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Taninos Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Farmácia Farmacognosia I Profa.Priscilla Rodrigues Valadares Campana O nome tanino deriva do latim “tannare” É usado a muito tempo por suas propriedades de tanar peles de animais e formar o couro Tribos pré-históricas já conheciam a ação protetora sobre a pele, cérebro e gordura de animais mortos Mas o processo de tanagem do couro propriamente dito só foi conhecido no século XX Taninos Compreendem um grande grupo de substâncias fenólicas complexas muito disseminadas no reino vegetal; ocorrem em quase todas as famílias vegetais Taninos hidrolisáveis Dicotiledonae (Choripetalae) → herbáceas e lenhosas Taninos condensados Gimnospermae e Angiospermae → lenhosas Geralmente se localizam em determinados órgãos da planta: folhas, frutos, córtex ou caule Formam complexos com alcaloides, gelatina e outras proteínas Taninos Taninos “Compostos fenólicos, com massa molecular entre 500 e 3000 e que, além das reações fenólicas usuais, apresentam propriedades especiais como a habilidade de precipitar alcaloides, gelatina e outras proteínas.” (Bate-Smith; Swain’s; 1962) 4 Taninos – características gerais Grande variabilidade estrutural Atividades biológicas diversificadas Papel protetor - contra infecções, insetos, herbívoros Pó amorfo amarelo ou branco Principal característica: adstringência 5 Interação com proteínas ricas em prolina Reversíveis – ligação de hidrogênio entre as OH fenólicas dos taninos e os grupos amina das proteínas. Além de interações hidrofóbicas Irreversíveis – condições oxidativas via ligação covalente Taninos – características gerais Adstringência: “Perda de lubrificação e sentimento de secura e enrugamento no paladar” Biossíntese Taninos - classificação Taninos Galotaninos Elagitaninos Taninos complexos Taninos condensados 8 Taninos - classificação Galotaninos: unidades galoil ligados a unidade central poliol Elagitaninos: duas unidades galoil são acopladas C-C Taninos complexos: uma unidade catequina é ligada a um galotanino ou elagitanino Taninos condensados: oligômeros ou polímeros de catequina e derivados, formados pela ligação C4-C8 ou C4-C6 9 Taninos hidrolisáveis - gálicos Ésteres do ácido gálico com um poliol central (geralmente b-D-glicose) 10 Formação do ácido gálico Precursor: ácido chiquímico Galoilação Biossíntese Galotaninos “complexos” Elagitaninos Taninos hidrolisáveis 12 Galotaninos “complexos”: reações de galoilação adicionais Contém até 12 ou mais resíduos galoil Formação de ligações depsídicas meta-digaloil Galotaninos complexos 13 Taninos hidrolisáveis - elágicos Elagitaninos – constituintes típicos de diversas famílias de plantas Grande variabilidade estrutural Tendência à formação de dímeros e oligômeros Formados por acoplamento oxidativo diaril de grupos galoil vicinais Presença de grupos hexahidroxidifenoila (HHDP) Desidrogenação de galoilesteres 14 Taninos hidrolisáveis - elágicos 15 Taninos hidrolisáveis - elágicos Hidrólise – liberação do poliol central, ácido gálico e HHDP que lactoniza formando o ácido elágico 16 Taninos complexos Elagitaninos com ligação C-glicosídeo a taninos condensados Taninos condensados Proantocianidinas – polímeros de unidades flavan-3-ol (catequina, epicatequina, etc) e flavan3,4-diol Vários efeitos benéficos à saúde descritos – atividade antioxidante. Validação dos efeitos de bebidas ricas em proantocianidinas: Chá verde (Dufresne & Farnworth, 2001), Vinhos e sucos de uva (Bagchi et al., 2000), Sucos de outras frutas ricas em proantocianidinas (Foo et al., 2000). Revisão da Literatura Variabilidade estrutural Natureza das unidades flavan-3-ol (estereoquímica e padrão de hidroxilação). Posição e estereoquímica da(s) ligação(ões) entre as unidades. Grau de polimerização. Presença ou ausência de modificadores (esterificação do grupo 3-hidróxi). Taninos condensados Revisão da Literatura Peso Molecular 500 até 3000 Taninos solúveis Peso Molecular 3000 até 30000 Taninos insolúveis (associados a polissacarídeos da parede celular) Modelo de uma estrutura de taninos condensados (oligômeros) Taninos condensados N-butanol Taninos condensados 21 Taninos condensados - classificação Tipo B Tipo A 22 Biossíntese Taninos condensados + Formadeído – Aglutinante (redução do fluxo de água em barragens, estabilizante do solo, produção de borracha e etc.) Taninos condensados sulfonados formam complexos com metais solúveis em água que são usados em plantações de cítricos com deficiência em ferro ou no controle de