUNDÁRIA (, f-m, 2830-2700**) ALDEÍDO (, F, 1300-1000) (, F, 3650-3100) NÃO SIM ÁLCOOL* OU FENOL ALQUIL-ÉTER (, f-m, 3600-3200) AMINA PRIMÁRIA AMINA SECUNDÁRIA dubleto singleto (, m, 3500-3070) (, f-m, 2260-2220) (, m, 2 a 4 bandas ~1600, 1580, 1500, 1450) (, m-F, 1400-500) (, f-m, 2260-2100) (, f-m, 1680-1620) ALCINO ALCENO GRUPO NITRO ArH (, f-m, 1360-1250 e , f-m, 1280-1180) , f-m, 1230-1030) ALQUIL-AMINA ARIL-ALQUIL-AMINA HALETOS DE ALQUILA , F, 1300-1000) C=O (v, ~1815 e m-F, ~1750) C=O (F, 1750-1670) ANIDRIDO ÉSTER , F, 1820-1760) HALETO DE ACILA , F, 1770-1700) ALQUIL-CETONA ARIL-CETONA AMIDA TERCIÁRIA ALCINO ALCENO (Csp-H, f-m, 3350-3250) (Csp2-H, f-m, 3100-3000) (Csp3-H, m-F, 3000-2840) AROMÁTICO ALCANO (Csp2-H, f-m, 3100-3000) BENZENO e DERIVADOS: C-H fora do plano. BENZENO: MONO-SUBSTITUÍDO: DI - 1,2: DI - 1,3: DI - 1,4: 1648-1638 995-985 e 910-905 C-H fora do plano, m, 1000-680 cm-1 1678-1668 980-965 1675-1665 840-790 1675-1665 1662-1652 ~690 1658-1648 895-885 (C-O, F, 1150-1080) (C-O, F, 1280-1220 e 1100-1020) ARIL-ALQUIL-ÉTER = estiramento; = deformação; ass = assimétrica; sim = simétriaca; tes = tesoura; F = forte; m = média; f = fraca; L = larga; v = variável. (, F, 1570-1500 e 1380-1300) , F, 1700-1630) OLEFINAS: C=C, m, 1680-1630 cm-1 (, f-m, 2600-2550) MERCAPTANA OU TIOFENOL NITRILA CH3 ( ass, m): ~1450 cm -1 CH3 ( sim, m): ~1375 cm -1 (dubleto, se i-propil ou i-butil) CH2 (tes, m): ~1465 cm -1 <INÍCIO> *C-O de álcool: 1o: ~1050 cm-1; 2o: ~1100 cm-1; 3o: ~1150 cm-1 Figura 5. Esquema para interpretação de espectros de substâncias orgânicas na região do infravermelho. 13 QUÍMICA VERDE Os princípios e práticas da Química Verde (ou Green Chemistry) foram introduzidos pioneiramente nos EUA pela EPA (Environmental Protection Agency), a agência de proteção ambiental daquele país, em colaboração com o ACS Green Chemistry Institute®. A partir dos anos 1990, a indústria química passou a buscar e adotar medidas de prevenção, redução e eliminação dos impactos ambientais decorrentes dos processos de produção. Nessa mesma década, os químicos Paul Anastas e John Warner, que trabalharam na EPA, propuseram o conceito de Química Verde para as práticas e tecnologias químicas consideradas como limpas, seguras e sustentáveis. Conceitualmente a Química Verde pode ser definida como a prática sustentável da ciência química representada pela utilização de técnicas, métodos e processos que reduzem ou eliminam o uso de solventes e reagentes tóxicos, bem como a geração de produtos e sub- produtos tóxicos que são nocivos à saúde humana ou ao ambiente. Figura. Representação gráfica de processo industrial lastreado na Química Verde. Produto (ativo) Resíduos Biodegradável Reação (+ Catálise) (- Energia) Controle Matérias-primas renováveis Uso de Substâncias nocivas Rejeitos (passivo) Eliminar (ideal) Reduzir (possível) Reciclo Do ponto de vista industrial, a Química Verde tem como foco desenvolver processos e produtos de forma segura, consumindo quantidades mínimas de energia e de recursos materiais, evitando ao máximo os desperdícios. Reduzir ou eliminar o uso bem como a produção de substâncias químicas danosas à saúde humana e ao ambiente estão entre os principais objetivos da Química Verde. 14 A Química Verde está estritamente relacionada com o Desenvolvimento Sustentável, que pode ser definido como: “O desenvolvimento que busca satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades. Significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, alcancem um nível satisfatório de desenvolvimento econômico e social e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso racional dos recursos da terra, preservando as espécies e os habitats naturais”. Três indicadores, quando em harmonia, são considerados como os pilares do desenvolvimento sustentável: o ambiental, o econômico e o social (Figura V). Figura N. Indicadores de Susentabilidade. Ambiental Econômico Social S S = Sustentável A Química Verde se baseia na aplicação de doze princípios, propostos por Paul Anastas e John Warner, que visam a busca e a prática de processos industriais cada vez mais limpos, seguros e sustentáveis, com benefícios tanto para o ambiente quanto para a o ser humano. 12 Princípios da Química Verde 1. PREVENÇÃO Prevenir e evitar a geração de resíduos é melhor que tratar ou recuperar depois de gerados. 2. EFICIÊNCIA ATÔMICA ou ECONOMIA DE ÁTOMOS Maximizar a incorporação de reagentes no produto final. 3. SÍNTESE SEGURA (SUBSTÂNCIAS DE BAIXA TOXICIDADE) Reduzir ou anular a toxicidade de reagentes para a saúde humana e danos ao ambiente . 4. DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS SEGUROS Preservar a função e eficácia dos produtos e minimizar a toxicidade. 5. REDUÇÃO DE SOLVENTES E REAGENTES AUXILIARES Evitar o uso de substâncias auxiliares ou, sendo imprescindíveis, devem ser inócuas. 15 6. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Minimizar o consumo de energia por motivos econômicos e ambientais. 7. MATÉRIAS-PRIMAS E RECURSOS RENOVÁVEIS Preferir sempre que possível as matérias-primas e recursos naturais renováveis naturais. 8. SÍNTESE OBJETIVA E DIRETA: EVITAR A FORMAÇÃO DE DERIVADOS Evitar ou minimizar a derivatização. 9. POTENCIALIZAR A CATÁLISE Escolher e preferir reações e processos catalíticos. 10. DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS BIODEGRADÁVEIS Construir substâncias não persistentes no ambiente e que seus produtos de degradação não sejam tóxicos. 11. ANÁLISE EM TEMPO REAL Desenvolver métodos analíticos para o controle de processos em tempo real (menos substâncias tóxicas e perigosas). As análises de produção de determinado produto devem ser realizadas em tempo real, para que qualquer desvio da ordem natural possa ser corrigido a tempo e evitar danos ou prejuízos. 12. PREVENÇÃO DE ACIDENTES Evitar ou minimizar os riscos de acidentes como explosões e incêndios pela seleção adequada de substâncias e técnicas. No setor industrial, principalmente em países desenvolvidos que são extremamente rigorosos no controle da emissão de poluentes, o conceito e os princípios da Química Verde não representam novidade. No meio acadêmico, em atividades de ensino e pesquisa, mesmo com um relativo atraso, os princípios da química verde têm sido inseridos e ganham importância cada vez maior. A importância da Química Verde pode ser enfatizada por: Química Verde visa apresentare usar os conhecimentos químicos a partir do nível mais fundamental, num quadro de equilíbrio da relação ciência química e seres humanos, seus arredores e seu ambiente; A Química Verde é a prática de química sustentável de modo que maximize seus benefícios, eliminando ou, pelo menos, reduzindo seus impactos adversos; A Química Verde é benéfica para o ambiente e para a humanidade e não um fardo. É uma oportunidade que desafia a imaginação e engenhosidade humana. Eficiência das reações químicas O conceito clássico de eficiência de um processo químico tem como base exclusivamente o rendimento percentual em uma determinada reação (massa obtida do produto relacionada com a massa esperada em processo 100% eficiente). Sob esse aspecto, apenas se considera a quantidade obtida de produto, após o isolamento do meio reacional e sua purificação. Do ponto de vista estritamente reacional a “eficiência sintética” está relacionada não somente com o rendimento reacional, mas, também, com a economia de átomos. Isto é, com a maximização da incorporação dos átomos dos reagentes ao produto final ou molécula objetivo. 16 Outro aspecto a ser considerado na eficiência dos processos químicos é a gravidade do problema dos resíduos e rejeitos insdustriais. Essa preocupação resultou na introdução do conceito de “fator ambiental E” (de environment, ambiente em inglês), que permite avaliar o impacto ambiental de reações e processos químicos. Assim, na modernidade, a eficiência de uma reação química pode e deve ser avaliada por três parâmetros considerados fundamentais: 1. Rendimento percentual (R %) Relação entre o rendimento teório (RT = 100 %) e o rendimento obtido (massa do produto obtida). R % = x 100 2. Economia atômica (EA %) Relação entre a massa molecular dos átomos utilizados e o somatório da massa molecular dos reagentes. Corresponde ao percentual de átomos de reagentes utilizados na síntese que é incorporado ao produto final. EA % = x 100 3. Fator ambiental E (Fator E) Razão entre a massa dos produtos secundários e a massa do produto desejado (em g ou Kg). Fator E = É importante ressaltar que na avaliação do Fator E a água não entre nos cálculos quer seja formada como sub-produto ou utilizada com solvente ou reagente. A seguir, como exemplo, é mostrada a aplicação dos conceitos da Química Verde na avaliação da eficiência química em uma reação que é utilizada em cursos de graduação em química, farmácia e engenharia química. Sintese do brometo de n-butila (método do brometo de sódio) Procedimento Em um balão de fundo redondo de 125 mL adicione 30g de brometo de sódio e 20 mL água. Agite até a dissolução total do sal, depois acrescente 22 mL de 1-butanol. Na sequência Quantidade de produto efetivamente obtida Quantidade teórica realizável de produto Massa Molecular do produto desejado Massa Molecular das substâncias produzidas Massa do produto desejado Massas dos produtos secundários 17 resfrie o balão em banho de gelo/água e, com cuidado, adicione lentamente 25 mL de ácido sulfúrico concentrado, sob agitação. Adicione alguns fragmentos de porcelana porosa, adapte um condensador de refluxo com captador de gases (trap) e aqueça a reação à temperatura de refluxo por 45 minutos. Depois de transcorrido o tempo reacional, remova a fonte de calor e deixe o balão resfriarem um banho de água (ainda conectado ao condensador e trap). Quando o balão estiver próximo da temperatura ambiente desconecte o balão redondo do sistema e transfira a mistura reacional cuidadosamente para um funil de separação de 125 mL. Espere separar as fases e retire a camada inferior, recolha em um Erlenmeyer de 250 mL e identifique. A fase orgânica que foi mantida no funil de separação é nosso produto de interesse. Lave a fase orgânica com as seguintes soluções: ácido sulfúrico 9 mol L-1 (1 x 20 mL), água (1 x 20 mL), solução bicarbonato de sódio 5% (1 x 20 mL) e novamente com água (1 x 20 mL), sempre mantendo a fase orgânica no funil de separação. Depois de realizadas as lavagens, transfira a fase orgânica para um Erlenmeyer de 50 mL, e utilize sulfato de magnésio anidro (ou sulfato de sódio anidro) para retirar traços de água. Filtre a fase orgânica para um balão de fundo redondo com capacidade adequada e purifique o produto por destilação. O brometo de