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O vínculo grupal

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São numerosos os estudos sobre os mecanismos ou processos de gru-
pos já constituídos, que têm uma história (mesmo que limitada a algumas
horas, como os grupos de seminários ditos de dinâmica de grupo) e que
tentam formar para si um futuro. São mais raras, no entanto, as análises
dos grupos em estado nascente. Ora, esse problema é capital, pois pode-se,
sem dúvida, fazer constatações e descrições finas da vida dos grupos, mas
não se está à altura de compreender, enquanto não for possível responder
às questões que se seguem, a base sobre a qual são elaborados os princípios
que presidem à instauração de todo grupo e que permanecem decisivos ao
longo de sua história: O que favorece o vínculo grupal? Por que indivíduos
se reúnem e chegam a funcionar como uma comunidade? O que permite
diferençar um simples amontoado de sujeitos de um grupo consciente de
sua existência e de seus valores?
Eu gostaria, então, neste texto, de levantar algumas hipóteses referentes
aos elementos em jogo na formação dos grupos e na perenidade de sua ação.
O primeiro ponto que vou salientar – e que apresenta, à primeira
vista, um caráter de evidência – é a necessidade de um projeto comum.
O projeto comumO projeto comumO projeto comumO projeto comumO projeto comum
Um grupo só se constitui em torno de uma ação a realizar, de um projeto
ou de uma tarefa a cumprir. Todos sabem e reconhecem isso. O que parece, no
entanto, menos evidente são as implicações e as conseqüências de tal axioma.
Um projeto comum significa, de início, que o grupo possui um siste-
ma de valores suficientemente interiorizado pelo conjunto de seus mem-
bros, o que permite dar ao projeto suas características dinâmicas (fazê-lo
passar do estágio de simples plano ao estágio da realização).
Vamos um pouco adiante. Tal sistema de valores, para existir, deve
se apoiar em alguma (ou mais de uma) representação coletiva, em um
imaginário social comum. Por imaginário social entendo que só podemos
O VÍNCULO GRUPAL1
Eugène Enriquez
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
agir quando temos uma certa maneira de nos representar aquilo que
somos, aquilo que queremos vir a ser, aquilo que queremos fazer e
em que tipo de sociedade ou organização desejamos intervir. Para
serem operantes, tais representações devem não só ser intelectual-
mente pensadas, mas afetivamente sentidas. Não se trata unicamen-
te de querer coletivamente; trata-se de sentir coletivamente, de expe-
rimentar a mesma necessidade de transformar um sonho ou uma
fantasia em realidade cotidiana e de se munir dos meios adequados para
conseguir isso.
Mas esse sentimento, motor de nossa conduta, só pode emergir e
ter força de lei quando ligado a um sistema de idealização de nós mes-
mos e de nossa ação. Somente um projeto tido como objeto ideal e so-
mente nós mesmos tidos como seres idealizados (mais puros, mais belos
que os outros) podem ser elementos suficientemente mobilizadores para
fazer-nos sair da apatia ou da simples expressão de nossa boa vontade.
Todo grupo funciona à base da idealização, da ilusão e da crença. A
idealização está presente na elaboração de um projeto comum, pois ela
é o elemento que dá consistência, vigor e “aura” excepcional, tanto ao
projeto quanto a nós mesmos que, a nossos próprios olhos, nos fortifi-
camos (reforçando simultaneamente o eu ideal e o ideal do eu), cor-
rendo esse risco intelectual e social, tentando nos situar a uma altura
que nos parecia antes inatingível. A ilusão deixa igualmente sua marca.
Ela é um dispositivo simbólico que permite a canalização de nossos
desejos, que nos poupa toda interrogação sobre o valor desses desejos
e que fornece uma solução pronta para os possíveis conflitos entre es-
ses.2 Se FREUD criticou tanto a ilusão religiosa é porque, nela, ele via o
protótipo de uma Weltanschauung que tinha a pretensão de dizer a ver-
dade sobre a verdade e de incluir o indivíduo, com uma força particu-
larmente viva, em um sistema de pensamento e em um sistema social
que lhe tiravam toda possibilidade de pensar por si mesmo e de “tra-
balhar” as Condições e as conseqüências de seus comportamentos. Ora,
para que um projeto comum possa verdadeiramente nos mobilizar, cons-
ciente e inconscientemente, é necessário que, num grau maior ou menor,
ele se apresente sob um aspecto religioso, sagrado, inatacável: assim, ele
pode nos atrair, nos inspirar, nos fazer sair de nossa cotidianidade e nos
unir aos outros que partilham da mesma ilusão. Da ilusão à crença, a pas-
sagem é rápida. Um dispositivo simbólico que funciona encobrindo toda
dúvida, todo trabalho de interrogação sobre si, transforma-se logo em um
sistema de crença. Pois o ato de crer permite a certeza e elimina a questão
da verdade. Um grupo que queira fazer alguma coisa deve acreditar nela
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(deve, pois, eliminar toda inquietação relativa aos fundamentos do que
quer realizar), a fim de poder arregimentar toda a sua energia para o
sucesso de seu projeto.
