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LAPAROTOMIA EXPLORATÓRIA EM EQÜINOS: INDICAÇÕES E TÉCNICAS Dra. Robeta F. de Godoy-UNB

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LAPAROTOMIA EXPLORATÓRIA EM EQUINOS: INDICAÇÕES E TÉCNICAS
Profa. Roberta Ferro de Godoy
INTRODUÇÃO
A espécie eqüina apresenta peculiaridades anatômicas em seu aparelho digestivo, que a predispõe a alterações morfofisiológicas graves, responsáveis por dores abdominais violentas, sendo estas alterações conhecidas genericamente como cólica. A cólica compreende não uma só, mas várias afecções. Estas afecções promovem distúrbios neurocirculatórios graves que podem provocar a morte do animal. Assim, a cólica deve ser tratada como uma emergência, requerendo um atendimento imediato visando o alívio dos sintomas, enquanto se pesquisa a causa e institui-se um tratamento específico.
A cólica quando não tratada adequadamente é uma das maiores causas de óbito nos eqüinos. A ocorrência de cólica nos eqüinos é de 10 a 20 % e, se tratada, apenas 0,5% dos cavalos morrem devido a ela.
A pastagem constitui a alimentação natural do cavalo e, para tanto, seu aparelho digestório é adaptado, anatômica e fisiologicamente, para digerir alimentos volumosos. Com o advento da eqüinocultura, a alimentação do cavalo passou a ser “artificializada”, tornando-se muitas vezes insuportável para a capacidade funcional de seu aparelho digestório. “A maior causa de cólica nos eqüinos é o homem”. Outro agravante que o homem impôs ao cavalo é a estabulação, pois dizemos que animal encocheirado é sinônimo de cólica cirúrgica, uma vez que os animais que vivem em baia apresentam 40% de cólicas cirúrgicas, enquanto que nos de criação extensiva apenas 1% das cólicas são cirúrgicas.
A etiologia da cólica é múltipla e controvertida, porém existem alguns fatores predisponentes e determinantes para que o cavalo apresente a cólica. Um dos principais fatores predisponentes é a própria anatomia e fisiologia do sistema digestório dos eqüinos. As principais características predisponentes à cólica são:
-estômago pequeno em relação à grande capacidade digestiva total;
-o cavalo, devido a anatomia de seu estômago, não regurgita, nem vomita, nem eructa, o que dificulta o esvaziamento gástrico;
-intestino delgado longo, livre na cavidade abdominal, o que predispõe a torções e vôlvulos;
-o ceco e o cólon são órgãos que realizam a fermentação, estando sujeitos a acúmulo de gases;
-o cólon maior apresenta a flexura pélvica, um local de diminuição de diâmetro, local de possível compactação de alimentos de baixa qualidade e mal digeridos;
-baixo limiar de dor;
-o cavalo é adaptado ao pastejo constante, condição impossível de ser reproduzida na baia.
Dentre os fatores determinantes estão: alterações na quantidade e qualidade da alimentação, manejo (vermifugação e controle de ectoparasitas).
REVISÃO ANATÔMICA
*Estômago: 0,4 metro - 8 a 15 litros (Média 10L)
 	* Intestino Delgado: 20 metros - 50 litros
 	* Ceco: 1 metro - 30 litros
 	* Cólon maior: 3,5 metros - 70 litros
 	* Cólon menor: 3,5 metros - 20 litros
AVALIAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL DO CAVALO COM CÓLICA
A semiologia completa deve ter início com a identificação do animal e anamnese para se conhecer o habitat, o paciente e suas particularidades.
3.1. Identificação
Apesar deste item incluir raça, pelagem, origem, devemos observar principalmente a idade e o sexo.
Animais em idade avançada freqüentemente apresentam deficiências dentárias que diminuem sua capacidade mastigatória e os impedem de triturar adequadamente os alimentos, levando a problemas digestivos.
Animais jovens sofrem principalmente com retenção de mecônio, úlceras gástricas (na época da desmama) e verminoses (Parascaris).