n-butila deve ser destilado na temperatura entre 99 a 103°C. Determine o rendimento obtido e o rendimento percentual. O rendimento médio indicado é de 19,2 g. Reação CH 3 CH 2 CH 2 CH 2 -OH + NaBr + H 2 SO 4 CH3CH2CH2CH2Br + NaHSO4 + H2O 1 2 3 4 5 6 Tabela. Reagentes e Produtos na síntese do brometo de n-butila Reagentes e Produtos MM Quantidades Proporção mL g mol Teórica Usada 1-Butanol (D = 0,81) 74 22 17,8 0,24 1 1 Brometo de sódio 103 - 30 0,29 1 1,2 Ácido sulfúrico 98% (D = 1,84) 98 25 46-98% (45-100%) 0,5 1 2 Brometo de n-butila 137 - - - 1 - Reagente limite (RL): RL = 1-Butanol (menor proporção relativa) Rendimento teórico (RT): RT = n° de mol do reagente limite x MM do produto RT = 0,24 x 137 = 32,9g Rendimento percentual (R%): R% = (rendimento obtido* ÷ rendimento teórico) x 100 R% = (19,2 ÷ 32,9) x 100 = 58 % * No cálculo acima, o rendimento indicado (rendimento médio da preparação) foi usado no lugar do rendimento obtido. 18 Tabela. Economia de átomos na síntese do brometo de n-butila Produtos Fórmula MM H3C-CH2-CH2-CH2-Br 137 NaHSO4 120 H2O 18 Total 4C, 12H, 5O, Br, Na, S 275 Economia de átomos % (EA %) EA % = (Massa de átomos produto desejado / Massa de átomos todas as substâncias produzidas) X 100 EA % = (137 / 275) X 100 = 49,8 % Tabela. Fator E na síntese do brometo de n-butila Reagentes e produtos Produto formado Resíduo (massa utilizada – produto formado) Fórmula Massa (g) Massa (g) H3C-CH2-CH2-CH2-OH 17,8 NaBr 30 H2SO4 45 Total Reagentes 92,8 Brometo de n-butila 19,2 19,2 Total Resíduos 19,2 73,6 Fator E = Massas dos resíduos / Massa de brometo de n-butila Fator E = 73,6 / 19,2 = 3,8 Referências bibliográficas Anastas, P. T.; Warner; J. C. Green Chemistry: Theory and Practice, New York: Oxford University Press, 1998. Corrêa, A. G.; Zuin, V. G.; Química Verde: Fundamentos e Aplicações, São Carlos: EdUFSCar, 2009. Corrêa, A. G.; Oliveira, K… de O.; Paixão, M. W.; Brocksom, T. J. Química Orgânica Experimental: Uma abordagem de Química Verde. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. Cunha, S; Costa, O. B. dos S. da; Santana, L. L. B. de; Lopes, W. A. Acetanilida: Síntese Verde Sem Solvente. Quím. Nova, 38 (6), 874, 2015. Dupont, J., Economia de Átomos, Engenharia Molecular e Catálise Organometálica Bifásica: Conceitos Moleculares para Tecnologia Limpas. Quim. Nova, 23 (6), 825, 2000. Farias, L. A.; Fávaro, D. I. T. Vinte anos de Química Verde: Conquistas e Desafios. Quím. Nova, 34 (6), 1089, 2011. Ferreira, V. F.; Rocha, D.R.; Silva, F. C. Química Verde, Economia Sustentável e Qualidade de Vida. Revista Virtual de Química, Rio de Janeiro, p. 85-111, out. 2013. 19 Lenardão, E. J., Freitag, R. A., Dabdoub, M. J., Batista, A. C. F., Silveira, C. da C., "Green chemistry" - Os 12 Princípios da Química Verde e sua Inserção nas Atividades de Ensino e Pesquisa”. Quim. Nova, 26 (1), 123, 2003. Prado, A. G. S. Química Verde, os desafios da química no novo milênio. Quím. Nova, Brasília, v. 26, 738, 2003. Sites https://www.epa.gov/greenchemistry https://www.acs.org/content/acs/en/greenchemistry.html http://www.ufpel.tche.br/iqg/wwverde/ 20 QUI A17 – Química Orgânica Experimental para Engenharia Química DESTILAÇÃO SIMPLES E FRACIONADA 1- INTRODUÇÃO Destilação é uma técnica geralmente usada para remover um solvente, purificar um líquido ou para separar os componentes de uma mistura de líquidos, ou ainda separar líquidos de sólidos. Na destilação, a mistura a ser destilada é colocada no balão de destilação (balão de fundo redondo) e aquecida, fazendo com que o líquido de menor ponto de ebulição seja vaporizado e então condensado, retornando ao estado líquido (chamado de destilado ou condensado) e coletado em um frasco separado. Numa situação ideal, o componente de menor ponto de ebulição é coletado em um recipiente, e outros componentes de pontos de ebulição maiores permanecem no balão original de destilação como resíduo. O ponto de ebulição de um líquido pode ser definido como a temperatura na qual sua pressão de vapor é igual à pressão externa, exercida em qualquer ponto, sobre sua superfície. O líquido entra em ebulição e “ferve”, ou seja, é vaporizado por bolhas formadas no seio do líquido. Com líquidos de pontos de ebulição muito próximos, o destilado será uma mistura destes líquidos com composição e ponto de ebulições variáveis, contendo um excesso do componente mais volátil (menor ponto de ebulição) no final da separação. Para evitar a ebulição tumultuosa de um líquido durante a destilação sob pressão atmosférica, adicionam-se alguns fragmentos de “porcelana porosa”. Estes liberam pequenas quantidades de ar e promovem uma ebulição mais regular. Os tipos mais comuns de destilação são: destilação simples, destilação fracionada, destilação a vácuo e destilação por arraste de vapor. A destilação simples é uma técnica usada na separação de um líquido volátil de uma substância não volátil. Não é uma forma muito eficiente para separar líquidos com diferença de pontos de ebulição próximos. A Figura 1 mostra um esquema de um equipamento para destilação simples. Um termômetro é usado para se conhecer a temperatura do que está sendo destilado. O condensador consiste de um tubo, envolvido por uma capa de vidro oca contendo água fria. Para se evitar o aquecimento da água que envolve o tubo, esta é trocada continuamente, através de uma abertura ligada à torneira e outra ligada a pia. Figura 1: Esquema de um equipamento para destilação simples. 