poluição (Pb), biocidas para preservação da madeira (Cu) Alimentação: Sabor adstringente dos vinhos, sucos, chás e outras bebidas Taninos – emprego industrial Tanagem do couro (Schinopsis spp., Acacia mearnsii, Tsuga, Castanea, Quercus e Terminalia) Defesa química da planta – contra ataque de herbívoros vertebrados ou invertebrado e microrganismos patogênicos. Mecanismos: Diminuição da palatabilidade Dificuldade de digestão pela complexação dos taninos com enzimas digestivas e/ou proteínas de plantas Formação de produtos tóxicos no trato digestivo a partir da hidrólise Taninos – funções Propriedades físico-químicas Sólidos amorfos – não cristalizam Solúveis em água e solventes orgânicos polares Extração Secagem: os métodos que empregam calor (sol e estufa) diminuem a concentração de taninos e outros fenólicos. Mesmo a secagem a sombra pode alterar os teores de taninos. Idealmente o material (folhas, raízes, cascas, etc.) deve ser liofilizado ↓(degradação de taninos durante secagem) Extração: Uso de misturas de solvente (metanol:água, metanol:ácido, acetona:água (1:1, 7:3). Posteriormente procede-se a extração líquido-líquido com AcOEt e n-BuOH Teste com gelatina Precipitação de proteínas com taninos hidrolisáveis ou condensados Caracterização Caracterização Formação de complexos de coloração vermelha Reação com vanilina Precipitação com alcalóides solução de cinchonina, cafeína ou estricnina a 1 a 2% Precipitação com metais Formação de complexos insolúveis Caracterização + 2 H+ 2 Cl- FeCl3 Hidrólise ácida em n-butanol Formação de antocianinas – coloração rosa, vermelha ou violeta colorido Diferenciação entre taninos hidrolisáveis e condensados Solução de cloreto férrico: taninos hidrolisáveis produzem forte coloração azul e taninos condensados coloração verde de intensidade mais fraca. Em mistura essa coloração não é observada. Formadeído-ácido clorídrico: refluxo da solução de taninos por 30 min. Caracterização Isolamento e purificação Cromatografia em coluna - sephadex LH-20, celulose, poliamida, sílica gel, RP-18 Cromatografia em contra-corrente CLAE em escala preparativa Estratégia: acetilação com anidrido acético e piridina das hidroxilas fenólicas (Uso de CCD preparativo em sílica gel) Reação da cianidina, de Shinoda ou hidrogenção: flavonóides amarelos se reduzem a vermelho e antocianidinas azul. Reação citro-bórica ou Reativo de Wilson: flavonas, flavonóis e chalconas adquirem tons amarelos e fluorescência amarelo-esverdeada. Reação de Marini-Bettolo: com o pentacloreto de antimônio em CCl4 as chalconas formam precipitado vermelho escuro ou violáceo e as flavonas precipitado amarelo ou laranja Reagente de Folin-Ciocalteau: solução comercial, no qual os flavonóides tornam-se azuis ou cinzas com vapores de amônia. COLOCAR???? 33 Identificação de taninos UV Infravermelho Espectrometria de massa RMN (1D e 2D) RMN de 1H da proantocianidina A1 Espectro de infravermelho da proantocianidina A1 Aparelho de RMN Após o isolamento e purificação os taninosdevem ser mantidos a temperaturas baixas e sem exposição a luz. Identificação Doseamento de Fenóis totais Ensaios colorimétricos para fenóis totais (inespecíficos) Azul da Prússia - Fe(CN)6 3- Folin-Denis Folin-Ciocalteu Para quantificação do teor de taninos usa-se o pó de pele. Reações de oxiredução – oxidação dos fenóis e redução dos metais Análise quantitativa Compostos fosfotungstico-fosfomolíbdico Doseamento Azul da Prússia Complexa com FeCl3 Doseamento Folin-Denis (1912) e Folin-Ciocalteu (1927) São soluções aquosas de Na2MoO4/Na2WO4/H3PO4 Agentes oxidantes fosfotungstico-fosfomolíbdico - Doseamento de taninos pelo teste de precipitação de pó de pele (colágeno) Análise Gravimétrica Medir concentração de taninos através da formação de precipitados com uma proteína (ex: colágeno) Pesagem do precipitado após secagem Propriedades farmacológicas Atividade antioxidante Atividade antimicrobiana Atividade inibitória de enzimas Efeitos cardiovasculares Atividade antimutagênica Atividade quimioprotetora Outras... Mecanismos de ação: Complexação com íons metálicos (ferro, manganês, vanádio, cobre, alumínio, cálcio, entre outros) Atividade antioxidante e seqüestradora de radicais livres Complexação com outras moléculas (proteínas e polissacarídeos) Numero de entradas no pubmed!!! colocar 39 Maytenus ilicifolia Espinheira santa Hamamelis virginiana Hamamélis Plantas medicinais ricas em taninos Maytenus ilicifolia (Celastraceae) Uso tradicional no alívio de dores estomacais Indicação terapêutica: Dispepsias, coadjuvante no tratamento