Quanto ao sexo, devemos atentar aos garanhões e sua predisposição às hérnias inguinais.
3.2. Anamnese
3.2.1. Manejo e alimentação
Qual é o regime de criação? Animais criados em regime de estabulação ou semi-estabulação adquirem hábitos alimentares diferentes, são mais estressados e adquirem vícios, estando sujeitos à condições que os predispõem às disfunções digestórias.
Qual é a alimentação? Aqui devemos primeiro questionar sobre o tipo do alimento concentrado, uma vez que rações pulverulentas (em pó) predispõem à sobrecarga gástrica mais que as rações peletizadas. Questionar a qualidade do volumoso, pois forragens com alto teor de fibra bruta podem causar compactações.
O questionamento da quantidade e freqüência oferecida rotineiramente e sobre se houve acesso a alimento concentrado ou volumoso em excesso nos traz informações importantes, pois a ingestão de alimentos em excesso pode causar sobrecarga gástrica ou compactação na flexura pélvica.
Devemos ainda perguntar se houve alterações no horário, na marca, no tipo de alimentação ou de pasto, pois estes fatores podem levar à uma ingestão excessiva e à uma sobrecarga gástrica.
Devemos também ficar atentos à mudanças de pessoal, períodos de festas, feriados e fins de semana, quando o animal pode receber alimentação em excesso para “compensar” o período em que não foi alimentado.
Como é feito o controle parasitário? A determinação de quando e como foi feita a última vermifugação permite avaliar as possibilidades ou não de parasitismo intestinal associado à cólicas. Enovelados de vermes podem causar obstruções. Strongylus vulgaris podem causar aneurisma da artéria mesentérica cranial e conseqüente isquemia intestinal. Vermifugações repetidas com ivermectina podem predispor à infestações por Anoplocephala perfoliata e conseqüentemente à intussuscepção ceco-cólica.
Foi realizado banho carrapaticida recentemente? Banhos carrapaticidas com amitraz podem determinar hipomotilidade e compactação na flexura pélvica. Organofosforados causam cólica espasmódica.
3.2.2. Característica da crise
Quando iniciou a cólica? Cólicas que duram dias ou semanas, normalmente ocorrem por alterações no intestino grosso.
Como iniciou a cólica? Cólicas de manifestação súbita com dor contínua e severa ocorrem na sobrecarga gástrica, por afecção do intestino delgado e por hérnias inguinais. Cólicas intermitentes e leves a moderada geralmente estão associadas a afecções do intestino grosso.
Quantas vezes o animal teve cólica? Animais que apresentam cólicas leves e intervaladas por um longo período e após meses ou anos apresentam uma crise mais forte, podem estar acometidos de úlceras gástricas, aneurisma por S. vulgaris ou hipertrofia de íleo.
O animal já foi operado de cólica? A laparotomia exploratória pode predispor à recidivas, devido às aderências pós-cirúrgicas.
Houve alguma atividade antes do início da cólica? A hérnia inguinal do garanhão geralmente se manifesta após a cobertura de uma égua.
Qual a intensidade e freqüência da dor? É muito importante saber se a dor é de caráter contínua ou intermitente (crises), se o grau de dor é severo, moderado ou leve.
Nas cólicas espasmódicas a dor tende a vir em formas de crises. Nas distensões gasosas e deslocamentos ou compactações simples de cólon maior a dor é suave a moderada, sendo muitas vezes intermitente.
Nas obstruções estrangulativas a dor quase sempre é contínua e severa.
Devemos saber se o animal rolou, cavou, suou, se jogou, se melhorou ou se piorou.
Perguntamos ainda se houve melhora súbita da dor. Esta ocorrência, após um quadro de dor contínua, pode estar relacionada à ruptura de vísceras (estômago, ceco ou cólon maior).
3.2.3. Administração de medicamentos
O veterinário deve sempre considerar a possibilidade do animal estar sob efeito de algum medicamento que tenha alterado seu estado clínico atual. Analgésicos e espasmolíticos produzem alívio no animal, podendo induzir a erros de avaliação da intensidade da dor.