21 Figura 2: Esquema de um equipamento para destilação fracionada. A destilação fracionada é usada para a separação de dois ou mais líquidos de diferentes pontos de ebulição. A Figura 2 mostra o esquema para uma destilação fracionada, o qual contém uma coluna de fracionamento, que consiste essencialmente de um longo tubo vertical através do qual o vapor sobe e é parcialmente condensado. O condensado escoa pela coluna e retorna ao balão. Dentro da coluna, o líquido, que volta, entra em contato direto com o vapor ascendente e ocorre um intercâmbio de calor, pelo qual o vapor é enriquecido com o componente mais volátil. Então, na prática, é comum empregar uma coluna de fracionamento para reduzir o número de destilações necessárias para uma separação razoavelmente completa dos dois líquidos. Uma coluna de fracionamento é projetada para fornecer uma série contínua de condensações parciais de vapor e vaporizações parciais do condensado e seu efeito é realmente similar a certo número de destilações separadas. Uma boa separação dos componentes de uma mistura através de destilação fracionada requer uma baixa velocidade de destilação, mantendo-se assim uma alta razão de refluxo. O tratamento teórico da destilação fracionada requer um conhecimento da relação entre os pontos de ebulição das misturas das substâncias e sua composição. Se estas curvas forem conhecidas, será possível prever se a separação será difícil ou não, ou mesmo se será possível. A capacidade de uma coluna de fracionamento é a medida da quantidade de vapor e líquido que pode ser passada em contra-corrente dentro da coluna, sem causar obstrução. A eficiência de uma coluna é o poder de separação de uma porção definida da mesma. Ela é medida, comparando-se o rendimento da coluna com o calculado para uma coluna de pratos teoricamente perfeitos em condições similares. Um prato teórico é definido como sendo a seção de uma coluna de destilação de um tamanho tal que o vapor esteja em equilíbrio com o líquido; isto é, o vapor que deixa o “prato” tem a mesma composição que o vapor que entra, e o vapor em ascendência no “prato” está em equilíbrio com o líquido descendente. O número de pratos teóricos não pode ser determinado a partir das dimensões da coluna; é computado a partir da separação efetuada pela destilação de uma mistura líquida, cujas composições de vapor e de líquido são conhecidas com precisão. Por exemplo, uma coluna com 12 pratos teóricos é satisfatória para a separação prática de uma mistura de acetato de etila e tolueno. A eficiência de uma coluna depende tanto da altura quanto do enchimento e de sua construção interna. Sua eficiência é frequentemente expressa em termos de altura equivalente por prato teórico (HEPT), que pode ser obtida, dividindo-se a altura do enchimento da coluna pelo número de pratos teóricos. O fracionamento ideal fornece uma série de frações definidas e rigorosas, cada uma destilando a uma temperatura definida. Depois de cada fração ter sido destilada, a temperatura aumenta rapidamente e nenhum líquido é destilado como uma fração intermediária. Se a temperatura for colocada em gráfico contra o volume do destilado em tal fracionamento ideal, o gráfico obtido será uma série de linhas horizontais e verticais semelhantes a uma escada. Uma quebra na inclinação revela a presença de uma fração intermediária e a sua quantidade pode ser usada como um critério qualitativo do rendimento de diferentes colunas. 22 Dessa forma, o objetivo principal das colunas de fracionamento eficientes é reduzir a proporção das frações intermediárias a um mínimo. Os fatores mais importantes que influenciam a separação de misturas em frações bem delineadas são: isolamento térmico, razão de refluxo, enchimento e tempo de destilação. 2-METODOLOGIA No experimento de hoje os componentes de uma mistura equimolar de acetato de etila e tolueno serão separados por destilação fracionada (dois experimentos com duas colunas diferentes) e por destilação simples. Será verificada a composição e o grau de separação dos componentes desta mistura acetato de etila/tolueno, e comparadas as eficiências de separação obtidas por estas duas metodologia. A composição das misturas de acetato de etila e tolueno dos destilados coletados será determinada através de medidas do índice de refração com posterior extrapolação destas medidas para uma curva de calibração (fração molar de acetato de etila X índice de refração damistura). Cada turma construirá uma curva de calibração. Um gráfico de ponto de ebulição em função da composição da mistura indicará o grau de separação dos componentes desta mistura. Uma boa separação corresponde a um gráfico com pontos de ebulição baixos na primeira parte e altos no final, indicando acetato de etila e tolueno como componentes principais no início e fim da destilação, respectivamente. 