É verdade que algumas distinções finas se impõem aqui. Assim, ide-
alização, ilusão e crença não funcionam de maneira maciça. A crença de
um militante político revolucionário não é assimilável à crença de um
pesquisador no objeto de sua ciência, pois esse não pode escamotear a
questão da verdade. Mas isso não impede que esses três elementos este-
jam presentes, de maneira mais ou menos forte, na formação de todo gru-
po. Embora um grupo, existente há muito tempo, possa perder parte de
suas ilusões, deixando de considerar o que faz como visando ao ideal
mais elevado ao qual pode aspirar e deve se referir, o mesmo não se passa
com um grupo no momento de se instituir, pois esse não pode se estrutu-
rar se algum desses três elementos vier a faltar. Idealização, ilusão e cren-
ça levam-nos à noção de causa a defender. FREUD já pensava que a Psica-
nálise, para se desenvolver, deveria ser defendida como uma causa, à
qual se agarraria com todas as fibras de seu ser (certos psicanalistas atuais
não hesitaram em chamar sua escola de Escola da Causa Freudiana, assi-
milando, abusivamente sem dúvida, suas práticas à da Psicanálise como
um todo). Todo militante político pensa do mesmo jeito. Crê que deve ser
capaz de se sacrificar pela causa que o motiva (a nação, a revolução etc.).
Todo membro de um grupo é, em certa medida, o porta-voz e o guardião
de “alguma coisa” que o ultrapassa e que legitima sua ação e sua vida (os
primeiros psicossociólogos na França diziam, bem à vontade, que eles
exerciam o militantismo psicossociológico). Todo membro de um grupo
sente-se investido de uma missão (mesmo se ele mesmo se designou essa
missão) à qual deve consagrar seu tempo e sua vitalidade. Causa a defen-
der, missão a cumprir, sacrifício da própria vida (às vezes no sentido preci-
so do termo: em certos países, o militante político arrisca, verdadeiramen-
te, sua vida), todos esses termos têm uma ressonância religiosa. E isso não
acontece gratuitamente. Eles assinalam que o projeto pertence a um mun-
do transcendental e sagrado que assegura a seu portador a certeza de
estar com a verdade e de ser tanto mais admirável quanto mais brilhante
for o projeto. Para que um grupo se cristalize e crie seus meios de ação, é
preciso que se refira a um grande propósito que lhe garanta sua onipotên-
cia e que encubra, consequentemente, toda a dúvida sobre os limites de
seu poder, sobre a possibilidade de sua impotência. A causa pode ser
sublime ou irrisória, grandiosa ou pueril, esse não é o problema. Sua
presença é indispensável e as modalidades de seu aparecimento são con-
tingentes e arbitrárias.
O vínculo grupal
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
Um grupo minoritárioUm grupo minoritárioUm grupo minoritárioUm grupo minoritárioUm grupo minoritário
Se o grupo tem uma causa a defender e a promover, isso significa
que ele se pensa, se representae quer se definir como uma minoria atuante.
A maioria não tem jamais uma causa a defender; a causa que ela repre-
senta já triunfou anteriormente, faz parte do bem comum ou se tornou
mesmo um lugar comum. (Pensemos na afirmação da liberdade de todo
cidadão no momento do sobressalto revolucionário de 1789 e no empo-
brecimento desse termo, utilizado nos dias de hoje por todos os partidos
políticos, sem exceção, mesmo pelos mais sedentos de combatê-la). A
maioria tem por objetivo o de bem gerir o patrimônio coletivo e manter
uma ideologia favorável à ordem social que ela instituiu. A maioria não
tem jamais um grande propósito; ela só tem interesses a conservar e uma
organização a consolidar.
