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Sociologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Vivian Fiori Revisão Textual: Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea • Introdução • O Positivismo de Auguste Comte • Émile Durkheim e os Fatos Sociais • Karl Marx e Friedrich Engels • Max Weber e a Ação Social • A Sociologia Contemporânea · Analisar algumas teorias clássicas e contemporâneas sobre Sociologia. · Discutir alguns teóricos e suas obras sobre questões sociais e sua rela- ção com aspectos da ideologia, da política, da economia e da cultura. OBJETIVO DE APRENDIZADO Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea Introdução A Sociologia, assim como outras Ciências Humanas, passou por transformações, desenvolvendo-se como campo de conhecimento mediante obras de diferentes autores, proporcionando novas maneiras de ler e compreender a sociedade. Nesta unidade, vamos tratar um pouco de alguns autores que tiveram im- portância para os estudos da Sociologia, suas ideias, conceitos e concepções teórico-metodológicas. O Positivismo de Auguste Comte Auguste Comte (1798-1857) é considerado por muitos como o formulador e pai da Sociologia, por ter sistematizado esse conhecimento sobre a sociedade, propondo um método para analisá-la. Formado em Física, Comte procurou estudar a sociedade com objetividade e rigor metodológico, utilizando o método que ficou conhecido como positivismo. O positivismo é um método, uma forma de compreender, analisar e explicar a realidade. O termo foi cunhado por Saint Simon, mas um dos precursores e principais autores do positivismo é Auguste Comte, que escreveu a obra “Curso de Filosofia Positiva”. Figura 1 – August Comte “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim” Fonte: Wikimedia Commons Sua proposta de método não era específica da Sociologia, mas, segundo a sua concepção, o positivismo serviria para analisar todas as ciências, fossem elas humanas, naturais ou físicas. O positivismo influenciou várias ciências e baseava-se principalmente na concepção de que, qualquer que seja a ciência, é fundamental o estudo a partir da aparência dos fenômenos. Por meio da aparência e da observação do pesquisador, chega-se à explicação da realidade, podendo, ainda, mediante essa observação e interpretação, realizar classificações. 8 9 O progresso do espírito humano, em relação ao conhecimento, para Auguste Comte, passaria por três fases, a saber: · A primeira, um estado teológico, no qual o homem procurava explicar a realidade através das crenças e religiões. Para o autor, nessa fase, havia três etapas também: primeiro o fetichismo; depois o politeísmo, com a crença em vários deuses e, por fim, o monoteísmo com a crença em apenas um Deus; · Numa segunda etapa de evolução, o homem, por meio da concepção filosófica chamada metafísica, procura explicar a natureza íntima das coisas, sua origem e destinos últimos, bem como a maneira pela qual são produzidas, mas, para o autor, a metafísica ficava muito distante da realidade, questionando o mundo, sem, no entanto, ter respostas que explicariam a sua existência. · Por isso o autor propõe que o conhecimento chegue ao terceiro estágio, chamado por ele de “estado positivo”, de onde vem o nome positivismo. Portanto, no estado positivo é fundamental subordinar a imaginação mediante a argumentação e observação. A observação dos fenômenos, neste caso, para o autor, é essencial. Conforme afirma Auguste Comte: A visão positiva dos fatos abandona a consideração das causas dos fenômenos (procedimento teológico ou metafísico e torna-se pesquisa de suas leis; entendidos como relações constantes entre fenômenos observáveis Este sentido lembra a tendência constante do verdadeiro espírito filosófico a obter em toda parte o grau de precisão compatível com a natureza dos fenômenos e conforme as exigências de nossas verdadeiras necessidades; enquanto a antiga maneira de filosofar conduzia necessariamente a opiniões vagas, comportando apenas a indispensável disciplina, baseada numa repressão permanente e apoiada numa autoridade sobrenatural. (COMTE, 1978, p. 62) Dessa forma, aquilo que