Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Equac¸o˜es Diferenciais Ordina´rias Equac¸o˜es Diferenciais sa˜o equac¸o˜es que envolvem uma func¸a˜o inco´gnita e suas derivadas. Classificam-se em dois tipos: • Equac¸o˜es Diferenciais Ordina´rias(EDO). Quando a func¸a˜o e´ de uma varia´vel real. • Equac¸o˜es Diferenciais Parciais(EDP). Tratam de func¸o˜es de va´rias varia´veis reais, junta- mente com suas derivadas parciais. A ordem de uma equac¸a˜o diferencial e´ a mais alta ordem de derivada da func¸a˜o inco´gnita que ocorre na equac¸a˜o. Exemplos 1. a) 2 f ′(x)− x2 = 0 equac¸a˜o diferencial ordina´ria de 1a ordem. b) x ∂y ∂x − cos(3xz)∂y ∂z − 1 = x+ z − ∂ 2y ∂x∂z equac¸a˜o diferencial parcial de 2a ordem. c) 1 g′′(t) = sen(t)− eg(t)−2 EDO de 2a ordem. d) 1 8 h′′′ + 1 4 h′′ + 1 2 h′ = 3e5x EDO de 3a ordem. O estudo das equac¸o˜es diferenciais parciais e´ uma vasta a´rea da Matema´tica que ainda apresenta muitas questo˜es ba´sicas na˜o resolvidas. Na˜o ha´ uma teoria geral que englobe todas as EDPs, e cada equac¸a˜o ou tipo de equac¸a˜o costuma ter sua pro´ria teoria, quando ha´ alguma. Estaremos interessados nas equac¸o˜es diferenciais ordina´rias, para as quais existe uma teoria geral ao menos nos aspectos de existeˆncia e unicidade. Definimos uma Soluc¸a˜o de uma EDO como qualquer func¸a˜o que substitua a func¸a˜o inco´gnita na equac¸a˜o. Existem enta˜o 3 questo˜es abordadas pela teoria geral para EDOs: • A EDO tem alguma soluc¸a˜o ?(Pode-se impor condic¸o˜es para que exista alguma soluc¸a˜o ?) • Caso exista, a soluc¸a˜o sera´ u´nica ou na˜o ? • Podemos obter uma fo´rmula para a(s) soluc¸a˜o(o˜es)? A teoria para EDOs responde parcialmente a essas questo˜es. Em geral quando as func¸o˜es envol- vidas na EDO sa˜o cont´ınuas pode-se mostrar existeˆncia de soluc¸a˜o. Quando as func¸o˜es envolvidas possuem 1as derivadas cont´ınuas, pode-se mostrar unicidade local da soluc¸a˜o. 1 Problema de Valor Inicial E´ uma EDO juntamente com uma condic¸a˜o inicial, a ser satisfeita pela soluc¸a˜o. Exemplo 2. Resolva o problema de valor inicial{ 2f ′(x)− x2 = 0 f(1) = 5. Soluc¸a˜o. Isolando f ′(x) na equac¸a˜o e integrando obtemos f ′(x) = x2 2 ⇒ f(x) = ∫ x2 2 dx = x3 6 + C . Usando a condic¸a˜o inicial f(1) = 5 = 1 3 6 +C conclu´ımos que C = 29 6 , logo f(x) = x 3 6 + 29 6 e´ a soluc¸a˜o. 1 Exemplo 3. Mostre que o PVI abaixo admite somente a soluc¸a˜o y(x) = 2ex. dy dx = y y(0) = 2 Soluc¸a˜o. A func¸a˜o y(x) = 2ex e´ uma soluc¸a˜o do problema de valor inicial pois y′(x) = [2ex]′ = 2ex = y(x), e y(0) = 2. Resta mostrar que e´ a u´nica. Seja f(x) uma func¸a˜o que resolva o PVI. Enta˜o, d dx ( y(x) f(x) ) = f(x)y′(x)− y(x)f ′(x) (f(x))2 = fy − yf f 2 = 0 , oque implica y(x) = kf(x) para alguma constante k ∈ R. Agora usamos a condic¸a˜o inicial y(0) = 2 = f(0) para obter k = 1. Logo, f(x) = y(x), oque prova a unicidade de soluc¸a˜o. Exemplo 4. Mostre que x(t) = sen(t) e´ soluc¸a˜o de x′′ + x = 0 x (pi 2 ) = 1 . Ha´ outras soluc¸o˜es ? Soluc¸a˜o. Como sen(t) + d 2 dt2 sen(t) = sen(t)− sen(t) = 0 e sen(pi/2) = 1 veˆ-se que x(t) e´ soluc¸a˜o do PVI acima. Contudo, para qualquer A ∈ R a func¸a˜o f(t) = A cos(t)+ sen(t) tambe´m e´ soluc¸a˜o, pois (A cos(t) + sen(t)) + d2 dt2 (A cos(t) + sen(t)) = A cos(t)− A cos(t) + sen(t)− sen(t) = 0 . E f(pi/2) = A cos(pi/2) + sen(pi/2) = 1. Vemos que o PVI dado na˜o possui unicidade de soluc¸a˜o. 2 Aplicac¸o˜es em Modelagem 2.1 Crescimento Populacional Sejam P o nu´mero de indiv´ıduos de uma populac¸a˜o e t o tempo. Note que nesse modelo P varia continuamente, oque dara´ uma boa aproximac¸a˜o da realidade somente se os valores de P forem bastante grandes. A hipo´tese ba´sica e´ que a taxa de crescimento populacional (dP dt ) e´ diretamente proporcional ao no. de indiv´ıduos P : dP dt = k.P . Se conhecemos P0, o valor da populac¸a˜o no instante t = 0, podemos estudar o PVI dP dt = k.P P (0) = P0 . A soluc¸a˜o geral para o problema acima e´ P (t) = P0e kt. 2 2.2 Vibrac¸o˜es mecaˆnicas Um modelo para o movimento de um corpo de massa m preso a uma extremidade de um mola de constante k, estando a outra extremidade fixa. Permitimos o movimento somente na direc¸a˜o vertical. Consideramos tambe´m o atrito devido a` resisteˆncia com o ar. Nesse modelo, k, g, γ e l sa˜o constantes que dependem da F´ısica do problema. Grandezas f´ısicas : 1) Forc¸a gravitacional sobre o corpo: +mg. 2) Forc¸a que a mola exerce sobre o corpo, estando esse na posic¸a˜o u: −k(u+ l). 3) Velocidade do corpo:du dt . 4) Acelerac¸a˜o do corpo:d 2u dt2 . 5) Forc¸a de resisteˆncia do ar sobre o corpo:−γ du dt . 6) Forc¸a externa:Fext. 7) Lei de Newton: Forc¸a resultante (Fres) = massa × acelerac¸a˜o. Aplicando 7) a todos os elementos acima obtemos Fres = mg − k(u+ l)− γ du dt + Fext , e logo, mu′′ = mg − ku− kl − γu′+Fext ⇒ mu′′ + γu′ + ku = Fext . 2.3 Lei do Resfriamento de Newton Considere um objeto que no instante t = 0 esta´ a uma temperatura u0. Colocado em um ambiente onde a temperatura e´ mantida constante e igual a uL, havera´ troca de calor entre o objeto e o ambiente se u0 6= uL, de forma que a temperatura u = u(t) do objeto gradualmente se aproxime de uL (equil´ıbrio te´rmico). A Lei do resfriamento de Newton diz que a taxa temporal segundo a qual a temperatura do objeto varia e´ proporcional a` diferenc¸a u(t)− uL, ou seja, du dt (t) = u′(t) = α(u(t)− uL) . A constante F´ısica α depende de va´rios elementos, como geometria do objeto, material de que e´ composto, material de que o meio e´ composto, etc. Em geral, quando α na˜o e´ dado no problema pode ser determinado diretamente desde que tenhamos medidas de temperatura do objeto em dois instantes distintos de tempo (ver Exemplo (14)). 