Só um grupo minoritário (como os psicanalistas – e FREUD em pri-
meiro lugar –, os primeiros psicossociólogos e numerosos outros exem-
plos), isto é, um grupo que tem a comunicar uma mensagem nova, a procla-
mar uma visão nova do mundo (ou, mais modestamente, de uma profissão
ou de uma disciplina), a manifestar uma conduta desviante em relação às
normas da instituição ou da sociedade, pode ser capaz de se arriscar para
fazer triunfar o que presidiu sua fundação. As idéias novas, nós o sabe-
mos, são o feito de um número muito pequeno de pessoas, algumas vezes
de uma só3 , lutando contra o que IBSEN já denominara “a maioria com-
pacta”, encarnação da ordem estabelecida e das idéias esclerosadas e
enrijecidas. Essas pessoas sabem que, geralmente, têm poucas chances de
serem bem sucedidas e as mais conscientes pressentem que, no caso de
sucesso, são sobretudo os seus discípulos e seguidores que ganharão
com esse avanço. Pouco importa. “A dissidência de um só” (retomando
a bela expressão de MOSCOVICI4 sobre SOLZHENITSYN) pode, pro-
gressivamente, se tornar a dissidência de muitos, propagar-se como uma
mancha de óleo e, talvez mesmo, triunfar. IBSEN acreditava nos que diziam
que “é a minoria que tem sempre razão”. Eu serei menos afirmativo, mas
direi que, caso uma minoria, um dia, queira triunfar, ela deve, imperativa-
mente, acreditar que está com a razão. Do contrário, sua luta não terá
alma nem razão de ser.
Toda minoria tem, pois, vocação majoritária: mas, antes de chegar a
seus fins, ela deve primeiro, para se reforçar, atingir o grau de adesão que
permite aos indivíduos se sentirem, antes de tudo e contra tudo, membros
do grupo. Para isso, só existe um caminho: o do complô contra os valores
instituídos, o da conjuração tramada no segredo e assegurada pela fé
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jurada (juramento que faz de todos os membros do grupo ao mesmo
tempo cúmplices e irmãos), visando não à contestação da ordem exis-
tente, mas à sua transgressão. A contestação, com efeito, tem por objeti-
vo questionar o sistema vigente, desmistificando-o e desmitificando-o,
explicitando o implícito dos comportamentos, tornando claro o “não-
dito” e o “não-pensado” da ordem social. Ela não visa a propor outra
coisa, novas maneiras de ser ou de se conduzir. A transgressão, ao
contrário, não somente interroga de maneira virulenta as instituições
e as condutas estabelecidas, mas propõe novas idéias, maneiras ino-
vadoras de ser. A Psicanálise, por exemplo, não tentou apenas desar-
ticular a antiga ordem psiquiátrica e a visão organicista da doença
mental, mas enunciou uma nova teoria da psique e uma concepção da
cura que coloca os fenômenos transferenciais e contratransferenciais
entre o psicanalista e seu paciente no próprio centro da cura. Assim
fazendo, a transgressão diz não apenas que o saber antigo é obsoleto,
mas que um novo saber apareceu, que as práticas sociais e as repre-
sentações coletivas não apenas não têm mais eficácia, mas também
que práticas sociais novas são possíveis e que representações coleti-
vas renovadas devem guiar a ação.
Tal transgressão só pode ocorrer pela expressão de uma certa violên-
cia. Não se ataca a antiga ordem com um debate cortês, mas pela luta. Luta
empreendida em nome da verdade e da pureza, contra um exterior percebi-
do como tão obscuro, tirânico e conservador que se quer derrubá-lo. Pouco
importa que o ambiente seja menos repressivo do que se pensa, que as
idéias tradicionais tenham um fundo de verdade. Para que a vitória seja
possível, é preciso se definir pela intransigência e pela intolerância, ser
claro como a neve e se sentir irmão dos outros transgressores.
Todo o dispositivo contra o qual se luta é percebido como fortemente
hierarquizado. E na maior parte das vezes ele o é, pois se funda em insti-
tuições sólidas, na cristalização de desejos passados e de poderes estabe-
lecidos. Toda instituição, enquanto elemento da regulação social, visan-
do à repetição, ao idêntico e à reprodução das relações sociais é, sob
certos aspectos, sintoma do trabalho da pulsão de morte (compulsão à
repetição, vista como pulsão agressiva). Ela é o que impede a tomada de
consciência das relações sociais reais e das relações humanas autênticas;
ela é, enfim, a sedimentação das relações de poder e das estratégias que,
no passado, deram certo.
Assim, o grupo vai tentar destruir as instituições. Como essas repre-
sentam a ordem paterna, o falo triunfante ou a mãe arcaica devoradora, o
grupo só pode lhes opor a ordem fraterna e igualitária.
