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GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Historiografia e nação no Brasil. p.115-142 e 229-258.

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GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Historiografia e nação no Brasil. p.115-142 e 229-258.
Retrata a situação da época e como se construiu o IHGB e a importância da história e geografia / Contribuição de Von Martius, influencia deste para as ideias etnográficas de Varnhagen / Ênfase no Estado brasileiro; IHGB: pró centralização do poder.
TEXTO 2.1
[P. 115/16]
O trabalho da instituição é caracterizado por José Matos e Januário Barbosa em dois objetivos: “Coligir e metodizar os documentos históricos e geográficos interessantes à história do Brasil”.
“A recolha de dados tinha como sentido possibilitar uma “História Geral do Brasil”, sendo o instituto [...] “a luz que tiraria nossa história do caos”.
“[...] planejava o IHGB trazer “luz e ordem” à história”. – O presente da época carecia de luz e clareza [...] “Ordem também era a meta dos estadistas e políticos da época, ocupados em fortalecer o Estado monarquista e constitucional, a fim de manter distância em relação ao caos das nações republicanas vizinhas.”
Ilustração social e geográfica do país por meio do instrumental da geografia e da história > finalidade > estruturação do quadro geral da nação. 
 A Geografia como “palco das atividades humanas”.
[P. 117]
Varnhagen em 1840, “[...] leu um memorial de sua autoria a respeito da necessidade de aprender e pesquisar as línguas indígenas. Suas ideias constituíram o fundamento teórico para da seção Etnográfica do IHGB. Varnhagen deu a sugestão de dar preferência à publicação de matérias dessa temática”. – “[...] a etnografia tinha uma importante contribuição a dar para a formulação da história do Brasil”.
“O IHGB partia da suposição de que só a fundação do Estado nacional, em 1822, havia criado premissas capazes de abarcar uma história geral do Brasil”. > ênfase no Estado brasileiro.
[P.123/25]
Instituto > lugar em a partir do qual seria possível falar acerca do Brasil de modo qualificado.
Academias que dedicavam-se as ciências naturais no século XVII evidenciavam a existência de um “gênio” brasileiro, tal gênio que tomou corpo após a independência.
“[...] Um desenvolvimento continuado da ciência só seria possível mediante um acumulo de conhecimentos”.
“A intenção do IHGB de oferecer conhecimentos ao governo e de tornar sua atuação perene na historiografia pode, igualmente ser vinculada ao pensamento iluminista”.
Necessidade da história para o homem de Estado.
“A história entendida como a experiência de gerações passadas, poderia indicar como fazer as coisas [...] a história só pode fornecer exemplos e ensinar o presente desde que se entenda ser ela um continuum, um processo direcionado para frente”.
História como memória das nações. > Oferecer aos homens de estado recomendações para a política. > Tornar presente a experiência dos séculos passados.
Membros falecidos > servir de exemplo para os vindouros.> Devido a isso foi aberta na revista uma coluna para publicação de biografias de personalidades de destaque.
A historiografia atua politicamente e ideologicamente.
[P.126/132]
“Ao historiador que, como pessoa esclarecida, sabe em que consiste o objetivo da história cabe a tarefa de instruir seus contemporâneos naquilo que constitui sua felicidade: serem fiéis súditos ao Estado monárquico”.
Abordar a história por meio de um método.
“Os primeiros passos concretos no sentido de uma história do Brasil datam de 1840, quando Januário Barboza instituiu um prêmio para o melhor trabalho dedicado ao tema e que apresentasse um plano a partir do qual se deveria escrever a história do Brasil.”
O prêmio coube ao naturalista e etnógrafo Von Martius:
CARTA DE AGRADECIMENTO:
“No que se refere aos nativos no Brasil, defendia a ideia de que, muito antes da chegada dos portugueses, haviam vivenciado uma civilização de nível mais elevado. A leitura de sua carta estimulou Varnhagen a formular a proposta de que o IHGB, além de seu interesse pela língua dos nativos, se interesse também por outras matérias de sua história”.
O texto “Como se deve escrever a história do Brasil” formulara princípios que correspondiam ao conceito de história do IHGB:
- Defendia que era necessário levar em conta os elementos étnicos que desempenharam papel relevante da formação dos brasileiros.
- Constatava que o brasileiro era a mistura de três “raças”: indígena, negra e branca, e que a história do país deveria espelhar a interação destas.
- Acreditava que cada “raça” correspondia a um determinado movimento histórico. Sendo a raça branca decisiva, devido ao fato da predominância portuguesa no país”.
- Acreditava também que o país estava predestinado a criar, a partir da fusão das três “raças”, uma nova nação. Esse movimento ocorreria de baixo para cima.
- “Von Martius colaborou na construção da afirmação fundamental da historiografia nacional brasileira, no sentido de que nosso país é uma democracia racial.
Motivos de interesse pelas viagens: supriam matéria e temas para a literatura nacional brasileira do século XIX. Além dos motivos econômicos, como a abertura de novas áreas para agricultura, e fatores políticos como a interiorização da civilização. > Exploração de setores diversos do país.
Ao fim de seu trabalho, Martius, defendeu que o Brasil deveria dar menos ênfase às regiões em suas particularidades e deveria dar interdependência orgânica entre as províncias.
