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Aula_01 (2) sociologia

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AULA 02: NASCIMENTO DE UMA NOVA CIÊNCIA. A CIÊNCIA DA SOCIEDADE 
PEDAGOGIA – PROF FRANCISCO GILSON
Rio de Janeiro, 11 de agosto de 2011
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 1. Contextualizar o surgimento da sociologia 2. apresentar as correntes da nascente teoria social 3. Recuperar, sumariamente, o diálogo entre a nascente teoria social e educação.
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O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
“Podemos entender a sociologia como uma das manifestações do pensamento moderno. A evolução do pensamento científico, que vinha se constituindo desde Copérnico, passa a cobrir, com a sociologia, uma nova área do conhecimento ainda não incorporada ao saber científico, ou seja, o mundo social.” (Carlos Benedito Martins. O que é Sociologia? São Paulo: Brasiliense, 1990, p, 10). 
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“A sua formação constitui um acontecimento complexo para o qual concorrem uma constelação de circunstâncias, históricas e intelectuais, e determinadas intenções práticas. O surgimento ocorre num contexto histórico específico, que coincide com os derradeiros momentos da desagregação da sociedade feudal e da consolidação da civilização capitalista. A sua criação não é obra de um único filósofo ou cientista, mas representa o resultado da elaboração de um conjunto de pensadores que se empenharam em compreender as novas situações de existência que estavam em curso”. (Carlos Benedito Martins. O que é Sociologia? São Paulo: Brasiliense, 1990, p, 10/11). 
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Circunstâncias Históricas. A dupla revolução (Industrial e Francesa) – que iniciadas no final do século XVIII, estenderam suas influências ao longo de toda a metade do século XIX – desencadeiam um conjunto de acontecimentos que precipitam o surgimento da Sociologia. Em um período de aproximadamente 80 anos (1770-1850) a Inglaterra, berço da Revolução Industrial, transformou completamente a sua fisionomia: 
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“A formação de uma sociedade que se industrializava e urbanizava em ritmo crescente implicava a reordenação da sociedade rural, a destruição da servidão, o desmantelamento da família patriarcal etc. A transformação da atividade artesanal em manufatura e, por último, em atividade fabril, desencadeou uma maciça emigração do campo para a cidade, assim como engajou mulheres e crianças em jornadas de trabalho de pelo menos doze horas, sem férias e feriados, ganhando um salário de subsistência. Em alguns setores da indústria inglesa, mais da metade dos trabalhadores era constituída por mulheres e crianças, que ganhavam salários inferiores dos homens.” (Carlos Benedito Martins. O que é Sociologia? p. 12/13). 
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A sociedade capitalista que se consolidava, ao mesmo tempo que produzia riqueza, exaltada pelos economistas, produzia insustentáveis situações de miséria (prostituição, suicídio, alcoolismo, infanticídio, criminalidade, violência, epidemias, desemprego). Esta era a face visível de “um processo histórico em curso que, enquanto levava a burguesia à condição de classe dominante, expropriava dos trabalhadores manuais seus instrumentos de produção e seus saberes, transmitidos com zelo de geração para geração através de séculos, ao tempo da velha ordem feudal.”* Processo que colocava sob as mesmas condições crescentes massas de trabalhadores despossuídos, cuja única propriedade era a sua força de trabalho. A Revolução Industrial engendrava o proletariado, uma nova classe social. (*Alberto Tosi Rodrigues. Sociologia da Educação. Rio de Janeiro, 2011, p. 33). 
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Todas estas transformações colocaram a nova estrutura social em formação – a sociedade capitalista – como um problema a ser investigado. A Sociologia, em certa medida, é uma resposta intelectual aos abalos provocados pela Revolução Industrial, pelas novas condições de existência criadas por ela. Contribuíram também as modificações que vinham ocorrendo nas formas dos homens refletirem sobre a realidade.