3 EDOs de 1a ordem Podemos sempre reescrever a EDO de 1a ordem como y′ = f(x, y) ou dy dx = f(x, y(x)) , onde f(x, y) e´ func¸a˜o nas varia´veis independentes x e y. Exemplo 5. Coloque a equac¸a˜o diferencial de 1a ordem abaixo na forma padra˜o: (2− x2)y′ − 1 y = 2x . Mostre que para todo C ∈ R a func¸a˜o y(x) = C−x x2−2 e´ soluc¸a˜o para essa EDO. 3 Soluc¸a˜o. A forma padra˜o e´ aquela onde isolamos a derivada de y(x): (2− x2)y′ − 1 y = 2x ⇒ (2− x2)y′ = 2xy + 1 ⇒ y′ = 2xy + 1 2− x2 . Calculando a derivada de y(x) = C−x x2−2 e multiplicando por (2− x2) obtemos (2− x2) ( C − x x2 − 2 )′ = x2 − 2 + 2Cx− 2x2 x2 − 2 = 1 + 2 (C − x)x x2 − 2 = 1 + 2xy(x) , logo y(x) = C−x x2−2 e´ soluc¸a˜o. 3.1 Equac¸o˜es Separa´veis Uma EDO de 1a ordem na forma padra˜o y′ = f(x, y) e´ dita separa´vel se existem func¸o˜es de uma varia´vel g(x) e h(y) tais que f(x, y) = g(x).h(y). Equac¸o˜es separa´veis sa˜o resolvidas por integrac¸a˜o direta. y′ = f(x, y) = g(x)h(y) ⇒ dy dx = g(x)h(y) ⇒ dy h(y) = g(x) dx ⇒ ∫ dy h(y) = ∫ g(x) dx . Observe que na u´ltima sentenc¸a acima obtemos no lado esquerdo, apo´s integrar, uma func¸a˜o de y, que se iguala a uma func¸a˜o de x no lado direito. Para obtermos uma fo´rmula expl´ıcita para a soluc¸a˜o da equac¸a˜o separa´vel sera´ necessa´rio calcular a inversa da func¸a˜o de y que ocorre integrando, oque nem sempre e´ poss´ıvel. Exemplo 6. Encontre uma soluc¸a˜o para y′ = (1 + y2)ex. Verifique diretamente essa soluc¸a˜o. Soluc¸a˜o. Separando a parte em y da parte em x e integrando: dy (1 + y2) = ex dx ⇒ ∫ dy (1 + y2) = ∫ ex dx ⇒ arctan(y) = ex + C ⇒ y = tan(ex + C) . A constante C obtida acima e´ em princ´ıpio arbitra´ria. Contudo, o domı´nio maximal para a soluc¸a˜o dependera´ de C, segundo a relac¸a˜o −pi 2 < ex + C < pi 2 . Verificando a soluc¸a˜o: y′ = sec2(ex + C).ex = (1 + tan2(ex + C))ex = (1 + y2)ex . Exemplo7. Encontre uma soluc¸a˜o para o problema de valor inicial. y′ = x (x2 + 1) cos(y) y(0) = pi 3 . 4 Soluc¸a˜o. Separando as varia´veis e integrando: dy dx = x (x2 + 1) cos(y) ⇒ cos(y) dy = x x2 + 1 dx ⇒ ∫ cos(y) dy = ∫ x x2 + 1 dx ⇒ sen(y) = 1 2 ln(x2 + 1) + C ⇒ y(x) = arcsen ( 1 2 ln(x2 + 1) + C ) . A constante de integrac¸a˜o C e´ determinada pela condic¸a˜o inicial: y(0) = pi 3 = arcsen ( 1 2 ln(1) + C ) ⇒ C = sen (pi 3 ) = √ 3 2 . 3.2 Equac¸o˜es exatas Para motivarmos esse tipo de equac¸a˜o de 1a ordem consideramos uma func¸a˜o g : U ⊂ R2 → R nas varia´veis x e y, diferencia´vel. Dado uma constante C ∈ R, a equac¸a˜o g(x, y) = C define uma curva de n´ıvel C de g(x, y). Pode-se tambe´m ver essa equac¸a˜o como uma definic¸a˜o para func¸o˜es impl´ıcitas x(y) ou y(x). Suponha enta˜o que exista uma func¸a˜o y = y(x) definida num intervalo I ⊂ R e tal que para todo x ∈ I, g(x, y(x)) = C , (1) oque equivale a dizer que o gra´fico de y(x) esta´ contido na curva de n´ıvel C de g. Se y(x) for diferencia´vel, aplicando a regra da cadeia para derivar a equac¸a˜o (1), obtemos d dx g(x, y(x)) = ∂g ∂x (x, y(x)) + ∂g ∂y (x, y(x)).y′(x) = 0 . Colocando P (x, y) = ∂g ∂x (x, y) e Q(x, y) = ∂g ∂y (x, y), a equac¸a˜o acima se torna P (x, y) +Q(x, y)y′ = 0 . (2) A equac¸a˜o diferencial de 1a ordem (2) e´ chamada de equac¸a˜o exata porque as func¸o˜es P (x, y) e Q(x, y) sa˜o as duas coordenadas de um campo gradiente, (P,Q) = ∇g. O interesse nessas equac¸o˜es esta´ no fato de que suas soluc¸o˜es podem ser dadas implicitamente por g(x, y) = C, e algumas vezes, podemos inclusive escrever a func¸a˜o y(x) explicitamente. A questa˜o esta´ em encontrar a func¸a˜o g(x, y). Exemplo 8. Mostre que a equac¸a˜o 6x2y + 1 + 2x3y′ = 0 e´ exata e ache uma soluc¸a˜o. Soluc¸a˜o. Vendo a equac¸a˜o na forma P + Qy′ = 0 temos P (x, y) = 6x2y + 1 e Q(x, y) = 2x3. A equac¸a˜o e´ exata se e somente se (P,Q) e´ (localmente) conservativo. Calculamos ∂Q ∂x − ∂P ∂y = (6x2)− (6x2) = 0 . Isso mostra que o campo vetorial (P,Q) e´ localmente um gradiente, portanto a equac¸a˜o e´ exata. Para obter um potencial desse campo, resolvemos o sistema ∂g ∂x = 6x2y + 1 ∂g ∂y = 2x3 5 Integrando a segunda equac¸a˜o acima relativo a y, obtemos g(x, y) = 2x3y+ k(x). Diferenciando esta u´ltima em x e comparando com ∂g ∂x conclu´ımos que k′(x) = 1, logo k(x) = x+C2. A func¸a˜o potencial fica g(x, y) = 2x3y + x+ C2 e a soluc¸a˜o da equac¸a˜o dada e´ 2x3y + x+ C2 = C ⇒ y(x) = C − x 2x3 . Na u´ltima passagem acima incorporamos C2 na constante C arbitra´ria. Exemplo 9. Resolva o PVI{ sen(y) + y cos(x) + (x cos(y) + sen(x) + y)y′ = 0 y(0) = 2 Soluc¸a˜o. A EDO e´ exata pois ∂ ∂x (x cos(y) + sen(x) + y)− ∂ ∂y (sen(y) + y cos(x)) = (cos(y) + cos(x))− (cos(y) + cos(x)) = 0 . Para obtermos g(x, y) identificamos ∂g ∂x = sen(y) + y cos(x) e ∂g ∂y = x cos(y) + sen(x) + y , procedemos a` integrac¸a˜o em x da primeira equac¸a˜o para obter g(x, y) = xsen(y) + ysen(x) + k(y). Derivando relat. y e comparando com a segunda equac¸a˜o, achamos k′(y) = y, logo k(y) = y2/2 (desprezamos a cte. de integrac¸a˜o aqui porque ela sera´ inclu´ıda na cte C da curva de n´ıvel). A equac¸a˜o que nos da´ implicitamente a soluc¸a˜o da EDO fica g(x, y) = C ou xsen(y)+ysen(x)+ y 2 2 = C. A condic¸a˜o inicial permite achar o valor de C: fazendo x = 0 e y = 2, 0 sen(2) + 2sen(0) + 22 2 = C ⇒ C = 2 . A soluc¸a˜o y(x) do PVI e´ dada implicitamente por xsen(y) + ysen(x) + y2 2 = 2 . Quando uma equac¸a˜o na forma P (x, y) + Q(x, y)y′ = 0 na˜o for exata podemos tentar fazeˆ-la exata multiplicando por uma func¸a˜o apropriada µ(x, y), chamada fator integrante. A obtenc¸a˜o dessa func¸a˜o nem sempre e´ fa´cil, e na˜o ha´ uma regra espec´ıfica para encontra´-la. Exemplo 10. Resolva a equac¸a˜o 2 cos(x− y)− xsen(x− y) + xsen(x− y)y′ = 0. Soluc¸a˜o. A equac¸a˜o na˜o e´ exata na forma dada, pois ∂ ∂x (xsen(x−y)) = sen(x−y)+x cos(x−y) 6= 2sen(x−y)+x cos(x−y) = ∂ ∂y (2 cos(x−y)−xsen(x−y)) . Multiplicando a equac¸a˜o por x, obtemos uma equac¸a˜o equivalente e exata: 2x cos(x− y)− x2sen(x− y) + x2sen(x− y)y′ = 0 ⇒ ∂ ∂x (x2sen(x− y)) = 2xsen(x− y) + x2 cos(x− y) = = ∂ ∂y (2x cos(x− y)− x2sen(x− y)). Integrando em y a equac¸a˜o ∂g ∂y = x2sen(x − y) obtemos g(x, y) = x2 cos(x − y) + k(x). Calculando ∂g ∂x e comparando, vemos que k′(x) = 0, logo g(x, y) = x2 cos(x− y) = C e´ a soluc¸a˜o dada na forma impl´ıcita. Podemos isolar y nesse caso, y(x) = x− arccos ( C x2 ) . 