3-PROCEDIMENTO 3.2-CONSTRUÇÃO DA CURVA DE CALIBRAÇÃO Prepare soluções contendo acetato de etila e tolueno em diferentes proporções (Tabela 2), calcule a fração molar em cada composição e meça o índice de refração para cada solução. Construa uma curva de calibração que será um gráfico de índice de refração em função da fração molar de acetato de etila. Use esta curva para determinar a fração molar de acetato de etila nas frações recolhidas nas destilações fracionadas e simples, e coloque estes valores na Tabela 2. Tabela 2: Curva de calibração (índice de refração X fração molar de acetato de etila). Volume de acetato de etila (mL) Volume de tolueno (mL) Fração molar de acetato de etila índice de refração 10,0 0 8,0 2,0 6,0 4,0 4,0 6,0 2,0 8,0 0 10,0 3.2-DESTILAÇÃO FRACIONADA E SIMPLES NO LABORATÓRIO Você receberá uma solução equimolar de acetato de etila (d = 0,897 g/mL) e tolueno (d = 0,867 g/mL). Meça o índice de refração e reserve o resultado. Após construir a curva de calibração verifique a concentração exata dessa solução. Monte o equipamento de destilação fracionada (conforme a Figura 2) e o equipamento de destilação simples (sem a coluna de fracionamento, conforme a figura 1). Adicione 100mL de solução em dois balões de 250mL. Destile lentamente a solução, de tal modo que a velocidade de destilação seja constante e não mais que uma gota do destilado por 3 segundos. Recolha o destilado em uma proveta graduada. Anote a temperatura inicial de destilação, quando as primeiras gotas do destilado alcançar o condensador. Continue a destilação, anotando a temperatura a cada 10 mL recolhidos do destilado. A cada 10 mL recolhidos separe algumas gotas (cerca de 10) em um frasquinho com tampa e meça o índice de refração. A partir destes dados construa um gráfico, em papel milimetrado, lançando na abscissa o volume do destilado após intervalos de 10 mL e, na ordenada, a temperatura de destilação observada naquele ponto. Faça também um gráfico de composição de acetato na mistura (obtida a partir 23 do índice de refração obtido e da curva de calibração) versus volume recolhido. Anote os valores em uma tabela conforme sugerido a seguir. Tabela 3: Frações obtidas durante a destilação fracionada (ou simples) Fração de destilado faixa de ebulição ( o C) índice de refração fração molar de AcOEt 0-10 mL Aos 0 mL 10-20 mL Aos 10 mL 20-30 mL Etc... 30-40 mL Etc... Para o grupo que trabalhar com a coluna de Snider, adicionar 500mL da solução em um balão de 1L. Recolher frações a cada 30 mL para medir o índice de refração. 4-QUESTIONÁRIO 1- Para que serve e quando se aplica a destilação? 2- Fale sobre destilação a pressão reduzida e quando se aplica esta técnica: 3- Cite duas diferenças básicas entre uma destilação simples e uma fracionada: 4- Cite processos industriais que envolvam a técnica de destilação. 5- Além das pedras porosas cite outras maneiras de se evitar a ebulição tumultuosa durante o aquecimento de líquidos: 6- Como funciona uma coluna de fracionamento? 7- O termômetro adaptado no aparelho de destilação informa a temperatura de qual fase: da líquida ou do vapor? 8- Qual a função do condensador? 9- Sugira uma saída para o seguinte problema: o líquido a ser destilado possui ponto de ebulição muito próximo à temperatura ambiente, e não está condensando no condensador. 10- O que é uma mistura azeotrópica e por que os seus componentes não podem ser separados por destilação? 11- O que é um "prato teórico"? 12- O que é o índice de refração? 13- Explique como se monta, passo a passo, uma curva de calibração de índices de refração para soluções de dois líquidos A e B. 5-BIBLIOGRAFIA: 1. SOARES, B.G.; SOUSA, N.A.; PIRES, D.X. Química orgânica: teoria e técnicas de preparação, purificação e identificação de compostos orgânicos. Rio de Janeiro, Guanabara. 1988. 2. VOGEL, A.I. Química orgânica: análise orgânica qualitativa. 2. ed. Rio de Janeiro Ao Livro Técnico S. A., 1981. V. 1. 24 QUI A17 – Química Orgânica Experimental para Engenharia Química SÍNTESE E PURIFICAÇÃO DO ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (AAS) 1- INTRODUÇÃO O ácido acetilsalicílico (AAS), também conhecido como Aspirina®, é um dos remédios mais populares mundialmente. Milhares de toneladas de AAS são produzidas anualmente, somente nos Estados Unidos. O AAS foi desenvolvido na Alemanha há mais de cem anos por Felix Hoffmann, um pesquisador das indústrias Bayer. Este fármaco de estrutura relativamente simples atua no corpo humano como um poderoso analgésico (alivia a dor), antipirético (reduz a febre) e antiinflamatório. Tem sido empregado também na prevenção de problemas cardiovasculares, devido à sua ação vasodilatadora. Um comprimido de aspirina é composto de aproximadamente 0,32 g de ácido acetilsalicílico. A síntese da aspirina é possível através de uma reação de acetilação do ácido salicílico 1, um composto aromático bifuncional (ou seja, possui dois grupos funcionais: fenol e ácido carboxílico). Apesar de possuir propriedades medicinais similares ao do AAS, o emprego do ácido salicílico como um fármaco é severamente limitado por seus efeitos colaterais, ocasionando severa irritação na mucosa da boca, garganta, e estômago. A reação de acetilação do ácido salicílico 1 ocorre através do ataque nucleofílico do grupo -OH fenólico sobre o carbono carbonílico do anidrido acético 2, seguido de eliminação de ácido acético 3, formado como um sub-produto da reação. É importante notar a utilização de ácido sulfúrico como um catalisador desta reação de esterificação, tornando-a mais rápida e prática do ponto de vista comercial. O OH OH OH O O CH3O 1 2 3 + O OH3C CH3 O O OHH3C H2SO4 + AAS Grande parte das reações químicas realizadas em laboratório necessita de uma