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Circunstâncias Intelectuais. Desde o século XV, a visão sobrenatural de explicação da realidade vai sendo substituída pela indagação racional, com o emprego cada vez maior do método científico para explicar os fenômenos naturais. Isto permitiu libertar, paulatinamente, o conhecimento do controle teológico, do controle da tradição e do senso comum – cada vez mais identificados, desde então, às “pré-noções”, aos “pré-conceitos” e aos “pré-juízos”. Na passagem do século XVII para o XVIII, com Vico (1668-1744), a sociedade passa a ser interpretada como produto das ações humanas, portanto, passível de ser investigada e compreendida. Mas, são os iluministas que levarão a racionalidade ao extremo, rompendo e atacando a visão teológica do mundo, considerando-a irracional e, nesse sentido, incapaz de produzir conhecimento verdadeiro; conferindo clara dimensão crítica e negadora ao conhecimento. 
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OS ILUMINISTAS, ao estudar as instituições sociais de sua época, objetivavam “demonstrar que elas eram irracionais e injustas, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e, nesse sentido, impediam a liberdade do homem. Concebiam o indivíduo como dotado de razão, possuindo uma perfeição inata e destinado à liberdade e à igualdade social. Ora, se as instituições existentes constituíam um obstáculo à liberdade do indivíduo e à sua plena realização, elas, segundo eles deveriam ser eliminadas. Dessa forma reivindicavam a libertação dos indivíduos de todos os laços sociais tradicionais, tais como as corporações, a autoridade feudal etc.” (Carlos Benedito Martins. O que é Sociologia? p. 21/22). 
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A filosofia torna-se nas mãos dos iluministas um “instrumento prático” de crítica à sociedade presente, vislumbrando outras possibilidades de existência social diferente da existente. Estas novas formas de pensar, “fruto das novas maneiras de produzir e viver”, aprofundavam o processo de racionalização da vida social, expresso no estudo científico da sociedade, e, consequentemente, negavam as interpretações da vida social apoiadas em crenças e superstições, dessacralizando as instituições sociais, percebendo-as como produto da atividade humana, historicamente produzidas, passíveis de transformação. A crítica devastadora dos iluministas as classes que sustentavam a dominação feudal demonstra a virulência da luta da burguesia em defesa de uma nova sociedade. Está posto o combustível para a Revolução Francesa. 
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A França representava o modelo típico da monarquia absoluta, assegurando consideráveis privilégios a uma reduzida minoria: 500 mil pessoas aproximadamente, em um universo populacional de 23 milhões de indivíduos. Como nos fala Carlos Benedito Martins: “esta camada privilegiada não apenas gozava de isenção de impostos e possuía direitos para receber tributos feudais, mas impedia ao mesmo tempo a constituição da livre-empresa, a exploração eficiente da terra e demonstrava-se incapaz de criar uma administração padronizada através de uma política tributária racional e imparcial” (O que é Sociologia? p. 23). A burguesia revolucionária toma o poder.
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“O objetivo da revolução de 1789 não era apenas mudar a estrutura do Estado, mas abolir radicalmente a antiga forma de sociedade, com suas instituições tradicionais, seus costumes e hábitos arraigados, e ao mesmo tempo promover profundas inovações na economia, na política, na vida cultural etc. É dentro desse contexto que se situam a abolição dos grêmios e das corporações e a promulgação de uma legislação que limitava os poderes patriarcais na família, coibindo os abusos da autoridade do pai, forçando-o a uma divisão igualitária da propriedade. A revolução desferiu também golpes contra a Igreja, confiscando suas propriedades, suprimindo os votos monásticos e transferindo para o Estado as funções da educação, tradicionalmente controladas pela Igreja. Investiu contra e destruiu os antigos privilégios de classe, amparou e incentivou o empresário”. (o que é Sociologia, p. 24)
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As consequências da Revolução Francesa:
A julgar pelos pensadores franceses da época (Le Play, Saint-Simon, Comte
etc.), ela provocou o caos social; a nova (des) ordem era comparada por eles à anarquia, à perturbação, à crise, à desordem. Ao mesmo tempo, a sociedade francesa intensificava o processo de industrialização, repetindo em território francês as situações sociais vividas pela Inglaterra, com o aparecimento do proletariado. Ou seja, a França, ao mesmo tempo, progredia economicamente (produzia riqueza – progresso) e encontrava-se socialmente desorganizada (necessidade da ordem). 