se observa é passível de ser descrito, obtendo valor científico para o positivismo. A aparência dos fenômenos é essencial, pois só pode ser descrito aquilo que todos podem ver, mas, para ir além do senso comum, neste caso, é necessário fundamentar-se por uma teoria, que se distancie de práticas metafísicas. É necessário ser objetivo, positivo! Comte era ligado aos interesses do Estado Nacional, do liberalismo capitalista, daí sua concepção de Sociologia – da ordem e progresso. A moral deveria estar presente na política e na economia da sociedade para se alcançar a ordem e o progresso. Era necessário, segundo ele, buscar a “ordem e o equilíbrio social” por meio do conhecimento científico – um sistema cuja ordem imitaria a própria natureza. 9 UNIDADE Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea Como explica a pesquisadora sobre o autor e a questão da moral: Na política, a moral despertaria nos súditos sentimentos de obediência e sujeição e, nos governadores, responsabilidade no exercício da autoridade. Na economia, a moral tornaria os ricos perfeitos administradores de seus bens e os pobres satisfeitos com sua posição social, e todos colaborarias “para a prosperidade, grandeza e realização da humanidade”. (CHINAZZO, 2013, p. 106) Observe que a tal ordem dependeria dos mais pobres aceitarem sua condição social e serem obedientes. Daí o apoio explícito do autor ao governo da época e ao liberalismo econômico. Auguste Comte Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1857), conhecido como Auguste Comte nasceu em Montpellier, na França. Foi um filósofo, e é considerado o fundador da Sociologia e um dos principais autores do positivismo.O positivismo influenciou várias ciências e baseava-se principalmente na concepção de que, qualquer que seja a ciência, é fundamental o estudo a partir da aparência dos fenômenos. Por meio da aparência e da observação do pesquisador, chega-se à explicação da realidade, podendo, ainda, mediante essa observação e interpretação, realizar classificações. Assim, no positivismo, parte-se do princípio que o conhecimento tem de ter uma base objetiva, fundada a partir da observação e de uma teoria que possa explicá-la. Neste sentido a observação e descrição tornam-se seus principais procedimentos metodológicos. Ex pl or Embora tenha se tornado referência para várias ciências e importante para a sistematização da Sociologia, vários autores criticam o método positivista e a visão do autor sobre a sociedade. A principal crítica a Comte é que, para ele, a sociedade evoluía de forma mecânica e natural, saindo de uma situação inicial e evoluindo como num processo natural, consistindo, portanto, numa “naturalização” das estruturas sociais vigentes. Conforme explica Comte sobre a Sociologia, chamada por ele inicialmente de Física Social: Entendo por física social a ciência que tem como projeto próprio o estudo dos fenômenos sociais, considerados com o mesmo espírito que os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, isto é, como submetidos a leis naturais invariáveis, cuja descoberta é o objetivo especial das suas investigações. Assim, propõe-se explicar diretamente com a máxima precisão possível, o grande fenômeno do desenvolvimento da espécie humana visto sob todas as suas partes essenciais; isto é, descobrir através de que encadeado necessário de transformações sucessivas é que o gênero humano partindo de um estado ligeiramente superior aos das sociedades dos grandes símios foi gradualmente conduzido ao ponto onde hoje se encontra na Europa civilizada. (COMTE apud CHINAZZO, 2013, p. 105) 10 11 Nesta citação do próprio autor, observa-se que ele compara a Sociologia com as outras ciências físicas e naturais, bem como coloca que o homem evoluiu chegando até a civilização europeia. A concepção de Comte é que a sociedade é regulada por leis naturais, assim como os fenômenos da natureza- da Física, da Química etc. Essa visão foi muito criticada por diferentes pesquisadores, pois o homem é um ser que, em princípio, tem consciência, cultura, pensa, tem discernimento, diferentemente dos aspectos físicos e naturais. Por isso, comparar a