O vínculo grupal
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
FREUD compreendeu isso bem. Não há complô verdadeiro, a não
ser entre irmãos. FREUD, aliás, viu mais longe: ele se deu conta de que é
o complô que torna os indivíduos, a priori estranhos ou rivais entre si,
irmãos uns dos outros.
Se nem todo grupo tem que matar o pai da horda, todo grupo, não
obstante, deve criar um acontecimento irreversível, mediado por uma vi-
olência que substituirá a violência instituída e insuportável aos novos
irmãos, violência fundadora de um novo mundo, permitindo-lhes formar
entre si uma verdadeira comunidade.
 É o ódio ao exterior que vai favorecer o amor fraterno e fazer circular o
fluxo libidinal que permite a passagem dos sentimentos egoístas aos senti-
mentos altruístas. Sem essa vontade de destruição, sem esses sentimentos
de serem perseguidos pelos detentores da ordem antiga, seria impossível
aos indivíduos reunidos trabalharem juntos ou se amarem, isto é, mante-
rem essa confiança recíproca que não apenas os transforma em membros
de um grupo, identificados uns aos outros (tendo trocado sua diferença e
sua provável rivalidade por um amor mútuo e maior semelhança), mas
também favorece a emergência de um narcisismo grupal e evita todo confli-
to interno. Ódio ao exterior, amor mútuo, amor ao grupo enquanto grupo,
sentimento de serem irmãos e de formarem uma comunidade de iguais,
sentimento de serem minoritários e portadores da verdade, são essas as
condições de constituição do vínculo grupal.
O desejo e a identificaçãoO desejo e a identificaçãoO desejo e a identificaçãoO desejo e a identificaçãoO desejo e a identificação
O grupo assim formado vai se encontrar diante de um problema estru-
tural que tentará tratar continuamente, porém sem sucesso. Esse problema
é o do conflito entre o desejo e a identificação ou, em outras palavras, entre
o reconhecimento do desejo e o desejo de reconhecimento.
O reconhecimento do desejo
Em um grupo, cada sujeito procura exprimir seus desejos e fazer
com que os outros os considerem. Ele quer se fazer amado pelo que é ou,
ao menos, não ser rejeitado, conquistar prestígio ou uma certa posição
social e quer realizar o que sente como se fosse a própria essência de
seu ser. Se ele faz parte do grupo, não é só porque quer realizar um
projeto coletivo, mas sobretudo porque pensa que é com essas pessoas
e não com outras, graças a esse imaginário comum e não a outro, que
pode chegar a tornar seu desejo reconhecido em sua originalidade e
em sua especificidade, tornar seus sonhos reais, fazer-se aceito em sua
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diferença irredutível, em seu ser insubstituível. Cada sujeitotentará
então amealhar os outros nas redes de seus próprios desejos, manifestar
no real suas fantasias de onipotência e denegar a castração que é vivida,
nesse caso, como ameaça real e não como elemento da ordem simbólica.
O desejo de reconhecimento ou a identificação
Mas, em um grupo, o sujeito não quer apenas expressar seu próprio
desejo; quer, igualmente, ser reconhecido como um de seus membros.
Aliás, se não o desejasse, não poderia ter sido aceito por seus semelhan-
tes, não teria podido fazer parte da conjuração, estar a par do “segredo”
(um grupo em estado nascente é sempre, em maior ou menor grau, uma
sociedade secreta com seu ritual e seu código). Para que os diversos
membros do grupo se reconheçam entre si, para que possam se amar,
não devem ser muito diferentes uns dos outros. Mais ainda – e aqui
também FREUD nos abre o caminho –, eles devem se identificar uns aos
outros, colocando um mesmo objeto de amor (a causa) no lugar de seu
ideal do eu. Assim, eles se tornarão semelhantes, formarão um verdadeiro
corpo social e não um aglomerado de indivíduos. Essa semelhança bus-
cada, essa igualdade insensata (mesmo quando um sujeito se destaca, ele
apenas é o irmão mais velho e mais experiente) pode resultar na formação
de indivíduos uniformes, homogêneos, inventores de normas rígidas e
profundamente interiorizadas, às quais cada um deverá se submeter. Para
se dar conta de até que ponto uma ideologia vivida conjuntamente pode
dar lugar a uma linguagem hermética e a condutas normalizadas, basta
pensar no aspecto estereotipado das atitudes de certos psicossociólogos
não diretivos ou de psicanalistas “lacanianos”.
De todo jeito, cada sujeito (e cada grupo) será enredado nesse conflito
estrutural entre o reconhecimento do desejo e o desejo de reconhecimento.