Devemos averiguar: qual(is) medicamento(s) foram utilizados? Qual a quantidade? Quando foi administrado? Houve efeito?
Ainda devemos considerar a possibilidade do animal ter complicações pulmonares por administração de medicamentos por sondagem errada ou por “garrafadas”; ainda o animal pode ter sofrido ruptura de reto por lavagens intestinais com mangueira, por administraçãode medicamentos via retal ou palpação retal por leigos.
3.2.4. O animal defecou?
Nos casos de obstrução do intestino grosso podemos verificar a ausência de defecação ou a presença de poucas cíbalas cobertas com muco.
Quando não há obstrução total do lúmen intestinal, a defecação permanece presente.
Em nenhum caso devemos considerar a defecação como um sinal absoluto de cura do animal!
3.2.5. O animal urinou?
O animal pode urinar pouco devido à desidratação.
É muito comum que a posição de micção que o animal adota e a pequena quantidade de urina sejam confundidas com cólicas renais, que são raríssimas nesta espécie.
3.3. Exame clínico
O exame clínico do paciente com cólica pode, juntamente com outros procedimentos, ser de grande importância no estabelecimento do diagnóstico específico do processo e permite uma avaliação segura da condição geral do paciente. 
Os sinais clínicos da cólica são óbvios, mesmo para um leigo. Mas, devido a grande variedade de causas de cólica e da resposta individual de cada animal, um diagnóstico específico deve ser buscado, para que se possa instituir um tratamento específico para cada caso.
3.3.1. Inspeção
O exame clínico deve ser iniciado pela observação do animal, procurando-se identificar a atitude do mesmo, as manifestações de dor, as modificações do formato do abdômen e a aparência externa.
Os sinais de dor são variáveis e podem incluir:
-“cavar” ou pateamento dos membros anteriores;
-olhar para o flanco;
-escoicear o abdômen com os membros posteriores;
-tentativas de deitar, levantando-se em seguida;
-adotar posição de micção repetidas vezes;
-decúbito prolongado;
-bruxismo;
-posição de cão sentado;
-atirar-se ao solo, rolar;
-sudorese;
-gemidos.
Devemos estar atentos à presença de edemas e escoriações de pele, que podem nos indicar a duração da cólica e que na verdade o processo é mais antigo do que se imagina.
O tipo de manifestação de cólica apresentado pelo animal e sua duração podem sugerir a afecção. As cólicas moderadas e intermitentes geralmente estão associadas a obstruções do intestino grosso, enquanto que as cólicas severas geralmente estão associadas a obstruções estrangulativas do intestino delgado ou sobrecarga gástrica.
Um cavalo que “brinca com a água” sem ingeri-la, com sinais leves de cólica, apresenta, na maioria dos casos compactação do cólon maior (flexura pélvica).
Outro aspecto importante é a alteração no formato do abdômen, que ocorre nos casos de compactação e/ou timpanismo do intestino grosso. De um modo geral, a distensão do flanco direito evidencia uma distensão de ceco, enquanto do lado esquerdo evidencia uma distensão de cólon maior esquerdo.
Também é importante observar a bolsa escrotal do animal para verificar se há alterações no formato da bolsa escrotal e no posicionamento dos testículos, pois nos casos de hérnias inguinais que irão conter segmentos do intestino, os testículos vão se encontrar retraídos ou a bolsa escrotal vai se apresentar com aumento de volume.
3.3.2. Temperatura
É importante observar a temperatura retal (termometria retal) e a temperatura das extremidades (orelhas e membros).
O achado mais comum nos casos de cólica é a temperatura retal normal (37,5(C a 38,5(C).
A temperatura abaixo do normal pode indicar choque severo, desidratação severa. 
A temperatura aumentada indica um envolvimento infeccioso ou atividade física excessiva.