6 4 Equac¸o˜es Lineares Dizemos que uma EDO e´ linear de ordem n (n ∈ N) quando pode ser escrita na forma dny dxn + p1(x) dn−1y dxn−1 + p2(x) dn−2y dxn−2 + · · ·+ pn(x)y = q(x) . Na equac¸a˜o acima a func¸a˜o inco´gnita e´ y(x). As func¸o˜es p1(x), p2(x) . . . pn(x) e q(x) sa˜o func¸o˜es arbitra´rias na varia´vel x chamadas coeficientes. Uma EDO linear e´ homogeˆnea quando q(x) (termo independente) for identicamente nulo. Como exemplo, y′′′ − 3x2y′′ + 2y ′ 1 + x2 − 5y = 0 e´ uma equac¸a˜o linear homogeˆnea de ordem 3. As func¸o˜es coeficientes sa˜o p1(x) = −3x2, p2(x) = 21+x2 , p3(x) = −5 e q(x) = 0. Dada uma EDO chamemos de S o conjunto de todas suas soluc¸o˜es. Teorema 4.1. O conjunto de soluc¸o˜es S da EDO linear homogeˆnea dny dxn + p1(x) dn−1y dxn−1 + p2(x) dn−2y dxn−2 + · · ·+ pn(x)y = 0 e´ um espac¸o vetorial. Demonstrac¸a˜o. Sejam y1(x) e y2(x) duas soluc¸o˜es de (4.1). Enta˜o, dny1 dxn + p1(x) dn−1y1 dxn−1 + p2(x) dn−2y1 dxn−2 + · · ·+ pn(x)y1 = 0 dny2 dxn + p1(x) dn−1y2 dxn−1 + p2(x) dn−2y2 dxn−2 + · · ·+ pn(x)y2 = 0 Somando estas equac¸o˜es membro a membro, e lembrando que o operador d k dxk e´ linear, obtemos dn(y1 + y2) dxn + p1(x) dn−1(y1 + y2) dxn−1 + p2(x) dn−2(y1 + y2) dxn−2 + · · ·+ pn(x)(y1 + y2) = 0 , oque mostra ser y1 + y2 soluc¸a˜o de (4.1). Analogamente, se α e´ constante real, dk(αy) dxk = α d ky dxk para 1 ≤ k ≤ n. Multiplicando (4.1) por α obtemos a mesma equac¸a˜o satisfeita por αy. Como y ≡ 0 e´ soluc¸a˜o, conclu´ımos que o conjunto S satisfaz os dois axiomas ba´sicos dos espac¸os vetoriais, e portanto, e´ espac¸o vetorial. 5 EDO linear de 1a ordem Na forma geral pode ser escrita como y′(x) + p(x)y(x) = q(x) . Estrate´gia para soluc¸a˜o: Encontrar uma func¸a˜o I(x) tal que multiplicada pelo 1o membro de (5) nos da´ a derivada de um produto. Precisamente, desejamos que I(x)(y′ + p(x)y) = d dx [I(x)y] . (3) 7 Desenvolvendo o 2o membro da equac¸a˜o acima: d dx [I(x)y] = I ′(x)y(x) + I(x)y′(x) ⇒ I ′(x)y(x) = I(x)p(x)y(x) ⇒ I ′(x) = I(x)p(x) (4) Suponha que tenhamos uma soluc¸a˜o I(x) para a equac¸a˜o (4). Substituindo em (3), d dx [I(x)y(x)] = I(x)q(x) ⇒ ∫ d dx [I y] dx = ∫ I(x)q(x) dx ⇒ (I y)(x) = ∫ I(x)q(x) dx ⇒ y(x) = 1 I(x) ∫ I(x)q(x) dx . Resolvemos pois a EDO a menos de uma integral. A func¸a˜o I(x) e´ chamada fator integrante para a equac¸a˜o (5) e e´ dada explicitamente por I(x) = e R p(x) dx . A soluc¸a˜o geral de (5) pode ser escrita y(x) = e− R p(x) dx. ∫ e R p(x) dx q(x) dx . Exemplo 11. Resolva a equc¸a˜o y′ = y. Soluc¸a˜o. Na forma y′ − y = 0 vemos que p(x) = −1. Logo, o fator integrante e´ I(x) = e R −1 dx = e−x Multiplicando I(x) pelos dois membros da equac¸a˜o e−x(y′−y) = 0 ou [e−xy]′ = 0. Integrando ambos os membros obtemos e−xy = C, logo y(x) = Cex, para C constante arbitra´ria. Exemplo 12. Idem para y′ + 10xy = 0. Soluc¸a˜o. Como p(x) = 10x, o fator integrante e´ I(x) = e R 10x dx = e5x 2 . Enta˜o, e5x 2 (y′ + 10xy) = (e5x 2 y)′= 0 ⇒ e5x2y = C . A soluc¸a˜o geral fica y(x) = Ce−5x 2 com C ∈ R constante. Exemplo 13. Resolva o problema de valor inicial y ′ = y x + x y(1) = 2 Soluc¸a˜o. Colocamos a equac¸a˜o na forma y′ − y x = x. O fator integrante vale I(x) = e R − 1 x dx = 1 x . 1 x ( y′ − y x ) = 1 x .x ⇒ ( 1 x y )′ = 1 . Conclu´ımos que y x = x + C, e logo, y(x) = x2 + Cx e´ a soluc¸a˜o geral. Aplicando a condic¸a˜o inicial, y(1) = 2 = 1 + C obtemos C = 1. A soluc¸a˜o do PVI e´ y(x) = x2 + x. 8 Exemplo 14. Um objeto aquecido a 1000 C e´ colocado, no instante t = 0, em um quarto a uma temperatura de 200 C. Um minuto apo´s, a temperatura do objeto passa a 900 C. Admitindo a Lei do Resfriamento de Newton determine a temperatura u(t) do objeto em func¸a˜o do tempo. Soluc¸a˜o. Aplicando a Lei de Newton obtemos a equac¸a˜o diferencial que rege o resfriamento, u′ = α(u− 20) ou u′ − αu = −20α. Resolvendo com I(t) = e−αt, e−αt(u′ − αu) = −20αe−αt (e−αtu)′ = −20αe−αt ⇒ e−αtu = ∫ −20αe−αt dt ⇒ u(t) = 20 + Ceαt . Para acharmos o valor das constantes α e C possu´ımos informac¸a˜o sobre u(t) em dois pontos distintos: u(0) = 100 e u(1) = 90. { 100 = 20 + C 90 = 20 + Ceα Resolvendo o sistema encontramos C = 80 e α = ln(7/8) ou equivalentemente eα = 7 8 . A soluc¸a˜o fica u(t) = 20 + 80 ( 7 8 )t . EDOs lineares de 2a ordem Sa˜o equac¸o˜es que podem ser escritas na forma d2y dx2 (x) + p1(x) dy dx (x) + p2(x)y(x) = q(x) ou y′′ + p1y ′ + p2y = q , subentendendo que p1, p2 e q sa˜o func¸o˜es apenas na varia´vel independente x e na˜o na func¸a˜o inco´gnita y. Exemplos 15. a) y′′ + x2y′ − 2xy = cos(x) Equac¸a˜o linear na˜o homogeˆnea b) y′′ + 1 x y′ − 5y = 0 Equac¸a˜o linear homogeˆnea c) y′′ + 3y′ − y = 0 Eq. Linear homogeˆnea com coeficientes constantes. 6 Valor Inicial e Condic¸a˜o de Contorno Ja´ vimos que EDOs que apresentam alguma soluc¸a˜o costumam ter um nu´mero infinito de soluc¸o˜es, indexadas por uma ou mais constantes. Para obtermos uma soluc¸a˜o u´nica, ale´m da hipo´tese sobre a regularidade das func¸o˜es envolvidas (func¸o˜es diferencia´veis) devemos acrescentar informac¸a˜o pontual sobre a soluc¸a˜o desejada. No caso da EDO linear de 2a ordem, isto se da´ atrave´s de Valor Inicial, quando suprimos o valor de y(x) e sua derivada num ponto x0. Exemplo 16. y′′ + p1y ′ + p2y = q y(x0) = y0 y′(x0) = y ′ 0 9 Outra maneira de agregar informac¸a˜o pontual sobre a(s) soluc¸a˜o(o˜es) desejada(s) e´ por meio de Condic¸a˜o de Contorno, quando acrescentamos informac¸a˜o sobre y(x) ou y′(x) em dois pontos distintos x1, x2. Exemplos 17. y′′ + p1y ′ + p2y = q y(x0) = y0 y(x1) = y1 , y′′ + p1y ′ + p2y = q y′(x0) = y ′ 0 y′(x1) = y ′ 1 A observac¸a˜o a ser feita aqui e´ que problemas de valores de contorno podem na˜o ter soluc¸a˜o alguma, ou mesmo ter va´rias soluc¸o˜es, ainda que as func¸o˜es que aparecem na EDO sejam bem regulares. Sua ana´lise requer um pouco da teoria de autovalores e autovetores de operadores lineares. Nessas notas nos restringiremos, portanto, aos problemas de valor inicial para EDOs de 2a ordem. 