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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS ESTUDO DIRIGIDO Microscopia na identificação de drogas vegetais: Usos e Limitações Curso: Farmácia Disciplina: Farmacobotânica Prof. Ionaldo J. L. Diniz Basílio Data: Ano: 2012.2 O objetivo desta aula é demonstrar os usos e limitações da microscopia na determinação da identidade de drogas vegetais. Introdução Praticamente todos os órgãos regulatórios nacionais e internacionais aceitem a microscopia, como uma das quatro principais metodologias para a identificação de drogas de origem vegetal: ou seja, (1) características organolépticas, (2) macroscópico, (3) microscópicas e (4) presença ou ausência de substâncias químicas. Nesta aula descreveremos o que são materiais botânicos de referência (MBRs) e como são usados na verificação da identidade e pureza das matérias-primas de origem vegetal. Além de uma discussão sobre as limitações da microscopia para a avaliação de identidade e qualidade de drogas vegetais. Utilização de características microscópicas Ao longo dos mais de 170 anos desde que Schleiden declarou que a célula era a unidade fundamental das plantas, a microscopia tem sido aplicada na determinação da autenticidade de materiais vegetais, e assim, centenas de características microscópicas foram e ainda são utilizadas na identificação de plantas na medicina indiana (Ayurvédica), chinesa, egípcia e em vários países do ocidente. A caracterização microscópica é parte inerente da quase todas as Farmacopeias, sendo um dos testes de identificação necessário para o cumprimento da autenticidade de drogas vegetais. Assim, as descrições microscópicas são geralmente consideradas indispensáveis, devendo ser a primeira fonte de comparação com amostra teste, uma vez que a droga geralmente é comercializada na forma rasurada, triturada ou pulverizada. Em tais casos, os profissionais envolvidos no controle de qualidade devem preparar secções (ver nas aulas seguintes) ou quando se encontrar pulverizado, o material em pó deve ser adicionado diretamente na lâmina. Posteriormente, as estruturas e conteúdos celulares são comparados com as descrições encontradas na Farmacopeia ou frente ao MBR 1 (ver detalhes na seção: material botânico de referência). 1. Amostra prensada das partes aéreas, secas (embora porções subterrâneas sejam ocasionalmente incluídos), que apresenta as partes necessárias à identificação botânica, através dos caracteres morfológicos presentes. A dificuldade principal de muitos profissionais que trabalham com a caracterização microscópica de drogas vegetais está na análise de matéria-prima pulverizada. Algumas características são comuns num tipo de droga, por exemplo: folhas contêm estômatos, raízes geralmente apresentam amido, enquanto que as sementes, grãos de aleurona (ver nas aulas seguintes). Com isso, um resultado falso positivo é relativamente fácil quando se realiza a identificação de pós. A chance para uma identificação correta de uma espécie aumenta quando a análise microscópica é realizada com o material integro, sendo possível a observação de diversos caracteres, inclusive a organização e disposição dos tecidos, além da localização de inclusões celulares e produtos do metabolismo das plantas (ver nas aulas seguintes). Critérios para determinação de características microscópicas autênticas de drogas vegetais Cinco principais critérios precisam ser satisfatórios para que a caracterização microscópica possa ser considerada oficial (autêntica). Primeiro e acima de tudo é a identificação botânica do material. A identificação deve ser desenvolvida por um botânico, preferencialmente especialista no grupo (gênero e/ou família botânica) a qual a espécime 2 em questão suspeita-se ser subordinada. Na ausência disso, não devemos confiar em qualquer caracterização posteriormente desenvolvida, por exemplo, a caracterização microscópica. 2. Designa um exemplar ou amostra de qualquer material ou ser vivo. Para um material ser considerado autêntico botanicamente, uma amostra deve ser depositada em herbário, registrado no index herbariorum 3 . Assim, a amostra pode ser rastreada a partir do voucher 4 . 