TEXTO 2.2
[P.230]
De acordo com a percepção da época a historiografia era de suma importância, pois “[...] fazia parte do processo de construção da nação”. 
“A história nacional surge como marco de uma nação civilizada”.
“Não há nação civilizada sem história”.
“A relevância da história no processo de construção da nação e no processo de elaboração da identidade nacional se evidencia na medida em que contribui para distinguir nações entre si, individualizando-as a partir de determinadas qualidades. [...] Do ponto de vista da nação, a história é interpretada como se a nação já fizesse parte do passado.”
Ponto de vista de Varnhagen a respeito da questão do sentido da história brasileira: “busca das raízes da nacionalidade brasileira na história”.
No século XIX no Brasil, o tratamento do passado se dava de forma que: “sua interpretação deve levar em conta o contexto do processo de construção da nação, assim de esclarecer elos das contingências desse mesmo processo”.
“De um lado, o passado como colônia e, em consequência, a dependência política dificultavam, à primeira vista, a constatação de uma nação brasileira independente preexistente. Ao contrário, a história mostra como o Brasil integrava o império colonial português e, portanto, constituía-se em parcela dependente dos princípios da política lusitana”.
[P.231-233]
Na historiografia brasileira que se formava, o Estado desempenhou um papel importante como prova de independência e maturidade. (Fato de importância para os acontecimentos de 1808 que contribuíram para o quadro histórico traçado por Varnhagen).
“[...] aqui a historiografia se viu perante a tarefa [...] traçar uma continuidade em relação a Portugal”. 
- Razão: “[...] a política colonial adotada pelo Estado português tinha um caráter civilizador e, assim, favorecia o progresso do Brasil”. Era estimada como muito positiva.
Necessidade do Brasil em traçar quadro da nação e país com sentido particular, porém, sem rompimento com a antiga metrópole.
Estrutura populacional muito diferenciada > social e racial, que dificultava a herança comum > “exigia a promoção de uma imagem da nacionalidade que tivesse validade geral e que servisse para eliminar imagens divergentes”.
- A ordem caracterizada pelas grandes propriedades de terra, constrangia as possibilidades de mobilidade social.
- Para Deutsch:
- essa estrutura populacional de caráter variado inviabilizava tratar de “povo brasileiro” (com base no seu conceito de povo elaborado).
- comunicação entre pessoas > intercâmbio de ideias e notícias > necessidade de alfabetizaçãoe criação de um público.
[P.236]
Como poucos eram alfabetizados no período – mesmo sendo obrigatório –, José Murilo de Carvalho caracterizou a situação como Ilha de sábios, pois “Não foi a partir de uma esfera pública ampla, mas de um seio de um pequeno círculo que surgiram os termas, conceitos e ideias da nação brasileira”.
Concentração no nordeste e sudeste – produção de artigos de exportação.
“[...] o Brasil manteve o caráter de uma sociedade agrária apoiada no trabalho escravo ao longo de todo o século XIX.”
A comunicação no Brasil era mínima > transportes via animais de carga ou vias aquáticas > demanda de muito tempo para entrega/recebimento de notícias até 1874 (telégrafo).
Quando ao mercado integrado, o transporte dentro do Brasil era coberto de tributos.
O instituto dava muita atenção a exploração do interior do país e aos relatórios de viagens > interesse prático de conhecer o país.
[P.237]
Segundo Império: integração da infraestrutura do país, a centralização política e a imposição do Estado burocrático > [...] apoio à historiografia como tradição instauradora da comunidade”.
Evidencia de um Estado brasileiro a partir de 1822.
O processo de formação da nação foi facilitado pelos limites geográficos rigidamente existentes > território fixo.
[P.238]
“[...] a tarefa de criar uma nação foi assumida pelo Estado e pelos intelectuais...”.
SEGUNDO A HISTORIOGRAFIA DE VARNHAGEN:
- Estado e nação constituem uma só unidade e a mesma coisa; > inclusão de tribos numa mesma nação;
- Estado português > brasileiro = motor da vida social;
- “Como passo rumo à construção da nação, caberia ao Estado [...] promover o povo como produto social”.
- Processo de promoção da nação brasileira > evolução histórica > no Brasil somente no séc. XIX > fenômeno determinado historicamente, nem sempre existiu.
- Nacionalismo tradicional – Puhle
[P.242]
“O processo de construção de uma nação em sua primeira fase no Brasil serviu para favorecer a integração das diferentes elites regionais dentro do recém-constituído Estado. [...] Nenhum processo apoiado em movimento de massas [...] apresentava características típicas de um movimento que se desenvolveu numa sociedade em que não havia uma cidadania forte o suficiente p/ patrocinar o reordenamento da vida social.”
[P.249-51]
“No contexto desse processo, em que ao Estado coube o papel decisivo como promotor da nação, integrava-se também a historiografia”.
Participação do Estado na fundação do IHGB 
História > campo de interesse do Estado.
A historiografia visava-se à uma criação de uma identidade comum. > interesse pelo conhecimento do passado, porém entrelaçado com a ação política.
[P.252]
Entrelaçamento da historiografia brasileira com determinados interesses do Estado > esclarecido com base em quatro temas principais: “[...] a saber, a construção e a legitimação de uma política de centralização, a questão indígena e da escravidão, bem como a problemática das fronteiras”.
A historiografia de Varnhagen atribuía ao Estado importante papel civilizador.

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