de gastrite e úlcera gastroduodenal Marcador químico: taninos totais, epicatequina Espinheira santa Identificação CCD Eluente: EtOAc:HAc:H2O (90:5:5) Revelador: luz UV 254nm vanilina sulfúrica Espinheira santa Teste com gelatina Teste com cloreto férrico Identificação Teste com vanilina Espinheira santa Teste com acetato de chumbo Doseamento Taninos totais Quantificação espectrofotométrica de fenóis (A1) totais com reagente de Folin-Ciocalteau Precipitação de taninos com pó de pele Quantificação espectrofotométrica de fenóis não adsorvidos pelo pó de pele (A2) Espinheira santa Padrão: pirogalol (A3) Doseamento Epicatequina Quantificação de epicatequina por CLAE Espinheira santa Hamamelis virginiana (Hamamelidaceae) Uso tradicional como anti-inflamatório Parte utilizada: folhas e córtex Indicação terapêutica: Alívio sintomático de prurido e ardor associado a hemorroidas. Uso tópico: hemorroidas externas e equimoses (IN 02/2014) Marcador químico: taninos totais Hamamélis Adstringente na cura de feridas, queimaduras e inflamações. Uso na cosmetologia Dados Químicos Mistura complexa de taninos condensados e hidrolisáveis. Toxicologia Pode causar vômito em altas concentrações. Hamamélis Química Taninos condensados e hidrolisáveis Hamamelitanino (2’,5-di-O-galoilhamamelofuranose) Óleo essencial: 2-hexen-1-al, acetaldeído, -ionona, -ionona e safrol (confere agradável fragância) Hamamélis Hamamelis Farmacologia Inibição da 5-lipoxigenase Antiviral contra Herpes simplex tipo I Inibição da formação de radicais superóxido Antiedematogênica Proteção contra radiação UV Barbatimão Stryphnodendron adstringens (Martius) Coville Família: Leguminosae (Mimosoidae) Parte utilizada: córtex do caule (casca) Hábito: arbóreo Ocorrência: cerrado do Brasil Usos: leucorréia, diarréia e anti-inflamatório Foram os índios que primeiramente a utilizaram em seus rituais de cura como planta cicatrizante e anti-inflamatória, conhecimento este que foi passado aos caboclos e acabou chegando até aos centros de pesquisa da atualidade. Era conhecida como “casca da virgindade” , pois o nome vem do guarani yba-timó, que significa "árvore que aperta", isto devido à grande ação adstringente que possui. Barbatimão Química flavan-3-ol, prodelfinidinas e proantocianidinas (MELLO et al. 1996 a e b; MELLO et al. 1999;). Todas as espécies estudadas desse gênero mostraram composição química semelhante, mas com variação do conteúdo total de taninos, que podem ser os responsáveis pelas atividades farmacológicas. Barbatimão Farmacologia Espécies do gênero Stryphnodendron: Cicatrizante, antiinflamatória, gástrica com efeito anti-ulcerogênico, moluscocida, atividade anti-tirosinase e interferência no metabolismo energético em fígado de ratos (LOPES et al., 2005, BAURIN et al. 2002; BEZERRA et al. 2002; REBECCA et al. 2003). Extrato das cascas de S. adstringens não se mostrou genotóxico em células germinativas e somáticas de D. melanogaster (SOUSA et al., 2003). Em estudos de toxicidade aguda o extrato de S. adstringens, quando administrado em um período de tempo prolongado produz efeitos tóxicos em animais de laboratório (REBECCA et al., 2002). Barbatimão Plantas que contêm taninos como antidiarreicos Diarréia é a passagem freqüente (mais de três vezes ao dia) de fezes líquidas ou semilíquidas. Três grupos de preparações são importantes: plantas que contêm taninos, pectinas e uma cepa de levedura viva. As plantas que contêm taninos, quando aplicadas as membranas mucosas, precipitam as proteínas. Esse precipitado forma uma membrana estável e consistente, que pode revestir o lúmen do intestino com uma película protetora que normaliza hiperperistalsia. Essa teoria precisa ser confirmada por estudo clínicos. Planta Ativos Dose diária Chá verde ou preto 5-20% de taninos 2-5% cafeína 1% de óleo volátil 3-10 g de droga vegetal Mirtilo 5-10% de taninos 1% de ácidos de frutas 20-60 g de frutos Folha e casca de Hamamelis 5-15% de taninos 0,1-1 g de droga vegetal Raiz de tormentila 15-20% de taninos 2-6 g de droga vegetal Casca de carvalho 10-20% de taninos 2-6 g de droga vegetal Tanato de albumina 50% de taninos 2-4 g Plantas que contêm taninos como antidiarreicos Chá preto e chá verde Camelia sinensis (Thea sinensis) Família: Theaceae Hábito: arbusto Cultivo: China, Índia, Japão e Sri Lanka Chá preto: fermentação das folhas oxidação enzimática dos polifenóis (catequinas são convertidas a theaflavinas e thearubigininas) Chá verde: secagem das folhas com prevenção da oxidação
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