Em relação à temperatura das extremidades, o encontro de extremidades frias indica hipovolemia e choque.
3.3.3. Freqüência cardíaca e respiratória
Normal: 	FC= 24 a 48 bpm (adultos)
		FR= 12 a 20 mpm (adultos)
Freqüências cardíacas aumentadas estão associadas à dor, hipovolemia, choque e endotoxemia. 
Quando a freqüência cardíaca é superior a 65 bpm, indica processos severos com desidratação e diminuição da perfusão.
De um modo geral podemos considerar que um animal que apresenta FC até 60 bpm é um candidato ao tratamento clínico, enquanto um animal quer apresenta FC de 60 a 80 bpm é um candidato à cirurgia. Freqüência cardíaca acima de 100 bpm geralmente é incompatível com a vida e geralmente o animal vem a óbito.
A freqüência respiratória aumentada é um indicativo de dor, choque e distensão abdominal.
3.3.4. Pulso
O pulso normal do cavalo é cheio e forte. No exame clínico devemos avaliar a freqüência e qualidade do pulso.
O local onde devemos aferi-lo é a artéria facial. Nos casos de pulso fraco a filiforme, o animal apresenta desidratação e choque, sendo acompanhado por extremidades frias.
3.3.5. Coloração das mucosas e TPC
Podemos avaliar as mucosas oral e conjuntival.
O normal são mucosas róseas levemente pálidas e TPC menor que 2 segundos.
Na fase inicial da cólica geralmente as mucosas se apresentam pálidas devido à dor que causa a liberação de catecolaminas e conseqüente vasoconstricção periférica.
Nos casos de endotoxemia as mucosas se apresentam vermelho escuro a vermelho tijolo, sendo que a mucosa oral pode apresentar um halo de mucosa cianótica ao redor dos dentes.
Quando o animal apresenta mucosas cianóticas (azuis ou arroxeadas) isto indica choque e casos terminais, sendo, muitas vezes, indicativa da necessidade de eutanásia.
O tempo de perfusão ou preenchimento capilar (TPC) é um indicativo da perfusão periférica e do estado de hidratação.
O normal é até 2 segundos. Quando o TPC está aumentado, variando de 2 a 4 segundos, indica desidratação moderada a severa. Quando o TPC é superior a 4 segundos indica um comprometimento severo da perfusão e choque.
3.3.6. Avaliação clínica da desidratação
De pose dos dados obtidos acima, associados à avaliação do turgor (prega) cutâneo e da umidade da mucosa oral, podemos estimar a porcentagem de desidratação do animal. Isto é muito útil a campo, quando não dispomos de um laboratório clínico para nos fornecer dados de desidratação mais precisos, ou para estimarmos a desidratação e iniciar a fluidoterapia enquanto os resultados laboratoriais não chegam. De um modo geral podemos estimar clinicamente a desidratação do seguinte modo:
Leve (5%):TPC de 2 a 4 seg./ elasticidade da pele diminuída.
Moderada (10%): TPC de 4 a 6 seg./ extremidades frias e mucosas secas.
Severa (15%): TPC> 6 seg./ sede intensa/ extremidades frias/ mucosas secas/ retração do globo ocular e depressão. 
3.3.7. Avaliação da motilidade intestinal (peristaltismo)
A avaliação da motilidade intestinal é realizada pela auscultação das fossas paralombares direita e esquerda. Para sabermos avaliar a motilidade intestinal de um cavalo com cólica é imprescindível que treinemos nossa audição em cavalos com motilidade intestinal normal, para então podermos avaliar se nosso paciente está com motilidade normal, hipomotilidade ou hipermotilidade.
Em um animal saudável, com as vísceras posicionadas corretamente, iremos auscultar os quatro quadrantes das fossas paralombares:
Fossa paralombar direita: 	-ventral: ceco
-dorsal: ceco
Fossa paralombar esquerda:	-ventral: cólon maior esquerdo 
-dorsal: intestino delgado e cólon menor
�
Na ausculta intestinal podemos encontrar motilidade normal, atonia intestinal, hipomotilidade e hipermotilidade (cólicas espasmódicas).