sociedade a uma ordem natural não é adequado, assim como a comparação de estágios de evolução, como se as sociedades mais simples fossem mais atrasadas do que a europeia. Émile Durkheim e os Fatos Sociais Émile Durkheim (1858 – 1917), francês, foi um importante autor para a elaboração de teorias das Ciências Sociais, por isso para alguns pesquisadores é o principal expoente da sistematização da Sociologia e sua relação com o meio acadêmico, pois foi professor de Sociologia. Suas obras “As Regras do Método Sociológico” e “Divisão do Trabalho Social” foram fundamentais para trazer à tona as questões sociais mediante abordagem teórica e acadêmica. Segundo este autor, o objeto de estudo da Sociologia seriam os “fatos sociais”, que de acordo com esta teoria não partem da vontade do indivíduo, mas sim da sociedade. Quando nascemos, já existem normas sociais que ajudam a nos conduzir. Essas normas foram criadas e elaboradas ao longo do tempo por uma determinada sociedade. Assim, os fatos sociais podem ser um hábito social; o conjunto das leis; o sistema monetário; as religiões; as normas em geral. Esses fatos sociais criam uma consciência coletiva sobre como agir em sociedade, já que de forma coercitiva os fatos chegam ao indivíduo por meio das normas que a sociedade impõe a todos. Como afirma Durkeheim: Isso é sobretudo evidente nas crenças e práticas que nos são transmitidas inteiramente prontas pelas gerações anteriores; recebemo-las e adotamo- las porque, sendo ao mesmo tempo uma obra coletiva e uma obra secular, elas estão investidas de uma particular autoridade que a educação nos ensinou a reconhecer e a respeitar. Ora, cumpre assinalar que a imensa maioria dos fenômenos sociais nos chega dessa forma. Mas, ainda que se deva, em parte, à nossa colaboração direta, o fato social é da mesma natureza. Um sentimento coletivo que irrompe numa assembleia não exprime simplesmente o que havia de comum entre todos os sentimentos individuais. Ele é algo completamente distinto, conforme mostramos. (DURKHEIM, 2007, p. 9) Como mostra sua afirmação, por meio de nossa vivência diária e da educação, as pessoas aprendem e são influenciadas pela sociedade onde vivem. 11 UNIDADE Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea Para o autor, cada um tem um papel a desempenhar na sociedade, uma função, levando ao conceito de “divisão do trabalho social” no qual, segundo sua visão, todos têm direitos e deveres, e deve-se buscar a solidariedade social orgânica, no qual todos busquem em sua função manter o todo, para o avanço de toda a sociedade. Karl Marx e Friedrich Engels Se, para o positivismo, a nova sociedade capitalista precisava de ordem social para progredir, na visão de Marx e Engels, tal ordem capitalista precisava ser contestada e analisada pormenorizadamente. Com a obra de 1848 “Manifesto do Partido Comunista” e o “Capital”, Marx e Engels lançaram luz sobre a questão do capitalismo e do modo de produção capitalista, criando uma teoria que ficou conhecida como marxismo. Figura 2 – Karl Marx e Friedrich Engels Fonte: Wikimedia Commons Para esta análise, os autores propõem o uso do método denominado de ma- terialismo histórico e dialético, buscando entender a sociedade como processo histórico, que vai sendo construído com inúmeras contradições. Para a lógica dialética, existe um processo que é sempre um ir e vir, uma luta de forças opostas de diferentes formas e níveis de poder. Alguns autores são considerados importantes por terem discutido este método, entre eles, Friedrich Hegel, Karl Marx e Friedrich Engels, Henri Lefebvre e Jean Paul Sartre – ainda que com algumas premissas diferentes. Marx e Engels propõem a necessidade de tratar o homem em sua vida real, envolvido em processos da existência real, da sua forma de vida, de seu trabalho. Consequentemente, a busca deste homem concreto é fundamental no entendimento deste discurso. Os autores explicam: 12 13 [...] partimos dos homens em sua atividade real, é a partir de seu processo de vida real que representamos também o desenvolvimento dos reflexos e das repercussões ideológicas desse processo vital. (MARX; ENGELS, 2002, p. 