Assim sendo, cada grupo terá a tendência a resolver o problema esco-
lhendo uma dessas duas direções.
O grupo, querendo formar uma comunidade, um corpo social com-
pleto, pode caminhar ou na direção de se tornar massamassamassamassamassa ou na direção da
diferenciaçãodiferenciaçãodiferenciaçãodiferenciaçãodiferenciação.
A A A A A MASSAMASSAMASSAMASSAMASSA
Num tal caso, é o desejo de reconhecimento que predomina.
O grupo não tolera a diversidade de condutas e de pensamentos. O
único problema é a mais estrita identificação. Tal perspectiva comporta
cinco séries de conseqüências:
O vínculo grupal
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
1- A falta de diferenças provoca, progressivamente, a degradação
da reflexão e da inventividade, a falta de inovação e, sem que se
perceba, o emprego de uma linguagem de clichês e de uma “ideo-
logia de granito” (Cl. LEFORT).5
2- O grupo completo vai progressivamente se autonomizar e suplantar
seus membros. Assim como, a partir de MARX, sabemos que as mer-
cadorias criadas pelo homem acabam por revestir o aspecto de “se-
res independentes em comunicação com os homens e entre si” e por
tomar a “forma fantástica de uma relação de coisas entre si”, sabe-
mos agora que toda criação humana acaba por se desligar de seus
criadores, tomando as características de um corpo todo-poderoso,
capaz de nos devorar ou de nos englobar totalmente e ao qual deve-
mos necessariamente obediência e submissão. Estamos, então, face
a um grupo “sorvedouro, abismo, sem-fundo”,6 de um grupo onde
dominarão as imagens arcaicas e no qual os comportamentos serão
de tipo pré-edipiano.
3- A compacidade do corpo formado vai, com efeito, despertar as
fantasias mais arcaicas – medos de fragmentação, angústias de
explosão, de devoração e de destruição – que são apanágio de
todo grupo, mas que, em tal caso (como no do indivíduo perfeita-
mente couraçado que vive uma angústia insuportável de brechas),
tomam um vigor particular. Ocorrerão comportamentos regressi-
vos, de tipo defensivo: suspeita mútua, delação, sentimento de
um meio hostil, tentativa de destruição do outro ou de autodes-
truição do grupo, crédito a rumores e às palavras mais aberran-
tes, influência, no grupo, de indivíduos os mais emocionais, se-
não os mais perturbados, predomínio de fenômenos afetivos nas
tomadas de decisão.
4- A semelhança pode, igualmente, desenvolver condutas que, à pri-
meira vista, não parecem defensivas. Ao contrário, o grupo tem o
sentimento de euforia por se constituir como massa, por ser o mais
forte e o mais belo. Aliás, foi antecipando a emergência desse sen-
timento que a comunidade se dirigiu para essa via. Cada qual se
perde na construção do eu ideal do grupo, pensando dar satisfa-
ção ao seu próprio eu ideal. O grupo se torna objeto de todos os
investimentos, narcisismo individual e narcisismo de grupo coin-
cidem. Nenhum conflito intra-individual ou inter-individual pa-
rece possível. O grupo, portador da “verdade” (!), avança cego,
coberto de certezas. Que ele se guarde da desilusão, que será parti-
cularmente dura de suportar.
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5- Se, por acaso, alguns membros do grupo suportam mal essa
situação de massa, chegando ao abandono de toda identidade
pessoal, serão excluídos do grupo, como frouxos ou traidores. Se
aceitaram durante longo tempo o processo de uniformização, en-
contrarão as maiores dificuldades para se reinventar uma nova
identidade e para não reagirem simplesmente como “homens de
ressentimento”.
A A A A A DIFERENCIAÇÃODIFERENCIAÇÃODIFERENCIAÇÃODIFERENCIAÇÃODIFERENCIAÇÃO
Certos grupos admitem, em seu interior, uma diferenciação dos in-
divíduos e uma variedade dos desejos expressos. Se não se trata de ques-
tionar o projeto comum, a concepção que tais grupos têm desse projeto
não apresenta nenhum aspecto monolítico. Todo mundo, ao contrário,
acreditará que um projeto tem tanto mais chance de ser pertinente, eficaz
e de suscitar adesão ou mesmo entusiasmos, quanto mais ele se apresen-
tar como o resultado de discussões finas, de negociações rigorosas, de
argumentações contraditórias. Os membros do grupo são, então, irmãos
em sua capacidade própria de pensar e de agir, cada qual reconhece a
competência do outro (ou de um outro subgrupo) em domínios específi-
cos que utilizam abordagens e técnicas adequadas (assim, em um centro
de jovens inadaptados, a administração, os educadores, o psicólogo e o
psiquiatra poderão trabalhar em conjunto e não um contra o outro). A
tolerância existe, mesmo se as posições de cada um são defendidas com
clareza e determinação.