etapa posterior para a separação e purificação adequadas do produto sintetizado. A purificação de compostos cristalinos impuros é geralmente feita por cristalização a partir de um solvente ou de misturas de solventes. Esta técnica é conhecida por recristalização, e baseia-se na diferença de solubilidade que pode existir entre um composto cristalino e as impurezas presentes no produto da reação. Um solvente apropriado para a recristalização de uma determinada substância deve preencher os seguintes requisitos: a) Deve proporcionar uma fácil dissolução da substância a altas temperaturas; b) Deve proporcionar pouca solubilidade da substância a baixas temperaturas; c) Deve ser quimicamente inerte (ou seja, não deve reagir com a substância); d) Deve possuir um ponto de ebulição relativamente baixo (para que possa ser facilmente removido da substância recristalizada); e) Deve solubilizar mais facilmente as impurezas que a substância. Uma análise da figura 1 mostra o comportamento de solubilidade de uma substância em 3 solventes diferentes, sendo que o solvente que preenche os requisitos para uma boa cristalização é o solvente A. 25 Figura 1. Gráfico de solubilidade versus temperatura O resfriamento,durante o processo de recristalização, deve ser feito lentamente para que se permita a disposição das moléculas em retículos cristalinos, com formação de cristais grandes e puros. Caso se descubra que a substância é muito solúvel em um dado solvente para permitir uma recristalização satisfatória, mas é insolúvel em um outro, combinações de solventes podem ser empregadas. Os pares de solventes devem ser completamente miscíveis. (exemplos: metanol e água, etanol e clorofórmio, clorofórmio e hexano, etc.). 2- METODOLOGIA O ácido salicílico será preparado neste experimento, através da reação de acetilação do ácido salicílico 1 utilizando-se anidrido acético como agente acilante e ácido sulfúrico como catalisador. A maior impureza no produto final é o próprio ácido salicílico, que pode estar presente devido à acetilação incompleta ou a partir da hidrólise do produto durante o processo de isolamento. Este material é removido durante as várias etapas de purificação e na recristalização do produto. O ácido acetilsalicílico é solúvel em etanol e em água quente, mas pouco solúvel em água fria. Por diferença de solubilidade em um mesmo solvente (ou em misturas de solventes), é possível purificar o ácido acetilsalicílico eficientemente através da técnica de recristalização. 3- PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Recursos necessários: A. Síntese Aparelhagem e vidraria: 1. 01 Erlenmeyer de 125 mL; 2. 01 Batão de vidro; 3. 01Kitazato; 4. 01 Funil de Buchner; 5. 03 tubos de ensaio; 6. Banho Maria. Reagentes: 1. Ácido salicílico; 2. Anidrido acético; 3. Ácido sulfúrico concentrado; 4. Água destilada; 5. Sol. Aq. 1% de FeCl3; Descrição seqüenciada das atividades práticas: Pese 2,0 g (0,015 moles) de ácido salicílico e coloque-o em um erlenmeyer de 125 mL. Adicione 5 mL (0,05 moles) de anidrido acético, seguida por 5 gotas de ácido sulfúrico concentrado (CUIDADO !!!) e agite o frasco lentamente, até que o ácido salicílico dissolva. Aqueça o frasco levemente em um banho de 26 água (40 o C) por pelo menos 10 minutos. Deixe o frasco esfriar à temperatura ambiente, e durante este tempo o ácido acetilsalicílico começará a cristalizar a partir da mistura reacional. Se isto não acontecer, raspe as paredes do erlenmeyer com um bastão de vidro e resfrie a mistura em um banho de gelo até que ocorra a cristalização. Não adicione água até que a formação dos cristais seja completa. Provavelmente, o produto aparecerá como uma massa sólida quando a cristalização for completa. Colete o precipitado por filtração a vácuo em um funil de Büchner até que os cristais estejam secos. Figura 1: Filtração a vácuo, com funil de Büchner. B - PURIFICAÇÃO: Com EtOH/H2O: dissolva o sólido obtido em cerca de 8 mL de álcool etílico, levando a mistura a ebulição. Despeje esta solução em 20 mL de água previamente aquecida. Caso haja formação de precipitado neste ponto, aqueça a mistura até dissolução completa. Deixe esfriar lentamente. Pode-se observar a formação de cristais sob a forma de agulhas. Filtre usando funil de Büchner, seque e determine o ponto de fusão do produto obtido. Calcule o rendimento percentual. Teste de presença de grupo fenol. Em 2 tubos de ensaios contendo 3 mL de água, coloque no 1 o tubo alguns cristais de ácido salicílico, e no 2 o tubo alguns cristais de seu produto de reação. Adicione cerca de 10 gotas de uma solução 1% de FeCl3, a cada tubo e anote a cor. A formação de um complexo ferro-fenol com Fe(III) dá uma coloração que varia de vermelho á violeta, dependendo da concentração do fenol presente. Para determinar se há algum ácido salicílico remanescente em seu produto, realize o procedimento apresentado na tabela abaixo. A formação de um complexo ferro-fenol com Fe (III) fornece uma coloração indo de vermelho à violeta, dependendo da quantidade de fenol presente. Solução de FeCl3 Controle Positivo Controle Negativo Produto Sintetizado cristais de fenol - cristais de AAS 2 mL de Etanol + FeCl3 1% 5 gotas 5 gotas 5 gotas 27 4 - QUESTIONÁRIO 1- Qual é o mecanismo da reação entre o ácido salicílico e o anidrido acético, em meio ácido? 