19) Marx, sobretudo com o conjunto de livros conhecido como “O Capital”, busca explicar o funcionamento da economia no modo de produção capitalista, no sistema produtor de mercadorias, evidenciando como a sociedade industrial gerou enormes desigualdades, exploração do trabalho e criou especificidades nas formas de trabalho. Afrânio Mendes Catani explica o que seria o modo de produção capitalista: Por meio de produção entende-se tanto o modo pelo qual os meios necessários à produção são apropriados, quanto as relações que se estabelecem entre os homens a partir de suas vinculações ao processo de produção. Por esta perspectiva, capitalismo significa não apenas um sistema de produção de mercadorias, como também um determinado sistema no qual a força de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca. (CATANI, 1995, p. 8) A proposta de Marx preconiza que o homem deve ser estudado, em sua organização social, pelas formas de trabalho, dos meios de produção – no caso da sociedade contemporânea, como parte do sistema capitalista e suas formas de relações sociais. Por meio dos modos de produção seriapossível desvendar as características de uma sociedade. No caso do capitalismo, uma sociedade cuja base seria a luta de classes – a burguesia (donos dos meios de produção) e o proletariado (operários), sendo que a existência das classes sociais tem relação intrínseca com a propriedade privada. Max Weber e a Ação Social Max Weber, sociólogo alemão, é considerado um importante pensador do final do século XIX que fez várias contribuições para estudos da sociedade, caso da relação entre religião e organização social, burocracia, estrutura social. O período em que viveu Max Weber foi de intensas transformações na Alemanha e na Europa, com a unificação e criação do Estado da Alemanha (1871), pela transição tardia da Alemanha no processo de colonização e industrialização. Alguns de seus trabalhos versaram sobre a relação da religião com a ética do trabalho e da economia. Tratou das religiões e filosóficas asiáticas – caso do confucionismo na China – bem como da ética protestante e sua relação com o capitalismo, seu trabalho mais conhecido. 13 UNIDADE Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea A Ética Protestante A obra de Max Weber (1864-1920) “A ética protestante e o espírito do capitalismo” re- trata a existência de um comportamento ético acerca da acumulação de riquezas. Esse modo de pensar, de acordo com o autor, teria surgido juntamente com a propagação do protestan- tismo, nas nações anglo-saxônicas e do norte da Europa. Para Weber, a economia tradicional encarava o trabalho apenas como um fator necessário para sobrevivência, e não como valor em si. Já a “ética protestante” considera que a recom- pensa material será dada àqueles que tiverem méritos durante sua existência, ou seja, que tenham trabalhado arduamente para obter êxito. Esta visão, segundo o autor, favoreceu o desenvolvimento do sistema capitalista, já que a riqueza passou a ser considerada fruto do trabalho, ou seja, os méritos do trabalho árduo e da dedicação levam à prosperidade do indivíduo. O objetivo da Sociologia para Weber é a compreensão da ação social em- preendida pelos agentes sociais. Tais ações sociais devem ter um sentido (não no aspecto de ser bom ou ruim), podendo ter uma racionalidade, ou ser feita motivada por uma emoção (ação afetiva), pela tradição (dos costumes sociais), entre outros, evidenciando as causas e as consequências dessa ação. Por exemplo, uma empresa demite um funcionário. Tal ação social é realizada no sentido da racionalidade econômica e administrativa do agente social (neste caso, o empresário); mas, de outro lado, os efeitos disso na vida do empregado quais serão? Para Weber, o sociólogo ou cientista social deve buscar compreender as ações sociais produzidas pela ação humana, buscando identificar as instâncias que promovem tal ação, sejam políticas, econômicas ou religiosas, verificando os motivos e os efeitos da ação. Nem sempre os efeitos são os esperados pelo agente social que dá início à ação, daí a importância do cientista social em estudar estas relações. Em relação