A ausência de motilidade (atonia) é um indicativo importante da necessidade de cirurgia.
PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS E ESPECIAIS
4.1. Avaliação laboratorial da desidratação
Quando temos um laboratório de patologia clínica a nossa disposição podemos realizar duas dosagens rápidas e simples, porém de grande importância na determinação do grau de desidratação. Estas dosagens são o hematócrito (HT) ou volume globular (VG) e a proteína total (PT).
Com estes dados podemos calcular a desidratação com mais precisão:
desidratação leve (6%): VG 50 %; PT 8g/dl;
desidratação moderada (8%): VG 55 %; PT 9 g/dl;
desidratação severa (10%):VG > 55%; PT > 9g/ dl.
4.2. Sondagem nasogástrica
A sondagemnasogástrica atua como uma forma de tratamento, pois o esvaziamento gástrico promove alívio da cólica. Além disto, a análise do conteúdo gástrico que sai da sonda nasogástrica tem uma importância fundamental na decisão clínica/cirurgia.
O material e o procedimento são simples e trazem informações úteis.
Material: sonda nasogástrica flexível, de preferência de silicone, e lubrificante (furacin, óleo vegetal ou mineral, água).
Procedimento:
-o cavalo deve ser contido com um cachimbo ou pito, preferencialmente em um tronco de contenção adequado. O auxiliar deverá se posicionar do lado contrário ao veterinário que irá passar a sonda;
-segura-se o focinho e abre-se a narina correspondente;
-introduz-se a sonda um pouco e então flexiona-se a cabeça do animal para que a sonda não vá para a traquéia;
-observa-se se o animal deglutiu a sonda;
-podemos observar a sonda passar dentro do esôfago na região cervical esquerda;
-progride-se a sonda até a mesma se localizar no estômago (odor de conteúdo estomacal).
OBS: devemos ter cuidado para não progredir a sonda em excesso e romper o estômago. Também devemos ter certeza absoluta de que a sonda não está na traquéia para não colocarmos água no pulmão do animal.
-após a colocação da sonda no estômago, iremos proceder a lavagem gástrica, que deve ser feita de preferência com água morna;
-colocamos água na sonda, o suficiente para que a água chegue ao estômago e então posicionamos a extremidade da sonda para baixo para que o conteúdo estomacal saia por sifonagem;
-medimos o pH do conteúdo estomacal e avaliamos seu aspecto;
-o estômago deve ser lavado até que saia muco pela sonda;
-a sonda deve ser mantida até o estabelecimento de um diagnóstico e também para a administração de medicamentos orais quando necessário.
O pH normal do conteúdo estomacal é ácido (3), assim, quando obtemos um conteúdo gástrico com pH elevado, saberemos que o animal está sofrendo de um refluxo intestinal, ou seja, o conteúdo intestinal está voltando para o estômago. Quando obtemos um conteúdo gástrico com pH elevado e volume maior que 4 litros, é indicativo de laparotomia exploratória.
Quando a sondagem nasogástrica é improdutiva e nem a água que colocamos volta, devemos lidar com a suspeita de ruptura gástrica, o que, se confirmada, indica a eutanásia.
4.3. Palpação retal
A palpação retal é outro procedimento especial importantíssimo na determinação da etiologia da cólica e na decisão clínica/cirurgia. Embora possamos avaliar apenas 30% dos órgãos abdominais por este procedimento, as informações que podemos obter são essenciais. Portanto, a palpação retal é um procedimento que deve ser rotineiro no exame do animal com cólica.
Material: luva de palpação retal e lubrificante
O animal deve ser bem contido, de preferência em um tronco de contenção, pois nem todos animais aceitam a palpação retal, principalmente quando estão sentindo dor. Se necessário podemos usar um tranqüilizante leve.
Na realização do exame retal devemos ser muito cuidadosos com a manipulação para não causarmos ruptura de alças intestinais ou de reto.