2- O H + atua, na reação de preparação do AAS, como um reagente ou como um catalisador? Justifique sua resposta: 3- Qual o reagente limitante usado nesta experiência? Justifique calculando o número de moles de cada reagente. 4- Ao purificar um composto por recristalização, é aconselhável esfriar a solução lenta ou rapidamente? Explique. 5- Por que é recomendável utilizar-se apenas uma quantidade mínima de solvente na etapa de recristalização e quais critérios deverão ser levados em consideração para que um solvente possa ser empregado neste processo? 6- Na etapa de filtração a vácuo, os cristais formados são lavados com água gelada. Por quê? 7- Três alunos (João, Maria e Ana) formavam uma equipe, na preparação do AAS. Um deles derrubou, acidentalmente, grande quantidade de ácido sulfúrico concentrado no chão do laboratório. Cada um dos três teve uma idéia para resolver o problema: - João sugeriu que jogassem água sobre o ácido; - Maria achou que, para a neutralização do ácido, nada melhor do que se jogar uma solução concentrada de NaOH; - Ana achou conveniente se jogar bicarbonato de sódio em pó sobre o ácido. Qual dos procedimentos seria o mais correto? Explique detalhadamente: 8- O ácido salicílico, quando tratado com excesso de metanol em meio ácido, forma o salicilato de metila (óleo de Wintergreen). Mostre como esta reação ocorre: CONHEÇA MAIS SOBRE O AAS E A ASPIRINA! 1) Journal of Chemical Education 1979, 56, 331. 28 QUI A17 – Química Orgânica Experimental para Engenharia Química EXTRAÇÃO COM SOLVENTES REATIVOS 1- INTRODUÇÃO O processo de extração com solventes é um método simples, empregado na separação e isolamento de substâncias componentes de uma mistura, ou ainda na remoção de impurezas solúveis indesejáveis. Este último processo é geralmente denominado lavagem. A técnica da extração envolve a separação de um composto, presente na forma de uma solução ou suspensão em um determinado solvente, através da agitação com um segundo solvente, no qual o composto orgânico seja mais solúvel e que seja pouco miscível com o solvente que inicialmente contém a substância. Quando as duas fases são líquidos imiscíveis, o método é conhecido como "extração líquido- líquido". Neste tipo de extração o composto estará distribuído entre os dois solventes. O sucesso da separação depende da diferença de solubilidade do composto nos dois solventes. Geralmente, o composto a ser extraído é insolúvel ou parcialmente solúvel num solvente, mas é muito solúvel no outro solvente. A água é usada como um dos solventes na extração líquido-líquido, uma vez que a maioria dos compostos orgânicos é imiscível em água e porque ela dissolve compostos iônicos ou altamente polares. Os solventes mais comuns que são compatíveis com a água na extração de compostos orgânicos são: éter etílico, hexano, tolueno, clorofórmio, acetato de etila, diclorometano e éter de petróleo. Estes solventes são relativamente insolúveis em água e formam, portanto, duas fases distintas. A seleção do solvente dependerá da solubilidade da substância a ser extraída e da facilidade com que o solvente possa ser separado do soluto. Nas extrações com água e um solvente orgânico, a fase da água é chamada "fase aquosa" e a fase do solvente orgânico é chamada "fase orgânica". Para uma extração líquido-líquido, o composto encontra-se dissolvidoem um solvente A e para extraí-lo, emprega-se um outro solvente B, e estes devem ser imiscíveis. A e B são agitados e o composto então se distribui entre os dois solventes de acordo com as respectivas solubilidades. A razão entre as concentrações do soluto em cada solvente é denominada "coeficiente de distribuição ou de partição", (K). Assim: K C C A B (Equação 1) onde: C A = concentração do composto no solvente A (em g/mL); C B = concentração do composto no solvente B (em g/mL). De uma maneira geral, para deduzir a fórmula que expressa o processo de extração, supõe-se que: S = quantidade em gramas do soluto no solvente A; VB = Volume de B (em mL); VA = Volume de A (em mL); X = quantidade, em gramas, do soluto extraído. Assim, depois de uma extração, a concentração de S no solvente A será: C S X V A A (Equação 2) e a concentração em B será dada pela expressão: C X V B B (Equação 3) 29 Uma conseqüência da lei de distribuição é a sua importância prática ao se fazer uma extração. Se um dado volume total VB do solvente for utilizado, pode-se mostrar que é mais eficiente efetuar várias extrações sucessivas (isto é, partilhar o volume VB em n frações), e a isto se denomina "extração múltipla", sendo mais eficiente do que "extração simples". Por exemplo, suponha que uma determinada extração proceda com um coeficiente de distribuição de 10, ou seja, K=10. O sistema consiste de 50 mg de componente orgânico dissolvido em 1,00 mL de água (solvente 1). Nesse caso, a eficácia de 3 extrações de 0,50 mL com éter etílico (solvente 2) é comparada com 1 extração de 1,50 mL do mesmo solvente. Na primeira extração com 0,50 mL, a quantidade extraída na camada de éter é dada pelo cálculo a seguir. A quantidade de componente remanescente na fase aquosa é dada por x. x = 8,3 mg remanescentes na camada aquosa (50,0 – x) = 41,7 mg na camada orgânica (etérea) A segunda extração com uma outra porção de 0,50 mL de éter é realizada na fase aquosa, que agora contém 8,3 mg de soluto. A quantidade de soluto extraída é dada