No entanto, como a cooperação idílica não existe mas, ao contrário,
todo mundo concorda com a idéia de que a cooperação nasce da expres-
são e do tratamento de conflitos, é possível e mesmo provável que o grupo
viva momentos de desacordos e tensões que podem mesmo atingir, em
certos momentos, “níveis insuportáveis” (FREUD). Teme-se mesmo que o
grupo se desagregue em subgrupos ou em partidos, cada qual acreditando
deter a verdade, orgulhoso de suas prerrogativas e seguro de estar no bom
caminho. A aceitação do conflito institucional como modo normal de regu-
lação do grupo pode acarretar, então, uma maximização das contradições
e pode orientar a maior parte da energia do grupo para a resolução desses
conflitos. Em tal caso, o grupo acabará por esquecer o seu projeto e passa-
rá a maior parte de seu tempo tentando analisar e compreender o que se
passa. A vontade operatória desaparecerá para dar lugar a uma expres-
são afetiva superabundante. O grupo se centrará em si mesmo. No limite,
ele esquecerá os objetivos que deve perseguir. (Assim, em um seminário
para diretores de um centro de jovens inadaptados, tive a surpresa de
O vínculo grupal
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
constatar que esses diretores tratavam apenas de problemas da orga-
nização de seus centros, de suas relações com o conselho de adminis-
tração e da amplitude de seus poderes. Nesse caso, as grandes ausen-
tes de seus discursos eram as crianças de quem se encarregavam.
Entretanto,enquanto professor, eu deveria ter ficado menos surpreso.
É raro ouvir professores falarem de estudantes; é freqüente, ao contrá-
rio, vê-los reclamar da perda de tempo ocasionada por eles). Quando o
grupo não consegue resolver seus problemas, será tentado a achar um
bode expiatório. Essa vítima pode ser alguém que não é de modo al-
gum responsável pela situação atual ou a pessoa que se revela mais
frágil e, por isso, a única que o grupo pode sacrificar levianamente no
altar de seus problemas, pois ninguém tem medo de fazê-lo e cada
qual pode exteriorizar sua agressividade, com toda impunidade e sem
temer medidas de retaliação.
Para não chegar a esse ponto, os grupos que admitem a diferenciação
e que querem se gerir de maneira democrática, acabam por reconhecer em
um de seus membros um poder que vem de sua experiência, uma influên-
cia que vem do domínio das idéias, investindo-o então como chefe capaz
de encarnar a vontade e os desejos do grupo. Esse, assim transformado, se
torna um grupo edipiano, no qual a referência ao novo pai e a seus ideais
se tornará o elemento essencial que permite a identificação mútua e a
coesão do conjunto. Um super-eu coletivo surgirá e o chefe será seu porta-
voz e seu guardião. O que em política se chamou “culto da personalida-
de” ou, nos países ocidentais, “personalização do poder”, e no domínio
da Psicossociologia conhecemos como liderança, encontra aqui sua ra-
zão de ser e seu campo de aplicação. Em qualquer caso, os processos de
grupo girarão em torno da pessoa central, aquela que é considerada como
tendo e sendo o falo.
Fenômenos regressivos do tipo submissão, repetição da palavra do
mestre, crença cega no caráter de verdade daquilo que ele disse, rivalida-
de entre os discípulos para serem o eleito do mestre, tentativas escusas de
fazê-lo cair de seu pedestal, novos complôs para tentar tomar o seu lugar
ou para ridicularizar seus atos, tudo isso corre o risco de aflorar e de
monopolizar uma grande parte das capacidades do grupo.
A paranóia nos gruposA paranóia nos gruposA paranóia nos gruposA paranóia nos gruposA paranóia nos grupos
De acordo com cada caso, os grupos serão então do tipo pré-edipiano
ou do tipo edipiano, insistirão na uniformidade ou na diferenciação (o
momento final dessa consistindo na restauração de um líder, mestre do
pensamento e da ação).
7 17 17 17 17 1
Mas, de todo modo, sendo bem sucedidos ou não, os grupos não
podem se esquivar, como já constatamos, dos processos paranóicos que
os atravessam constantemente.