3. http://sciweb.nybg.org/science2/IndexHerbariorum.asp 4. Termo inglês “voucher” = garantia ou comprovante. As amostras devem ser prensadas, secas, montadas sobre uma cartolina e rotuladas com o nome do coletor, taxonomista que identificou a espécie, data e local da coleta, número de identificação (voucher) para rastreabilidade, dentre outras observações. A esse material depositado no herbário é dado o nome de exsicata. Materiais botânicos são abundantes nas universidades que contêm sua própria coleção botânica (herbário). No entanto, a maioria só liberam suas amostras para propósitos acadêmico-científicos, não estando disponíveis para uso das indústrias de fitoterápicos. Por isso, o setor de controle de qualidade dessas indústrias é obrigado a ter sua própria coleção, chamada de referência, com duplicatas enviadas aos herbários para a confirmação da identidade. Limitações importantes também existem sobre o uso de espécies depositadas em herbário. Primeiro e mais UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS importante é que um número de exsicata não deve ser aceito sem uma análise criteriosa. A uma determinada exsicata, muitas vezes é dada uma designação inicial (nome científico) pelo coletor ou pessoal de apoio do herbário, mas esses nomes não são considerados aceitos até que um especialista confirma a identidade da espécie. O segundo critério é que a caracterização deve ser realizada com amostras representativas, na forma em que o material é comercializado. Outra observação importante trata-se utilização material com qualidade para que se possa garantir a atividade medicinal reconhecida para uma espécie. Algumas vezes, isto significa que o material botânico esteja na fase adulta (por exemplo, Ginseng com 3 anos de idade), uma vez que, o tamanho dos elementos estruturais podem mudar ao longo do tempo. Muitos botânicos não têm o conhecimento desse fato. Podendo, portanto, não levar em consideração a idade da planta ou a forma em que se encontra o material após processamento. O terceiro requisito é a pureza do material. O material a ser caracterizado deve estar de tal forma que satisfaça os padrões de pureza específicos, pois a presença de potenciais adulterantes, contaminantes e sujeiras podem interferir na avaliação precisa da espécie. Este critério é igualmente desconhecido pela maioria dos botânicos e coletores de plantas medicinais. O quarto critério é que as caracterizações para serem aceitas devem ser desenvolvidas após análise de várias amostras. De modo que a caracterização incluem as variações intraespecíficas, que são típicas nas plantas. Caso a caracterização microscópica seja desenvolvida a partir de apenas um espécime e a descrição adotada na determinação da identidade pelas Indústrias Farmacêuticas, Farmacopeias ou órgãos regulatórios, os analistas podem chegar a uma conclusão imprecisa na avaliação da identidade da droga vegetal. Não há um número especificado de amostras autênticas que devem ser examinadas, a fim de considerar a descrição oficial. Espécies exibindo um elevado grau de variação morfológica e histológica exigirá um maior número de amostras. Por último, uma descrição oficial deve ser preparada a partir de material inteiro para a caracterizaçãoprecisa de amostras integras e da parte utilizada da droga. Isto permite a observação do arranjo dos tecidos. Tais estruturas internas podem ser vistos com a preparação de cortes (secções) transversais e longitudinais. A quantidade de informações estruturais de uma dada amostra diminui drasticamente de uma droga integra à pulverizada (Figuras a seguir). Segue um resumo dos cinco critérios primários para autenticidade das características microscópicas: 1. Identificação botânica: amostra deve ser identificada com precisão. 2. Amostra representativa: realizar a caracterização de amostra na forma em que é comercializada. 3. Pureza: A amostra deve estar livre de sujeiras ou materiais estranhos à medida que a integridade da caracterização não seja comprometida. 4. Análise de várias amostras: Múltiplas amostras autenticadas devem ser vistos de forma a observar as variações intraespecíficas. 5. Amostra integra: a caracterização deve ser desenvolvida em material inteiro, o que favorece a análise do arranjo estrutural dos tecidos. A B C Figura. Confiabilidade na determinação de identidade com drogas vegetais, exemplo: Hydrastis canadensis. (A) raízes inteiras; (B) raízes rasuradas; (C) raízes pulverizadas. A B Figura. Diferenciação entre a observação microscópica de uma parte da planta inteira e pulverizada. (a) Secção transversal da raiz de Hydrastis canadensis, mostrando as características dos tecidos; (b) raiz pulverizada, mostrando os elementos de vasos escalariformes e grânulos de amido. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Alterações no arranjo dos tecidos e células a partir do que é esperado no material em análise é uma indicação da presença de adulterantes. No entanto, uma vez o material seja pulverizado, a determinação de adulterantes só pode ser confirmada por um microscopista experiente o suficiente para encontrar fragmentos de tecidual que não são característicos do material botânico. Tais fragmentos podem incluir, por exemplo, epiderme foliar com tricomas e complexos estomáticos, partes florais, cristais, bainha em torno de um cristal ou fibras (ver nas próximas aulas). A identificação de adulterantes em drogas pulverizadas de parte aérea é mais fácil de identificar do que em raízes, porque muitos dos as suas características diagnósticas podem ser encontrados na superfície dos fragmentos, enquanto que em estruturas subterrâneas o principal caráter diagnóstico é perdido, no caso o arranjo dos tecidos. Questões 1. Cite os critérios para determinação de características microscópicas autênticas de drogas vegetais. Comente cada um deles? Dentre estes critérios, qual é o mais importante? Justifique de forma sucinta. 2. Qual a principal dificuldade de se trabalhar com drogas pulverizadas sobre o ponto de vista microscópico? 3. Ao material depositado no herbário é dado o nome de exsicata. O que caracteriza esse material e qual a sua importância na determinação da autenticidade de características microscópicas? UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Em amostras pulverizadas de drogas constituídas de folhas, algumas estruturas permanecem intactas, como: parede celular da epiderme, fibras e elementos de vasos (detalhes nas próximas aulas), no entanto, tecidos delicados, como o câmbio e células parenquimáticas são completamente desintegrados e tricomas são muitas vezes quebrado, tornando difícil a caracterização. Cristais, que são altamente diagnósticos, pode ou não se separar do tecido em que ocorrem, dependendo como eles estão dispostos na planta. Ao contrário do material inteiro, que pode ser identificado utilizando uma descrição oficial (autêntica), pó não pode ser seguramente identificado no nível de espécie, a menos que seja comparada com um material botânico de referência (MBR). Análise de espécies relacionadas A seleção de amostras para o desenvolvimento de descrições microscópicas é realizada com o uso de um estereomicroscópio que tem uma ampliação de no mínimo 10 a 20 vezes. O seu uso permite a observação de matéria estranha, como outras partes de planta ou sujeiras. Pode também garantir que o material não esteja com a estrutura degradada (alterada). Caso os cinco critérios mencionados anteriormente forem cumpridos, a caracterização pode ser considerada autêntica e apropriada para uso como um padrão de identidade. Outra consideração importante é que o material cultivado pode apresentar diferentes características morfológicas, em relação ao material coletado (Figura abaixo). A B Figura. Diferenças morfológicas de amostra de raízes de Echinacea angustifolia. (a) coletado; (b) organicamente cultivada. Uma descrição microscópica tem valor limitado para a verificação de uma amostra, quando espécies relacionadas não forem examinadas. Em alguns gêneros, espécies relacionadas não podem ser facilmente diferenciadas através de caracteres microscópicos. Em alguns casos, exige-se uma chave de identificação detalhada das características microscópicas e necessidade de utilização de outros testes, como a determinação de marcadores químicos. Material Botânico de Referência Geralmente, um material de referência é aquele que possa assegurar a identidade, pureza, uniformidade do material e que possa ser representativo. O que significa que a identidade do MBR foi confirmada fisicamente (macro e microscopicamente), quimicamente ou por meios moleculares, caso necessário. MBR (figura abaixo) pode ser usada como um comparador para assegurar a identidade e pureza da amostra testada, seja no controle de qualidade de material botânico a ser utilizado para consumo ou na pesquisa científica. A análise de uma droga em pó nunca deve ser considerada completa, até que a amostra seja comparada com amostras autênticas da mesma droga, inclusive com o mesmo grau de divisão da amostra (tamanho das partículas). A B Figura. Exemplos de materiais de referência botânicos. (a) integro; (b) rasurado.
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