pelo cálculo mostrado abaixo. O cálculo de uma terceira extração com uma outra porção de 0,50 mL de éter também é mostrado a seguir. Essa terceira extração vai transferir 1,2 mg de soluto para uma camada de éter, deixando 0,2 mg de soluto remanescente na camada aquosa. Um total de 49,8 mg de soluto será extraído para as camadas de éter combinadas, e 0,2 mg permanecerão na fase aquosa. x = 1,4 mg em água 6,9 mg em éter x = 0,2 mg em água 1,2 mg em éter Logo abaixo, é mostrado o resultado de uma extração simples com 1,50 mL de éter. Como mostrado, 46,9 mg de soluto foram extraídos para a camada de éter, deixando 3,1 mg do composto na fase aquosa. Nota-se que três sucessivas extrações de 0,50 mL de éter conseguem remover 2,9 mg a mais de soluto de uma fase aquosa do que se empregássemos uma única porção de 1,5 mL de éter. Esse diferencial representa 5,8% do material total. 15,0x = 50,0 – x 16,0x = 50,0 x = 3,1 mg em água 50,0 – x = 46,9 mg em éter Para o desenvolvimento da técnica de extração pode-se usar um solvente extrator que reaja quimicamente com o composto a ser extraído. A técnica de extração por solventes quimicamente ativos depende do uso de um reagente (solvente) que reaja quimicamente com o composto a ser extraído. Está técnica geralmente é empregada para remover pequenas quantidades de impurezas de um composto orgânico ou para separar os componentes de uma mistura. Incluem-se, entre tais solventes, soluções aquosas de hidróxido de sódio, bicarbonato de sódio, ácido clorídrico, etc. 30 Pode-se empregar uma solução aquosa básica para remover um ácido orgânico de sua solução em um solvente orgânico, ou para remover impurezas ácidas presentes num sólido ou líquido insolúvel em água. Esta extração é baseada no fato de que o sal sódico do ácido é solúvel em solução aquosa básica. Da mesma maneira, um composto orgânico básico pode ser removido de sua solução em um solvente orgânico, pelo tratamento com solução aquosa ácida. De uma maneira geral, as extrações podem ser: a) Descontínuas: Consiste em agitar uma solução aquosa com um solvente orgânico num funil de separação, a fim de extrair determinada substância. Agita-se o funil cuidadosamente, inverte-se sua posição e abre-se a torneira, aliviando o excesso de pressão. Fecha-se novamente a torneira e relaxa-se a pressão interna, conforme Figura 1. Repete-se este procedimento algumas vezes. Recoloca-se o funil de separação no suporte, para que a mistura fique em repouso. Quando estiverem formadas duas camadas delineadas, deixa-se escorrer a camada inferior (a de maior densidade) em um frasco receptor (Figura 2). Repete-se a extração usando uma nova porção do solvente extrator. Normalmente não são necessários mais do que três extrações, mas o número exato dependerá do coeficiente de partição da substância que está sendo extraída entre os dois líquidos. Figura 1: Como agitar um funil de separação durante o processo de extração. Figura 2: Separação de duas soluções de líquidos imiscíveis em um funil de separação b) Contínuas: Quando o composto orgânico é mais solúvel em água do que no solvente orgânico (isto é, quando o coeficiente de distribuição entre o solvente orgânico e água é pequeno), são necessárias grandes quantidades de solvente orgânico para se extrair pequenas quantidades da substância. Isto pode ser evitado usando o extrator tipo Soxhlet (Figura 3), aparelho comumente usado para extração contínua com um solvente quente. Neste sistema apenas uma quantidade relativamente pequena de solvente é necessária para uma extração eficiente. 31 A amostra deve ser colocada no cilindro poroso A (confeccionado) de papel filtro resistente, e este, por sua vez, é inserido no tubo interno do aparelho Soxhlet. O aparelho é ajustado na parte inferior a um balão C (contendo um solvente extrator) e n superior a um condensador de refluxo D. A solução é levada à fervura branda. O vapor do solvente sobe pelo tubo E, condensa no condensador D, o solvente condensado cai no cilindro A e lentamente enche o corpo do aparelho. Quando o solvente alcança o topo do tubo F, é sifonado para dentro do balão C, levando consigo a substância extraída do cilindro A. O processo é repetido automaticamente até que a extração se complete. Após algumas horas de extração, o processo é interrompido e a mistura do balão tem o solvente destilado, e o produto de extração obtido de forma eficiente. Figura 3 (ao lado): Um extrator tipo Soxhlet. 2-METODOLOGIA Neste experimento será separada uma mistura de quatro compostos orgânicos: naftaleno, ß- naftol, ácido benzóico e p-nitroanilina, usando solventes reativos. A p-nitroanilina pode ser removida da fase orgânica por extração, com uma solução aquosa de ácido clorídrico, a qual converte a base no seu respectivo sal. O ácido benzóico poderá ser extraído da fase orgânica com adição de solução aquosa de bicarbonato de sódio. O ß-naftol, por ser menos ácido que o ácido benzóico, poderá ser extraído com solução aquosa de hidróxido de sódio. Através da técnica de extração contínua usando extrator tipo Soxhlet, o qual permite o uso do solvente quente, far-se-á a extração da clorofila de folhas verdes de uma planta qualquer (prática demonstrativa). O solvente extrator será o etanol. 3-PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
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