Com efeito, o grupo minoritário que, para existir, impôs a seus mem-
bros que investissem libidinalmente nele e também uns nos outros, tende
a desenvolver relações fortemente erotizadas entre seus membros e a fazer
emergir um discurso passional. A situação minoritária obriga os indiví-
duos a se sentirem solidários e a se amarem, mas também a se defenderem
contra o exterior e a se entre-devorarem.
Uma tal paixão tem pesadas conseqüências. Os membros do grupo
podem indagar se alguns dentre eles jogam bem o jogo do amor, rendem-
se ao discurso de amor proferido pelo chefe ou ao discurso de amor co-
mum; podem, igualmente, querer estabelecer vínculos privilegiados com
outros membros, para afirmar a primazia de sua posição fálica. Correntes
de amor e de ódio percorrem o grupo. O problema não é mais saber o que
devemos fazer juntos, mas quem são os amados e os rejeitados, os discí-
pulos eleitos e os indivíduos excluídos, as pessoas conformistas e os
traidores potenciais; é o de saber se nos amamos bastante (se amamos
bastante o grupo), se somos suficientemente amados, se nós nos damos
muito ou nem tanto ao grupo, se alguns se aproveitam da situação refre-
ando seu amor.
Essas questões não podem ser elucidadas, pois um grupo minoritá-
rio, em sua vontade de mudar a ordem na qual intervém, só pode ter
sucesso em sua tarefa se estiver possuído por uma fantasia de onipotên-
cia. Ora, se os indivíduos não se entregam ao jogo ou o revertem a seu
favor, o grupo corre o risco do fracasso. Assim, do mesmo modo que estão
condenados à crença, os membros do grupo estão condenados ao amor.
Correlativamente, eles estão também condenados à suspeita contínua e
aberta. O amor desemboca no ódio, a fantasia de onipotência desemboca
no sentimento de ser perseguido por inimigos exteriores (pela maioria
compacta) e também por inimigos internos que utilizam o fluxo de amor
em função de sua grande glória. A tentação paranóica está pois sempre
presente e acompanha o processo libidinal, transformado muitas vezes
em processo de erotização. Se o grupo é bem sucedido, isto é, se conse-
gue impor os seus ideais ou transformar, em maior ou menor grau, o
campo social, tornar-se majoritário, inscrever seu sonho na realidade,
ele não pode mais duvidar de estar com a verdade. Os raros inimigos que
lhe restam serão perseguidos tanto mais duramente quanto mais tive-
rem se recusado a se submeter à nova lei, a única digna de ser respeitada.
E não serão só os inimigos que serão perseguidos, mas também os fracos,
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os indiferentes, os marginais, assim como todos aqueles que dão testemu-
nho de outra possível verdade ou de um sentido que não é o sentido do
grupo triunfante, mas outro que está ainda para ser encontrado.
Muitos observadores se espantam, por exemplo, com o fato de uma
revolução devorar seus próprios filhos. Com efeito, é o contrário que
seria de espantar, pois o triunfo revolucionário deverá ser sustentado,
havendo sempre os frouxos e os traidores em potencial (se esses não
existirem, serão inventados segundo as necessidades e, além disso, qual-
quer um é sempre o frouxo ou o traidor para alguém ou para alguma
facção). Quem não se enquadra no discurso de amor comum deve se
submeter ou desaparecer.
Se, de outro lado, o grupo fracassa, isto é, se ele não provoca impacto
social, se seu ideal parece ridículo e sem interesse para os outros, ele vai
procurar as causas de seu fracasso. E elas não são difíceis de encontrar:
são os inimigos exteriores que fecharam as portas para a vitória e são os
inimigos internos que sabotaram os esforços comuns. O grupo é incapaz
de se interrogar sobre as verdadeiras raízes de seu fracasso. Para ele só
existem os perseguidores ativos ou potenciais. Ele os acossará interna-
mente e agirá ruidosamente no exterior, para dizer que ele ainda subsiste.
De fato, esse canto de morte nada mais é que um canto de cisne e sintoma
de sua decomposição lenta e inevitável.
É preciso, no entanto, deixar claro: A paranóia é constitutiva de todo
grupo, mas ela não atua com a mesma intensidade em todos eles. Ela
representa uma tentação constante, mas não é um resultado inelutável.
Para tratar esse elemento constitutivo e desativar sua estrutura mor-
tífera, psicanalistas e psicólogos pregam habitualmente a necessidade de
uma análise aprofundada e de uma regulação do grupo, em sessões con-
duzidas por um analista interno ou externo.