à forma que um cientista social deve estudar, Weber comenta: A ciência social que nós pretendemos praticar é uma ciência da realidade. Procuramos compreender a realidade da vida que nos rodeia e na qual encontramos situados naquilo que tem de específico; por um lado, as conexões e a significação cultural das suas diversas manifestações na sua configuração atual e, por outro lado, as causas pelas quais se desenvolvei historicamente assim e não de outro modo. [...] Não há qualquer dúvida de que o ponto de partida do interesse pelas ciências sociais reside na configuração real e portanto individual da vida sociocultural que nos rodeia. (WEBER, 1999, p. 90) 14 15 Logo, para o autor, é a partir da realidade vivida na sociedade que as Ciências Sociais devem buscar desvendar as ações sociais. Já as relações sociais são situações compartilhadas por várias pessoas ao mesmo tempo, estabelecendo esta relação. A Sociologia Contemporânea A seguir, vamos delinear dois grupos de pensadores considerados contemporâ- neos, que formaram escolas ou correntes das Ciências Sociais: a Escola de Chicago e a Escola de Frankfurt. A Escola de Chicago foi um movimento de professores da Universidade de Chicago, formado especialmente por sociólogos apoiados pelo magnata Rockfeller, que realizaram pesquisas sobre o espaço urbano nas cidades americanas, nas décadas de 1910 e 1920. É importante contextualizar que os EUA, no final do século XIX e começo do XX, receberam inúmeros imigrantes de diferentes nacionalidades – muitos pobres moradores de cortiços que vinham tentar uma vida melhor nos EUA. Havia problemas de gangues – cujos grupos em geral eram formados por imigrantes, assim como problemas de moradia e a formação de comunidades segregadas. Isso ocorreu também em Chicago, cidade industrializada do Meio-Norte dos EUA, onde o grupo criou essas pesquisas. Figura 3 – Os homens desempregados enfi leiraram fora de uma cozinha da sopa da depressão aberta em Chicago – Por Al Capone, 1931 Fonte: Wikimedia Commons 15 UNIDADE Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea Tornaram-se estudos de fenômenos sociológicos urbanos, da marginalidade urbana, dos problemas de moradia, da imigração, da segregação social. Escola de Chicago A Escola de Chicago surge nos Estados Unidos, no Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago, fundada por Albion W. Small em 1910. O surgimento dessa escola tem ligação direta com a expansão urbana e demográfica que a cidade de Chicago sofria como resposta ao desenvolvimento industrial que era alvo. Assim, foram surgindo fenômenos sociais urbanos novos que acabaram se tornando objeto de pesquisa dos sociólogos da Escola de Chicago. Esses estudos, acerca dos novos problemas sociais emergentes, estimularam a construção de um arcabouço teórico-conceitual inédito, além da inauguração de novos métodos de investigação sociológica. [...] Robert Ezra Park, um dos fundadores da Escola de Chicago e autor de “A Cidade: Sugestões para a investigação do comportamento humano”, publicado em 1916, foi aluno de Simmel enquanto esteve na Europa. Afirmava ser fundamental uma pesquisa voltada para o urbano para que surgissem respostas que ajudariam a compreender melhor a cidade e os seus problemas. A cidade, na visão de Park, tem aspectos técnicos e dimensões morais que influenciam os seus habitantes. Park estuda a cidade a partir de uma Ecologia Humana, que leva em consideração os indivíduos inseridos no seu meio social urbano e busca compreender qual relação o espaço físico e as relações sociais mantêm com o modo e estilo de vida dos indivíduos. A cidade passa, assim, a ser vista como um laboratório social, e as análises sociológicas da cidade, levantamento de dados e informações sobre os modos de vida urbana se dão pelo método empírico de fazer pesquisa. Ex pl or Fonte: Trecho literal extraído de SANTOS, Thaís Dias Luz Borges. A abordagem do fenômeno urbano na Escola de Chicago. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. https://goo.gl/BlJmxA Já a chamada “Escola de Frankfurt” era formada por um grupo de pensadores sociais alemães, que no início do século XX criou uma teoria crítica da sociedade. Entre outros, este grupo de autores era formado por Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse e Walter Benjamim. Para esses autores, a ciência não era neutra, e havia uma massificação, realizada principalmente pela indústria cultural, que ampliava a alienação do homem. O período em que viveram no começo do século XX passou pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945), pelo nazismo na Alemanha, onde a propaganda estatal do governo Hitler ajudou a disseminar a cultura do nazismo. Vieram num período pós-guerra de transformaçõessociais, políticas e econômicas na Europa. A indústria cultural é um termo cunhado em 1947 por Adorno e Horkheimer para designar a transformação em mercadoria de bens culturais da sociedade contemporânea – caso do cinema, das artes, da fotografia, da televisão, das mídias, dos valores culturais, que passaram a ser mercadorias e existem como parte do processo de uso cultural mercadológico. Daí a origem da expressão “indústria cultural”, substituindo o termo “cultura de massa”. A indústria cultural acaba definindo padrões culturais da moda, dos modismos hegemônicos, que acabam por estabelecer novos padrões culturais, difundidos por meio das mídias e dos meios de comunicação. Tudo vira espetáculo a ser consumido, ocorrendo isso até mesmo nas tragédias reais, documentadas e assistidas por todos na televisão. 16 17 Adorno comenta: O efeito do conjunto da indústria cultural é o de uma antidesmistificação, a de um anti-iluminismo [anti-Aufklärung]; nela, como Horkheimer e eu dissemos, a desmistificação, a Aufklärung, a saber a dominação técnica progressiva, se transforma em engodo das massas, isto é, em meios de tolher a sua consciência. Ela impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente. Mas estes constituem, contudo, a condição prévia de uma sociedade democrática, que não se poderia salvaguardar e desabrochar senão através de homens não tutelados. Se as massas são injustamente difamadas do alto, como tais, é também a própria indústria cultural que as transforma nas massas que ela depois despreza, e impede de atingir a emancipação, para qual os próprios homens estariam tão maduros quanto as forças produtivas da época o permitiriam. (ADORNO apud SANTOS, 2014, p. 28-29) Já na metade do século XX, Adorno evidenciava o papel da indústria cultural na música e na pseudoindividualidade, na definição dos gostos do indivíduo, já que o capitalismo aliena e mascara a pretensa escolha de cada um, com a lógica da padronização da música e do consumo. É a música para ser consumida. Propuseram uma análise crítica da sociedade, a qual se denominou de Teoria Crítica, analisando o papel da indústria cultural sobre a sociedade, na música, no cinema, nas artes em geral. Habermas, filósofo e sociólogo alemão, faz críticas severas em relação à sociedade contemporânea, pois, segundo ele, os meios de comunicação – as mídias em geral – mostram-se favoráveis a certos grupos e ao Estado enquanto uma sociedade passiva, resignada, alienada consome as informações sem refletir sobre elas. Habermas afirma que os interesses da administração pública e dos setores econômicos mediante formas de poder e do dinheiro intervêm na vida cotidiana da sociedade, por intermédio dos meios de comunicação. Mais recentemente, no final do século XX e início do século XXI, outras tantas preocupações passaram a ser analisadas pelas Ciências Sociais. O processo de globalização vem cada vez mais transformando as técnicas e formas de vida. O advento da revolução técnica e a disseminação das tecnologias informacionais promovem mudanças radicais nas relações sociais e os modos de vida vêm se alterando. Sociólogos como Manuel Castells vêm estudando o fenômeno da sociedade em rede, visto que, cada vez mais, as redes sociais estabelecem relações sociais virtuais. 