Estruturas palpáveis e sua localização em um animal saudável:
Lado direito: corpo e base do ceco; tênias do ceco.
Dorsalmente ao reto: aorta abdominal e seus ramos; artéria mesentérica cranial; alças do cólon menor; duodeno; rim esquerdo?; ligamento nefro-esplênico.
Lado esquerdo: baço; cólon maior dorsal e ventral; flexura pélvica.
Ventralmente ao reto: superfície peritoneal; alças do cólon menor; intestino delgado; útero e ovários; bexiga urinária; anéis inguinais.
A maioria das alterações verificadas na palpação retal são indicativas de cirurgia, são elas: distensão de alças de cólon maior, palpação de corpos estranhos no cólon menor, alças do intestino delgado distendidas, tênias cecais ou do cólon tensas, alças encarceradas no anel inguinal, baço aumentado e deslocado com alças encarceradas no ligamento nefro-esplênico, segmentos deslocados, compactação severa, principalmente.
4.4. Paracentese e análise do líquido peritoneal
A paracentese é a colheita o líquido peritoneal. É um procedimento simples e seguro e que nos traz informações importantes no diagnóstico e na decisão clínica/cirurgia.
Material:
Cânula mamária ou agulha 40x12
Lâmina de bisturi
Tubos com EDTA para armazenar o líquido peritoneal
Tricótomo
Luvas estéreis
PVPI tópico
Procedimento
-é realizada uma tricotomia e assepsia cirúrgica em uma área quadrada de aproximadamente 10 cm x 10 cm, caudal ao processo xifóide, na região mais ventral do abdômen (fig. 1);
-calçando luvas estéreis, o veterinário realiza uma estocada com a lâmina de bisturi na área central da tricotomia, na região da linha branca;
-esta incisão com o bisturi pode abranger a pele e uma parte da linha branca, mas não deve ser profunda o suficiente para entrar na cavidade abdominal;
-posiciona-se a cânula mamária (fig. 2) ou agulha (fig. 1) no local da incisão e a inserimos até adentrar na cavidade abdominal;
-geralmente o líquido peritoneal flui por gravidade e coletamos 5 a 10 mL em tubo com EDTA para envio ao laboratório para sua análise;
-a campo e mesmo no hospital, podemos avaliar de imediato a cor e o aspecto do líquido, o que já nos oferece informações importantes.
-Erros na paracentese: perfurar alça intestinal (quando se utiliza agulha) ou não atingir a cavidade abdominal (animais muito gordos) (fig. 1).
Líquido abdominal normal:
-amarelo claro e transparente, proteínas abaixo de 2,5% e leucócitos abaixo de 3000/μL
O uso de cânula mamária é preferível à agulha, pois a cânula é romba e não perfura acidentalmente a alça intestinal, também possui um comprimento maior.
Quando obtemos um líquido peritoneal sanguinolento a amarronzado, suspeitamos de obstrução estrangulativa, principalmente do intestino delgado.
A obtenção de conteúdo alimentar indica que já houve ruptura intestinal ou punção acidental na paracentese.
5. INDICAÇÕES DE QUE UM PACIENTE COM CÓLICA DEVE SER ENVIADO PARA A LAPAROTOMIA EXPLORATÓRIA
1- Dor severa/ incontrolável, que não passa com analgésico;
2-Refluxo gástrico: mais de 4 L e pH aumentado;
3-Exame retal: distensão de alças, presença de CE, deslocamento de segmentos;
4-Auscultação intestinal: ausência de borborigmas;
5-Líquido peritoneal: presença de hemácias, leucócitos acima de 3000/mm3, Proteína > 2,5%, aspecto turvo.
 
Na presença de um ou mais destes fatores, o animal deve ser monitorado para estabelecer se é um caso cirúrgico ou não lembrando sempre que “É preferível enviar um animal para a laparotomia sem necessidade do que demorar a mandar o animal para a laparotomia”.