Eu não quereria desacreditar o interesse de tal trabalho, mas gostaria
de sublinhar que ele não é uma panacéia, particularmente quando o gru-
po é composto por pessoas (psicólogos, psiquiatras, educadores, traba-
lhadores sociais) habituadas a se interrogar sobre suas motivações e que
acreditam ter uma certa proximidade com seu inconsciente. Com efeito,
em um processo de análise:
1- Confia-se na linguagem (como na cura analítica) para esclarecer
os problemas.
Ora, o organizador do grupo, isto é, o elemento em torno do qual o
grupo se constitui, é a ação (o projeto comum) e não a linguagem.
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Nessas sessões trabalha-se com a hipótese de que a linguagem e
a ação são forçosamente complementares e que, assim, a lingua-
gem (a análise) pode e deve acompanhar a ação. De fato, isso
seria amenizar as funções e o alcance de uma análise. A análise
pode dar um sentido maspode também desarticular. Na própria
medida em que ela interpela os processos de idealização, de cren-
ça e de ilusão, ela pode atacar o fundamento mesmo do grupo e
abalar as certezas mais enraizadas. Ela pode levar à dissolução
do grupo, quando esse perde os motivos para se apegar a um
projeto que não reforça mais o narcisismo individual e coletivo.
Além disso, em muitas circunstâncias, serão feitas análises su-
perficiais, os problemas serão evocados sem serem tratados a fun-
do, as pessoas se entregarão a descargas emocionais. Ficar-se-á
perplexo ao constatar que, de maneira recorrente, o grupo levan-
tará as mesmas questões durante anos, sem jamais chegar ao me-
nor esboço de solução. Deveríamos, no entanto, ter em conta que
o grupo não se suicida facilmente e que retira benefícios conside-
ráveis do mal que pensa sofrer. Viver na angústia e na violência é
se sentir viver, tendo a possibilidade de exprimir seu poder e
seus sentimentos, arriscar-se a ser amado. Isso não é sem impor-
tância e os grupos freqüentemente preferem viver dolorosamente,
às custas do mal que nutrem com gosto, ao invés de tentarem o
inferno de uma elucidação radical, que se traduziria em uma
erradicação ainda mais radical.
2- A tomada de consciência é tida como um elemento central da regu-
lação e da capacidade de mudança do grupo.
Aí também há muita ilusão. Muitos atos e condutas só ganharão
sentido muito tempo depois, quando não mais for possível fazer o
que quer que seja para evitar suas conseqüências. Outras vezes,
não será possível tomar consciência do todo (o sentido permanece-
rá para sempre velado), pois a tomada de consciência levaria a
tamanhos perigos que tudo concorre para impedi-la.
Se, em certos casos, a tomada de consciência se produz, ela pode
agir como função de desconhecimento e obscurecer os problemas,
em vez de favorecer o seu esclarecimento. FREUD disse isso, há
muito tempo atrás, e o disse muito bem. É importante não nos es-
quecermos.
O grupo corre pois o risco de fazer a análise pelo prazer da análise,
para adquirir uma competência interpretativa ou para se atribuir
uma consciência boa.
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Nada resta então a fazer? Há ainda algo a se fazer, mas é preciso
não querer ir muito longe; um grupo deve reconhecer e trabalhar
suas clivagens, seus antagonismos, suas relações de poder, suas
angústias e, ao mesmo tempo, se dar conta de que tal tarefa é limi-
tada, pois aquilo que ele trabalha é a própria razão de sua existên-
cia. A elucidação do grupo por ele mesmo é uma exigência que não
pode ser, em caso algum, uma solução. Acreditar nela é ir em dire-
ção a novas decepções e ressuscitar a ilusão, lá mesmo onde se
havia pensado vê-la desaparecer.
Notas
1 Traduzido de: ENRIQUEZ, Eugène. “Le lien groupal”. Bulletin de Psychologie. Tomo
XXXVI, no 360, p. 631-637, 1983, por José Newton Garcia de Araújo.
2 Cf. J. B. PONTALIS. “L’illusion mantenue”. Nouvelle Revue de Psychanalyse, n. 4.
3 FREUD podia escrever com orgulho: “A Psicanálise é minha criação. Por dez anos,
fui o único a me ocupar dela e, por dez anos, foi sobre minha cabeça que se
abateram as críticas pelas quais os contemporâneos expressaram seu descontenta-
mento e seu mau humor em relação à Psicanálise.” (FREUD, S. Ma vie et la psycha-
nalyse. Gallimard).
4 MOSCOVICI, S. Psychologie des minorités actives. P.U.F.
5 LEFORT, C. Um homme en trop. Seuil.
6 Segundo os termos de C. CASTORIADIS.

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