7 EDO linear de 2a ordem homogeˆnea de coeficientes cons- tantes Fazendo p1(x) = a, p2(x) = b e q(x) = 0 em , a, b constantes reais, obtemos y′′ + ay′ + by = 0 . (5) Sabemos que o conjunto de soluc¸o˜es S de (5) e´ um espac¸o vetorial. Dentro da teoria geral para equac¸o˜es lineares homogeˆneas mostra-se tambe´m o seguinte teorema. Teorema 7.1. O espac¸o vetorial S tem dimensa˜o 2 sobre os reais. O teorema acima nos e´ u´til quando dispomos de duas soluc¸o˜es y1(x) e y2(x) linearmente inde- pendentes para (5). Podemos enta˜o escrever a soluc¸a˜o geral como combinac¸a˜o arbitra´ria de y1 e y2. Note que para duas func¸o˜es y1(x) e y2(x) serem L.I., e´ suficiente que uma na˜o seja mu´ltipla da outra. Para acharmos duas soluc¸o˜es L.I. de (5) buscamos soluc¸o˜es da forma y(x) = erx, para algum r constante. Calculando as derivadas de erx: y′(x) = r.erx , y′′(x) = r2.erx . Substituindo em (5) r2erx + arerx + berx = 0 ⇒ erx(r2 + ar + b) = 0 . Como erx e´ sempre diferente de 0, a func¸a˜o y(x) = erx so´ pode ser soluc¸a˜o se r2 + ar + b = 0 . (6) A equac¸a˜o alge´brica (6) e´ chamada equac¸a˜o caracter´ıstica para a EDO (5). Suas ra´ızes r1 e r2, dadas por r1 = −a +√a2 − 4b 2 , r2 = −a−√a2 − 4b 2 ira˜o definir o comportamento da soluc¸a˜o geral de (5). 10 7.1 Ra´ızes reais distintas Quando r1 6= r2 sa˜o reais, ambas as func¸o˜es er1x e er2x sa˜o soluc¸o˜es de (5). Como sa˜o linearmente independentes, constituem uma base para o espac¸o de soluc¸o˜es. Logo, a soluc¸a˜o geral e´ y(x) = C1 e r1x + C2 e r2x , C1 e C2 constantes arbitra´rias. Exemplo 18. Encontre a soluc¸a˜o geral de y′′ + 5y′ + 6y = 0. Soluc¸a˜o. A equac¸a˜o caracter´ıstica e´ r2 + 5r + 6 = 0, cujas ra´ızes sa˜o r1 = −2 e r2 = −3. A soluc¸a˜o geral fica y(x) = C1 e −2x + C2 e −3x . Exemplo 19. Resolva o problema de valor inicial y′′ − y′ − 2y = 0 y(0) = 3 y′(0) = 1 . Soluc¸a˜o. A equac¸a˜o caracter´ıstica e´ r2 − r − 2 = 0, cujas soluc¸o˜es sa˜o r1 = 2 e r2 = −1. A soluc¸a˜o geral e´ y(x) = C1e 2x + C2e −x. A condic¸a˜o inicial e´ usada para determinar C1 e C2. Derivando y(x), y′(x) = 2C1e 2x − C2e−x e calculando y(0), y′(0) obtemos{ y(0) = 3 = C1 + C2 y′(0) = 1 = 2C1 − C2 ⇒ C1 = 4 3 , C2 = 5 3 . A soluc¸a˜o geral: y(x) = 4 3 e2x + 5 3 e−x. 7.2 Ra´ızes reais iguais No caso de haver uma u´nica ra´ız real dupla r(= r1 = r2) obtemos diretamente uma u´nica soluc¸a˜o na forma erx. Podemos mostrar que outra soluc¸a˜o linearmente independente e´ da forma xerx. Realmente, substituindo em (5), (xerx)′′ + a(xerx)′ + bxerx = (2rerx + r2xerx) + a(erx + rxerx) + bxerx = erx[(r2 + ar + b)x+ (2r + a)] . Para que haja uma ra´ız real u´nica e´ necessa´rio a2 − 4b = 0 ou seja r = −a 2 . Enta˜o os coeficientes (r2 + ar + b) e (2r + a) sa˜o nulos. A expressa˜o acima se torna (xerx)′′ + a(xerx)′ + bxerx = erx[(r2 + ar + b)x+ (2r + a)] = 0 . Disso segue que xerx e´ soluc¸a˜o. A soluc¸a˜o geral e´ y(x) = C1 e rx + C2x e rx = erx(C1 + C2x) . Exemplo 20. Resolva o PVI: y′′ + 2y′ + y = 0 y(0) = 2 y′(0) = 0 . 