6. AFECÇÕES CIRÚRGICAS
6.1. CLASSIFICAÇÃO DAS AFECÇÕES CIRÚRGICAS
A) Obstruções simples ( problemas de fluxo da ingesta. Inicialmente não há comprometimento da circulação (não estrangulante)
		-fecalomas
		-enterólitos 
		-compactações
		-sablose (acúnulo de areaia)
		-trico e fitobezoares
		-enovelados de vermes, etc.
Obstruções estrangulativas ( comprometimento circulatório grave com comprometimento do fluxo alimentar. Primeiramente venoso e depois arterial (hipovolemia).
		-torção
		-vôlvulos
		-intussuscepções
		-hérnia inguinal dos garanhões
C) Infarto não estrangulante ( sem interferência com o fluxo da ingesta, mas com comprometimento vascular grave.
		-aneurisma por S. vulgaris
6.2. OBSTRUÇÕES SIMPLES
Evolução mais longa;
Compactação: flexura pélvica, cólon menor e íleo;
Corpos estranhos: enterólitos, fito ou tricobezoares;
Hipertrofia do íleo: cólicas leves intermitentes, que ficam mais constantes e graves com o tempo até necessitar de cirurgia;
Deslocamento de cólon maior;
Enovelado de vermes (Parascaris equorum)
6.3. OBSTRUÇÕES ESTRANGULATIVAS
Evolução mais aguda;
Intussuscepções: 
-mais frequente no jejuno;
-fator predisponente: parasitismo por P. equorumou Anoplocephala perfoliata;
-a de jejuno ocorre mais em potros (parasitismo);
-a intussuscepção ceco-cólica está associada ao parasitismo por A. perfoliata;
-a evolução é bastante aguda e o animal vem a óbito em 12 a 14 horas.
Encarceramentos:
No ligamento nefro-esplênico: cólon maior esquerdo;
No anel inguinal/hérnia inguinal do garanhão: jejuno e íleo, geralmente ocorre após a monta;
No forame epiplóico: jejuno;
Lipoma pedunculado: jejuno.
Vôlvulos/torções:
-Mais freqüente no jejuno, ceco e cólon maior;
-Muitas vezes são irreparáveis;
-Evolução aguda.
LAPAROTOMIA EXPLORATÓRIA
Definição: Consiste na abertura e posterior fechamento da cavidade abdominal.
Indicações: 	-Específica= quando o diagnóstico clínico já foi estabelecido; 
-Exploratória= o diagnóstico clínico é incerto; realiza-se a cirurgia visando estabelecer o diagnóstico e posterior tratamento de patologias cirúrgicas (vôlvulo, corpos estranhos, intussuscepção, compactações não corrigidas clinicamente).
LAPAROTOMIA EM EQUINOS
Vias de acesso: Laparotomia mediana
Indicações: Na maioria das intervenções exploratórias dos orgãos situados na cavidade abdominal, pois permite uma ampla visualização e adequado manuseio das vísceras.
Preparo cirúrgico: tricotomia abdominal ampla, sondagem nasogástrica e/ou tiflocentese (punção do ceco), quando necessários.
Técnica anestésica: anestesia geral inalatória
Posicionamento do animal: decúbito dorsal
Técnica cirúrgica propriamente dita:
Incisão na linha média, de aproximadamente 20 cm (podendo ser ampliada até 50 cm dependendo da necessidade), utilizando bisturi para incisão de pele e tesoura para incidir a linha branca ou alba, o tecido adiposo retro-peritoneal e o peritôneo. 
Exploração da cavidade abdominal: seguindo a anatomia e tendo como ponto de referência o ceco
Ceco
 Prega íleo-cecal Prega cecocólica
 Íleo Cólon ventral direito
 
 Jejuno Cólon ventral esquerdo
 Duodeno Cólon dorsal esquerdo
 
 Estômago Cólon dorsal direito
 
 Cólon Menor
Outras estruturas que devem ser avaliadas: diafragma, forame epiplóico, baço, bexiga, anéis inguinais, reto, artéria mesentérica cranial.