17 UNIDADE Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea Figura 4 Fonte: iStock/Getty Images Castells (2005, p. 18) assim explica as redes no atual período da globalização: [...] a comunicação em rede transcende fronteiras, a sociedade em rede é global, é baseada em redes globais. Então, a sua lógica chega a países de todo o planeta e difunde-se através do poder integrado nas redes globais de capital, bens, serviços, comunicação, informação, ciência e tecnologia. Aquilo a que chamamos globalização é outra maneira de nos referirmos à sociedade em rede, ainda que de forma mais descritiva e menos analítica do que o conceito de sociedade em rede implica. Porém, como as redes são selectivas de acordo com os seus programas específicos, e porque conseguem, simultaneamente, comunicar e não comunicar, a sociedade em rede difunde- -se por todo o mundo, mas não inclui todas as pessoas. De facto, neste início de século, ela exclui a maior parte da humanidade, embora toda a humanidade seja afectada pela sua lógica, e pelas relações de poder que interagem nas redes globais da organização social. Evidencia que o governo, as instituições públicas e privadas, a sociedade civil, as empresas, vêm se organizando cada vez mais em rede. Mesmo as atividades ilegais, aproveitam-se das tecnologias informacionais mais recentes para atuarem em rede. No início do século XXI, alguns temas têm sido revisitados pelos sociólogos, sendo que outros são totalmente novos, caso das transformações pelas quais a sociedade vem passando com as mudanças técnicas do atual período da globalização. Mas também temas como o trabalho, o emprego, a condição e o papel das mulheres na sociedade, as estruturas e formas de organização sociopolíticas continuam sendo abordados pelos pesquisadores em Ciências Sociais, usando diferentes abordagens teórico-metodológicas. Finalizando, é importante perceber que a Sociologia teve diferentes teorias, conceitos e abordagens para os estudos da sociedade ao longo da história da ciência. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Para conhecer um pouco mais do pensamento de Weber acesse o site https://goo.gl/NCHsa0 Livros As Etapas do Pensamento Sociológico ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2002. O que é Positivismo RIBEIRO, João. O que é positivismo. São Paulo: Brasiliense, 1996. Vídeos D-09 - Clássicos da Sociologia: Karl Marx O aspecto sociológico do pensamento de Karl Marx é apresentado com base em entrevista do sociólogo Gabriel Cohn e a caracterização in loco da economia de uma pequena cidade paulista. https://youtu.be/2DmlHFtTplA Leitura O Positivismo no Brasil: Uma Ideologia de Longa Duração BOSI, Alfredo. O positivismo no Brasil: uma ideologia de longa duração. https://goo.gl/NhiFRI 19 UNIDADE Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea Referências CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo (Orgs.). A sociedade em rede: do conhecimento à ação política. Conferência. Belém (Por): Imprensa Nacional, 2005. CATANI, Afrânio. O que é capitalismo? Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasilense, 1994. CHINAZZO, Suzana Salete Raymundo. Epistemologia das Ciências Sociais. Curitiba: InterSaberes, 2013. (e-book). COMTE, Auguste. Curso de Filosofia Positiva; Discursos sobre o espírito positivo; Discurso preliminar sobre o conjunto do positivismo; Catecismo positivista. Seleção de textos. São Paulo: Abril Cultural, 1978. DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2007. DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fon- tes, 1999. LIMA, Ricardo Rodrigues Alves de. Introdução à sociologia de Max Weber. Curitiba: Intersaberes, 2012. (e-book). MARX, Karl; ENGELS; Friederich. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fon- tes, 2002. SANTOS, Tamires Dias dos. Theodor Adorno: uma crítica à indústria cultural. Revista Trágica: estudos de filosofia da imanência – 2º quadrimestre, v. 7 – nº 2, 2014, p. 25-36. SANTOS, Thaís Dias Luz Borges. A abordagem do fenômeno urbano na Escola de Chicago. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd185/fenomeno- urbano-na-escola-de-chicago.htm WEBER, Max. A gênese do capitalismo moderno. Hesse Souza (org.);Trad. Rainer Domschke. São Paulo, Ática, 2006. (e-book). WEBER, Max. Sociologia.Gabriel Cohn (org.), Gabriel; Coord. Florestan Fernandes). São Paulo; Ática, 1999. (e-book). 20
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