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COMO ANALISAR ESTA REALIDADE? (A GÊNESE DA TEORIA SOCIAL)
A REAÇÃO: os reacionários exigem o retorno à sociedade do Antigo Regime: restituir os direitos à religião católica, restaurar os sistemas comunitários, limitar e controlar o mercado etc. Meios capazes de remontar os diluídos vínculos sociais. O intelectual de proa desta perspectiva da filosofia social é o inglês Edmund Burke (1729-1797). Além dele, dois nobres franceses se destacam: Joseph de Maistre (1753-1821) e Luís Bonald (1754-1840). Defendiam as ideias de que a Revolução Francesa pretendeu reconstruir artificialmente a sociedade a partir de uma abstração, os direitos do homem, criando a figura do indivíduo, que é a negação da sociabilidade do homem, e de que o fundamento e a estabilidade de uma sociedade repousam sobre a tradição e sobre a comunidade, jamais sobre o indivíduo. 
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OS SOCIALISTAS UTÓPICOS: presentes particularmente na Inglaterra e na França, estes críticos sociais defendiam a reconstrução da sociedade, destruída pela economia de mercado, subordinando-a a uma sociedade democrática e igualitária. Convencidos de que o que propunham era evidente, acreditavam que apenas a força persuasiva de suas ideias era suficiente para convencer os grupos dirigentes a adotá-las. Mas, não cruzaram os braços esperando a implantação do socialismo, desenvolveram experiências socialistas em pequenas comunidades isoladas e acreditavam que a partir delas, aos poucos, contaminariam a totalidade do corpo social. Os principais defensores dessa filosofia social são: Robert Owen (1771-1858), Charles Fourier (1772-1837), Conde de Saint-Simon (1760-1825) e algumas correntes anarquistas. 
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POSITIVISMO: a principal figura foi Augusto Comte (1798-1857). As mutações das sociedades europeias na primeira metade do século XIX é percebida por ele como a passagem de uma sociedade militar e teocrática para uma sociedade industrial e científica, sob o controle dos industriais e banqueiros. Este movimento teria gerado uma profunda crise na sociedade ocidental. Discordando tanto dos reacionários quanto dos socialistas, Comte defende o consolidação de uma ordem social baseada na conquista da filosofia positiva (ciência), alicerçada em duas regras básicas: observar os fatos sem emitir qualquer juízo de valor (objetividade e neutralidade científica) e enunciar leis (cabe a ciência enunciar as leis de funcionamento da realidade). À Sociologia caberia desvendar as leis que regem os fenômenos sociais. 
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Em outras palavras, desvendar as leis que regem os fenômenos sociais é utilizar o conhecimento científico para conhecer o funcionamento da ordem social. Nada melhor para a burguesia, que precisava controlar o ímpeto revolucionário. Pois, “a interpretação crítica e negadora da realidade, que constituiu um dos traços marcantes do pensamento iluminista e alimentou o projeto revolucionário da burguesia, deveria de agora em diante ser ‘superada’ por uma outra que conduzisse não mais à revolução, mas à ‘organização’, ao ‘aperfeiçoamento’ da sociedade. [...]. A tarefa que os fundadores da sociologia assumem é, portanto, a de estabilização da nova ordem. Comte também é muito claro quanto a essa questão. Para ele, a nova teoria da sociedade, que ele denominava de ‘positiva’, deveria ensinar os homens a aceitar a ordem existente, deixando de lado a negação”. (o que é Sociologia, p. 28).
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TEORIA SOCIAL E EDUCAÇÃO
Os contra-revolucionários (reacionários) desejavam que a educação voltasse a ser controlada pela Igreja Católica, sem nenhuma concessão as classes subalternas. O positivismo de Comte, além de apoiar o controle republicano da educação, direcionava para a religião positiva a socialização dos valores e ideais da nova ordem industrial e racional (sociedade burguesa), que Durkheim substituirá pela escola. Os socialistas utópicos, particularmente os anarquistas, defendiam a ampliação e democratização da instrução, elevando-a à condição de direito.
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