Correção das afecções intestinais:
-descompressão de gás, fluido ou ingesta;
-fragmentação manual de compactações ou fecalitos; 
-reposicionamento de alças intestinais deslocadas; 
-remoção de corpos estranhos, enterólitos ou fecalitos; 
-enterotomias, enterectomias (ressecção) e anastomose.
Instrumental adicional: clamps intestinais, aspirador cirúrgico, mesa de cólon, mangueira de água, etc.
Síntese da parede abdominal:
Feita em três planos:
1( plano= peritônio + gordura retro-peritoneal + linha branca com pontos simples separados, ponto simples contínuo ou Sultan com fio de boa qualidade e calibre apropriado. Nylon 0,60, Suturamid 4, poliglactina 910 3 ou ácido poliglicólico 2.
2( plano= tecido celular subcutâneo com padrão subcutâneo com poliglactina 910 0.
3( plano= pele, com pontos simples separados ou Wolff ou ainda ancorado de Ford ou simples contínuo, com nylon 0,60 ou suturamid 2.
Tratamento pós-operatório:
Antibioticoterapia:
Penicilina benzatina: 40.000 UI/kg – IM – a cada 48 horas + Gentamicina: 6,6 mg/kg IV – SID
Ceftiofur: 2 mg/kg IM BID
Curativo local:
Diário com iodo 2%
Fluidoterapia
Drogas estimulantes da motilidade intestinal
Tratar e/ou prevenir as principais complicações
Outros Cuidados: 
- monitorização constante do paciente (exame clínico completo)
- jejum até ausência completa de refluxo gástrico (verificado através da passagem de sonda naso-gástrica)
- jejum alimentar até restabelecimento da função intestinal. Iniciar a alimentação com volumosos (pasto) em pequena quantidade. O retorno com o concentrado (ração) deve ser gradual.
8. ENTEROTOMIA, ENTERECTOMIA E ANSTOMOSE
8.1. Enterotomia na flexura pélvica
	Realizada nos casos de compactação de flexura pélvica e/ou cólon maior para esvaziamento intestinal. Com o cólon maior posicionado na mesa de cólon, realizamos uma incisão na flexura pélvica, na face anti-mesentérica. Após a retirada de todo conteúdo colônico realizamos a síntese da flexura pélvica com fio poliglactina (vycril) 0, uma camada de Schimieden e uma de Cushing.
8.2. Enterotomia de cólon menor
	Realizada para retirada de corpos estranhos e em compactação de cólon menor. O procedimento é semelhante ao anterior, devendo a incisão ser realizada na tênia do cólon menor.
8.3. Enterectomia e anastomose
	Realizada nos casos de afecções isquemiantes, nas quais é necessário retirar um segmento intestinal. Na maioria dos casos envolve o jejuno. Ao realizar uma enterectomia devemos cuidar para que nenhum segmento fique sem suprimento sanguíneo. Após delimitar o segmento que será retirado, colocamos dois clamps intestinais para diminuir a contaminação da cavidade e ligamos os vasos sanguíneos que serão incididos. Com um bisturi fazemos uma incisão na alça, retirando a porção necrosada. A sutura deve ser realizada com vycril 0. O padrão utilizado pode ser simples contínuo, simples separado. Devemos suturar o mesentério com vycril 0 e padrão simples contínuo.
9. COMPLICAÇÕES
A laparotomia nos eqüinos é um tipo de cirurgia que apresenta uma grande chance de apresentar complicações pós-operatórias. As principais complicações são: evisceração, laminite, flebite da jugular, coagulação intravascular disseminada, contaminação da ferida e endotoxemia. Deste modo devemos estar atentos a qualquer sinal destas complicações para tratá-las o mais precocemente possível e, melhor ainda, instituir um tratamento preventivo.
10. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
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Cólon maior
Ceco
Ceco
ID e cólon menor
Ventral
Dorsal
Esquerdo Direito
Flexura pélvica

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