11 Soluc¸a˜o. A equac¸a˜o caracter´ıstica r2 + 2r + 1 nos da´ r = −1 como u´nica ra´ız. Enta˜o usaremos a soluc¸a˜o geral y(x) = e−x(C1 + C2x). Calculando y′(x) = e−x(−C1 + C2 − C2x) ⇒ y′(0) = −C1 + C2 , e acrescentando a condic¸a˜o inicial com y(0) = C1 obtemos{ y(0) = C1 = 2 y′(0) = −C1 + C2 = 0 Resolvendo o sistema acima, encontramos C1 = C2 = 2, logo a soluc¸a˜o e´ y(x) = 2e −x(1 + x). 7.3 Ra´ızes complexas Se a2 < 4b as ra´ızes da equac¸a˜o caracter´ıstica sa˜o nu´meros complexos conjugados. Definindo λ = −a 2 e µ = √ 4b− a2, as ra´ızes ficam r1 = −a +√a2 − 4b 2 = λ+ iµ r2 = −a−√a2 − 4b 2 = λ− iµ . Matematicamente, soluc¸o˜es a valores complexos linearmente independentes sa˜o pois e(λ+iµ)x e e(λ−iµ)x. Desejamos contudo soluc¸o˜es a valores reais. Isso e´ conseguido combinando-se linearmente as duas soluc¸o˜es complexas acima. A Fo´rmula de Euler e´ usada. Teorema 7.2. Para todo nu´mero real s vale eis = cos(s) + isen(s) . Em consequeˆncia as func¸o˜es seno e cosseno podem ser escritas cos(s) = eis + e−is 2 e sen(s) = eis − e−is 2i . Definindo y1(x) = 1 2 (e(λ+iµ)x + e(λ−iµ)x) e y2(x) = 1 2i (e(λ+iµ)x − e(λ−iµ)x) obtemos duas outras soluc¸o˜es de (5), que sa˜o linearmente independentes e reais. Temos, y1(x) = e λx cos(µx) e y2(x) = e λx sen(µx) . A soluc¸a˜o geral pode ser escrita y(x) = eλx(C1 cos(µx) + C2sen(µx)). Exemplo 21. Encontre a soluc¸a˜o geral de y′′ + y′ + y = 0 .Soluc¸a˜o. As ra´ızes da equac¸a˜o caracter´ıstica sa˜o −1+i √ 3 2 e seu complexo conjugado. Note que para obtermos uma base real do espac¸o de soluc¸o˜es necessitamos apenas identificar as partes real e ima- gina´ria das ra´ızes. A parte imagina´ria da ra´ız e´ um nu´mero real, e podemos sempre toma-la positiva (pois as ra´ızes aparecem conjugadas). Assim, λ = −1 2 e µ = √ 3 2 . A soluc¸a˜o geral e´ y(x) = e− x 2 ( C1 cos (√ 3 2 x ) + C2sen (√ 3 2 x )) . 12 Exemplo 22. Encontre a soluc¸a˜o do problema de valor inicial 16y′′ − 8y′ + 145y = 0 y(0) = −2 y′(0) = 1 . Soluc¸a˜o. As partes real e imagina´ria das ra´ızes complexas sa˜o respectivamente λ = 1 4 e µ = 3. Logo, a soluc¸a˜o geral se escreve y(x) = e x 4 (C1 cos(3x)+C2sen(3x)). Derivando a soluc¸a˜o e aplicando y′(0) = 1 obtemos y′(x) = 1 4 e x 4 (C1 cos(3x) + C2sen(3x)) + e x 4 (−3C1sen(3x) + 3C2 cos(3x)) = e x 4 [( C1 4 + 3C2 ) cos(3x) + ( C2 4 − 3C1 ) sen(3x) ] ⇒ y′(0) = 1 = C1 4 + 3C2 . Como a outra condic¸a˜o inicial nos da´ y(0) = −2 = C1, computamos C2 = 12 . A soluc¸a˜o e´ y(x) = e x 4 ( −2 cos(3x) + 1 2 sen(3x) ) . 13
Compartilhar